Memórias de Felinto Paulo de Oliveira Vasconcellos
1953 – EPSP – 17 anos. Um
ambiente completamente diferente.Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo.
Rua da Fonte, 91. Havia ainda duas outras, uma em Fortaleza e outra em Porto
Alegre. A sorte é que o meu irmão Felippe já era veterano e me ajudou bastante.
Pensei em sair mas consultando o Padre Sebastião que estava em São Paulo, ele
me aconselhou a ir em frente. Comecei a aprender a jogar basquete com o
Djalmir, que havia estudado no Tuiuti comigo. Ficava até escurecer a arremessar
a bola ao cesto. Como não tinha um terno ia fardado de bonde ou a pé à cidade.
O comandante da Companhia, Capitão Waldemar insistia para a gente dançar nos
bailes que eram realizados no refeitório por nós encerado. Assim aprendíamos a
dançar..
1954 – EPSP- 18 anos. No dia
04 de março de 1954 perdi o meu querido pai. Ele que dizia que ia viver até os
100 anos, morreu com um câncer fulminante no pâncreas. Senti muito e até hoje
fiquei impressionado com a sua partida. Morreu no mesmo quarto e na mesma
posição de cama que a Violeta. Com os filhos ao redor e o Padre José Maria
dando a última benção. Segurando nos pés do papai que não paravam de se mexer,
senti o frio ir caminhando para o centro do corpo onde com respiração ofegante
lutava pela vida. De repente tudo parou. Todos começaram a chorar. Do quarto o
Affonso gritou: “Voltou a respirar!” Todos suspenderam o choro. Mas logo foi
confirmada a morte mas então o choro já não foi tão intenso. Será que não foi a
última brincadeira do Seu Zéca, considerado por todos um grande brincalhão? Na
Escola Preparatória eu gostava de estudar inglês. Não me saí bem em Física
ensinada pelo coronel Colucci, que tinha em um caderninho todos os exercícios
resolvidos. O professor de português Quintanilha chamava a nossa atenção pelo
seu modo original de dar aula. O capitão Ner revolucionou a educação física
introduzindo novos exercícios. O presidente da Sociedade Literária e Recreativa
era o Amazonas. Admirava uns colegas que
tinham namoradas bem bonitas e levavam uma vida de festas e namoros. Eu ficava
de fora pois não tinha nem roupa nem dinheiro. Flertava com uma loirinha chamada Karin que morava em um apartamento
que se via lá da Escola. Como não queria voltar a São Paulo por namoro, fiquei
assistindo perto dela ao desfile do IV Centenário de São Paulo na avenida Nove
de Julho por duas horas sem tentar iniciar uma conversa. Às vezes eu ia visitar
o meu primo Gilberto e a Maria Helena que moravam no Brooklin, perto do
aeroporto. Sempre fui muito bem tratado. Andava de bonde e de ônibus. Admirava
o trabalho do prefeito Jânio Quadros na recuperação dos bondes da CMTC.
Admirava as grandes mansões da avenida Paulista. Fazíamos as marchas a pé até o
Morumbi, na época um grande matagal onde fazíamos exercícios militares. No
refeitório um garçom meu amigo me dava as sobras de goiabada. Num fim de semana
entrei na garagem e liguei um jeep, batendo na parede. O tenente Luiz quebrou o
meu galho e não fui punido. Admirava o colega Waldeck que estudava depois do
almoço e conseguiu ser o primeiro passando o Teberge. Nesta época já havia televisão em São Paulo. Nas noites frias de
São Paulo dávamos serviço de sentinela usando uma capa chamada pelerine.
Gostava de tomar leite com groselha nos bares de esquina à noite. Gastava o meu
dinheirinho também na cantina da Escola comprando doces Confiança. Quando o
Getúlio cometeu o suicídio ficamos de prontidão. Eu permaneci na encosta que dá
para a Avenida Nove de Julho apontando um fuzil. Com um colega mineiro de Astolfo
Dutra, o Brás Defilippo aprendi a levantar peso. Fizemos também juntos um curso
de radiotécnico por correspondência. Até hoje nos correspondemos por e-mails na
Internet. Essa amizade foi para toda a vida.
1955 – 19 anos – AMAN –
Academia Militar das Agulhas Negras –
Uma linda paisagem, instalações modernas e amplas. Curso Básico.
Cansativas instruções à tarde, sentado em banquinho ou no terreno. Entrei para o time de basquete da Academia.
Tinha a regalia de uma alimentação reforçada e não desfilava na desgastante
Parada de Sete de Setembro. Em um feriado o
time de basquete do Curso Básico foi jogar em Petrópolis. Dancei e
fiquei amigo da Elizabeth Gasper com quem me correspondi durante algum tempo.
Neste mesmo feriado uns colegas foram fazer uma peregrinação a Aparecida e na
volta o caminhão virou. Morreu um colega. Ficamos todos muito consternados.
1956 – 20 anos – AMAN – Curso
de Engenharia – Fui para a Arma de Engenharia. Achava que lá poderia ser mais
útil ao Brasil, construindo e ao mesmo tempo instruindo os soldados como na
Infantaria. O meu amigo Taveira desistiu da Engenharia e escolheu a Infantaria.
O meu irmão Felippe queria que eu fosse para a Artilharia. O Brás Defilippo foi
para a Intendência. Tínhamos aulas de
nós com o Ten Pallazo. Acampamentos com o Cap Maranhão. Jogava basquete e vôlei
pela Engenharia e era do time de basquete da AMAN. Numa excursão a Lorena
dancei e gostei da filha do Prefeito. Por coincidência encontrei os meus primos
Orlando e Edgard que estavam de passagem
pela cidade e apreciavam o baile. Eu estava indo bem na Engenharia. Na cidade
de Resende eu quase não ia. Costumava acordar às 4 horas nas vésperas das
provas e estudar sentado na privada. Sentia muito sono à noite e não conseguia
estudar. Não ia muito ao Rio. Achava que não compensava o esforço por poucos
dias. Admirava o cadete Paes de Lima que estudava enquanto os outros iam ao
cinema. O comandante da Companhia era o Cap Aboim. Tive que pagar um tampo da
privada que quebrei ao sentar. Havia concurso para classificar os apartamentos
e as alas mais bonitas. Numa instrução de equitação quebrei o braço esquerdo.
Foi assim: “Voltávamos de um feriado e os cavalos foram todos trocados. Eu
estava acostumado com um cavalo velho bem manso que não causava problemas. Fiquei
com uma égua arisca que não parava de mexer com o pescoço. Ia indo muito bem
quando me caiu o estribo. Desci e coloquei no lugar, mas perdi o contato com os
outros colegas. Consegui recuperar a diferença. Estavam atravessando o rio
Lambari num lugar com barranco e uma ilha no meio. A égua não quis descer o
barranco e começou a rodar. Cai e me apoiei com o braço esquerdo no chão, ainda
com as pernas no cavalo que ainda deu mais uma volta, quebrando o meu braço”.
11/11/56 – domingo – A missa
hoje estava concorrida. Muitos cadetes foram à mesa da comunhão, talvez porque
os exames estão próximos. Também não houve licenciamento geral. O Waldeck anda
às voltas com um amor difícil. Ela chama-se Maria Luiza é bonita
e parece ser ótima menina. O dia está úmido e não favorece aos esportes.
Também não estudei. Pensei em ir ao bairro Vicentino, mas não tive vontade
forte. Dormi. Assisti ao jornal em que apareceu um pouco de “rock and roll”. É
mais acrobacia. O começo do filme de Marylin Monroe “O pecado mora ao lado”.
Filme sobre a vida moderna e seus problemas morais. Ando pensando muito na Liz.
Ela saiu em foto , na “O Cruzeiro”, estava bem bonita. Preguei a capa da
revista na porta do armário e reli as cartas dela relembrando os nossos
encontros. O tempo dirá se é um sentimento digno de atenção ou não. O
Fluminense perdeu para o Bangu e a tarde passou rápida. À noite o Brás veio
bater um papinho no apartamento onde eu escrevia . O Darzan redigia cartas e o
Horst discutia os problemas nacionais. São 21:11hs, no meu relógio Mondaine
quadrado que está na caixinha. de papelão do sabonete Lifebuoy. Vou rezar e dormir. Na semana que
entra muito estudo me espera.
12/11/56 – 2ª feira – Comecei
o dia esquecendo o gorro V.O., foi porque demorei muito engraxando o sapato, coisa
que fiz umas 5 vezes no dia. Fui ao
hospital ver o cotovelo. O Dr. Souza Lobo mandou-me tirar a radiografia.
Fiquei sentado estudando movimento projetado sobre plano e sobre eixo.
Via os srs. Oficiais saírem e chegarem em seus carros. Estou procurando estudar
ordenadamente para ver se guardo para a vida.
Escrevi uma carta para o Felippe. Cortei o cabelo, tendo dado Cr$10,00
ao barbeiro, pois cortou muito bem. À tarde estudei Química e às 15:40hs fui
jogar basquete. Houve eleição na Vicentina. Só não gosto dos elogios mútuos que
são feitos. À noite estudei Topografia e escrevi esta página. Meus objetivos
próximos são: passar bem de ano e tirar a carteira de chofer.
13/11/56 – 3ª feira – « Aux yeux des hommes de vraie foi, rien ne
sáccomplit qui ne soit oeuvre de la Providence »( Daniel Rops). Hoje correu tudo normal, mas mesmo assim ainda não
cheguei em boa hora em forma. Não houve desfile matinal. Tirei meia dúzia de
radiograafias. Fui ao Dr. Souza Lobo que me recomendou fazer mais exercícios
para o braço esquerdo, pois o que resolve agora é a mecanoterapia e os raios de
calor úmido.
Após estudar um pouco, fui ao
cinema assistir ao filme “A perdida” (TAXI). “O tema foi sobre um motorista de
táxi que só tem o seu carro de praça. A mãe dele fica em cima para que ele
case. Uma mulher chega ao cais à procura do marido. Ele anda bastante com ela e
não acham o marido. Ela volta para o navio. O motorista leva-lhe um embrulho de
cartas que esquecera. Ela já tem um filhinho. Ele a leva para casa. Descobrem que
o marido está com outra, sem dinheiro e não mais a quer. O motorista volta com
ela.”
Na revista de recolher de
hoje foi lido no boletim que o Cel Manuel Aranha, ao ir para a reserva oferece
Cr$20.000,00 ao primeiro colocado de Artilharia. Houve eleição para o Grêmio
Vilagran Cabrita. Chapa única. O meu braço esquerdo ainda não está com o
movimento total.
14/11/56 – 4ª feira- « Jesus aime lês coeurs joieux, Il aime lês âmes
toujours souriantes » Sainte Therese de lÉnfant Jesus.
Final do ano letivo. Banda de
música no almoço. O amigo Francisco disse-me que leu no “O Mundo Ilustrado” que
a Elisabeth Gasper havia renovado contrato com o Carlos Machado por mais um
ano. À tarde joguei duas partidas de basquete. Houve licenciamento, mas saíram
poucos.
15/11/56 – 5ª feira – « Lê Christ est vie, et son message n’a pas de sens s’il n’est à tout instant
infiniment juste et présent. » ( D. Rops)
Talvez por costume acordei-me
às 05 :20hs. Levantei-me e fui fazer ginástica e tomar banho como tenho
feito todos os dias. Estudei um pouco e às 08:50hs fui ao ginásio Cadete
Virgílio. Lá encontrei o Cap Hugo de Medeiros Dias e os colegas de basquete.
Tiramos várias fotografias com o uniforme de jogo. Depois houve uma partida
entre os que iam embora e os que ficavam. Os aspirantes, melhores, ganharam com 7 cestas de diferença. Houve uma
despedida com crushes e alguns falaram. Espero que continuem a jogar bem
basquete e que sejam ótimos oficiais , dando tudo pelo Brasil. Não fui a uma
apresentação de canto coral trazida até nós pela A.C.E. (Associação de Cadetes
Evangélicos) . O filme de hoje era inglês com uma artista muito bonita “Jean
Collins”, sendo o título “Três homens e um biquíni”. Fiquei somente até as
19hs.
16/11/56 – 6ª feira – « Lê courage n’est pás d’ignorer le danger, de
ne jamais avoir peur, mais , ayant peur, de marcher quand même ». Il y a d
‘une autre courage : celui des petits gestes dont chacun demande un
effort.
Treinei conduta auto no jipe
da Engenharia com o Horst. Fui ao hospital aplicar calor úmido. Estudei
polígono funicular e de Varignon.. Estudei química com o Otto. Fui buscar as
fotos com o fotógrafo. À tarde o
Machadinho me disse que não haveria mais neste ano o exame de motorista. Á
noite inventei uma música: Meu amor você
partiu, não mais me quis, ó meu amor. Meu amor, quem foi que viu? Quem foi que
viu o meu amor? Agora, me ponho a cantar, buscando apagar a mágoa, que me faz
chorar. Pois tenho grande saudade, que sempre aumenta a minha ansiedade.
17/11/56 – sábado – “Seigneur Jésus donnez-moi la simplicité et la
confiance de l’enfant qui vous prie » Jean Salem.
Comecei bem o dia assistindo
a uma missa pela alma do Exmo. Sr.
General Anastásio Somoza G. que fora o Presidente da República da Nicarágua.
Ganhei um santinho do cadete Edmundo Röeder Sedilles. Foram uns quinze cadetes
e a missa foi celebrada pelo major capelão Padre Archimedes Bruno. Estudei
Mecânica : centro de gravidade de linhas, superfícies e volumes. Fui ao HE
aplicar calor úmido. Sempre encontro crianças filhas de oficiais tomando banho
de raios ultravioletas. Alguns choram. Hoje consegui ser das primeiras fileiras
da formatura para o rancho. À tarde
estudei química.: ferro doce e aço.Às 16 horas consegui ganhar nas três
partidas de basquete que joguei. Fui ver
o jornal cinematográfico. Passei pela sala de física com aquele seu ambiente de
fluxos e raios.
18/11/56 – domingo – « Lês sots vivent sans trouver de joie à la
vie. » (Démocrite)
Acordei às 06:00hs, fiz
ginástica e notei que o braço esquerdo melhora com a flexão. Vou continuar
fazendo. Não fui à missa do Francisco lá na Escola Profissional, mas à dos
cadetes no hall do cinema, tendo comungado e ficado muito feliz. Estudei e
joguei basquete. Recebi uma carta do mano Felippe, 2º Tenente, que dizia o
seguinte: “Rio, 15 Nov 56- Caro mano, Saudações. Não poderia sair do Rio sem
antes responder a carta que tão prontamente me enviaste ao me saber no Rio.
Gostei de tua carta , escrita nos moldes de crônica social. Será que é para em
futuro talvez próximo, relatar as novidades acontecidas no Night and Day? Há
porém uma ressalva, não mencionaste o recebimento de uma carta que te enviei
por um sargento lá de Castro que ia servir na AMAN no Curso de Artilharia.
Talvez não tenha te encontrado, embora eu lhe tenha fornecido indicação das
mais precisas. Sobre você soube também, pela Maria José, que me escreveste para
Castro e não obtiveste resposta. A carta
não me encontrou lá com toda certeza. Terei o prazer de lê-la agora quando
chegar àquela cidade. Estou tratando da minha transferência. Há vagas no Rio,
embora não as queira. Prefiro no Estado do Rio, em Valença. Fica a duas horas
daqui e possui todos os requisitos de um grande quartel. Vamos ver primeiro a
minha situação lá em Castro. Partirei amanhã, digo sábado as 09:00hs, em Convair
340 da Real. É uma coisa que atenua a saudade de deixar o Rio.( Em 2001 este
meu mano mora em Miguel Pereira e tem verdadeiro trauma em ir ao Rio, após
tantos assaltos que presenciou!). Sinto-me muito bem quando viajo de avião.
Gastei 4.000,00 de ida e volta. Mas vale. Tenho planos de comprar um carro
Citroen 51 por 200.000,00, pagando 7.000,00 por mês. ( Deves saber que o
Luiz-Zé Maria compraram um Morris-Oxford também por este preço. É um bom
carrinho. Já fomos até a Barra da Tijuca, sem que desse sinais de
desvalor.) Ainda há pouco o Edison me
falou em entrar em sociedade comigo, pagando 3.000,00 e eu 4.000,00 por mês. É
um caso a estudar. Carro é como escova de dente...Em todo caso, olhando para o
futuro economicamente, vejo vantagens nesta sociedade. Tudo porém está para ser
estudado. Pas de presse! Mamãe veio à varanda para dizer-me que mandasse beijos
e abraços. Feito o pedido, executada a tarefa. Ai vão... Passei uns bons dias
na casa da Maria Helena, considerada por mim a melhor recepcionista de 56. Sra.
Josué Felinto... Aconteci em Paquetá por 3 dias. Muito bom, “sensas”. Gastei
10.000,00 neste 30 dias. Como? Je ne
sais rien... Com grande abraço e votos de felicidade constante nos exames,
despeço-me até Castro. Do mano Felippe. Anexo I à carta. – Raymunda manda
perguntar se estás disposto a vender a sua mala pequena azul e por quanto; caso
não queiras, deseja ela saber quanto custa uma igual, nova.Qualquer que seja a
decisão, escreva a respeito, à Raymunda, com a devida urgência, de tal forma que
antes de vires de férias esteja este assunto resolvido. Ainda a respeito da
Raymunda: - desde há tempos, anda ela se preparando condignamente para ser tua
madrinha de espada. Já comprou sapatos, brincos, relógio, com vistas também na
fazenda para o grande vestido do dia, presente para te dar. Quer me parecer de
que será , de fato, uma grande madrinha. – Mamãe não te escreverá mais. Diz ela
que não terá mais tempo. As viagens a Barra da Tijuca, e Maricá, produzem grande cansaço... Está te
esperando para consertares o rádio de cabeceira. Sem mais, um abraço e reitero
os votos de felicidade, do mano Felippe”.
Fui assistir ao jornal no
cinema. Passou um passeio de trem pela Itália. Estudei Química. e Topografia.
Fui dormir as 21hs.
19/11/56 – 2ª feira – “Toute
discipline suppose um renoncement”. (Daniel Rops)
Acordei às 06:15. Fiz
ginástica. O Villar também fez o mesmo.Fui ao HE tomar calor úmido e conversei
com o Theberge e um garotinho Luiz Fernando e sua irmã Crsitina que sempre
estão lá recebendo raios ultravioletas. Comprei mais um sabonete porque tendo
esquecido ontem por descuido no banheiro, o mesmo sumiu. O almoço foi mais
cedo, às 11:15hs. Houve depois o Culto à Bandeira. Falou o Sub-comandante sobre
os feitos a que a Bandeira esteve presente. Em seguida o embaixador Olegário
Mariano, dirigindo-se ao pavilhão nacional fez um belo discurso que pelo ritmo
parecia uma poesia.
22/11/56 – 5ª feira –
“Tentons d’être toujours celui qui apaise, qui pacifie, fût-ce au détriment de
nos goûts.”
Tenho estudado Química e
jogado basquete. Paguei Cr$130,00 ao Sr. Cap Medeiros Dias pelas fotos. Saí-me
bem no exame escrito de Química. Sábado
será Topografia. O Horst, o Gonçalves e o Yapir têm feito compras em Resende
para pagar no ano que vem.
23/11/56 – 6ª feira – « Y-a-t-il bonheur semblable à celui d’une âme
heurese du bonheur des autres ? »
O dia hoje será para o estudo
de Topografia. Estudei o dia todo com o Villar, o Francisco e o Largaespada. No
final da tarde fui jogar basquete. A equipe de Oficiais de Engenharia tem
ganhado muitos jogos. O Sr. Ten Rheul (meu futuro professor de cálculo
estrutural no IME, em 1966), tem jogado muito bem e está em grande forma.
24/11/56 – sábado – « Heureux lês doux, car ils posséderont la Terre.»
O ponto sorteado em
Topografia foi o 7. Continha: Poligonação e Sistema Cartográfico Brasileiro.
Fiz boa prova, graças a Deus. Foram 4 horas só de cálculos e gráficos. À tarde
joguie basquete. À noite vi o filme “Terça-feira trágica”, sobre um tal de
Canelli condenado à cadeira elétrica que
foge. A polícia descobre o seu esconderijo e ele começa a matar um por um dos
presos que estão com ele. No final um dos presos mata o Canelli e depois é
morto.
25/11/56 – domingo
Depois da missa conversei com o Brás sobre a
diferença entre D.D.P e F.E.M. chegando à conclusão que F.E.M.= D.D.P. + rI.,
sendo portanto a D.D.P. o que sobra depois que a corrente passa pelo interior
do gerador.
Estudei Mecânica. Depois
assisti ao jornal que mostrou a Festa das Rosas em São Francisco, nos EUA.
Folheei a revista Maquis e não gostei do modo de criticarem as autoridades.
26/11/56 – 2ª feira
Prova de Mecânica. Afobei na
hora quando vi questões que não sabia.
Acho que não sei estudar Mecânica, pois só li muitos problemas resolvidos à
última hora. Acho que os professores foram tolerantes ao me darem 5,8.
27/11/56 – 3ª feira
Estudei Mecânica e Química
28/11/56 – 4ª feira – A
metade da turma E-2 foi fazer exame de Topografia. Fomos ao Oliveira Botelho.
Caiu uma interseção avante. Saí-me bem. Foram 3,5 horas de trabalho. À tarde estudei Mecânica. Continuei estudando
nos dias 29 e 30.
01/12/56 – Sábado
Acordei às 05:20. Escolhi o
ponto 12 em Mecânica. Fiz um bom exame oral com o Cel Benevides. Agora só
faltam a Química e as matérias de Engenharia. À noite assisti ao filme “Nunca
me deixes”com Gene Tierney e Clark Gable. Um americano que casa com uma
bailarina russa. A polícia o manda de volta para os EUA sem ela. Ele resolve ir
buscá-la. Compra um barco e após várias peripécias como a do embriagamento de
dois policiais chega a uma cidade da costa
da Estônia, Tallinn. Pôe um uniforme de um coronel médico, vai ao
teatro e lá consegue reaver a sua amada.
Gostei do filme.
02/12/56 – domingo
Acordei às 06:30. Dei o meu número ao Auxiliar do Oficial de
Dia para tomar o café depois. Fui à missa. Li o jornalzinho “O Domingo”. O
Padre Arquimedes Bruno falou sobre a penitência, dizendo que não devemos ser
como Santo Antão, Santa Tereza e outros santos,pois devemos comer de tudo,
inclusive carne que nos fornece protídios e proteínas. Que não devemos ter medo
dos examinadores. Como ele se esqueceu de consagrar as hóstias, os cadetes não puderam comungar.
Ando impressionado com os
colegas do tipo Paes de Lima, Bethlem, Alcione, Walmor,.. que conseguem médias
9,5; 9,8; 9,4. etc... Acho-os superiores. Espero no próximo ano imitar o Paes
de Lima em Resistência dos Materiais. No jornal do cinema vi o sofrimento do
povo na Hungria e no Egito. O filme foi o “Hell and High Water”( Tormento sob
os mares) com submarino e bomba atômica. Estudei Química. O Darzan dizia que
não sabia o que ia fazer. O Ferreira fazia Educação Física.
03/12/56 – 2ª feira. Ontem à
noite tentei estudar Química, porém as divagações acerca da imensidão do
universo, com o Horst, não me permitiram. Fomos dormir às 21:50hs. As noites
têm sido bem estreladas. Até as 8hs cortei o cabelo, apanhei o saco de roupa e
copiei a música do Sapador Mineiro. Depois estudei Química.
04/12/56 – 3ª feira- Oral de
Química com o Major Gastão. Tirei 8. Na biblioteca procurei para o zelador qual
o antigo nome de Niterói e achei: “Vila Real da Praia Grande”. Estudei Comunicações. Graças a Deus passei no
Fundamental.
05/12/56- 4ª feira- “O homem vale pelo que sabe”( dizia o meu
pai)
Fui estudar armamento com o
Horst Bockler, carabina .30 e metralhadora Browning.30. À tarde voltei lá e
revi a metralhadora. O compressor de ar Le Roi
foi visto um pouco com o Magalhães da E-4. À noite fui à biblioteca e
estudei Estradas com o Felintho Quaresma e o Joélcio. Fui dormir às 22:30hs.
6/12/56 – 5ª feira – No H.E.
o Dr. Souza lobo mandou-me ir ao HCE, na enfermaria 15 procurar pelo Maj Neves
ou Spínola. Não fui ao cinema, Passava o filme sobre a Ester Williams “Easy to
love”de muitos e bonitos cenários.
7/12/56 – 6ª feira – Prova
escrita de estradas. Dia chuvoso. Estudei pontes e comunicações. O Darzan está
com um furúnculo no rosto.
08/12/56 – sábado
Exames orais de Pontes e
Comunicações. Fui bem mas errei certos
detalhes. O Brás bateu um papo comigo à hora da tora, falando sobre os seus
planos de tirar uma faculdade de Filosofia. (Na realidade, mais tarde tirou e
foi professor!). Depois fui ao Parque estudar motores. Vi o filme “Amante sob
medida”com Gabriel Gabin. De tanto tapear acabou em descrédito.
15/12/56 – Sábado – Encontro-me
na fazenda de São Joaquim, do meu tio Françu ( o tio rico. Pai do Célio Borja).
Ela acha-se na localidade de Juparanã, servida pela E.F.C.B.. Perto acha-se a
fazenda de Santa Mônica que pertence ao Governo e foi onde morreu Caxias. Não
está longe de Vassouras, bela cidade dos tempos coloniais. Cheguei aqui no dia
13, no jipe com o meu primo Hélio. Encontram-se aqui, a tia Rosa, a mamãe, a
minha prima Maria Lúcia e seus filhos Cláudio, Flávio e Jorge que vieram de
trem. O Antônio Jorge pai deles, chegou
hoje. O Flavinho ontem machucou a boca com um pedaço de pau. Hoje eu fui à
cidade de Juparanã a cavalo. Saí em um burro e depois montei o “Gaúcho’e
cheguei lá. Ia haver um casamento. O noivo é um lavrador de 40 anos e a noiva
tinha 19 anos. Ele ganha Cr$40,00 de diária. Que Deus abençoe este novo lar.
Voltei montando outro cavalo e o Hélio veio no “Gaúcho”. Pegamos uma boa chuva
no caminho. Ainda bem que eu estava com a calça do tio Françú, podendo depois
trocar de roupa. Chegamos às 14 hs e fui tomar banho em um regato. Acordei com
desarranjo intestinal. Acho que foi devido ao leite puro tirado da vaca. Estou lendo o livro “O Homem Esse
Desconhecido”de Aléxis Carrel. Estou de
férias desde o dia 12/12/56-4ª feira. Vim para o Rio no trem de aço das 14:25.
Só havia uma porta no último vagão. Além do carro restaurante só um outro tinha
ar condicionado. Cheguei no Rio lá pelas 18hs. Tomei o 102- Praça Saenz Pena –
Largo do Machado. Em casa estava a minha irmã Risoleta, o meu cunhado Oscar e o
filhinho Oscar. Também estavam o mano Luiz, a irmã Maria José, a mamãe e a
Raymunda. O rádio de cabeceira está estragado. O José Maria e o Luiz compraram um carro por
Cr$70.000,00. É um Morris-Oxford, 1950. Muito bom. Dei uma volta com o Luiz
pela Praça Saenz Pena. Depois fui assistir com o,Luiz ao jogo de basquete
feminino entre o Botafogo e o Fluminense. Muita gente. Ficamos de pé. Nomes de
algumas jogadoras: Aglaé, Marta, Didi do Flu, Garrincha do Bota. Uma
botafoguense chorou quando foi substituída. Ganhou o Botafogo. Fui dormir às
23:30hs. Acordei no dia seguinte às 05:30hs. Limpei os registros de entrada da
água. Tomei café. Chegou o Hélio com o jipe. Dirige bem. Fomos pela Quinta da
Boa Vista, Avenida Brasil, Rio-São Paulo, Estrada de Vassouras. Chegamos bem empoeirados.
Em uma frase que me impressionou no livro: “Estamos tão longe de vencer a
ociosidade como estamos do câncer e das doenças mentais.”
16/12/56 – domingo. Hoje não
fui à missa. Durante a noite toda houve dança no paiol. O interessante é que
chovia muito e mesmo assim veio muita gente. Fui dormir cedo. Hoje veio o noivo
que casou ontem, descalço e com a mesma
calça do casamento. Só casaram no civil mas ela foi de véu, grinalda e
vestido de noiva. Acabei de ler o livro donde tirei os seguintes propósitos:
Cuidar da saúde, procurar uma esposa de boa saúde, fazer uma oração perfeita,
tratar com afeição os soldados, evitar excessos, fazer exercícios de todos os
tipos: físicos, morais e intelectuais. Tenho feito ginástica, tomado banho no
regato e bebido leite tirado direto da vaca.
17/12/56 – 2ª feira – Vamos
hoje para o Rio. O caminho está ruim e o jipe bem cheio. O Hélio dirigia e
dizia que estava com medo. A mamãe como sempre rezava o terço e o Cláudio dizia
para ela rezar mais. Tomei o trem em Juparanã. Fizemos baldeação em Barra do
Piraí para um elétrico. A tia Rosa pagou o carro até a Tijuca.
Os primos Ivan, Rubens e
Horácio vieram me visitar em casa. Conversamos bastante. Á tarde fiquei um
pouco com a minha sobrinha Patrícia de quatro meses. Ela tem olhos azuis.
18/12/56 – 3ª feira – Fui
para Niterói com a Raymunda. Fomos de lotação pela Lapa. Encontramos a Maria
Helena e os filhos bem. Ela está grávida. Assisti à televisão.
19/12/56 – 4ª feira – Fui à
praia. Os sobrinhos hoje foram dormir cedo. Às 21:55hs assisti na TV ao show
“Bendix-Monsanto”de Carlos Machado em que aparecia a Elizabeth Gasper.
20/12/56 – 5ª feira – O dia
amanheceu um pouco nublado. Acordei com o Renatinho em cima de mim. Fomos à praia e corri com os três sobrinhos.
Voltamos ao Rio todos juntos. A Maria Helena me deu Cr$100,00 para as
passagens, dizendo: “Homem é quem paga!”.
Fui ao correio. Estava cheio.
Comprei um bloco de cartas e cola. Fui à confeitaria onde comprei pão e
biscoito para a mamãe.
21/12/56 – 6ª feira – Aproveitei
que o Luiz ia a Bonsucesso receber um dinheiro de uma venda de fecho
éclair e fui de carro com ele até o HCE,
na rua Licínio Cardoso. Lá procurei pelo Dr. Spínola que estava de férias e
pelo Dr. Neves. Depois de certo tempo este me atendeu e mandou-me fazer
mecanoterapia. Lá recebi massagens do sargento Henrique que disse-me ter um
irmão que ia entrar para a AMAN. Na volta a condução demorou.
22/12/56 - Sábado – Voltei ao
HCE onde recebi massagens de um outro sargento.
23/12/56 – Domingo – Fui à
missa. Consertei o rádio da mamãe. O Felippe chegou às 17hs trazendo vinho em
barril. Está usando bigode. Voltará no dia 2 de janeiro.
24/12/56 – 2ª feira – Dia
normal. Consertei a porta do banheiro. Fui à Missa do Galo. Notei a Maria Anita
com um novo namorado. O Padre Máximo falou muito bem em como o católico o deve
ser com sinceridade.
25/12/56 – 3ª feira – Natal –
Houve um almoço em conjunto com a presença do Oscar, do Frank, do Josué, do Pe.
José Maria, do Felippe, do Edison...Muito vinho... Muito riso...Choveu. O Josué
voltou para Niterói. Fui assistir TV na casa do Luiz com o Felippe que logo
dormiu na sala, só de calção e com uma toalha por cima.
26/12/56 – 4ª feira – Acordei
às 08:35hs. Fui ao HCE para tirar radiografia do cotovelo esquerdo. Em casa escrevi
cartas e fui ao correio. Passei pelo apartamento da tia Arthemira onde tirei
uma lâmpada vermelha e tomei sorvete. Meio contra a vontade fui de novo para
Niterói com a Raymunda. A lancha estava cheia..Chegamos às 21:55hs. Assisti de
novo ao show na TV onde apareceram a E. Gasper e a Norma Benguel que
cantou”Papai Noel, não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre, o
velhinho sempre vem! “.Rezei o terço e fui dormir.
27/12/56 – 5ª feira – Dia
meio nublado. Fomos a Marica. À saída encontrei o Oto, colega de Engenharia que
estava chegando ao Rio e ia para a casa da avó, que mora na mesma rua no número
192. Conseguimos arranjar um táxi que nos cobrou Cr$40,00. Na estação a Maria
Helena comprou balas para os sobrinhos. O ônibus da Viação Nossa Senhora do
Amparo , passou na entrada da cidade. Logo veio outro.Em Marica tomamos outro
táxi (Cr$35,00). A Eliane entrou pela janela. A raymunda apanhou as chaves e
varreu a casa. A Maria Helena e eu capinamos.
O lampião funcionou mal. Rezamos o terço. Após conversar com a Maria
Helena fui dormir.
28/12/56 – 6ª feira – Acordei
quase às 8hs. Dia muito bonito. Fui correndo até a Vila. Comprei leite, ovos,
pão, querosene e água sanitária. A dúzia de ovos foi Cr$38,00, o litro de leite
Cr$7,50, o querosene Cr$2,80 e a bisnaga
Cr$4,00. Voltei a pé. Passeamos na canoa com o pai do Ênio que é um garoto que
passa o dia lá em casa e faz muitos serviços. Muito bom rapaz. Limpei a caixa
d’água. A mamãe chegou. Veio de carro, Cr$30,00. Disse que o Felippe estava
andando muito de carro com o Luiz e que o Josué vinha domingo.. Capinei. O
lampião está precisando de uma nova camisa. Rezei o terço e cantei.
29/12/56 – sábado – Acordei
às 7hs. Capinei. Fui à Vila correndo. Comprei 1,5 kg de carne (patinha) a Cr$
65,00. Meio quilo de farinha, Cr$5,00 e 5 litros de leite. Voltei conversando
com um garoto da região. Tomei um rápido banho na água suja da lagoa. Na cidade eu era o único de calção.
Capinei e dormi um pouco. À noite rezamos o terço. Falei com o pessoal que
estava pensando muito na E. Gasper e a mamãe como de costume foi contra a
mistura de raça e dizendo que a vida dela era diferente e que geralmente esses
casamentos são infelizes. Todos comentaram o estado deplorável do mundo!
30/12/56 – domingo – A mamãe
anda às voltas com um conserto de carro que há muito a preocupa. A Maria Helena
e a Raymunda foram à missa na Vila. O Josué chegou de Niterói, mas voltará hoje
para regressar a Marica amanhã. Mamãe e eu voltamos para o Rio.Fomos a pé até a
Vila e em Niterói a pé até as Barcas. Fomos de carro, Luiz, Felippe, Affonso,
Maria José, mamã e eu assistir à missa na igreja de São Francisco Xavier. Pouca
gente. O padre já está bem velhinho. Tomamos todos juntos um lanche na casa da
Maria José. Fui dormir cedo. O Felippe e o Affonso andaram no carro do Luiz até
às 5hs. Estavam já a tirar o carro.
31/12/56 – 2ª feira – Último
dia do ano! Fui à missa onde me confessei e comunguei, graças a Deus! Fui ao
HCE. O osso do cotovelo esquerdo está com uma protuberância. O Dr. Neves
recomendou que eu continuasse com a fisioterapia e mecanoterapia e que nadasse.
O Pe. José Maria veio em casa. Quem fez o almoço foi a mamãe, que estava toda
atarefada. O Zé Maria comprou cerveja. O Felippe e o Affonso estavam com muito
sono. Depois chegou o Edison que vinha do trabalho. O Duca chegou também, vinha
da Barra da Tijuca, dizendo que na cidade havia muitos “paus d’água”. Afinal o Luiz foi para Itacuruçá, o Pe. José
Maria para o Alto da Boa Vista, o Felippe e o Affonso para Paquetá. A noite
estava muito barulhenta. Ficamos em casa a mamãe, a Tia Amélia e eu. Fui à
missa da meia-noite. Confessei-me e comunguei. Voltei contente para casa. Hoje tentei consertar o rádio da tia
Arthemira mas não consegui. Conversei com o Edgard que me disse que já era uma
“personna grata”junto à Presidência da República e que poderia ser chamado a
ocupar um grande cargo e que tinha um gabinete muito grande e todo atapetado.
Que já saíra umas quatro vezes na coluna social e que em breve chegaria o carro
que encomendara nos Estados Unidos.
“Sic flos vel ventus, sic
transit nostra juventus!”Assim como a flor ou como o vento passa a nossa
juventude!
E chegamos ao final do ano de
1956! Ano Novo! Chegou 1957!
01/01/57 – terça-feira –
Tenho tentado consertar o rádio da tia Arthemira mas não consigo. Fui à casa da
tia Rita onde consertei a enceradeira.
02/01/57 – quarta-feira
-Consertei a tomada na casa da tia Arthemirra. Tomei sorvete na casa dela. O
Felippe foi embora e deu-me duas camisas. À noite fui ver televisão na casa tia
Arthemira. Hoje passei um telegrama para o Felippe dizendo que a transferência
dele havia sido assinada.
03/01/57 – quinta-feira –
Acordei, fiz ginástica. Fiquei muito contente quando vi que o meu braço
esquerdo já dobrou quase todo. Graças a Deus! Fui à igreja. Estava cheia de
alunos do Colégio Militar e vi lá o Dr. Neves à paisana. Em casa a mamãe me deu
Cr4300,00 para que eu comprasse camisas. Fui ao Ministério da Guerra, onde
encontrei o Barros que me disse que estava no Regimento Escola de Infantaria,
na Vila Militar. O Lobão na Polícia do Exército, o Bonneti em Ponta Grossa. Não
consegui receber a carteira da mãe. Fui ao Passarelo e dei o meu nome. Fui a pé
até a Av. Graça Aranha, 226, para receber a escritura do meu terreno em Marica,
estava fechado.Tomei uma vitamina (7,00) e um refresco (3,00). Consegui depois
a escritura. Comprei duas camisas (445,00) na Ducal . Tomei o ônibus 102- Praça
Saenz Pena – Largo do Machado. À tarde fui até a rua São Cristóvão na loja de
um russo que foi soldado na Rússia, de cavalaria. Disse-me que o russo é mais
forte que o brasileiro. Que os cavalos de lá são altos e fortes. Que os russos
são muito bons. Que os estudantes russos são muito idealistas. Que a disciplina
lá é duríssima. Que combateu na guerra de 1914. Que um tal de Trotski tinha
sido um orador como nunca vira em toda a Europa e foi quem introduziu o
comunismo na Rússia. Que combateu na guerra de 1914. Que um tal de Trotski
tinha sido um orador como nunca vira em toda a Europa e foi quem introduziu o
comunismo na Rússia. Que ele havia sido expulso da Rússia como não
comunista.Que tinha uma loja de rádio no Brasil. O mecânico de rádio era um
português que parecia entender bastante. Voltei a pé até a praça da Bandeira e
peguei o 102. Em casa a mamãe reclamava do aumento do custo de vida. À noite
fui à igreja com a mamãe. O Padre Basílio falava. Confessei-me com o Padre
Rafael. Vi o Padre Nicolau que é o novo vigário.
04/01/57 – 6ª feira –
Levantei-me e fiz educação física. Fui no carro do Dr. Piedras até o sítio.
Íamos: Ivan, Edison. Maria José, Patrícia, tia Arthemira e eu. Furou um pneu no
caminho. Chegamos, não havia ninguém. Tia Arthemira rindo, disse que a Mariinha
tinha ido casar. Comi um sanduíche e voltei com o Ivan que já está dirigindo
bem. Tinha combinado com o Ivan ir para Paquetá às 16:30hs. Tinha que fazer o
seguinte: consertar o rádio da tia Arthemira, pois já tenho as resistências,
fazer as chaves para o portão dos fundos. Deixei tudo de lado quando o Ivan
resolveu ir às 14:00hs. Apressei-me e fui tomar o lotação, só conseguindo às
14:00hs. Cheguei à Praça 15 às 14:30hs. Só havia lancha para as 17:00hs. Fiquei
sentado apreciando um indivíduo do Exércitio da Salvação. Chegou sozinho. Tirou
um acordeão e pôs-se a cantar e tocar. Aos poucos foram chegando alguns
daqueles que ficam pelas praças. Tomei a
lancha Petrópolis. Em Paquetá ia a pé para a casa da Risoleta. Veio a Ana de
bicicleta e eu a levei atrás. À noite fomos até a ponte: Rubens, Horácio, Ivan,
o Caetano, filho do Seu Moisés e eu. Vi o movimento. Íamos dormir quando uma
garota chamada Cléa deu bola. Ficamos os cinco a conversar com ela. Disse que
estudava no Colégio Piedade, tinha 15 anos e conhecia muitos rapazes. Fomos com
ela até a praia da Guarda e nos despedimos.
05/01/57 – sábado. Acordei
cedo, fui à praia fazer ginástica e nadei. Encontrei a tia Rita já tomando
banho e a Marieta fazendo ginástica ouvindo rádio. Apareceu o Oscar que quis
experimentar o motor Evinrude de 10 cavalos, que não pegou. À tarde andei de
barco com o Ivan. Vi hoje o Machadinho,
já aspirante, que vai para João pessoa no dia 21.
06/01/57 – domingo – Acordei
às 05:45hs. Fui à missa com a Risoleta,
Oscar, Margarida, Vera e Oscarzinho.
Experimentamos o motor. Pegou. Estava com de3feito, parava sozinho depois
de cert tempo. Puxei muito motor. Depois o Oscar passou por cima de uma pedra
oculta e quebrou o pino. Hoje vi um outro cadete. Ontem vo o Cap Medeiros Dias
na praia do Catimbal. O Ronaldo da EPSP está namorando a R. do tio Françu.
Ganhamos duas partidas de basquete. Hoje vi o Cláudio, o Fafá e o Jorge filhos
da Maria Lucia e do Antonio Jorge. A casa do tio Françu é muito bonita.
07/01/57 – 2ª feira – Tenho
encontrado vários colegas da AMAN ou conhecidos, como Cap Medeiros Dias, Jamil
(Inf), Luiz de Eng, Ronaldo da EPSP, um cadete alto do 1º ano, o tio Moisés e o
Henriquinho. Tenho gostado muito de Paquetá, andado bastante de bicicleta,
nadado bastante e o braço está ficando bom, graças a Deus! Só que aqui eu não
consigo levar uma vida mais espiritual. Fico muito distraído. A Cléa foi para o
Rio. Todos nós gostamos dela, pois é uma das mais bonitas da ilha. Tem 14 anos,
sabe conversar sem constrangimentos. É uma garota diferente.
08/01/57 – 3ª feira – Acordei
cedo e fui para a praia fazer educação física. Consertei as instalações
elétricas da casa da Risoleta. A mamãe chegou com a tia Amélia. Pegaram uma
charreta. Fui tomar banho de mar. O Horácio foi ao Rio e voltou no mesmo dia.
Fomos passear na ponte. Paqueramos um pouco. A Clélia apareceu. Voltamos para
casa. Dormi na casa da Nair às 21:30hs.
09/01/57 – 4ª feira – Acordei
às 05:10. Fui à praia. Ginástica. Fui à ponte comprar pão. A mamãe foi visitar
a tia Rosa. A Maria Célia está namorando um ex-aluno da Escola Naval. A R. está
namorando o Ronaldo da EPSP. O calor hoje está muito forte, até as velas da
sala dobraram sozinhas. Colocamos o motor do Oscar para funcionar. Ainda
continua ruim. À noite o Rubens, Horácio e eu conversamos com a Cléa. Chovia.
Dormi na rede. Hoje a mamãe rezou o terço com todos juntos.
10/01/57 – 5ª feira – O dia
amanheceu chuvoso. Fiz ginástica e tomei banho. Fui seis vezes à ponte. A Nair
chegou. O Rubens e o Horácio limparam o barco do Oscar. O dia está muito
chuvoso. À noite fui à igreja. A mamãe rezou o terço.. Fui dormir na rede às
21hs.
11/01/57 – 6ª feira – Acordei
às 06:10. Chovia. Fui à ponte comprar pão e peixe (Cr$70,00) e camarão.
Conversamos com a Cléa, o Horácio, o Caetano e eu. Contou que a mãe é
enfermeira no Hospital Pedro Ernesto e trabalha à noite. Hoje limpamos o barco
do Oscar e a prancha.
12/01/57 – sábado – O Oscar
chegou ontem e o Affonso hoje. À noite fomos à ponte. Ontem joguei outra pelada
de basquete. A ilha ficou muito cheia.
13/01/57 – domingo – Fomos à
missa no Preventório. O motor pegou bem no começo. Conversei com a Marta e a
Irene que conhece o meu irmão Felippe. A fila para voltar para o Rio estava
enorme. Afinal o Affonso conseguiu ir, tendo eu ficado um pouco para ele na
fila.
14/01/57 – segunda- O Oscar,
o Ivan e a Verinha foram cedo para o Rio Fiz ginástica. Colocamos o motor para
funcionar. A Martha e a Irene andaram de lancha. A Risoleta contou-nos casos da
nossa família. Consertei o banco da lancha do Oscar. Fui passear de bicicleta.
À noite o Rubens conversou com a Cléa. Horácio, Caetano e eu fomos falar com
três garotas: Maria Alice, Vera e Edy. A Edy me disse que está no 4º ano do
Instituto de Educação e é filha do Cel Bessa. Todos gostamos da noite e fomos
dormir contentes, graças a Deus!
15/01/57 – terça – Acordei
cedo. Fiz ginástica. O braço está quase bom. Levei o Oscarzinho à ponte. Ele dá
para chorar muito à noite, querendo ir
para a rede. A Risoleta às vezes até se impacienta. Fui à praia. Andamos de
prancha com a Risoleta, Margarida, Violeta, Anunciada, Marta, Irene, Cléa e as
netas do tio Manoel. A Zilda chegou do Rio. Brinco com ela em relação ao samba.
O dia hoje está bem quente, as noites com um bonito mar. À noite limpei as
velas do motor. À noite conversei com a Marta, vendo a lua cheia que se escondia
atrás das nuvens, na praia do Catimbau.
16/01/57 – quarta – Acordei
cedo e fui passear com o Oscarzinho. A tia Rita estava com a Mônica filha da
Hilda. Fui à praia. A Maria Lúcia e filhos, A Célia e o namorado passeavam de
lancha. Conversei com a Edy e a Vera Lúcia. Guardamos o motor já enjoados de
dar partida no mesmo. A Vera e a Anna chegaram do Rio dizendo que a mamãe me
queria lá em fevereiro e que o José Maria ia para Taquara em Jacarepaguá e que
a Maria helena tinha ido ao Rio com toda a filharada. Dormi à tarde. Choveu.
Fui à ponte. Dormi cedo depois de rezar o terço.
17/01/57 – quinta – Fui hoje
comprar pão. Comprei tinta e pintei os lustres da varanda. Dia chuvoso. A Vera
quer saber tudo sobre um tal de James Dean. O rock and roll no filme “A Dança
das Horas”causa distúrbios no Rio, porém a polícia tem controlado. Pegou fogo
hoje um petroleiro da Petrobrás, o Amapá, perto da ilha Comprida. À tarde tomei
banho, nadando como exercício. Chovia À noite rezamos o terço. Conversei com a
Risoleta sobre a nossa família até as 22 horas. Dormi na poltrona.
18/01/57 – sexta- Amanheceu
chovendo. Fui à ponte com o Oscarzinho e comprei uma rosca para ele e outra
para o Joãozinho irmão do Caetano. Limpei a bicicleta do Oscar. A Zilda fez um
gostoso prato de talharim. À tarde chegou o Oscar que fez anos ontem (45 anos).
Ele trouxe a bicicleta da Vera. O Ivan também chegou, trouxe duas caixas de
uva. Dei dois mergulhos na água e caiu um grande toró. O jornal Diário da
Noite trazia a seguinte notícia:
Testados ontem os foguetes brasileiros. Com a presença do ministro da Guerra ,
general Lott, do chefe do Estado Maior das Forçasa Armadas, general Otavio
Maza, do chefe do Estado Maior do Exército, general Zeno Estillac Leal, foram
testados ontem no Forte de Copacabana, os foguetes rotativos de 105mm e 5.500 m
de alcance, fabricados com matéria prima
exclusivamente nacional. As experiências tiveram pleno êxito e constaram
da perfuração de chapas de aço, destruição de peças de madeira revestidas de
aço, tudo com explosivos militares plásticos e ciclotrol. São das manobras os
flagrantes que divulgamos.
Rezamos o terço. Dormi das 19
às 21hs. Parou a chuva e voltou a luz. A Margarida, Violeta e Vera foram ao
cinema.
19/01/57 – sábado – Acordei
às 7hs. Ganhei um retratinho da Vera. Consertei a bicicleta do Oscar que foi
pescar. Fui à praia rapidamente. À tarde dormi e brinquei com o Oscarzinho. Fui
à ponte. Chuva. Caiu um raio que deu três estouros. Pensei que fossem latões de
gasolina que tivessem estourado. Tive medo. O Ivan saiu correndo e eu atrás.
Eis que aparece o Dr Piedras e nos chamou de medrosos e covardes e que quanto
mais rezamos mais medrosos ficamos e blasfemou. Que Deus o perdoe! À tarde
também fui à praia. Vi a Vera Lúcia, Edy, Marta e Irene. A Cléa apareceu com o
Rubens e disse, segurando na minha bicicleta, que ia para o Rio. Havia uma
festa mas não fui. Em casa rezamos o terço e fui dormir às 21:45hs.
20/01/57 – domingo- Dia de
São Sebastião. Bonito dia! Fomos à missa no Preventório. A Vera quase que chora
porque a Margarida foi na bicicleta dela. Fui comprar pão com o Ivan. Usamos a
lancha e o motor ainda não está bom. Na praia conversei com a Vera Lúcia que me
disse que a Edy havia chorado porque os pais a levaram para outra praia. O
Oscar não gostou que subíssemos na lancha andando nem saltássemos dela. Ivan e
eu guardamos a lancha. Ã tarde e à noite fui à ponte.
21/01/57 – segunda – Comprei
pão com o Oscarzinho. Fui à praia. Brincamos com umas americanas de sete anos
para menos. Estavam com a governanta. Foi divertido. Conversei com a Edy e com
a Vera Lúcia. À tarde dormi. Fui à ponte, onde cortei o cabelo e comprei pão e carne. O Caetano, o Horácio e
eu encontramos a Vera Lúcia e a Edy. A falta de assunto foi grande. Em casa a
Risoleta , as filhas e eu rezamos o terço. A Zilda trabalhava na cozinha. O
Caetano e eu fomos conversar com a Vera Lúcia e a Edy.
22/01/57 – terça – Fui à
ponte com o Oscarzinho. O Horácio e o Caetano compraram gasolina misturada
(86,00). Andamos de lancha até a ilha de Brocoió. Depois fui conversar com a
edy e a Vera Lúcia. À tarde torei. Fui à praia. Conversei com um consertador de
bicicleta de nome Nico. À noite fui à ponte. Chegaram o Rubens e o Dr
Piedras que foi de barca para o Rio.
Ofereceram-me dinheiro, mas não aceitei. Na volta encontramos a Edy e a Vera
Lúcia. Hoje também rezamos o terço em
casa.
23/01/57 – quarta – Acordei
cedo. Fui à ponte com o Oscarzinho. A Zilda cantava: “Ah este mundo está louco,
está, está de pernas pro ar, pra uns é doce de coco, pra outros é de amargar! A
gente inda ganha pouco, inda tem que rebolar, rebolar, rebolar!”
26/01/57 – sábado – Atrasei-me, faço uma
recapitulação: Tenho conversado com a Edy e olhado muito para a Pepei. Joguei
uma pelada de basquete quinta à noite, com o Rubens e o Caetano. Chamavam o
Rubens de apavorado e a mim de coqueiro e cobra. Nadei até o globo que é um
marco que existe em frente à praia dos Coqueiros. A Risoleta me disse que ficou
com o coração deste tamanho. O Caetano e o Horácio foram buscar a lancha. O Dr Piedras,
o Edgard e o Ivan vieram ontem. Temos rezado o terço todas as noites. Hoje
apareceu o namorado da Vera Lúcia, Jaime. O Edgard foi pescar com o Oscar e
pegaram 40 peixes.
27/01/57 – domingo – Fomos à
missa no Preventório às 06:30hs. Andei de lancha. Deixamos o Edagrad e o
Horácio pescando. Fui para a praia. Houve procissão de São Sebastião mas eu não
fui. Ivan e eu conversamos e passeamos na ponte. O Rubens foi embora depois de
brigar com a Cléa. Vai viajar.
28/01/57 – segunda – Fui à
ponte com o Cacá. O Oscar, o Edgard e o Ivan foram na barca das 05:30hs. O
Oscar foi chateado, só falando nas férias dele. Consertei a bicicleta do Oscar.
Fui à praia, rapidamente. A praia estava suja com peixe morto. Chegaram uns
antigos colegas do seminário: Darci, Manoel, um louro de óculos e um cearense.
Lancharam na casa da risoleta. Conversamos bastante lembrando o tempinho. Eles
iam dormir mas não foi possível. O Cândido começou a consertar os motores. Ã
noite fui à ponte. Apostamos corrida de bicicleta. Ganhei uma do Horácio até o
Municipal. Havia um arrasta-pé no Municipal. Não dancei. Fiquei de calção,
vendo. A noite estava muito linda.
29-01-57 – terça – Fui à
ponte com o Oscarzinho. O dia está bonito. Hoje não conversei com garota
alguma. É que fiquei influenciado pelo estado de espírito dos seminaristas que
aqui estiveram, todos alegres sem pensar em namorar. Fui para a praia. Nadei
bastante. Rezamos o terço. A tia Rita também. A casa da Risoleta está sendo
pintada. P pintor se chama José e é paraibano. É do Arsenal. Trabalha bem.
Dormi cedo. O Rubens ficou conversando com a Cléa. O Horácio e o Caetano com
uma moça do SAPS.
30/01/57 – quarta – Penso em
ir ao Rio. Estou enjoando de Paquetá. Os primos encheram a balsa do Orlando.
Fizemos farra na praia. A Lúcia e outras garotas emprestaram um remo. Não
conversei com a Edy. Já enjoei dela. À tarde dormi. Fui à praia com o
Oscarzinho. O Beto brincou comigo, caçoando. Fui ao Rio na lancha Petrópolis.
Cr$10,00. Fui com o Rubens e o pintor José.
31/01/57 – quinta – Fui à
missa. Confessei-me e comunguei. O vigário é o Pe. Nicolau. Fui ao Ministério
da Guerra. Tirei abacate. Comprei um calção por Cr$180,00. A Raymunda deu um
banho no Triquinho e eu cortei o pelo dele. Dormi. Encontrei o Edgard bem
vestido no ônibus 102. Fui com a Anna e o Rubens para Paquetá. A Margarida, o
Paulinho, o Horácio e o Caetano estavam lá. Levei abacate para a Risoleta. Não
tenho conversado com garotas. Rezamos o terço. Há muita mosca na casa.
01/02/57 – primeira
sexta-feira – Dia normal. Compras. Fui à missa com o Oscarzinho e a Margarida.
Comunguei. Tenho tomado muita “bomba”, que é suco de laranja da terra.
02/02/57 – sábado – Não fui à
missa. Tenho limpado bem a bicicleta do Oscar. O Edgard veio ontem com o Oscar.
O Ivan hoje com o Dr. Piedras. Encontrei com o Roberto, primo do João Bosco.
Passou para o 3º ano da EPSP. Conversamos bastante. Tem uma irmã chamada Wilma.
Há uma festa hoje no Jaca’s. Metade normal, metade grito de carnaval. Não fui.
O Edgard, o Ivan, o Rubens, o Horácio e o Roberto foram. Não tenho conversado
com a Edy.
03/02/57 – domingo – Missa
das 06:30 no Preventório. Dormi mal. Tenho bebido bomba demais. Deitei-me e a
Risoleta me deu magnésia e mate. O mar hoje está muito picado. Treinamos
waterpolo, Roberto, Rubens e eu. A Edy estava na praia. Encontrei-me com o Asp
Wilson de Infantaria. O Rubens vai embora hoje. Teve dificuldade em ir para o
Rio, pois havia muita gente na ilha. Hoje é o dia de São Brás. A Marieta levou
quase toda a sobrinhada à igreja do Bom Jesus para receber a benção das velas.
04/02/57 – segunda – O Oscar
entrou de férias. O Edgard e o Ivan foram para o Rio na lancha das 06:00hs.
Encontrei-me com o Roberto que vai hoje para o Rio. Comecei a jogar sinuca. À
tarde choveu. O Rubens voltou do Rio. Hoje não rezamos o terço em conjunto. O
Oscarzinho está com 2 anos e 2 meses. A Risoleta às vezes o chama de bomba
porque é muito agarrado e à noite as vezes chora.
05/02/57 – terça – Fui pescar
com o Oscar. Ele pescou 6 e eu 4. O motor não está bom. Queimei-me mais ainda
na pescaria. À tarde joguei sinuca. O Dr Piedras e o Rubens foram para o Rio.
Fui à ponte com o Horácio e depois jogamos sinuca.
06/02/57 – quarta –
Encontrei-me com o Waldir de Infantaria, de bigode. O Caetano foi para o
Rio.Vai passar o resto das férias em Petrópolis. O João também foi para o Rio.
Joguei vôlei com o Horácio na praia. A rede de vôlei é da Pepei. Há sempre jogo
na praia dos Coqueiros. À tarde também jogamos vôlei no Municipal. Á noite
resolvi dormir cedo na casa da Nair. A Nairzinha chorou de noite. Passou mal.
07/02/57 – quinta – Oscar,
Horácio e eu fomos pescar. Na praia ontem vimos o coronel Bessa que também foi
pescar. O Horácio deu sorte ( ele diz que não é sorte mas sim classe). Pescou
uma big “Carinhanha” e um “Peixe-Porco”. No final foram 10 do Horácio, 7 do
Oscar e 6 meus. À tarde fomos jogar vôlei no Municipal. À noite fomos à Ponte e depois resolvemos ouvir serenata. Uma
colega da Verinha, Lucy, irmã da Lecy, tocou violão. Dormi na casa da Nair.
08/02/57 – sexta – Limpei a
bicicleta do Oscar. Ele resolveu passear com a Risoleta e o Oscarzinho. O motor
porém decepcionou. À tarde quando acordei, o Oscar e o Horácio tinham
desmontado o motor. Depois o Horácio e eu fomos jogar vôlei no Municipal. O motor
depois pegou bem. Vibração geral. À noite fomos à Ponte. Nada de novo. Fui para
casa. O Oscar e a Risoleta dormiram nas redes. Li este diário para o Horácio.
Resolvemos aproveitar mais o resto das férias.Eis as normas adotadas:
1)
Novos
conhecimentos;
2)
Mais jogos de
basquete e vôlei;
3)
Descansar
bastante.
As sobrinhas foram ao cinema
no Municipal.
09/02/57 – sábado - O
Horácio, a Nair, a Nairzinha, o Tuquinha e o Paulinho foram de charrete para a
Ponte. Vão para o Rio ver o embarque do Rubens. Experimentamos o motor, Oscar e
eu. Ainda há defeito. À tarde começamos a tentar consertá-lo. Recebi um convite
hoje para o baile inaugural do Paquetá Iate Clube. É que um advogado havia
prometido para o Horácio. Às 17:30hs fui jogar basquete no Municipal contra o
Boog-Yoog. Uma boa pelada (60x22). Estava na dúvida se iria ao baile. Lia o
livro “A Ponte dos Suspiros”, em que um tal de Rolando Candiano sofre um bocado
de adversidades na vida. Gostava de uma tal de Leonor e eram chamados “Os
Amantes de Veneza”. Outros personagens (Cardeal Bengo, Altieri, Branc, Valeria,
o dodge Foscari, etc.) ã meia-noite fui ao Iate Clube. Dancei com a Marta.
Encontrei o Roberto Ribeiro, da EPSP. Um cadete da Aeronáutica, meio alto,
entabolou uma conversa comigo. Joga basquete e conhece o Calomino e o Tarcísio
da EPSP. Depois veio o carnaval. Como pulavam e suavam os que brincavam. Não
pulei. Às 02:30hs fui para a casa da Nair dormir. A Edy e a Vera Lúcia
brincaram.
10/02/57 – domingo – A
Margarida ia me acordar. Fomos ao Preventório. Comunguei. Fui dormir de novo. O
Oscar sozinho andou de lancha. Fui depois. Ainda há defeito. À tarde
consertamos. Hoje é o jogo entre paulistas e cariocas. Até agora vencem os
cariocass por 1x0. O speaker fala mal do juiz Antonio Musitano. No final os
cariocas ganharam de 4x0. Primeira vitória no Maracanã. À tarde choveu forte
como de costume. Acabei de ler “A Ponte dos Suspiros”.
11/02/57 – segunda – O Oscar
e a Margarida foram ao Rio. Mandei consertar a bicicleta do Oscar. Chegou o
Horácio. Experimentamos o motor. Está bom. Acabou a gasolina. Passeamos de
bicicleta. Vimos a Cléa e a Dupla. A Dupla estava pescando. O Horácio comprou
jornal. Havia um padre na fila. Caiu uma forte chuva. Joguei sinuca com o
Horácio. Ele rezou o terço. Discutimos os problemas da juventude. Fui dormir na
casa da Nair. Pensei na Liz.
12/02/57 – terça – Fui à
Ponte com o Oscarzinho. Brincamos com a arara da praia dos Tamoios. Li uma
revista. Peguei o barco do Oscar e comecei a dar a volta na ilha. O tempo já
mudou. Atraquei o barco perto da Covanca. O Horácio quis continuar. Fomos de
barco até a Praia Grossa. Apanhei a bicicleta do Oscar cujo conserto foi de
Cr$50,00 no Seu Francisco e fui buscar o dinheiro. A Cléa foi a um banco da
Praia Grossa e nos ficou olhando. Quando
passamos fez um olhar de desconsolada. O Oscar chegou do Rio com a Margarida. À
tarde jogamos vôlei no Municipal. À noite encontramos a Marta e a Irene que iam
a uma festa na Casa Moderna. Não íamos mas o Horácio estava em dúvidas. Depois
apareceu uma garota alta e gorda que sem se apresentar queria que fôssemos à
tal festa. Veio dizendo que eu era enjoado e parecia bom para ser padre.
Chamava-se Vilza. Um tal de Zeca convidou as minhas sobrinhas para dançarem no
Iate Clube mas elas não foram.
13/ 02/57 – quarta – Fui
continuar a volta à ilha de barco. O barco estava com água mas consegui
esvaziá-lo. Fui remando. Parei algumas vezes para descansar na Praia dos
Frades, na Ilha das Flores e outros lugares. O Oscar e o Horácio foram pescar
de lancha. Não pescaram quase nada. Depois encontrei a Marta e a Irene na
praia. As primas e as sobrinhas brincavam
no barco. A Cenira e a beatriz
foram passear de lancha com o Oscar e a Anna. Passeei com o Franz. O Caetano
telefonou às 14:30hs lá de Petrópolis. Vai bem. Convidou-nos para passar sexta,
sábado e domingo lá. Ficamos para resolver, Horácio e eu. Resolvemos não ir. À
tarde o Nelson convidou-nos para jogar voleibol no Municipal. À noite fomos
deixar o Oscar na Ponte. Rcebeu um chamado do Rio. Pagou-nos um cafezinho. O Horácio
foi conversar com a Lúcia e a Sônia. Como riem! Depois passamos pelo Iate Clube
para ver o ambiente. Quase que fomos com a Anna. A Risoleta ouviu sem quere um
programa da Rádio Mundial (Cruzada da Boa Vontade) . Dormi na casa da Risoleta.
14/02/57 – quinta – Limpamos
o motor, Horácio e eu. Pedi emprestado a chave do Dr. Piedras, para consertar a
bicicleta da Margarida e a chave não agüentou o esforço. Telefonei para o Oscar
pedindo que trouxesse uma chave de 6 inches, igual à do Dr Piedras. O Horácio cortou
o pé na lancha quando andava com o motor do Ronaldo Espoleta, Jonhson 5 1/2cv.
À tarde jogamos voleibol no Municipal. A Marta quis jogar e jogou. O Oscar
chegou mas não trouxe a chave. À noite fomos à Ponte. Conversamos com a Lúcia e
a Sônia. O meu primo João Bosco, filho do Duca e da Afonsina chegou hoje.
15/02/57 – Aniversário da
Raymunda ( 45 anos). Fui à Ponte com o Cacá. Fomos à praia. O dia não está
muito bonito. No final joguei voleibol. Perdi uma e ganhei outra. Cheguei
atrasado para o almoço. O Cacá foi cortar o cabelo. Chorou muito. Quem segurou
foi a Maria lavadeira. À tarde joguei basquete, uma péssima pelada. À noite
chegou o meu primo João, pai da Cenira, com a Carmen sua filha e o meu primo
Dr. Edgard. A Vilza apareceu na Ponte. Vi a Cléa. O Horácio e o João Luiz
conversaram com a Lúcia e a Sônia. Queria conversar com a Cléa mas não tentei.
Só disse um Boa Noite. O Affonso também chegou hoje. Esteve 12 dias em
Pindamonhangaba. Fez um reconhecimento de ponte. Tomamos três coca-colas, João
Luiz, Horácio e eu. Estávamos em vista de falar com três garotas do edifício.
Chegaram dois homens que vão fazer o churrasco amanhã. Dormimos Affonso e eu em
redes.
16/02/57 – sábado –
Churrasco. O Cacá como sempre acordou todos pela manhã com seu chorinho
matinal. O Affonso foi com ele à Ponte comprar pão. Apanhamos cadeiras e mesas
no Municipal para o churrasco. Fui com o Affonso ver o motor. Não pegou.
Jogamos voleibol. Na hora do churrasco estava sem fome. Vieram algumas pessoas
de fora. Foram 3 charretes. Havia duas mocinhas, uma delas Maria Inês havia
passado 30 dias em Caxambu. Andamos no motor do Ronei (Espoleta). Havia um meio
italiano, Antonio Polini que me ajudou a ligar o motor do Oscar, que quebrou. À
tarde as visitas foram embora. Chegou o Roberto. Uma garota lhe perguntou se
era de São Paulo. À noite choveu. Tentamos um convite para o Iate. O Jaca’s deu
a festa. Na hora o advogado fez entrar todos. Não fui. Dormi na rede, ouvindo a
música que tocava no Municipal. As sobrinhas foram.
17/02/57 – domingo – Da
Septuagésima – Fomos à missa na capela de São Roque às 08:30hs. Vi uma
moreninha que já estou a observar há muito tempo. O Edgard e o Affonso também
foram. O Edgard estava com uma camisa escura azul por fora das calças. O
Horácio me disse que havia dançado com a Cléa. O Affonso dançou com a Irene. O
Roberto dançou com a Marta. Conversei com o Dr. Pedras e lhe disse que quebrara
a sua chave. Ele conversou sobre vários assuntos: judeus, turcos, padres,
natureza, Deus, família, etc. Fui à praia. Estava bem cheia. Joguei voleibol no
Municipal. À noite fomos à Ponte, menos o Affonso. Ficou estudando Descritiva.
Hotel Fragata... Lúcia e Sônia... Cléa e um rapaz... Garota da dupla e
acordeom... Fui dormir às 22 horas. Os cariocas empataram com os mineiros em
2x2. O jogador Índio perdeu um pênalti.
18/02/57 – segunda – O Edgard
foi cedo para o Rio. O Affonso também foi embora. Encontrei um ex-aluno da EPSP
que já está na AMAN. Bicicleta do Oscar... Praia...Bola com o Roberto... Primas
Dayse e outra... Cortei o cabelo... Discussões entre o Oscar, Risoleta,
Margarida, Dadá em relação à caridade para com a Nair que está sem empregada.
Fui à Ponte. Horácio com a Lúcia e a Sônia. A Vilza no banco. A Dayse da
dupla... A moreninha do Hotel. A Cléa com short amarelo. Chegou o Roberto com o
João e primas Dayse e outra, Regininha e Gracinha. A Cléa passou dizendo à mãe
que estava enjoada e que ia dormir. O Horácio chegou dizendo que a Sônia não
entendia que ele só queria a Lúcia. Volta... Prai dos Coqueiros... Dormir.
19/02/57 – terça – O Oscar
mais uma vez reclama que o Felippe não escreve. Consertei a bicicleta do Oscar,
que foi à Ponte com o dr. Piedras para cortar o cabelo. Escrevi uma carta para
o Felippe e fui colocar no correio. Fomos à praia o Roberto, o João Bosco e eu.
Jogamos bola dentro d’água. À noite fui à Ponte e encontrei a Dayse prima do
Roberto a pé. Andei com ela atrás da bicicleta. Voltei à Ponte e encontrei o
Ivan. Havia uma festa mas resolvemos não ir. À noite choveu. Desmoronou um
edifício no Rio, era de 10 andares. Vi a Cléa com um outro rapaz.
20/02/57 – quarta – Fui à
Ponte com o Cacá.Dia chuvoso. Fomos à praia, Ivan,Horácio, Roberto e eu. A
Célia, uma garota de 13 anos que mora no Andaraí foi para o Rio. Vai passar o
restante das férias em Petrópolis. Ela tem um rosto bonito. Em Petrópolis tem
um sítio no KM30 antes da cidade. Diz que vende terreno lá, lê romance e
engorda.Estuda no Santa Tereza e está no 3º ano do ginásio. Foi na lancha das
11:20hs. À tarde dormi bem. O Horácio, Ivan e Ronei Espoleta foram passear de
lancha na Ponte. Oscar e eu fomos montar o motor. À noite choveu. Veio um homem
conversar com o Oscar. Trabalha na Cia de Cimento Itaú, de Belo Horizonte. Veio
tratar de terrenos. As garotas foram ao cinema, menos a Anna e a Margarida. A
Elisabete Gasper apareceu no Diário da Noite.
21/02/57 – quinta – Fui à
Ponte com o Cacá. O Oscar foi pescar com a Risoleta. Fui à praia tentar achar a
poita do barco e não encontrei. Fui à praia. Jogamos vôlei sem rede Roberto,
Horácio, Waldir de Infantaria e eu. Folheei revista, O Cruzeiro e Mundo
Ilustrado, fui dormir na rede e depois na cama da Dadá. Chamaram-me para jogar
vôlei no Municipal. Não fui pois estava consertando o pneu da bicicleta do
Oscar e o ferro de passar roupa, que deu um curto e queimou um fusível. Fui à
Ponte comprar os jornais. Li o livro de inglês da Dada. A mamãe telefonou do
Rio dizendo que viria para me buscar. À noite rezamos o terço como sempre e fui
à Ponte. Roberto, Marquinho e outro com as primas foram também. Horácio e eu
fomos falar com a Cléa que estava com uma colega Suely. Elas depois se
despediram. Ivan e eu fomos conversar com a Marta. A Vilza estava por perto. À
porta do Iate Clube paramos. Conversamos com a Irene, Marta e Thaisen.
Brincaram comigo, cantando a música Felinto Pedro Salgado Guilherme Fenelon...
Eu não queria ir à festa e todos comigo diziam o mesmo. Fui dormir às 22:10hs.
A noite foi muito fria. Senti frio pois estava na rede e só com um lençol e sem
camisa, mas isto faz bem. O Cacá acordou várias vezes. Falava no cachorro Rock
and Roll que aparece todas as noites e toda a gurizada brincara com ele. Tenho
a impressão que a Marta está gostando de mim?!
22/02/57 – sexta – A Anna tem
ido à igreja todos os dias. O ferro de passar roupa está deixando sair fumaça
mas não foi nada pois continuou a funcionar e a Maria a passar a roupa. À tarde
fui à Escola da Prefeitura perto de São Roque onde joguei vôlei.
23/02/57 – sábado – Ontem à
noite o Roberto e o Horácio fizeram uma defesa do ponto de vista de se devia
aproveitar a juventude. Resolvi me confessar na igreja do Bom Jesus onde
encontrei a Pepei e irmã que comungaram. À tarde joguei vôlei. À noite a ponte
estava animada. Falei com a Cléa, Suely, Mavi, etc. A Mavi e a Taisen dançaram
na rua mesmo. Procuramos arranjar convite para ir ao Iate. Não conseguimos. À
noite choveu. O Affonso chegou. Também houve música no Municipal.
24/02/57 – domingo – Missa às
06:30 com comunhão. Figuei na Ponte ouvindo o Pixinguinha tocar saxofone e o
Alfredo tocar flautim. Estava ótimo. O Oscar, O Piedras, o Edison e o Affonso
foram passear de lancha com o Cândido até Magé. Fui à praia. A Miss Maquillage
sentou à minha frente. Fui nadar. O Roberto foi embora tendo falado em
“metermos um praião” no Rio. Uma garota interpelou-me quando nadava. Chama-se
Sandra Miriam e mora em Copacabana. O Affonso e o Edison jogavam sinuca. Fui
jogar vôlei após ter dormido até 15:30hs. Até que enfim ganhei duas partidas em
seguida. Um tal de Marino joga bem. Caí na água. Fui à Ponte. O Marino começou
a contar lances do CPOR. Ele já saiu aspirante e vai servir em Petrópolis,
ganhando Cr$10.000,00. Havia uma festa na casa de uma tal de Margarida. Não
fomos.
25/02/56 – segunda – Fui à
Ponte apanhar leite e levar a Maria José, que com a Patrícia (com seis meses) e
a empregada Ana (aquela mesma da fazenda do tio Françu) foram para o Rio. A
lancha era pequena (Fluminensezinha). O Oscar e o Affonso endireitavam o motor.
Affonso e eu fomos à praia. O motor funcionou 100%. Só que quando parava,
custava a pegar. Caiu a torneira do tanque dentro d’água. O Oscar assistia lá
do barranco. À tarde colocamos o banco novo na lancha, Oscar, Affonso e eu.
Fomos jogar vôlei. Formamos um time: Marinho ( Simões), Roney, Ivan, Horácio,
Affonso e eu. Ganhamos bem do outro time (15x7, 15x0). As garotas também
formaram dois times e jogaram. Estavam lá: Gisé, Maria, Maria Celina, Lúcia,
Sônia, Irene, Taisen, Edy, Nilza, e outras. A Risoleta trabalhou hoje na
cozinha pois a Zilda não veio. À noite rezamos o terço. Fui conversar com a
Cléa. A Lúcia e a Sônia me cumprimentaram. Depois encontrei-me com o Affonso, o
Ivan, o Marinho e o Roney. Saiu a corrente da bicicleta da Marta e eu coloquei
no lugar sujando as mãos.
26/02/57 – terça- Levei o
Cacá na Ponte. O Affonso comprou gasolina. O Oscar foi ao Rio receber dinheiro.
Limpamos a lancha. Às 11:30hs levamos para a praia. Passeamos com as sobrinhas,
com a Daisy (prima do João), com a Sônia e com a Lúcia. À tarde dormi bastante.
Depois fomos passear de lancha. O Affonso e o Horácio levaram as meninas para
passear na ilha de Brocoió. Fiquei na praia. O Marquinho, primo do Roberto foi
para o Rio. Fiquei observando uma garota bem bonita de corpo, chamada Albertina
(Bertina). Quando fomos embora ela deu adeus. O Oscar chegou do Rio. À noite
encontrei-me com a Bertina e ficamos conversando à noite. Houve festa na casa
da Mavi. O Affonso foi e não gostou. O Oscarzinho acordou, chorou, apanhou e
ainda pediu: “Mamãe, rede, mamãe...!” O Rubens chegou.
27/02/57 – quarta – Acordei
às 05:30, pois o Cacá chorou. Fui à praia. O Affonso saiu de bicicleta,
acompanhando o João, a Daise e a Lúcia. O Rubens foi comigo ligar o motor.
Custou mas pegou. O Marino disse-me que a Gisé queria ser apresentada a mim,
mas eu não quis.Mamãe chegou com a tia Arthemira. À tarde o Affonso, o Oscar e
eu apanhamos o motor. O Manoel emprestou a bóia. Fomos jogar vôlei. Ganhamos a
última partida. A família brincava de roda. Fui encontrar-me com a Bertina.
Fiquei esperando conversando com a Verinha, a Ione e o Ciro (o do
jiu-jitsu) Passei várias vezes pelo
lugar onde ela foi dormir ontem. Nada. O Affonso e o Rubens conversaram com a
Cléa. Passei pelo Iate paraa ver a Liz. Nada.
28/02/57 – quinta – Fiquei na
praia. Andei de lancha com o Oscar, Risoleta, mamãe, tia Arthemira e Cacá.
Fiquei esperando pela Bertina. Nada. Dormi. Fui à Ponte. A Cléa tomava banho lá
mesmo. Chegou a tia Rosa. A Anna foi para o Rio. Joguei vôlei. À noite fui à
Ponte e logo depois vim com o Ivan e a Marta. Passamos pelo Municipal onde
havia um teatrinho infantil. O Affonso conversou com a Verinha.
01/03/57 – sexta – Fui à
igreja com a Verinha, Margarida, Marieta e outros. Confessei-me e comunguei,
graças a Deus. Andei de lancha. Conversei com a Edy que me apresentou à Gisé.
Joguei bola com o Ivan e o Rubens. À tarde Oscar, Affonso e eu consertamos a
porta do banheiro e fizemos uma tampa para a caixa d’água. Joguei vôlei. Caí na
água que estava ótima. À noite fui à Ponte. As garotas me cercaram (Edy, Nilza,
Maria Alice, Gisê e outras). Conversei com a Gisê. O Edison, a Maria José e a
Patrícia chegaram. Vi a Dona Zélia, o Dr. Otacílio e o Aníbal Augusto.
02/03/57 – sábado – A
Patrícia ri muito aos seis meses. O Cacá não chorou. À noite comecei a arrumar
a mala. O Oscar levou o motor. Fui à praia. Vi a Gisé, mas não fui falar. Vi o
Marinho que me disse que ela queria que eu ficasse em Paquetá para o Carnaval.
A Edy também estava com a Maria Alice. À tarde dormi. Fui às barcas. Encontrei
o Affonso e o Marinho no Parque dos Tamoios. Parei. Conversei. A barca chegou
com a Anna. Entrei sem conversar com as garotas. Entretanto quando a barca
saiu dei adeus com o braço. A moreninha
da dupla estava tomando banho na Ponte, dando saltos na água. Vi a Sandra
Miriam que ia na mesma barca. Fiz de tudo para ela me ver mas não via. Até que
fiquei em frente dela. Ela me viu. Quando passei me disse “Como vai?“ Eu lhe
disse “Boa Tarde!”. Nãao conversei com ela porque parecia estar com parentes.
Fiquei o tempo todo a observá-la de costas. Ela costurava uma fantasia. Quando
passei pela ilha de Itapuama, davaa paraa se ver que havia alguns moradores
tomando banho. Quando chegamos no Rio, a Sandra Miriam desceu, pois estávamos
na parte superior. Fiquei junto. Ela conversava em francês com uma senhora.
Perguntei-lhe se ia passar o carnaval no Rio, disse-me que sim. Despedi-me dela
dizendo “Até o próximo ano, pois irei para a Academia na quinta-feira. Ela me
perguntou: “Você não havia me dito que era na quarta-feira?” Respondi-lhe que
lendo melhor o cartão, vira o engano.”Felicidades, disse-lhe. Ela me disse:
Você vai para a Tijuca, não é? Respondi
que sim. Do lotação eu vi que ela entrou num cadilac sedan, de cor amarela e
roda atrás por dentro de lataria. Um motorista abriu a porta para ela. Fiquei
impressionado com a demonstração de riqueza e fiquei pensando no fato o resto
do dia. Na praça Saens Pena cruzei com o Ivan, artilheiro. Gritei : Bah,
Che! Mas ele não,ouviu. Em casa só
estava a minha tia Amélia, que me abriu a porta. Daí a momento chegou o Luiz de
carro com a mamãe e a Raymunda. Tinham ido até Honório Gurgel onde será a
paróquia do Pe. José Maria. Disseram que a igreja é no morro e muito pobre.
Conversei com o Luiz sobre a vida em Paquetá e ele contou-me como namorara a
Dinah, no tempo do tio Antônio. Houve também uma tal de Marisa que ele namorara
antes. Deu conselhos e eu acabei contando o lance do cadilac. Depois chegou o
Frank com o Frankinho e a R. Helena. Conversei com a R. e comecei a escrever
este diário ao lado dela. O Luiz resolveu levar o Frank em casa. Fui com eles.
A Heloísa apareceu. Estava dormindo. O Frank mandou o filho comprar cervejas e
deu-nos balas gostosas. O Luiz começou a conversar sobre dinheiro e sobre a
fazenda do Seu Décio. Às 22:30 fomos dormir. A tia Dalila chegou.
03/03/57 – Domingo da Qüinquagésima
– Fomos à missa das 06:00 nos SSCC. O Pe. Nicolau rezou o Ângelus e o Pe.
Basílio celebrou a missa em que S.Paulo na Epístola faz a apologia da Caritas:
”Caritas patiens est”e no Evangelho Jesus prediz a sua Paixão e cura um cego.
Lembrei-me que quando garoto também prestar a atenção neste evangelho, no mesmo
domingo da Qüinquagésima. O Luiz levou-nos até a Barra. Passamos pelo
apartamento do Duca e ele disse que o Roberto iria se a Afonsina fosse. A
viagem foi boa e a estrada está quase pronta. Há uma nova boate “Caniço”. A tia
Dalila foi conosco. A casa da mamãe está boa. A árvore do papai ainda está de
pé. Há guarda-roupas e camas na sala de jantar. A mamãe é muito conservadora e
gosta muito de móveis antigos. O almoço foi sem talher. Dormi muito na rede
pensando nas férias que se vão e na Academia.
Chegaram o Duca e o Sérgio,
irmão da Daisy. Ele tem escritório de venda cafeeira, tem bom físico e conversa
esticando um barbante. O Duca está pálido e um pouco abatido. Mesmo assim aceitou
um gim do irmão do seu João Lima. Armei a cama de casal com a Raymunda. Estive
de manhã, lá na praia da Barra da Tijuca. A água é muito boa e as ondas também
o são. Havia muitos carros parados. Às 19:00 fui até a praça da Barra.
Seguimos, Sérgio e eu até o Esporte Clube Barra da Tijuca, onde tinha havido um
baile infantil e haveria às 22:00 um baile de Carnaval, sendo a entrada
Cr$100,00. Comemos milho e tomamos caldo de cana. Passamos pelo Come-Gordo. O
Duca pagou um guaraná e conversava com o Sr. Waldir, gerente da boate Caniço.
Este já é um sujeito gordo e bem barbeado. Chegaram os carros e ele fez
funcionar a boate colocando os discos. Antes de dormir fiquei na rede olhando o
céu que estava muito estrelado. Pensei de novo no incidente com a Sandra
Miriam. Não rezei o terço. Telefonei para casa, ninguém atendeu.
04/03/57 – segunda – A tia
Dalila foi embora. Fui apanhar água, tendo telefonado para a tia Arthemira que
não havia ido ao sítio porque o Orlando não havia ido buscá-la. Hoje faz três
anos que o papai morreu. “Requiescat in pace!“ Fiz uns buracos para pregadores
de rede. Dormi à tarde, tendo sonhos relativos a Paquetá. Fui dar uma volta com
o Sérgio. Fomos até a praia que ele chamou de Linda e depois até o Quebra-mar.
Telefonei para a tia Arthemira já que em casa ninguém atendeu. Telefono do
Posto Policial pois é de graça. Dei um mergulho em frente à casa. Gostei da
comida da Raymunda. O jantar estava bom. Rezamos o terço e depois de conversar
um pouquinho com a Raymunda, dormi às 19:30.
05/03/57 – terça – Acordei às
06:20. A mamãe conversava baixinho. Cimentei umas telhas e troquei outra. Estou
gostando daqui, pois estou num descanso reparador. O Duca veio conversar com a
mamãe. O tempo está bonito e a lua é nova. Sonhei com a Liz. O interessante é
que ela apareceu com a fisionomia da Idisséia e estava com cabelos louros. A
mamãe pediu para que visse as telhas do barraco. Havia marimbondos e eu não vi.
Hoje não tomei banho. Fomos para o Rio. Eu estava chateado de levar sacolas.
Tomamos o lotação que já estava cheio. No Leblon tomamos o que vai para as
Barcas. No trajeto por Copacabana procurava ver indícios da Liz ou da Sandra
Miriam. Nas Barcas afastei-me e fui a pé até a praça Mauá e de lá até a
Central. Não havia passagens. Em casa falei em ir até a cidade ver a Liz entrar
no Hotel Serrador. Mamãe deu contra. Resolvi então ir logo embora amanhã às
05:20 para a Academia. Passou o bloco dos Acadêmicos do Salgueiro. Os
integrantes estavam vestidos com muito luxo. Fui dormir.
06/03/57 - quarta-feira de
cinzas – Acordei às 04:00. A Raymunda deu-me o café. A mamãe e ela pediram-me
que eu escrevesse. A Raymunda quer saber o preço das maletas. Tomei um lotação
que se encheu de farristas. Tomei o Expresso das 05:20. O trem atrasou 50
minutos. Os colegas Alcione e Alcoforado também iam no mesmo trem. Não almocei.
O Comandante da Companhia é novo. Encontrei-me com o Ferreira e o Aníbal.
Arrumei o armário. O Comandante do Corpo de Cadetes visitou a ala. Cortei o
cabelo com um bom barbeiro. Após o rancho senti-me mal com dor de cabeça e
gripe. O Cap Millazzo leu a minha ficha e parece que gostou. Apresentou-me à
noite ao Ten Tibério. Com surpresa vi
que a minha irmã Maria Helena havia assinado as seleções do Reader Digest para
mim. Amanhã estarei de Ajunto ao Oficial de Dia. Passei a calça pelo processo
que a minha irmã Risoleta me ensinara. Senti-me gripado e fui dormir. Chegaram
os colegas Horst e Darzan do mesmo apartamento.
07/03/57 – quinta – Entrei de
Adjunto ao Oficial de Dia à AMAN. O oficial de dia é o Ten Amaral de Intendência. Ensinou-nos dicas para a vida
em quartel. Foi o último serviço com sapatos e gorro verde oliva. A partir de
agora será de coturnos e capacete. Chegaram cadetes atrasados até para mais de
meia-noite. O dia foi dedicado à arrumação dos armários.À noite houve cinema,
“Tempos Modernos” com Charles Chaplin.
08/03/57 – sexta – O novo
oficial de dia é o Tem Gedeão de Engenharia, que está na Seção de Educação
Física. O corneteiro não foi acordado na hora. Sou o furriel da Companhia.
Houve reunião e bebidas. Passei o dia montando folhas de vencimentos. Bati algo
à máquina de escrever. Houve treinamento para desfile.
09/03/57 – sábado – Alvorada
às 06:00. Fomos ao almoxarifado mas voltamos pois faltara luz. O Cmt da Cia,
Cap Millazzo falou em bom senso. Recebemos algumas peças no almoxarifado. À
tarde houve churrasco. Acenderam as brasas com o compressor de ar. A bebida foi
cerveja. Fiquei depois para arrumar. Dormi. O Gonçalves levou o Ari Koerner ao
apartamento e deu uns trotes nele. Do Ari Koerner eu guardo até hoje um
dicionário de inglês que ele me deu de presente em 1953 na EPSP. (The Excelsior
Pronouncing Dictionary of the English Language
by W. Nicholson). Aproveito para
lhe agradecer o útil presente. Levaram uma nova vitrola para o Grêmio. Houve um
cinema, “Até onde o céu permite” com o Rock Hudson. Saí antes do final.
Conversei com o Brasil sobre o jogo com o 2º ano. Li a Manchete carnavalesca
procurando pela Liz. Graças a Deus não a vi. Fui dormir após ler um pouco.
10/03/57 – domingo – 1º da
Quaresma – Acordei às 06:40, tomei um bom banho e desci. Não me confessei. Ia
comungar quando conversando com o Braz chupei uma pastilha sem querer. À missa
ajudei a arrumar os paramentos. O Brasil ajudou na missa. O general assistiu. O
Pe. Arquimedes falou bem. Houve jogo de vôlei e basquete com o 2º ano. Ganhamos
de 2x0 e de 60x19. À tarde fui ao bairro vicentino com o Theberge, o Ferreira e
o Lopes. Lá vi um gordo chamado Pedro que tinha o perfil de intelectual. Na
volta passamos pela escola Profissional. As garotas Leonita e Odete se
lembraram de mim. A esta última devo um presente. O rancho da tarde foi tipo
lanche. Depois encontrei-me com o Capitão Galdino e o Vila Mariana lá de São
Paulo. Ouvi discos, dancei, preguei divisas e fui dormir.
11/03/57 – segunda – O
plantão acordou-me às 05:30. Tomei um bom banho. Todos os Oficiais compareceram
com o 5º uniforme. O Gen Cmt discursou. Tocaram o Hino Nacional. Tivemos
instrução de Técnica-Auto. A viatura auto-móvel divide-se em carroceria e
chassis. O chassis compõe-se de 1) motor e seus órgãos anexos, 2) transmissão,
3) rolamentos do chassis, 4) freios, 5) direção, 6) equipamentos de
eletricidade, 7) acessórios. Divisão quanto ao destino de serviço, etc.
Houve depois com o Cap Arruda
e depois como Maj Asdrúbal, uma explanação sobre a Instrução Militar neste ano.
Após o almoço conversei com o Tarcísio e um outro colega. O Saraiva fez a
faxina para o Chico. À tarde tivemos aula de História Militar com o TenCel
Cardoso. Mandei uma carta para casa. Tivemos aula de Balística. O Ten Gedeão
deu uma instrução muito boa sobre
basquete. Houve reunião da Conferência Vicentina. Quiseram me colocar como
presidente da comissão “pró – Basílica”. Chuva forte. Fui à sala de aula.
Apanhei leite. Tomei coalhada, dando um pouco para o Largaspada.
12/03/57 – terça – Piscina.
Nadei menos do que esperava. Três horas de aula de Resistência dos Materiais em
que o Maj Carlos falou sobre o polígono de Varignon ou das forças. À tarde aula
de Balística com a nomenclatura dos elementos da trajetória. Fui à piscina com
o Schirmer, Horst, Helder, Iapir e Sérgio Rocha. Nadei e joguei waterpolo. Aula
de História Militar. Vi o Cel Benevides lá na OEP que me saudou; “Olá
Engenharia!’. Depois eu peguei com o Cmt da Cia a permissão para ir ao
barbeiro. À noite eu fui ao cinema e vi o começo de um filme com a Susan
Harvard, uma aventura na Irlanda e na áfrica do Sul. Fui cortar o cabelo. Fiz
um rol de roupa suja, tomei coalhada dando um pouco para o Horst e levei leite
para o Chico. Vi uma notícias sobre a Liz Gasper na Revista da Semana. Ela ia
ser eleita Miss Lambretta.
13/03/57 – quarta – O café da
manhã foi mais tarde. Estava presente o Cmt da AMAN, Gen Hugo Panasco Alvim.
Houve educação física. A minha altura é de 1,88m e o meu peso 81,9kg. Fiz
ginástica básica com o sargento e com o Ten Gedeão. O sol estava forte. À tarde
tive Emprego das Armas e metralhadora INA. Meu saco de roupa suja voltou. Eu
havia errado em duas peças de roupa. Joguei sinuca com o Peroni.Minha colocação
junto aos colegas é a 14ª com 28.008 pontos. O Largaspada foi visitar sua
namorada Lucia. Comi coalhada e lustrei os sapatos.
14/03/57 – quinta – Acordei
às 05:20 e fui para o Parque de Engenharia como sargento de dia. Apresentei-me
ao Cap Maranhão e comecei o serviço. Tive instrução de Minas e Armadilhas,
Estradas e Reconhecimento. Meu dente estava doendo e me incomodou durante a
instrução de Destruição com o Ten Roehl.
15/03/57 – sexta – Instrução
de banquinho todo o dia. Não fui bem na instrução de destruição com o Ten
Roehl. À noite arrumei meus livros e limpei o armário. Dormi cedo.
16/03/57 – sábado – Tive
Ordem Unida com o Ten Tibério. Fui à sala de aula para ouvir o Cap Milazzo e
receber algumas recomendações. Depois fui jogar basquete com os oficiais de
Engenharia. Os cadetes do 2º e 3º anos de Infantaria também estavam jogando. À
hora do almoço dois indivíduos vieram me oferecer um dicionário de português
mas eu não aceitei. Joguei sinuca no cassino. Depois fui para o apartamento e
lavei algumas roupas. Achei o filme de hoje muito bom, Marty com Burt
Lancaster. Um homem gordo e feio que não tinha sorte com as mulheres. Em um
baile ele encontrou uma. Muitas situações da vida comum. Fui pegar leite.
17/03/57 – domingo –
Confessei-me com um novo padre, Cap Azambuja que me deu muitos conselhos.
Joguei depois waterpolo com a artilharia. Vencemos por 4x2. Fiz um gol. Um
lindo dia hoje. Fui ver o filme, “Uma estranha em meu destino”. Santa Fé, Novo
México, 1887. A história de um médico. O Núncio Apostólico deverá visitar a
AMAN.
18/03/57 – segunda – Dia
normal. Não estudei tanto quanto devia. À noite fui à reunião da Congregação
Mariana. O Pe. Arquimedes também estava lá com um professor de Direito já
idoso.
19/03/57 – terça – Dia de São
José – Tive equitação. Graças a Deus não me acidentei. O Villar caiu algumas
vezes. Depois Resistência dos Materiais com o Maj Carlos. Estou preparando as
folhas de pagamento dos colegas. Fui ao cinema. Vi um filme com Jeff Chandler.
A vida de um homem e uma mulher em uma casa de praia. Não apreciei o filme e
fiquei meio pessimista com o tipo de vida levado. Escrevi para a minha irmã
Risoleta.
20/03/57 – quarta – Estou
resfriado e cansado. Estou ocupado com o pagamento de muitos cadetes. Houve
alguns erros. À tarde tive instrução.
21/03/57 – quinta – Instrução
de Engenharia o dia todo. À noite fui ao cinema e vi o filme “Nunca diga adeus” com Cornell
Borchers e Rock Hudson. A história de um médico americano que na guerra gostou
de uma alemã, se casaram e tiveram uma linda menina. Ele era muito ciumento e ela o deixou. Mais
tarde ele a encontrou e a levou de volta para a América. A filha não a aceitou
e ela resolve voltar para a Europa. No final a filha fica gostando dela. Um
grande filme e uma linda estrela.
22/03/57 – sexta – Instrução
o dia todo com Ordem Unida no final. Depois com chuva houve uma rápida revista
de uniformes. Fui dormir.
23/03/57 – sábado – Estou de
Adjunto ao Oficial de Dia à Guarnição que é o Cap José Maria Camargo de
Artilharia. Uma mulher cearense de nome Maria Rosa veio visitar a AMAN. Um americano tirou uma
foto minha na entrada da AMAN. À noite fui por duas vezes inspecionar a cidade
de Resende. Fui dormir às 02:00.
24/03/57 – domingo – Na missa
o Pe. Arquimedes falou sobre a penitêncai. Toquei harmônio com o Dídimo e o seu
irmão que está saindo da AMAN. Não fui ao cinema. Li cartas da Liz. À noite fiz
alguma coisa útil e dormi às 22:00.
25/03/57 – segunda – Feriado
– Fiz alguma coisa útil. À tarde dormi e preparei o pagamento. À noite fiz alguma coisa útil e fui dormir às 22:00.
26/03/57 – terça – Dia
normal. Aulas. Natação. ResMat. Balística. Estudo. História Militar.
27/03/57 – quarta – Outro dia
normal. Perdi muito tempo fazendo contas para o pagamento dos colegas. Tomei
coalhada e fui dormir às 23:00. Pensando na Liz com amor.
28/03/57 – quinta – Dia de
instrução. Transportes. Reconhecimento com o Cap Fettermann. Fui ver um filme
que não me agradou.
29/03/57 – sexta – Dia de
instrução. Minas e armadilhas. Tive rádio com um jovem oficial, Ten Ferraz.
Nestes dias eu tenho acordado às 04:00 para fazer alguma coisa útil como fichas
de pagamento, estudar e fazer exercícios físicos. O meu grupo venceu na
instrução de Minas e Armadilhas. À noite houve dois jogos de vôlei e basquete entre o 2º e o 3º anos da
AMAN. Joguei dois sets de vôlei e todo o basquete. O 3º ano venceu no basquete
por 40x30 e perdeu no vôlei por 2x1. A luz se apagou várias vezes e tudo
terminou às 23:20.
30/03/57 – sábado – Hoje os
cadetes do 1º ano entraram pelo portão monumental. Usamos o 1º uniforme e na entrada muitos cadetes diziam palavras
de provocação. Depois tivemos Ordem unida. O Tem Ivens quis jogar basquete mas
nós não fomos porque havia pouco tempo. À tarde fiz coisas úteis e talvez
desnecessárias. Ã noite fui ao cinema, Jovens de coração com Doris Day e Frank
Sinatra, um homem sem dinheiro.
31/03/57 – domingo – Hoje
comunguei. Joguei basquete e fui ver “Alexandre o Grande”, um filme
interessante.
01/04/57 – segunda – Dia
normal. À tarde fui à conferência Vicentina com a presença do major capelão e
do tencel Moraes e Barros. Grandes idéias.
02/04/57 – terça – Aula de
equitação que nos deixa receosos de algum acidente. À noite fui ver o filme “A
guerra íntima do major Benson”estrelando Julie Adams, muito bonita. É a vida de
um oficial do exército que tem algumas idéias de rigorismo e por causa disso vai ensinar em uma Academia
Militar. Lá existem jovens e muitas freiras e uma médica (Julie Adams). No
final o major muda sua idéias e o filme tem um final feliz. Havia também um
menino que trabalhou muito bem. Depois do filme fui estudar Emprego das
Armas.Alguém escreveu (não sei quem) em um livro: “Pão duro, usurário, não
colabora com o Grêmio!”. Não entendi.
04/04/57 – quinta – Levantei-me
às 04:30, estudei válvulas diodo e tomei o costumeiro banho. Dia de instrução
militar. Ã tarde fomos com o ten Tibério visitar uma olaria. Vi as notícias no
cinema onde apareceram grandes cavalarianos no México. Joguei sinuca com o
Felintho.
05/04/570- sexta – Dia de
instrução. Tivemos aulas de guindaste quickway, válvulas triodo e minas
anti-tanque. No final fizemos exercícios. Houve depois revista de uniformes
pelo Oficial da Companhia. No refeitório cantamos músicas. Alguns foram para
suas casas.
06/04/57 – sábado – Estou de
serviço de Auxiliar do Oficial de Dia à AMAN. Muitas coisas para fazer durante
o dia e à noite um dormir bem diferente. O Oficial era o 1º Ten Teixeira, do
Curso Básico.
07/04/57 – domingo – Fui à
missa e cantei no coro. Tudo muito bonito. O padre Archimedes falou muito bem.
Disse que o catolicismo não combina com orgulho, a inveja e os desejos do
corpo. Fui ao cinema e estudei História.
08/04/57 – segunda – Em
Curitiba, minha futura esposa R. Maria Tramujas completava seus 15 anos de
vida! Fui convocado para jogar na equipe de basquete da Academia. O técnico é o
Ten Gedeão.
09/04/57 – terça – Dia normal
com treinamento de basquete.
10/04/57 – quarta – Dia do
Patrono da Engenharia , Vilagran Cabrita. Acordei às 05:30 e cantamos a Canção
do Pontoneiro. O cadete Frota de Infantaria falou muito bem. Foram dados
presentes aos bons alunos da EPSP. Houve teste de História. O Cel Cardoso me
perguntou se eu estava jogando basquete bem. Respondi afirmativamente. Fiz um
bom teste. Novos treinos de basquete. Ã noite os cadetes de engenharia ouviram
uma palestra no anfiteatro 201.
11/04/57 – quinta –
Exercícios com minas anti-pessoais e anti-carro. Graças a Deus não houve
acidentes. À tarde tivemos Estradas com o tenente Tibério e o tenete Yvens. Fui
o Prumo a vante. Fui ver o filme “O Salário do Pecado”. Não gostei. Muito
comercial. Estudei minas e armadilhas para amanhã.
12/04/57 – sexta – Teste de
minas e armadilhas. Exercício de Estradas. Aula de Transportes e Emprego das
Armas.
13/04/57 – sábado – Concurso
de Ordem Unida. No jogo com a Infantaria perdemos por 49 a 34. Senti-me muito
cansado no segundo tempo. Dormi à tarde. À noite fui ao cinema. Vi “Ódio entre
irmãos”. A estrela era muito bonita e o filme com cenas sombrias. Fui me confessar.
14/04/57 – Domingo de Ramos –
Comunguei. Muitas pessoas na missa. Muitos ramos. Houve uma procissão. A missa
terminou às 10:00. Dormi e fui estudar Balística. Depois treinei arremessos no
basquete. À noite estudei e dormi.
15/04/57 – segunda – Treino
de basquete. Estou aprendendo muitas coisas com o Tenente Jamil Gedeão.
16/04/57 – terça – Dia
normal. Basquete.
17/04/57 – quarta – Teste de
Balística. Emprego conjunto das Armas (Artilharia). Basquete. Exercícios.
18/04/57 – Quinta-Feira Santa
– Teste de Estradas. Fui mal, também em Destruições. Ordem Unida. Música ao
jantar. Uff! Estou muito cansado. A semana foi muito dura e diferente. Este
terceiro ano é muito diferente. Não me sobra tempo.
19/04/57 – Sexta-Feira Santa
– Fui ao ginásio jogar basquete. Lá encontrei o tenente Gedeão que me ensinou a
dar ganchos e arremessos com salto
(jumps). Joguei bastante. À tarde dormi. Ã noite fui com o Waldeck até
Resende. Ouvi o padre Archimedes falar.
20/04/57 – Sábado Santo – Fui
comprar muitas coisas, uma bola de basquete (Cr$450,00) e outras coisas. Joguei
Tênis de mesa com o Villar. À tarde fui ao ginásio jogar basquete com a minha
nova bola. Ã noite limpei o nosso apartamento.
21/04/57 – Domingo de Páscoa
– Fui à missa e comunguei. Esqueci que havia tomado o café da manhã. Estava de
Sargento de Dia. Ouvi rádio, inclusive a Rádio Difusora da Suécia. Fui ao
cinema ver “No tempo da guilhotina”. Não gostei. Acordei às 02:00 para fazer a
ronda.
22/04/57
– segunda- Dia normal. Muitos conselhos sobre Sistema de Alimentação, Ignição e
depanagem na aula de Técnica Auto. Exercícios sobre argamassas com o tenente
Tibério. Reconhecimento de Pontes com o tenente Roehl.. Treino de basquete.
Exercícios. Apartamento. Dormir.
28/04/57 – domingo –
Passou-se uma semana. Foi muito cansativa. Não tive tempo para nada e ainda por
cima uma tosse constante. Novo serviço de Sargento de Dia com ronda externa a
pé. Treinos de basquete. Reconhecimento de pontes para destruição. Guindaste
Quickway e quatro testes. Ontem à noite vi o filme “Mensageiro do Diabo”. Filme ruim e
pessimista. Pela manhã pratiquei waterpolo. Ontem pela manhã a Intendência
venceu e Engenharia por 2x0 no voleibol. Houve um bom jogo de basquete entre a
Artilharia e a Infantaria, na qual esta ganhou. Meu apartamento está com ótima
apresentação e eu sou o chefe. O Chico leu que o Heron Domingues chamou a
atenção para o fato que a Elisabeth Gasper pode ser a showgirl de 1957.
29/04/57
– segunda – Acordei com a mesma tosse. Exercícios. RAD-101 e o Pelotão de
Engenharia. Treino de basquete.
05/05/57 – domingo – Mais uma
semana passou. Ontem dei serviço com o 1º Tenente Albano Fressati. Hoje
confessei-me.
06/05/57 – segunda – Dia
normal usando japona devido ao frio. Instrução. Basquete. Aulas. Enviei uma
carta para a minha mãe.
07/05/57 – terça- Resistência
dos materiais. Basquete. O técnico falou bem a meu respeito. O meu apartamento
foi classificado como “Bom”.
10/05/57 – quinta – Ontem fiz
a prova de resitência de Materiais. Fui bem, graças a Deus. Hoje fiz uma marcha
a pé até a ponte da divisa, sobre o rio Paraíba. Estou como soldado de
suprimento de água. A água saiu com cloro a 5 ppm e com 6.0 de PH, quando
deveria ser 6.8 ppm.
À noite, às 23 horas estava trabalhando
nas bombas, fazendo a limpeza de filtro, quando chegou o cadete Carlos Martins
e disse: “Atenção aí, os plantões. Estou esperando a apresentação, pois eu sou
o ronda. Então eu disse: Então eu sou o cadete 200-Vasconcellos, às suas ordens
e continuei a trabalhar. O Martins ainda ficou por lá um pouco de tempo e
falou: Então agora vou passar pelos outros postos que faltam. E retirou-se. Na
manhã seguinte, o cadete Martins havia desaparecido... Deus lhe dê o eterno
descanso! Mais tarde foi encontrado um capacete de fibra junto à margem do
rio pelo Cap Maranhão que fazia uma
busca. Daí então, até o fim do E.L.D ( Exercício de Longa Duração), foi
procedida a busca por uns e o recolhimento do material por outros. A limpeza
dos tanques de lona é bem difícil. Tudo terminou às 20:00hs. Às 22:00fui rezar
o terço. Rezamos pelo Martins. Fizeram uma relação dos que queriam ir fazer a
busca nas margens do Paraíba. Pensando nos jogos que teria sábado, não dei o meu número. Um jornal do Rio publicou o
seguinte artigo do jornalista Oscar Azevedo: Não foi encontrado ainda o corpo
do cadete Martins. Luto e silêncio sobre a Academia. Durante os exercícios o cadete desaparecido
salvou da morte uma cadelinha. Na Academia o pai do jovem. Mergulhadores da
marinha no Paraíba. Homens rãs em ação. Está faltando um entre os 78 cadetes do
3º ano de Engenharia, da Academia Militar das Agulhas Negras. O cadete 96 –
Martins há seis dias não responde à revista. Mas seus companheiros e superiores
sabem perfeitamente que essa ausência é por motivos superiores à sua vontade. E
quando a tarde cai e chega a hora do toque de revista, todos os outros cadetes
olham para o lugar vago onde deveria estar colocado o Martins, o companheiro
por excelência, o voluntário das operações difíceis, e militar cumpridor de
seus deveres. E por isso, toda a Academia está imersa num silêncio de respeito
e de dor, porque para todos não existe mais dúvida de que o 96 morreu vítima de
um acidente a poucos metros do campo de batalha simulado, quando de serviço,
fiscalizava os postos das sentinelas. Mas os cadetes não se conformam com o
desaparecimento, e, por isso, todos da Arma de engenharia, inclusive os
oficiais, não pregam olhos há cinco dias, revezando-se em constantes buscas por
todos os recantos de vastos descampados e matagais, descendo às regiões
ribeirinhas e mergulhando nas águas lodosas do rio Paraíba, onde teria perecido
Carlos Martins. O capacete foi encontrado, flutuando a trezentos e cinqüenta
metros da ponte de concreto armado por onde passa a Rodovia Presidente Dutra,
distante algumas centenas de metros do último posto de ronda, onde ele deveria
ter passado. Agora, quando todos os recursos humanos existentes na Academia
foram empregados, sem resultado, infelizmente, o Comando geral pediu a colaboração
dos homens-rãs, dos mergulhadores e escafandristas da Marinha, a fim de que
estes, mais habituados com as lides marítimas, possam talvez conseguir melhor
êxito na procura cruciante e desesperadora do jovem desaparecido. Não querem seus companheiros, superiores e pais que
ele fique sepultado nas águas do rio traiçoeiro. À hora da alvorada (seis horas
de sexta-feira), os cadetes de plantão ainda dormiam quando o Oficial de Dia lá
chegou. Sentiu a falta do cadete Martins. Ele não havia acordado os companheiros
que assim dormiram a noite toda. Foi-se ver na sua barraca e o cadete Celso
Silva Lima, que era o seu par, informou que lá não dormira. Onde estava o
cadete? Convencidos de que algo de grave acontecera, trataram de alertar o
general Higo Panasco Alvim, Comandante da Academia, o coronel Arold Ramos de
Castro, Sub-comandante e o Chefe do Gabinete, tenente-coronel Pedro Luiz
Taaulois. O comando rapidamente organizou um plano de ação e mil e quinhentos
homens, entre cadetes, oficiais e soldados pertencentes à Arma de Engenharia,
puseram-se em ação . De Resende até Ribeirão da Divisa, passando pelas cidades
de Barra Mansa, Volta redonda, Barra do Piraí e as zonas ribeirinhas, não houve
lugar que não tivesse sido procurado. O 1º Batalh~~ao de Infantaria Blindado de
Porto Real foi requisitado, bem como o Batalhão de Engenharia de
Pindamonhagaba, com seus escafandristas. Tudo inútil, porém.
OFERECEM-SE AS OUTRAS ARMAS
Já então toda a Acdemia sabia
do desaparecimento. Cadetes e oficiais de outras armas (como Infantaria e
Intendência) se ofereceram para ajudar na procura. Mas os cadetes de
Engenharia, por questão de código moral, agradeceram comovidos os oferecimentos
e preferiram, ao invés de descansar, dobrarem eles mesmos as turmas,
revesando-se continuamente. Eis que passados seis dias, quando todos os
recursos humanos empregados não surtiram efeito, voltam-se como última
esperança para encontrar o corpo, para os escafandristas da Marinha.
Explica-se: os mergulhadores da Marinha possuem material moderno e capaz de
resistir a profundeza, indo até as “secadoras”ou sejam até os primeiros
fundamentos das pontes de concreto armado, onde se presume tenha ficado preso o corpo do cadete Carlos
Martins. Este serviço, provavelmente ainda hoje começará a ser efetuado.
CESSOU A ALEGRIA
Preparando-se para as provas
todos os cadetes estão estudando mais do que nunca. As horas de folga que, em
outras ocasiões, são aproveitadas nos grêmios recreativos, foram por eles
espontaneamente dispensadas. Os grêmios de todas as armas estão fechados.
Também a formatura não está sendo feita com banda de música. Está fechado o
cinema.
O PAI E A IRMÃ CONVENCIDOS DA
MORTE
O senhor Américo Martins e
sua filha Creusa estão alojados na academia. Ele é o pai do cadete. Ela, a
irmã. Desde sábado passado, quando foram informados por um oficial do
desaparecimento do cadete para lá
rumaram a fim de assistir e poder acompanhar de perto os trabalhos que estão
sendo realizados. Um jornal estranhou que somente dois dias depois a família
tivesse sido notificada do desaparecimento. A verdade é que a falta do cadete
só foi notada na sexta-feira e a certeza de que algo de grave acontecera na
noite daquele dia. Não seria justo nem humano que houvesse precipitação numa
notícia de tamanha responsabilidade.
O RELÓGIO DO COMPANHEIRO
- “Maurício, empresta-me o relógio, pois tenho
que fazer a ronda e esqueci de trazer o meu. Como és do segundo quarto e eu sou
do primeiro, ele não te fará falta.” Faltavam alguns minutos para 23 horas.
Maurício o cadete mais chegado a Carlos Martins, tirou o relógio de pulso,
passando-o ao colega. – Atenção aos
plantões! Eu sou o ronda. Quem é o plantão da hora? O cadete Vasconcellos
apresentou-se em seguida ao Martins que exercia as funções de sargento. Eram
então vinte e duas e quarenta e cinco. O cadete Martins ficou conversando por
alguns minutos, procurando sabero que estava sendo feito e, inteirado de que os
companheiros trabalhavam na filtração da água, dirigiu-se até o motor. Lá
estavam os cadetes Olsen, Gonçalves, Magalhães e Vasconcellos. Permaneceu pouco
tempo, despedindo-se. Disse que iria aos outros postos que ainda tinha que
percorrer.
O PROVÁVEL ACIDENTE
Os cadetes acima mencionados
foram os últimos a terem contato com Carlos Martins. De lá, ele teria dois
caminhos a tomar: ou seguir até o posto mais distante, sem precisar atravessar
a Presidente Dutra, ou atravessar a Rodovia, passando por uma ponte de concreto
armado. Preferiu com toda a certeza este caminho. O que aconteceu são apenas
conjeturas, mas baseadas em fatos palpáveis e depois de eliminadas todas as
outras possibilidades, por mais remotas possíveis. O cadete, ao atravessar pela
ponte da Rodovia, enfrentou em cheio os
faróis possantes de carros e veículos que trafegavam em grande velocidade. Deve
ter procurado se esquivar de algum
mais perigoso, quando então, não
encontrando apoio na baixa amurada da ponte no estreito espaço reservado aos
pedestres, viu-se projetado dentro do rio. Alguns sinais, ainda que ínfimos,
foram notados sobre o parapeito, como se alguém tivesse arranhado um cinto, bem
como sinais palmares. Independente disso, existe o encontro do capacete,
algumas horas depois de ser notada a sua falta, flutuando no rio Paraíba, a uns
trezentos e cinqüenta metros do local admitido como o da queda.
MIL E QUINHENTOS HOMENS
Para o senhor Martins, não
pesa nenhuma dúvida sobre o trágico destino do filho. Apenas diz ele: -- “Já
estamos convencidos do acidente. O que nós queremos é que o corpo apareça.
Minha senhora está presa numa cama, chamando a todos os instantes pelo filho. A
última vez que o vimos foi no dia 5 de maio. Ele havia ido para casa dia 3, lá
ficando até o domingo, às 20 horas, quando, alegre e satisfeito, despediu-se de
todos. Não sei o que vou dizer a Carminda. Meu filho estava com o relógio de um
cadete. Darei o dele para o seu amigo.
UMA PASSAGEM EMOCIONANTE
Pela manhã de quinta-feira –
quem nos conta é o cadete Otto – quando nos dirigíamos em marcha para o campo
de treinamento, uma cachorrinha ia na frente, acompanhando a marcha dos cadetes.
De vez em quando se descuidava e ia para o meio da estrada, arriscando a ser
colhida por algum automóvel. Martins (que era um dos comandantes) tinha o
cuidado de ir apanhar o animal e protegê-lo, colocando-o ao lado direito da
estrada.
BOM ALUNO
Carlos Martins, o cadete
desaparecido, nasceu no dia 4 de janeiro
de 1936, no Distrito Federal. Seu pai é o senhor Américo Martins, de
nacionalidade portuguesa e sua mãe a senhora Carminda Monteiro Martins,
residentes em Braz de Pina. Junto aos Comandantes da academia, apuramos que o
jovem era alvo de grande simpatia e estima, sendo um bom aluno e pontual
cumpridor dos seus deveres. Confirmando-se a morte, terá, de acordo coma lei,
direito a promoção, passando a aspirante.
ONDE ENTRA A FATALIDADE
Um detalhe impressionante e
que nos foi relatado pelo senhor Américo Martins, pai do cadete desaparecido:
-- Ele não seria o primeiro quarto, tendo mmesmo sido escalado para outro.
Entretanto pediu que se tirasse a sorte para a escalação. Ganhou o primeiro
quarto, que lhe permitiria dormir quase toda a noite, depois das vinte e três
horas.
NÃO EXISTEM OUTRAS HIPÓTESES
Para o Chefe do gabinete
tenente-coronel Pedro Luis Taulois, e para todos os demais, tanto oficiais como
cadetes, não existe outra hipótese que não a do acidente para explicar o
desaparecimento do jovem. Assalto, casos amorosos, suicídio são todos pontos
superados e só aventados a título de sensacionalismo.
12/05/57 – domingo – Dia das
Mães – À hora da missa o Pe. Arquimedes Bruno falou sobre o desaparecimento do
cadete Carlos Martins. Disse que não deveríamos ficar chocados e tristes, pois
como Jesús mesmo dissera no evangelho de hoje: “Mais um pouco e não me vereis e
ainda mais um pouco e me vereis”, nós acreditamos na ressurreição da carne e na
vida eterna. Que esta revolta interior devida à imortalidade da alma e que a
oração é que a domina. O senhor pai do Carlos Martins, estava num carro
vermelho-creme, ia ao local. Nova turma de cadetes da engenharia saiu para a
busca. Disseram-me que a senhora mãe do Martins estava de cama. Não tem havido
sessão de cinema, o cassino da SAM permanece fechado. Hoje recebi o meu melhor
amigo, espero que fique mais forte espiritualmente, não indo na conversa do meu
maior inimigo. Estou bem ruim de saúde. Tosse, catarro no pulmão e gripe. Ontem
quando jogava basquete o tem Gedeão mandou-me ir embora, pois senão cairia na
quadra. Na verdade, estou precisando de um bom tratamento de saúde. No inverno
fico sempre assim. É com saudade que me lembro de Paquetá, onde tomava o suco
de laranja que a Zilda fazia, todos os
dias e dormia na rede. No momento desejo me aperfeiçoar no basquete. O
Gonçalves chegou bastante cansado da noite que passou em claro. Foi direto para
a cama.
18/05/57 – sábado – Mais uma
semana passou. Continuam as buscas ao corpo do cadete Martins. Estive na margem
na noite de domingo para segunda. Tossi durante a noite. Dei plantão à ponte
(Porto Real). Nada do corpo. De manhã pensei em baixar ao Hospital escolar. No
final acabei não indo. Não fui ao treino de manhã. À noite joguei pouco, pois
ando bem ruim do pulmão. Não houve o teste de História Militar. Fui conversar
na segunda-feira à noite com o sr. pai do Martins e a srta. Irmã dele.
Conversei até as 22:00hs. Na terça-feira fui entrevistado pelo repórter do
jornal Diário da Noite e o Jornal. Dei Cabo de Dia, dando a classificação de
“regular”para o meu apartamento 354. Logo o Fulgêncio Largaespada mandou
encerar e no dia seguinte foi “Muito Bom”, sendo eu o faxineiro. Instrução.
Campos minados com o capitão Maranhão na sexta-feira, teste de História
Militar, vigotas, B4A1 com o tenente Tibério. Prova de Destruições com o tenente
Roehl, tendo eu na véspera estudado muito com o Chico. Este fala muito
em ir almoçar e ficar em casa, no Rio, quando formos para o desfile em
homenagem ao Sr. Craveiro Lopes, presidente de Portugal. Revista de uniforme.
Hoje sábado, arrumei minhas coisas, fui ao cinema com o Brás ver “The
Prodigal“.
19/05/02 – domingo – Às 05:00
fui a Barra do Piraí e de lá subi o rio Paraíba de pontão a motor. Dois
pescadores. Não encontramos o corpo do Martins. Saímos do rio Paraíba em Várzea
Alegre. O major Carlos Bernardes pagou café, tangerina, pão, etc.
20/05/02 – segunda – Estudo.
21/05/02 – terça – Treino de
basquete à noite na quadra de fora com iluminação. Estou melhor de saúde.
Escrevi uma carta para casa.
22/05/02 – quarta – Prova de
História Militar. Aula de Emprego Conjunto das Armas na defensiva. Treino de
basquete. Cheguei atrasado ao rancho. Treino de voleibol até as 22hs.
23/05/57 – quinta – Curva de
Transição com o capitão Yvens. Fui na turma de salvamento do tenente Tibério .
Motor Johnson. Cinema “Riot on the cell 11”.
24/05/57 – sexta – Dia da
Batalha do Tuiuti. Instrução de Comunicações e Equipamento Mecânico. À tarde
tive outra vez “Curva de Transição”com o capitão Yvens, no campo de parada.
Conversei com o Alcione dizendo-me ele que o estudo e a religião nunca o
decepcionaram e que ele não pode deixar de estudar. Disse-me também que o
companheiro de estudo dele , o Alconforado está tratando dos nervos e está
melhorando bem. Passaram o filme “Último
encontro”, italiano, do qual não gostei.
25/05/57 – sábado – Festa da
Infantaria. Houve o segundo concurso de Ordem Unida, sendo eu o Porta Símbolo. Na
hora de passar em frente, o capacete de fibra ficou em má posição. Joguei
voleibol contra a Cavalaria. Ganhamos bem o primeiro set e perdemos os dois outros. Comentaram que eu joguei bem.
O Villar ficou nervoso. A Intend6encia ganhou da Artilharia de 43 a 34. Jogo
monótono. O filhinho do capitão Bettero pulando na cama elástica. Joguei
basquete com o Joélcio, Heredia, Pedrinho e Theberge. Houve filme oferecido
pela Infantaria, que hoje nos acordou com os seus canhões a atirarem.
26/05/57 – quinto domingo
depois da Páscoa. Belo sermão fez o Pe. Arquimedes, falando sobre a vida como
uma morte contínua. Comunguei após a missa. Ia haver treino de water-polo, mas
não houve. Visitas. Freira Ursulina. Treinei basquete sozinho no ginásio. Havia
duas duplas de oficiais jogando vôlei. Ia chegando atrasado ao rancho mas o
Ligneul me justificou. Fui ver Helena de Tróia onde a beleza de Rossana
Podestá me impressionou e o ator Jaques
Sernas trabalhou como Páris, filho de Príamo.
Balística. Basquete. Conversei após o rancho com o Joélcio que me disse
ter recebido uma carta da namorada Cristina.que estava em Recife , praia da Boa
Viagem. O Fluminense sagrou-se campeão do torneio Rio-São Paulo ao empatar hoje
com o Santos. Saiu invicto. O Darzan e o Roeder enceraram o apartamento.
27/05/57 – segunda –
Instrução. Basquete. Bom treino de basquete à tarde. Estou precisando ser mais
vivo nos passes. Ao dar a ginástica básica me atrapalhei todo.
28/05/57 – terça – Equitação.
Na verdade sinto um friozinho por dentro quando antes da instrução penso numa
descida de um barranco. A instrução de hoje foi fácil, dentro do picadeiro, com
o capitão Azambuja. Três horas de Resistência dos Materiais. No final do teste
troquei uma característica sem pensar. Foi-nos apresentado o professor, capitão
Weber. Treino de basquete. Teste de Balística, tendo me saído mal, pois tinha
ido ao cinema e estudado pouco a matéria muito acumulada. Treino de basquete.
Estudo de Balística.
29/05/57 – quarta – Prova de
Balística. Fui mais ou menos, graças a Deus. Não houve Emprego Conjunto das
Armas. Instrução. Voleibol AMAN 2 x L.D.V.R. 1.
30/05/57 – quinta – Instrução
de ponte B4A1 no rio Paraíba, com o tenente Tibério. Campos minados com o
capitão Maranhão. Conversa com o Joélcio. À noite também houve instrução.
31/05/57 – sexta – Operação
Craveiro Lopes. Treino de basquete. Teste Psicotécnico com o professor Janson.
Treino à noite. Conversa e críticas. Último terço rezado em conjunto.
01/06/57 – sábado – Treino de
basquete. Tenho que pagar uma coronha de fuzil. Não fui ao cinema.
02/06/57 – domingo –
Confessei-me e comunguei. Treino de basquete. Estudei Equipamento Mecânico.
03/06/57 – segunda –
Completei 21 anos de vida, graças a Deus! Prova de Equipamento Mecânico às 13
hs. Treinamento. Exame dentário. À noite houve uma conferência do prof.
Mello e Souza (Malba Tahan), à qual não
compareci por estar muito cansado. Fui dormir cedo.
04/06/57 – terça – Fiz um
teste psicotécnico onde me mandaram desenhar uma árvore, um homem e uma mulher,
enunciando uma frase. Treino de basquete. Hoje espero ir bem até o Rio de
Janeiro. À tarde cortei o cabelo e fui para o Rio no Expresso Agulhas Negras,
tendo recebido dois telegramas de casa (Risoleta e Maria José, Edison e
Patrícia). Cheguei às 23 horas em casa, estando tudo escuro. Afinal a mamãe
acordou.
05/06/57 – quarta – O Luiz
foi ao Arsenal apanhar uma coronha de mosquetão que o Oscar conseguiu para mim,
graças a Deus, para repor a que eu quebrei sem querer na AMAN. Recebi vários
telefonemas de garotas que não se identificavam e me diziam que eu havia saído
na revista do Instituto de Educação. Eu estava interessado era na Liz. O
tenente Gedeão telefonou-me dizendo que haveria um treino às 20:00. Começamos
jogaqndo com guris. Terminamos com um time mais ou menos. Fui dormir às 23:20.
06/06/57 – quinta – ãs 11:00
fui a Niterói com a mamãe, Risoleta, Oscarzinho, Maria José, Patrícia e Vera.
Comprei um copinho para o Renatinho. Fomos de táxi. No começo muita alegria mas
no final muito choro, pois todos queriam vir para o Rio. O apartamento da Maria
Helena está muito bem decorado. Ela está esperando um bebê para agosto, se Deus
quiser. Na volta muita gente. Ao esperar o lotação veio ao meu encontro a Cléa,
junto com a Sueli (de Paquetá). Olá, como vai, está passeando? – disse-me. -
Estive em Niterói, respondi-lhe. - Não vai a Paquetá? – Por enquanto é-me
impossível. – Então, até logo. – Até logo. Ela estava com um vestido muito
justo e decotado e de sapato de salto bem alto. Continua com umas manchas
brancas nas costas. Eu estava com o Oscarzinho no colo. Notei também que estava
com os cabelos pintados e se dirigia
para a fila da lancha que vai para Paquetá. Comprei o jornal “A Noite” que
tinha notícias do Heron Domingues sobre a Liz.
07/06/57 – sexta – Primeira
do mês. Fui à missa e comunguei. Não pude falar com o Padre Augusto. À noite o
Luiz levou-me de carro até o Clube Sírio e Libanês. O time que nos enfrentou
hoje foi mais forte que o anterior. Entrei somente quando a marcação foi mudada
para 3:2. Infelizmente a equipe ainda não se acertou nesta marcação. Com o
Alexandre na marcação 4:1, a AMAN ganhou de 20x17. O Luiz trouxe-me de volta
para casa. Hoje chegou ao Brasil o Presidente de Portugal, General Francisco
Higino Craveiro Lopes. Recebi a visita da irmã do cadete Carlos Martins, na
casa da Maria José.
08/06/57 – sábado – O
Ronaldo, o Rogério e a Eliane estão no Rio. Fui à cidade com o Edison, Luiz e
família. O filho do Luiz, Décio Luiz está bem forte e saudável. Comprei um
agasalho e o Edison um presente para um camarada. Aliás o Edison está dando um
duro nestes dias da chegada do Gen Craveiro Lopes, no C.T. Mariz e barros. Ele
é o intendente do navio. À tarde o Edison mostrou-me algumas fotografias suas.
Hoje de manhã na cidade eu vi um Subtenete da AMAN, o Cap Notari da EPSP e o
Cap Arruda da Engenharia. Chegou o
Alípio de Menezes, marido da Gemima. Tem dois filhos. Veio ver a cama que
projetou para o Josué. Conversamos muito. Contou-me um negócio mal feito pelo
tio Françu. Contou-me também que tem dois automóveis e três HI-FI. Admirei o
espírito de trabalho que ele possui. Telefonei para a boate Night and Day e
deixei um recado para a Liz me telefonar. Fui dormir, após cobrir o Ronaldo que
tossia.
09/06/57 – domingo – Fui à
missa das 06:00 e depois em casa esperei o telefonema da Liz que não ligou. À
noite o Ivan e o Horácio foram lá em casa. Recordamos as férias de Paquetá.
Disseram-me que brincaram bastante no Carnaval e que as garotas todas lá
estiveram.
10/06/57 – segunda – À tarde
fui assistir ao desfile em homenagem ao Gen Craveiro Lopes. Os colegas estavam
com a aparência de exaustos. Em casa estavam o Pe. José Maria e a Raymunda. Ãs
17:30 fui até Honório Gurgel. Na volta fui jogar basquete no Grajaú Tênis Clube
onde a AMAN perdeu por 66x57, no final, após prorrogação e troca de marcação.
Eles jogaram uniformizados e nós à vontade.
11/06/57 – quinta – A mãe foi
fazer retiro. Não fui me despedir do Pe. Augusto. Almocei na casa do Luiz, que
me propôs ajuntar dinheiro na Cibrasil. Boa idéia. Ã tarde recebi um telefonema
qe me pareceu ser da Edy, de Paquetá. Como sempre não se identificou e parecia
que alguém datilografava o que eu dizia. O Edison chegou e conversamos.
Disse-me que está com a idéia de ser médico. Mexi em muitas coisas. Jantei na
casa do Luiz. O Edison me disse que eu mudaria o meu tipo de vida, como
aconteceu com um seu colega da Marinha, Amaral ( Brequelé). Ouvi um pouco do
jogo Brasil x Portugal que foi assistido pelo Gen Craveiro Lopes. Poderia ter
ido com o Horácio mas preferi dormir cedo. O Didi fez um gol tipo “folha seca”.
12/06/57 – quarta – Fui à
missa, confessei-me e comunguei. Fui à cidade com o Luiz e a Maria José. Entrei
na Cibrasil.Pagarei Cr4300,00 mensais. Almocei com a Maria José. Torei. A Maria
José ligou para o Affonso, fingindo ser a Gisé (de Paquetá) .O Affonso caiu na
conversa. Ele parece que arranjou um emprego. O Oscar está servindo no Gabinete
do Ministro da Guerra. À tarde tomei um táxi e fui conversando com o motorista
sobre a AMAN (Cr$62,00). Fiquei conversando na estaç~~ao Rodoviária Mariano
Procópio com o irmão do Waldeck. Saímos bem atrasados e fizemos boa viagem,
graças a Deus. O apartamento 354 estava muito bem arrumado, obra dos cadetes
Villar e Horst.
13/06/57 – quinta –
Instrução.
14/06/57 – sexta – Instrução.
À noite o Prof. Mello e Souza ( Malba Tahan) fez uma pequena conferência.
15/06/57 – sábado –
Instrução. Jogamos basquete contra a Intendência. Tinha pensado somente na
vitória mas veio a derrota no último minuto por 51x50. À tarde jogamos futebol
com a Cavalaria e perdemos por 2x1.Torci o tornozelo duas vezes no jogo de
basquete. À noite o Pe. Caetano de Vasconcellos fez uma conferência. Abordou
quatro pedidos: 1) calma (mais humanos); 2) Buscar Deus ( um Deus exigente); 3)
Confissão (em degraus como uma escada); 4) Comunhão. Elogiou a limpeza. “O
estilo é o homem, também a limpeza é o homem. Onde há limpeza há trabalho, onde
há trabalho há esperança.” Citou exemplos: “Filho, o que queres nos teus 14
anos? Um apartamento, uma mulher ou um automóvel, pergunta o pai. Quero os três
respondeu o filho” . Esse filho mais tarde ficou amigo do Pe. Caetano, fez um
retiro, confessou-se, mudou de vida e tornou-se um líder em uma Escola de
Piracicaba. Um outro exemplo foi do Pe. Foucault. Foi morto no deserto do Saara
pelos muçulmanos. Ele havia sido expulso quando jovem de uma caserna de Paris,
por imoralidade.
16/06/57 – domingo – Dom
Jaime de Barros Câmara, ajudado pelo Cônego Ivo, foi quem celebrou a missa. Eu
cantei no coro. À tarde o Gonçalves conversou comigo e falou-me das
dificuldades que estava tendo para terminar um namoro com uma mulher de 27
anos, chamada Antonieta. Ele foi ao cinema ver “Sapatinho de Cristal porque a
artista se parecia com ela. O Roeder escreveu no meu caderno que faria
exercícios e estaria daqui a 3 meses em melhores condições físicas. Estudamos
bem no apartamento. Como não tinha gelo para colocar no tornozelo, fiquei com o
pé dentro do capacete com água gelada.
17/06/57 – segunda –
Instrução de manhã. À tarde aulas. À noite houve um show da Academia do Mário
Mascarenhas. Começou muito bem. As moças apareceram cada uma com um vestido de
baile e com um acordeon. Achei a esposa do Mario Mascarenhas muito bonita,
lembrando-me a Liz. Depois vieram algumas cantoras bem ruins de voz. Apareceu um
garotinho(Joil) que sapateou, sendo seguido pelo pai (Joel), bom na arte.
Apareceru a Conchita vestida de boneca e já o ambiente ficou um tanto carregado
e foi piorando até que resolvi ir embora, pois ela ao cantar fazia gestos que
eu considerei indecentes. Fui estudar Balística.
18/06/57 – terça – Sou o Cabo
de Dia e levei 1 hora fazendo a revista dos apartamentos. Muitas
irregularidades. Tive instrução de patrol e de Metodologia. Fui ao treino de
basquete, tendo aplicado infravermelho no tornozelo que ainda está inchado. À
hora do almoço o Calomino relembrou a conquista que eu fizera da Liz, tendo eu
lhe dito que agora ela estava no show do Carlos Machado. Fiquei todo prosa. Fui
fazer o teste de Balística. Graças a Deus saí-me bem. À tarde os oficiais de Engenharia
treinaram basquete. À noite estudei Balística.
19/06/57 – quarta – Acordei
às 04:30. Estudei Balística.Conversei com o Tenente Roehl sobre o meu
tornozelo. Desfile. A Banda apareceu com um instrumento novo de percussão.
Tirei 5,3 na prova de Balística. Errei uma substituição do valor de y e não fiz
a 2ª questão. Não houve Emprego Conjunto das Armas. Fui ao treino e o Dr Tong
recomendou que eu colocasse gelo no tornozelo. Instrução. Treino à noite.
Queriam que eu treinasse pólo aquático.
À noite houve jogo de vôlei entre a Eng e a Inf. Perdemos por 15x2 e 19x17.
20/06/57 – quinta- Corpus
Christi. Esqueci-me de ir à missa. Durante todo o dia tivemos instrução. À
noite fui ao cinema ver um filme sobre
um grande compositor de óperas. Gostei muito das músicas.
21/06/57 – sexta – Durante
todo o dia tivemos instrução de ponte B4A1 com o Ten Tibério. No final estava
bem cansado e à noite tive dor de cabeça e narinas entupidas igual ao Roeder.
Fui convidado a ir ao baile do Tijuca no dia 30. Lá apresentarei os 29 colegas
ao Maj Ênio de Cav. O Horst está preparando as malas. O Chico preocupado com a
punição do Villar, e o Gonçalves também. Afinal o Villar foi liberado. Dormi. À
01:00 o Horst e o Darzan me acordaram. Estavam indo embora. Ficamos o Gonçalves
e eu.
22/06/57 – sábado – Dia
bonito. Fui ao armazém reembolsável (AR) onde comprei uma caneta Parker 61 por
Cr$1350,00, um pijama e objeto de perfumaria. Não fui ao almoço por estar
desarranchado. À tarde tomei o trem de aço. Graças a Deus havia lugar. Chegando
em casa encontrei a mamãe que já ia para a Igreja. O Edison convidou-me para ir
até a casa dos pais dele. Depois de certa recusa, aceitei, lembrando-me que sou
responsável também pela alegria dos outros. Em lá chegando cumprimentei a tia
Caribe (?), a Cristina e a Da. Celina. Depois apareceu o pai do Edson que
conversou sobre política. Mais tarde chegaram o tio Benjamin esposa com dois
filhos Alcino e Bento e duas lindas netinhas. A conversa girou em torno do fato
do bento ir estudar nos EUA, na Universidade de Troy (Engenharia Mecânica).
Quando falaram de estradas, entrei na conversa. O Alcino e o Bento foram
vizinhos do Maurício Teixeira em Belo Horizonte.
23/06/57 – domingo – Fui à missa
das 09:00 que é a das crianças. Depois fui com o Oscar, Risoleta e Oscarzinho à
casa da Nair. O Dr. Piedras via o jardim. O Rubens, Horácio, Ivan e Álvaro
jogavam vôlei. Mostrei-lhes a minha bola de basquete. A Nairzinha estava
gripada. Fui com o Oscar e família até o Jardim Zoológico onde vi jacarés,
girafas, elefantes, zebras, hipopótamos, dromedários, camelos, sucuris, etc.
Voltamos e eu almocei na casa do Oscar. O Affonso está no CPOR, as sobrinhas
estudam para as provas parciais. O almoço feito pela Zilda estava muito bom. O
Oscar foi dormir. Fiquei ouvindo discos. Matei as saudades do piano. Brinquei
com o Oscarzinho que me ajudou a limpar e varrer o chão. À noite passei pelo
apartamento da tia Arthemira que mostrou-me rádios para consertar. O Dr Edgard
já ia sair. Em casa a mãe já se preparava para ir à Igreja. Fui dormir cedo na
cama da mamãe de colchão de mola.
24/06/57 – segunda – Fui à
casa da tia Arthemira ver os rádios dela. O Affonso foi comigo. Limpamos alguns
objetos, comemos bananas assadas e ouvimos discos, bons discos. Almocei com a
Maria José. Quem fez a comida foi a cozinheira Dina, que parece ser muito
simpática. À tarde fui com o Pe. José Maria e o Luiz de carro até a cidade. Fui
à alfaiataria Passarello onde verifiquei os uniformes. Comprei a passagem de
volta na Praça Mauá. Vi que o trânsito e a poeira no Rio são de amargar. Fui
com o José Maria, Raymunda e Luiz até Honório Gurgel. Não consegui fazer uma
ligação para o alto-falante. Continuo com o tornozelo inchado.
25/06/57 – quinta – Fui à
missa mas não comunguei. Pratiquei arremessos sozinho e depois com o Bira. O
José Maria chegou lá pelas 15:00. Almocei. Dormi. Tomei vinho. Falei ao
microfone. Contei dinheiro. Assisti a um filme. Li o jornal ”O Globo“. Notícias
sobre a Coréia do Sul e a seção Mesa de Pista do Antonio Maria sobre o desfile
de misses no Quitandinha. Basquete Vasco
62xFlamengo 68. Fui dormir.
26/06/57 – quarta – Fui à
missa mas não comunguei. Gostei de ver o Pe. José Maria cantar o “Libera me
Domine”. Ele está bem no canto gregoriano. (Obs. Em 29/08/2002, em Aparecida,
no seu jubileu de ouro de ordenação, ele também cantou em latim). Depois
pratiquei um bocado de arremessos e treino individual de basquete. Ouvi aulas
na rádio Ministério da Educação. Fui dormir. Lá pelas 14:00 chegou o Luiz. O
carro estava com o motor de partida ruim À noite fui à igreja, onde
confessei-me.
27/06/57 – quinta – Fui à
missa e comunguei. De manhã pratiquei basquete. À tarde tentei consertar o
rádio do Josué mas não consegui. Nestes dias estamos todos aqui em casa
preocupados com o Rogerinho filho do Josué e da Maria Helena. Parece que o meu
sobrinho tem leucemia. A Maria Helena que já está esperando outro filho para
agosto, hoje chorou e a Maria José também. Levaram o Rogerinho para fazer todos
os exames e receber transfusão de sangue. Dizem que se ele resistir neste 15
dias poderá viver ainda por muito tempo, até aparecer talvez um remédio mais
eficaz. À tarde o Affonso foi bater papo comigo. Depois conversei com a tia
Arthemira que me contou fatos e falou sobre as pessoas da nossa família que nos
precederam. Fui jantar na casa do Oscar. A Margarida e a Vera estavam estudando
em voz alta. A Violeta lia revista. O Oscarzinho brincava lá em cima.
Cumprimentei a Zilda e fui tocar piano. O ten-cel Oscar chegou fardado. Vai
viajar amanhã com o Presidente Juscelino para São Paulo, para a inauguração de
novo quartel. Estava vibrando. Irá no Viscount presidencial. Conversei com o
Affonso sobre a Engenharia.
28/06/57 – sexta – Festa do
Sagrado Coração de Jesus. A missa foi celebrada por Dom Helder Câmara. Muita
gente. Cantos. Quando cantaram o hono das damas “Honra e glória aos Sagrados
Corações, cuja vida queremos imitar, pra defender a sagrada bandeira, todas
unidas queremos lutar...”, lembrei-me dos meus tempos de garoto quando ia à
igreja com a mamãe. Fui à cidade com o Luiz e depois até à drogaria V. Silva
apanhar um recibo para a Maria Helena. Lá um funcionário me disse que a
novidade agora é o Apiserum, geléia real que rejuvenesce. Também pudera, o
preço de Cr$1.500,00 diz tudo. Ouvi
discos na casa da Maria José e arrumei os livros do Edison. A Risoleta esteve
em casa e eu fui com ela jantar. O Oscarzinho foi no colo até lá. Acabamos de
jantar e chegou o tencel Oscar de sua viagem a São Paulo onde foi inaugurar um
quartel e ao lançamento da pedra fundamental do Arsenal de Guerra de São Paulo.
O Viscount fez a viagem em 50 minutos. O Dr Moisés telefonou dizendo que o
único especialista que pode curar o Rogério (Bibi) é o Dr Maia de Mendonça.
Voltei para casa. O Josué me disse que o caso do Rogério é dos mais graves e
que pelo último livro que trata de leucemia, 100% destes casos terminam em
morte.
29/06/57 – sábado- Dia de São
Pedro- Dormi na casa do Luiz. A mamãe queria que o Dr Edgard desse uma opinião
sobre o Bibi. Fui ao Bando de sangue onde doei
350 gramas de sangue, para diminuir as despesas do Josué com o
Rogerinho. Tive que ficar em jejum até as 11:00. À tarde o Affonso passou uns
filmes da família. Depois também passei para a tia Rosa e tia Maricas. Fui à
missa das 18:00. Falei com o Calomino. À noite dei uma volta no carro do Luiz,
parando numa ladeira. Felizmente deu tudo certo. O Affonso e o Ivan também
andaram. O Luiz e o Edison conversavam no portão. Depois na varanda o Affonso
passou filmes sobre a Gigóia. Foi muito bom. Estávamos assistindo: mamãe, Maria
José, Edison, Josué, Luiz, Affonso e eu. Fui dormir na casa da Maria José. À
noite muito barulho no Tijuca Tênis Clube e serenata dos gatos no telhado. A
Anna dormiu com o Rogerinho.
30/06/57 – domingo – Fui à
missa das 08:00. Comunguei. O 2º Ten Felippe chegou hoje. Está de bigode. O
Rogerinho ainda está muito doente. As mulheres da família têm vindo visitar a
Maria Helena . ãs vezes chegam a chorar. O Orlando veio de carro. É um Plymouth
e está com estofamento novo. (Cr$10.000,00). O Affonso e o Felippe têm andado
de carro. Dei outra volta com o Affonso e o Frankinho. À tarde fui ao Tijuca.
Vi que nos tinham dado hora errada. Fiquei no apartamento da tia arthemira.
Assisti ao jogo Tijuca 34x Escola Naval 30. Dancei com a Dayse, procurando
depois me esquivar dela, não tendo dançado mais. Fiquei conversando com o
Bethlem, João e Rubens. Fui dormir à 01:20 tendo entrado pela janela.
01/07/57 – segunda – Acordei
às 08:30. Estou com furúnculo na perna e com o tornozelo inchado. Fiquei
observando o Bibi que ganhou um relógio (900,00) da Maria José. O Pe. José
Maria veio visitá-lo. Ele está em dificuldades com a mudança de paróquia. À tarde fui com o Luiz até a cidade. Ele está
indo às aulas das Listas Telefônicas Brasileiras. Voltei para a AMAN tomando o
ônibus do Expresso Agulhas Negras das 18:30. Boa viagem, graças a Deus!
02/07/57 – terça – Acordei
com vontade de baixar ao hospital. Ainda bem que quem teve equitação foi a
turma E-1. Instrução e aulas de ResMat. Não treinei basquete. Falei com o Dr
Tong sobre o tornozelo e os furúnculos. Aulas. Saí-me mal em Balística (5,3).
Na aula de História Militar falaram os capitães Camargo e Portugal sobre Caxias e a Batalha de Humaitá. Fui ao treino.
Apliquei infra-vermelho. Treinei individualmente. O Alexandre rompeu os
ligamentos do tornozelo no Rio. O Maj Ênio falou-nos sobre o jogo do Tijuca com
a escola Naval.
03/07/57 – quarta – MORREU O
ROGERINHO ÀS 04:30. Deus lhe dê o céu. Instrução. O ten Palazo me disse que era o comandante do 2º
pelotão. À noite houve o jogo AMAN x Seleção juvenil do Estado do Rio em que a
AMAN perdeu por 3 pontos. Não assisti porque estava ouvindo a situação do
Exercício de Longa Duração (ELD).
04/07/57 – quinta – Acordamos
às 04:30. Fomos para o ELD em Bulhões. Reconhecimento. Cercas de arame,
concertinas. Ferreira. Moriconi.
05/07/57 – sexta – Fossos
anti-carro.
06/07/57 – sábado –
Recolhimento de minas. Mal cheguei ao Parque fui ao Conjunto Principal, tomei
banho e entrei no ônibus da AMAN que fez um péssimo deslocamento. Saímos às
13:30 e chegamos às 18:30. Fui em casa. O Luiz levou-me à Central. O ônibus
atrasou. Afinal fomos ao Jacarepaguá Tênis Clube. Ganhamos bem no vôlei por
2x0. No basquete entrei com o tornozelo inchado e a garganta querendo inflamar.
Joguei mal, perdendo o controle da bola várias vezes e arremessos à cesta.
Perdemos por 59x34. Houve um baile depois, tendo dançado umas três vezes.
Terminou às 03:30.
07/07/57 – domingo – Acordei
tarde. Missa das 11:00. Conversei com a mamãe e a Maria helena. O felippe está
em casa. Amanhã vai para Paquetá com a Risoleta. O Oscar levou uma trombada no
enterro da quarta-feira passada. O Edison fez um barco. Ãs 18:00 saímos em um
ônibus que não estava bom. Voltamos para a Central. O Joélcio emprestou-me
Cr$50,00. Boa viagem de trem, graças a Deus.
08/07/57 – segunda –
Instrução. Treinei basquete. O Cel Pondé se despediu, ficando no lugar o Maj
Aluízio. À noite não houve treino.
09/07/57 – terça – Instrução.
Treino de basquete.
10/07/57 – quarta – Prova de
ResMat. Instrução. Fomos a Volta Redonda de ônibus. Ida e volta muito bem.
Ganhamos o vôlei por 2x1 e o basquete por 49x46 (com a seleção juvenil do
Estado do Rio). Na volta um lanche.
11/07/57 – quinta –
Instrução. Fui ao filme “Os Rapinantes”.
12/07/57 – sexta – Instrução
no rio Paraíba com o ten Tibério. O Horst cortou-me o cabelo.
13/07/57 – sábado – Estou de
faxineiro. 3º concurso de desfile a pé. A 1ª Cia do Curso Básico venceu,
seguida de duas companhias de Infantaria. Às 12:30 fomos para o ginásio de onde
partimos em uma viatura Studebaker da engenharia, tendo como motorista o cabo
Ataíde. Fomos bem de viagem até Pindamonhangaba. Descansamos e fomos ver a
quadra onde jogaríamos. À noite jogamos contra Pinda e ganhamos por 12 pontos .
14/07/57 – domingo – Fui à
missa. No Evangelho dizia: “Se tens alguma coisa contra teu irmão, vai e
reconcilia-te com ele, antes de vires me oferecer um sacrifício”. Falou-se sobre um ex-padre que matou um
bispo, considerando-o um novo Judas. Fiquei na praça. Só gostei de uma moça.
Discos no clube. À tarde jogamos com Taubaté, ganhando de 48x38. Fomos os
campeões, graças a Deus. Discos no clube. Joélcio, Dario e Serpa. O Sebastião
com a filha do comandante. Voltamos às 21:15. Boa viagem. Chegamos à
meia-noite. Vi que estava de serviço.
15/07/57 – segunda – Rendi a
parada. O oficial de dia à AMAN é o tem Roehl. O oficial de dia à Guarnição é o
Cap Solero, de Inf , que só apareceu às 20:00. Serviço normal. Estudei História.
Rondas. Soldado Alencar. Dormir. Graças a Deus tudo normal.
16/07/57 – terça – Livro de
partes. Novo subchefe de turma. Canção “O Brazão”do Curso Básico. Aulas de
resMat, tendo me saído mal pois faltei à aula de ontem. Aulas. Gagá de História
militar. Treinos de basquete. Cortei cabelo. À noite vendo o Darzan torando e o
Gonçalves estudando, fui descansar. Dormi até direto até as 04:00 da manhã!
Devia estar bem cansado.
17/07/57 – quarta –
Infelizmente deixei muitas lições para estudar no último dia. Antes da prova
ainda li as conclusões das lições 27, 28, 29 e 30. À noite houve jogo de vôlei
entre a Eng e a Art. A Eng perdeu. Bom
jogo foi o de basquete entre a Inf e a Cav. Mesmo sem o Alexandre e o Calomino
com a mão direita ruim, a Cavalaria ganhou pois o Calomino jogou muito.
18/07/57 – quinta –
Instrução.
19/07/57 – sexta – Prova de
Estradas. Não acordei para estudar e fiquei pouco preparado para a prova.
Visita à estação de Agulhas Negras. Vimos diversos tipos de trilhos,
acessórios, o bloqueio do páteo da estação e a ponte rolante. À tarde instrução
de rádio com o ten Ferraz e sgt Monterisse e Paiva sobre o demonstrador
dinâmico; rad 302 e oscilador. Ordem Unida. Faltou-me tempo para preparar-me
para a revista de uniforme. Apresentei-me sem brazões e os oficiais não viram.
Corri muito mas deu tudo certo, graças a Deus.
20/07/57 – sábado – Quase que
perco o ônibus para o Rio, mas felizmente deu tudo certo. Chegando em casa
encontrei bem a Maria Helena. A mamãe está em Minas Gerais, em Congonhas. Dormi
na casa do Luiz.
21/07/57 – domingo – Fui à
missa das 10:00. Jogo Fluminense x Vasco. 5x2 para o Flu. Fui jogar no
Fluminense contra a F.A.E.. Perdemos o jogo. Joguei mal, errando passes e
lances livres.
22/07/57 – segunda – Fui à missa.
Confessei-me com o Pe. Boaventura que me aconselhou a nunca ficar ocioso,
praticar esportes e ler bons livros. Aconselhou-me a esquecer a Liz, dizendo-me
que se os pais dela são separados ela facilmente seria tentada ao mesmo. Que
ela está acostumada a ser cortejada por muitos homens. Aceitei as observações
dele e resolvi seguir os conselhos dele, portanto de agora em diante farei tudo
para esquecer a Liz. Estudei Balística. Regressei à AMAN. Boa viagem. Estão
consertando uma ponte sobre o rio Paraíba.
23/07/57 – terça – Aulas.
Comentários sobre a derrota no Rio. Errei passes.
24/07/57 – quarta – Prova de
ResMat. Treino de basquete.
25/07/57 – quinta - Instruções.
26/07/57 – sexta –
Instruções. Jogamos basquete com a Seleção Paulista de Juvenis. Ganhamos de
64x37. Comentaram que joguei bem.
27/07/57 – sábado –
Instrução. Prova de Comunicações. O major Asdrúbal Esteves falou-nos que
estávamos possuídos de grande apatia. Que devíamos gritar “Ao braço firme!”” e
seguir para a frente. Mas logo em seguida veio o cap Milazzo e estragou tudo o
que o major havia conseguido. Tudo foi por terra com as palavras ásperas e
estridentes do capitão. Dormi à tarde. Houve competição de atletismo com o
Fluminense. Jogamos basquete com a seleção juvenil do Ceará. Ri-me interiormente
do tamanho dos garotos, mas... perdemos de 67x42. Havia um menor que deu-me uma
grande finta e fez a cesta. Errei um lance livre. Fiz cinco faltas e tive que
sair. Meu grande erro foi fazer cinco faltas sem necessidade. Dormi cedo.
28/07/57 – domingo – Ontem
foi um dia agitado, tendo havido várias competições (pólo, atletismo e
basquete). No atletismo vi o campeão sul-americano Jorge Machado correndo muito
bem nos 4x400. Hoje fui à missa e comunguei. Fui treinar basquete no ginásio
com o Henrique. No final torci de novo o tornozelo. Preciso me cuidar mais. À
tarde passou um grande filme “Rififi chez les hommes”. Não assisti, pois dormi
bem. Os colegas disseram que foi um filme muito bem feito. Escrevi para o Piero
Ludovico Gobbato e para a mamãe. Escrevi também para a National School,
Escuelas Latino-Americanas e Rádio Técnico Monitor. O Jacques me falou sobre um
passeio a Itatiaia com uma delegação de engenheiros de Minas. Não aceitei o
convite. À noite fui dormir cedo após arrumar um pouco as minhas coisas.
29/07/57 – segunda –
Instrução. Estradas: medições das escavações. Cuidado com as empreitadas!
Metodologia em que o cap Arruda falou-nos sobre o plano de sessão. Finalmente
em comunicações o ten Ferraz falou-nos sobre os circuitos osciladores em um
transmissor. À tarde tivemos aula de História Militar em que o professor
falou-nos rapidamente das causas e movimentos da Primeira Grande Guerra. Depois
no tempo vago em coloquei as cartas no correio e estudei balística para o
teste. À aula de balística fiz um teste mais ou menos e recebi a grau da prova
que foi 9,8, graças a deus. À tarde ainda, treinei basquete com o ten Gedeão.
Cortei o cabelo. Li um bom opúsculo “Primavera do Amor”.
30/07/57 – terça – Aulas de
ResMat. Outras aulas. Treinos de basquete. Filme de que não gostei. Torei.
Estudei Emprego da Arma.
31/07/57 – quarta – Tenho
sido o sub-chefe da turma e desfilado. Prova de Emprego da Arma.
01/08/57 – quinta –
Instrução. Filme. Assisti ao “Tribute of a bad man” com James cagney. Gostei de
ver a fibra, a tenacidade e a força do Dr Rodock, a figura do Steve e o seu
amor por Jocasta. O tipo do James Cagney me lembra o Dr Piedras. Estudei Minas.
Fui dormir. Acordei às 04:15. Estudei Minas no cassino.
02/08/57 – sexta –
Aniversário do Affonso. Prova de Minas, mais ou menos. Ponte B4A1 no rio
Paraíba com o ten Tibério. Fiquei na
turma de âncoras e suportes flutuantes. Não trabalhei muito. Quando o Joélcio
foi lançar a âncora eu fiquei na ponte de Resende controlando com três amarras
ligadas. O rancho foi servido mais tarde pois a manutenção do material de
pontes foi demorada.
03/08/57 – sábado – Festa da
Engenharia – Não fui ao juramento da Bandeira. Fui para o Parque onde com o ten
Palazzo, o Pimpão e o Cunha pensamos na apresentação do material da ponte M-2 (
Portada nº1 de apoio à Infantaria). Lá pelas 11:00 começaram a chegar os
convidados. Falei muito. O Gonçalves estava no guindaste Quick-way. O Otinho no
suprimento d’água e o Lousada na Passadeira. Muitos oficiais e muitas garotas.
Depois houve um churrasco. Às 15:30 houve um jogo de futebol entre a Art e a
Eng, onde ganhamos por 2x1. O Chico me apresentou à senhora mãe dele, Da.
Custódia, à Da. Delorme, mãe do Villar, à irmã do Villar e a algumas garotas. O
ismar estava com duas garotas de Pindamonhangaba. Houve um lanche. Eu estava
com muita fome mas o lanche foi guaraná, pastéis, bolinhos de peixe e empadas
em quantidade que logo me enjoaram. Fiquei com dor de cabeça. Fui deitar na
cama do Stélio e não gostei de ouvir colegas conversando sobre mulheres junto a
um garoto de oito anos. Não fui ao baile pois estava com dor de cabeça e queria
fazer um bom treino de basquete no dia seguinte.
04/08/57 – domingo – Fui à
missa. O capelão maj Arquimedes comentou o evangelho de hoje em que Jesus fala
sobre a esperteza do administrador infiel. Disse-nos que precisávamos de
meditação para que os alicerces da nossa personalidade fossem bem firmes. Que
não deixássemos que a nossa consciência se tornasse um quarto todo sujo e cheio
de teias de aranha, pois esta claridade interior facilita e permite que sejamos
chefes tanto no quartel como no lar. Seremos líderes e contagiaremos os que
conosco vivem. Na epístola São Paulo fala-nos que somos filhos de Deus e,
portanto co-herdeiros com Cristo. Li também que o modo como tratamos a Deus e
ao próximo é que nos conseguirá ou não viver eternamente na presença de Deus.
Logo depois fui treinar sozinho basquete no ginásio. Treinei bem, graças a
Deus. Depois do rancho fui cumprimentar umas garotas da Escola Profissional.
Fiquei conversando com o Joélcio que me falou sobre a educação que recebera de
seu pai Jaime. Fui ao cinema com ele apesar de ter previsto. Ele recebeu um
telegrama da Cristina com quem havia terminado o namoro. O jornal
cinematográfico versou sobre modas, corrida de automóvel, ano geofísico
internacional e casamento. O filme foi sobre uma aventura na Índia. O problema
é do mestiço. Eis uma frase que guardei: “Não odeio no plural!”e a frase em
inglês no final do filme: “Don’t be fool, marry with me!” que sintetiza a
solução adotada pela Victoria (Ava Gardner), aceitando o conselho do Coronel
(Stewart Granger). Pausa para meditação: Reli este meu diário, vendo que a vida
passa rapidamente e que a única alegria provém do Bem. Ora, é difícil
conseguir-se o Bem. Vi que a estrada que percorri até agora está cheia de
crateras e que há falta de boeiros que canalizem as águas na época das
enchentes. Vi que a ociosidade é a principal causa de quedas morais e também
quanto vale o conselho de um confessor. Vi que após o conselho do Pe.
Boaventura, a Liz não é mais para mim o que era antes. Consigo viver fora do
cassino. Deixei de fuçar os jornais e revistas com o pretexto de achar notícias
sobre a Liz. Estou no momento sem a preocupação de namorar, pois ao ler o que
São Paulo diz na sua epístola “não casar é melhor, mas quem quiser casar, tome
a sua esposa e respeite-a. Lembrei-me de que o sexo é uma das coisas
importantes da vida, mas não a única. Meus objetivos no momento são: ser
metódico, evitar o sexo e me preparar para ser um bom oficial de Engenharia.
Treinar basquete bem, para bem representar a AMAN. Estudar o máximo que puder.
Ao braço firme! Ad maiorem Dei gloriam! À noite li um bom livro: “Conselho aos
jovens”. Dormi cedo.
05/08/57 – segunda –
Instrução. Estradas (Apropriação) e Emprego da Arma (Ofensiva). Como o ten
Gedeão estivesse doente, quem dirigiu o treino foi o cap Gênio Pinheiro.
Deu-nos uma sessão de ginástica básica. Exigiu saltos e arremessos em profusão.
À tarde aula de História (Alsácia Lorena). Treinamento dos cadetes do 1º ano
para o recebimento do espadim. Diferente e bonito, sendo orientados pelo cap
Magalhães. Aula de balística (cálculo da trajetória Siacci). Sessão de
ginástica básica e pista de aplicação com o ten Tibério. Confusão sobre
monitores. No final tudo normal. Treino de basquete com o ten Gedeão. Boa
pelada. No rancho quase só tomei leite. O ótimo leite Agulhas Negras. Cortei
cabelo. O Serpa deu-me uma fotografia de um jogo de basquete. Mostrou-me várias
dele. Engraxei os coturnos. O Chico comentou que a Liz estava noiva e que o seu
noivo a proibira de um quadro no show.
06/08/57 – terça – Equitação.
Graças a deus não houve ferimentos apesar das quedas. O cap Azambuja exige e
nós assim temos que saltar obstáculos mesmo. Aulas de estradas ( em campanha) e
de ResMat ( exercícios). Cheguei bem atrasado ao treino. Aula de balística.
Treinamento dos cadetes novos. O Largaespada querendo ler este diário. Aula de
História. Treino de basquete. Entro de sargento de dia amanhã.
07/08/57 – quarta – O cap
Milazzo não deixou um momento sequer a ala, pois hoje é dia de concurso. Treino
de basquete. Instrução. Treino de basquete. O Horst e o Lino fizeram parte da
comissão de julgamento. Tiramos 8º lugar. O nosso apartamento está muito bom. Treino de basquete. Serviço de permanência no
Corpo de Cadetes das 24:00 às 02:00. estudei pontes.
08/08/57 – quinta – prova de
pontes Mais ou menos. Instrução sobre
metodologia. À tarde lidei com a motoniveladora (O Isaltino do lado).
Quickway com caçamba ( O ten Fortuna ao
lado) e outros equipamentos. Comecei a fazer um aro de basquete. Treinei os
cantos de amanhã. Muito bom. O Brás veio bater um papo.
09/08/57 – sexta – Entrega do
espadim. Alvorada às 06:30. Sou o faxineiro porque o Villar recebeu uma punição
e não pôde fazê-la. O café foi na entre-ala. O Joélcio está de sargento de dia.
Fiz uma faxina no apartamento. Cantei na missa e no apartamento. À tarde
coloquei o 1º uniforme e fui passear pela AMAN para ver o movimento. Chegaram
muitos carros. O sargento de Engenharia no tráfego. Carros... Carros...
Automóveis... Espadins e flâmulas... Guarda de Honra... Salvas... O Sr.
Presidente Juscelino Kubistec e o Sr. Ministro da Guerra General Henrique Teixeira Lott. Começa a
cerimônia. Discurso demorado. Cadetes caem no chão. Gritos dos assistentes.
Lanche. Cassino (revista Pointer).
10/08/57 – sábado - Alvorada
às 07:00. O Horst envernizando tudo. Treinei basquete. À tarde dormi e fiz
educação física. Conversei com o Brás. À noite assisti ao filme “Pane, amore e
gealosia”com Gina Lollobrigida e Vittorio de Sicca. Alegre. Dormi cedo. Hoje é
o baile no Monte Líbano.
11/08/57 – domingo –
Confessei-me. Generosidade! Toquei no harmônio enquanto o capelão batia um papo
com outros. Dirigi a leitura na missa com o Rui Ferreira. Comunguei. Pedi para
dominar meus defeitos inclusive o egoísmo. Treinei basquete com vontade de
melhorar bem. Dormi após assistir um pouco ao filme “Interrupted melody”com
Glenn Ford e Eleanor Parker. Ópera e romantismo. Passeei após o jantar. Morreu
um aspirante de Infantaria, filho do cel Fernandes, vítima de uma explosão de
granada que cobriu com o seu corpo para que não matasse mais gente. UM HERÓI!
Que Deus lhe dê o céu como recompensa. Ele ia se casar em novembro! “Assim como
vai o rio os alvos seixos rolando, assim também vai a vida as ilusões
arrastando!” O Horst passando enceradeira no apartamento que eu encerei à
tarde. Estou escrevendo no cassino da SAM, ouvindo as belas músicas em HiFi.
23/08/57 – sexta – Sou o
sargento de dia à 2ª. Cia do Curso Básico, comandada pelo Cap Paes. Hoje tive
prova de Estradas sendo muito lento ao resolver as questões. Cálculo de pontes
com o ten Tibério. À tarde aplicação da metodologia. O Roeder e o Largaspada
falaram sobre a Nicarágua. O mack falou sobre a Chefia e o Magalhães sobre
Organização do Terreno. Revista de uniformes e licenciamento. Nestes onze dias
não deu para escrever nada. Tive prova de ResMat em que o maj Carlos Bernardes
nos colocou em um ônibus e nos levou até o Parque. Tivemos Exercício de Longa
Duração em que me especializei em motoniveladora e trator D4. os colegas
sofreram mais se afundando nos alagados campos de minas. Joguei basquete com o
CIB e ganhamos. A engenharia ganhou da Artilharia. Joguei bem graças a Deus.
Jogamos com os oficiais. Perdemos e empatamos. Vacina. Festa da espora. Enviei
um telegrama para a mamãe no dia 21, seu aniversário (64 anos). (Ela veio a
falecer em 1973 com 79 anos e meio). Recebi revistas dos EUA e voltei a pagar a
RT Monitor. O Brás e sua máquina fotográfica. Incerteza em onde servir após
sair aspirante. Expectativa das competições com a Escola Naval e de
Aeronáutica. Falei sobre Televisão muito descontraído. O Villar falou sobre a
Preocupação. Devemos ter interesse e não perturbação. Ele tem boa dicção. Estou
me sentindo melhor sem me preocupar com a Liz.
24/08/57 – sábado – Fui
treinar basquete. Fiz ginástica com o aparelho do Roeder. À tarde dormi bem. À
tarde assisti ao filme “Julieta”, comédia francesa. Fiz um relatório de
reconhecimento de estradas (drenagem). Fui dormir.
25/08/57 – domingo –
Confessei-me com o Pe. Arquimedes. Disse-me que devo reconhecer que eu sou
fraco sem o auxílio de Deus, mas que este esforço que eu agora faço mais tarde
quando eu constituir família será recompensado pois estou treinado em lutar.
Tudo por um ideal! Cantei na missa e comunguei. Deo gratias! Muito obrigado
Jesus, sois tudo e eu não sou nada. Joguei basquete após um individual. A
pelada foi até 100 e eu dei uns bons ganchos e jumps. Quase não almocei. Conversei
com o Aníbal sobre o artigo:”Nós pagamos o brinquedo” de David Nasser. Assisti
ao filme “Casa de chá em luar de agosto”. No qual ri bastante e saí satisfeito.
Até que enfim uma película de humor sem piadas de duplo sentido. Arrumei o
arma’rio e a mesa. Fiz uma faxina preparatória no apartamento. O Chico veio me
dizer que a Liz apareceu na capa da manchete ao lado da Norma Benguel. Fui ver.
Ela está muito bonita. Acabei voltando a pensar nela. O Horst relia as cartas
da Zenaira.
26/08/57 – segunda –
Instrução. Filme sobre a 2ª Guerra Mundial em que é mostrada toda a miséria que
ocorreu. Treino de basquete e da torcida, não havendo desfile matinal.
27/08/57 – terça – ResMat.
Instrução.Treino de basquete. Filme na aula de História Militar. Treino da equipe
de basquete: Palma, Alexandre, Calomino, Dario e eu.
28/08/57 – quarta – Desfile
matinal. O 3º foi torcer no cinema. Treinei basquete. Ontem comprei a Manchete
em que a Liz apareceu na capa. À noite jogamos com a equipe de Volta redonda. Ganhamos
de 60 a 40.
29/08/57 – quinta –
Instrução.
30/08/57 – sexta – Instrução.
À noite houve jogo de pólo aquático com o Mackensie. Perdemos de 8x3.
31/08/57 – sábado – Reunião
com o Cmt da Cia, Cap Daniel Milazzo. Choveu bem da hora do atletismo, não
havendo a competição. Houve natação. Ganhamos. O Schirmer nadou bem. À tarde
dormi. Ã noite houve vôlei e basquete. Ganhamos no vôlei de 2x1. O Jorginho
como sempre jogou bem. No basquete viramos na frente mas no final perdemos por 3 cestas. Eles
tinham um jogador que saltava muito bem.
01/09/57
– domingo – Missa. Cantei e comunguei. O general Dubois, diretor da Diretoria
de Obras e Fortificações assistia à missa. Fui depois jogar basquete no ginásio
com o Molinari. À tarde quase que perco o trem de aço por causa do meu relógio.
Viajei com um colega dos aqualoucos. Em casa estava a mamãe. Havia uma
televisão nova. Edison e Maria José.
02/09/57
– segunda – Fui de carro até Honório Gurgel.O José Maria me levou até o Clube
Militar. Apresentação ao Gen Magessi. Perguntou, quais são os que saltam? À
noite jogo com o Sírio. Perdemos por oito pontos. Jogamos bem. Torci o
tornozelo direito.
03/09/57
– terça – Treinamento na P.E.. O ten Lobão está lá. O Lasssance vai casar hoje.
Good luck! Torei à tarde. Fui em casa. À noite jogo contra o Colégio Militar e
Clube Municipal. Fui de ônibus buscar os jogadores do Clube Municipal. Um padre
chamando o povo para a visita de Nossa Senhora de Fátima. Demora. Enfim. Muita
chuva. Ganhamos. Dario e Palma chateados. Apontei o jogo. 54x34. Suco de uva.
Barulho no alojamento. Oficial de dia.
04/09/57
- quuarta – Dia chuvoso. Rádio. Café.
Tora. Aqua vegetomineral no tornozelo. Sgt Freire. Anteontem comprei a Manchete
onde a Liz aparece de novo muito bonita. Voltei a pensar nela.
10/09/57
– terça – Colégio Militar. Treinos. Ten Gedeão. Dario. Nos mudamos para a
P.E..Ótima comida. No sábado passado houve um baile no Colégio Militar. Conheci
uma moça bonita sem pintura chamada Aldaléa Vieira de Freitas- Rua Mariana
Portela, 64 – Riachuelo. Estive em Niterói. A Maria helena ganhou mais um
neném, Roberto. Deu-me um par de meias. Tomei banho de sol e nadei. O
Fluminense ganhou do Flamengo por 3x1. A AMAN ganhou no atletismo. O Villar no
salto com vara era um número a parte. A escola naval ganhou a natação, vôlei e
basquete da Escola de Aeronáutica. Não tenho estudado!Escrevi uma carta para o
Felippe. Transferência. Fui dormir na P.E..
11/09/57
– quarta – O dia todo na P.E..Treinei um pouco e li sobre basquete. À noite
jogamos com a Aeronáutica e ganhamos de 2x0 no vôlei e 41x22 no basquete.
12/09/57
– quinta – Pensei o dia todo no jogo com a Naval. O ônibus enguiçou. Ganhamos o
vôlei por 2x1. Bonita reação, de 10x3 ganhamos por 15x12. No basquete porém
perdemos. O técnico Paluca sabendo bem qual a nossa jogada, marcou-me muito
bem, não permitindo que saísse a jogada e os nossos arremessadores não estavam
bem. Coisa do esporte. Resta a satisfação do dever cumprido. Ad maiorem Dei
gloriam! Ficamos todos tristes é claro. O ten Gedeào não gostou da atuação dos
juizes Aladino e Marzano. Errei dois lances livres, avançando o pé na linha.
Não pude jogar como esperava pois a marcação estava perfeita sobre mim.
Terminou portanto um esforço de seis meses de preparação. Esperávamos o
vitória, falávamos em cervejada e no final veio a derrota. Penso que esta
derrota poderia ser evitada se tivéssemos uma outra jogada além da cruz. Espero
que no próximo ano nós vençamos, apesar dos juízes ruins. Talvez se a Naval
marcasse individualmente nós ganhássemos pois estávamos bons na chave 4x1. Nós
marcamos individualmente e eles conseguiram muitas cestas de arremessos e
entradas. Enfim eles jogaram mais e mereceram a vitória. Não será por causa
disto que eu ficarei desanimado, pois confiante em mim irei firme em frente,
com a decisão firmada em minha mente. Fiat voluntasTua!.
13/09/57
– sexta – Estou gripado e com tosse. Aquela tosse antiga. A Heloísa foi lá em
casa. Está com uma bonita conversa sobre Deus e sobre a vida. Muita chuva. Não
pude mandar um telegrama para o Felippe que hoje completou 23 anos. Ele está
querendo vir para o Rio.
14/09/57
– sábado – Fui comprar a passagem de volta, encontrando-me com o Otto Moura.
Comprei um pijama.
15/09/57
– domingo – Fui a niterói. A Eliane estava com febre. O Robertinho dorme muito.
Fui à praia. Estou doente. Fui à missa. Voltei para Resende doente.
16/09/57
– segunda – Faxineiro. Resolvi tirar a carteira de motorista. Escrevi para a
mãe e para a Aldinha. ]
17/09/57
– terça – Acordei bem adoentado. Quando em forma tive que sair. Pedi ao cap
Azambuja para não fazer equitação, no que ele acedeu. A turma fez mais um
passeio a cavalo do que uma instrução que costumamos fazer. Aula de ResMat em
que li 3 horas sobre Concreto. Foram suspensos os filmes e a instrução no campo
devido ao surto de gripe que está havendo na AMAN.
18/09/57
– quarta – Estudei no bosque Pontes. Instrução.
20/09/57
– sexta – Ontem e hoje instrução e provas. Muitos cadetes baixados ao hospital
que se estende às alas e 4º piso.
21/09/57
– sábado – assisti a um filme sobre invasões alemães na 2ª Grande Guerra. A
guerra é uma calamidade mesmo. Vi quanto sofrem os homens na guerra. Que Deus
nos dê a paz. Li uma carta do ten Almir
Paes de Lima sobre o batalhão onde está servindo lá no Rio Grande do Norte.
Disse que devemos ficar a contemplar as Agulhas Negras. Ante tão belo
espetáculo parar e deixar que fique impressa tão bela paisagem. Que devemos
aproveitar bastante o nosso tempo de
cadete. Ele é um saudosista da AMAN. Estudei ResMat. Dormi. Fui a Resende com o
Brás. Ele pagou o frete de um livro. Comprei laranjas. O Jael me deu carona na
ida e um tenente na volta. O Darzan estava dormindo e o Horst escrevia uma
carta para a irmã aeromoça. Após o jantar conversei com o Henrique e assisti a
um filme passado na grande galeria: “Lágrimas amargas”. Tratava da vida de um
grande artista que não queria acreditar que o seu tempo já havia passado. Li um
livro sobre amizade e dormi.
22/09/57
– domingo – 40 anos da Conferência Vicentina (1917). Comunguei. Foi lida a alta
da fundação. Muitos fundadores ainda vivem e são generais da ativa ou
reformados. Alguns já morreram. Dizia a ata que a coleta havia sido de 16:000
réis. Recebi a primeira carta da Aldaléa. Parece que está gostando muito de
mim. Escrevi outra carta para ela.
23/09/57
– segunda – Entrei de serviço. Ajunto do oficial de dia à AMAN, ten Asdrúbal de
Artilharia.
24/09/57
– terça – Teste de ResMat. Aulas. Cinema na galeria.
25/09/57
– quarta – Fui treinar e dirigir jipe com o cap Yvens que me deu muitos macetes
como não reduzir sempre antes das curvas, fazer os sinais manuais, tirar pouco
o pé da embreagem. Não pude fazer baliza.
26/09/57
– quinta – Dia de instrução. Rádio. Na aula de liderança o maj Capelão
disse-nos que lera de um oficial americano o seguinte: “O oficial centralizador
é uma praga. O oficial medíocre procura sobressair sendo enquadrado e quer que
todos sejam iguais a ele. O oficial preguiçoso mas inteligente é muito bom pois
simplifica as coisas”. Fui a Resende.
27/09/57
– sexta – Prova de metodologia. Podia ter estudado mais. Ponte Bayle com o ten
Tibério. Topografia. O cap Fetterman pediu que usássemos nos corpos de tropa o
material que tivéssemos. Revista de uniformes. O Cmt da AMAN, Gen Hugo Panasco
Alvim incitou-nos a que estivéssemos todos em forma na 2ª feira. Que não
ficássemos em casa. Conversa com o Chico. Devo ir ao Rio com o Joélcio.
Conversa com o Chico sobre o Felintho Quaresma.
28/09/57
– sábado – O Rocha acordou-me às 02:40. O Joélcio e eu fomos para o Rio de
trem. Ele à paisana conseguiu lugar sentado. Sentei em Barra do Piraí. Iam
juntos estudantes do ITA. O trem passou às 03:10. Chegamos às 07:30. Em casa
estavam: mamãe, Maria José, Mariinha, Zacarias, Dináh, Patrícia, Jorginho, Lea,
Manoel e Edison. O Affonso telefonou. A Aldaléa telefonou e marcamos um
encontro para as 17:30. Estou esperando o Luiz que está em Niterói. Chuva. Fui
ao encontro com a Aldinha. Não esperei muito. Entramos em um ônibus errado.
Fomos de bonde. Conversamos bastante. No começo ela falava muito. Afinal
entramos no assunto que era o principal: continuaríamos ou não. Fiquei até as
09:00 passeando com ela, próximo à casa dela. Gostei muito. Na volta vi o
Benedito Guimarães que ia para a casa do Felintho Quaresma. Em casa estava o
Josué e família. Dormi com o Renatinho que pensava que eu era o Josué e se
mexia todo. Afinal o Josué levou-o para outra cama. A mamãe da cama brincou
comigo dizendo que queria saber quem era a namorada.
29/09/57
– domingo – Fui à missa das 06:00. Confessei-me com o Pe. Boaventura que me
disse que eu devia procurar saber bem sobre a família da Aldinha. Comunguei.
Estava muito inspirado e pedi a Deus que abençoasse a minha vida me dirigindo
para o Bem. O Luiz levou-me para que treinasse a dirigir o carro. Giramos
bastante com o Ronaldinho e Renatinho. Fomos à casa da Risoleta e conversamos
com ela, com o Oscarzinho, com a Anna, com a Vera e com a Margarida. À tarde
fui treinar sozinho e uma hora me esqueci que estava freado com o freio de mão,
mas felizmente não houve nada. O Fluminense ganhou do Botafogo, com gol do
Escurinho. Didi errou um pênalti. Ã noite voltei para a Academia. A Aldaléa foi
à estação com a sua prima R..
Conversamos bastante. Fui sentado ao lado do Joélcio que havia errado o
nome de uma garota 4 vezes, Cristina em vez de Ângela. Fizemos boa viagem.
30/09/57
– segunda – Emprego da Arma e instrução com o Pe. Bruno que falou-nos sobre a
personalidade. Escrevi uma carta para a Aldinha. Não fui ao cinema.
01/10/57
– terça - Mês do Rosário – Teste e aula de ResMat. Aulas. Não pude treinar
direção. À noite não fui ao cinema. Rezamos o terço no anfiteatro 301.
02/10/57
– quarta – Prova de Pontes. Faltaram-me observação e calma. Apresentação do
teodolito Vasconcellos. Treino de pólo-aquático. Instrução de metralhadora
Browning .50 com o ten Roehl . Rádio com o ten Ferraz, sgt Monterisse e sgt
Paiva. Filme de guerra. Assisti um pouco, dormi e estudei. Esqueci de ir ao
terço de Nossa Senhora.
03/10/57
– quinta – Dia de Santa Terezinha do Menino Jesus. Instrução. Não fui ao
cinema, ao contrário fui estudar com o Swami Platt, para fazer o problema de
ResMat. Fomos até 00:30. Não ficou um trabalho completo. O Horst Bockler por
exemplo fez um ótimo projeto em várias folhas. Posso aproveitar o exemplo para
que em futuros trabalhos eu procure fazer com antecedência e mais capricho.
Esqueci-me de novo de ir ao terço.
04/10/57
– sexta – Instrução. Regulamento Disciplinar do Exército. Tiro. Vi que sou bem
ruim no tiro com revolver. O ten Roehl me disse que só fechasse o dedo
indicador e prendesse o revolver com o polegar e o indicador e o médio, deixando dois dedos livres. Fui
treinar pólo-aquático. Estava cansado e saí pouco da água. O hemetério me
ajudou a livrar-me de uma câimbras. À noite fui rezar o terço. O Schwingel me
disse que ia servir em São Leopoldo.
05/10/57
– sábado – Instrução de ponte Bayle em miniatura com o ten Tibério. O cap
Milazzo falou conosco. À tarde dormi até 15:00. Fui à piscina. Recebi uma carta
da Aldaléa, da qual não gostei. Não sei se foi porque me chamou de Paulinho ou
por causa dos erros de português. Treinei com o Joélcio. Fui ao cinema. O filme
pretendia meter medo. Saí no meio. Fui escrever uma carta para a Aldaléa, mas a
vontade que eu tinha era escrever: termino. Resolvi deixar para amanhã depois
da comunhão. Conversei com o Joélcio sobre as garotas que conhecemos, os
problemas advindos e as decisões. Fui dormir. Passei da hora do terço.
06/10/57
– domingo – Fui à missa e comunguei. Escrevi para a Aldaléa falando sobre
nossos problemas. À tarde dormi e joguei pólo-aquático, tendo deixado passar
três bolas. Perdemos da Artilharia por 3x2. Depois do jantar fui a Resende com
o Brás Defilippo. Fomos ver uma exposição de livros. Muito caros. Não compramos
livro algum. O Pimpão me pediu para fazer um trabalho sobre rádio galena mas
não fiz. Sinto-me ansioso por algo. Amanhã haverá outro jogo de pólo-aquático.
No final de semana iremos a piquete e Pinda. Penso no exame de motorista que
tenho que fazer. No estudo faltam-me muitas horas de gagá para sair aspirante.
Onde vou servir? No Rio ou fora? Ainda não joguei basquete desde setembro.
Estou com vontade de jogar de novo. E a Aldaléa? Vou indo gostando dela
mas pensando às vezes na Liz.
Deus é quem sabe. Entrego tudo nas mãos Dele. Fiat voluntas Tua!
07/10/57 – segunda – Aulas
com o maj capelão e com o instrutor chefe ( Engenharia no combate). À noite
jogamos pólo-aquático com a Cavalaria e ganhamos de 12x0. O Menezes quis dar um
serviço no meu lugar ( Sargento ao Parque). A 1ª Cia do CB ganhou vôlei e
basquete da 3ª Cia . Rezei o terço.
08/10/57 – terça – Teste de
ResMat. Saí-me mal. Aula de vigas. Muitas fórmulas. Jogo com a Cavalaria.
13/10/57 – domingo – Nestes
dias fomos a Piquete e Pinda de trem. Jogos. Pólvora. Nitroglicerina. Ponte
Bayle. Estrada Itajubá-Piquete. Cartas da Aldaléa e do Affonso. Escrevi uma
carta para terminar com a Aldaléa mas a conselho do Villar amassei-a.
14/10/57 – segunda – Dia
normal. Jogo de pólo-aquático com a Intendência, ganhamos de 6x3.
15/10/57 – terça – Mandei uma
carta para a Aldaléa.
16/10/57 – quarta – Prova de
História Militar com consulta livre.
17/10/57 – quinta –
Equipamento Mecânico.
18/10/57 – sexta – Ponte B4A1
no rio Paraíba com o ten Tibério. Deixei cair um cachimbo dentro do rio. Graças
a Deus e Nossa Senhora, no final com o pé consegui achar. Licenciamento.
19/10/57 – sábado – Exame de
motorista. Não consegui passar. Ontem e hoje não rezei o terço. Não fiz a prova
entre as balizas. Entrei pouco. No trânsito sem querer a alvanca de mudança
saiu da segunda marcha para o ponto morto e eu quis sair assim. Como é que
pode! Vai haver um baile hoje. Calor!
20/10/57 – domingo – Fui à
missa. Fui o leitor. Comunguei. Jesu quem velatum nunc adspício, ora Fiat illud
quod tam sítio, ut te revelata cernens facie, visu sim beatus tuae gloriae! O
maj capelão falou sobre a necessidade de se equilibrar a vida. Controlar
divertimentos e estudo. Até Jesus ia às festas. Se for a um baile e terminar de
madrugada, isto não é motivo para não chegar ao quartel na hora certa. Arrumei
os polígrafos. Depois do almoço varri o local onde está a rádio-vitrola e li o
começo do livro do Érico Veríssimo:”Gato preto em campo de neve”. Fui verificar
se havia chegado uma cart da Aldaléa.-
Não. Os colegas estão no cinema. A rádio agulhas negras de Resende com
um programa de músicas. A mamãe deve estar em Aparecida. Vou estudar ResMat
para quarta-feira. Dormi. Continuei a leitura do livro do Veríssimo. O locutor
da bandeirantes emocionado com os lances da partida entre São Paulo e
Coríntians. Após a ceia conversei com o Helder sobre casamento, noivado e
namoro. Ele é a favor do casamento bem cedo. Copiei a poesia “Se”que Rudyard
Kipling fez para o seu filho. Estudei ResMat. O Darzan escrevendo carta para a
Mara sobre o passeio a Piquete. O Horst a endireitar os polígrafos para mandar
encadernar, e mais ninguém no apartamento.
21/10/57 – segunda – O
despertador soou às 05:30. Só eu levantei da cama. O Horst e o Darzan
continuavam a dormir. Li mais algumas páginas do Veríssimo. Encerei o
apartamento. O dia amanheceu nublado. Fui à sessão de moto de bicicleta para me
certificar que havia sido reprovado. Passei enceradeira no apartamento. Estudei
resMat. À tarde fui à cidade com o Henrique para reacertar o nosso título eleitoral. Estava fechado. Comprei
algumas coisas. Ao passar pela construção da casa do laranjeira, conversei com
o encarregado das ferragens. Comprei picolé. Carona com o major de História
militar. Guaraná na cantina. Eram 14:00 e o Horst e o darzan ainda dormiam.
Estudei ResMat com o Horst.
22/10/57 – terça – Na aula de
ResMat fomos visitar as construções dos novos edifícios para capitães casados.
Lá o maj Campello de Artilharia deu-nos explicações. É um indivíduo de baixa
estatura, olhos verdes, bigodes loiros, óculos ao cinto e fivela suja. Vê-se
que não faz educação física há muito tempo. Mostrou-nos várias coisas do
gabinete e da construção. Não me quis falar sobre concreto protendido,
dizendo-me que era o último passo em concretagem. Hoje foi a última aula de
ResMat. O maj prof Carlos Bernardes recomendou-nos que continuássemos sozinhos
já que nos tinha sido dado o impulso inicial. Recomendou-nos vários livros. O
cel Armindo, agente diretor também falou. À tarde tivemos aula de Balística em
que eu não sabia a área de uma elipse: S= piXab. Fui receber Cr$90,00 que
emprestara a um praça. Bom pagador e honesto. Aula de História Militar sobre a
FEB. À noite estudei ResMat. Rezei o terço na cama.
23/10/57 – quarta – Desfile
com a presença do Gen Hugo Panasco Alvim. A banda estava mais numerosa. Prova
de ResMat em que ao achar o Jmin<Jind julguei a peça estável quando era o
contrário. Deveria então da fórmula do Jind tirar o valor de P, que seria o de
maior segurança. Jind = 70Ph2p donde P=Iind/70h2p. Tirei 8,5 graças a Deus.
Aula de Emprego da Arma com o
major instrutor chefe de Artilharia que falou sobre o emprego da Artilharia no
ataque. Há 3 tipos de tiro: Apoio imediato, Ação conjunta e Artilharia de Corpo
de Exército (contra bateria).
24/10/57 – quinta –
Equipamento mecânico. Tirei fotografias à tarde. Movimento retrógrado. À noite
dormi às 19:45 sem rezar. Nenhuma carta ainda da Aldaléa.
25/10/57 – sexta – Semana
Olímpica. Lendo Caminhos Cruzados de Érico Veríssimo, enquanto o soldado
passava enceradeira no apartamento. Fiquei com aversão à vida burguesa e à vida
na cidade grande. Que materialismo! Só se pensa em prazer. Tudo é imitação.
Procurarei com a ajuda de Deus me afastar disso. Que saiba com minha esposa
educar meus filhos e no final olhando para trás achar que fiz o melhor que
pude. À noite houve competição de natação. Fui cronometrista com o ten Gedeão.
Errei duas vezes mas aprendi depois. A Infantaria tirou o 1º lugar e a
Engenharia o 2º. O Schirmer nadou muito vencendo três provas em três estilos.
26/10/57 – sábado – haverá
uma visita das alunas do Colégio Brunet do rio. Limpei o cassino do Grêmio
Vilagran Cabritta. À tarde joguei de goleiro no jogo de pólo-aquático com a
Infantaria. Perdemos de 3x1. Não deixei passar nada no segundo tempo. À tarde houve um baile no refeitório dos
cadetes. Não dancei e não fui falar com uma garota que estava com o
Joélcio. Serviram catanho. Chuva.
Filme: O Homem e seu destino.
27/10/57 – domingo – Cristo
Rei. Ia me confessar. Cantei. Ia estudar Balística, mas acabei não estudando.
Falta de método, seu Felinto! À tarde dormi e fui assistir à competição de
atletismo. Visitantes alunas do Instituto de Educação e Surdos e Mudos. Grandes
sensações e certas emoções. Li Seleções. Oficiais na chuva. Fui assistir o
filme Good morning miss Dove. História de uma moça que não podia casar e foi
ser professora para saldar a dívida de seu pai. Educou severamente várias
gerações e possuía a gratidão de todos, desde o policial até o médico. Gostei
do filme. Estou sem receber carta da aldaléa há mais de uma semana. Fiat voluntas Dei.
Do filme: what writen, writen, what wrong, wrong. Fui dormir às 21:00 sem rezar. O que é que há? Deve
haver tempo para tudo,. seu Felinto!.
28/10/57 – segunda –
Instrução sem boas condições de odógrafo com o cap Fettermann. Fator de
correção = reg/real. Chuva. Estudei Balística. Na aula dessa matéria falei uma
coisa por falar, sem saber ao certo. Conclusão: risada geral! Lição: “Só falar
do que tem certeza!”. Estudo. Na aula de História Militar falaram companheiros
que estiveram na Itália na 2ª Grande Guerra. O Maj Césio de Infantaria e o
General Hugo Panasco Alvim contaram algo sobre a guerra. Recomendaram que se
insista na Instrução Militar. Estudei Balística e rezei o terço.
29/10/57 – terça – Chuva. Não
houve Equitação. Instrução sobre regulação do tiro de Artilharia e
Aerofotogrametria. Teste de Balística em que fiquei na dúvida se usava Vo como
U ou como u1. Acabei errando e usando como u1. Vão fazer um filme sobre a vida
de um cadete na AMAN. O Horst vendendo seus retratos e fotografias de Pinda.
Fui ao cinema onde assisti ao filme “Ali Babá” que me fez ficar meio
desconcentrado. Fui estudar Balística.
30/10/57 – quarta – Acordei
às 03:00 e fui estudar no cassino. Boa prova, graças a Deus! Brincadeira no
apartamento com o Horst sobre quem tirava melhores notas. Última aula de
História Militar em que falaram o Major Tório e o Major Asdrúbal juntamente com
o Coronel Cardoso. Metodologia de Educação Física. À tarde instrução. Último
terço do mês de outubro, em que “puxei”o terço.
31/10/57 – quinta –
Instrução. Tiro com lança-rojão e foto-informação. À tarde houve uma
demonstração da Artilharia para todas as Armas. Revista de uniformes.
RETIRO ESPIRITUAL – Após o
rancho convidei o Brás Defilippo. Aceitou o convite. Fomos de ônibus até a
fazenda dos padres jesuítas (Três Poços – Pinheiral – Volta Redonda) . em lá
chegando fomos recebidos pelos padres, tomamos um copo de leite e fomos nos
ambientar. O Pe. Campos, um nortista do Ceará é quem será o pregador. É um
indivíduo de baixa estatura, que usa óculos e aparenta ter menos que os seus 34
anos. Fala calmo, seqüenciado bem as idéias. Fui dormir em um quarto
individual. A construção é bem antiga, de pau a pique. Fiquei bem impressionado
com a casa que me fez lembrar em quase tudo o Seminário do Rio Comprido.
01/11/57 – 1ª sexta-feira do
mês e Festa de Todos os Santos. Missa. Várias conferências das quais escrevo a
seqüência:
I – DEUS – EXISTÊNCIA
a)
Nasci não porque quis. Deus é quem quis por amor.
b)
Deus criador, eu criatura. Homenagem
c)
Devo salvar a minha alma. Depende de mim.
d)
Tenho uma finalidade: “Salvar a minha alma”. Responsabilidade pessoal.
II – EM QUE CONSISTE A
SALVAÇÃO DA ALMA?
a)
Salvar é por fora
de perigo.
b)
Como? LOUVANDO, REVERENCIANDO, SERVINDO E AMANDO.
CUMPRINDO O DEVER, mas para isso é preciso o ESTADO DE GRAÇA.
c)
Qualquer coisa
que não atinja a sua finalidade é frustrada.
d)
Nós somos feitos
para a felicidade e para o amor.
e)
Deus pôs as suas
criaturas como meio.
f)
Amando a criatura
eu amo Deus.
g)
Preferindo a
criatura eu não amo Deus.
RECAPITULAÇÃO GERAL
Realidade
da nossa vida.
Sou limitado: física, intelectual e moralmente.
Isto não foi determinado por mim.
Não pedi para ser colocado neste mundo.
Tenho que tomar decisões e uma atitude diante da vida. (Ex. Ingressar na
carreira militar).
Atitude diante do problema religioso. Todos tomam porque Deus é uma realidade.
Dado inicial para nós: Deus existe.
Sou criatura, fui criado, devo submissão a Deus.
Se
tudo tem sua finalidade, a minha existência também terá.
Deus
é o fim supremo, logo salvar a minha alma é a suprema finalidade.
Só
eu posso salvar a minha alma.
O
que é salvar a alma? – É conseguir a posse da nossa felicidade.
Se
não conseguir, serei um frustrado.
Isto
é uma realidade, quer eu aceite ou não.
Deus
me cercou de coisas que são boas; plantas, minerais, mulheres, animais..., às
quais devo respeito.
III
Há
os erros de concepção da vida. Colocam o fim nos prazeres, na honra, no poder, etc.
Deus tinha o seu plano que foi perturbado pelo pecado, primeiro dos anjos e
depois dos homens, que sabemos pela revelação.
Deus
é bom e justo. Se Ele puniu é porque o pecado é uma coisa bem séria. Adão e Eva
pecaram. Pecado é uma desordem, uma transgressão, é uma negação da autoridade
de deus. Ora, como a autoridade se identifica com a pessoa de deus, toda
desobediência à autoridade é a negação da pessoa. É verdade que nós não
pensamos assim quando pecamos. Vendo as conseqüências do pecado vemos a sua importância.
-
Responsabilidade de um Oficial.
- Uso dos Sacramentos.
- Oração. Devoção a Nossa Senhora.
02/11/57
– sábado – Continuo fazendo o meu retiro espiritual com uma grande felicidade
interior. Ouço as conferências do Pe. Campos, S.J., comentando o Santo
Evangelho e vejo quantas belezas aparecem após uma meditação.De hoje em diante,
todos os dias pretendo ler um trecho do Evangelho e anotar neste diário. Hoje
na parábola dos talentos, eu vi que Nosso Senhor retribui conforme o nosso
esforço e generosidade. À noite cantamos todos os que aqui estamos: Jacques,
Brasil, Zacarias, Olsen, Moreira, Paulo Schwingel, Peroni, Maggioli, Brás
Defilipo, Yapir, Saraiva, Moriconi e mais um colega de Artilharia. Fui me
confessar com um outro padre de cabelos brancos, contando toda a minha
vida. Quanto aos namoros ele me disse
que eu deveria escolher como se estivesse fazendo um negócio. Ver a formação, a
família e a saúde. A beleza eu vejo na mãe. Devo namorar muitas garotas sem
deixar transparecer nenhum sentimento. Escolher bem. Aconselhou-me a esperar
até me colocar bem. Citou que conhece muitos casais felizes. Que não era
prudente casar com uma alemã ou com o francês de uma garota, ou com uma garota
mais rica do que eu. Disse-me que a vida de soldado é dura e que eu devo
escolher uma mulher que agüente e seja de grande formação, pois até isto influi
nos soldados. Disse-me que tinha sido soldado em 1914-1918 e que tinha sido
derrotado na Batalha do Marne. Disse-me que o soldado precisa de calma e
coragem e que isto eu possuía. De alma leve e todo satisfeito eu disse: “Muito
obrigado, Padre! Boa noite!”.
03/11/57
– domingo – Continuando o retiro, cantei junto ao harmônio com o Jacques e o
Saraiva. Comunguei. Conferência sobre o matrimônio. Perguntas. Retratos. Almoço.
Despedidas.
04/11/57
– segunda – Estou de sargento de dia ao Parque. Chuva.
05/11/57
– Construção de ponte. Houve um erro de nivelação das pernas dos encontros por
falta de maior cuidado mas serviu para criar uma solução.
06/11/57
– quarta – Exercício de comunicações. Fui operador de uma rad-300 com o Jael e
o Otinho. Houve uma palestra sobre o 1º Grupamento de Engenharia, do Nordeste.
Vi que a finalidade é ótima e compensa a dedicação de uma vida. Respondi à
carta da Aldaléa.
07/11/57
– quinta – Continuamos a construção da ponte. Achamos que o peso próprio é
muito grande.
08/11/57
– sexta – Fomos marchando até próximo ao campo de pouso. Fizemos
reconhecimentos à noite e voltamos. Chovia. A outra turma ia para lá. Conersei
com o Sérgio Garrido Pinto sobre a vida militar e os namoros. Ele acha que eu
sou muito severo ao aplicar o regulamento. O Largaspada me disse que não ia
tomar banho, mas o Roeder e eu conseguimos que ele fosse, puxando pelos seus
brios.
09/11/57
– sábado – Continuamos na construção da ponte de circunstância sob a direção do
Tenente Tibério. Chuva tipo tempestade. Dormi cedo.
10/11/57
– domingo – Não fui à missa pois tive que ir à instrução de construção da
ponte. Fiat voluntas Dei! Inauguração da ponte ‘Cadete Martins”. Falou o cadete
Theberge e o General Panasco Alvim. Faz 6 meses que morreu o nosso colega
Carlos Martins. Que Deus o tenha no céu. É considerado morto. À noite conversei
com o Brás Defilipo sobre a Liz e a Aldaléa. Estou numa sinuca.
11/11/57
– segunda – Ainda não sobrou tempo para o estudo. Reuniões. Despedida da SAM.
12/11/57
– terça – Levas de aviões “Sapo”largando paraquedistas. Concurso de Ordem
Unida. Um helicóptero no P.T.M ( Pátio Tenente Moura).Cartazes sobre o gagá.
Voleibol. Carta para o felippe e flâmula para o Sargento Gentil. Calor. Gagá.
Preparei tudo para começar o estudo. Recebi uma carta da Maria José. Todos bem,
graças a Deus. Hoje o pai do Joélcio veio visitá-lo. Assisti ao filme “Lisboa”.
História vivida nesta cidade. Um indivíduo contrabandista que matava
passarinhos para dar ao gato. Um americano, uma esposa de um milionário velho e
uma portuguesinha bonita. O americano era muito beijoqueiro. O filme apresentou
uma esposa descontente por ter casado por dinheiro com um indivíduo bem mais
velho do que ela. Estudei grafostática(corda de tensões, linha de fechamento,
polígono funicular, dinâmico ou das forças.
13/11/57
– quarta – Última formatura. Continuam os paraquedistas a saltar próximo da
Academia. Dia nublado. Chuva. Estudei História Militar, Comunicações, História
Militar, Resistência dos Materiais, Emprego da Arma, Balística. No final do
dia, às 21:15 infelizmente como no ano passado conversei com o Roeder e o
Largaspada sobre guerra e condições no Brasil, etc. Um paraquedista no cassino.
14/11/57
– quinta – Dia nublado. Estudei normalmente de manhã História Militar e Emprego
da Arma. À tarde História Militar e à noite ResMat. Não fui ao cinema.Torei.
telefonei para a mamãe. O Alcione e o Alconforado estudavam. Todos bem em casa.
Perguntei quem queria ir ao baile em Quitandinha, mas ela não me deu uma
resposta categórica. Falou-me de uma moça de uma família distinta. Pedi que
comprasse a espada. Ela me felicitou por ter feito o retiro. Fui dormir muito
contente. Alguns colegas foram ao Rio.
15/11/57
– sexta – Proclamação da República. Acordei às 05:15 e fui estudar Balística.
Alvorada às 06:50. O dia foi idêntico aos outros, só que às 10:40 fui jogar
basquete. Estava bem ruim de pontaria. Hoje o estudo não rendeu à noite porque
recebi uma fotografias e fui preparando o uniforme para o serviço de Comandante
da Patrulha de Agulhas Negras amanhã. Dormi às 22:40 após conversar com o Mack
sobre a religião católica. Eu mesmo fiquei impressionado com o mandamento “Amai
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
16/11/57
– sábado – Acordei às 04:50 na base do despertador. Rezei o terço. Estudei com
o Chico e o Largaspada. À noite fui dar patrulha em Agulhas Negras, como
comandante. Eis o resultado:
“O
Comandante da Patrulha de Agulhas Negras, ao ser interpelado às 23:20 sobre a
existência de cadetes na região de campos Elíseos, deixou transparecer que
havia cadetes que não queriam se recolher. Quando lhe foi perguntado se era
cadete um indivíduo que permanecia num bar tomando cerveja, respondeu que não o
conhecia. Como a referida pessoa apresentasse aspectos de cadete, mandei-o
informar-se a respeito. De volta ele trouxe uma resposta afirmativa, dizendo
que o cadete parecia estar alcoolizado e não queria se recolher. Perguntou-me
como devia proceder. Mandei que o anotasse e mandasse mudar a roupa para voltar
à Academia. Quando novamente interpelado o cadete Vasconcellos confessou
conhecê-lo desde a escola Preparatória. ........ Analisando esta parte eu
verifico que ela está errada em vários aspectos. Vou redigir tudo o que
aconteceu: “Às 23:00 alguns cadetes vieram da região do Bar Divina Providência.
Estavam à paisana. Isto fez com que o cabo de patrulha e dois outros cadetes de
serviço voltassem da missão que lhes confiara minutos antes de avisar a esses
cadetes de que deviam regressar à AMAN. O cabo da patrulha, cadete Tourinho
disse-me que a maioria tinha permissão para ficar até mais tarde. Eis que vejo
o cadete Meziat convidando o cadete ....... a regressar à AMAN. O cadete ....
às vezes caminha no sentido da AMAN. Mas eis que se dirigiu para um bar, entrou
na sala de sinuca e saiu. Estava dentro do bar quando o jipe que conduzia o
Oficial de Dia à Guarnição apareceu. O colega Meziat avisa o cadete ........ O
jipe se afastou ante a ponte velha, fez a volta e o cadete ...... continuou no
bar. Fui me apresentar ao Oficial de Dia, omitindo o “serviço sem alteração”.
Ele perguntou-me se havia cadetes na redondeza, disse-lhe que sim, mas que não
podia levar certos cadetes à força, mas que iria continuar a missão.
Respondeu-me ele que já deveria haver mais cadetes na região. Comecei a
verificar os bares sem ir para o bar
onde estava o cadete ... dando tempo ao mesmo para voltar à AMAN. Passei
finalmente pelo bar onde ele estava e ainda numa última tentativa fiz-lhe sinal
para voltar para a Academia, pois ainda não eram 23:30. Saí do bar e me dirigi
para verificar outros locais apesar de acreditar não haver outro cadete além
do...... Neste momento o Oficial de Dia me chamou e perguntou se ainda havia
cadetes. Respondi-lhe que sim, mas que tinha dificuldade de convencê-lo a
regressar à academia. Então ele me disse que desde o começo notara o cadete ...
no bar em frente e perguntou-me se era cadete. Respondi-lhe que ia verificar.
Dirigi-me então para o bar, mas o .... estava lá no fundo da sala de sinuca.
Dirigi-me para ele e lhe disse: “Olha ..., o Oficial de Dia já percebeu que
você é cadete e mandou-me que anotasse o seu número e que voltasse para a AMAN.
Ele me disse: “Você vai dizer que não não me encontrou e que eu não sou cadete.
Certo? Eu interiormente me admirei de até que ponto um indivíduo pode chegar.
Consegui que ele saísse, desse o número ao cadete adjunto à Guarnição (Hélio de
Artilharia). Vendo o Oficial de Dia o ... se dirigiu a ele e se apresentou.
Depois se dirigiu para a casa do Laranjeira. O Oficial de Dia, Capitão Cirillo
de Cavalaria, disse-me que eu tinha agido molemente e em conivência com o ....
Eu lhe disse que tinha tido dificuldade pois o ... tinha sido meu colega desde a
Preparatória. Foi esta minha sinceridade que ao contrário do que eu pensava,
fez com que ele falasse para o Adjunto que frizasse bem isto na parte. Ora, eu
tinha agido procurando dar a maior oportunidade ao ... sem desobedecer ao
regulamento no que não fui bem sucedido em todos os pontos. Nem sequer sou um
amigo do ..., mas como conhecia bem a
sua vida, procurei agir de maneira que eu desse a parte e não o oficial de Dia
que o não conhecia ainda. Às 23:30 já havia dito aos componentes da Patrulha
que iríamos fazer uma verificação total e que todos os que ainda estivessem em
Agulhas negras sem permissão deveriam ser anotados. Não estava em conivência
com o ... pois se assim estivesse, não estaria bem defronte ao bar onde ele
estava, à espera do Oficial de Dia que ainda não havia feito nenhuma ronda
pessoalmente e eu precisava das ordens relativas ao regresso.
17/11/57
– domingo –Nesta semana fui cantar na igreja de Resende. Saiu tudo muito bem.
Antes eu havia ficado atrasado para a formatura, mas o Cap Milazzo aceitou a
minha explicação. Tenho estado preocupado com a solução que será dada à parte
do Cap Cirillo, da Seção de equitação sobre o meu servi’vo em Agulhas Negras. .
Na prova de ResMat, que durou 03:30 houve cafezinho, chocolate, despertador e
tive dor de cabeça devido à má digestão. Tenho estudado para os exames e não
tenho ido ao cinema. Tenho escrito para a Aldaléa mas sinto não gostar muito
dela. O Roeder e sua saudação: BÊÊÊ!
23/11/57
– sábado – Fui tirar fotografia para a carteira de identidade. Continuo na
expectativa da solução da parte sobre o
meu serviço em Agulhas Negras. Devo receber uma prisão.
24/11/57
– domingo – Fui à missa. O coro de São Maurício cantou muito bem pela última
vez. Saiu-se muito bem o cadete Cunha no “Silêncio”.
25/11/57
– segunda – prova de Balística. Devo tirar uns 5 , graças a deus! Relacionei
tempo máximo com a distância máxima sobre a linha de sítio Xi quando a variação
de t é com o seu fi.s. Estudei depois emprego da arma.
26/11/57
– terça – O cadete Novaes recebeu 10 dias de prisão. Prova de Emprego da arma.
Estou de Adjunto ao oficial de Dia à AMAN.
27/11/57
– quarta – estudei Balística. Assisti à missa pelas vítimas da Intentona
Comunista de novembro de 1935. Falou o Pe. Arquimedes sobre o tumor maligno que
apareceu no Exército naquela ocasião. Estou esperando a punição de uns 10 dias
de prisão. Sinto dificuldade em pensar como estudar lá. Confio em Deus. Quando
o ... me viu olhando para ele, sorriu. Estudei bem Balística. Resistência do
ar. Método de Gâvre e Siacci. Método das funções secundárias e primárias,
Parodi e Siacci. Recebi Cr$1.436,00 de soldo. Saiu a minha punição de 10 dias
de prisão. Fiat voluntas Tua! Estudei na sala dos adjuntos. Havia mais seis
cadetes na prisão. Achei que faltava na prisão um ambiente próprio para
estudar.
28/11/57
– quinta – primeira alvorada na prisão. Levantei-me às 05:00. Estudei Balística
e tomei banho. Fui sortear o ponto, 11. sala de exame. O Alcione e o Bethlem na
presença do General Hugo Panasco Alvim. Até o Sputnik entrou na conversa. Fui
examinado pelo Cap Vasconcellos de Artilharia. Saí-me bem, graças a Deus! À
tarde tentei estudar História, mas a conversa do pessoal não me deixou. Fui
pedir ao oficial de Dia para estudar na sala de adjuntos, mas este me disse que
a situação de preso era diferente. Estudei. Fiz educação física e tomei um bom
banho. Fiquei com 7,2 em Balística. Viva!
noite estudei debaixo do chuveiro. O Chico veio dar uma espiada. Já me
acostumei bem. É só aproveitar o tempo porque ele passa mesmo.
29/11/57
– sexta – Acordei ao toque de avançar. Estudei Resistência dos Materiais. Tenho
estudado no banheiro, ao lado da privada, pois é o melhor lugar onde a
claridade e o silêncio são bem favoráveis. Sinto que a vida de preso é de
expectativa. Talvez fosse assim que os santos viviam em relação à Terra.
Entretanto acho que se o indivíduo procura se esquecer que existe outro tipo de
vida e procura fazer um ramalhete com as flores de que dispõe, ele consegue
viver bem, sem que o fato de estar preso lhe prejudique. Por isso é que tenho
estudado e lido os santos Evangelhos. À tarde estudei História e à noite
também.
30/11/57
– sábado – Sorteei o ponto 13. O Oficial de Dia foi ao alojamento e disse: ‘Não
quero ver nada errado, senão eu escrevo! “Fui examinado pelo Maj Aragão e Cel
Cardoso. Saí-me bem. O Maj Ângelo comentou: “Que decoreba! “. Tirei 8,6 no
final. À tarde estudei ResMat, mas não rendeu muito. Fui identificar-me. Um
sargento que tinha visto o lance do bar em Agulhas Negras me disse: “Saíste mal
no caso do bar, não? “Eu respondi: “Segui um caminho perigoso!”. O Horst
Bockler me disse que a Zenaira respondera agradecendo o bilhete de aniversário.
Estudei ResMat até 23:30. Não rendeu muito por causa do sono.
01/12/57
– domingo do Advento – Fui à missa, cantei e comunguei. Comentei com Jesus: “Cá
estou cumprindo uma punição numa prisão. É a justiça humana. Como não será a vossa se eu acho estes dias difíceis?
Peço-vos perdão das ofensas que contra vós tenho cometido. Tenho muita vontade
de ser um bom discípulo vosso. Muito obrigado por tudo! Sinto como os profetas
ansiavam quando cantavam: ‘Rorate coeli désuper et nubes pluant Justum!”.
Peço-vos que nasçais em muitos corações por vossa Mãe Maria!. Estudei ResMat. O
Fluminense perdeu para o Vasco. Mosquitos. Picadas. Sono. Escrevi uma carta
para a Aldaléa. Gostei muito da que ela me enviou hoje.
02/12/57
– segunda – Prova oral de ResMat com o Maj Carlos Bernardes. Caiu a ponte de
treliça (miniatura). Com o Tenente Tibério o ponto da viga em que a tensão é
4kg/cm2. Com o Cap Weber achar o centro de gravidade de uma figura qualquer que
eu não fiz. Tirei 6,6. Na hora de demonstrar que P1d1=P2d2 me enrolei, mas
consegui fazer depois. À noite estudei Emprego da Arma, situações táticas.
03/12/57
– terça – Cortei o cabelo, sendo vigiado pelo ajunto à Guarnição, Joélcio de
Campos Silveira que me aconselhou a escrever para a Liz. Resolvi fazer isso à
tarde e enviei uma participação e um convite para ela. O Largaspada colocou a
carta apara a Aldaléa. O Tenente Gedeão acompanhado pelo Tenente Amaral vieram
me visitar e perguntaram-me o motivo da prisão. Chuva. Estudei Construções. À
noite, Emprego da Arma.
04/12/57
– quarta – Passei o dia a estudar Emprego da arma. Só às 21:30 é que terminei o
exame oral. Fui examinado pelo Maj Asdrúbal Esteves, Cap Margus e cap Arruda.
Chuva. Conversei com o Largaspada e Villar sobre a Liz. Espero que ela apareça.
05/12/57
– quinta – Estudei Terceiro Grupo. Muita matéria e pouco tempo. Fico a estudar
sem muito método. Estradas: não terminei. Pontes com o Cap Arruda.
Comunicações.
06/12/57
– sexta – estudei.
07/12/57
– sábado – Terminei a prisão, graças a Deus! Aproveitei bastante o tempo. Prova
de Técnica Auto e às 13:00 Transporte e Circulação. Errei o gráfico de marcha
pois não considerei a possibilidade de chegar com a coluna em marcha às 02:00.
Conclusão: ler bem todos os dados, já me dizia o Cônego Cipriano.
08/12/57
– domingo – Há 16 anos eu fiz a minha 1ª Comunhão. Hoje houve a primeira
comunhão das crianças pobres. Estudei Patrol e D7 com o Joélcio.
09/12/57
– segunda – Degundo Grupo. Hoje estudei até as 02:30 da madrugada e acordei às
05:00. estudei. Última arrancada.
10/12/57
– terça - Terminei o estudo! Graças a Deus, passei! São 20:00.
11/12/57
– quarta – Arrumação das coisas. Cheguei no final do 3º ano de Engenharia com
43.030 pontos e no 11º lugar entre 73. Graças a Deus! AMDG. Pro Pátria!
Treinamento para a entrega do Espadim.
12/12/57
– quinta – Devolvi o material. Treinei para a festa. Foi feita a escolha do
local onde servir. Devo ir para Curitiba. Primeiramente o Joélcio e eu íamos
para Porto Alegre, mas não houve vagas. Depois íamos para Pinda mas no final
mudamos. Numa capital eu poderia estudar Engenharia Civil.
13/12/57
– sexta – Às 02:00 o Horst e eu fomos
pela Estrada de Ferro Central do Brasil para o Rio. Fizemos boa viagem, graças
a Deus! Chegando ao Rio a mamãe ainda estava na igreja. Todos bem. O Luiz está
desde o começo do mês em Cataguazes. Fui ver u uniforme na Alfaiataria
Passarello e passei a tarde na ciade com
o Henrique e o Joélcio. O Edison saiu bacharel em Direito. O Affonso este em
provas. O Oswaldo esteve em casa. A Maria José está esperando neném ( Newton
que nasceu em 01/04/58). Conversei com o Affonso.
14/12/57
– sábado – Fui à missa e me confessei com o Pe. Boaventura que gostou do fato
de eu ir para Curitiba. O Pe. Rafael e a irmã Margarida me cumprimentaram. A
mamãe só fala na viagem à Europa e à Palestina. Iniciadas as obras no terreno
no fundo do quintal. A Patrícia está bem engraçadinha. O TenCel Oscar e a
Risoleta apareceram no seu carro Ford 51 azul claro. A Maria José foi fazer
compras de Natal. A tia Arthemira falando da formatura do Horácio no Colégio
São Bento e do Rubens na Escola Naval.
15/12/57
– domingo – Fui à missa e comunguei. Depois fui a Niterói onde encontrei todos
bem. O garotinho mais novo Roberto, o Renatinho, o Ronaldo e a Eliane que fez a
1ª comunhão há pouco tempo. A Maria Helena vai bem como também o Josué. Só
senti a falta do Rogerinho. A Maria Helena me falou em ir assistir ao Mister
samba. Fui à praia. Fiz um reconhecimento a nado. Vi um dos examinadores do
exame que eu fiz para motorista. Admirei a paisagem: “O Pão de Açúcar
sobressaindo, ao fundo o Cristo Redentor. A beleza da entrada da Baía de
Guanabara, com algum navio a entrar...A grande mistura de pessoas à praia.
Gente de todos os tipos. A senhora idosa com ares de mocinha, a fumar e a rir.
O halterofilista todo cioso de sua força. O paradista com ares de possuir algo
exclusivo. O “pater-familias” a cuidar das criancinhas. O escurinho a brincar
com os outros branquinhos, usando a areia como meio de brincadeira. A senhora
com ar de esperta. Um barco a vela com os seus ociosos passageiros. As três garotas
com quem eu repartia os olhares... No apartamento da Maria Helena assisti à
televisão enquanto a Eliane me mostrava os seus cadernos. Passava na televisão
: “O Milagre de Natal”. De volta ao rio, tomei o bonde “Uruguai – Engenho Novo”
às 07:00 e cheguei às 07:40 na Central. Fiz boa viagem. Uma moça me olhava como
quem está gostando.
16/12/57
– segunda – AMAN. Treinos. Ociosidade. Cinema. Li jornais e revistas.
17/12/57
– terça – Assinei os papéis para receber o pagamento. Treinamento. Fizemos uma
escolha dos lugares no anfiteatro 201. Fui mesmo para Curitiba com o Henrique e
o Joélcio. Fui praticar basquete com o Joélcio.
18/12/57
– quarta – Reuniões. Despedidas. Treinamento de passagem pelo portão dos
Aspirantes.
19/12/57
– quinta – DECLARAÇÃO DE ASPIRANTES. Às 08:00 houve o Hasteamento da Bandeira.
Às 09:00 – Cultos Religiosos. Missa. Confessei-me e comunguei Às 10:30
RESTITUIÇÃO DOS ESPADINS e Entrega de prêmios... O primeiro Cadete do 2º ano de
Engenharia, restituiu o espadim do Cadete Carlos Martins. Às 15:00 - Declaração de Aspirantes. Chegaram a mamãe, a
tia Arthemira, o Pe. José Maria de batina branca, a Maria José, a Maria Helena,
o Ronaldo, a Eliane e a madrinha Raymunda com um vestido azul e um chapéu
branco. O José Maria queria visitar a Academia. Eis o compromisso: “Recebendo a
nomeação de Aspirante a Oficial do Exército, assumo o compromisso de cumprir
rigorosamente as ordens que me forem dadas pelas autoridades a que estiver
subordinado, de respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os
camaradas e com bondade os subordinados, de me dedicar inteiramente ao serviço
da Pátria, cuja HONRA, INTEGRIDADE E INSTITUIÇÕES, DEFENDEREI COM O SACRIFÍCIO
DA PRÓPRIA VIDA!”. Às 16:00 – Lanche. Às 17:30 – Passagem pelo “Portão dos Novos
Aspirantes”. Todos os oficiais de Engenharia se despediram de mim ,
desejando-me boa sorte. Voltei no trem de aço com a família.
20/12/57
– quinta – Dormi na casa da Maria José. O Josué com os presentes de Natal dos
garotos curiosos. Às 13:00 estive no Palácio da guerra onde encontrei o TenCel
Oscar Marques de Almeida que me apresentou a vários Oficiais. Depois no Salão
Nobre o Sr. Ministro da Guerra falou para os novos Aspirantes dando conselhos,
como saber aplicar a justiça e não ser bom-moço. Conversei com os colegas e com
o Maj Asdrúbal. No ônibus vim conversando com a sra. mãe do Asp. Maia, de
Intendência. Treinei dança na casa da Maria José. À noite fui com a Raymunda
até a Candelária, onde o Sr. Cardeal fez uma Benção e se cantou o “Te Deum”. O Pe. Arquimedes Bruno falou sobre os novos
Aspirantes dizendo que a Pátria podia confiar neles. A Risoleta e o Oscar me
deram um barbeador elétrico de presente. Muito obrigado!
21/12/57
– sábado – Fui até Niterói com o Luiz e com o Edison. Nadei e quase nada
almocei. Dormi e cheguei em casa às 19:00. preparei-me e fui com o 3º
Uniforme até Quitandinha. Fui com o
Rubens e o Horácio. Em lá chegando fiquei esperando que a Liz aparecesse, porém
quem apareceu foi a aldaléa e eu tive que ficar com ela o tempo todo. “Seja
feita a vontade de Deus!”. Até que no final dançamos bastante. Terminei
entretanto com ela, pois sentia que não gostava dela. Fiquei bastante triste
porque a Liz não apareceu.
22/12/57
– domingo - Cheguei ao Rio às 06:00. Fui à missa. Dormi até as 13:00. Muito
sol. Recebi uma carta do Pe. Augusto. O Duca me deu um pouco de vinho.
23/12/57
– segunda – Fiz o pagamento do Passarello. Pintei a varanda. Fui à igreja de
Sant’Anna para adoração noturna.
24/12/57
– terça – Passei a noite na igreja de Sant’Anna . Em casa dormi um pouco e
depois pintei o portão. À noite fui à casa do Dr. Piedras. Ele colocou o disco
do Hino nacional e depois ceamos O TenCel Oscar Marques de Almeida veio fardado
do Ministério da Guerra com os seus alamares de Oficial de gabinete. Estávamos
lá: Nair, tia Arthemira, Risoleta, Vera, Violeta, Margarida, Oscarzinho,
Nairzinha, Affonso (3º ano de Engenharia, Rubens, Horácio (vai fazer exame para
a Escola Naval, e outros de quem não me lembro. Ficamos um pouco “altos”,
dançamos rock and roll, etc...
Fui
à Cinelândia onde assisti à missa celebrada pelo Cardeal Arcebispo do rio de
Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, ajudado pelo meu ex-colega Júlio Wolfgang
e o Simões. Depois falou S. Excia, tendo notado eu que uma mulher se retirou
dizendo que ele adulava o prefeito. Isso me entristeceu. Depois fui à boate
Night and Day onde conversei com a Liz. Achei-a muito bonita. Durante duas
horas fiquei do lado de fora lendo uma revista e um jornal. À saída vi o Didi
que acabara de assistir ao show “Mister Samba”. Aluguei um táxi e fui com a Liz até a sua casa do Jóquei Clube.
Conversamos bastante. A mãe dela a esperava segurando um cão tipo policial. Fiquei muito contente. Voltei
conversando com o motorista do táxi que levou até o centro da cidade, cobrando
por tudo Cr$200,00. Caminhei pelo centro do rio, cantarolando. Cheguei em casa.
O dia amanhecia. A mamãe não gostou.
25/12/57
– quarta – NATAL. Fui à missa. Confessei-me com o Pe. Boaventura e comunguei.
Estava muito feliz com tudo. Em casa todos os da família reunidos: “Heloísa, R.
e Frank, Risoleta e filhos, Maria José, Edison e Patrícia, Maria Helena, Josué,
filhos e brinquedos. Houve um almoço em que cada um contribuiu com um pouco. À
tarde comecei a montar um álbum de fotografias, conversando com a Verinha. À
noite o 2º Tenente Felippe telefonou do aeroporto, dando a entender que ainda
estava em São Paulo. Chegou em casa logo depois. Fui de novo a Sant’Anna para
fazer uma adoração noturna como voluntário. Fui e voltei de bonde. A minha hora
foi das 02:00 às 03:00 da madrugada.
26/12/57
– quinta – Dormi toda a manhã. Penso muito na Liz, mas em cãs a mamãe está
contra mim e isto me deixa um pouco triste. O Felippe foi à cidade fazer
compras. Endireitei o portão e o chão em frente de casa. A filha do Maj Ênio ao
passar em frente de casa respondeu ao
meu cumprimento. Tenho feito ginástica. Calor.
27/12/57
– sexta – Fui à missa. O Pe. Boaventura disse que queria falar comigo. Fui à
cidade onde comprei uma calça e três camisas. Almocei rapidamente na casa da
Maria José e tomei um táxi para o Jóquei Clube. Cheguei ao apartamento da Liz .
É bem pequeno e tem muita coisa dentro dele. Ela dormia. Conversei com o seu
irmão Peter, de 17 anos, sua irmã Bärbel de 12 nos e sua mãe Elsbett. Fiquei
triste em saber que o pai , Sr. Werner os abandonara. Peço a Deus que volte ao lar antigo, se possível. Vi que
gostam de cachorros, pois havia dois. Depois a pareceu a Liz. Lanchou, colocou
uns discos long-play e conversamos. Quando falavam entre si, falavam em alemão.
Depois fui com ela até a cidade. Às 19:00 tomamos o lotação na praça 15 para o
Leblon. Conversamos bastante. Em casa estava uma senhora pernambucana de nome Olga e seu filho. Tinha uma conversa
tipo tia Arthemira e era desquitada. Convidaram-me para jantar. Aceitei. A D.
Olga dominou a conversa. Depois fui com a Liz até o Night and Day onde me
despedi dela às 23:30. Eu estava muito feliz. A Maria José hoje completou 27
anos de vida. Que deus lhe dê muitas felicidades.
28/12/57
– sábado – Fui à missa. Conversei com o Luiz sobre a Cibrasil e sobre a vida
financeira. À tarde enterrei um gato morto que já estava cheirando mal.
29/12/57
– domingo – Fui à missa das 07:00. Em casa não quis ir com a mamãe até a Barra
da Tijuca, pois estava esperando um telefonema da Liz . Mexi no rádio do
Luiz e notei que havia duas válvulas
trocadas. Tenho estudado alemão. À noite
resolvi ir até ao Leblon, onde não encontrei a Liz em casa. Perdi a minha
viagem!
30/12/57
– segunda – Fui à missa das 07:00. Fui à cidade para apanhar as fotografias,
mas ao chegar lendo o recibo vi que ainda não era o dia. Que distração! Para não perder de novo
uma viagem, comprei uma válvula para o rádio do Luiz, que ficou bom, graças a
Deus! À tarde muita conversa na sala de jantar entre a Maria José, Maria
Helena, Felippe e eu sobre as nossas vidas. O Pe. José Maria e a Raymunda
estiveram em casa. Ele me perguntou se a Liz ia bem. Respondi que sim. Comecei
a arrumar as malas. A mãe começou a falar contra a Liz: “Não serve! Não quero
nem pensar. Logo o meu filho dileto, não! Você vai para Curitiba e lá o seu
padrinho Pe. Augusto indicará uma ótima moça. Essa não. Mostrar o seu corpo,
templo do Espírito Santo, como ela mostra! Quantos homens ela não induziu ao
pecado! Quando me mostraram uma fotografia dela, nem quis ver. Os pais são
separados e ela um dia quererá o mesmo. E começava a contar fatos e mais fatos
da família para me persuadir a deixar a Liz”. Eu retrucava, tendo ao meu lado a
Maria José: “A senhora não pode dizer que ela não presta. Não viu os casos do
Evangelho, da Madalena e da mulher adúltera, e Jesus a comer com os publicanos
e pecadores? Continuamos a discutir sem eu conseguir nada. Peço a deus, a Nossa
Senhora e a São José que cuidem do meu caso. Tem feito muito calor. Hoje o
Renato e a patrícia se sujaram todos de mercúrio cromo e com um óleo da mamãe.
Muitas crianças em casa. Eu pretendia ir a Paquetá hoje, mas não foi possível.
31/12/57
– terça – Consertei o rádio do Josué. Pintei rapidamente duas janelas. À noite assisti à missa da
meia-noite. Encontrei um cadete do 1º ano que repetiu. Fiz um resumo do ano de
1957 e bons propósitos para o futuro.
01/01/58
– quarta – Fui à missa das 07:00. e comunguei. A mãe (com 64 anos e meio),
acordou dizendo que perdera os óculos. Tenho estudado alemão. A Maria Helena,
Josué e filhos ainda estão em casa. O Felippe também. Vão embora hoje. Ontem
ouvi um telefonema de uma garota dos tempos da Preparatória de São Paulo, para
o Felippe. Quem atendeu foi o Luiz. Ela falou em mim (Luci). Achei gozado o
modo do Luiz conversar. O Felippe fala em bons pratos ( galeto al primo canto,
etc.) e em boas roupas. Não gostou da nossa casa com um casal que está no
antigo quarto da Raymunda. O Manoel, a Lea e o Jorginho moram na parte de
baixo. O Manoel sabe manter uma conversa. Sempre traz o jornal “A Última Hora”.
À tarde estava eu já no ônibus, quando me lembrei que não me despedira do
Felippe. Voltei e me despedi dele.
Fui
até o apartamento da Da. Elsbett, não encontrando ninguém. Conversei com o
porteiro e fui até a igrejinha local, onde vi o Pe. Sérgio a batizar. No
edifício Prado há umas garotas tipo geração coca-cola das quais eu não
gostei.Apareceu a Da. Elsbett e apanhei com ela um retrato da Liz. Deixei um
bilhete para a Liz, desejando um Feliz Ano Novo. Saí com o Peter e conversamos.
Ele pretende seguir Arquitetura, dizendo que se soubesse que iria ser como o
Nyemeier ele se dedicaria inteiramente
ao estudo. Voltei para casa onde encontrei a mamãe, o Luiz e o Edison. O
Affonso chegou depois dizendo que Paquetá estava ótima. O Luiz e o Edison
comentavam as infidelidades conjugais existentes atualmente no mundo moderno.
02/01/58
– quinta – Fui à missa e comunguei. Em casa, depois de certa indecisão, mamãe,
Dilma e eu fomos para a barra da Tijuca.
Lá a família, graças ao Dr. Edgard conseguiu uns terrenos. O problema é a falta
d’água, de luz e de mantimentos. O ideal é se ter um automóvel para ir até lá.
A mamãe ia combinar com o José da Osmarina, mas ele havia ido para Paquetá.
Fomos até a Usina e lá tomamos o lotação errado, tendo de usar um táxi de
Copacabana ao Leblon. Lá na ilha dos Guaiamus, antiga Gigoia, vi alguns novos
edifícios de madeira e uma casa de alvenaria a ser construída. Há uma família pobre
morando no antigo barraco do papai. Tomei um banho na lagoa, consertei uma
porta e preparei a tinta para a mamãe. Dormi bastante. Vi que aqui é um ótimo
lugar para descansar. À noite, deitado na rede, cantei todo o meu repertório. A
mamãe ouvia do quarto. Em certo momento cantamos juntos músicas de igreja, como
o Hino do Congresso Eucarístico do qual ela tanto gostava. A noite estava muito
bonita.
03/01/58
– 1ª sexta-feira do mês – Acordei com o sol já um pouco alto. Aqui durante a
tarde venta até demais e à noite chega a fazer frio. Que diferença da praça
Saenz Peña. Peguei dois garrafões vazios de vinho e depois de ter discutido
quase uma hora e meia com a mamãe sobre a Liz, fui a pé até a Barra. A
caminhada é puxada mas eu a uso como exercício. Muito sol. Uma moça a tirar o
seu carro. Bananas. Caldo de cana. Pão. Barbante. Dedos doendo. Banho na lagoa.
À tarde um velho pescador cearense ficou a conversar, dizendo que tinha sido
católico mas que agora era crente. A mamãe começou a lhe dar uns conselhos.
Voltei para a nossa casa na Tijuca por dois motivos. Um para comungar e outro
pelo telefonema da Liz. Na Praça Quinze a fila estava enorme. Vi o Frank e o
Calomino. Graças ao Bom Coração de Jesus ao saltar em frente à igreja dos
Sagrados Corações e entrando vi o Pe. Nicolau que ia dar a comunhão. E já eram
19:50. Fiquei muito contente. Em casa encontrei a Raymunda. Tomei um bom banho,
jantei e esperei o telefonema da Liz. Logo soou o telefone. Era ela.
Conversamos e combinamos um encontro às 18:00 da segunda-feira. Fiquei muito
contente. Conversei com a Raymunda e a Maria José.
04/01/58
– sábado – Voltei para a ilha da Gigóia tendo tomado várias conduções para
chegar lá. Todos bem. Tomei banho de sol para melhorar a aparência. O Duca
chegou com o João Bosco. A lua estava muito bonita e eu fiquei a contemplá-la
da rede. Dormi bem cedo. Rezei o terço. Pensei no que diria no encontro.
Estudei alemão.
05/01/58
– domingo – Fui à missa na Pracinha da Barra da Tijuca. O padre falou na
grandeza do nome de Jesus e que neste mundo devemos considerar tudo como um
meio e não um fim. Fui com o João Bosco até a praia da Barra. Antes conversando
com o major Lira este me aconselhou a fazer eletrônica na Escola Técnica. Na
praia a água estava geladíssima. Fomos correndo. Pareceu-me em um dado momento
que morrera um indivíduo lá no quebra-mar. Não fui ver. Que Deus lhe dê o
céu! À tarde dormi. À noite cantei. Já
decorei uma frase em alemão: “Ich liebe dich sehr, heute und immer!”.
06/01/58
– segunda – Voltamos para a cidade: mamãe, Dilma e eu. Em casa consertei a
máquina de lavar roupa e a enceradeira da Maria José. Fui à missa das 10:00
onde um casal celebrou seus 25 anos de casados. O Pe. Nicolau falou-lhes em
espanhol, desejando que chegassem aos 50. À tarde passei o meu terno e ao me
despedir da mamãe ela não gostou de saber que eu pretendia ir a um cinema com a
Liz. Custei muito a chegar no apartamento da Liz. Só encontrei lá o Peter, a Bärbel e a Dona Elsbett. O Peter contou-me
que a Liz voltara para o antigo namorado, Carlos Madeira que todas as noites a
trazia de carro para casa após os shows. Voltei para casa muito chateado e
senti como a Aldaléa também deve ter sentido quando terminamos o namoro. “Quem
com ferro fere com ferro será ferido!”. “Qui gládio ferit gládio perit!“
Vejo
que foi melhor que acontecesse assim. “Fiat voluntas Dei!“ Em casa a mamãe me
perguntou: “Então, terminou?“ Fiquei admirado pois saíra de casa sem intenção
alguma de terminar e ela me faz essa pergunta! Ela me disse depois que sonhara
ou tinha tido alguma coisa a esse respeito. Fui dormir meio amargurado. Ah,
esses tempos de juventude!
07/01/58
– terça – Fui à missa e comunguei. Passei o dia ainda chateado com o que
acontecera na véspera.
08/01/58 – quarta – Fui com a tia Amélia e a
mamãe até a paróquia de Honório Gurgel visitar o mano Pe. José Maria. Falei
sobre o acontecido. Andei de automóvel. Visitei um clube. Falei sobre basquete
com uns rapazes. O Pe. José Maria deu-me uma relação de bons livros para eu dar
para a Liz. Não sei se devo dá-los. Na volta, em um dado momento a tia Amélia
ao descer do ônibus sentou na calçada. Desde o acidente que ela sofreu ainda
não se restabeleceu completamente. Lá na paróquia a raymunda está criando
galinhas, coelhos e pombinhos. Gostei de uma frase que li num dos livros do
José Maria: “A cada dia bastam os seus sofrimentos! “ Devo portanto esquecer os
contratempos passados.
09/01/58
– quinta – Fui à missa e comunguei. Conversei com o Pe. Boaventura que
considerou o que aconteceu comigo e a Liz, uma graça de Nossa Senhora. Fui à
cidade duas vezes. O Edison me disse que eu não soube prender a Liz.
10/01/58
– sexta – Fui para Paquetá na barca das 10:00. Lá encontrei todos bem: Oscar,
Risoleta, Margarida, Violeta, Anna, Oscarzinho e Zilda. Fui à praia onde nadei
um pouco. Sinto-me como alguém que acabou de sair de uma aventura e não quer
começar outra. À noite fui à Ponte.
11/01/58
– sábado – Aniversário da Zilda. Fui à missa no Preventório com a margarida.
Comungamos. Fui à praia onde fiquei um pouco distraído. Nadei. À tarde brinquei
com o Oscarzinho. Eu estava em cima do telhado consertando a antena quando
passou a Marta e eu a cumprimentei. Fui
à praia. Nadei. À noite a Risoleta e o Oscar comentavam o namoro da Anna com o
Élcio, achando que não era uma coisa boa para ela. A Anna porém está com o
coração já muito voltado para o namorado que ainda é estudante. Fui à Ponte
onde ouvi uns indivíduos a compor canções em homenagem a Paquetá. Dormi na
rede. Ontem a noite estava bem bonita sem lua e com muitas estrelas.
12/01/58
– Domingo da Sagrada Família – Fui à missa no Preventório. Depois fui até a
igreja do Bom Jesus onde me confessei, assisti a outra missa e comunguei. Vi
algumas garotas conhecidas. Vi a Pepei e seu namorado. O padre é um jovem
espanhol que fala muito bem e com facilidade. Rezei hoje pela família da Liz. O
rádio já está com músicas de carnaval. A Zilda a preparar o almoço. O pessoal
foi à missa. Fui à praia. Conversei com o Nelson, um jogador de futebol do
Clube Municipal. O assunto foi a política e a situação nacional. Vi uma garota
que a Anna queria me apresentar. Não simpatizei e não fui falar com ela. À
noite dei uma volta na Ponte.
13/01/58
– segunda – Fui à missa no Preventório. Fui à praia. A Marta veio conversar
comigo. Está bonita e continua com aquele jeito de doçura. Perguntou pelos meus
primos Ivan e Rubens. Disse-me que o Horácio lhe telefonara convidando para uma
festa. Perguntou pelo Felippe e sobre a minha situação. Contei-lhe o caso do
cadete Carlos Martins. Falei sobre a vida de um oficial solteiro em uma cidade
pequena. Vi a Sandra Miriam. À tarde lidei com os rádios. Fui à praia. Hoje
pela manhã telefonei para o Joélcio. Combinei que ele iria ao Ministério da Guerra e eu lhe
telefonaria às 19:00. Na Telefônica encontrei a Marta e uma outra garota que
também acho bonita. Conversei com o Joélcio que me disse as novidades relativas
às apresentações e à viagem. À noite acompanhei o Oscar sobre as providências
contra ladrões de poita e de barcos. Rezamos o terço e ainda passei pela Ponte
querendo encontrar a Cléa. A Margarida me disse que a tinha visto na ilha.
14/01/58
– terça – A Margarida não quis me acordar para ir à missa dizendo-me que eu
estava roncando. Fui então à igreja da
Ponte. Praia. Tora. Praia. Vi a Cléa. Quase que não a reconheci, pois está bem
diferente, muito maquiada. Cumprimentou-me mas quando fui falar com ela, ela
não parou. À noite rezamos o terço em casa. Fui à Ponte. Fiquei sentado em um
banco sem conversar com ninguém. Vi a Cléa de novo. Quando comecei a conversar
ela pediu licença e voltou para a casa dela. Conversei com o Oscar sobre a vida
em Curitiba. Como sempre fui dormir na rede.
15/01/58
– quarta – Fui à missa do Preventório e comunguei. Fui à praia. Conversei com a
Célia, minha prima, filha do tio Françu, que me chamou. Ela estava com a irmã
do Tem Luiz, que vai para Crateús. Conversei com uma garota que mora na rua
Desembargador Izidro. Depois fiquei sentado a olhar as pessoas na praia. Nadei e me fui. Torei. À tarde ainda fui à
praia e depois fui para o Rio na lancha “Brasileirinha”. A Maria Luiza guardara
o lugar para mim. Não cumprimentei a Cléa. Fiquei em pé na parte de trás da
lancha. Flertei com uma moça que fumava mas não deu certo um convite para ir a
um cinema. Ela mora no leme. Na praça Saenz Pena comprei a revista Cinelândia.
O Edison me pagou um copo de caldo de cana. Disse-me que gostaria de ter uma
profissão liberal. O Affonso chegou. Havia sido aprovado em Química e passado
para o 3º ano.
16/01/58
– quinta – fui à missa. Confessei-me com o Pe. Boaventura. Fui ao Ministério da
Guerra. Encontrei vários colegas. À tarde a mamãe chegou de marica, com a
Dilma. Faz calor! Voltei para Paquetá com o Affonso. Boa viagem. Levei umas
bananas verdes para a Risoleta. O Oscar com suspeita de que descobriu a poita
roubada. Bonitas garotas na ilha. À noite o Affonso e eu conversamos com uma
garota que fumava. Falava baixinho e disse que era namorada do Betinho, que
passeava em um automóvel feito com três rodas de bicicleta. No final nos deu o telefone
88. Vimos a Cléa mas não conversamos com ela. Assistimos todos aos programas da
Liz na TV. Decepcionou-me com aquela sua voz ao cantar. O Oscar não gosta nada
da tal de Virginia Lane. Fomos dormir.
17/01/58
– sexta – Aniversário do Oscar. 46 anos! O motor não pegou. Fui à praia com o
Affonso e o Oscarzinho. Lá estava a Cynira, esposa do João, com as suas duas
filhas Carmen e Beatriz. Estavam também a Maria Luiza (filha da Osmarina), o
Luiz Felipe e o Manoel Afonso filhos do Elízio . A Isaura tomava conta do Luiz Cláudio, filho da Hilda. Fui até a
praia Pintor Castanheto e depois à Ponte. À tarde dormi. Fiz alguns trabalhos
caseiros. À noite voltei à Ponte.
18/01/58
– sábado – Experimentamos o motor. Nada. Chuva. Pria. Tora. Ponte. Televisão:
luta do Luizão com o Archie Moore, no Parque do Ibirapuera, transmitida pela TV
Record e TV Rio. O americano, apesar dos seus 41 anos mostrou sua grande
classe, pois quase não saia do lugar, movimentando somente a parte superior do
corpo. Ganhou por pontos. O Luizão mostrou-se sempre rápido, mas pareceu fugir
a partir do 4º ou 5º round.
19/01/58
– domingo – Missa no Preventório. Pratiquei basquete com o Affonso. Fui à
praia. À tarde dormi. Calor. Ilha cheia. Sol. Basquete. Passeio. O Afonso foi falar
com uma tal de R., amiga da Ada. Praia. Conversei com a Martha e uma amiga sua
Vera, que estuda no Colégio Santa Úrsula e nada pelo Fluminense, namorando um
tal de Orlando nadador do Fluminense e estudante de Direito.
20/01/58
– segunda – Dia de São Sebastião. Basquete no Boogie-Wood. Missa na Ponte.
21/01/58
– terça – Dias chuvosos. Afonso e eu jogamos no Iate. Fomos à Ponte e hoje
conversamos com a Elisa, a Irene e a Vera. Vi a Cléa, bem diferente, dando a
aparência de uma menina contrária ao que parecia.
22/01/58
– quarta – Dia chuvoso.limpei a bicicleta do Oscar (Husqvarna). O Affonso
tentou adaptar a um motor de 5CV a parte elétrica de um de 10CV, mas faltou
peça. À tarde armei uma lona para as bicicletas. Assisti à TV com a Risoleta,
era um filme do Fernandel. O Affonso e
eu conversamos sobre a Física e os foguetes. Fomos à Ponte mas não
encontramos ninguém conhecido, exceto a dayse, porémainda não fomos falar com
ela. Não tenho rezado o terço pois ao deitar me vem um sono que logo eu durmo..
Assistimos à TV, programa da Norma Benguel.
23/01/58
– quinta – Missa no Preventório. A Natália tem ido à missa. Dizem que ela
gostaria de ser freira. Fui comprar pão. Vi o tio Moisés que ontem me disse
achar muito cara a diária na pensão. Fui à praia com o Affonso, que teve uma
luxação no dedo mínimo. Ficamos a conversar sobre estudo. Apareceram a Célia e
o Oscar. Nadei e fui com o Affonso até a Ponte para ir ao Rio. Lá encontrei o
irmão do Brito Fernandes. A irmã da Ruth Costalat esquiava rebocada por uma lancha
com dois rapazes. Li um pouco sobre jejum. Conversei com o Seu Nico, das
bicicletas, prometendo que ia me despedir dele antes de partir para Curitiba.
Na Praça Quinze tomei o bonde Tijuca. Apanhei
a fotografia do Aspirantado. Em casa encontrei a Maria José que está
esperando bebê para breve (Newton que nasceu em 01/04/58). A Patrícia estava
com a Dinah. A Lea estava com o Jorginho. Jantei com a Maria José e o Edison.
Fui a Santana para adoração noturna. Um Brigadeiro me colocou da meia-noite à
uma da madrugada. Enquanto um padre falava, eu cochilei. Estava com sono!
24/01/58
– sexta – Em casa ainda dormi um pouco. Fui até o Ministério da guerra, porém
ainda não começara o expediente. O Oscar voltou de Paquetá. A tia Arthemira
falando que o dinheiro é que resolve tudo e elogiou um filho da tia Martha que
vai ser da Marinha Mercante. A mamãe foi a uma reuni’~ao. Almocei mal. Ouvi
rádio enquanto a mãe dava conselhos. Fui de novo ao Ministério da Guerra onde
fui atendido por um Capitão Intendente que me disse ter um filho na AMAN. Vi o
meu nome no Almanaque do Exército. A Dilma e a Raymunda telefonaram. A irmã da
Dilma ficou meio louca quando teve gêmeos. Estou arrumando as malas. O tal de
Jimenez caiu. Comentam que foi conseqüência de ter mexido com a Igreja. O JK
vai resolver uma greve de marítimos. A carteira de motorista do Rubens vai sair
por 7 contos. Parece que o Horácio não passou para a escola naval. O Luiz
continua em Vitória. O Oscar veio de Paquetá para ver o carro e receber os
vencimentos.. Ele está de férias. O Edison pintou um carro que mandou fazer.
Fui dormir.
25/01/58
– sábado – Fui à cidade fazer compras e tratar de uns documentos. Na Loja
encontrei o Célio Borja e um tal de Baiúca. Encontrei também o tio Adrião e o
Lilito
(Francisco filho do tio Francisco e da tia
Francisca). Na volta eu não queria ir à Paróquia, mas acabei indo. A Raymunda
me mostrou as suas criações. Treinei um pouco no carro. Vi um sujeito com ares
de megalômano que vai ser topógrafo e dirige o time de basquete.Na volta
encontrei a Maria Helena em casa com os filhos dormindo.
26/01/58
– domingo – Fui à missa das 8. a mamãe foi à ilha da Gigóia com o Ronaldinho e
a Eliane. Tirei cocos. Conversei com a Maria Helena que arrumava a casa. Calor!
Ainda penso na Liz por incrível que pareça e com muitas saudades. É que a Maria
Helena fica a cantar a música que ela cantou naquela quinta-feira na TV: ”Eu
gosto do calor...Eu gosto ...”. A Maria Helena gosta de brincar com o Josué.
27/01/58
– segunda – O Pe. José Maria e a Raymunda vieram até em casa. Ele brinca com os
sobrinhos. À tarde voltei para Paquetá. Lá chegando, esperei alguém que viesse
comprar o jornal. Apareceu a Violeta. Fui a pé. À noite fui à Ponte com o
Affonso.
28/01/58
– terça – Chuva. O Affonso e eu temos jogado com a minha bola de basquete que
sempre conservo com graxa marron. A Zilda voltou da cidade.
29/01/58
– quarta – Affonso e eu limpamos os barcos, ajudados pelo Oscar e o Vitor. O
Affonso, o Vitor e eu fomos de barco até a Ponte. Remei quase o tempo todo. Na
Praia Grossa voltamos. O Affosno pagou sorvetes. Vi a Daise a jogar vôlei na
rua. Voltamos. As sobrinhas voltaram com o Horácio. Brincamos de basquete.
Praia. Um sujeito gostou da Martha. Conversamos, Affonso, Horaçio e eu na
calçada.
30/01/58
– quinta – O Oscarzinho ainda pediu pela rede nesta noite. Acordei cedo e fui à
missa, onde encontrei a Natália. A Margarida chegou atrasada.fui comprar pão.
Jogamos basquete. Praia. Vôlei. Despedidas. Agradeci à Risoleta, ao Oscar e à
Zilda. O Horácio, o Affonso e o Oscarzinho foram até a Ponte para a despedida.
Passou um cadáver para a lancha rabecão. Voltei conformado e contente com a
vida. Passei pelo Passarello onde encontrei o colega Ivan e um outro colega.
Pensei em assistir à TV hoje, porém estava com muito sono e dormi logo.
31/01/58
– sexta – fui até Niterói. Fui à praia. Nadei um pouco. Almocei e regressei com
duas malas. Fui à Central do Brasil, onde encontrei alguns Aspirantes. Apareceu
o Joélcio e tratamos da passagem. Disse-me que está gostando de uma campista
que já está no último ano de piano.também hoje eu dormi muito cedo.
01/02/58
– sábado – Fui à cidade onde comprei a capa apar a espada e o 2º volume do
Engenheiro da Globo, por Cr$600,00. Não encontrei o fotógrafo da Candelária,
Foto Darcy. À tarde dormi e fiz uns consertos. À noite também dormi cedo. Ainda
penso na Liz.
02/02/58
– Domingo da Septuagésima – Missa das 06:00. O Pe. Basílio disse-nos que
devemos fazer caridade. Os americanos lançaram o Explorer pelo foguete Júpiter
C às 00:00 do dia 1º. O Edison está em Paquetá e a Maria José em Botafogo. A
Maria Helena chegou de Niterói. Vai passar um ano. Dormi cedo.
03/02/58
– segunda – Fui à cidade onde me encontrei com o Joélcio, mas o Ministério da
Guerra estava fechado. Saímos a andar. Encontrei o Edmundo Roeder Sedilles, bem
vestido, que está na Escola Técnica do Exército. Disse que me escreveria sobre
o concurso. Falou que a noiva do Ortegaray não apareceu para casar. Que o
Fulgêncio Largaspada chorou muito ao deixar o Brasil. Encontramos os Sr. Jaime,
pai do Joélcio. Saímos a andar. Fomos nos apresentar. Encontrei o Taveira,
noivo e outros. O Ivan Souto também já está noivo. Arrumação.
04/02/58
– terça – Fui à Central do Brasil com o José da Osmarina. Ele já tem 10 filhos
e já vem outro.( João Luiz, Maria Violeta, Maria da Penha, Carlos Alberto,
Antonio Jorge, Alexandre, Maria Luiza, Fernando, Maria Helena, Paulo Roberto e
a Maria Teresa que ia nascer). Faltavam outros papéis. Voltei. Havia um erro.
Fui ao Ministério da Guerra. Graças a Deus resolvi tudo. Pensava em me despedir
da família da Liz, porém não tive jeito. À Noite choveu. O Luiz chegou do
Espírito Santo. Ainda fiz uns consertos em casa.O José veio na hora. Chuva
copiosa. O Joélcio apareceu com a sra. sua mãe Jalda, sua tia Jany, sua irmã
Jane e o sobrinho Ulysses. Alguns Aspirantes que também iam para o Sul,
apareceram. Boa viagem em leito na cabine 17-18 com o Joélcio. Recordações.
05/02/58
– quarta – Chegamos em São Paulo pela manhã. Táxi. Bagagens. O Joélcio e eu
encontramos o Gilfredo. Almoço pago por ele. Encontramos com o Felippe. Vai
comprar uma Lambretta. Que casualidade! Fomos para a casa do Gilberto. Ele está
com um carro Cônsul preto, 1951. Custou Cr$220.000, sendo que pagou Cr$100.000
em dinheiro e o resto em mercadoria. À tarde passeamos. Jantamos bem pizzas,
sendo muito bem tratados. Dormimos lá.
06/02/58
– quinta – Pela manhã nos despedimos. A Maria Helena e o Gilberto têm além do
Ricardo e da Gilda um caçulinha chamado Reynaldo. Fomos com o Gilberto emplacar
o carro. Fomos resolver quanto à passagem com o tenente Abreu que usava
suspensórios. Conseguimos um leito que o Joélcio atenciosamente colocou em meu
nome. Na loja do Gilberto o Joélcio resolveu telefonar para as antigas garotas
do tempo da EPSP. Embarcamos para Curitiba. Dormi até Itararé, de 17:10 até
03:30. Havia um major que já estava há 12 anos no Rio, paraquedista com 204
saltos, chamado Paranhos.
07/02/58
– sexta – Hoje a Liz está fazendo 20 anos . Que Deus e Nossa Senhora cuidem
dela. Entramos no Paraná. Pinheiros. Casas de madeira. Barro. Cabeças loiras.
Rosita , rainha do Carnaval em Jaguariaíva, alemãzinha. Castro. Chofer. Ponta
Grossa. Tora, bagagens e finalmente Curitiba, cidade sorriso. Estava chovendo.
O que iríamos fazer, o Joélcio e eu? Telefonar para o Henrique? Ir para um
hotel? Acabamos alugando um táxi. Boa conversa com o chofer. Enfim apareceu a
5ª Cia Com, no bairro do Portão. Rendição do sentinela. Espera. Apareceu o
Henrique. Onde dormir? Afinal fomos para o quarto do oficial de dia. Graças a Deus!
08/02/58
– sábado – Apresentações. O Cap Dirceu é o comandante da companhia. Outros
oficiais. Parada. Primeiras conversas. Assinar o livro na Casa das Ordens
(C.O.). Serei o comandante do Pelotão de Exploração. O 2º tenente R2 Ribas a
dar a Ordem Unida. Muitas funções. Comprei um par de tênis menor (42). À tarde
joguei basquete. Fui ver a cidade com o Henrique e o Joélcio. Muitos homens.
Bonito o Círculo Militar. Discussões com o Joélcio. Distraído em pedi canudinho
para tomar chope. Riram de mim com razão. Avenida principal. Encontramos o
aspirante Bueno de Infantaria, aspirantes de Intendência e de Artilharia. Uma
batucada na rua bem inferior à do Rio. Muita conversa com pouca variação de
assunto. Volta ao quartel. Batida de ônibus. Uma loirinha tipo Jane
Mansfield chamando alguém de ignorante.
09/02/58
– Domingo da Sexagésima – Fui à missa na igreja do Coração de Maria.
Confessei-me. Visitei o Pe. Augusto. Fui ao Círculo Militar. Encontrei o Otto
de Intendência e o Califa de Artilharia. Este me disse que já queria ir para o
Rio. Pessoas a tomar banho na piscina. Pelada de basquete. Conversa sobre
carnaval e garotas. Fui almoçar com o Pe. Pelayo e o Pe. Augusto. Antes passei
pela igreja da Ordem. Lá reparei numa loira a rezar. Quando ela saiu, eu como
já assistira à missa saí também e resolvi ir falar com ela. Aproximei-me e
perguntei se ela era de Curitiba. Disse-me que não, por que? Não tive muito o
que falar pois fiquei meio sem jeito. Afinal comecei a dizer quem eu era, pois
a isso levou ela a conversa. Ela me disse que iria fazer concurso para
odontologia e se chamava Lidja. É loira, alta e de olhos verdes. Combinei
conversar com ela à tarde. Voltei ao quartel. O Joélcio dormia e o Henrique lia
X-9. Antes conversei muito com os padres após almoçar muito bem com eles.
Graças a deus por tantos benefícios. À noite parecia qie ia chover com
trovoada, mas mesmo assim resolvemos sair os três. Eu estava muito atrasado em
relação à hora que marcara com a Lidja. Afinal me dirigi a pé, cortando
caminho.Escurecia. Cheguei a uma praça em que estivemos de manhã. Comecei a
andar a procura da rua onde me despedira. Andei muito e os pés doíam devido ao
jogo de basquete da tarde com o tênis apertado. Não encontrava a rua.
Recomecei. Nada. Rezei. Nada. Fiquei cansado. Sentei-me. Recomecei e finalmente
desisti. Tomei uma boa garrafa de leite e voltei para o quartel.
10/02/58
– segunda – Acordei-me às 06:10. Como comandante do pelotão de exploração dei
ordem unida, acelerado e educação física. Reunião com o tenente Mário Moreira
Leite. Joguei basquete (21) . À tarde fui me apresentar no QG, na rua Carlos
Cavalcanti. Fui ao Círculo Militar (CMP) e à Universidade do Paraná. Tomamos
água mineral. Parente do Bethlem. O major do trem (Paranhos) com um coronel
engenheiro civil irmão do Tourinho (aquele cabo da Patrulha em Resende) ( Obs.
Agora em 2002, acho que foi o Engenheiro Luiz Carlos Tourinho, pai e não irmão
do Luiz Fernando Tourinho que mais tarde casou com a Vânia Bizerril, já
falecida). Voltamos para o quartel. Conversa sobre a minha vida com o Joélcio e
o Tavares.Discussão em relação à vida social.
11/02/58
– terça – Centenário das Aparições de Nossa Sra de Lourdes. Parada matinal.
Senti-me mal à noite (intestinos) . Ordem Unida. Instrução com o tenente Mário.
À tarde com o cap Dirceu. Treino de basquete com os oficiais. O jogo foi um
pouco para a pelada e muitas faltas. Errei todos os lances livres. À tarde
recebemos o convite para jogarmos pelo time da Região Militar. Aceitamos. À
chegada vimos o treino da seleção feminina paranaense. Depois jogamos.
Começamos na marcação por zona e terminamos na individual, melhorando. Mas
perdemos.
12/02/58
– quarta – Ordem Unida. Assinatura dos cortes de cabelo. Instrução de estágio
de aspirantes da ativa. Educação Física. Cidade. O Henrique querendo comprar um
travesseiro. Fomos até a Universidade do Paraná. Fui à Biblioteca Pública a
qual muito admirei e me senti nulo diante de tantos livros e revistas. Comemos
uma pizza grande e outra pequena, mussarela. Fomos ao edifício Demeterco . Aula
de basquete. Deverei ser cronometrista do Campeonato Feminino. Tomamos uma
garrafa de leite cada um.
13/02/58
– quinta – Instrução de ordem unida. Os aspirantes, temos tido instrução com o
tenente Mário e o capitão Dirceu. Educação física: corrida. Teatrinho do
tenente Ribas. Fomos à cidade. A Sandra do basquete ficou intrigada com o meu
silêncio. Um projetista Edílson e um esportista João Carlos. O Joélcio e eu
ficamos admirados com a boa apresentação de um típico alemão chamado Horst que
foi o juiz da partida. Temos dormido tarde.
14/02/58
– sexta – Fui com o tenente Ribas até a granja da 5ª. Cia Com. Instrução de
tiro o dia todo. Notei a sensível melhora proveniente de uma melhor assistência
ao atirador. Gostei do meu tiro com o revólver Smith and Wesson .45.
15/02/58
– sábado - 46 anos da Raymunda. Peço a Deus que olhe com bastante cuidado para
ela. Instrução. Vacina. Passagem de carga. Dormi. Estou de permanência. Joguei
basquete. O Joélcio e o Henrique foram até o Círculo Militar. Fiquei no quartel. O sargento Osmir cumpriu
bem o serviço.
16/02/58
– domingo – Acordei cedo. Joguei basquete. Fui à cidade. Fui à igreja da ordem.
Vi o Pe. Augusto mas por causa da Lidja não falei com ele. Voltei conversando com
a Lidja Lemanczik. O meu almoço foi de 2 garrafas de leite. Conversei com a
Lidja em uma pracinha. Depois estudei português. Conversei bastante. Dona Lota.
Marta. A garota do capitão, Ivete. Saí às 20:30.
17/02/58
– segunda – À noite chegaram o Tavares e o Silveira que não via desde
anteontem. Estava dormindo e só ouvia as exclamações deles a meu respeito. De
manhã joguei basquete. À tarde passei rapidamente a minha calça e fui ao
Correio onde enviei uma carta para a Escola Preparatória de São Paulo e um
telegrama para o meu irmão Luiz pedindo a certidão de nascimento. Vou tentar
concurso para a Universidade do Paraná, se Deus quiser. Estudei Física com a
Lidja toda a tarde até escurecer. Passeamos pelo centro e comemos uma pizza e
bebemos soda limonada. Choveu. Levei-a até uma casa. Na volta encontrei o
Joélcio com o João Carlos e os aspirantes de Intendência. Fui dormir às 23:00.
18/02/58
– terça – Jogamos uma partida de basquete com quatro jogadores até 50 pontos.
Dia nublado. Tenho que fazer um plano de defesa do quartel. Escrevi uma carta
para o Affonso. Dormi um pouco à tarde até as 15:00. Temos pago Cr$20,00 por
refeição fora do expediente. Li um pouco e após o jantar fui visitar a Lidja.
Estou gostando dela mas sem muito intensidade. Passeamos um pouco. Chuva.
Estudamos Química durante uma hora. Ela me disse que saiu mal em Física.
Conversa. Garrafa de leite.
19/02/58
– quarta-feira de Cinzas – Acordei às 06:30 quando o Joélcio chegava do baile.
Disse-me que conhecera a Rainha do Carnaval passado. Tomei banho e saí com o
Henrique. Fomos à igreja do portão. Muita gente e pouca ventilação. Depois
fomos até a cidade. Confessei-me. Passeamos e voltamos para o quartel. Basquete
com os soldados. O tenente Aldo apareceu dizendo que ia faltar comida para os
soldados e que por isso tinha vindo ao quartel. À tarde dormi um pouco e depois
arrumei a minha sala. Dei uma saída e comprei um par de kedes. O Henrique foi a
um cinema. Fui com a Lidja até a Universidade do Paraná. Ela ia fazer o exame
de Química. Depois tive com o Joélcio uma aula de basquetebol com o juiz Riva.
Às 15:00 fui esperar a Lidja que me disse que saíra mais ou menos na prova. Fui
com ela até a pensão.
20/02/58
– quinta – Ordem Unida e educação física. Assinei um voto para a chapa amarela.
Preciso verificar bem depois.
21/02/58
– sedta – Dia todo de instrução. Pela manhã apareceram a mamãe, a tia
Maricas,
o Pe. Augusto, a Maria Helena, a Eliane, o Ronaldinho e a Anna. Fui falar com
eles. Voltei para a instrução, mas o Capitão Dirceu me disse que podia ir
atendê-los. Visitamos rapidamente o quartel. À noite fui até o hotel.
Conversamos bastante . Disseram que tinham passado 7 dias em Santos com o
Felippe. Que a viagem de ônibus tinha sido horrível e que em Santos tinha feito
muito calor. A tia Maricas queria que a mamãe fosse até Lages para visitar o
capitão Sólon, mas não conseguiu. Elas estão no
Palace Hotel, que de Palace só tem o nome. A Anna arranjou um outro
namorado em Santos, chamado Tomaz.
22/02/58
– sábado – Exame de Instrução do Período de Adapatação no quartel. À tarde fui
até o hotel. Passeamos. Comemos pizza. Fui até o Círculo Militar. Passei pela
casa da Lidja que me disse ser cinco meses mais velha que eu. Fiquei um pouco
confuso. Dormi às 23:20.
23/02/58
– 1º Domingo da Quaresma – Passei pela casa da Lidja e fomos à Igreja da Ordem
onde a apresentei a todos. Fui à missa das 09:30. Gostei da igreja e da missa.
A Lidja e eu comungamos. Voltei ao quartel. A Maria Helena me telefonou dizendo
que às 15:00 iriam até a granja dos padres. À tarde fui passear com a Lidja.
Fui até uma praça onde tomei um copo de chope e ela solda limonada. Conversamos
bastante. Ela me disse que nascera no Corredor Polonês e que a família dela
está na Alemanha Oriental. Que esteve na ilha das Flores. Que quase casou aos
16 anos. Que namorou um tal de Aristides. Que iria me ajudar a estudar. Que o
pai é muito econômico. Que a mãe esteve doente. Que estão morando em São Mateus
do Sul. Depois fui até o hotel onde conversei com o pessoal da família e comi
maçãs.
24/02/58
– segunda – Instrução de ordem unida. O Joélcio entrou de oficial de dia.
Passagem de carga. À noite fui até à cidade, mas esqueci a carta que o Josué
mandara para a Maria Helena. Voltei com ela. Conversei com o Joélcio.
Despedidas da mamãe, da tia Maricas, da Maria Helena e Anna. O Ronaldinho
dormia e a Eliane também.
25/02/58
– terça – Ordem Unida. Estou de Oficial de Dia. Passagem de carga. Novas
funções. Vacina. No almoço conversei com o Gedeão. Nestes dias já foram embora
o tenente Agenor Farias, o tenente Mário Moreira Leite e o tenente Aldo de
Farias. O tenente Ribas vai se casar amanhã. O Pelotão de Exploração tirou o 2º
lugar no exame do Período de Adaptação. O Joélcio foi até a Confederação
Paranaense de Basquetebol.Chuva. Fui dormir às 24:30.
26/02/58 – quarta – Manhã de instrução no
alojamento. À tarde chovia. Saí com o Joélcio e o tenente Mastrângelo.
Depositei Cr$10.000,00 no Banco Nacional de Minas gerais S.A. Espero que Deus
me ajude a fazer um bom uso desse dinheiro. Encontramos o João Carlos. Visitei
um apartamento onde havia um oficial intendente, um capitão artilheiro e um
outro. Queriam que nós alugássemos por Cr$2.000,00. Visitei um alfaiate, Sylvio
Moraes. Cortamos o cabelo. Fui ver um treino de basquete feminino. A Delcy no
final veio conversar comigo. Perguntou-me se eu iria jogar pelo Círdulo Militar
e disse-me que gostava do meu jogo. Disse-lhe o mesmo sobre o jogo dela. A
Sandra brinca muito. O dia todo chuvoso. O Joélcio e eu compramos
guarda-chuvas.
27/02/58 – quinta – Instrução. Instrução.
Chuva. Chuva. À noite fui até ao Atético para treinar como cronometrista porém
faltava uma tabela. Assim mesmo treinei com o Clodoaldo Nielsen (Camelo)
Cheguei no quartel às 22:00.
28/02/58
– sexta – Instrução de funcionamento do mosquetão. À tarde apitei um jogo de
oficiais e sargentos jogando depois um pouco não tendo esquentado errei alguns
arremessos. Um sujeito queria que o ajudássemos, porém não foi possível. O
Joélcio e o Henrique saíram com o capitão Dirceu. Estou de Oficial de Dia.
Visitei o Pombal. Ah, se a Raymunda pudesse ser o oficial de Columbofilia, como
gostaria de tratar daqueles bichinhos. Praças jogando pelada e o Toshioshi
dando serviço todo compenetrado. Faz um friozinho gostoso. Termino assim o 2º
mês de 1958. Conclusões: Tenho já uma garota com quem conversar, é a Lidja.
Tenho me esforçado para dar boas instruções aos soldados. Espero jogar basquete
pelo Círculo Militar e estudar durante este ano, se Deus quiser. Mamãe esteve
aqui em Curitiba e peço a Deus que ela faça uma boa viagem à Europa. Revi o
pessoal lá de casa, graças a Deus!. Tenho o Pe. Augusto que é meu padrinho,
aqui em Curitiba. Ainda não metodizei a minha vida. Falta-me um objetivo fixo.
Entretanto confio em Deus e em Nossa Senhora.
01/03/58 – sábado – Ordem Unida. Dei jogos
para os soldados tendo sido cronometrista e apontador como treinamento para a
noite. À tarde dormi um pouco e saí com o Joélcio que dava exclamações a torto
e a direito. Curso de Arbitragem da Confederação Brasileira de Basquete foi a
nossa ocupação. Um senhor de óculos, Seu Mello, Ivan Raposo, Moriah e outros.
Fomos até o Círculo Militar do Paraná, porém logo voltamos. Comemos cachorro
quente e fomos para o ginásio do Atlético. Fui o cronometrista e o Joélcio o
apontador. Após este jogo houve a abertura do Campeonato Brasileiro de
Basquetebol Feminino. Iniciou-se com o jogo entre as cariocas e as paranaenses.
Gostei muito do jogo da Marta, da Marli e da Marilene. A seleção carioca venceu
bem. Fomos dormir às 24 horas. Dor de cabeça.
02/03/58
– domingo – 2º da Quaresma – Fui até a igreja do Portão. Assisti a metade de
uma missa e ao começo de outra. Saí às
07:45 e voltei para o quartel tendo comprado limão, melhoral e um pente. Estou
de Oficial de Dia. Está faltando água. Dormi um pouco à tarde e à noite
preparei as instruções. Fui dormir à meia-noite.
03/03/58
– segunda – Instrução.À noite fui cronometrista do jogo entre cariocas e
paulistas. Saí-me bem, graças a Deus. Já o apontador teve que agüentar as
reclamações do técnico das cariocas Charles Borer quando da saída da Marta com
5 faltas. Fui dormir à meia-noite. O Joélcio hoje me apresentou à sua namorada
Miriam Muller.
04/03/58
– terça – Instrução. Ginástica acrobática. À noite fui conversar com a Lidja
que graças a Deus passou no exame para a Faculdade de Odontologia. Disse-me que
estivera muito contente ontem e que já levara os primeiros trotes como caloura.
Conversamos bastante. No ônibus pensava que não gostava dela talvez por ter
entrado em contato com outro tipo de mulher como a Maria Helena Cardoso,
jogadora paulista, mas no final da noite vejo que estou gostando muito da
Lidja. Voltei às 10:30. Hoje faz 4 anos da morte do papai! Requiescat in pace!
05/03/58
– quarta – Saí para uma pequena marcha de 8 km. Na volta assisti a uma aula do
Capitão Capelão. Estou de Oficial de Dia. Li um pouco sobre Caxias. Vejo que é
uma figura bem venerada e digna de grande culto por parte dos brasileiros. O
Henrique chegou. Jantamos juntos e conversamos sobre a vida que levávamos. Depois
dormi um pouco. Eram já 20:30. Mais tarde fui preparar as aulas de amanhã. Fui
dormir às 24:00.
06/03/58
– quinta – Dia cheio. Instrução.
07/03/58
– sexta – Dia de instrução. À noite fui assistir ao jogo cariocas x paulistas,
sendo vencedoras as cariocas. As paulistas cometeram faltas desnecessárias.
08/03/58
– sábado – Instrução. Treino de basquete. À tarde dormi um pouco. E fui
conversar com a Lidja. Pretendia ir ao Atlético porém fiquei com ela até as
23:00. Frio e carinhos.
09/03/58
– 3º Domingo da Quaresma – Fui à missa das 09:30 na igreja do Rosário, dos
jesuítas. Missa bonita com órgão e coro. O padre falou-nos sobre a comunhão.
Não comunguei mas a Lidja confessara-se e comungara pela manhã. Conversei no
jardim com ela e após longos assuntos cheguei à conclusão de que seria melhorar
eu conversar com ela somente pela manhã de domingo e assim eu me despedi,
sentindo já um pouco de saudade. Fui almoçar com o Pe. Augusto levando um jarro
de mel. Depois de uma boa conversa voltei para o quartel onde dormi um pouco e
depois ainda joguei basquete, indo jantar às 19:15.
10/03/58
– segunda – Estou de Oficial de Dia. Instrução. Recebi três cartas de casa: da
mamãe, da Maria José e do Affonso. Gostaram da Lidja. À tarde fui convidadopara
o Pentatlon Militar mas eu não aceitei por não me achar em condições. Treinei
basquete. O Capitão Lybio King também jogou. O jogo não foi bom. À noite
preparei instruções, fiz a ronda e fui dormir.
11/03/58
– terça – Instrução de Ordem Unida na qual o Joélcio e eu unimos os pelotões de
Construção e de Exploração. Saiu bom. Graças a Deus. Na educação física dei a
série básica a 5 repetições. À tarde instrução de Infantaria (IBM), faxina
(campo de futebol). Basquete. Jantar e tora. Levantei-me às 23:15.
12/03/58
– quarta – Acordei às 06:30. Instrução de Ordem Unida. Instrução no campo.
Progressão. Instrução sobre as Comunicações. À tarde houve faxina preparando o
quartel para o dia 15 de março aniversário de fundação da 5ª Cia Com. Não pude
fazer o que queria lá na cidade. Treino de basquete. O Joélcio saiu. Pedidos de
soldados. Estive na sala do Departamento de Educação Física.
13/03/58
– quinta – Instrução pela manhã. À tarde faxina. Rotina.
14/03/58
– sexta – Faxina. Instrução. Às 15:00 treinamento para o desfile de
apresentação da Bandeira à tropa. O Joélcio é o porta-bandeira. Regi a canção
da Engenharia. À noite fui pintar árvores com uns soldados ( Cavassin, Mário e
João), porém uma forte chuva nos surpreendeu. Fiquei no departamento de
educação física a encher bolas e forçando o braço direito.
15/03/58
– sábado – Aniversário da 5ª Cia Com. Acordei bem cedo (04:50). Chovia. O Pe.
Capuchinho celebrou a missa no alojamento. Não houve comunhão. Chegou o Sr
General Comandante da 5ª Região Militar. Desfile. Visita às dependências. Show.
Competições. Graças a Deus tudo deu certo. Os nossos sargentos ganharam dos da
5ª Cia de Intendência. O Pelotão de Exploração ganhou no futebol e nós os
oficiais ganhamos no basquete do CPOR, após muito tempo atrás no marcador.No
final eles ficaram com 3 jogadores. Foi um grande dia e até o rancho dos
soldados foi muito bom. Visitaram-nos os aspirantes da 5ª Companhia de
Intendência e almoçaram conosco. Sou o Oficial de Dia. Graças a Deus tudo
correu bem. No jogo arremessei muitas bolas tendo errado muito. Acho que foi
porque havia forçado o braço direito na véspera. Espero melhorar muito,
entrando agora para o time do Círculo Miliatr.
16/03/58 – domingo – Fui à missa. Não
encontrei a Lidja. À noite porém conversei com ela na Praça Osório. Falamos bastante.
Fui dormir um pouco tarde.
17/03/58
– segunda – Hoje é o dia do aniversário do meu irmão Luiz Carlos. Que Deus lhe
dê muitas graças e à família que chefia! Dia de instrução.
18/03/58
– terça – À noite joguei pelo time Paraná Esportivo.
19/03/58
– quarta – Dia de São José. À tarde saí com o Tavares para fazer compras.
Comprei uma japona e um bandolim. Também trouxe um par de kedes. À noite falei
com a Lidja, com quem já me encontrara antes. Tivemos algumas frases não
alegres mas um pouco verdadeiras demais., porém no final saí pedindo que ela
não ficasse triste.
22/03/58
– sábado – À noite fui conversar com a Lidja. Conversamos bastante na praça em
frente à Universidade do Paraná.
23/03/58
– Domingo da Paixão – Fui à missa na Igreja do Portão, onde infelizmente não
gostei da personalidade do pároco. Acho que deve ter entrado n a rotina. Que
Deus abençoe a todos os fiéis do bairro do Portão!rei de serviço de oficial de
dia. O adjunto é o Sargento Plombon. Ele é bem antigo no quartel. Já fez muita
coisa mas andou bebendo e infelizmente tem um aspecto triste. Respondeu à
parada com capacete, túnica de brim e sapatos pretos! Fala um tanto confuso.
Que Nosso Senhor endireite esye homem e salve a sua alma! Tirei os tempos de
alguns soldados na corrida. Por incrível que pareça ainda penso na Liz.
Mudamo-nos o Joélcio e eu para o quarto onde está o Henrique. A Lidja
telefonou. Falei um pouco em inglês. Chuva. Bandolim. Preparar as instruções. É
a rotina da vida de quartel! Pedi a Deus para orientar a minha vida.
24/03/58
– Segubda-feira da Paixão – Instrução. Dia normal como tantos outros. Acordei
com um ruim “bom-dia”, pois o nosso quarto amnheceu todo alagado. Falara com o Sargento de Dia para que ligasse a
bomba d’água mas uma das torneiras ficou aberta. Conclusão: trabalhei bastante
até que os soldados vieram me ajudar.
01/04/58 – terça – Estou no Hospital Geral de Curitiba desde o
dia 29, sábado à tarde. Estava a 5ª Cia Com lá na granja fazendo um exercício
de longa duração. Na realidade já atrasara um dia pois o Cmt, Capitão Dirceu
não gostara da arrumação das mochilas na manhã do dia 27. No final da instrução
de Minas e Armadilhas ao ajeitar uma boneca de pólvora junto com um acionador
de pressão, este deve ter funcionado somente com o peso da tábua que eu
colocara em cima ocasionando a queima
rápida da pólvora. Fiquei com os dedos queimados. Veio muita dor. O soldado
Mechon é que me atendeu, sendo muito prestimoso. Fui de viatura até o quartel e
depois até aqui acompanhado pelo Tenente Muller. Para suportar a dor eu vim com
a mão dentro d’água num capacete de aço. Na terça-feira p[assada eu fui campeão
pelo time de basquete Paraná Esportivo, graças a Deus! Já vieram me visitar o
Capitão Dirceu, com uvas, maçãs, pêras e jornais, os sargentos Santinor, Barbosa
e Trindade, osargento Osmir com um
nortista boêmio, e os soldados Jorge e
Reinold Stephanes, todos no domingo. Na segunda não recebi visitas. Aqui
existem freiras que tratam muito bem. Há um oficial R-2 doente muito nervoso
(Mário) com a mãe. Há vários sargentos e soldados. Está quase pronto o novo
pavilhão, muito bonito. À noite tive uma agradável surpresa, pois a Lidja veio
me visitar acompanhada do Araldo, estudante de Engenharia. Fiquei muito
contente. Tenho lido muto bons livros. Um falou sobre as almas do Purgatório. É
do Monsenhor Ascânio Brandão. O outro sobre a vida de Madre Maria Teodora de
Voirou, da Congregação de São José. Outro do Monsenhor Henrique de Magalhães
“Aos que sofrem...”e um outro sobre a vida do Pe. Miguel Agostinho Pró, mártir
mexicano. Tenho pensado em muitas coisas e em Deus. Agradeço a Deus ter-me
propiciado esta semana de meditação e paciência. Que as benditas almas do
Purgatório descansem em paz!
02/04/58 – quarta – Dia muito
bonito. Fiz novo curativo. Pensava em voltar para o quartel mas o Dr, Durval
não me liberou. Este médico é do tipo baixo, tendendo a engordar e fuma
cigarros “Douradinhos”. Perguntou-me se eu era do Rio, de que bairro e de que
rua. Aproveitei um pouco do sol. Fui à Cap[ela onde fiz uma rápida Via-Sacra. O
Asp Joélcio me mandou os objetos que eu lhe pedira. Os sargentos Ramos, Miranda
e Walfrido vieram me visitar. Logo depois chegou a Lidja de saia branca e blusa
azul. Fiquei muito contente. Estava no meio da conversa quando chegou um
funcionário com o jantar. Eram 16:10! Jantava quando chegou o Henrique.
Conversamos bastante. Disse-me que o serviço está de um dia sim e outro não,
mas que amanhã acaba. Chegou ainda o Tenente Ribas com um sobrinho. Depois se
foram o Henrique, o Ribas e o sobrinho. Fiquei com a Lidja. Ainda conversei
bastante. Ela conyou-me o filme: “Marcelino, Pane, Vino”. História de um
menino, doze frades e Jesus Crucificado. A Lidja me disse que pensa na mãe
doente. Achei-a um pouco pálida mas estou gostando muito dela e muito contenet
fiquei nas horas em que com ela estive. Às 18:15 já estou só no quarto.
Penso... Devo orientar b em a minha vida. Amor com amor se paga! Jesus deu a
sua vida por mim. Não posso ser ingrato. Ele nos deu um exemplo de humildade e
generosidade e eu não posso ser diferente. Quero ser um ótimo católico. Quero
agradar a Deus e ser um bom filho da Mãe do céu. Para isto: oração, trabalho e
generosidade. Após uma leitura rápida do livro do Mons. Magalhães para copiar
as frases mais originais, comecei a ler o catecismo do Mons. Cauly. Detive-me
mais nas partes referentes à Eucaristia. Após rezar o terço fui dormir.
03/04/58 – quinta – Também um
dia muito bonito. Poucas pessoas no hospital. Banho de sol. Conversa com o
mecânico eletricista. Com o doente nervoso e sua mãe. Continuo a ler o
catecismo de Nons. Cauly. Vejo como é b ela a religião que os meus pais me
deram. Graças a Deus por tão grande graça! À tarde, às 16:00 voltei à Capela
(muito bonita) e assisti à Santa Missa celebrada por um frade bem barbudo. Comunguei.
Leitura. Conversa com um 1º Tenente da Cia de Manutenção. Religião. Terço.
04/04/58 – Sexta-feira Santa
- Meditei sobre a morte de Jesus e fiz votoos de melhorar na vida
espiritual. Apareceu o Joélcio.
Conversamos bastante. Disse-me que a semana foi puxada. Que o Pelotão de
Exploração está dando muitas alterações. Que terminou o serviço de Oficial de
Dia. Que a Shirley sua namorada tem saído muito nos jornais. Que o Cmt não está
gostando de eu demorar tanto aqui. Que os pais dele vão para o Rio. Que ele e
os soldados têm praticado atletismo. Que lhe oferecem carros para vender. E que
tem dormido muito. Deixara o Henrique na igreja e viera me visitar. Deixou-me
Cr$100,00 emprestado. Fiquei muito satisfeito com a visita. Fiz um horário para
a minha vida e espero seguir. À tarde fiz a Via Sacra mas me senti meio
distraído.Li certos artigos da Military Review sobre uma futura guerra. Penso
na transformação havida desde o tempo de Jesus. Quantas guerras, quantas
intrigas, quantas bobagens. E pensar qua a qualquer momento pode vir mais uma
guerra. Quanta miséria não ocasionará. Quanta dor. Ainda bem que apesar de
nossa inclinação para o Mal, Deus nos acena com a Vida Eterna após uma vida
para o Bem. Fiz uma oração. Li o catecismo, rezei o terço e fui dormir.
05/04/58 – Sábado de Aleluia
– Dia bonito. Andei um pouco pelo pátio, fiz o curativo e vi que, graças a Deus
estou ficando bom. Gostaria de dar alta hoje mas o médico não veio. Consegui
entretanto voltar para o quartel. As irmãs é que ficaram sem o ajudante da
missa de amanhã. No quartel encontrei o Joélcio e o Tavares deitados,
descansando. À noite após o jantar fui cortar o cabelo, enviei cartas para casa
(mamãe e Affonso) e passei pela catedral. Fui interpelado por uma mulher na rua
mas logo encerrei a conversa. Dormi pelas 23:00 enquanto o Silveira e o Tavares
foram até o Círculo Militar. E por hoje é só. Muita vontade de ficar bom da
mão, jogar basquete, estudar, rezar e namorar.
06/04/58 – Domingo da
Ressurreição – Acordei cedo. Tomei um bom banho de sol e li um pouco de um bom
livro. Após saí e fui até a Catedral e assisti ao Pontifical de Dom Elboux.
Demorou duas horas e vi que o Tavares não estava habituado a tanto. À saída
encontrei o Tenente Ribas e esposa. Tomei injeção e voltamos para o quartel. Os
soldados Stephanes e o 112 foram pedir a bola de basquete. O Tavares ficou
aborrecido e o Silveira e eu rimos muito.
Li no jornal Voz Do Paraná que o Exército dos Estados Unidos lançou no
dia 26 de março o terceiro satélite americano, Explorer III que tem 2 metros de
comprimento e 13 kg de peso. Dá uma volta ao redor da Terra em 121 min com uma
velocidade de 28.800 km/h.
À tarde eu saí e passando
pela igreja do Portão fui assistir à missa mas não deu para entender o que o
padre falava. Fui visitar a Lidja. Estava jantando. Conversei com o Barnabé
sobre estudos e esporte. Fui com a Lidja até o jardim onde conversei bastante
com ela. Achei-a parecida com a Ester Williams. Falei sobre muitas coisas,
inclusive sobre a Liz. Deu-me um presente de Páscoa, um coelhinho branco com
ovos de chocolate. Mostrou-me o missal que mandara encadernar, ficou muito bom.
Disse-lhe que em retribuição lhe daria também um missal. Voltei para o quartel
muito contente.
07/04/58 – segunda – Às 04:45
o Tavares se levantou. Vai hoje para Ponta Grossa com o Cap Dirceu para uma
manobra. Coloquei o 6º uniforme e fui até o hospital. À tarde dei instrução e
fiz alguma coisa no PC, mas como a mão esquerda está enfaixada, isto me
dificulta um pouco. Ã hora do Boletim Interno, punições. À noite estudei inglês
e português e conversei sobre a nossa vida com o Joélcio.
08/04/58 – terça – Coloquei o
6º uniforme e fui até o hospital. O sargento tirou tudo da mão e fiquei
esperando bastante um ofício com o atestado de origem , mas aproveitei o tempo
estudando inglês. Comprei um livro de alemão, envelopes e papel de carta. À
tarde dei alguma instrução.
09/04/58 – quarta – À tarde
fui até o hospital de onde saí com ordem de voltar na segunda-feira. Ainda
estou sendo considerado baixado, mas prefiro voltar para o quartel. À tarde fui
à cidade onde fiz várias compras, paguei a Cibrasil, mandei Cr$15.000,00 para a
mamãe e fui assistir ao filme Marcelino, Pane
y Vino., muito interessante. Fui com a Lidja. Voltei depois para o
quartel muito contente, graças a Deus.
10/04/58 – quinta – Dia
normal de instrução. Já voltei a jogar basquete, graças a Deus. À noite não
consegui seguir o horário. Fui dormir muito cedo e toquei bandolim, querendo
tirar a música do filme, mas não me lembrava de tudo.
11/04/58 – sexta – Dia normal
de instrução. Faltou-me tempo em uma, tendo eu atrasado a educação física. Dei
instrução para sargentos. A Lidja me telefonou, tendo eu só falado em inglês.
Queria que eu fosse sábado, mas eu só vou domingo porque tenho muito que fazer.
Conversei com o Tenente Pascenda. A minha caneta Parker 61 caiu pela 2ª vez
no chão. De ponta e ficou bem ruim. Que falta de cuidado a minha! Estive
na quarta-feira lá na Universidade do Paraná onde conversei com o Capitão King,
o Barnabé e o porteiro. Pretendo entrar no próximo ano. Quero estudar muito
neste ano se Deus quiser.
12/04/58 – sábado – Ontem fui
dormir um pouco tarde, 23:30 pois fiquei estudando no PC. Hoje acordei às
06:50. Preparei as instruções e ia fazer um exame de motorista, mas me achei sem
condições. Recebi um cartão da Maria José em que me participava o nascimento do
Newtinho no dia 01/04/58. Quis puer erit iste?Que o Senhor o proteja por toda a
vida e depois lhe dê a recompensa. À tarde joguei basquete com o soldado
Linhares. O Neves telefonou. Conversei bastante com ele pelo telefone. Mais
tarde apareceu o Joélcio e conseguiu ainda ligar para o Manoel Neves. Este veio
até o quartel e nos contou a vida lá em Rio Negro, dizendo que é muito dura e
que está custando a se ambientar. Disse-me que o Jael também se queimou e se
encontra no Rio. Que o Galaor escreveu dizendo que o Horst está dando suas
voltinhas de jipe, que o Gonçalves está trabalhando duramente no Nordeste, que
ele fizera um campo de futebol e uma piscina em um rio, mas que as curvas não
fechavam. Que a obra em Rio Negro já está quase terminando e que depois irão
para Sorocaba. Veio até Curitiba, pois o Mesquita e o Medeiros é que estão de
serviço. Depois ele saiu com o Silveira, sendo que este ia ao baile do
Curitibano (Maísa Matarazzo). Hoje um soldado, Israel Pinheiro recebeu a
notícia de que três irmãs dele faleceram em um desastre. Que Deus as receba no
céu e dê conforto ao soldado. Rezei o terço e fui dormir.
13/04/58 – Domingo in Albis-
Acordei às 07:00 e fui até a casa da Lidja onde encontrei o Barnabé. Fomos até
o Duque de Caxias e depois até o Thalia. Lá encontrei o Capitão King. Depois
fui de novo até a Pensão de onde saí com a Lidja. Conversei com ela bastante
até umas 14:00. Não fui conversar com o Neves. Voltei para o quartel. Chuva.
Dormi. Fui à missa. Haviam chegado o Capitão Dirceu, o Asp Tavares e os
soldados do Curso de Formação de Cabos (CFG). Jantei com o Tavares. Toquei
bandolim e ele gaita. Preparei a instrução e fui dormir.
14/04/58 – segunda – Fui ao
Hospital. Não consegui receber alta. Voltei. Ao almoço conversas frívolas. Hoje
fiz uma boa corrida de 14km do Portão até o centro da cidade, na Praça Ruy
Barbosa. Frio. 17º C. À noite toquei bandolim.
15/04/58 – terça – Fui ao
Hospital. O Joélcio foi até a granja para instrução de tiro. À yarde preparei
perguntas. À noite fui até o Círculo Militar onde treinei basquete como pivot
do time reserva. Estou cumprindo o programa de basquetebol, graças a
Deus!.Frio!
16/04/58 – quarta – Ordem
Unida. Fui de novo até o Hospital, conseguindo a alta para amanhã, graças a
Deus!Escrevi uma carta para a Maria José.
17/04/58 – quinta – Marcha de
24km. À noite treinei basquete no CMP. Estou ruim.
18/04/58 – sexta – Dia
normal. À noite assisti às aulas do Curso Superior de Cultura Católica. Muito
sono. Encontrei os aspirantes Manoel Neves e o Mesquita. Foram dormir no
quartel. Preparei uma alocução sobre o Caxias. Fui dormir à meia-noite.
19/04/58 – s;abado – Exame
dos soldados sobre IBM, Instrução Básica Militar. Li ao microfone. Dormi
bastante à noite. Estou cansado. O Henrique foi ao Rio.
20/04/58 – 2º Domingo de
Páscoa – Fui à missa com a Lidja. Conversamos bastante. Vejo que cada vez estou
gostando mais dela. Já penso em casamento. Deus é quem sabe. Fiat! Tirei 5
fotografias dela. Fui almoçar com os padres Augusto, Raymundo e Pelayo. Bom
almoço. Levei-lhes uma lata de biscoitos. Falaram sobre a Espanha. Voltei para
o quartel. Deitei na cama às 16:00 e só levantei no dia seguinte às 09:30.
21/04/58 – segunda- Tiradentes
– Li muita coisa nos boletins informativos. Lavei roupa. Almocei. Toquei
bandolim. Escrevi uma carta para a mamãe.
22/04/58 – terça –
Aniversário do meu sobrinho e afilhado Ronaldinho.
27/04/58 – domingo – Páscoa
dos Militares. Tudo saiu quase bem. Basquetebol. Não fui falar com a Lidja.
Mais tarde ela me telefonou dizendo que iria ao Chá de Engenharia com o Araldo.
Disse-lhe que aproveitasse. Nesta semana em duas noites fui dormir mais tarde,
02:30 e 03:00. Fui às aulas de Cultura Católica e não fui ao treino de
basquete. Muito trabalho e pouco tempo.
28/04/58 – segunda – Dia
normal. Educação Física. Monitor de ginástica básica. Instrução. Fichas
biométricas. Peso. Telefonema da Lidja.
29/04/58 – terça –
Encarregado de um Inquérito Técnico sobre pneus que se desgastaram antes do
tempo. Basquete no CMP.
30/04/58 – quarta Fui à
cidade. Comprei a partitura da música do Pablito Hidalgo Calvo: “Marcelino,
Pane y Vino”. Toquei de camisa. E mandei revelar um filme. Fui encontrar com a
Lidja na Faculdade de Odontologia. Não conversei direito com ela. Fiquei
dizendo frases como esta: “Considero namorar perda de tempo!” Afinal ela não
foi à aula de alemão e fomos até uma outra praça perto da pensão da Dona Lota.
Conversamos mais ainda mas eu via que eu ia terminar a qualquer momento pois
não sentia mais atração alguma por ela, achando defeitos nela. Afinal fomos até
a pensão de onde depois de certo tempo me despedi, deixando o missal outra vez
com ela e dizendo que voltaria no domingo.Disse-lhe que eu estava um pouco
desorientado. Saí pela rua a caminhar e a cantarolar. Comprei “O Globo” e comi
pizza. Tomei uma vitamina e voltei para o quartel. Penso que assim foi melhor,
pois me sinto mais aliviado.Posso viver mais independente. Aliás isto já me
ocorreu quando a Liz terminou comigo, quando eu terminei com a Aldalea e agora
me sucede o mesmo com a Lidja.Não me sinto bem preso a alguém.Quero ser livre.
Quero trabalhar sem me preocupar com mulher em que fico achando alguns
defeitos. Talvez isso seja egoísmo, mas penso em chegar ao Rio livre como
antes, se Deus quiser. Vejo que a Lidja já está gostando muito de mim e que eu
acabaria gostando dela, apesar dos pequenos defeitos que todos temos.
Porém mais tarde poderia acontecer que
já não conseguisse vencer o meu desgosto. Será que eu estou agindo errado?
Espero que o Divino Espírito Santo me ilumine e me mostre o caminho certo. Agora
reli o diário e vejo que ainda gosto da Liz. Ainda não consegui uma outra
pessoa que apague esta lembrança. Entretanto a Liz oferece tantas dificuldades.
Acho que com ela talvez viesse a acontecer o mesmo. É que ainda leio no jornal
que ela está trabalhando na TV-Rio, às quartas-feiras. E mais mês se acabou!Ad
maiorem Dei gloriam!
01/05/58
– quinta – Acordamos já com o sol em cima. O Henrique e eu fomos jogar
basquete. O Joélcio dormia. Bom banho de sol. Os soldados jogavam futebol.
Alguns faziam peso e outros jogavam basquete com o Stephanes e o Honório. À
tarde dormi bastante. O Joélcio saiu.. De tarde o céu escureceu. Estou no PC. Penso
na mamãe que já está viajando e no jogo que terei hoje à noite.. Quero ser um
bom jogador de basquete se Deus o permitir. Quanto aos estudos estou parado.
Falta-me tempo pois tenho muitas missões: Comandante do Pelotão de Exploração,
Columbófilo, Bibliotecário, Oficial de Tiro, Oficial de Educação Física, Gabinete Fotográfico, e tenho que receber
cargas e efetuar inquéritos. Aos poucos com a ajuda de Nossa Senhora vou
cumprindo essas missões. Além disso estou jogando basquete pelo Círculo Militar
e fazendo um Curso Superior de Cultura Católica. O tempo que sobra aproveito
para descansar, tocar bandolim e ir à missa aos domingos, ainda com a Lidja.
Não terminamos ontem porque ainda não sei se é um sentimento passageiro. Para o
final do ano pretendo estudar bastante. À noite fui até o Círculo Militar. Lá
troquei de roupa. Nós os jogadores tomamos táxis e fomos até a quadra do
Atlético. Perdemos o jogo para a Sociedade Thalia. Saí com cinco faltas. Regras
novas. No Círculo tomei um guaraná caçula e comi um sanduíche. Voltei tarde
para o quartel. É bom sofrer uma derrota no início para um reajustamento.
02/05/58
– Saímos um pouco atrasados para a Granja. Realização dos tiros:4, 5 e 7. O
Joélcio está resfriado. À noite ainda fui até a aula de Cultura Católica.
03/05/58
– sábado – Dia chuvoso. Educação Física. Cantamos a canção da 5ª Cia Com pela
primeira vez, após a Educação Física. À tarde lavei roupa e arrumei as coisas.
À noite saí para jantar. Assisti à Benção na Igreja do Portão. Cantei bastante.
Fui dormir cedo. O cantor Cauby Peixoto está em Curitiba. A Maysa Matarazzo já
esteve.
04/05/58
– domingo – Fui à missa na igreja do Rosário com a Lidja. Conversei pouco.
Comunguei. Chuva. Convidou-me para ir a uma choppada no Atlético. Declinei do
convite. Estou um pouco insensível em relação a ela. À saída pedi-lhe desculpas
pela minha falta de generosidade. À tarde dormi bastante.
05/05/58
– segunda – Dia normal. Estou tendo instrução com o Capitão Dirceu.. À noite
toquei um pouco de bandolim e deitei-me um pouco. Só levantei-me no dia
seguinte.
06/05/58
– terça – À noite após tocar bandolim fui até o CMP. Joguei pouco.
07/05/58
– quarta – Instrução sobre Zona desenfiada. Falei sobre Ozório. Ataque e
Defesa. Recebi uma cartinha da Maria José dizendo que houve muita choradeira
quando a mamãe partiu. Disse que o Felippe está namorando uma moça de 16 anos.
Disse que está querendo conhecer a Lidja. Escrevi uma carta para ela enviando
uma fotografia da Lidja e outra do Padre Augusto. Cortei o cabelo. Paguei a
Cibrasil. Ouvi um professor falar sobre Shakespeare, mas não entendi nada. À
saída perguntei a uma mocinha se havia entendido e ela me disse que sim. Voltei
para o quartel. Conversei com o Sérgio. Tomei uma limonada e fui para o PC.
08/05/58
– quinta – Fui até a Granja onde com o Joélcio, demos instrução de tiro aos
soldados. Na volta a viatura parou por falta de gasolina. Ouvi uma conferência
do Coronel de Cavalaria Barcelos do CPOR sobre Manuel Luiz Ozório. À noite fui
até o CMP de onde fui jogar no Atlético. Perdemos do Curitibano por uma cesta.
Joguei o tempo todo e me lembro de ter cometido alguns erros na marcação,
fazendo faltas, errando lances livres e os arremessos de jump mas estou
contente em poder continuar a jogar basquete. Na volta esperei o ônibus sentado
na meio-fio.
09/05/58
– sexta – Dia normal. Dei instrução de baioneta. À noite assisti a duas aulas
do Curso Superior de Cultura Católica. Achei o professor de Teologia Dogmática
muito inteligente.
10/05/58
– sábado – Dia de Osório – Fui até o CPOR. Lá encontrei com o Geovanni e muitos
oficiais. Assisti ao desfile. Depois o Joélcio e eu fomos até o QG mas estava
fechado. O Joélcio já conhece bastante gente. À tarde dormi, sendo que às 16:30
estávamos no CMP para ouvir uma conferência sobre Osório. Muitos oficiais. A
Lidja telefonou dizendo que ia para São Mateus do Sul. Estou agindo friamente
com ela pois não estou sentindo atração mais. Estou pensando em terminar. Deus
é quem sabe.
11/05/58
– domingo – À noite fui à missa n a igreja do Portão. Depois fui falar com a
Lidja. Achei-a bonita. Fiquei admirando a sua beleza. A noite também estava
muito bonita. Conversamos até 21:45. No quartel o Henrique já dormia. Depois
chegou o Joélcio.
12/05/58
– segunda – Ontem pela manhã joguei basquete. O Joélcio dormia, descansando de
um baile. O Henrique foi à missa. Hoje amanheceu um dia muito bonito. Pela
manhã Ordem Unida e Baioneta. À tarde preocupações administrativas.
13/05/58
– terça – Educação Física, jogos. À tarde preparei perguntas para a
verificação. Missão para junho: Inspeção. À noite não fui ao treino. Muito
trabalho.
14/05/58
– quarta – Foi criado o Oficial de Faxina. O primeiro foi o Joélcio. Preparei
os alvos para o tiro.
15/05/58
– quinta – Ascensão do Senhor – Fui para a Granja com o CFG. Foram obtidos bons
resultados. Senti dor de cabeça por causa do sol no capacete. Fui à missa na
igreja do Portão. Fui ao CMP mas não houve treino.
16/05/58
– sexta – Exames dos soldados. Fiquei a providenciar as coisas com o Sargento
Albino Plombom que entende muito de tudo. À noite fui às aulas de Teologia
Moral, Dogmática e História da Igreja. Na última aula sempre durmo.
17/05/58
– sábado – Presidi ao exame dos cabos. À tarde pensei muito em comprar uma
Lambretta. Dormi. Telefonema rápido da Lidja. Fui para o PC. Dormi às 22:45.
18/05/58
– domingo - Fui à missa com a Lidja.
Tirei várias fotografias com ela e coma Vilda. Carinhos... Voltei para o
quartel. Dormi. Basquete. Ao jantar o Sargento Barbosa apareceu com o filho.
Fui para o PC. Novas missões. Acho a minha vida um pouco irregular. O que está
errado?
Semana
de 19 a 24 de maio de 1958 – Nesta semana fiz muito esforço. Duas vezes dormi
após as 24 horas. Na granja fiquei muito tempo na chuva e sem japona. Não saí
do quartel. Estou levando uma vida como a de cadete. Ao pensar nisso fico
contente pois noto que não tenho perdido tempo, graças a Deus! Tenho descuidado
porém da oração pois quando vou dormir já estou muito cansado. Recebi uma carta
da Maria José me aconselhando a falar com a Lidja. Entretanto não posso mudar,
pois nem para tocar bandolim acho tempo. Não fui à aula de Religião. Não joguei
basquete. O tempo tem estado chuvoso e tem feito muito frio.
24/05/58
– sábado – Feriado militar da Batalha de Tuiuti. Acordei às 08:00. Os três
aspirantes a conversar. Dia frio e chuvoso. Tomei café e depois saí. Coloquei
uma carta para a Raymunda no Correio. Visitei as lojas. Ontem recebi
Cr$8.700,00. Cheguei a sentar em uma motocicleta, mas não a comprei. À tarde
dormi bastante. À noite escrevi uma carta para o Felippe.
25/05/58
– Domingo de Pentecostes – Fui à missa com a lidja. Comungamos. Conversamos.
Frio. Voltei para o quartel onde almocei e depois fui para o PC. À noite
conversei com o Sérgio sobre o futuro de nossas vidas e comentei com ele sobre
o meu plano de fazer a Faculdade de Engenharia e depois a Escola Técnica do
Exército. Sentia uma certa saudade do Rio. Fui para o PC de onde saí às 23:00.
26/05/58
– segunda – Dia úmido e chuvoso. Dei uma instrução e no resto do dia fiquei a
preparar os pneus para o técnico que vem amanhã. O Comandante Capitão Dirceu
ficou no quartel após as 17:00. Fui para o PC.
27/05/58
– terça – Dia úmido e chuvoso. Estou numa vida burocrática só recebendo
material.À tarde o Tenente Nelson Querido veio ver os pneus. Depois fui com ele
até a Polícia do Exército. Conversamos sobre a Escola Técnica do Exército.
Cafezinho. Rifa. Pneus. Jipe novo. Voltei para o quartel. À noite dei uma boa
arrumação no chão do PC. O Joélcio falou por rádio amador com os pais.
28/05/58
– quarta – Recebi material. À tarde houve expediente. Conferi a carga do
Departamento de Educação Física. O sol hoje resolveu aparecer.
29/05/58
– quinta – Continuo na vida burocrática. À noite fez muito frio, 5º C, e eu
resolvi não ir treinar.
30/05/58
– sexta – Muito frio. 3ºC.
31/05/58
– sábado – À tarde joguei basquete, dardo e futebol. Fui ao CMP em vão. E assim
cheguei ao final de mais um mês. À noite, antes de pegar no sono, ouvi a
conversa do Joélcio e do Henrique sobre mim. Disseram que eu era um bocado
enrolado, muito confuso, etc. Gostei de poder ouvir uma crítica sincera sem que
os críticos soubessem.
01/06/58
– domingo – Fui à missa das 09:30 com a
Lidja. Confessei-me e comunguei. Tiramos fotografias e conversamos muito.Ela me
disse que não gostara da semana pois ao cortar cadáveres sentira uma repulsa.
Disse-me que chorara durante a semana pensando nos pais e nestas aulas de
anatomia. Voltei para o quartel, comprei uma pizza mas esfriou. O dia de hoje
está muito bonito e a noite de ontem foi de lua cheia. Penso na mamãe que está
viajando e na família que está no Rio. À tarde deitei-me um pouco e dormi até
tarde. O Henrique voltou da rua. Tomamos chá e após ler o livto do Pe. Geraldo
Kelly “Juventude, Sexo e Moral” fui dormir. A lua hoje está muito bonita!.
02/06/58
– segunda –Ordem Unida. Instrução. Educação Física, etc.
03/06/58
– terça – Na realidade completo hoje 22 anos graças a Deus! Dia normal.
Burocracia. Fichas de Tiro. Hoje o CMP jogou com o Thalia e perdeu por 1 ponto.
Não fui lá pois não sabia da existência desse jogo.
04/06/58
– quarta – Oficialmente hoje completo 22 anos. Olhando para trás revejo o
caminho que percorri. Quantas quedas, quantas saídas fora do trilho. Quanto
estudo, quanto esporte, orações, alegrias e tristezas. Rio. Itaipava. Paquetá.
Sítio.São Lourenço. São Paulo. Petrópolis. E já sou Aspirante a Oficial do
Exército Brasileiro. Mas não estou contente. Não quero parar. Deus há de me
ajudar a percorrer esta trajetória que me há de conduzir ao máximo. Ad Astra! Durante
o dia de hoje houve expediente normal. À tarde recebi um radiograma do Oscar.
Saí. Comprei uns cadernos e caneta. Comi doces e pizzas para comemorar o meu
aniversário. Ia comprar um Missal para a Lidja mas não encontrei. Fomos os três
Aspirantes verificar o título e eu depois ia falar com a Lidja mas ela estava
com a família de passagem por Curitiba. Tomei mate com o Paschenda.
05/06/58
– quinta – Corpus Christi – Pie Pelicane, Jesu Domine! Jesu quem velatum nunc
adspicio, oro Fiat illud quad tam sitio, ut Te revelata cernens Facie visu sim
beatus Tuae gloriae. Tibe se cor meum totum subjicit quia Te contemplans totum
déficit. Senhor, hoje quero agradecer-vos tão grande dádiva de vossa bondade!
Quero cumprimentar-vos neste dia e dizer que eu não quero vos magoar.Amor com
amor se paga. Quantas vezes não vos dedignastes
de entrar em minha alma. Quantas vezes me fortalecestes contra as
tentações do meu inimigo. Peço-vos hoje aos meus 22 anos que eu sempre vá ter convosco. Quero ser
vosso amigo, amigo sincero e generoso. Senhor, às vezes sou tentado a vos negar
como São Pedro. Peço-vos que nestas horas eu seja na realidade um homem e um
caráter com têmpera. Adoro Te devote
latens deitas quae sub his figuris vere látitas. O esca viatórum Iesu Domine!
Pela
manhã entramos em forma e o Sr Cmt disse-nos que não haveria expediente. Joguei
basquete. O Joélcio andou de motocicleta. À tarde descansei e à noite fui à missa na Catedral, às 18:30. Encontrei
o Guilherme Guimbala. Depois me dirigi ao CMP. Joguei contra o Curitibano.
Ganhamos por uma cesta, (70x68). Os pais da Lidja foram de viagem para a Alemanha. Fiquei
contente em termos ganhado do Curitibano. Fiquei mais confiante em mim. Hoje me
confessei e comunguei.
06/06/58
– sexta – Dia normal. À noite fui à aula de Cultura Católica.
07/06/58
– sábado – À tarde jogamos basquete, o Joélcio, o Sérgio e eu, com alguns
soldados. À noite fomos jantar para comemorar o meu aniversário. Foi muito bom.
Foram: a Lidja, a Miriam Muller e sua irmã Marli, o Sérgio, o Joélcio e eu.
Depois conversei com a Lidja, sempre com os meus problemas. Ela me disse que
também às vezes pensa em terminar comigo guardando o seu amor para alguém que
na realidade goste dela. Eu fico indeciso achando que sob certos aspectos ela
seria uma esposa ideal.
08/06/58
– domingo – Acordei às 08:00. Treinei basquete durante toda a manhã. À tarde
deitado, conversamos com o Manoel que viera de Rio Negro. Disse-me que iria
casar no próximo ano. Brincaram comigo dizendo que eu iria casar logo com a
Lidja. Depois que o Manoel foi embora, dormi. Ouvi depois o jogo Brasil x
Áustria, do qual o Brasil saiu vencedor
pela contagem de 3x0 (Mazzola, Nilton Santos e Mazzola). Fui à missa das
18:30 na igreja da Ordem com a Lidja. Encontrei o meu padrinho Padre Augusto,
que estranhou eu não ter aparecido na quinta-feira pois ela faz aniversário no dia 4.
Cumprimentamo-nos reciprocamente pelos aniversários. Assisti à Santa Missa tean
do comungado. O coro estava muito harmonioso. Conversei muito depois com a
Lidja tendo eu falado da hipótese dela voltar da Alemanha para casar comigo.
Dise-me que o pai, Sr, Bernardo quer que ela se forme e que lhe prometera um
Volkswagen na Europa. Sinto que estou gostando muito da Lidja pois vejo que ela
possui muitas virtudes. Ela também gosta muito de mim mas já me disse ontem
aquela frase que me fez pensar um pouco. Ontem ela me deu um cachecol muito
bonito. Fui dormir às 22:00.
09/06/58
– segunda – Ordem Unida. Educação Física. O soldado Osmar está correndo 6.000m
em 20’32”. À tarde saí com o Joélcio e o Sérgio. Tiramos uma abreugrafia.
Cortei o cabelo. Jantamos no quartel. Comentaram o fato de eu ter caído dentro
da viatura ao sentir uma freada brusca, dizendo que eu tinha perdido pontos.
Coversamos bastante e chegamos à conclusão que o máximo que poderíamos ajuntar
seria Cr$210.000,00. Falamos que estávamos perdendo tempo aqui na 5ª Cia Com.
Entretanto Curitiba nos proporciona muito de útil. Disse que queria aprender
rádio. Fui para o PC. Reli este diário. Li as Sagradas Escrituras.
10/06/58
– terça – Novo impulso!
15/06/58
– domingo – De terça para cá fui à cidade várias vezes: inspeção de saúde e
como Oficial de Educação Física. Encontrei o Guedes que quer ir para Suez. Hoje
domingo fui à missa com a Lidja. Comunguei. Ela me deu um um lindo álbum como
presente. Eu lhe dei um vidro de perfume. Foi pelo Dia dos Namorados no dia 12.
Não falei com ela pois fui treinar os soldados para a Corrida de São João. Ela
bem que gostaria de me ter visto fardado. Fica para outra vez. Eu agora não estou
ficando contra a Lidja. Acho que estou na fase em que a amizade verdadeira
aumenta gradativamente. Também pudera! Com tantos presentes só uma pedra não se
comoveria! Tenho corrido 6.000m. Estou gostando porque quero aumentar a minha
resistência. À noite dormi após conversar com o Sérgio e ouvir rádio. O Brasil
ganhou da Rússia por 2 x 0. À noite o Joélcio deu remédio ao Sérgio que estava
bem gripado.
16/06/58
– segunda – Tiro. Fui com o Joélcio que voltou antes. Consegui gastar toda a
munição. O 2º Tenente Ó de Almeida chegou ao quartel. O pessoal brinca comigo
dizendo que eu vou casar logo com a Lidja. Olho para o futuro meio incerto.
17/06/58
– terça – Recebi uma carta do Brás Defilipo.
18/06/58
– quarta – Vejo que continúa o mesmo Brás. Sua carta parece uma divagação
filosófica! Nesta quarta-feira não houve folga à tarde. Manutenção do material.
19/06/58
– quinta – Manutenção. Corrijo provas. À tarde Instrução Básica de
Qualificação. O jogo Brasil 1 x País de Gales 0, foi irradiado pelo
alto-falante do quartel. Fui ao SAM/5. Oficiais a ouvir o jogo. O Tenente Fraga
me atendeu. Hoje está fazendo muito frio. Sinto os pés gelados. Só no PC é que
a temperatura é quente.
20/06/58
– sexta – Instrução. Treinamento dos corredores. O soldado Ferreira tirou o 1º
lugar com 19’22”. Tempo frio! À noite fui às aulas do Curso Superior de Cultura
Católica.Interessante a teoria marxista no aspecto de como também nela existe
uma filosofia. Graças a Deus há uns pontos errados e eixte a força do
espiritual a negar esse materialismo. A Santíssima Trindade, um mistério. O
Filho procede do Pai. O Espírito Santo, do Pai e do Filho. A Inquisição e os
comentários falsos. Voltei de ônibus com o Joélcio.
21/06/58
– sábado- Instrução e Educação Física. À tarde comecei lendo uma carta da Maria
José em que me felicita pelo aniversário e me diz estar muito contente com os
seus dois filhos e que o Edison vai ser
professor. Que deseja um carro e um apartamento. Que a mamãe está na França. Já
comprou um relógio mas ainda não o rádio do Joélcio. Enviou lembranças para a
Lidja. Arrumei a Biblioteca com o soldado Adélio. Lavadeira. Biblioteca. Jantar
com o Henrique e o Tenente Paschenda.
22/06/58
– domingo – Pela manhã esporte. À tarde dormi. Fui à missa com a Lidja.
Conversamos. Vi o soldado Jorge à paisana. Voltei para o quartel.
23/06/58
– segunda – Dia normal.Tirei fotografias da equipe que correrá no dia de São
João.
24/06/58
– terça – Hoje haverá corrida de São João. À noite fui de viatura com os
sargentos Barbosa e Noronha. O Subcomandante Ó de Almeida e o Joélcio foram
fardados. O nosso primeiro colocado foi o Eloy Biguinas seguido do Elyoncio de
Pinto Ramos e do cabo Braggio (46º, 48º e 60º) . Foram uns 130 corredores. A
nossa equipe foi de 18 corredores e o sargento Barbosa correu. Havia uma
fogueira no quartel.
25/06/58
– quarta – Houve expediente durante todo o dia.
26/06/58
– quinta – Livros cargas e biblioteca.
27/06/58
– sexta – Manutenção. À noite fui às aulas de Cultura Católica.
28/06/58
– sábado – Manutenção. À tarde arrumei o PC. À noite conversei com o soldado
Arzírio. Toquei bandolim.
29/06/58
– domingo – Dia de São Pedro. Acordei cedo. Joguei volei e futebol. Ouvi o jogo
Brasil 5 x Suécia 0, (Vavá, Vavá, Zagalo, Pelé e Pelé). O Brasil foi o campeão
do mundo!!!
Um
cadete do 3º ano de Engenharia veio nos visitar.Depois do almoço fui para o PC
onde reli este diário vendo como passa depressa o tempo. Ainda penso na Liz.
Acho que o que sinto por ela é mais forte do que sinto pela Lidja apesar de
seus presentes e de todas as suas virtudes. Espero quando estiver no Rio ir
falar com ela. Devo estar com mais dinheiro que no começo do ano e não mais
entrarei em filas de ônibus.Às vezes penso que a Liz me abandonou porque certa
vez eu lhe disse que Cr$25.000,00 eu não ganharia senão como coronel. Será que
ela pensou que eu era rico? Nunca mais soube nada sobre ela. Espero que esteja
bem feliz e que ainda não tenha se casado com o tal de Carlos Madeira. Revendo
os diários antigos vi que em 1955 a Adalgisa Colombo, atual Miss Brasil era
concorrente naquele ano tendo perdido o título de Miss Cinelândia 1955 para Vilma Sozzi do Paraná. À noite fui
à missa com a Lidja, tendo comungado. Após a missa conversei com o Padre
Serafim que muito se admirou da minha altura. Falou da possibilidade de a Lidja
ficar com o irmão no Brasil e casar comigo. Falou no Seminário que está
construindo e na possibilidade de eu substituí-lo. Conversei bastante com a
Lidja e cheguei a ficar muito tempo sem falar, em virtude de ter dito certos
sentimentos provenientes de um egoísmo, mas que não consegui deter. Ela me deu
algumas fotografias e o gorro com a estrela de aspirante.No final me despedi
por uns 15 dias, pois ela irá a praia de Guaratuba. Pedi-lhe desculpas pelo
egoísmo, mas lhe disse tudo o que sentia.
30/06/58
– segunda – Inspeção de material de comunicações. Ordem Unida. Treinamento para
o 2º exame físico. Almoço com Majores. Inspeção na Seção Rádio: Rad 200 e Rad
300. Harmônios e condensadores. Sargento Plombom faltando. Bandolim. Mate. Ó de
Almeida falando em Rio de Janeiro, carro e mulher. O sargento Plombom apareceu.
Fui para o PC. Mais um mês terminou. Quase não tenho tempo de meditar um pouco.
Muito trabalho e muita responsabilidade.Gosto que assim seja, pois ao menos não
fico ocioso, evitando assim muitas coisas desnecessárias. Estou com 22 anos de
vida. Não quero estacionar, entretanto falta-me tempo para fazer outras ações
de aumento de ciência. Continuo querendo me formar em Engenharia Civil e depois
na EsTEx. Deus assim o queira para sua maior glória. Na última vez fiz ver à
Lidja que ainda não gosto dela muito. Sei que ela ficou triste mas preciso
abrir meu coração. Seja o que Deus quiser!
01/07/58
– terça – Preocupo-me com a inspeção de Material Bélico do dia 14 de julho. Que
Deus permita que tudo esteja pronto no dia!
02/07/58
– quarta – Exame físico para os soldados. O sargento Venson vai a Porto Alegre
como pentaatleta. À tarde trabalhei nas fichas de tiro e dei uma saída. À noite
toquei bandolim, estou melhor.
03/07/58
– quinta – Lista dos livros da biblioteca. Apareceu o capitão Lybio King.
Inspeção. Voleibol. Ainda não consegui estudar por fora.
04/07/58
– sexta – Fui até o Depósito de Armamento e Munição/5. O CPOR teve instrução na
Companhia. Fiquei triste em não me achar em condições de dar essas instruções.
Continuo me preparando para a inspeção do dia 14.
05/07/58
– sábado – À tarde joguei voleibol. Enviei uma carta ao Brás de Felippo pelo
cadete Paulo de Azevedo.
06/07/58 – domingo – Acordei às 0800. Fui
para o PC. Às 11:00 volei e basquete. Almoço. O Manoel de Rio Negro veio nos
visitar. Sesta. Bandolim. P.C. Os colegas saíram.
14/07/58
– segunda – Dia da inspeção do armamento. Por causa desta inspeção tenho
trabalhado muito., mas graças a Deus tudo saiu muito bem. O major Eloy e o
tenente Fraga examinaram tudo. O único erro foi a falta de um paiol de munição.
O major Eloy gostaria de já ter tirado um curso. Mudaram-se várias coisas no
quartel, tudo obra do tenente Hélio Casatle da Conceição, atual subcomandante.
15/07/58
– terça – Tendo dado instrução.
16/07/58
– quarta – Dei instrução pela manhã. À tarde os colegas saíram de jipe e eu
dormi bastante. À noite o sargento Valfrido consertou a minha caneta e estava a
consertar a máquina de escrever do sargento Leocádio. Conversando os sargentos
Plombom, Aleixo e o soldado Dirceu Deconto (117). O Parque em frente ao quartel
a tocar sempre as mesmas músicas pelo alto-falante. Recebi uma carta da Maria
José estranhando que eu não havia respondido à carta dela. Vou responder agora.
O soldado Vidal (118) batia à máquina de escrever.
17/07/58
– quinta– Instrução. Recebi uma carta da Lidja que se encontra em Guaratuba
dizendo estar com muitas saudades.
18/07/58
– sexta – Instrução. O Gabinete Fotográfico está funcionando porque os soldados
adidos voltam hoje para seus quartéis. O sargento Noronha está bem ativo.
19/07/58
– sábado – Dispensa geral. O Tavares está doente. O Joélcio e eu fomos levá-lo
ao hospital. Ontem chegou o tenente Ribamar. Às 11:00 houve um jogo de
basquete. Não foi muito bom. Ontem se formaram novos cabos. A conversa gira em
torno de dispensas. Eu gostaria de ir até o Rio mas tenho muito trabalho por
aqui. Peço a Deus que me dê forças para cumpri-lo do melhor modo. Ontem foram
soltos os pombos lá da cidade de Palmeira a 65 km de Curitiba. Alguns não
regressaram para o quartel. Tenho continuado a aprender bandolim. Fui dormir às
21:30.
20/07/58
– domingo – Pela manhã toquei bandolim. Às 11:00 tirei fotografias. Bom almoço.
O Joélcio ofereceu um bom vinho. Dormi. Estudei a RAD200. Fui à missa.
Confessei-me e comunguei. O padre falou sobre a necessidade de boas comunhões.
Jantei. Fui para o PC. Sinto-me ínfimo perante tantas obrigações e objetivos a
alcançar. Deus me ajude! Ainda sinto muitas saudades da Liz e um pouco da Lidja.
Tenho entretanto um espírito de paciência, pensando que mais tarde tudo sairá
bem. Jesus, muito obrigado por ter vindo a este pobre indivíduo. Peço-vos força
e auxílio. Confio em Vós! “Não desprezais aqueles que em Vós confiam!”AMDG!
21/07/58
– segunda e 22/07/58 – terça – Instrução.
23/07/58
– quarta – Preparei o tiro. O soldado Reinold Stephanes me ajudou muito.
Visitei o Sérgio no hospital. O Pegado lá estava. Missal da Lidja. Irmão...
24/07/58
– quinta – Tiro. Levei uma Rad200. Mamãe chegou lá no Rio vindo da Europa.
25/07/58
– sexta – Tiro.
26/07/58
– sábado – Instrução. O Joélcio a receber a carga do Departamento de Educação
Física. Ele foi ao Rio com o Ó de Almeida. À tarde conversamos o Sérgio e eu
com o Ribamar sobre a Engenharia Civil. Arrumação das coisas. A minha espada
está enferrujada. Sempre as mesmas músicas no Parque Odeon em frente ao
quartel. Até que hoje variou um pouco.
27/07/58
– domingo – Pela manhã toquei bandolim e joguei basquete. À tarde dormi, tendo
colocado um cobertor na janela para escurecer. Fui à missa com a Lidja. Está
bem morena e muito bonita. Voltei a gostar dela.
31/07/58
– quinta – Nestes dias dei instrução. Conversei com a Lidja na quarta-feira
estando cada vez gostando mais dela. Vejo que a Elisabeth Gasper é só tentação
e vaidade que não devem ser satisfeitas. Mais um mês que se foi com suas
inspeções e seus novos oficiais e quase todo longe da Lidja. Agora virá um novo
impulso para tentar a Universidade do Paraná. Age quod agis! AMDG!
01/08/58
– sexta – Tiro com FM Madsen na Granja.À noite perdi a minha ida até a cidade.
Não houve aula.
02/08/58
– sábado – Desfile com capacete e cinto por fora do quartel. Ordem Unida para
os sargentos.Fui até a cidade inscrever os atletas para a Corrida do Facho.
Sorteei os 15 com um Coronel cujo filho foi para Suez e um Sargento. À tarde
conversa com o tenente Ribamar cujas idéias coincidem com as nossas. Arrumei o
guarda-roupa e levei a roupa suja para a lavadeira.
03/08/58
– domingo – Acordei às 07:20. O Henrique está ruim dos intestinos. Fui para o
PC onde arrumei as coisas.Joguei basquete e corri 1.000m. À tarde dormi.Às
16:00 encontrei-me com a Lidja e com ela estudei alemão usando um livro do
Ribamar. Estou gostando cada vez mais dela. Dei-lhe um retrato grande em que
apareço com o uniforme de basquete da AMAN e segurando a bola com uma das mãos.
Fui à missa das 18:30 na igreja da Ordem. Conversei com o meu padrinho Pe.
Augusto que celebrou a missa e fez o sermão falando sobre o Evangelho de hoje:
o fariseu e o publicano. Ainda conversei muito com a Lidja. Deu-me umas balas
que fizera. Voltei para o quartel. O carro do Ó de Almeida já estava lá. O
Sérgio e o Joélcio dormiam. Na minha cama dois embrulhos. Não os abri supondo
ser o relógio e o rádio. O rádio do Joélcio estava ligado. Voltei para o PC.
Música no alto-falante do Parque Odeon.
04/08/58
– segunda – Dia normal com a sua rotina habitual. Estudo.
05/08/58
– terça – Dei hoje uma instrução sobre a transmissor-receptor RAD-300. Os
oficiais gostaram. À noite fui até o CMP onde joguei basquete com o Fritz, o
Kravitz, o Gilson e um outro de Aeronáutica.
06/08/58
– quarta – Dia de meio expediente. Fui esperar a Lidja à saída de sua
Faculdade. Vi uns cadáveres que servem para estudo. Possuem uma cor esverdeada.
A Lidja não me quis dar a mão achando que tinha micróbios. Dei-lhe um vidro de
perfume que recebera de minha mãe junto com o relógio Omega Seamaster e o rádio
Monitor que montara no Rio. Conversamos bastante.
07/08/58
– quinta – Estava programada instrução de tiro mas devido à chuva não houve. À
noite fui ao CMP.
08/08/58
– sexta – Houve instrução de tiro. Os poucos soldados deram o tiro de combate
nº1.
09/08/58
– sábado – À tarde consertei o meu rádio. Ã noite a Lidja me telefonou. Os
colegas saíram.
10/08/58
– domingo – Dia dos Pais. Acordei tarde. Preparei instruções. À tarde saí com
os colegas. O Ó de Almeida levou-me de carro. Estudei alemão com a Lidja. Em
dado momento senti muito frio. Conversei com o irmão dela e com um indivíduo
formado em Farmácia e Direito. Fui à missa com ela. Fui falar com o Pe. Augusto
que depois da missa me deu dois bombons. Voltei para o quartel onde ainda
preparei uma instrução para os oficiais ouvindo rádio.
11/08/58
– segunda – Ordem Unida e faxina. Treinamento para a corrida do Facho.Espero
que os corredores se saiam bem. O General Lott deve vir visitar o quartel. À
noite ouvi um pouco de música e fui estudar no PC. O cabo Stephanes ajudou-me a
trocar a lâmpada. Disse-me que fará exame para a Escola de Sargentos do Exército.
Estudei Descritiva, Álgebra e Análise Combinatória. Aproveitei estas linhas
para praticar redação. Fui dormir às 23:00.
12/08/58
– terça – Aniversário de minha irmã Maria Helena (26 anos). Como estamos às
vésperas de uma visita do Sr. Ministro da Guerra treinamos ordem unida. Os soldados do Pelotão
de Exploração ficaram com os braços esquerdos bnem doídos devido à prolongada
instrução com o mosquetão. Somente reclamou aquele soldado que ainda não
possuía uma completa formação. À tarde houve a faxina de última hora. Joguei
basquete e à noite fui ao CMP. Voltei conversando com o Fritz e o Kravitz.
Tomei vitamina e fui dormir à meia-noite.
13/08/58
– quarta – Pela manhã houve um treinamento demorado de desfiles e continências.
Logo em seguida continuou a faxina. À tarde conversei com o Sargento Edson e
depois fomos até a Seção de Reparação e Suprimento onde estudamos a RAD-300.
Jantei e fui para o PC. O Parque Odeon e sua músicas populares. Recebi um
telefonema da Lidja em que ela me disse estar com saudades dos seus parentes e
estava desiludida pois estudara muito e tirara nota 5. Consolei-a um pouco.
14/08/58
– quinta – Treinamento para a visita do General Lott. Os corredores do Facho
correram mal. À noite fui até o CMP. Joguei basquete. Fui dormir à meia-noite.
15/08/58
– sexta – Assunção de Nossa Senhora – “Benedicta es Tu inter mulieribus!” –
Meio expediente pois surgiu a notícia de que não haveria a visita. À tarde
dormi e fui à missa com o Sérgio. Confessei-me com o Pe. Raymundo que me deu
bons conselhos. Ajoelhei-me ao lado da Lidja. Conversamos depois. Cruzei com o
soldado 112-Leonardo à paisana.“Salve R.!”
16/08/58
– sábado – Continuou a faxina. Hoje houve um jogo inesperado contra o CPOR e
fomos derrotados. O Cel Edson Giordano de Medeiros e o tenente Pestana jogaram.
À tarde li revistas Manchete. Os colegas trouxeram um convite para o baile de
amanhã. Dedilhei o bandolim. Dormi ouvindo música pelo meu rádio a válvulas que
chamo de radiovás.
17/08/58
– domingo – Fui à missa à tarde na igreja do Portão onde me confessei. À noite
fui ao baile do CPOR com o uniforme cinza e dancei bastante com a Lidja. O Ó de
Almeida nos deu carona após o baile.
18/08/58
– segunda – Dia normal de instrução.
19/08/58
– terça – À noite treinei o pessoal do Facho. Fomos dormir às 03:00 da
madrugada.
20/08/58
– quarta – À tarde comprei um tênis.
21/08/58
– quinta – Aniversário da minha mãe (65 anos). Mãe do céu pedi a Nosso Senhor
que conceda muitas graças à minha mãe da terra! Instrução de tiro na granja. À
noite basquete no Círculo Militar. Deram-me um tênis muito bom.
22/08/58
– sexta – Tiro na granja. Fomei um bom banho de sol. À noite dormi e fui para o
PC. O Facho vem aí! Esta é a minha preocupação. Espero que Deus me ajude e
saiamos bem nesta corrida.
29/08/58
– sexta – Tudo já passou! Ficamos em 9º lugar entre 14 concorrentes, graças a
Deus! Não tenho falado com a Lidja. Não estou sentindo muita vontade de falar
com ela. Aliás uma amiga dela tem telefonado para mim. Estou contente em ter
transformado o meu rádio colocando um alto-falante mais potente. Fui promovido
a 2º Tenente. Viva! Já sou Oficial! A.M.D.G. Recebi um radiograma do meu primo,
cunhado e padrinho TenCel Oscar Marques de Almeida do Gabinete do Ministro da
Guerra! Tenho ido às instruções de tiro e dado aula aos Aspirantes R2: Raul.,
Luiz Fernando Muller, Tomaselli e Esmanhoto. A vida continua. Quero chegar à
perfeição, se Deus quiser! Tenho estudado rádio. Penso em montar um rádio e uma
televisão. Tenho me esquecido um pouco do estudo para a faculdade de Engenharia
mas ainda há tempo.
31/08/68
– domingo – Acordei e ouvi o vasvox ou radiovás como eu costumo chamar. O
sermão de hoje é aquele que diz: Ninguém pode servir a dois senhores! O dia
está frio! Almocei e voltei para a cama. Estou lendo o livro do Mons. Fulton
Sheen: “Vale a pena viver!”. Tenho gostado. Também estudo rádio. Fui à missa na
igreja do Portão, comunguei e fiqu - ei muito contente. “Jesus, donnez moi la simplicité et la confiance de l’enfant que vou prie!/ ”. Tomei o refrigerante Wimi com Sonrisal.
01/09/58 – segunda - Competição de atletismo
onde o meu Pelotão de Exploração perdeu para o de Construção, do Joélcio. À
tarde ordem unida, faxina e esporte. Recebi uma carta da mamãe. Graças a Deus
vão todos bem. A minha sobrinha Anna querendo terminar o namoro com o Tomaz.
Uma moça está gostando do Felippe. Ela e o Pe. José Maria fizeram aniversário.
Já começaram a construir o edifício de apartamentos no terreno nos fundos da
nossa casa na rua Dezembargador Isidro. A mamãe está querendo ir ao Rio Grande
do Sul em dezembro. Disse que no Rio muita gente está querendo me conhecer e
que está com muitas saudades de mim. O Luiz esteve em Belo Horizonte. À noite
escrevi uma carta para ela.
02/09/58 – terça – Pela manhã continuaram as
competições. O Pelotão de Exploração ganhou de 2x0 do Pelotão de Construção no
voleibol. Os sargentos competiram em atletismo. Tempo chuvoso. Acho que esta
manhã foi um pouco perdida. Fico com saudades do tempo de formação. À tarde
Ordem Unida. Fiz um concurso entre as Seções. Ganhou a seção do Centro de
Mensagens. Penso no jogo de volei de amanhã e nas competições de atletismo. À
noite fui para o PC. Saiu no Boletim Interno nº 196 de
hoje a minha promoção a 2º Tenente, em Portaria de 25 de agosto..
03/09/58 – quarta – Pela manhã houve a competição de
atletismo para oficiais. O Joélcio saiu em 1º lugar, o aspirante Tomaselli
em 2º e eu em 3º com 31 pontos. À tarde
sai com o Sérgio. Fiz compras de material de radio, pois pretendo construir um
transmissor de 15 watts da Monitor. Tive que tirar dinheiro do banco:
Cr$4.000,00.
04/09/58 – quinta – O Pelotão de Exploração foi o
campeão no futebol. Viva! Hurra!
À tarde Ordem Unida. Tenho oferecido guaraná aos que
se saem melhor. Aliás o Asp Raul e o Asp Luiz Fernando me têm ajudado neste
ponto.
05/09/58 – sexta – O Pelotão de Exploração foi o
campeão de basquete. Eu estava em um dia feliz. À noite fui assistir às aulas
de Cultura Católica.
06/09/58 – sábado – Treinamento. Limpeza dos
mosquetões. Falei sobre o Sete de Setembro. Chuva. À tarde dediquei-me ao
radio. Telefonei para a Lidja. Falei mal com ela perguntando o que ela queria
comigo. Fui muito orgulhoso. Na hora não vi o meu erro.
.
07/09/58 – Dia da Independência. A 5ª Companhia de
Comunicações desfilou motorizada. Dia chuvoso. À tarde os 3 tenentes dormiram.
Fui à missa das 18:30 na igreja da Ordem com a Lidja. Comunguei. O Pe. Augusto
falou sobre a fé que todos os brasileiros devem ter. Ser católicos de verdade.
Conversamos após a missa. Disse-me que recebera uma carta da mamãe ( a comadre
Bila), em que ela dizia que gostaria de voltar mais uma vez à Europa. Essa mãe!
Perguntou ele à Lidja se ela voltaria da Europa para casar comigo ao que ela
respondeu que não pois a vida dela era junto dos pais. Chovia. Comemos Kibamba
e bebemos guaranás. Em dado momento ela falou:”Por que você age assim comigo?
Você não acha que me tem tratado muito mal? Por que você falou aquilo no
telephone ontem? Olha, eu pensei bastante durante estas três semanas e resolve
terminar. Assim não pode continuar. Olha Paulo, continuou ela quando no portão
da casa da Da. Lota, você é muito orgulhoso. Você pensa que é irresistível . Eu
já tive algum prazer ao seu lado mas muito mais você me maltratou. Você ainda
pensa como criança. Eu penso que um homem de 22 anos já deve saber agir com
certeza. Tenho a impressão que você está habituado desde criança a essa vida de
quartel e não sabe agir. Eu nunca pedi nada a você. É claro que o fato de eu o
conhecer iria influir na minha vida. Você chegava e dizia: vai ao baile, dança,
se diverte!as é claro que eu não poderia fazer como você queria. Eu não entendo
é que você com seus princípios religiosos não notava como me tratava mal. Você
não sente o sofrimento dos outros. Resolvi portanto, após pensar muito no que
você fez comigo, terminar. Olha que eu não me envergonho de dizer que gostei de
você. Ainda gosto. Mas sei que pensando no modo como você agiu comigo logo o
esquecerei. Eu me preparei para este momento. Um dia você verá o erro que
cometeu. Você está iludido com a Elisabeth Gasper. Quando você falar com ela
ficará desapontado. Você não sera feliz, pois você não sabe agir direito…
08/09/58
– segunda – Ontem à noite a Lidja terminou aquele tipo de amizade que tínhamos.
Estou, portanto livre e independente com
o Brasil em 1822. Começo, portanto a relatar uma nova fase da minha vida. Eis
uns pensamentos desta fase: Quero: Dominar os meus sentidos e os meus
sentimentos, dar ordem ao caos dos meus pensamentos, refletir antes de falar,
ponderar as coisas antes de agir, aproveitar as experiências do passado, pensar
no futuro e, portanto fazer o melhor possível no presente. Trabalhar com ânimo,
sofrer sem me lamentar e viver de uma maneira irrepreensível e finalmente
morrer em paz, na esperança da minha felicidade eterna. Tudo isso com a ajuda
do Bom Jesus! Vis mea in labore! “Aquele que satisfaz o seu instinto sexual
fora do casamento quer tocando o seu próprio corpo para excitar em si mesmo
gozos impuros, quer tendo relações com mulher antes de se haver associado a
ela como esposa, é o algoz da própria
honra e da própria infelicidade, tanto para si mesmo como para os outros”
Monsenhor Thiamer Toth em O Brilho da Mocidade,
pág.32.
Começo
hoje o estudo para o concurso à Faculdade de Engenharia do Paraná, para evitar
a atrofia intelectual do Corpo de Tropa, completar-me em outro ângulo da minha
vida em que poderei ser útil a Deus e à Pátria. Estarei preparado para estudar
na Escola Técnica do Exército na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Continuarei a
treinar basquete no Círculo Militar do Paraná e no quartel. Estudarei rádio
para ficar entendendo bem. Cuidarei da parte religiosa freqüentando as aulas de
Cultura Católica, indo às missas dominicais e comungando. Cuidarei da saúde
comendo corretamente e fazendo educação física. Cuidarei da minha apresentação.
Em resumo, farei o máximo para conseguir a perfeição, seguindo o conselho de
Jesus: “Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito!”.
Os
colegas saíram às 23:15. Fui dormir. Acordei com a chegada deles. O Joélcio
dançara com a Lidja que lhe perguntara: “Cadê o Paulo? Não compreendo o Paulo!
Vou acabar me acostumando assim com ele. Ele estuda muito? Trabalha muito? Não
sei para que eu vim a este baile sem o Paulo!
O Sérgio dançou com a Miriam. Disse-me que não viera às 02:00 poeque não
encontrara táxi. O Joélcio colocou um cobertor na janela e dormiu. Acordei ruim
da barriga. Tomamos café, o Sérgio e eu. Fui para o PC onde escrevi uma carta
para a mãe da Elisabeth Gasper. Deus me ajude e que tudo dê certo. Dia cinzento
e úmido. À tarde fui à missa com o Sérgio. Cantei muito em honra de Nossa Sra
da Luz. Comunguei e depois fomos ao correio onde passei um telegrama para a
mamãe perguntando as condições de compra de um apartamento e coloquei no
correio a carta que escrevera para a mãe
da Liz, Da. Elsbett. Na hora senti um receio das conseqüências mas fiquei
vibrando por estar tentando falar de novo com a Liz. Comi uma pizza com o
Sergio e tomamos vitamina. Chovia. Ad maiorem Dei gloriam!
09/09/58
– terça – Dia chuvoso. Dei instrução para os aspirantes R2. À tarde TJ-1.
Saí-me bem graças a Deus. Dia friorento. Estou bastante ativo. Só penso no
resultado da carta que escrevi. Chegaram os graus da AMAN. Às 16:00 fui fazer a
caixa para o meu rádio vasvox, com o soldado Ramos. Jantei. Fiquei a lidar com
rádio até as 21:00 enquanto o Joélcio e o Sérgio estudavam. Fiz a ceia e fui
para o PC. Lá escrevi e li até 22:10. À hora de dormir ouvi rádio até meia
noite. Estou resfriado.
10/09/58
– quarta – Dia úmido e chuvoso. Instruções e educação física. À hora do almoço
os colegas reclamaram da comida do quartel achando-a muito fraca. Estou
esperando a resposta da carta. Fiquei
toda a tarde na carpintaria com o solado Ramos a fazer a caixa para o meu novo
rádio. Em dado momento partiu-se a chave de pua. Fiz um novo chassis para o
radio. O Joélcio e eu estamos gripados. Preparei uma instrução sobre RAD200.
Devido aos fatos de a Lidja ter terminado comigo, eu ter comungado e ter
escrito uma carta para a mãe da Liz, estou bastante motivado para viver. O
tempo passa e eu fico a pensar na resposta da carta.
11/09/58
– quinta – Fui com o Pelotão de Construção até a granja onde executei o tiro nº
11. Voltei cedo mas não deu tempo para eu dar a instrução de RAD200. Joguei
basquete tendo me sentido cansado no final. Não fui a um possível treino de
basquete no CMP, pois estou gripado. À noite trabalhei no meu rádio.
12/09/58
– sexta – Fui ao tiro com os soldados do Pelotão de Exploração. (Tiro 9 de
combate). Voltei cedo. À tarde instrução com o Sr. Comandante sobre Ofensiva. À
noite dediquei-me ao rádio.
13/09/58
– sábado – Aniversário do mano Felippe (24 anos). Pela manhã elaborei um
rascunho de uma sindicância. À tarde e à noite dediquei-me ao rádio. Os colegas
foram a um risoto oferecido pelos Asp R2. Fui dormir às 23:00.
14/09/58
– domingo - Aniversário do papai. Se vivo estaria com 72 anos. Acordei às
08:15. Tomei um bom banho cantando. Estou esperando a resposta da carta. Penso
de novo na Liz. Ainda não comecei os estudos para a Faculdade. Estou cumprindo
a meta rádio. Se Deus quiser começo com intensidade no dia 01/10/58. Soube que
o meu colega de basquete na AMAN, Bonetti de Infantaria já apareceu no jornal como
titular do Vila Isabel. Espero também chegar à fama no basquete. Passei a manhã
no PC. Reli o diário tendo chegado 1ª conclusão que no presente a minha vida
ficou um pouco sem mudanças. Tudo passa! Devo fazer tudo bem feito e aproveitar
a mocidade. Devo cuidar da saúde. Continuar a vida religiosa. Ter ideal que
motive a existência. O que resta são as boas obras. Conversei com o Ó de
Almeida. É uma personalidade interessante. Aliás, na 5ª Companhia de
Comunicações há vários oficiais cujos caracteres divergem muito: Dirceu Ribas
Correa, capitão comandante, José de Ribamar Nunes Moreira, subcomandante, Hélio
Casatle da Conceição, S3, Jorge Luiz Abreu do Ó de Almeida, S1, Henriel Loyola
de Figueiredo, Tesoureiro, Rodolpho Norberto Pascenda, R2, José dos Santos
Ribas Neto, R2, Mário Muller, que esteve na FEB, Joélcio de Campos Silveira,
Sérgio Henrique Carneiro Tavares e eu. Havia também os aspirantes R2 já citados
anteriormente. Fui jogar ping-pong com o Ó de Almeida. Almoço muito bom.
Criaram um S.S. (Sindicato dos Solteiros). Os dias têm sido úmidos e frios.
Estou gripado. À noite fui à missa na igreja do Portão e comunguei. Muito
obrigado, meu Deus!
15/09/58
– segunda – Tiro para o Pelotão de Construção. Falhou o tiro de Lança Rojão.
Treinamento para os sargentos. O vento muito forte atrapalhou.
16/09/58
– terça – Tiro para oficiais. Saí-me bem. À noite fui treinar basquete no 20º
RI.O Ó de Almeida é muito prestativo com o seu carro.
17/09/58
– quarta – Instrução para os Asp R2. Deixei o Pelotão se atrasar m ais uma vez
para a instrução religiosa. Basquete. Rádio. Ajudei a lavar o carro do Ó de
Almeida. A válvula 35W4 do vasvox quebrou-se e queimou-se. Fiat! Penso no exame
da sexta-feira. Estou esperando impaciente a resposta da carta. Sera’que fui
mal compreendido? O dia d hoje foi bem bonito. O sol resolveu esquentar de
novo.
18/09/58
– quinta – Instrução para os AspR2. À noite não fui ao treino de basquete no
20RI. Preparativos para o exercício de amanhã. Ainda não veio a resposta da
carta. What happened?
19/09/58
– sexta – Fizemos um exercício de deslocamento de PC. O Tenente Sérgio Tavares
foi o árbitro e deu os parabéns ao Pelotão. O Sr. Capitão Dirceu achou alguns
defeitos. À noite fui à aula de religião. Frio.
20/09/58
– sábado – Passei a manhã planejando reformas nas dependências do Pelotão.
Houve uma instrução com o Major Willi sobre Herança. À tarde chegou o Joélcio
com as notícias sobre a Semana Olímpica. Fui trabalhar no rádio com o Sargento
Fabro que fez o curso pela National
School e entende bem de rádio. Esteve em Francisco Beltrão onde economizou
Cr$40.000,00 e vai montar uma loja com o Sargento Boçon. Às 18:45 o rádio
estava falando e eu estava atrasado para o jantar que o Sérgio oferecia pelo
transcurso do seus 21 anos. Depois do jantar o Joélcio foi falar com a Miriam e
nós voltamos para o quartel.
21/09/58
– Acordei e comecei a ouvir o vasvox pelos fones. O dial está com defeito.Tomei
café e fui para ao P.C. Ainda tenho esperanças de receber uma resposta à carta
que enviei à sra. mãe da Liz. Fui à missa na Catedral mas não comunguei. Voltei
passando pelo correio e pela casa da Da. Lotta.
22/09/58
– segunda – SEMANA OLÍMPICA – Pela manhã fomos os atletas da 5ª Cia Com até o
estádio Dorival de Brito. Corri 1.500m e lancei peso a 19,65m. À tarde jogamos
um jogo fácil com o time de basquete da Intendência. À noite, após lermos as
regras fomos dormir. Ad maiorem Dei Gloriam!
23/09/58
– terça – Fui correr 3.000m e saí-me em 5º lugar. À tarde jogamos basquete Os
soldados contra a equipe do 5º RO105 e os oficiais contra a equipe do QG.
Saímos vencedores. À noite chegaram os pais do Joélcio. Fomos até o Hotel
Maracanã. O pai do Joélcio trouxe um pequeno rádio. Fomos até o CMP. Não houve
o jogo programado devido à chuva. Havia um treinamento das debutantes.
24/09/58
– quarta – Tenho acordado às 06:00. Hoje será o jogo decisivo de basquete
contra o CPOR. Dia chuvoso. Pela manhã ainda dei instrução aos Asp R2. Depois
treinamos umas jogadas na cancha mesmo com o 7º uniforme. Grande tensão de
antever uma vitória. Fomos para o CMP. Tempo ameaçando chuva. Começa o jogo.
Camisas brancas e calções brancos. Cestas de ambos os lados. O Joélcio sai com
5 faltas. Senti o gosto da derrota na garganta. Tornei-me o capitão da equipe.
Mudei a marcação para zona. Coloquei o Asp R2 Raul que é bem alto como pivot.
Faltavam 8 minutos e a diferença era de 2 pontos (1 cesta). Começamos a nos
distanciar. Eu levava a bola até o ataque e atirava na cesta e o Raul
aproveitava o rebote devido à sua altura. A confiança na vitória foi
aumentando. A torcida incentivava. Lá estavam: os pais do Joélcio, a
Miriam e sua irmã Marly, a Lavínia
esposa do Tenente Ribas e os soldados da Companhia. Soa o apito final e o
marcador era de 46x32. Éramos os campeões, graças a Deus! Grande vibração! Conseguimos
o que queríamos. Depois dirigi o time dos soldados e conseguimos vencer por
19x15. Chuva.
25/09/58
– quinta – Fui ao atletismo. No final fui o quarto corredor nos 4x400 não
podendo mais tirar a diferença, À tarde o time dos sargentos perdeu o basquete
para o 20RI. Apontei e apitei depois o jogo de sargentos entre o QG e o 1/5 RO.
Os artilheiros venceram. Regressei ao quartel. Calor. Dormi cedo. Estava
cansado. A 5ª Cia Com tem se salientado no atletismo e nos jogos. AMDG.
26/09/58
– sexta – Pela manhã fiquei no quartel com o Tenente Casatle querendo montar
uma situação tática. À tarde os oficiais fomos até o 20RI onde perdemos os dois
sets de vôlei para o time do QG. Treinei dardo na Cia. No final este apareceu
lascado. À noite fui com a equipe de basquete de soldados até o 20RI onde
perdemos o jogo se não me engano por 32x21. O time do QG era muito bom. Fiquei
contente com o Linhares ter acertado a mão e temos perdido de pouco.
27/09/58
– sábado – Dormi somente com a colcha por cima. O dia amanheceu muito bonito.
Levantei-me às 06:00. Fui para o PC. Ontem recebi Cr$24.000,00. Ainda não
chegou a resposta da minha carta à Da. Elsbett. Fui ao concurso de tiro.
Cheguei atrasado e não concorri. Vi o tencel Breno com algodão no ouvido e
outros atiradores. À tarde dormi e arrumei as coisas. À noite consertei o meu
rádio vasvox.
28/09/58
– domingo – Fui com o Sérgio até a piscina do CMP onde nadei pela 5ª Cia Com.
De volta ao quartel toquei bandolim. Almoçamos: Sérgio, Ó de Almeida, Ribamar e
eu. Conversas sobre casamento e vida de solteiro. Fui deitar e ouvir rádio.
Levantei-me às 15:00 e fui para o PC. O Ribamar e o Ó de Almeida a conversar em
frente ao saguão. Estou sentindo falta da Liz. Gostaria de estar me
correspondendo com ela como nos tempos de cadete. Mas já agüentei bem dois
anos. Não me custa agüentar até as férias, ainda mais que começarei a estudar e
terei pouco tempo para pensar em sentimentalismo, com a graça de Deus! Estou um pouco desorientado desde que a Lidja
terminou comigo. Penso um pouco no futuro e vejo que deverei ter no fim do
próximo ano uns Cr$200.000,00 se Deus quiser. Gostaria de ter mais. Penso em
comprar um carro. Até lá a solução é andar de ônibus. Portanto não pensarei
mais nisso. Até lá não quero casar, então não ficarei preocupado em arranjar
uma namorada. Até lá espero entrar na Faculdade de Engenharia, portanto devo
estudar.Provavelmente não terei missões diferentes das que tive até agora então
devo construir em outro ponto. Calma! Calma! Calma! Olha para a vida dos que já
foram antes de você. Estiveram noivos, têm carros e não estão satisfeitos. Não
abandone Deus! Comungue! Reze! Viva perfeitamente! Deus dirige tudo. Se Ele
quiser tudo acontecerá como você quer! Não se afobe! Não fique ocioso! Procure
o Reino de Deus e o resto lhe será dado em acréscimo! Trabalha, sofre, sorri,
vive, tudo esperando somente em Deus e não nos homens. Não ajunte tesouro aqui.
Trate de ajuntá-lo no céu! Ama em silêncio. O tempo passa depressa. Cuida da
sua alma e da sua saúde. Esqueça o resto! Não crie um sentimento de frustração
que faz mal. A característica da juventude é a ESPERANÇA! AGE QUOD AGIS! Vejo
na vida dos casais uma certa perda de tempo. Acho que os outros não sabem
viver. Não vou a cinema, por exemplo. Não vou a bailes, pois vejo que os
resultados não compensam. Desejo uma vida que em nada prejudique a minha saúde.
Dormir às 22:00. Passeios. Nada de formalidades sociais. Vida de descobertas.
De pequenos inventos. Vida para o lar sem nunca deixar de amar. Sempre
aumentando o amor para a futura mãe dos meus filhos. Por isso até agora não
amei mais ninguém como amei a Liz, pois é a única de quem não enjoei apesar dos
defeitos que considero fora de sua pessoa. Gostaria de não perder um minuto em
bobagem e em coisa inútil. Videamus
Os
pais do Joélcio visitaram as dependências do quartel. Deram opiniões e
admiraram as características! Fui à missa na igreja do Portão. Confessei-me.
Cheguei atrasado. Em seguida dirigi-me a uma churrascaria onde se reuniram
oficiais da 5ª Cia Com e famílias. Os pais do Joélcio lá estiveram. A namorada
dele Miriam Muller também com sua irmã Marly e sua mãe. Cervejas. Discursos. O
Sérgio não falou. Não gosta de falar. Voltei falando um pouco mais. Éramos os
três solteiros: Sérgio, Ribamar e eu!
29/09/58
– segunda – Dedico-me à confecção de documentos de Comunicações: IPCom e IECom.
À tarde fui nadar na piscina do CMP onde a equipe da 5ª Cia Com: Jô
Élcio,
Ó de Almeida, Ribas e eu, tiramos dois segundos lugares nos 4x100 e 4x200.
30/09/58
– terça – Instrução para os Asp R2. À tarde o Raul e o Esmanhoto cuidaram das
fichas de tiro. À noite fui ao CMP jogar basquete com o Raul e o Ó de Almeida.
O Joélcio foi namorar. Estou com uma boa motivação para viver, pois parece que
irei à cidade gaúcha de Santa Maria com a equipe da 5ª RM. Farei tudo para
depois ir até o Rio de Janeiro, se Deus quiser. Findou mais um mês. Instruções.
Competições. Desfiles. Término de namoro. Saudades da Liz. Tudo passa! Tenho me
levantado às 06:00. Estou bem motivado. Amanhã começarei o estudo para a
Universidade do Paraná, seguindo o conselho do Mons. Thiamer Toth: “Estuda
também na Universidade!“. “Para frente, sempre melhor, custe o que custar!”.
Outubro-
Mês do Rosário
Ave
Maria, gratia plena!
01/10/58
– quarta – Acordei às 05:45. Fui para o PC onde estudei Descritiva. Desfile
semanal. No PC: fichas de tiro, IECom, instrução de códigos de coordenadas. À
tarde fui até a cidade onde coloquei dinheiro no banco e comprei um pano para o
vasvox. À noite, de cansado, dormi às 19:30.
02/10/58
– quinta – Acordei às 05:30. Fui para o PC onde estudei Física. Durante o dia
tratei das IPCom e IECom. À noite no PC grande atividade com os Sargentos
Miranda, Edson, Ivoir e Guimarães, Aspirante Luiz Fernando e Tenente
Vasconcellos. Fui dormir às 23:00. A partior das 12:00 de hoje estamos de
“Sobreaviso”. Tenho rezado o terço.
03/10/58
– sexta- Dia de Santa Terezinha – sexta – Dia das eleições. Acordei ao ser
chamado pelo Sgt Ivoir às 05:30. Fui para o PC. O dia tem clareado às 05:40.
Tempo de verão. Continuo montando as IPCom-IECom. Fui votar no Grupo Escolar
Novo Mundo, 3ª Zona, 77ª Seção. Votei no Jânio Quadros para deputado
federal e Tourinho para Prefeito e para
senador em um General. À tarde resolvi com o Comandante o caso de dois
sargentos rádio-operadores Osmir e Edson. Instrução sobre a situação. Término
do sobreaviso às 19:00. Continuo fazendo as IPCom e IECom que são instruções
para as comunicações em uma manobra militar. Há um novo oficial no quartel. É o
1º Tenente Frota Leite. Baixo, gordo e uma personalidade característica. À
noite fui até a cidade. Eles iam ao cinema e eu ao CSCC mas não houve aula.
Voltei para o quartel. Ainda penso na Liz com saudades.
04/10/58
– sábado – Pela manhã preparando as IECom. Viaturas. O Sgt Boçon colocou uma tomada
no PC. O Raul trouxe a régua de cálculo do Esmanhoto. Dia frio. À tarde os
outros dormiram. Fui até o oficina de rádio. À noite fiquei no PC ouvindo
rádio.
05/10/58
– domingo – Pela manhã fui para o PC onde o Sgt Ivoir e o Cabo 118-Vital ou
Jorge, me ajudaram a faxer as IECom. À tarde dei uma arrumação no PC. À tarde
fui à missa no Portão onde fui o único a comungar. Fui depois ao correio onde
coloquei uma carta para a mamãe. Ao passar pela banca de jornal ao olhar para a
capa da revista “O Cruzeiro”tive o
pressentimento de que era a Liz. Folheei a revista e no final trazia uma
reportagem do show do Night and Day : 1900....e 58”(Bela época...). A Liz
aparece muito indecente ( Que pena! Deus tenha misericórdia dela como teve da
Maria Madalena!) . Fui verificar quem estava na capa e vi que era ela imitando
a Brigitte Bardot. Fiquei muito contente e gostando mais intensamente dela.
Voltei para o quartel.
06/10/58
– segunda – Saímos para uma manobrinha na Granja. Eu era o Oficial de Rádio.
Chuva. Reconhecimento. Poeira. Rad200 falhando devido a contato com o chassis.
Fiquei entendendo bem da rádio. Era isso que eu queria no começo do ano. Muito
obrigado meu Deus!
07/10/58
– terça – Dia D. A noite foi bem fria devido a barraca estar molhada e as
árvores também. No almoço comemos galinha que o cabo Leonel levou. A
interferência inimiga era feita pelo Ó de Almeida com o Sgt Noronha e o cabo
Alírio. Centro de Comunicações Avançado junto ao 14RI na Igreja de Umbará,
etc... Fui dormir às 23:30.
08/10/58
– quarta – Regresso ao quartel. Rumores da ida do Pelotão de Exploração para o campo. À tarde dormi. Fui acordado por
um chamado do Ó de Almeida: “Preparar um Centro de Comunicações Reduzido”Os
outros saíram. Fiquei no quartel. Penso na Liz. Comprei coisas no AR (armazém
reembolsável do quartel). Fui para o PC. Apareceu o Sgt Osmir que conversou
bastante sobre a vida militar pois a sua casa estava fechada. Estudei um pouco
mas o rendimento foi fraco devido ao sono. Em dado momento ouvi que Sua
Santidade o Papa Pio XII, Eugênio Pacelli, havia dito antes de entrar em estado
de coma: “Rezai para que este momento passe depressa!”. Depois notei que a
rádio Guairacá só irradiava músicas clássicas. Às 03:52 do dia 09/10/58, em
Castel Gandolfo morria o nosso querido Pastor. Desde o ano de 1939 ele era o
Papa. Desde garoto eu ouço falar nele e rezei muito por ele. Que Deus lhe dê a
eterna recompensa pelo muito que sofreu e fez pelo bem da Igreja Católica.
Requiescat in Pace! Ele nasceu em 02/03/1876, ordenou-se Padre em 02/04/1899,
sagrou-se Bispo em 13/05/1917, Cardeal em 16/12/29 e Papa em 02/03/1939. Morreu
com 82 anos.
09/10/58
– quinta – Pela manhã soube que o Santo Padre havia morrido. Fiquei triste.
Senti uma grande perda. Tinha a impressão de que o Papa não podia morrer e eis
que morreu. Durante todo o dia músicas clássicas na rádio Guairacá. Manutenção
do material. Gabinete Fotográfico. À noite fui até o ginásio do 20 RI onde
assisti com o Ó de Almeida ao jogo Thalia x Curitibano, vencedor este. O Rudge
ex-colega dos tempos da Escola da Preparatória de São Paulo estava de Oficial
de Dia. O jogo foi muito bom, disputado até o final.
10/10/58
– sexta – Pela manhã soube com o Sr. Cap Cmt que eu iria com três CCom até o
Norte do Paraná para deter juntamente com 3 Regimentos de Infantaria uma
planejada marcha de agricultores
denominada Marcha da Produção. Fiat! Preparei a relação das turmas.Fiz a
minha Declaração de Herdeiros e entrei para o GBOEx. À noite choveu, Arrumei as
minhas coisas para a partida.
11/10/58
– sábado – Continuei a ultimar os preparativos para o deslocamento. Pensava em
só partir no domingo ou na segunda-feira mas às 09:30 recebi a ordem de me apresentar às 12:00 no quartel
da AD/5. Fiquei um pouco frustrado pois pensava em ir jogar esta noite contra o
Curitibano. Fiat! Arrumei-me e me apresentei com as viaturas ao Major Mazza.
Tudo bem. Iniciamos o deslocamento. O Tenente Pestana dirigia o comboio. Óleo
vazando. Pára-lamas solto. Mola mestra quebrada. Mas chegamos a Ponta Grossa
após uma viagem um pouco cansativa. Jantamos no 13 RI. O soldado do refeitório
ainda se lembrava dos meus colegas de Infantaria Bonneti e Iacri (equipe de
basquete da AMAN) que haviam servido no 13 RI. Agora servem lá o Luiz (que
estava em Francisco Beltrão), o Sherman e o Lopes. Os praças gostaram da
comida. O cassino dos oficiais é muito bom com mesas separadas. Dormi no PC da
1ª CiaPrP. Lavei um uniforme. Aqui no interior do Paraná ainda penso na Liz. A
nossa missão é deter a Marcha da Produção. AMDG.
12/10/58
– domingo – Não fui à missa. Passei o dia com o uniforme de instrução.
Apresentações. Conserto de rádios. O Sgt Fabro consertando as RAD do Sgt
Nelson. O Lopes e o Sherman compraram Lambrettas. À noite fui para o quarto do
Sherman onde procurei melhorar a recepção do rádio dele. Depois de mudar a
antena parece que melhorou. É da marca Pioneer. Dormi no quarto da 1CPP1.
13/10/58
– segunda – O dia todo com uniforme de instrução. Testei as Rad-200. Três
soldados deram alterações. Solução custosa: Prisão e enfermaria. À noite chegou
uma Companhia do 5º BECmb, com os oficiais: 1º Tenente Duarte, 1º Tenente
Salazar e 2º Tenente Menezes (da minha turma na AMAN). Fui dormir às 23:00. O
deslocamento para Londrina foi novamente transferido. Fiat!
14/10/58
– terça – Acordei às 07:00. O expediente começou às 08:00. Dois soldados
continuam presos. O terceiro deu alta da enfermaria e pediu com insistência
para não ir para a prisão. Vejo como é difícil lidar com as pessoas. O meu
problema é conseguir motivar o pessoal. Ficam dentro das viaturas como se
fossem ciganos. Jogam também futebol de salão e de campo. No final do
expediente prolongaram a partida por mais 24 horas. Desapontamento geral. Eu
estou com um único uniforme de instrução e sujo.
15/14/58
– quarta – Ontem eu soltei os dois presos. Confiei neles. Ando com o
regulamento na mão aproveitando para aprender um pouco das Comunicações. À
tarde mandei a turma limpar os mosquetões. Um sargento (Braga) falou sobre três
assuntos para os soldados. Um subtenente possui um carro Nash muito bom e um 2º
Sgt tem um bom Ford. No final do expediente fui para junto do PC do SubCmt
Florenzano. Muitos oficiais à espera de notícias. Afinal veio a ordem:
“Partir!”. Últimos preparativos. Mudanças de viaturas. Abastecimento. À noite
radiogramas do TenCel Edson Giordano de Medeiros. Os oficiais de Engenharia e
um sargento jogavam buraco. Alea jacta est! Fiat!
24/10/58 – sexta – Estou baixado no
Hospital Geral de Curitiba. No dia 16 saímos de Ponta Grossa integrando um
Grupamento de Marcha. Muitos buracos na Estrada do Cerne. Muita poeira. Panes
nas viaturas. As cidades iam se sucedendo. Todos os moradores admirados. São
Jerônimo da Serra, Curiúva, Assaí, Santa Cecília. Acampamos próximo a Assaí.
Era noite. Ficamos numa entrada de uma fazenda de café. Dormi no chão, cedendo
a cama ao Capitão Guilherme. Dormi mal com medo de ser mordido por alguma
cobra. Enfim amanheceu. Fiquei acompanhando o Capitão Barroso (não gosta de
padres!) até que consegui enviar o CCom 3 para Maringá. À tarde após novas
ordens do Major Veloso nos deslocamos. Chuva. Às vezes dormia. Os motoristas da
EB 21-2267 se revezavam. Eles eram os Sargentos Manoel da Silva Ramos e Dirceu
de Camargo Lemos. Chegamos enfim a Londrina. Bonita cidade rodeada de cafezais.
Acampamos próximo ao Aeroporto. Era noite. AMDG.
No
dia seguinte, 18, arrumamos as barracas e as estações de rádio. O Sgt Borges
não conseguiu ligação com Curitiba. O Sgt Assis cansou de manipular a ST.32.
Desconforto. Sujeira no corpo e uniforme. No domingo dia 19 não fui à missa. A
tal Marcha da Produção não saiu porque foi dominada nos focos. Nos dias 20, 21
e 22 tivemos vida de acampamento. Tomei banho na casa do vizinho. Conversamos
sobre religião o Sgt Fabro, o Sgt Liberato e eu. Os outros ouviam. História da
evolução, áurea suja, integralismo. Os oficiais com vontade de regressar.
Saímos às 23 horas do dia 22. Dormi em Apucarana. Estou doente da pele. O Dr
Cap Abreu Atar me deu B1. Dia 23 partimos de Apucarana. Paramos no Hotel em
Embaú.. Tibagi. Bonita moça a servir. Almoço para todos a Cr$60,00 por pessoa.
Dormimos em Ponta Grossa. Cheguei meio tonto. Fui logo dormir mesmo sem roupa
de cama. No dia 23 de outubro, quinta-feira regressamos para Curitiba. Chuva.
Baixei ao Hospital Geral de Curitiba. Li uma carta da mamãe. O meu cunhado e
primo Josué me vende o rádio por Cr$5.000,00. Ela quer que eu vá ao Rio em
novembro. Ainda não recebi um tratamento. O músculo dói. Estou com o lado
esquerdo da garganta empolado. O Ó de Almeida veio até o hospital. O Chaves
também aqui se encontra. Sofreu uma queda de cavalo. Vai casar. Há também um
Asp R-2 todo quebrado. Deus lhe dê felicidade. Penso na Liz e em comprar uma
Lambreta do Chaves. À noite não pude dormir direito devido ao mal estar
provocado pela dor. Ouvi bastante rádio e o programa “Balança, mas não cai”.
25/10/58
– sábado – Pela manhã resolvi comprar a Lambreta do Chaves por Cr$ 67.000,00.
Entrada de Cr$ 25.000,00 e 14 prestações de Cr$ 3.000,00. AMDG. Comecei a ler o
manual.À noite de ontem para hoje dormi mal. Pela manhã o Dr Amaury veio
ver-me. Ele também faz o Curso Superior de Cultura Católica. Disse-me que estou
com Herpes. Doença no músculo provocada por um vírus. Aparecem erupções na
pele. À tarde experimentei a Lambreta. Após certas dificuldades iniciais devido
à pressa consegui dominar ensinando-me o Chaves à dar a partida parado. O
Sérgio veio me visitar. Ele havia ido ao 20 RI receber a viatura e o C.Com de
mim e do Sgt Osmir. Logo chegaram o Joélcio e o Ribamar. Conversamos bastante.
O Joélcio está com o carro do Ó de Almeida que tinha ido ao Rio. Ele quer
comprar um carro. O Frota Leite está se mudando para um apartamento na cidade.
À noite a Irmã Ilda deu-me injeções e eu dormi muito. Os 51 cardeais da Igreja
Católica estão reunidos para eleger um novo Papa. Que Deus nos dê um outro
santo!
26/10/58
– domingo – A Irmã acordou-me às 06:15 para a missa. Penso muito na Liz.
Assisti à missa celebrada pelo Capelão da 5ª Cia Com. A arrumadeira do hospital
pensando que eu tenho 17 anos. Dia chuvoso. À tarde recebi a visita do Joélcio.
Veio dirigindo o carro do Ó de Almeida. À noite escrevi cartas. Uma diretamente
para a mamãe e um rascunho de uma carta para a Liz. Fui dormir às 22;00. Ainda
não fiquei bom.
27/10/58
– segunda – Acordei com o café. Tenho dormido bem. Pela manhã estudei Dilatação
Térmica e Calorimetria. Assinei um cheque de Cr$ 24.500,00 como primeiro
pagamento da Lambreta. À tarde limpei bem a Lambreta ficando bem bonita.
Estudei. A filha de um Tenente reformado, Isa ofereceu-me um suquinho bem
gostoso. Toquei bandolim para o Chaves. Recebi a visita da Miriam Muller, sua
irmã Marly e do Joélcio. Ao tocar bandolim já não me saí bem. A Irmã deu-me
injeção. Penso na Liz e em passeios de Lambreta. O novo Papa ainda não foi
eleito.
28/10/58
– terça – Dia chuvoso. Pela manhã estudei Física e Álgebra. À tarde li um livro
de Aléxis Carrel e limpei a Lambreta. O Cap Moraes e Barros continua com a
perna doendo. Ao anoitecer recebi a visita da Miriam, da Marly e de sua mãe que
me trouxeram um pedaço de bolo. O rádio dizia que havia sido eleito às 16:00 de
Roma (13:00 aqui) o novo Papa, Dom
Ângelo Roncalli que tomou o nome de João XXIII. Deo Gratias, habemus Papam!
29/10/58
– quarta – Acordei. Saí um pouco, respirei e vi a Lambreta. Li a epístola de
São Paulo aos Romanos que recomenda que nos amemos uns aos outros, que tenhamos
fé e vivamos corretamente. Continuei lendo o livro do Aléxis Carrel “O Homem
perante a vida”. O assunto básico é “Viver racionalmente” seguindo as 3 leis:
1) Conservação da vida; 2) Propagação da raça e 3) Elevação do espírito. À
tarde andei de Lambreta. Recebi a visita do Sérgio Henrique. Conversamos
bastante. Aproveitei e lhe dei uma carta para colocar no correio para a Liz e
outra para a mamãe. Depois chegou o Cmt da 5ª Cia Com, Cap Dirceu Ribas Correa.
Relatei-lhe a viagem ao norte do Paraná. Trouxe-me maças e bananas secas. À noite conversei com o Cap
Morais e Barros. Soube que na época de cadete ele fez muito. Ele era o
encarregado dos shows, das modinhas e até hoje continua a fazer teatrinhos no 20RI
para dar as instruções.
30/10/58
– quinta – Continuei a leitura do livro de Carrel. Falei com um capitão do
CPOR. Disse-me que no norte do Paraná só ficara uma Companhia com o Capitão
Barroso. Terminei o livro do Carrel. Tenho colocado ácido tânico sobre as
feridas e depois ácido bórico. Estou bem melhor. O Cap Moraes foi embora.
Chuva. À noite estudei Álgebra. A Irmã Maria Ilda conversou bastante sobre a
vida religiosa.
31/10/58
– sexta – Enchi a caneta no tinteiro da Irmã. Dia chuvoso. O Ó de Almeida veio
ao HGeC. Esteve no Rio dizendo que a condução está ruim para quem quer ir da
Zona Sul para a Norte, pois tem que tomar duas conduções. O tempo lá estava
chuvoso. Voltou noivo do Rio. Hoje é o dia em que tenho estudado mais Álgebra.
Estou bastante confiante em passar no exame. Tenho estudado com o retrato da
Liz na frente dentro de um cartão de Natal que me enviou em 1955. À tarde rezei
o terço e cantei. Limpei também a Lambreta. O almoço foi muito bom. Chegou o
final do mês de outubro, mês do Rosário, morreu o Papa Pio XII e temos um novo
Leão XXIII. Estive no Norte do Paraná para deter a frustrada Marcha da
Produção. Passou depressa. Não estudei como planejara. Agora preciso fazer o
máximo, aproveitando todo o tempo. Não devo me esquecer do lema “Ad maiora
natus sum!” Comprei uma Lambreta por 67 mil cruzeiros da qual cuidarei bem pois
vai me facilitar a vida. Peço perdão a Deus e a Nosso Senhor pelos fracassos
que tive neste mês e peço-lhes que me ajudem na batalha que travo dentro de mim
pelo Ideal.
NOVEMBRO
DE 1958
01/11/58
– sábado – Festa de Todos os Santos – Fui à missa das 06:30. Cantei no coro a
convite da Irmã Ilda. Andei um pouco de Lambreta. O Geraldo Chaves foi a um
baile ontem. O Dr. Amaury me deu alta ontem. Levei a Lambreta em uma viatura
Dodge. Os oficiais jogavam basquete. À tarde levei o Sérgio à missa na
Catedral. Paramos na rua XV de novembro. Comprei bastante na feira de livros,
mais de Cr$1.000,00. Encontrei o Raul e o Esmanhoto. Voltamos bem, graças a
Deus!.
02/11/58
domingo – Fui à missa pela manhã. Confessei-me e comunguei. I’m very happy.
Tudo é feito graças à fácil condução da Lambreta. Fui até o CMP. Lá o Joélcio e
o Sérgio experimentaram a Lambreta. À tarde passeei bastante pela cidade.
Visitei igrejas e rezei pelas Almas do Purgatório. Um belo passeio foi para lá
da igreja das Mercês. Visitei o cemitério. Segui uma garota de um carro de chapa 6692. Aventura. Às 19:30
fui ao jantar oferecido pela Marly, irmã da Miriam. Bom jantar. Passeios de
Lambreta. Voltei com o Sérgio. Eram 22:15. AMDG.
03/11/58
– segunda - Vida normal. Ordem Unida.
Como motivação: guaraná. Depois faxina. Visita do Gen Cmt do III Exército
Floriano de Lima Brayner, amanhã. Prova para os Asp R-2. Termos. Vejo que é
difícil estudar. Conversei bastante com o Ribamar depois do jantar sobre
casamento, vida militar, lucros, cursos, etc. O Sérgio foi ler sentado na cama.
Fui para o PC. Ouvindo rádio, espero a resposta da Liz, com certa ansiedade.
Será que responderá?
04/11/58
– terça – Tem amanhecido cedo. Coloquei o uniforme de instrução, mas depois
tive que mudar. Formatura. Desfile. Armar e desarmar baioneta. Às 16:30 saí com
o Joélcio de Lambreta até a cidade. Vou tirar a carteira de motorista e
motociclista se Deus quiser. Fiz um pagamento à Cibrasil. Voltamos ao quartel.
À noite fui até o CMP onde jogamos basquete o Ribamar, o Ó de Almeida, o
Sérgio, o Joélcio e eu. Na volta corri bastante com a Lambreta pela Avenida
República Argentina chegando a 60 km/h.
05/11/58
– quarta – Manhã ensolarada. Levantei-me às 05:40. Fui para o PC. Penso na
carta da Liz Houve expediente o dia todo. Saí às pressas para cuidar da minha
carteira de motorista, mas faltou gasolina na Lambreta e eu me atrasei.
06/11/58
– quinta – Saímos para uma manobra. Ficamos na Defensiva. Tudo correu bem. Um
soldado bebeu de novo e ficará preso 30 dias. Deveria tê-lo colocado bem no
mato, mas ele ficou em Umbará e lá não resistiu à ocasião. À noite o Frota
Leite brincou bastante com o Casatle. Fez frio.
07/11/58
– sexta – Tudo funcionou bem. É pena que não houvesse mais estações de rádio.
Às 21:00 foram soltos dois foguetes de sinalização em cada Centro de
Comunicações dando por encerrada a manobra. Graças a Deus houve aproveitamento.
Recebi as duas revistas da AMAN, mas não gostei da apresentação. Esperava a
carta da Liz, mas não veio.
08/11/58
– sábado – Pela manhã foram recolhidos todos os soldados e todo o material.
Regressamos ao quartel. À tarde dormi até as 16:30. Deixara a Lambreta com o
Figueiredo que melhorou certas coisas. À tarde fui até a casa do Luiz Fernando
onde apanhei uns livros. Fui depois ao CMP. Bate-papo com garotas, oficiais e
jogadores. A Nilceia que já namorou o Ó de Almeida querendo dizer que gostava
muito de mim e me convidou para uma festa. Voltei para o quartel com o Joélcio.
Estou triste porque não recebi a carta da Liz. O Ó de Almeida dizendo que vai
casar e que a noiva já está fazendo o vestido. Às
20:30 cheguei à casa do Paschenda
Ninguém quase estava dançando. Discos. Chope. Tomei uma coca-cola com
rum. Dancei com uma professora, Claudete, com a Marly e outras. O Henrique foi
de Lambreta até o quartel. Fui dormir a 01:30. O Joélcio se sentiu mal na
festa.
09/11/58
– domingo – Fui à missa com o Sérgio. O padre falou em alemão.Confessei-me.
Passei pelo CMP. Bonita manhã. Moças jogando basquete. Voltei para o quartel.
Fui almoçar na casa da Beatriz. Cheguei em primeiro. Conversei com o pai dela
sobre o Lampião e a teoria do Dr Aléxis Carrel. Boa feijoada. Depois a Beatriz
dançou bastante para nós três: Joélcio, Ó de Almeida e eu. Começou com um
vestido apertado. Depois colocou uma calça e uma blusa. Eu olhava para os olhos
dela e ela me dizia que se sentia encabulada. Ela dança muito bem. É uma
artista! Saímos depois o Ó de Almeida e eu. O Joélcio ainda ficou.Fomos até a
casa da futura cunhada do Ó de Almeida. Admiraram a minha altura. Voltamos à
casa da Beatriz que saiu comigo e com o Ó de Almeida de carro. Fomos até as
Mercês e depois passamos pelo Portão. Ela comeu gelatina e bebeu água. Comecei
a mexer nos cabelos loiros e bem bonitos dela e depois já fazia uns carinhos.
Fomos até Araucária. Ela de vez em quando chora, ri e canta muito bem. Fala
espanhol e italiano. Tem 24 anos. Possui umas teorias errôneas sobre o
casamento. Diz que não vai se casar. Já namorou outros. Em Araucária saltou do
carro. Fomos até o rio. Ela entrou e molhou os pés. Mosquitos. Ela era uma
imagem quase perfeita da Liz. Escurecia. Voltamos. Paramos na estrada. Ela
queria tudo o que até hoje não fizera. É uma enigmática. No Pinheirinho comeu
sanduíche e bebeu coca-cola. O Ó de Almeida pediu uma garrafa de vermute que
depois derramou.Ela também correspondia aos carinhos. Fomos para o Alto da rua
XV de onde ficamos vendo a cidade. Conversaram bastante. O tempo passou
rapidamente. Eu pensava na Liz. Quando voltamos já passava das 23:00. Foi uma
ótima aventura, mas eu não gostei muito de mim.
10/11/58
– segunda – Nova semana. Faxina. Projeto de novo estande de tiro. Novos
aspirantes. O sgt Osny é o novo sargento de tiro. Fui até a granja. Comi
pêssegos. À noite dormi cedo. Foi só deitar e dormi até o dia seguinte.
11/11/58
– terça – Muita burocracia neste Período de Aplicação. O Capitão Cmt não gostou
da minha sindicância. À tarde jogamos basquete, três contra três. Saí
rapidamente para a cidade com o Joélcio. Tratamos dos papéis para tirar as
carteiras de motorista e motociclista. Tiramos dinheiro no banco. Tirei
retrato. Chuva. Ele ficou na cidade. Eu jantei no quartel. O novo carro do
Tenente Casatle, um Hudson, está com defeito. Tempo chuvoso. Dormi até 20:00.
Fui para o PC. Preparei uma instrução de RAD-200.
12/11/58
– quarta – Instrução para oficiais. À tarde fiz a manutenção dos 1.500km da
Lambreta. O soldado Mazzer me ajudou. Chuva. À noite fomos até o CMP.
Conferência sobre Brasília pelo Sr. Ernesto Silva. Falei com a Miriam e a
Marly. O Casatle apareceu com o Hudson, que chamamos de Lord. O conferencista
falou sobre tudo o que sabia de Brasília. Terminou às 23:00.Guiei um pouco o
jipe na volta.
13/11/58
– quinta – Dia de dispensa para quem foi à manobra. Treinei baliza e trânsito
na cidade com o Joélcio e o cabo Silva. À tarde saí de Lambreta com o Ribamar.
Fotografias. Exame de vista. Papéis. Selos. Conversas. Vistoria. Chuva. Beatriz
(Diana Maclóvia). Brinco. Casamento. Hermes Macedo. Chuva. PC. Sono.
14/11/58
– sexta - Fomos, o Ribamar, o Joélcio e
eu fazer os exames de motorista e motociclista. Fui de Lambreta. Os
examinadores foram bem atenciosos. Passamos, graças a Deus! À tarde instrução
com o Joélcio (Map template) . Fui ao centro da cidade onde consegui
regularizar tudo. Já estou com as duas carteiras provisórias e com a licença da
Lambreta. Vejo como neste mundo devemos ter paciência e não desistir. AMDG!
15/11/58
– sábado – Proclamação da República. Fui com o Joélcio até o 20RI para apitar o
jogo entre o 20RI e o QG mas chegamos atrasados e o jogo já começara. Voltamos.
Passei pelo CMP de onde fui com o Sérgio até o alfaiate Sílvio Morais onde
mandei fazer Cr$11.800,00 em roupas. À tarde, ajudado pelo soldado
199-Germanovix, equipei completamente a Lambreta. Ficou um espetáculo! Após o
jantar descobrimos porque a luz trazeira não acendia. A Beatriz chegou com o Ó
de Almeida. Conversei um pouco após uma negativa para o Ó de Almeida.
16/11/58
– domingo – Bonita manhã. Fomos ao CMP. Lá joguei mal basquete. Inchou o dedo
da mão esquerda. A Beatriz tendo aulas com um Major. Depois joguei voleibol. O
Cap Jucá levantou muito bem as bolas para eu cortar. Queimei-me bastante. À
tarde dormi bastante. Jogo Vasco x Fluminense. Chuva. Fui à missa na Igreja da
Ordem com o Sérgio, onde me confessei e comunguei, graças a Deus! Estou feliz!Fomos depois falar com o Pe.
Augusto que estivera no Rio de Janeiro. Depois tomamos uma gostosa vitamina,
comemos pizza e voltamos para o quartel onde bordei uma estrela e dormi.
17/11/58
– segunda – Acordei às 05:55. Fui para o PC. Carta para a mamãe pronta.
Atividades diferentes neste Período de Aplicação pelos soldados dos
conhecimentos adquiridos no Período de Formação.
18/11/58
– terça – Treinamento para o Dia da Bandeira. À noite fui à aula de basquete
com o Sr. Mr. Dayton M. Spaulding. A Lambreta muito me facilitou a vida.
19/11/58
– quarta – Dia da Bandeira – Pela manhã jogo de basquete com os Oficiais do 20
RI, sediado no bairro do Bacacheri. Ganhamos bem: 71 x 23. Os sargentos e os
soldados perderam os jogos com a Cia de Saúde. Bom churrasco. Hasteamento da
Bandeira . À noite fui à aula.
20/11/58
– quinta – Os soldados estão se preparando para dar baixa. À noite fui à aula.
21/11/58
– sexta – À noite fui à aula.
22/11/58
– sábado – Fui à cidade com o Henrique. À noite fui à aula.
23/11/58
– domingo – Pela manhã fui à aula no Colégio Estadual. Mr Dayton treinou as
moças. No CMP joguei basquete. Almocei com a Nilcéia e outra bonitinha e a
irmã. Também lá estavam o Ribamar (presidente), Frota Leite e Sérgio Henrique.
A Miriam, Marly, Ó de Almeida, Joélcio e Dona Tina almoçaram em outro local.
Fui à missa com o Ó de Almeida e o Sérgio.
24/11/58
– segunda – Tempo chuvoso. Reunião com o Cmt para a distribuição de missões. O
soldado 199-Germano consertou a Lambreta. Fui ao Estadual. Joguei 21 (25). O Mr
Dayton ensinando as moças do selecionado: Terezinha, Valda, Danacey, Laury,
Sputnik e outras com o Prof. Almir que joga pelo Curitibano. Tomei vitamina com
o Fritz.
25/11/58
– terça – Tempo chuvoso. Trabalho de ajardinamento no quartel. Fiz um
empréstimo no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Fazendo uma sindicância. Asp
Aristeu. À noite fui ao Estadual. Aula de basquete com Mr Dayton. Tempo
chuvoso. A Beatriz estava lá. Depois chegaram as três do CMP ( Nilcéia,
bonitinha e a irmã). Convidaram-me para um almoço no domingo, mas eu agradeci e
recusei. Fui até a casa da Beatriz. Ceia. Convidou-me para um piquenique. Não
aceitei alegando ter que estudar. Voltei de Lambreta.
26/11/58
– quarta – Conversei com o Cmt sobre o Tenente Frota Leite. O Sd 112 está
preso. Instrução com o Frota Leite sobre o Comunismo. O Cmt me disse que estava
com a perna doída por causa do treinamento de basquete. Tempo chuvoso. Estreei
uma enceradeira que comprei lustrando o piso do PC. Cinema sobre basquete no
Estadual. Não fui ao CMP. O Frota Leite falou sobre o Comunismo. Resolvi fazer
um planejamento do estudo para a Faculdade de Engenharia.
27/11/58
– quinta – Tiro para Oficiais na Granja. Saí-me em 1º lugar com 27 pontos. À
tarde treinamento de vôlei. À noite fui à última aula de basquete com Mr
Dayton. Discursos de despedida. Voltei de Lambreta.
28/11/58
– sexta – Hoje acordei às 03:50 como planejara. Estudei Física. Às 10:00 fomos
ao 20 RI jogar vôlei. Perdemos os 2 sets. Calor. Almoço. Recebemos um cartão do
Brasil dizendo que vai ficar noivo no dia 08/12/58. Seja felicíssimo, se Deus
quiser! Tenho varrido e passado enceradeira no PC que está com o chão
brilhando. Não fui ao Curso Superior de Cultura Católica.
29/11/58
– sábado – Acordei às 04:20. Comecei a estudar às 05:00. Pela manhã joguei
vôlei contra o QG e perdemos por 5 x 2. Torci mais o meu dedo torto da mão
direita. À tarde dormi e estudei. O Joélcio e o Ó de Almeida foram ao
aniversário de 15 anos a que a Beatriz convidara. Limpei a Lambreta à noite e
senti o dedo doer e uma dor de barriga. Não sei o que é mas ando ruim da
barriga.
30/11/58
– domingo – 1º do Advento – Acordei às 07:00 e fui à missa de Lambreta.
Estudei. Dormi. Estudei.. Cheguei ao final de mais um mês, o penúltimo do ano.
O ano termina e o estudo para a Faculdade inicia-se. Sinto uma vontade de
estudar muito e ao mesmo tempo se intensifica a vontade de ir ao Rio rever a
Liz e os parentes, enfim, descansar um pouco desta vida de quartel que agora no
final me tem aborrecido um pouco só com
faxinas e com poucos soldados. Gastei
muito dinheiro, neste final de ano: roupas, Lambreta, máquina
fotográfica Yashica, etc. Penso que nada foi desnecessário. Continuo a me
esforçar para levar uma vida de católico. Não mais fui ao curso e agora
falta-me vontade para tal. Penso em acertar todos os planos para que no ano que
vem tudo corra bem, com a graça de Deus. Serei estudante de Engenharia e um
ótimo Oficial do Exército e se Deus
quiser um correspondente da Liz, para não pensar muito em namorar. E depois de
mais dois novembros eu iria para o Rio fazer a Escola Técnica do
Exército!
DEZEMBRO-1958
01/12/58 – Segunda – Novo
mês. Acordei às 04:40. Estudei Atrito. Saiu no Boletim Regional que não há
necessidade de vestibular. O Comandante a cismar com as praças sem fazer nada.
Projeto da nova Seção de Rádio. Instrução de Painéis para os oficiais. O
Tenente Frota Leite achando que não se trabalha. Fui à cidade. Levei o
Stephanes de Lambretta. Estou com Cr$1.000,00 no BNMG. Fui ao correio. Comprei
cartões de Natal, um especial para a mamãe e outro para a Liz. Comprei um livro
de músicas por Cr$400,00. Fui à Cibrasil. Perdi os cartões na volta. Regressei
à cidade. Nada. Jantei e fui dormir.
02/12/58 – Terça –
"vai, vende tudo o que tens e segue-me!". O Reino de Deus consiste na
eficiência. Acordei às 03:50. Calor. Mas li do que estudei, pois estava com
sono. Fiscalização de trabalhos. Jogo de futebol de salão com os sargentos (2 x
18 e 4 x 2) Jogo duro. À tarde instrução de sistema de autenticação. No final
me esqueci de dois. Limpei o PC que ficou com boa aparência. Fui dormir às
20:30.
03/12/58 – Quarta –
"Muitos são chamados mas poucos os escolhidos! Tirai o velho
fermento!"Acordei às 04:20. Fui ao HgeC onde tirei radiografia do dedo
direito. Fui com o Sérgio. À tarde dormi desde 12:30 até 15:00. Fui à cidade de
Lambreta. Comprei dois cartões de Natal de novo. Passei pela Cibrasil e fui ao
alfaiate onde deixei mais Cr$3.000,00. Voltei ao quartel. Estudei. Faço planos
para indo ao Rio, rever a Liz.
04/12/58 – Quinta – Vacina
bucal BCG. Documentação sobre tiro. Instrução do Joélcio sobre Central Telefônica
CTL-201. Estudei música com o bandolim. Estudei Física: Movimentos. O Joélcio
chegou pedindo-me dinheiro emprestado mas eu não disponho no momento. Movimento
circular uniforme.
05/12/58 – Sexta – Dia
normal. Extraí dados sobre tiro. Ia sair para o CSCC mas não fui. Fiquei
estudando.
06/12/58 – Sábado – Apitei
o jogo de volei dos sargentos. O 3º Sgt do CPOR Gabriel tratou-me de uma cárie.
Fui à cidade de Lambreta. Paguei o alfaiate. Dormi até 15:30. Estudei até 16:30
e à noite até 21:30. Escutei o show da rádio Clube Paranaense, um conjunto do
Night and day.
07/12/58 – Domingo –
Acordei às 07:45 . Garoa. Fui para o PC onde escrevi uma carta para a mamãe.
Hoje sonhei com a Lidja, com o estado do Amazonas e com a vida militar. A Lidja
apareceu com lágrimas nos olhos quando eu estava em perigo de vida. Estudei,
dormi e joguei basquete. Fui ao correio. Fui à missa na Igreja da ordem.
Confessei-me e comunguei. Falei com o Pe. Augusto. O Pe. Pelayo vai para o Rio.
Voltei de lambreta ao quartel. Estudei. O Henrique chegou à 1 hora.
08/12/58 – Segunda –
Imaculada Conceição – Faz 17 anos da minha primeira comunhão. Houve expediente.
À noite fui com o Sérgio até a Igreja da ordem onde comunguei. Falei com o Pe.
Augusto. Tomei vitamina.
09/12/58 – Terça – Jardins
e Instrução. Às 19:30 fui até o CMP ondei joguei volei. Joguei bem. Ganhamos na
"negra". A Miriam e a marly lá estavam. Também estava a noiva do Ó de
Almeida. Torciam bastante. Fui de lambreta com o Sérgio. Fui dormir à
meia-noite.
10/12/58 – Quarta –
Expediente total. Jardins. Limpeza para a visita do Ministro da Guerra. Gen
Lott.
11/12/58 – Quinta – Pela
manhã: faxina. À tarde fui ao desfile motorizado em homenagem ao General Lott.
Senti uma dor de barriga que me custou muito a controlar.
12/12/58 – Sexta – Pela
manhã últimos preparativos para a visita do Gen Lott. Fui a um almoço no 20 RI.
Muito bom: vários copos, talheres e pratos. Discursos. Música. À tarde o
Ministro foi à Companhia. Sorridente e bem corado. Visitou tudo, ele com a sua
comitiva. Possui 47 anos de serviço e está bem conservado. À noite joguei volei
no CMP.Ganhamos facilmente.
13/12/58 – Sábado –
Feriado. Dia do Marinheiro. Acordei às 07:15. Fui ao BLMG pedir um em[réstimo
de Cr$24.000,00. Fila. Calor. Fiz várias coisas. Após o almoço fui dormir. Às
14:30 a Lidja me telefonou. Fui para o PC.
14/12/58 – Domingo –
Acordei às 05:40. Fui para o PC onde estudei. Depois fui até o CMP de Lambreta
onde joguei um bom basquete. O cabo de embreagem arrebentou. À tarde dormi. Fui
ao PC. Estudei. Fui à missa. O Henrique se confessou e comungou. A Lidja
também. A Danacey e o juiz de óculos lá estavam. O Walter também. Conversei com
a Lidja. Vai à Alemanha. Voltei para o quartel. Estudei. O Flamengo ganhou de 3
x 1 do Vasco. O Santos é o campeão paulista.
15/12/58 – Segunda – Tempo
frio. Atividades superficiais. À tarde fiquei de Ajudante e Secretário. A nova
estante da Seção Rádio ficou pronta. Manipulação. O Henrique, eu e o Cabo
Stephanes. Fui à cidade. Apanhei as fotos. Comprei o cabo da Lambreta. Estudei
das 08:00 às 09:30 com sono.
16/12/58 – Terça – Dia do
Reservista – Formatura às 07:45. Hasteamento da Bandeira. Canto do Hino
Nacional. Competições esportivas. Os soldados e os sargentos ganharam dos
oficiais no basquetebol. À tarde troquei o cabo de mudança. Dormi cedo. Não
ando bem dos intestinos.
17/12/58 – Quarta – Acho
que não irei ao Rio. Dediquei-me hoje à revelação de fotografias. Terminei
tarde. Tirei umas fotografias com a Lambreta usando a Yashica. Dormi cedo pois
senti dor nos olhos e na cabeça. À meia-noite o Joélcio disse-me que iria
buscar o carro que fora amassado.
18/12/58 – Quinta –
Acordei às 04:00. Pulgas e mosquitos. Fui para o PC. Não tenho estudado bem. Já
tenho revelado fotografias.
19/12/58 – Sexta – Sou o
Ajudante e Secretário e tenho tido uma vida de burocrata. À noite fui a um
baile no Thalia.
20/12/58 – Sábado – Ontem
o Henrique foi para o Rio. Fiz uma musiquinha para ele: "Lá vai o
Henrique, todo faceiro, pelo avião da Cruzeiro, para o Rio de Janeiro! Vai depressa
e bem ligeiro o Carneiro, vai rever os seus parentes, que estão à sua espera,
todos alegres e contentes!" À tarde dormi. Muita chuva nestes dias. À
noite fui a um baile no Thalia. O Ó de Almeida nos levou de carro. Dancei com a
Marly, com uma amiga de um oficial de Intendência, com uma amiga da Marly e com
uma moça chamada Maria Dolores. Voltei de táxi com o Ribamar às 05:15!
21/12/58 – Domingo –
Acordei às 10:45. Fui para o PC. Li o Apocalipse. No Sábado quando ia de
Lambreta para a cidade, sem óculos, na rua Carneiro Lobo em dado momento em que
esfregava os olhos entrei na contra-mão e vi surgir um caminhão FNM na minha
frente. À hora da batida, desviei para a esquerda, subi na calçada, fui jogado
fora, rolei duas vezes. Quase nada me aconteceu. Alguns arranhões. A Lambreta
caída com o motor parado. A carteira no chão. Estive próximo da morte e não
estava preparado. Agradeço ao Criador e ao Meu Anjo da Guarda e à Nossa
Senhora. "Estote parati quia hora non putatis Filius Hominis veniet!".
À tarde de hoje dormi até as 16:45. Fui à missa de Lambreta. Garoando.
Confessei-me com o Pe. Raymundo e comunguei. Graças a Deus! Tomei vitamina no
Savoya e um cachorro-quente (Cr$10,00). Voltei para o quartel. Fui para o PC.
Ouvia o Vasvox e pensava na vida. Estou sentindo um pouco a falta de uma
namorada. A Liz nem sequer respondeu ao meu cartão de Natal. A Lidja foi
embora. As outras mulheres eu não as acho atraentes. Gostaria de ir ao Rio mas
tenho que estudar e desempenho as funções de Ajudante e secretário. Acho que
Nosso Senhor já poderia me mostrar a futura esposa. Talvez me ajude a estudar e
variar um pouco, sei lá. Mas apesar de tudo farei o Vestibular de Engenharia e
portanto a minha preocupação no momento deve ser "ESTUDAR". Farei um
novo horário, em função do meio-expediente no quartel. Evitarei tirar horas de
sono pois é prejudicial à saúde. Não irei ao Rio. Ofereço o sacrifício a Deus
pelos meus pecados e para que eu passe no Vestibular, se assim Ele quiser. Ad
maiora natus sum! Age quod agis!
22/12/58 – Segunda –
Acordei às 06:50. Ajudância e fiscalização de jardins. À tarde recebi Cr$
13.168,90. Deo Gratias! Fui à cidade de Lambreta, paguei o alfaiate e recebi o
dinheiro na Caixa Econômica. Cumprimentei com um sorriso que foi correspondido,
aquela garota do baile de Sábado apontada por um estudante de Direito. Achei-a
imensamente linda e fiquei muito contente. Recebi a carteira de motorista,
graças a Deus! No Banco da Lavoura de Minas Gerais um moço achou-me muito jovem
para Tenente. Apanhei as camisas, comprei uma pulseira Champion e um prendedor
de gravata. Comprei um canivete. Trouxe o Sgt Moreira de Lambreta. Estou muito
contente. Enviei cartão de Natal para quase todos os amigos e parentes. Recebi
um do Gustavo de Farias. O Tarcísio vai se casar no dia 3. Seja bastante feliz!
Penso na beleza da moça que hoje encontrei na Praça Zacarias. A Beatriz
convidou para o Natal na casa dela. Disse que ia.
23/12/58 – Terça – O
expediente no quartel está bem encurtado. Para a FA, CO e Tesouraria todos os
dias das 08:00 às 11:00 e das 13:00 às 16:00. Para os outros das 13:00 às
17:00. À noite fui à cidade onde comprei um disco Long Play de Cr$450,00 (
Waldir Calmon, nº 10). Penso na beleza da desconhecida.
24/12/58 – Quarta – Fiz
uma boa manutenção na Lambreta. À noite fui até a casa da futura cunhada do ö
de Almeida. Depois nos dirigimos até a casa da Beatriz. Fomos até Santa
Felicidade comprar vinho. A festa foi na casa da "Gringa" (Maria
Helena). Uns amazonenses e um estudante de Direito com uma conversa em que eu
não podia dar opinião. Não pude ir à Missa do Galo como queria. Voltei para o
quartel à 01:00.
25/12/58 – Quinta – NATAL!
Acordei às 10:00. Fui ao CMP onde joguei 21. Ao meio-dia o Presidente (Ribamar)
e eu fomos à casa do Sgt Leônidas Calazans onde comemos carne de carneiro,
cabrito e tomamos bons vinhos. Voltei um pouco "alto". À tarde fui à
Igreja da Ordem onde assisti à santa Missa e comunguei.
26/12/58 – Sexta – Vida
burocrática. Recebi um cartão de Natal da Da. Tina (Hilbrantina), da Miriam e da
Marly. Passei a noite a ler revistas e jornais, colhendo informações. Dia
chuvoso.
27/12/58 – Sábado –
Aniversário da Maria José. Dia muito bonito. Vida burocrática. Levantei-me às
07:50. Telegrama do Galaor para o Joélcio. Novo médico. Ganhei uma garrafa de
vinho do Soldado Adélio. À tarde fiz uma nova organização do estudo. À noite
(18:00) fomos, Ribamar, Ó de Almeida e eu ao casamento do Tenente Mário Moreira
Leite com a Srta. Glória Maria. Demos voltas pela cidade.
28/12/58 – Domingo –
Acordei às 08:00. Estudei. Às 18:30 fui à missa de Lambreta. Não comunguei.
Voltei para o quartel. Hoje às 10:00 joguei basquete e volei no CMP.
29/12/58 – Segunda –
Bonito dia. Vida burocrática. À tarde fui até a cidade para receber a carteira
de motociclista. Resgatei uma passagem da Varig. Paguei a Cibrasil. Passeei de
Lambreta com as duas gauchinhas. Encontrei-me com a Da. Tina que me convidou
para ir ao baile do dia 31. Disse-me que a Miriam ainda não havia recebido
notícias do Joélcio. Voltei para o quartel onde joguei um bom basquete com os
soldados. À noite fui à colação de grau ( Bacharel em Jornalismo) da Beatriz
Esther Bargen. Não falei com ela. Voltei e dormi.
30/12/58 – Terça – Acordei
às 07:40. Burocracia. O Frota Leite é completamente contra os americanos.
Atrasou o relatório do Cel Edson. À tarde fui até o centro. Levei a fotografia.
Acharam pequena. Fui ao CMP e preenchi uma proposta. O Major Bello me facilitou
bastante e um General moreno ainda mais. Amanhã deverei ir ao CMP. Encontrei a
Myriam. Ainda não recebeu notícias do Joélcio. Ia voltando quando atropelei um
idoso que cruzava a rua com sua bicicleta. Graças a Deus nada de grave
aconteceu. Somente um furo no pneu. Paguei um pneu novo. Disse-me que
trabalhava numa carpintaria e sentia um pouco de dor de cabeça. Creio que a
culpa foi dele pois cruzou uma rua preferencial sem mais nem menos. Agradeço ao
meu Anjo da Guarda e à minha querida Mãe do Céu, não tê-lo matado. A Lambreta
também enguiçou. Arrebentou o cabo do acelerador. Amarrei um barbante. Esqueci
os óculos. Voltei e encontrei. Regressei ao quartel. O Ribamar a falar nos
cuidados de um casamento. O Sargento Levy Navolar a bater o relatório atrasado.
Fui para o PC. Hoje recebi um cartão da Maria José. Estão com saudades.
31/12/58 – Quarta – Acordei
às 07:40. Não estou querendo nada com o estudo. Fui ao ERF/5. À tarde consertei
a Lambreta. Fui até o depósito do Hermes Macedo. Estava fechado. Bastante
chuva! Fui de táxi com o Ribamar até o CMP. Pouca gente. Que passagem de ano!
Com uma taça de champagne na mão vendo os outros a pular! Voltei às 03:30. Lá
falei com a Bona Tina, a Marly, a Nilcéia, cadetes e outros. Não dancei nem
pulei. Cheguei então ao final de 1958. Reli todo o diário. Confirmo que somente
vale a alegria do trabalho útil. Achei interessante como fui inconstante e
volúvel com a Lidja. Resolvo pensar só na Liz porque é a única em que não sinto
variação . Gosto mesmo e com grande intensidade. Quando for ao Rio irei falar
com ela, se Deus quiser. Acho uma boa idéia para mim tentar reatar a
correspondência com a Liz, não pensar em namorar ninguém, estudar com o
sacrifício do conforto, trabalhar do melhor modo, cuidar da saúde com um dever,
ser um perfeito católico como essência da existência. Sempre "Ad
Astra!". Neste ano que passou sofri muitas derrotas morais mas sempre
brilhou a chama do ideal. Acho que não valeu a pena Ter dormido tarde nem
acordado tarde. Devo ser mais metódico. Falhei um pouco na religiosidade, posso
ser mais piedoso, ir mais à missa e comungar. Não cuidei muito da sáude. As
metas para 1959 são: estado de graça, estudo, oração, saúde e método.
ANO DE 1959
01/01/59 - quinta -
Circuncisão do Senhor - Acordei tarde. A Beatriz telefonou. Combinei um passeio
de lambreta. Fui para o lado das Mercês. Exagerei nos carinhos. Na volta,
quando um cachorro avançou, fingi dar
um pontapé e a lambreta perdeu o
equilíbrio, indo ao chão. Quebrei o pára-choque. Arranhei-me no braço e no pé
esquerdo. Interpretei como um castigo de Nosso Senhor ao fato de eu sair com
uma moça para quem eu não sinto um amor puro. Nunca mais levarei uma moça na
lambreta. Só minha futura mulher. Fui à missa na Igreja da Ordem e confessei-me
com o Padre Raymundo que me deu bons conselhos. Estou triste
com a passagem de ano que fiz. Em vez de estar na igreja e comungar para Deus me ajudar, não,
em vez disso fui a bailes e passeios de lambreta. Mas ainda é tempo de mudar. O
desvio para o mal é pequeno, a
aceleração é mínima. Posso deter e deterei. Nova vida! Ad maiora natus sum! Ad
astra! À saída da igreja encontrei o Walter (filho), Sérgio e o Guimbala.
Conversas. Voltei para o quartel.
02/01/59 – sexta - Acordei
às 07:30. Vida burocrática. Sinto dor na perna esquerda devido à queda da
lambreta. À tarde dormia quando me acordei e me lembrei que era a primeira
sexta-feira do mês. Fui à catedral onde comunguei ficando bem reconfortado. No
quartel jantei. Fui para o PC onde reli o diário e fiz novo planejamento para
1959. Possuo um rádio Philco Transistor, muito bom que troquei com o Ó de
Almeida pela enceradeira Arno. AMDG!
03/01/59 – sábado –
Expediente pela manhã. Estou com ferimentos no pé esquerdo e no braço esquerdo
devido à queda da lambreta. Mesmo assim joguei basquete com oficiais, sargentos,
cabos e soldados. À tarde fiz uma pequena manutenção na lambreta. Fui à
catedral onde comunguei. Comi dois cachorros-quentes e uma vitamina (32,00).
Voltei para o quartel. Lá jantei às 20:00 com o Ribamar. Li jornais. Consertei
o trinco da porta do quarto dele. Ficou contente. Fui para o quarto onde ouvi o
jogo Vasco 0 x Botafogo 1 (gol de Paulinho, passe do Garrincha). Não consegui
rezar o terço, de tanto sono.
04/01/58 – domingo – O
relógio despertou-me às 06:00 mas só me levantei às 08:30. Chovia bastante. Fiz
curativos. Tomei café e fui para o PC. Eram 09:30. Estudei Desenho até 17:00.
Chuva. Ia à cidade de lambreta mas a chuva me impediu. Fui na igreja do Portão
onde assisti à missa e comunguei. Cheguei ao exercício nº 182 de Desenho.
05/01/59 – segunda – O
despertador soou às 05:00. Só comecei a estudar às 07:30. Preciso ter mais
força de vontade! O comandante Capitão Dirceu chegou hoje. Burocracia. Recebi
um telegrama natalino do Felippe simbolizando a mamãe e toda a família. Também
do Affonso recebi outro em que me desejava um Bom Natal e um grande vestibular.
Animou-me! Dia chuvoso. Não fui à cidade. Fiquei a estudar.
06/01/59 – terça – Acordei
às 06:00. Tosse. Quase não estudei. Burocracia. Dia úmido. Parece que irei para
a Seção de Reparação e Suprimento. O Ó de Almeida não quer ficar com o Armazém
Reembolsável.(AR). À tarde fui à missa na igreja do Portão.
07/ 01/59 – quarta – À
tarde saí para fazer algumas compras.
08/01/59 – quinta –
Burocracia. Tratando de receber bem os novos conscritos.
09/01/59 – sexta – À noite
fiquei das 19:30 a 01:30 no Círculo
Militar. Perdemos o jogo de vôlei.
10/01/59 – sábado –
Burocracia. À tarde dormi e estudei. Vi que a lambreta está sem freio traseiro
devido à lona gasta. Comprei no outro dia um estojo de couro para o rádio. Ele
está muito bom e bonito. Um soldado me chamou para atender o telefone.
Perguntei: é homem ou mulher? É homem, respondeu ele. O meu chinelo chegou ao
fim. Fui atender. Era a mamãe que pedira a um homem para ligar para cá. Minha
mãe! Muito obrigado, meu Deus! Ela achou melhor que eu fosse no dia seguinte
para conversar com ela. Fui para o quarto. Ouvi o jogo Botafogo 1 x Vasco 2.
11/01/59 – domingo –
Acordei às 07:00. Arrumei-me. Estudei um pouco. Fui de lambreta até o Palace
Hotel.. Mamãe e tia Maricas. Trouxe-me o álbum com a fotografia da Liz e o
livro do Mons. Thiamer Toth. Vendeu-me um ótimo binóculo por Cr$10.000,00.
Fomos à missa na Catedral. Que coincidência, hoje é o Domingo da Sagrada
Família e eu estou junto da minha mãezinha. Graças a Deus! Comungamos. Peço-vos
Bom Jesus que abençoe a minha mãe e que eu nunca abandone o caminho em que ela
me ensinou os primeiros passos. Abençoai-a e dai-lhe muita felicidade neste e
no outro mundo melhor e eterno.Ela me trouxe uma carta da Maria José em que
esta me contava as peripécias de uma enchente às vésperas de Natal e que o
Felippe está gostando de uma moça chamada Suelly. Será que vai dar em
casamento? Almoçamos no restaurante Rio Branco. Fomos para o quarto. Contaram
os acontecimentos do Rio: “A Ana gostando do Élcio, o Affonso fazendo estágio
em Santa Cruz, o 2º Ten Rubens já de volta com muitos presentes, o Ivan em um
novo vestibular para Medicina, o Horácio muito bem na Naval, o Felippe de
férias a passear de automóvel com um colega, a Margarida muita bonita como
também a Dilva, a Risoleta em Paquetá, o Dr. Piedras construindo uma casa em
Paquetá, o Pe. José Maria e a Raymunda trabalhando muito e recebendo muitos
presentes, a R. do tio Françu a trabalhar para os pobres, o Luiz triste com a
inundação que cobriu o carro dele, a Maria Helena em Niterói, a Miriam da tia
Maricas, quando vê a Liz na televisão dizendo: essa é que a do Felinto!, o
Gilberto e a Maria Helena tiveram mais uma menina no dia do aniversário da
Gildinha (09 Jan) que vai se chamar Renata.”
Voltei para o quartel.
12/01/59 – segunda – Dia
normal. À noite fui falar com a mamãe. Deixei o rádio com ela.
13/01/59 – terça – Estou
estudando para o Vestibular.
14/01/59 – quarta – Desde
domingo passado chegaram 40 convocados do Norte do Paraná. Esperei-os na
estação do Portão. Chegaram a 01:50 de segunda-feira. Fui de lambreta atrás de
um que pensava ter seguido no trem. Não o encontrei na estação. Os novos estão
trabalhando para o quartel nos serviços gerais. Hoje à tarde tiveram
expediente. Saí com o Ó de Almeida que passeou com a mamãe e a tia Maricas
pelos melhores lugares de Curitiba. O Ó de Almeida foi muito prestativo! Voltei
para o quartel. Deixara a chave no carro do Ó de Almeida. Fiquei no quarto do
Ribamar a estudar e ouvia o jogo
Flamengo x Botafogo. Quando fui dormir o Flamengo vencia por 1 x 0.
15/01/59 – quinta – O jogo
de ontem terminou 2 x 2. Às 11:00 saí de lambreta para o centro para tratar dos
papéis. À tarde ainda falei com a mamãe e a tia Maricas. Molhei-me bastante na
chuva. Despedi-me pois amanhã elas seguem para Lages.
16/01/59 – sexta – Às
11:00 tenho saído de lambreta. Hoje ia faltando gasolina. Calor. À noite fui ao
CMP de onde fui no carro do Capitão Lenine até o ginásio do 20º RI. Lá
encontrei o Capitão Camargo que terminou há pouco o curso na Escola de Educação
Física do Exército. Joguei vôlei e perdi. O Ó de Almeida me trouxe de volta até
o CMP de onde voltei de lambreta. Ela estava completamente sem freio. Graças a
Deus a 00:15 estava dormindo. Tempo chuvoso. Com saudades da Liz.
17/01/59 – sábado –
Lidando com os convocados. À tarde, auxiliado pelo Figueiredo consertei a
lambreta. O trem com novos convocados atrasou de novo. Dormi. Escrevi uma
carta. Estudei.
18/01/59 – domingo – O
Henrique chegou do Rio. Fui a missa na igreja da Ordem.
19/01/59 – segunda –
Lidando com os convocados.
20/01/59 – terça – Bonita
vitória jogando vôlei.
21/01/59 – quarta – Nova
arrumação no quarto.
22/01/59 – quinta –
Derrota no basquete à noite.
23/01/59 – sexta – Derrota
no vôlei à noite.
24/01/59 – sábado – Pela
manhã houve numeração dos soldados e distribuição pelos pelotões e seções. Fui
até o CPOR onde a 5ª Cia Com tinha como missão instalar o serviço de
alto-falantes. Houve o Compromisso à Bandeira dos soldados do Grupamento “B”.
Lá estavam vários oficiais conhecidos. Voltei ao quartel onde ainda dirigi
algumas palavras aos soldados e tirei fotografias. À tarde dormi e depois com o
Sérgio limpamos e arrumamos o quarto o que continuei a fazer até a noite. O
Ribamar acha a Liz feia. O Ó de Almeida teve uma recaída de malária. O Sérgio e
o Ribamar foram à cidade. Continuei a arrumar o quarto. O Ó de Almeida logo
ficou bom. Emprestou-me uma régua de cálculo. Ele também arrumava o quarto
dele. Hoje não estudei e fui dormir.
25/01/59 – domingo –
Acordei às 07:00. Tomei café. Bonito dia e o sol entrando pela janela do
quarto. Lia o livro do Mons. Toth. Amanhã começa a instrução dos soldados. O
Sérgio foi ao CMP com o Ó de Almeida e o Ribamar. À tarde fui à Igreja da Ordem
onde me confessei com o Pe. Raymundo e comunguei. Falei com o Pe. Augusto. Fui
com o Sérgio até o CMP. Final de matinée. Lá estavam o Frota Leite, o Ribamar,
o Cel Alípio e o Cap Camargo. Voltamos para o quartel.
26/01/59 – segunda – Ontem
o Joélcio chegou todo animado. Hoje começa a instrução . Dei instrução sobre
armamento. Enviaram uma estação de rádio para uma cidade do Paraná. Fui à
cidade de lambreta: dentista, abreugrafia, cabo para a lambreta e óculos.
Conversei com três moças enquanto esperava a vez no dentista, Dr. Cavanha:
Ieda, Ione e Leny. Estudei Geometria. Jantei no quartel. Dormi cedo após rezar
o terço. Lua. Calor.
27/01/59 – terça – Acordei
às 04:00. Estudei Química. Educação Física. Instrução. À tarde levei o Joélcio
para ver o carro dele. Consertei a mudança. Fui ao 20º RI jogar vôlei. Perdemos
na “negra”. Eu estava ruim. O ó de Almeida apareceu com a Lina. Fui dormir às
23:00.
28/01/59 – quarta –
Acordei às 06:10. Dia bonito. Não deu para estudar. O comandante não gostou da
desobediência a uma ordem de amarrar uniformemente os coturnos. O ambiente não
está bom em relação ao comandante. Penso que se deve ao fato de não saber lidar
com os subordinados. Enfim é mesmo difícil contentar a todos. Dei Ginástica
Básica. À tarde foram tiradas as fotografias dos soldados. Fui à cidade de
lambreta com o Sérgio. Demora no Banco. Vi um ex-colega da EPSP. Dentista.
Sono. Quartel. Jantar. Bandolim. Calor. Estudo. Amanhã estarei de Oficial de
Dia.
29/01/59 – quinta – Estou
de Oficial de Dia tendo como Adjunto o Sgt Levy. Tudo normal. Consertei a
lambreta auxiliado pelo Sérgio, Plombom e Moreira. Foi feita a lubrificação dos
3.000km.
30/01/59 – sexta –
Instrução. À noite jogamos voleibol. Tenho uma boa torcida por parte de uns garotos
e meninas. Que barulho! A luz falhou. Empate de 1 x 1.
31/01/59 – sábado –
Questões de Tiro. Fotos. Ambiente hostil ao comandante. Dormi. Fui ao CMP. O
Joélcio a cuidar do seu carro. Choveu. Ia com o Sgt Joel de lambreta quando em
uma curva acelerei com o chão molhado e tive mais uma queda. Graças a Deus nada
de grave. Fui ao CMP. Fiz exame médico para a piscina. Não passei devido a
fungos entre os dedos. Vi a Aglaé e a lourinha Naldecy do basquete. Voltei para
o quartel molhando-me bastante na chuva. Hoje haveria um baile de carnaval no
CMP. No fundo sentia vontade de ir. Mas estava cansado e resolvi ir dormir para
estudar no dia seguinte. Termina assim o primeiro mês de 1959 em que não fiquei
muito satisfeito comigo mesmo. Faltam 15 dias para o Vestibular e eu sinto uma
necessidade grande de estudar. Hei de passar, se Deus me ajudar. Vou dormir só
4 horas por noite das 22:00 às 02:00. Não vou jogar mais vôlei nem basquete.Não
vou sair do quartel sem necessidade. Vou evitar qualquer esforço físico desnecessário.
Vou me alimentar bem. Vou conversar pouco e não ler revistas. Muita
concentração. Estudo e oração!
01/02/59 – domingo –
Acordei às 06:30. Meditação. Bandolim. Li o livro do Mons. Tiamer Toth. Café
com o Tavares. Bandolim. Escrevi este diário até 09:15. Em seguida, com a graça
de Deus comecei a arrancada final. Até o dia deste meu diário quando espero
registrar a minha vitória. AMDG.
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21/02/59 – sábado – Hoje
terminei de fazer o Concurso de Habilitação à Faculdade de Engenharia da
Universidade do Paraná. Ainda não sei o resultado e no íntimo acho que passei,
mas só vou vibrar quando ler que fui aprovado. Agradeço a Deus e as orações de
todos os que por mim pediram. Consegui estudar bastante deixando a preguiça de
lado. A semana de 16 a 21 e passei dispensado pelo Sr. Capitão Dirceu Ribas
Correa, o que muito me facilitou a vitória. Portanto mais uma das metas
conseguidas, “entrar para a Faculdade de Engenharia” e agora apareceu uma nova:
“sair o melhor engenheiro que eu puder!”. Nestes dias eu tenho estudado na
biblioteca do quartel. À noite o soldado me levava um chá. Passei os dias de
Carnaval a estudar e vejo que lucrei muito com isto, graças a Deus! A mamãe
esteve na volta de Lages de novo aqui em Curitiba. Infelizmente não pude passar
muito tempo com ela, mas agradeço a Deus a graça de a ter visto. Aos domingos
sempre tenho ido à missa na Igreja da Ordem. O Joélcio, a Miriam e a Marly
também têm ido. O Joélcio foi hoje à cidade da Lapa para apitar um jogo. A
Lambreta está ótima. O soldado Cassorla tem cuidado dela. Na próxima
segunda-feira começa o Período de Formação dos soldados em que darei muitas
instruções. Estou sentindo a falta de uma namorada mas o estudo não tem me
deixado tempo para pensar nisso. Ainda me lembro com saudades da Liz que não
respondeu ao meu cartão de felicitações.
01/03/59 – domingo – Fui
ao CMP. Joguei basquete e depois da pelada fui para a piscina onde matei as
saudades da ilha de Paquetá. Fazia um dia muito bonito. No quartel tivemos o
almoço de despedida do Jorge Abreu do Ó de Almeida. “Cubana”e vinho. Tora.
Escrevi uma carta para o Rio noticiando mais uma vez que passei para a
faculdade. Fui à missa na igreja da Ordem onde conversei com o Padre Augusto,
meu padrinho de crisma. Passei depois pelo CMP e depois regressei ao quartel
após tomar vitamina.
02/03/59 – segunda À tarde fui ao centro com o Valfrido. Paguei
a Cibrasil e me inscrevi na Faculdade. À noite fui para o PC onde preparei-me
para a instrução de Tiro.
03/03/59 – terça – Passei
o dia na granja onde dei a instrução de Tiro para o CFG (Curso de Formação de
Graduados). Os soldados estão ruins. À tarde houve Tiro para os Oficiais. O Comandante,
Cap Dirceu vai começar a exigir a posição de sentido e a apresentação dos
oficiais. O ambiente não é dos melhores. À noite fui de lambreta até a casa do
advogado Mazzaroppi levar um papel do Ó de Almeida. O Sérgio ficou a estudar. O
Ó de Almeida está a preparar as malas para a viagem para o Rio e dizendo que às
vezes dá vontade de voltar atrás. Que por mais que se planeje sempre na hora há
muita coisa para ser resolvida. O Joélcio e o Ribamar deram uma saída. E eu? Eu
estou na expectativa. O Capitão Lybio King me disse que o curso na Faculdade é
duro. Estou como que retendo todo o meu sentimento de amar para alguém que um
dia aparecerá. Continuo plantando, para colher mais tarde. Vou me aperfeiçoar
moral e intelectualmente para ser o máximo e minha esposa e meus futuros filhos
hão de ficar orgulhosos com o marido e pai que terão, com a graça de Deus! Às
vezes sinto vontade de acabar com
qualquer restrição moral e começar a conviver com mulheres para me satisfazer
sexualmente. Entretanto seguindo um conselho do Cardeal Dom Jaime de Barros
Câmara vou dizendo: amanhã,,, amanhã.... Vou protelando e assim consigo ir
rechaçando este desejo forte e egoísta. E, com o auxílio de Deus eu hei de
conseguir alcançar o cimo da vitória e então cantarei louvores a Deus, meu
único e supremo FIM! Deo Gratias!
04/03/59 – quarta - Pela manhã regi o canto do Hino à Bandeira.
Houve um jogo de basquetebol entre os oficiais. Em dado momento o jogo começou
a endurecer e devido a uma cama de gato cai ma horizontal no cimento tendo
ficado com a perna esquerda muito dolorida. Fiquei deitado o mais que pude.
Fiat voluntas Dei.
05/03/59 – quinta – Fui à
granja onde executei o tiro com os recrutas. À noite não fui ao treino de
basquete e fui dormir cedo.
06/03/59 – sexta – Comecei
a passar o material sob a minha responsabilidade. Instrução. Arrumação de
mochilas. Dormi cedo.
07/03/59 – sábado – Fui à Faculdade onde me
matriculei pagando Cr$1.260,00. Encontrei o Werner e o Ribas. O Emílio é um
indivíduo que maceteia tudo. .Dirigi-me ao 20 RI. Encontrei o Major Bello.
Houve Tiro. Música. Oficiais no esporte. Cafezinho. Ônibus. Comentários sobre o
comandante da Companhia. Faxina. O Joélcio e o Sérgio a torar. Também descansei
um pouco. Estou quase bom da perna graças a Deus! À tarde fui até a casa da
Miriam que completava seus 18 anos. Dancei com quase todas as moças. A casa é
um pouco pequena. Treinei tango com a Marli mas não me sai bem. Voltei com o
Sérgio às 24:00.
08/03/59 – domingo –
Basquete no CMP. Piscina. Banho de sol. Óculos. Pedro Paulo. Almoço no quartel
no quartel com o Luiz Cavalcanti. Tora. Mudanças. Igreja da Ordem. Confissão.
Comunhão. Pe. Augusto. Quartel. Vitamina. Dormir.
09/03/59 – segunda – À
tarde fui até a cidade onde comprei remédio. Passei pela Faculdade. Fui ao
alfaiate e ao CMP. Dormi às 22:00.
10/03/59 – terça – Dia
cheio. Instrução. Fui ao CMP onde nadei bastante. A chuva chegou e eu tive que
voltar para o quartel não podendo treinar basquete. O Capitão Lybio King me
disse que propusera o meu nome para servir no CPOR de Curitiba!?
11/03/59 – quarta – Dia
chuvoso. Instrução. O Frei Silvestre falou sobre o Comunismo.À tarde houve
faxina. Passei a carga do Pelotão de Exploração para o 1º Tenente Luiz
Cavalcanti. O Ribamar me mostrou uma fotografia da Liz na capa da Manchete.
Achou-a feia. Eu porém fiquei com mais saudade dela. Afixei a fotografia em
frente a minha cama.Tenho dentro de mim uma grande esperança de um dia voltar a falar com ela. Ofereço a
Deus este sacrifício de não poder falar com ela para que Ele a proteja da
corrupção do meio onde vive.
12/03/59 – quinta – Dia
frio. Fui à granja onde fiscalizei o Tiro dos soldados. Destruí um rojão que
falhara em 1958, graças a Deus! O resultados estão melhores. À noite fui até o
CMP porém faltava luz e tive que regressar. Ainda com saudades da Liz. O
Joélcio e o Frota Leite me disseram que no jogo de oficiais tinha havido muita
briga.
13/03/59 – sexta – Dia
inteiramente dedicado aos preparativos da festa do dia 16. Passei um pouco da carga da Seção Telefônica e
Telegráfica. Recebi uma carta da minha irmã Maria José. As notícias são boas.
Provável casamento da minha sobrinha Anna e possível casamento do meu irmão
Felippe. Felicitações de todos pela vitória no vestibular. Dormi cedo.
14/03/59 – sábado – Dia
inteiramente dedicado à preparação da festa do dia 16. À noite houve um jantar
comemorativo dos aniversários do Ribamar e do Joélcio, oficialato do Werner e
entrada para a Faculdade. Saiu um pouco caro! Ia haver um Ice Cream dançante no
CMP. Não fui devido estar na Quaresma e já ser 22:45.
15/03/59 – domingo – Fui
ao CMP. Joguei basquete. Time da 5ª Cia. Pratiquei sozinho. Nadei 300 metros,
sendo 100 de crawl, 100 de costas e 100 de peito. Voltei ao quartel. Tora.
Inspecionei o quartel para amanhã. Cometários de que no Ice Cream Dançante de ontem tinha havido pouca decência
por parte de uma bailarina francesa. Dia bonito. À tarde fui à missa e
conversei com o Pe. Augusto em portunhol. Comunguei. Voltei para o quartel.
16/03/59 – segunda –
Comemoração do aniversário da 5ª Companhia de Comunicações. A canção da
Companhia saiu bem, graças a Deus! Missa. Comunguei. Desfile. Jogos. Perdemos o
basquete para o CPOR e vencemos do 20 RI. Precisamos de maior controle de bola
e rapidez. Churrasco. Havia muitos oficiais. Show. Tora. Alguns a
jogar.Comentários sobre uma possível ida ao Rio.( Liz, Cristina, Aracaju...). É
um estado de espírito interessante este que sucede a festas, cinemas, farras,..
(depressão ou insatisfação).
17/03/59 – terça – Hoje o
meu irmão Luiz estava completando 30 anos. Dia normal. Instrução. Fiz a marcha
dos 8 km. A lambreta ficou em uma oficina pois o Werner ficou com receio de que
a roda caísse. À noite o SS saiu. Brincaram com o Sérgio Henrique. Fui ao CMP.
Treinei basquete. Não voltei no automóvel do Luiz Cavalcanti.
18/03/59 – quarta –
Terminei de passar a carga da Seção Rádio, graças a Deus! À tarde saí com o
Sérgio. Fizemos várias coisas úteis. Cismei de brincar com as garotas que me
atendiam. Reservamos as passagens para o Rio. Viva! Acho que vou ficar mo 2º
ano. What a pity! Joguei xadrez com o Sérgio. Frio. A lambreta já está no
quartel.
19/03/59 – quinta – Fui
para a granja onde fiscalizei a execução do Tiro pelos soldados do CFG. Bom
rendimento, graças a Deus! Ao jantar o Frota Leite contou fatos da família
dele. Um cachorro mordeu o pai dele. Planejamento da ida ao Rio. O Joélcio me
mostrou um telegrama bem comprido que recebera do pai dele. Também a Cristina
não se esquecera dele. O Sérgio a ouvir o seu rádio e o Joélcio a ler PN. O
Luiz entrou no quarto. (Teacher in West Point?).
20/03/59 – sexta –
Instrução.
21/03/59 – sábado – Marcha
de 12 km. À tarde fomos para o Rio de Janeiro...Mudamos de avião. Viajei ao
lado de uma moça chamada Claudete. Fiquei meio receoso pois era a minha primeira
viagem de avião. São Paulo. Rio. Noite. Fui ao Night and Day. Deixei o meu
rádio com o porteiro que gostou de ouvir o jogo do Brasil. Fui até o bairro do
Jóquei Club até o apartamento da Liz mas me informaram que ela não aparecia
mais lá. Regressei ao Night and Day. Passou o Grande Otelo, achei-o bem baixo.
Passou a Norma Benguel com um pinta de rico.Enfim apareceu a Liz. Fazia um
gesto de quem tinha torcido o pé e custou a me reconhecer e disse-me: Olá, você
aqui! Como vai? Não te esperava aqui! Eu não gostei do tipo do penteado dela.
Disse-me que estava com a carta que eu lhe escrevera na bolsa e ainda não tinha
respondido. Achou-me com boa aparência. Reclamei do dia 6 de janeiro e ela me
disse que não sabia o que fazer e tivera que escolher. Deu-me o telefone e
pediu que eu lhe telefonasse na terça-feira. Eu queria esperar que o show
terminasse à 01:00 mas ela me disse que estava noiva. A mãe a aconselhara e o
rapaz gostava muito dela. Fiquei um pouco chateado mas de qualquer maneira este
encontro me agradou e eu agradeço a Deus ter acontecido. Pude rever a Liz
apesar de ter guardado a impressão de que ela já não estava tão bonita. Ela se despediu dizendo estar na
hora do show e dizendo para eu ligar para ela na terça-feira.
22/03/59 – domingo – Almocei
na casa da minha irmã Risoleta. Toquei
piano. Novidades. Fui à missa da tarde.
Encontrei o Iacri na Praça Saenz Pena. Ele me disse que o Lobão estava em Suez
e o Bonetti em Joinville. Encontrei a minha prima Leia, o filho Jorge e o
marido Manoel. Folheei uns livros. Revi o Oscar e o Cacá. Encontrei o Duca. A
sogra dele Da. Madalena está com câncer.
23/03/59 – segunda – Fui a
Niterói. Fui à praia e nadei. Vi TV. Na expectativa do telefonema pa a Liz. Fiz
trabalhos em casa. O telefone que ela me deu é da casa do noivo em Ipanema.
24/03/59 – terça – À tarde
fui à cidade. Encontrei-me com o Joélcio acompanhado de seu pai. Laranjadas.
Admirei a construção do edifício Avenida Central. Telefonei bastante para o
número dado 47 7526. Às vezes o noivo me atendia e às vezes a empregada. Jantei
na cidade. Fui ao cinema passando antes pela Biblioteca. Após o filme fui já
meio decepcionado com tudo até o Night and Day onde deixei duas lembranças para
a Liz. Voltei para casa a cantarolar.. Que vida!?
25/03/59 – quarta – Fui
para Paquetá. Antes telefonei para o Joélcio que me disse que não iria. O tempo não está ajudando. Na lancha encontrei
a Risoleta com o Oscarzinho, a Ana, a Margarida, a Violeta, a Vera e a empregada.
Levei o rádio portátil. Fui lendo uma Revista do Rádio. Fui à praia. Nadei
bastante sozinho e um pouco com o Oscarzinho.À tarde me encontrei com a Vera
Lúcia e à noite conversamos na Ponte. Revi rostos conhecidos.
26/03/59 – Quinta-feira
Santa – Fui à praia. Conversei com a Vera Lúcia. Dia de sol. Passeamos à tarde
de bicicleta e conversamos à noite na Ponte. Jogo do Brasil 3 x Uruguai 1.
Brigas.
27/03/59 – Sexta-feira
Santa – Fui à Ponte com o Oscarzinho. Comprei pão e uma rosca para ele. Fui à
casa da Sandra Miriam (aquela do carro cadilac rabo de peixe com chofer). Lá
estavam alguns rapazes entre os quais o Carlos que havia namorado a Cléa.
Conversamos sobre o jogo de futebol de ontem. Fui à praia. Brinquei com a
Patrícia, o Cláudio, o Fafá e a Silvia. Fui até a pedra ao lado da “Carmen
Miranda” com a Margarida e a Verinha. Voltei à casa da Sandra Miriam onde
joguei vôlei três vezes. Comentaram a minha altura. Voltei à praia onde ainda
nadei um pouco. Ando retardando um exame de consciência para pesar estes dias
que se passaram. Ando meio desorientado espiritualmente. A Liz me prejudicou um
pouco. Agora tenho que esquecê-la. Tenho conversado coma Vera Lucia irmã da
Irene mas devido ao meu regresso para Curitiba não tenho nenhum projeto com
ela. À tarde passeamos de bicicleta levando o rádio comigo. A aliança paraguaia
que ela usa serve para a gente se demorar mais tempo num lugar. A chuva nos
atrapalha.
28/03/59 – Sábado Santo –
Fui à praia. Despedidas. Voltei para o Rio. Fui até a Catedral. Tudo igual ao
meu tempo de s - narista. Conversei com os antigos colegas. Dom Jaime me achou
com boa aparência. Comunguei.
29/03/59 – Domingo de
Páscoa – Regresso a Curitiba. Graças a Deus tudo bem. Recordações e entusiasmo.
05/04/59 – domingo –
Manobra em Ponta Grossa. Saímos às 06:00. Viagem com pouco atraso. Reparações.
COC – Centro de Operações Conjuntas. CDAT – Centro de Direção Aero-Tático.
Missa. Gerador. Banho de rio. Revi colegas meus e do Felippe. Tudo normal e
planejado. Estudei rádio.
11/04/59 – sábado –
Demonstração no curral. Joélcio e eu conversamos com as normalistas. Os jatos
impressionavam com suas manobras. Conversei com o Major Morais. Resolvi: “Serei
Engenheiro Militar, se Deus quiser!”
12/04/59 – domingo –
Acordamos às 05:30. O gerador não funcionou. Arrumamos tudo e voltamos para
Curitiba. Saímos às 08:00 e chegamos às 13:15. Alguns atrasos. O Sérgio estava
deitado.
13/04/59 – segunda – Fui à
Universidade. Aulas. Achei que os professores falam baixo. Almocei no quartel.
À tarde voltei à cidade. Encontrei o
Pimpão. Tive aula de Analítica. Conheci um colega filho de um Coronel que serve
em Ponta Grossa.
14/04/59 – terça –
Manutenção do material no quartel. Parte burocrática. Jogo de basquete com o
Palestra, 93x37.
15/04/59 – quarta –
Preparativos para exercícios na granja. À tarde fui à cidade com o Tavares que
me emprestou 9.000,00. Gastei em material de rádio.
16/04/59 – quinta – Marcha
de 8km até a granja. Aprendi o código Morse. Andei como infante. Perdi minha
caneta Parker 61. Fiquei meio chateado com a perda. Houve demonstração feita
pelo Ten Casatle . Patrulhas.
17/04/59
– sexta – Ao amanhecer
levantei-me aos gritos do Pelotão de Exploração. Corri e armei o Pelotão de
Construção. Infelizmente demorei-me um pouco. Houve incidentes tendo o soldado
Davi atirado no rosto de outro soldado. Um sargento atirou no rosto do Antonio
queimando-o. Vejo que é arriscado distribuir munição de festim. Houve tiro para
sargentos e oficiais. Fui para o quartel. Preparei-me rapidamente e fomos de
ônibus, o Joélcio e eu até Campo Largo. Fundiu a biela.Comprei uma tesourinha
de unhas. Tomamos outro ônibus. Dormi. O Joélcio a conversar sobre motor e
basquete. Chegamos a Ponta Grossa. O táxi é caro até a cidade de Castro
(Cr$800,00). Apareceu o ônibus da Artilharia. Fomos até Castro. Jogo com Guarani
de Ponta Grossa. Jogo rápido. Gritos do Osman. Entrei no final. No primeiro
arremesso: cesta! Depois houve um baile.
18/04/59 – sábado – Foi
grande a hospitalidade dos artilheiros. Competição de Tiro. Basquetebol. Apitei
dois jogos e apontei outro. Despedidas. Regresso. Dormi na viagem. O Fluminense
jogava com o Santos.
19/04/59 – domingo – Fui
ao CMP. Bom jogo de basquete com a Aglaé. Piscina. Almoço. O Frota Leite a
falar no rigor que se deve ter com o subordinado. Fui à Missa. Falei com o Pe.
Augusto. Fui de novo ao CMO. Falei com o Pimpão, o Sérgio e Frota Leite.
Conversa sobre pára-quedismo. Fomos até o apartamento do Frota Leite. Fui ao
baile no CMP onde dancei com a Maria Dolores que estava de vestido azul, moda
saco. Em dado momento ela não quis mais dançar alegando estar com calor. Andei
um pouco e conversei com os amigos e ainda dancei mais um pouco. Voltei à
01:00. A Lambreta está boa.
20/04/59 - segunda –
Reajustes. Reuniões. Faxina. Levei o rádio que comprei do Josué para o quarto.
Não tenho estudado.
21/04/59 – terça –
Inconfidência Mineira. Feriado. Fomos ao CMP. Basquete. Torci o pé. Piscina.
Acho que as filhas do Coronel Edson estão gostando de mim mas não tenho falado
com elas porque são meninas ainda.Regressei ao quartel. Almoço. Li a Imitação
de Cristo. O Cassorla a fazer a manutenção da lambreta. Dormi.
22/04/59 – quarta – Dia
normal.
23/04/59 – quinta –
Instrução.
24/04/59 – sexta -
Instrução.
25/04/59 – sábado –
“Perante a Bandeira do Brasil e pela minha honra prometo cumprir com os deveres
de Oficial do Exército Brasileiro e dedicar-me inteiramente ao serviço da
Pátria!” Hoje recebi Cr$16.000,00. Cuidei da documentação de Tiro. À noite
joguei basquete no Internato. O Joélcio chegou tarde pois saira com o Ó de
Almeida e esposa.
26/04/59 – domingo – Dia
chuvoso. À noite fui à Missa. Falei com o Pe. Augusto e comunguei.
27/04/59 – segunda –
Instrução. Fui à aula de Analítica. Haverá prova de Descritiva amanhã. Passei
pela casa do Allan. Comprei polígrafos. Estou com medo de enfrentar a
Engenharia. O Cel Alípio também fez este curso quando era da 5ª Cia Com.
28/04/59 – terça – Este
dia vai ser descontado das minhas férias pois fui fazer a prova de Descritiva
(Axonometria ortogonal e oblíqua). Fiz boa prova, graças a Deus. Fiz várias coisas
na cidade. Depositei 4.000,00. Enviei 3.000,00 para Castro. 300,00 na Cibrasil.
Assinei a revista Antenna. Comprei um cadeado para a lambreta que está muito
boa. Comprei fazenda para um calção. À noite houve basquete no 20RI. Ganhamos
do Ícaro.
29/04/59 – quarta –
Instrução. Canto da Companhia. Educação Física. Discussão no vôlei. O Zambrini
lavou a lambreta. Tora. Diário. Fichário.
30/04/59 – quinta – Fui à Faculdade. O Ribamar
foi promovido a Capitão. Fui à Biblioteca. Estudei Física (Teoria dos Erros e
Cálculo Diferencial). Prova. Muita conversa. Saí-me bem, graças a Deus.
Quartel. CMP. Treino da equipe da 5ª Cia Com. Terminado mais um mês. Sinto
falta de tempo. Tudo bem, graças a Deus!
01/05/59 – sexta – Dia do Trabalho –
Acordamos cedo. Tomamos um ônibus muito pequeno e velho. Acabou parando na
estrada. Regressamos até Araucária. A igreja em construção. Novo ônibus,
carroceria Carbrasa e motor Mercedes Benz, muito bom. Viagem rápida. Afinal
conheci a cidade de São Mateus do Sul. Entramos em estrada não asfaltada.
Travessia do Rio Iguaçu. Ponte bonita da estrada de ferro. Chegamos em União da
Vitória e Porto União. Quartel do 5º Batalhão de Engenharia de Combate. Todo de
madeira. Cor vermelha escuro e cal. Ficamos na enfermaria. Aspirantes tirando serviço
de Oficial de Dia. Fiquei no quartel e li quase todo o livro dos Nacionalistas
em que havia críticas ao Papa Pio XII, ao Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara e
outros. Luz fraca.
02/05/59 – sábado – Jogamos vôlei e basquete
com a equipe do quartel. Perdemos o vôlei por azar e ganhamos o basquete de
50x49. Falei muito em campo. Churrasco. Bolinhas de pão. Nacionalistas. Violão.
Futebol dos sargentos (4x1). À noite (sem graça) e basquete. Perdemos o
basquete acho que por falta de um bom capitão. Carro da Doda. Casa da Célia.
Laurinha de traços bonitos. Afinal às 02:00 fomos dormir.
03/05/59 – domingo –
Regresso a Curitiba. Muito boa viagem. Páscoa dos Militares. Um Major falou
demais. Procissão até o CMP. Revi colegas. Festa na casa do Tenente Aristeu.
Fui com o Sérgio. No ônibus revi aquela loirinha que tempos atrás havia dito
para alguém “ignorante” forçando no “t” como os paranaenses. Na festinha logo
que vi uma garota gostei dela. O Aristeu me apresentou. O nome dela era Sheila.
Dançamos muito. Gostei muito da Sheila Lourdes de Souza. Ela mora na rua
Almirante Gonçalves, 830. Dei-lhe o meu telefone. Gostei muito dela. A festa
foi animada. O Tem Müller estava impossível.
04/05/59 – segunda – Fui para
a Faculdade. Estudei na biblioteca. Assisti a uma aula. Encontrei-me com
antigos colegas. Almocei no Centro (Cr$130,00). Fiz a prova de Analítica não
tendo me saído muito bem. Preciso estudar mais. Voltei para o quartel e
verifiquei onde mora a Sheila. Estou muito contente em poder ficar gostando de
alguém. Estudei Cálculo. Fiz uma ceia reforçada.
05/05/59 – terça –
Instrução sem ficha de sessão. Educação Física mal dada. Até à noite fiquei com
os soldados a limpar as armas para a inspeção. Saudades da Sheila. Biblioteca.
06/05/59 – quarta –
Instrução. Mais uma vez atrasado fiquei sem uma instrução de oficiais
(Painéis). Basquetebol entre Oficiais. Bom jogo. À tarde dormi. Limpeza de
armamento. Fui até a casa da Sheila. Bonita casa. Conversamos uns vinte minutos
porque eu tinha aula às 18:00. Fui apresentado à Sra Maria Rodrigues de Souza
mãe dela. O Sr Osvaldo Scant de Souza estava viajando. Quatro cachorrinhos na
casa. Havia uma piano na sala. A Sheila está no quarto ano e o irmão dela no
oitavo. Ela vai parar este ano. Fui à aula. Às 19:00 fui de novo conversar com
a Sheila. O irmão saíra para ir se confessar. A Sheila é católica mas estuda
num colégio evangélico. Está no quarto ano ginasial. Nasceu na casa do lado em
outubro de 1944. O avô é português e ela é a queridinha dele. Aos domingos à
tarde vai sempre à casa da avó. Depois voltei à Faculdade onde assisti à aula
de Química Prática. Havia uma Conferência sobre o Tratado de Roboré. Ouvi um
pouco na rua. Tomei uma vitamina com um sanduíche Bauru. Regressei ao quartel.
Frio.
07/05/59 – quinta –
Ascensão do Senhor – O Sérgio e eu fomos até o Centro. Prossegui até o Colégio
Santa Maria. Comunguei. Páscoa dos Estudantes Universitários. Conversei com
conhecidos. Regressei ao quartel após ter comprado um Terço para dar de
presente para a mamãe (Cr$1.000,00). Dormi. Saí de novo e fui até o Alto da Rua
XV à casa de um colega onde apanhei um caderno. Resolvi ir falar com a Sheila.
Em chegando à casa dela quem me atendeu foi a Dona Maria. Conversei bastante com
ela pois a Sheila havia saído. Disse-me que tem muitos ciúmes da filha que é a
única. Logo chegou o Ozires , irmão mais velho da Sheila (21 anos). Assistira
ao filme “Os Irmãos Karamazov”. Também conversei com ele. Em seguida ele me
convidou para entrar na casa e tocou umas duas músicas ao piano. Depois chegou
a Sheila e conversamos no lado de fora da casa. Fui depois à casa do Allan onde
copiei as matérias de Cálculo e Química. Dirigi-me depois ao CMP Encontrei o
Abreu. Jantei e regressei ao quartel. Frio. O Sérgio dormia. Agradeci a Deus
ter conhecido a Sheila.
08/05/59 – sexta –
Instruções dadas e recebidas. Educação Física: jogo de bola militar. Às 16:00
jogamos basquete com colegas do 1º ano de Engenharia. Terminou às 18:00. Perdi
a aula de Geometria Analítica. O Osíris me ligou dizendo que eu poderia comprar
um convite para o Baile dos Calouros de Odontologia na Associação Duque de
Caxias. Noite fria e bonita. O Sérgio está doente e não jogou hoje.
09/05/59 – sábado –
Burocracia. À noite fui até a Associação Duque de Caxias onde conversei com o
Amorim. Apareceu a Sheila. Custei um pouco a dançar. Ela estava bonita com um
vestido azul. Não quis dançar muito pois estava coma garganta doendo. Os pais e
ela foram embora à meia-noite e meia. Chegou o outro irmão, Osny. Fui embora
também. A lambreta está ótima graças ao trabalho do soldado Zambrin. A Sheila
hoje não falou muito. Notei que ela não gosta muito de baile. Acho que é porque
ela só tem 14 anos e só fará 15 no dia 25 de outubro de 1959. O baile hoje
parecia que ia ser ruim mas no final ficou bom.
10/05/59 – domingo – O
Sérgio levantou-se cedo. Eu só me levantei às 08:30. Hoje não fui à cidade de
Ponta Grossa com a Engenharia porque iria chegar tarde amanhã e tenho serviço a
aprontar hoje. Às 10:00 fui até a casa
da Sheila. Ao chegar ela ia saindo para as compras. Conversei com ela até as
11:45. Ela me responde muito “Não sei.” F “Não”a toda hora. Contei-lhe trechos da minha vida, e ao
pedir-lhe que contasse mais sobre a vida dela ela me respondeu que ainda não
tinha coisas para contar. Pedi que tocasse um pouco de piano mas ela não quis.
Disse-me que reza por mim ao se deitar. Voltei para o quartel. À tarde preparei
as provas para o dia seguinte. Dia de sol. Fui à missa na igreja do Portão.
Gostei bastante da missa. Mudou o pároco. Levei e trouxe o soldado Lamidi,
Dormi cedo pensando em me levantar às 04:00.
11/05/59 – segunda – Não
me levantei cedo. Vejo que me é quase impossível. Provas para os soldados.
Estudei Química. Após o almoço fui até a Faculdade. A prova foi transferida
para amanhã. Regressei ao quartel. Cuidei do armamento. Às 17:50 saí bem rápido
para assistir à aula de Analítica. Não havia aula. Resolvi ir conversar com a
Sheila. Em lá chegando vi que o Osny tocava piano. Foi chamar a irmã que veio
bem bonita com um casaquinho vermelho e uma saia escura. Em dado momento da
conversa ela me perguntou: “Você não me acha muito criança? Levei um choque! E
ela continuou: “Você não acha que é muito cedo para eu ficar presa?” Falei
algumas palavras meio perplexo. Perguntei-lhe: “O que você quer que eu
faça?”Ela dizia que não sabia. Afinal ela me disse que eu deveria ir às festas
que eu quisesse e ela iria às dela. Então eu descansei, pois pensava que ela
não gostava mais de mim e que iria terminar o namoro. Vejo entretanto que ela
não quer deixar rapidamente a vida que leva. Ela gosta de liberdade como eu já
gostei também. Às 19:10 regressei ao quartel. Muito frio. Achei a Sheila bem
bonita e parecida com a Liz. Estudei Química. O Sérgio estava a estudar
Álgebra.
12/05/59 – terça – Frio.
Prova no quartel para o Curso de Formação de Cabos (CFC). Educação Física
(Corrida rústica). Fui à Faculdade para fazer a prova de Química que foi fácil.
Voltei ao quartel. Revista de armários. Frio. Acho que estou gostando muito da
Sheila, mas em questão de amor estou meio cético. À noite fui de lambreta com o
Silveira até o Círculo Militar. Noite muito fria. Jogo de basquete contra a
equipe do Thalia. Em dado momento eu entrei no lugar do Kravitz. Ganhamos o jogo,
graças a Deus! Fui dormir à meia-noite.
13/05/59 – quarta – Pela
manhã examinei os soldados do CFC em Ordem Unida. À tarde inspecionei as armas
da Seção de Reparações e Suprimento. Fui às 17:50 à Faculdade mas não havia
aula. Fui conversar com a Sheila. Ela conversava com uma amiga e o Osny estava
ao piano. Frio. Conversamos bastante. A amiga era uma prima dela, Sônia, também
de 14 anos, mas com estatura menor. Gostei muito de poder conversar com as
duas. Elas falavam de assuntos diferentes dos de quartel: cinema, estudo,
ginástica, vida social e de viagens. Às 19:50 fui de novo à Faculdade, mas não
haveria aula. Voltei para o quartel. Ia estudar Cálculo mas deixei para de
madrugada. Mais uma vez não me levantei às 02:00. Vejo que não posso mais deixar
para de madrugada pois o frio é muito forte e a minha força de vontade bem
fraca.
14/05/59 – quinta –
Estudei pela manhã. A matéria me é desconhecida e eu sinto muita dificuldade em
aprendê-la. Após o almoço fui à Faculdade. Prova de Cálculo ( Léo Barsotti e
Del Claro são os professores). Voltei para o quartel meio chateado pois fui mal
na prova. Armamento. A lambreta estava sem óleo por isso eu tinha dificuldade
em engatar as marchas. Declaração do Imposto de Renda. Correção de provas.
15/05/59 – sexta –
Correção de provas. Ginástica Básica a 10 repetições. Atraso devido ao grande
percurso. À tarde continuei a corrigir as provas. Instrução. O Comandante tem
feito grandes restrições na alimentação por medida de economia. À tarde fui à
aula de Analítica Prática (Determinante, Teorema de Rouché, Regra de Cramer).
Fui ver a Sheila. Estava resfriada. Emprestei o rádio de pilhas para ela.
Conversamos até 19:50. Ela falou sobre as amigas e os irmãos. Disse que gosta
de rock e do Elvis Prestley. Fui embora querendo ficar mais. Fui ao Colégio
Estadual onde joguei uma pelada contra a equipe do colégio. Cheguei de volta ao
quartel às 22:30 e fui corrigir provas.
16/05/59 – sábado – Ontem
como dormi ao corrigir as provas resolvi ir logo me deitar voltando a corrigir
pela manhã. Levei alguns soldados ao médico. Houve inspeção de uniformes.
Recebi uma carta da Vera Lúcia, de Paquetá:
“Rio de Janeiro, 12/05/59
Felinto,
Por incrível que pareça,
somente ontem cheguei ao Rio e logo de parei com a sua carta, Fiquei muito
satisfeita com isso, pois realmente senti saudades suas. Você deve estar
estranhando a minha longa permanência na ilha, mas é do seu conhecimento eu
gosto imensamente de Paquetá e assim sendo aproveitei a oportunidade, pois
minha mãe iria ficar mais um mês. Quanto ao colégio comparecia regularmente às
aulas, descendo às 11:00 e voltando às 18:00. Meus programas de fim-de-semana
na ilha eram: praia, dançar, pescar, jogar vôlei uma vez ou outra e passear de
bicicleta à tarde para apreciar o pôr do l que eu adoro. Agora que estou de
novo no Rio espero que apareçam boas
novidades para na próxima carta contar a você. Quanto à sua vida aí em Curitiba
não deve se tornar monótona, pois você tem sempre uma coisa a fazer. Essa sua estadia,
por exemplo, na cidade de Ponta Grossa deveria ter sido muito boa apesar de ser
no mato. Felinto por esta é só. Irene
manda lembranças e eu com um abração aqui fico à espera de sua resposta. Vera”
Fui dormir, mas acho que
deveria ter continuado a inspeção de armamento. Foi falta de método da minha
parte. O Sérgio está fazendo um resumo dos livros que tem lido (Anatomia –
Enciclopédia Jackson). Os outros colegas foram ao CMP.
17/05/59 – Domingo de
Pentecostes – Acordei às 07:45. Café. Li uns trechos dos livros do Mons.
Thiamer Toth. Renovei os propósitos bases da minha vida. Penso na Sheila e
estou querendo dar um radinho de presente para ela. Estou usando um marca
Spica que o Figueiredo quer me vender em
duas prestações de Cr$3.000,00. Acho que irei comprá-lo. Fomos, os solteiros,
até o CMP onde jogamos basquete. Bonito dia. Almoço no quartel. A lambreta está
ótima. À tarde descansei e corrigi provas na sacada de onde observava o jogo
Cia Com 5 x Portão 4. O Sérgio chegou a usar um binóculo. Fomos à missa na
igreja do Portão tendo comungado e rezado pela Sheila. Compramos pão, bananas e
presunto. Ceamos no quartel. Deitei na cama para descansar um pouco, mas dormi
até às 05:45. Invoquei o Espírito Santo para me iluminar em todos os atos da
minha vida.
18/05/59 – segunda –
Preparei, dei e recebi Instruções (
Conferência do Muller). Chuva. Saudades da Sheila. Recebi uma carta da mamãe:
“Rio de Janeiro, 6 de maio
de 1959
Meu querido Felinto, Deus
te abençoe!
Recebi a tua cartinha,
fiquei muito contente, pois já estava preocupada de não ter notícias. Eu também
tenho andado tão aborrecida de tanto trabalho com a casa da frente, mas graças
a Deus já aluguei por 15 contos líquidos para um engenheiro. Ele tem 4 filhos.
Parece gente muito boa. Quer dizer que tenho 180 contos por ano. Já dei o meu nome
para a peregrinação para Jerusalém que vai ser para o ano se Deus quiser. Custa
150 contos a viagem, com mais alguma coisa preciso de 200 contos. Graças a Deus
com estes 180 contos posso ir de novo a Europa, não achas? Felinto aqui vai
tudo bem. Maria José mudou-se para Paquetá. Está pagando Cr$7.500,00 de aluguel
de uma casinha. Fez contrato de 2 anos. As crianças estão gostando muito. Eu
ainda não conheço a casa. No dia 14 vou ao casamento em São Lourenço, da Maria
Arminda, filha da Arminda. Depois quero
ir a Pernambuco com Maricas passar um mês lá. Está dependendo de eu arranjar
dinheiro, pois tenho que pagar os impostos. Com as despesas de consertar a casa
gastei tudo e não fizeram nada que prestasse. Só querem dinheiro. O engenheiro
vai acabar o que falta. Ele só muda no dia 15. Amanhã é que vêm mudar o
telefone e foi uma luta. Maria Helena está esperando outro filho para Dezembro.
Maria José também para Setembro. Luiz está sempre viajando. Pe. José Maria
dorme aqui comigo segunda e terça. Ele está bem e está trabalhando muito.
Raymunda nem tem tempo de vir aqui. No mais todos da família vão bem. Da.
Madalena faleceu no dia 12 de abril. Sofreu muito. Diga para o Pe. Augusto que
foi de câncer. Soube que você escreveu para o Oscar. Deus queira que venha
estudar aqui, assim me faz companhia. Tenho muitas saudades de você. Ontem
recebi um telegrama do Felipe e da Suely dizendo o seguinte: “Querida mãezinha,
beijos e abraços de seus filhos, Suely e Felipe”.O que você acha? Creio que já
são noivos. Sejam felizes é o que desejo. Vou escrever para ele. Do Acre, nada
resolvido. Do apartamento, estou esperando resposta. Vou terminar pois estou
com muita pressa . Ana está aqui e eu vou mandar colocar no correio. Espero
resposta mandando contar tudo. Recomewnde-me ao Pe. Augusto. Você trabalha
muito. Cuidado com a Lambreta. Aceite saudade de todos. Abraços e beijos de sua
mãe que muito o ama. Umbelina”
Respondi à carta dela.
Tempo chuvoso e frio. À noite preparei instruções.
19/05/59 – terça –
Instrução. Tempo chuvoso. Frio. Após o jantar, comentários sobre a vida no
quartel. O tempo parece que não melhorará tão cedo.
20/05/59 – quarta – Tempo
úmido e chuvoso. Instruções. Preparativos para a inspeção de armamento. À tarde
fiquei no quartel a fazer a inspeção. Pensei em sair e ir às aulas, mas o tempo
me obrigou a ficar no quartel. Fui dormir à meia-noite. Não é nada pois o
Werner tem estudado até as 04:00 da manhã. Eu é que não tenho estudado.
21/05/59 – quinta – Dei
instrução. Tempo chuvoso. O Comandante inspecionou o armamento. Estou com dor
de cabeça. Ainda não tenho um plano certo para o futuro. Peço ao Divino
Espírito Santo para iluminar o meu caminho e eu não perca tempo. Ainda não pus
a carta da mamãe no correio.
22/05/59 – sexta – Enfim,
parece que o sol hoje vai sair. Dia normal de instrução. À tarde comecei uma
Sindicância. Não fui à aula de Analítica Prática. Passei pelo apartamento do Ó
de Almeida onde recebi as lições da National School. Tomei uma coca-cola e
conversei com ele. De lá fui à casa da namorada Sheila. Noite bonita. Lua
cheia. Frio. Já estava com bastante saudades dela. No começo ela conversou
pouco. No final já estava mais descontraída. Chegou até a dedilhar umas notas
ao piano. Dei-lhe como lembrança um cinzeiro da 5ª Cia Com, um disco do Waldir
Calmon e um retrato meu. Dela eu recebi uma pequena cruz. Ela ia ter aula de
Francês no dia seguinte e eu saí de lá às 21:05. Coloquei a carta da mamãe no
correio.
23/05/59 – sábado –
Instruções. A minha Seção foi encarregada de instalar os alto-falantes e
projetores na festa da CPOR. Recebi os vencimentos hoje: Cr$15.316,10. Muito
obrigado, meu Deus! À tarde fui à cidade para pagamentos.
24/05/59 – domingo –
Batalha do Riachuelo – Acordei um pouco resfriado. O tempo parece que vai
piorar. O Frota Leite convidou para se jogar no CMP. Fui de lambreta. Bom jogo.
Ganhamos. Na volta passei na casa do Allan onde apanhei as apostilas de
Descritiva. Tirei fotografias com a Iashica. Estudei Descritiva. Ouvi o jogo
Fla 3 x Coritiba 1. Fui com o Sérgio à missa das 18:00 na Catedral. Voltei e
jantei no quartel. A lambreta está ótima. Fui para a biblioteca e preparei
instruções.
25/05/59 – segunda –
Manutenção do material. Educação Física. À tarde jogo duro de basquete com faltas
e reclamações. Exigiu que eu me desdobrasse. Fui à cidade e assisti a aula
sobre vetores interiores e exteriores. Fui falar com a Sheila. Ela acha que eu
estou perdendo tempo com ela, pois ela não se acha em condições de decidir.
Pretende namorar muitos outros rapazes. Fiquei triste. Fiz uma proposta de vir
conversar uma vez por mês. Ela me disse que eu é quem sabia. Despedi-me e sem
olhar mais para trás, fui embora. Ao montar na lambreta esta escorregou e eu
fiquei com o joelho no chão. Notei que ela estava à porta, mas não olhei.
Estava bastante triste sentindo aquela mesma sensação que senti quando a Liz
terminou comigo. Notei, após ter andando um pouco que perdera um embrulho de
compras. Voltei e achei-o em frente à casa dela. Ela já havia fechado a porta e
apagado a luz. Voltei bem rápido para o quartel. “Fiat voluntas Dei!” Quão
admiráveis são os caminhos do Senhor! Rezei por nós. Não estudei Descritiva
(Axonometria).
26/05/59 – terça – Fui à
formatura matinal. Pela manhã estudei para a prova. Mais um dia para desconto
das férias. Prova de Descritiva. Quartel. À noite houve o jogo CMP x Duque de
Caxias. O CMP venceu. Só entrei no final do 2º tempo. Fui dormir às 24:00. Às
16:15 a Sheila havia me telefonado
pedindo para eu aparecer aos sábados à tarde. Agradeci a Deus o
telefonema.
27/05/59 – quarta - Fui à
aula de Analítica Prática (vetores e equação de curvas). De lá fui até à frente
da Biblioteca Pública e na Livraria Sir comprei Cr$610,00 de material escolar e
livro. Fui à aula de Química (pesagens e umidade). Fui à catedral e me
confessei com um padre Passionista que dava aulas de Cultura Católica. Fui
rezar a penitência em frente ao Sacrário, sentindo-me muito feliz. Voltei para
o quartel com muito sono.
28/05/59 – quinta – Corpus
Christi – “Adoro Te devote latens Deitas quae sub his figuris vere látitas.
Tibi se cor meum totum subjicit quia Te contemplans totum déficit!”. Dia chuvoso. Gostei porque queria mesmo ficar
no quartel. O Frota Leite disse ao café que o Marechal Lott estava com câncer
na garganta. Que depois de uma não de governo ele sairia e entraria o Jango
Goulart. Então haveria uma grande revolução de base trabalhista e de orientação
socialista. Fui à missa das 11:15 na igreja do Bom Jesus com o Sérgio, de
lambreta. Chovia e ele segurava o guarda-chuva. Almocei no quartel. Disseram-me
que saira uma reportagem sobre a Liz. À
tarde estudei rádio e Física. Fui dormir às 22:00 pretendendo me levantar às
02:00.
29/05/59 – sexta – Não
consegui me levantar às 02:00. Mais um dia para desconto nas férias. Após o
almoço fui até a cidade. Boa prova de Física. Tirei 7 em Química. Falei com o
diretor da Rádio Santa Felicidade sobre instalação de alto-falantes. Assisti à
aula de Analítica. Quartel. Jantar. Li a reportagem sobre a Liz e a Norma
Benguel. A Liz diz que agora só pensa no casamento com o Dr. Carlos Madeira.
Considera-se uma estrela.
30/05/59 – sábado –
Desfile. Como sempre sou o maestro. Preparativos para a instalação de
alto-falantes, mas ligaram da Rádio Santa Felicidade que não precisava mais.
Era para uma corrida de automóveis. 1ª
tarde com o soldado Zambrim fiz a limpeza do carvão do cilindro da lambreta.
Dor de cabeça devidoa estar cansado.
31/05/59 – domingo – Fui
ao CMP. Levei o Ó de Almeida. Basquete. Bonito domingo. Pensando em falar com a
Sheila. Estudei rádio. À noite levei o Sérgio de lambreta até o correio. Fui à
casa da Sheila mas ela não estava. Conversei com o Oziris. Fui lanchar no
apartamento do Ó de Almeida na Praça Rui Barbosa. Ele preparou tudo. Torradas
com queijo. Milo. Presunto, etc. Conversou sobre a vida de casado. Voltei para
o quartel às 21:30. E cheguei ao final de mais um mês no qual conheci a Sheila.
Graças a Deus!
01/06/59 – segunda – À
tarde fui à aula na Faculdade. Fui também conversar com a Sheila. Estava bonita
com um casaco azul. Colocou o disco que eu lhe dera. Falou muito sobre o rádio,
passeios, provas, amiga Sônia, etc. Às 20:30 nos despedimos.
02/06/59 – terça – Dia
normal. À noite basquete no CMP. Treino. Técnico Riva. Frio.
03/06/59 – quarta –
Expediente o dia todo. Estudei Analítica. Fui mal outra vez na prova. Afinal
não tenho podido assistir às aulas. Vou levando como posso. Feixe de planos.
Vetores. Voltei ao quartel. À noite houve um jogo de basquete com o 5º RO 105.
Ganhamos apesar de não termos jogado bem. Atribui à falta de motivação. Fui
falar com a Sheila. Deu-me um distintivo de Engenharia. Fui e voltei de
lambreta.
04/06/59 – quinta – Graças
a Deus cheguei aos 23 anos. Instrução e faxina para a visita dos Srs. Majores
da 5ª Região Militar. No final do expediente, após a leitura do boletim, o
soladao 101- Ilco Ribeiro fez uma alocução sobre o meu aniversário. Fiquei
bastante admirado e surpreso. À noite fui ate o CMP e depois até o bairro do
Bacacheri. Não houve jogo..
05/06/59 – sexta – Visita
dos Majores. Na hora da Ordem Unida o Tenente Luiz deu um apito e confundiu
todo o meu Pelotão. Recebi um cartão de aniversário muito bonito que desconfio
ser da Rejane, filha do Coronel Edson Giordano de Medeiros:
F elicidades
E u
quero
L he
dar, por
I ntermédio deste
cartão.
N unca deixarei de
T e amar
O nde estiver sempre meu coração há
de estar.
Fiquei surpreso! A gente
fica todo prosa com uma coisa dessas. Estou intrigado. Quero agradecer tal
surpresa. Houve jogo de basquete, tipo pelada. À noite aproveitei para arrumar
o PC da Seção e Reparação e Suprimentos. Frio.
06/06/59 – sábado – Não
houve expediente. Fui às aulas da Faculdade. Comprei material escolar e chaves,
tinta para a lambreta e óleo. À tarde arrumei meus papéis. À noite chegou o meu
colega da AMAN, Medeiros. Vai ficar noivo. Frio. Ainda penso no cartão de
aniversário. Gostaria que a Sheila me telefonasse, mas sei que ela não fará tal
coisa. O Sérgio chegou e conversou com o Medeiros.
07/06/59 – domingo – Passei
o dia todo a copiar o caderno de cálculo do Allan. Fui à missa na igreja do
bairro do Portão. Comunguei. Frio. Consegui fazer o exercício de Tática.
08/06/59 – segunda –
Dispensado para desconto em férias. À tarde fiz prova prática de Química.
Saí-me bem, graças a Deus! Mandei fazer um estojo para o rádio que vou dar para
a Sheila. À noite estudei Cálculo. O cansaço é que me atrapalha. Amanhã irei à
granja com os soldados.
09/06/59 – terça – Frio.
Fui à granja, onde foram executados pelos soldados do CFC os tiros até o 7. O
Tenente Casatle chegou do Rio. O Sérgio, o Joélcio e o Luiz iam ao Rio mas
parece que não vão mais. À noite preparei umas partes.
10/06/59 – quarta – Ordem
Unida. Recebi um cartão da Lidja: “Bonn, 01/06/59 Desejo lhe muitas felicidades
desta terra distante. Abraços. Lidja”. Fiquei bastante surpreso! À tarde tratei
de fotos, lambreta, etc. À noite preparei uma alocução sobre a Batalha do
Riachuelo. E não estudei Cálculo!
11/06/59 – quinta – Dia da
Batalha do Riachuelo – Almirante Barroso, Greenhalg e Marcílio Dias. Estudei
Cálculo. Fui fazer a prova. Como não estudara toda a matéria fui mal. Enviei
uma carta para a mamãe. Tirei 6 em Física.
12/06/59 – sexta –
Instrução. Provas para o CFC. Fotos. Às 18:00 fui falar com a Sheila. Dei-lhe
um presente: um missal quotidiano, que a aborreceu no início, me dizendo que já
havia dito que não queria. Afinal mudei de assunto. Ela me falou que gostava
muito de Elvis Prestley e das músicas que ele cantava. Conversas com Da. Maria
e com o Osny, que deu uma volta na lambreta. Da. Maria queria ver algum balão.
Em dado momento me convidou para um café. A Sheila não queria que eu entrasse e
o Osny brincava com ela por causa disso. Conversas sobre vários assuntos:
religião, vida militar, estudos, rock, etc. Só fui embora às 22:05. Frio. A
lambreta enguiçou perto do quartel.
13/06/59 – sábado - Dia de
Santo Antonio – Ordem Unida. À tarde organizei as minhas coisa. Cansado, mas
não deitei.
14/06/59 – domingo –
Estudei Cálculo. Sinto dificuldade devido às definições e poucos exercícios de
limites e derivadas. ~noite fui à missa na igreja do Portão tendo comungado.
Jantar no quartel.
15/06/59 – segunda – Dia
normal. À noite estudei Cálculo até 23:30. Estou em plena época de plantar para
o futuro.
16/06/59 – terça – Mais um
dia descontado das férias. Apesar disso tratei de muitas coisas no quartel. À
tarde fui à Faculdade onde fiz a prova. Defina Ponto de Acumulação. Vizinhança
de um Ponto. Primeira e segunda derivada do conjunto {1/m + 1/n}, valores
positivos, lim quando x tende para 0 de (cosax) elevado a x menos 1
sobre o cubo de x. y’e y’’ de y= x- raiz cúbica de x(x-1) elevado ao
quadrado, dando o gráfico das variações, as assíntotas e o diagrama. Dizer se à
função y=tg(x + pi/3) se pode aplicar o teorema de Lagrange. Como sempre não me
saí muito bem. Tempo chuvoso. Fiz compras para o quartel. Penso na Sheila.
Biblioteca.
18/06/59 – quinta – Fui
bem na prova de Química. Cuidando da recepção da carga da Seção.
20/06/59 – sábado – Estou
com o meu tempo bastante tomado.
21/06/59 – domingo – De
ontem para hoje uma noite muito bonita com lua cheia e não fria. Dormi cedo,
mas tive que acordar porque o Joélcio ligou o rádio para ouvir o concurso de
Miss Brasil em que venceu a Miss D.F. Vera Ribeiro. A Shirley Tempski, Miss
Paraná também desfilou, tendo sido prejudicada pelo vestido e maiô. Como perdi
o sono fui até a Seção onde continuei a preparar o termo de responsabilidade.
Manhã muito bonita e ensolarada. Saudades
da Sheila. Fomos até o CMP. Bom jogo de basquete. À tarde descansei. Escrevi o
termo da Seção até a tarde.
22/06/59 – segunda – Dia
normal. Instrução. Não estudei Descritiva. Muito cansado.
23/06/59 – terça – Dia
para desconto em férias. Estudei Descritiva. Dia chuvoso. Fiz a prova com consulta
livre. Fiquei com a cabeça doendo. Apanhei o estojo para o rádio que vou dar
para a Sheila. Dia chuvoso. Encapei livros. E os três Aspirantes continuam
dormindo no mesmo quarto no quartel.
24/06/59 – quarta – Cuidei
do material carga da Seção.
25/06/59 – quinta – Prova
de Física. Pela manhã não estudei, pois cuidei do recebimento de material.
26/06/59 – sexta – Marcha
de 24 km. Terminamos com marcha forçada. Distendi um músculo do joelho
esquerdo. Não consegui estudar.
27/06/59 – sábado – Prova de
Analítica. Fui mal. Comprei uma caneta Sheaffers. Entrei em férias. Saudades da
Sheila. Recebi um telefonema da Tenente Sílvia
do Hospital Militar dizendo que o meu colega Medeiros havia baixado com
o estado moral muito arriado. Pediu-me que aparecesse lá. De fato, o Joélcio, o
Sérgio e eu fomos lá. Relembramos com o
Medeiros os tempos da Escola Preparatória de São Paulo e da AMAN. Quando saímos
ele estava muito bem. Ele está com medo de ficar completamente sem memória. Que
Deus não permita isso! No quartel, ao
ligar o rádio ele não acendeu. Descobri que era uma solda mal feita. Fui dormir
às 22:00.
28/06/59 – domingo –
Acordei às 07:30.Terço. Dia úmido. Copiei o Quadro de Trabalhos Semanais (QTS).
Escrevi cartas. Preparei instruções. Tentaram consertar a lambreta (cabo de
mudanças). À noite fui à missa na igreja do Portão. Comunguei. Não pude visitar
o Medeiros.
29/06/59 – segunda – Dia
de São Pedro e de São Paulo – Dia do Papa – Deus o guie e conserve. Houve
expediente o qual foi dedicado praticamente aos preparativos da festinha
noturna no quartel. Eu pensava que não iria cumprir as missões mas graças ao
auxílio providencial do soldado Cubas tudo ficou pronto. Às 16:15 a Sheila me
ligou dizendo que eu não poderia ir lá porque ela teria um compromisso e que
iria viajar no dia seguinte. Respondi-lhe após uma decepção inicial que eu
também não teria podido ir lá mas que pretendia ir no dia seguinte. Mas como
não seria possível desejava-lhe boas férias e que aproveitasse bastante. Penso
às vezes que ela não gosta de mim. Continuarei na expectativa deixando que Deus
através do tempo continue o seu trabalho. Jantei às pressas e fui correndo
assistir à Santa Missa. O sermão foi sobre a Eucaristia. O Sérgio também
assistiu à missa. No quartel eu dirigi as brincadeiras. Tudo saiu bem, graças a
Deus!
30/06/59 – terça – Tiro.
Ainda não consegui me sair muito bem. E cheguei ao final de mais um mês, graças
a Deus!
01/07/59 – quarta – Espero
que a Sheila aproveite bem as férias e volte mais bonita ainda. Que eu recupere
as energias para continuar a estudar Engenharia. Que o meu colega Medeiros
fique bom. Foi uma quarta-feira igual às outras. O rádio tem sido o meu
entretenimento. Os mecânicos de rádio estão montando um receptor.
04/07/59 – sábado – Rádio.
Burocracia. Faxina. CPOR.
05/07/59 – domingo –
Rádio.Instrução. Hoje funcionou bastante a rádio-eletrola do Joélcio. Quebrei
um disco dele. Saudades da Sheila. Fui à missa na igreja do Portão. O padre já
havia notado a minha freqüência. Perguntou-me de onde eu era, etc. Deu-me
conselhos para que eu continuasse assim. Bati à máquina as provas dos Mecânicos
de Rádio.
06/07/59 – segunda – Tenho
ouvido programa da Rádio Farroupilha: “Alô Suez!”. Muito sentimental com a
música “Vou-me embora, vou-me embora prenda minha...” Fui dormir à 01:00.
Acordei com bastante frio. Os alunos do CPOR vieram ter instrução no quartel.
Perdemos para eles no jogo de basquete. Senti-me cansado e sem confiança. O
Raymundo, irmão da Miriam, namorada do Joélcio, veio ter aula de eletricidade
no quartel. Fui dormir à meia-noite no início do “Alô Suez!”.
07/07/59 – terça –
Continua a visita do CPOR. Os sargentos ganharam no futebol de 6 x 5. Fui
dormir às 22:00 pensando no jogo de basquete de amanhã.
08/07/59 – quarta – Visita às repartições com
a turma do CPOR. No jogo de basquete fiz 21 pontos e ganhamos de 52 x 36.
Grande vibração. À tarde fui à cidade com o Sérgio. Gastei Cr$3.700,00 em
material de rádio para um transmissor de 15 watts. O Sérgio fez experiências
com um retificador da National Schools. Fui dormir às 22:00.
09/07/59 – quin ta –
Testes de Instrução Básica Militar e de Qualificação.Saí para fazer compras.
10/07/59 – sexta – Continuação dos testes de IBM e IBQ. O E-3 da
5ª Região Militar, Major Morais está inspecionando a Companhia. Achou muito boa
a Educação Física, mas a Ordem Unida fraca. Visitei o sargento Noronha.
Encaixou melhor o transmissor. Dormi à meia-noite, pois fiquei a corrigir
provas.
11/07/59 – sábado – Canto
do Hino Nacional. Treinamento. Ordem Unida. Fui à granja. Tiro. Fiquei em 2º
lugar com 62 pontos. Fuzis novos. Fiquei até meia-noite montando a lambreta.
12/07/59 – domingo –
Fiquei no quartel.
13/07/59 – segunda – Treino de Tiro (73
pontos).
14/07/59 – terça-
Fotografias.
15/07/59 – quarta – Os
sargentos saíram mal no Tiro. Fui à cidade. Mais peças para o transmissor que
vou montar. Mandei uma carta bem
atrasada para a Maria José.
16/07/59 – quinta – Os
Oficiais foram atirar. Fiquei em 3º lugar tendo me saído mal no tiro rápido na
posição ajoelhado.
17/07/59 – sexta – Os sargentos se saíram bem no Tiro. Sgt
Venson, Sgt Boçon e Sgt Valfrido (2º lugar). Fotografias. A lambreta foi
pintada de azul Oxford e palhinha. O serviço saiu por Cr$1.200,00 no Sr. Lucas.
Ela está muito bonita. Dá gosto de ver.
19/07/59 – domingo –
Acordei com os soldados 717 – Ferraz e 739 – Link me acordando para as
despedidas. Cantei bastante. Toquei bandolim. Lua cheia. Os soldados adidos
voltam para os seus quartéis amanhã. Fotografias.
20/07/59 – segunda – Preparativos
para a instrução de tiro.
21/07/59 – terça – Fui à
instrução de Tiro com os soldados. O vento prejudicou e hoje muitas faltas.
22/07/59 – quarta – Saí
com a lambreta. Verifiquei os resultados das provas parciais: 2,5 em Cálculo, 7
em Química e 0,5 na 2ª prática de Analítica. Fui ao Correio. Comprei peças para
o transmissor que estou montando.
23/07/59 – quinta – Dei
instrução de rádio para os novos adidos. Hoje recebi Cr$14.436,10, graças a
Deus! À tarde instrução, basquete para os sargentos e vôlei para os oficiais.
Estou fazendo os exercícios do Charles Atlas que me facilitam a cortar melhor
no vôlei. Estou com a garganta um pouco inchada.
24/07/59 – sexta – O Braz
Defilippo me telefonou dizendo que uma tal de Carmem com quem se encontrara
perguntou por mim. Mas estou pensando na Sheila.
25/07/59 – sábado –
Enrolei um transformador de saída de 3.000 e tantas espiras. Grande vibração.
26/07/59 – domingo –
Passei a manhã na oficina de rádio. O Sgt Fabro me ajudou a descobrir uma
interrupção na bobina de campo do alto-falante. Desenrolamos 13.350 espiras.
Dia bonito.
29/07/59 – quarta – Saí
com a lambreta. Retirei e enviei dinheiro. Comprei peças para a lambreta que
está com a mudança ruim. Coloquei cartas no correio. Recebi carta da mamãe.
30/07/59 – quinta –
Escriturei o livro sobre armamento do Pelotão de Exploração. Apareceu um
vendedor de livros. Coloquei um novo potenciômetro no meu rádio. Conversei com
o soldado Horácio sobre o que eu pensava do caso de ele perder a consciência de
vez em quando. Combinei com ele ir até o Bispo, Dom Delboux. Como em todas as
quintas-feiras hoje há cinema.
31/07/59 – sexta – Dia
úmido e chuvoso. Instrução. Burocracia. O soldado Horácio teve novo “estado
inconsciente” tendo eu anotado as seguintes respostas que dava ao Sgt Fabro que é espírita: Gosta
dele? – Demais. É o espírito de um
médico? – É verdade! Para onde ia? –
Lugar distante, Rio de Janeiro com o pai dele. Encontramos no caminho. Ansioso
para ouvir aquelas suas palavras. Qual a
sua religião? – Catolicismo. Suspiros... Suspiros... Promete que não vai
incorporar mais? – Prometo. Vou-me embora.
E o soldado Horácio ficou meio adormecido. Fui ler um livro sobre o Espiritismo ficando
triste por não poder fazer nada. Vou ler mais a respeito. Alguns acham que é
fingimento do soldado para não trabalhar mas me parece um ataque epilético pois
ele perde a consciência e cai, estrebucha e deita espuma pela boca. O ataque
dura apenas alguns minutos.
AGOSTO-1959
01/08/59 – Sábado – A
vida no quartel está um pouco vazia. Tenho me dedicado a consertar o rádio que
comprei do Josué. Aliás ando com o sono um pouco atrasado. Um soldado de nome
Horácio tem sido “atuado” e eu fico meio surpreso diante do que o Sgt Fabro
faz, aparentemente conversando com ele desacordado. Já li dois livros católicos
a respeito.
02/08/59 – Domingo –
Arrumei as minhas coisas. Escrevi uma carta para a mamãe. O Sérgio montou um
rádio. Fiquei a tarde toda com ele tentando fazer funcionar e quando
conseguimos foi aquela vibração. Fomos à missa. Na hora do jantar o soldado
Horácio teve novo ataque. Mandei chamar o Pe. João. Na enfermaria teve nova
inconscência. Rezou a Ave-Maria, a Salve-Rainha e o Credo. Fiquei surpreso.
Afinal ficou bom. Chegou o Pe. João. Conversamos bastante. Preciso ler mais a
respeito.
03/08/59 – Segunda –
Instrução. Alguns soldados foram à paisana ficar na fila da Caixa Econômica.
Não concordo com tal procedimento, mas como não sou casado e talvez se o fosse,
a necessidade do dinheiro seria mais forte. Simplesmente tirei o meu nome da
lista. São as tolerâncias da vida.
04/08/59 – Terça –
Desde ontem espero um telefonema da Sheila. Já desconfio de que ela tenha
viajado. Houve tiro somente até meio-dia para economizar a gasolina para levar
o almoço, por decisão do Frota Leite. Vinte e cinco soldados foram à granja
para preparar a terra. São as realidades da vida de quartel. Ontem o Sérgio e
eu começamos as aulas de manipulação. Jogamos também com os soldados e ganhamos
no basquete. Tempo frio!
05/08/59 – Quarta – À
tarde fui à cidade e resolvi passar na casa da Sheila. Ela estava lá. Só tinha
se afastado da cidade durante uma semana. Considerou um teste para ver se
gostava mesmo de mim. Os irmãos a chamavam de boba. Ela também não compreendia
porque não gostava de mim. Enfim cheguei ao fim de mais um namoro. Seja feita a
vontade de Deus! “Assim como vai o rio os alvos seixos rolando, assim também
vai a vida as ilusões arrastando!”
08/08/59 – Sábado –
Montei as peças da lambreta. À noite não fui ao baile no Círculo Militar porque
amanhã haverá o baile do CPOR. Hoje o mano Felippe ficou noivo da Suely. Que
sejam muito felizes!
09/09/59 – Domingo –
Calibrei o rádio do Sérgio. À tarde pratiquei código Morse. Estou gripado. Às
23:30 me levantei e fui de lambreta ao baile do CPOR. Frio. Ninguém para
dançar. Dancei com uma que não achava bonita. Depois dancei com a Maria Dolores
com quem já dançara no ano passado. Ela tinha passado o mês de julho no Rio, em
Copacabana. Ela estuda e ensina no Sion. Joga voleibol. Como eu acabara de ler
o livro “Itinerário de Marx a Jesus Cristo”de Ignace Lepp, narrei-lhe algumas
passagens interessantes, como de uma garota que estudara em colégio de freiras
e depois mudara de comportamento. Comentários sobre o comunismo. O fato de eu
estar gripado e ser Domingo fez com que eu fosse embora às 02:30. Uma garota
que estava com uma faixa, de nome Edie Luz e que dançara com o Pedro Paulo
parecia estar interessada em mim. A orquetra do baile foi a do Sílvio Mazzuca e
custou Cr$120.000,00. Voltei com o Sérgio de lambreta. Frio.
10/08/59 – Segunda –
Instrução. Não fui à aula de Analítica.
11/08/59 – Terça –
Instrução. Volei. Perdemos na negra. Recebi uma carta escrita pela Anna dizendo
que o Felippe tinha ficado noivo da Suely. Que a mamãe, a tia Maricas e o Pe.
José Maria timham ido de automóvel que
era do futura sogro, dirigido pelo Felippe. Perguntou-me quando seria a minha
vez. Ela me disse que iria ficar noiva no dia 2 de setembro e pediu que eu
rezasse por ela. Quer que eu vá no dia do casamento dela. Também recebi um
cartão do Felippe participando o noivado com a Suely. Fiquei bastante
reconfortado com as notícias. O Comandante Cap Dirceu reapareceu hoje. Dispensa
de 8 dias para 50% dos soldados. O Ten Aristeu passou para a minha Seção. Após
quase terminar de ler o livro “Itinerário de Marx a Jesus Cristo” eu muito
admirei a vida do ex-comunista. Vejo que eu me dedico muito pouco a uma causa e
que sofro muito pouco. Penso que eu devo visitar mais os pobres e inteirar-me
da vida dos operários. Devo evitar os erros da burguesia e dedicar-me mais à
religião católica e aos soldados. Preciso também ler muito. Renovei a vontade
de estudar na faculdade.
12/08/59 – Quarta – À
tarde fui ao centro da cidade onde fiz várias pequenas coisas. Problemas de Analítica.
13/08/59 – Quinta –
Instrução para os três soldados adidos.
14/08/59 – Sexta –
Vigília da Assunção de Nossa Senhora. Fiz a educação física com os 3 adidos
mesmo com o tempo chuvoso. À noite fui até o 20 RI no Bacacheri, onde joguei
volei e basquete. Perdi em ambos os jogos. Fui dormir quase à meia-noite.
15/08/59 – Sábado –
Assunção de Nossa Senhora – Fui ao CMP. Batí bola com o Muricy e o Popó. Ganhei
em arremessos. Dia muito bonito. À tarde dormi bastante pois andava um pouco
esgotado. O irmão da Miriam esteve no quartel e saiu com o Joélcio e o Sérgio
de automóvel. Convidou-me para jantar na Terça-feira na casa dele. Escrevi uma
carta para a mamãe.
16/08/59 – Domingo –
fui ao CMP. Joguei basquete. À noite fui à missa na igreja do Portão.
17/08/59 – Segunda –
Muitos soldados dispensados.
18/08/59 – Terça –
Tenho treinado basquete e volei pela equipe da Escola de Engenharia da
Universidade do Paraná.
19/08/59 – Quarta – À
tarde lavei a lambreta ajudado pelos soldados Catai, Fernandes e o de nº 100.
20/08/59 – Quinta –
Junto com alguns Oficiais fui de ônibus até a cidade da Lapa. Missa. Cerimônia
no Panteón. Discursos. Vi uma garota do colégio de freiras que me lembrou a Maria
Helena. Visita à Rádio Legendária. Cidade pequena. À tarde descansei. O almoço
foi regular. Jogo de basquete com os oficiais do quartel de Artilharia da
cidade. Ganhamos de 37 a 19. Eu joguei de pivot. As meninas do colégio de
freiras fizeram uma grande torcida por mim. À noite fomos ao centro da cidade .
Ruas sem iluminação. Frio. Comentários sobre a vida em uma cidade como a Lapa.
Retreta na praça principal. Às 23:00 o baile no Clube Lapeano. Dancei com uma
moça que não me atraía em nada para lhe dar o prazer de dançar.
21/08/59 – Sexta –
Aniversário da mamãe. 66 anos. Que Deus a proteja e encha de graças e lhe dê
ainda muitos anos de vida e possa eu ainda muito tempo passar ao lado dela
retribuindo tudo o que ela fez por mim.
Voltamos para Curitiba. Boa viagem graças ao ótimo ônibus de carroceria
Nicolas de Caxias do Sul, motor FNM. No quartel tivemos treinamento para o
Juramento à Bandeira. À noite fui à aula e mandei um telegrama para a mamãe.
22/08/59 – Sábado –
Treinamento para o Juramento à Bandeira. À tarde bati bola na sede campestre do
Clube Curitibano. À tarde dormi às 18:30 pois estava com catarro nos brônquios.
O soldado Horácio me levou chá.
23/08/59 – Domingo –
Fomos até o CMP. O Joélcio e o Sérgio já haviam me prevenido de que a Rejeane,
filha do Cel Edson estaria lá. Na realidade ela estava lá mas eu não tive jeito
de ir falar com ela. Bonito domingo. À tarde dormi bastante. O Sérgio e o
Joélcio foram de carro ao CMP par uma tarde hípica e uma tarde dançante. Outra
vez lá se encontrava a Rejeane mas eu não sentia vontade de dançar com ela,
achando-a muito criança. Mas o Joélcio a chamou e deixou-me a conversar com
ela. No final saí bastante contente em saber que ela é uma moça de 16 anos, bem
instruída e boa católica. Ela já sabia bastante sobre mim: o nome completo, a
data de aniversário, etc. Fiquei intrigado em como a Rejeane gosta tanto de mim
e a Sheila não. Mistérios de Deus! Despedi-me para ir à missa. Falei com o Pe.
Augusto. Voltei ao quartel onde o soldado Garcia me serviu o jantar.
24/08/59 – Segunda –
Treinamento no 20 RI para o Juramento à Bandeira. Últimos preparativos para a
Corrida do Facho.
25/08/59 – Terça –
Dia do Soldado. Nascimento do Caxias. Juramento à Bandeira no 20 RI.
Condecorações. Serviço de alto-falantes. Fotografias. À tarde recebi uma carta
da Maria José que dizia que a mamãe tinha gostado de tudo por ocasião do
noivado do mano Felippe com a Suely. Que o dinheiro do Acre ia sair, cabendo a
cada um Cr$10.000,00. Que a mamãe pedia para mandarmos celebrar uma missa pelo
papai. Que a Patrícia fez 3 anos no dia 18 de agosto e está muito sabida
mostrando no mapa a Baía da Guanabara. Que o Edison fica muito orgulhoso com
isso. Que o Newton está muito bonitinho
e já anda tudo. Que a sogra dela Da. Celina, manda um abraço para mim e
diz que a Cristina Luiza já está crescendo e ficando bem bonitinha. Que assim
que puder eu vá ao Rio para matar as
saudades. Que a Anna deverá ficar noiva do dia 2 de setembro. Que a vida está
cada vez mais cara e o dinheiro não chegando para nada. Que em breve espera dar
a notícia de mais uma sobrinha, Márcia. Pede-me para que reze por ela. Rezei
por ela. À tarde foi realizada a Corrida da Facho para os soldados no centro da
cidade. A Dodge comando deu pane. Comprei uma bobina. Perdi de assistir à
corrida. A 5ª Cia Com saiu-se em 13º lugar. Conversei no palanque onde cuidava
do amplificador de som com a Rejeane e a filha de General Cmt da Região.
Observei com interesse três moças com o uniforme do Instituto de Educação que
estavam no palanque. Vi também a Dolores a quem saudei. Mais tarde soube os
nomes delas: Terezinha e sua irmã Vânia filhas do Cel Bizerril e uma amiga
delas chamada R..
26/08/59 – Quarta –
Aniversário do mano Padre José Maria. Rezei por ele. À tarde fiz várias compras
e pagamentos. Comprei um alto-falante Goodman por Cr$8.500,00 que instalei no
dia seguinte com o Sgt Boçon. Fui à aula de Analítica. Passei um telegrama para
o mano. Enviei Cr$4.000,00 e uma procuração para a mamãe para a compra de um
apartamento no edifício que foi construído no terreno nos fundos da nossa casa
no Rio. Treino de vôlei na Sociedade Duque de Caxias.
27/08/59 – Quinta –
Instrução.
28/08/59 – Sexta –
Jornada fora do quartel. Os soldados do Pelotão de Construção é que trabalham
mais estendendo as linhas. Fiquei acordado até às 01:00 devido a um rádio em
pane.
29/08/59 – Sábado –
Instrução de telefone com o Ten Mário. Queimei uma válvula retificadora e o Sgt
Noronha outra. Mas no final o rádio falou.
Futebol de salão para os sargentos e basquete para os soldados. Tempo
frio outra vez. Fui até o CMP. Encontrei o Cap King. Final de basquete fraco na
Olimpíada Universitária, facilmente vencida pela Engenharia.
30/08/59 – Domingo –
Fui à missa na igreja do Bom Jesus na Praça Rui Barbosa no centro da cidade. À
tarde dormi. Tempo frio. Jogo de vôlei com a Filosofia Federal no 20 RI (3 x 0)
.
31/08/59 – Segunda –
Dia normal. Cheguei ao final de mais um mês, o oitavo de 1959. Já alimento a
idéia de ir para o Rio fazer a Escola de Comunicações do Exército em 1960.
SETEMBRO-1959
01/09/59 – Terça –
Novo mês. Mais motivação. XII Jogos Universitários Paranaenses. A chuva à noite
impediu o jogo. Discussões sobre novo jogo com Ponta Grossa. Fui dormir à
01:00.
02/09/59 – Quarta – À
noite basquete. Jogamos bem. Boa torcida. Bom jogo de basquete.
03/09/59 – Quinta –
Voleibol. Vencemos “na negra” por causa da chuva. Foi no ginásio da Escola
Técnica. Ando pensando numa daquelas normalistas que estavam no palanque no
Corrida do Facho no dia 25 de agosto. Ela assistiu ao jogo de basquete de ontem
até o final e deu sinais de estar gostando de mim. Tenho dormido tarde. Na
equipe eu admiro o jogador Mario pelo seu ótimo jogo.
04/09/59 – Sexta –
Basquete na Escola Técnica. Boa assistência. A Dolores estava lá. Graças à
lambreta tenho podido atender facilmente aos compromissos esportivos.
05/09/59 – Sábado –
Chuva. Treinamento para o desfile do dia 7. Recebi uma carta da mamãe com as
seguintes notícias: Gostou muito da minha última carta que tem orgulho de
mostrar a todas as pessoas. O aniversário dela foi muito animado. Todas as
filhas e a nora compareceram. Dos filhos só o Luiz apareceu. À noitinha muita
alegria geral com a chegada do dinheiro do Norte : Cr$8.000,00 para cada um.
Promoção do Edison com champanhe e muita comemoração. E o recado: “Não se
prenda aí em Curitiba pois aqui há várias moças lhe esperando!” O preço do
apartamento é de Cr$ 1.250.000,00 e os donos são ela, o Josué e eu, sendo
Cr$4.000,00 por mês para cada um. Tem 2 quartos e uma sala. Disse que Marica
ficará para mim. Guardou o meu dinheiro no Banco. Rezar para a Maria José que
está esperando bebê por estes dias. O Pe. José Maria comprou uma lambreta.”
Rezei pela minha irmã Maria José. À tarde dormi bastante pois tenho ido tarde
para a cama.
06/09/59 – Domingo –
Li bastante sobre basquetebol para o jogo de amanhã. Fui à missa na igreja do
Portão. Pensando no jogo de amanhã.
07/09/59 – Segunda –
Dia da Independência – Desfile. Inovações. Bandeirolas. Palmas. Pensando no
jogo. Jogamos voleibol com o time da Engenharia Civil (Paulo, Lúcio) e perdemos
de 2 x 0 . Acho que as causas da derrota foram as falhas de defesa nos saques e
muitos saques errados. Bons os saques do Lúcio e do Barnabé. Depois jogamos
basquete com a equipe da escola de Educ ação Física. Jogo fácil. Todos ficamos
cansados. Boa a torcida. Fui depois à Casa do Estudante Universitário onde
coloquei o 3º Uniforme do Exército (cinza) e fui ao baile no Círculo Militar.
Era o Baile da Independência com muita gente. Fiz um reconhecimento preliminar e fui dançar com a Dolores. Depois dancei com
aquela moça que havia torcido até o final do jogo de basquete do dia 2.
Chama-se R., é curitibana e está no 3º ano no Instituto de Educação. Mora no
centro da cidade. Gostei muito de dançar com ela. Conversamos bastante. Depois
que ela foi embora dancei com a Terezinha, filha do Cel Bizerril até o final do
baile. Lá estavam todas as autoridades militares.
08/09/59 – Terça –
Natividade de Nossa Senhora – Dia de folga. Dormi bastante. Treinamos basquetebol
pela manhã e voleibol à tarde. À noite fui até o Clube Thalia. Não era o baile
de encerramento dos Jogos Universitários e sim um dos Chás de Engenharia. A R.
estava lá e dançamos bastante até meia-noite.
09/09/59 – Quarta – À
tarde houve jogo de basquete para os sargentos que venceram os da Fábrica de
Curitiba. O Joélcio e eu apitamos o jogo entre a Cia do QG/5 x 5 Cia Int.
Incidentes no final. O Cel Edson achou que fomos parciais. A Cia do QG perdeu.
Não falei com a Rejane que estava lá. À noite dormi bem cedo. O calor parece
com o do Rio de Janeiro.
10/09/59 – Quinta –
Instruções. Voleibol. Incidentes entre treinador e jogador.
11/09/59 – Sexta – À
noite deveria ir apitar um jogo de vôlei mas devido a um jogo amanhã não fui.
/2/09/59 – Sábado – À
tarde houve um jogo de basquete contra os oficiais do CPOR lá no 20RI. Vencemos
e fiz 23 pontos graças a Deus! À noite fui até a Praça Tiradentes para a
assistir à chegada de Nossa Senhora Aparecida. Lá estavam os missionários pois
começavam as missões. Fiquei com a R., Da. Lycia e Dr. Armando seus pais.
Conversei algum tempo durante as cerimônias. Ontem fiquei até 21:00 conversando
com a R., à porta da casa dela à Rua do Rosário, 99. Estou gostando cada vez
mais dela.
13/09/59 – Domingo –
Neste dia o meu irmão Felippe completava 25 anos. Os sargentos jogaram contra o
QG vencendo por 36 x 30. Ontem os soldados perderam para o 20RI. À tarde dormi
e copiei as matérias para o concurso da Escola Técnica do Exército. O
Fluminense ganhou do Botafogo por 2 x 1.
O Sérgio e eu torcemos pelo Fluminense e o Joélcio pelo Botafogo. À noite fui à
missa com a R.. O Pe. Augusto falou bem.
21/09/59 – Segunda –
Estou cada vez mais gostando da R.. Parece que desta vez está nos planos de
Deus! Tenho conversado com ela na sala de visitas. Já me mostrou os retratos
dela e eu os meus. Ontem a apresentei ao Pe. Augusto. Tenho ficado mais
fervoroso nestes dias de missões, com conferências, sermões, comunhões e
missas. Tenho jogado basquete e voleibol. O Joélcio hoje me disse que está
fazendo um teste para ver se gosta mesmo da Miriam. Tenho recusado ir a festas
mas no sábado fui à casa do Ó de Almeida. Hoje comecei o estudo para a Escola
Técnica. O Sérgio foi ao Rio no Sábado. Já combinei com a R. o horário de
namoro durante a semana.
22/09/59 – Terça – O
Sgt Noronha revelou muitas fotografias. As que eu tirei com a R. ficaram muito
boas. O Frota Leite também tirou duas fotos quando eu colocava a bola dentro da
cesta de basquete. À noite preparei instruções e rascunhei dois termos. Telefonei
às 18:30 para a R..
23/09/59 – Quarta –
Instrução. Voleibol. Escrevi para a mamãe.
30/09/59 – Quarta –
Neste final de mês eu fui ao Baile das Debutantes no Clube Curitibano dançando
o tempo todo com a R.. O Joélcio me levou no Citroen dele. Assisti com a R. e
seu irmão Luiz Armando ao filme “Meus Amores no Rio”. Gostei muito pois revi
Paquetá, a Barra da Tijuca, enfim todo o Rio.
Fui também ao encerramento das Missões. Na volta vim com a R. e sua
prima Beatriz sob forte chuva e uma só sombrinha. Jantei na casa da R.. Tenho
conversado bastante com ela. Estou pensando em ficar mais um ano em Curitiba
para podermos nos conhecer melhor. Termino o mês meio indeciso em relação ao
futuro, mas gostando demais da R.. Que Deus nos abençoe!
OUTUBRO-1959
01/10/59 – quinta –
Com dúvidas sobre o futuro. Perdemos os jogos de voleibol.
02/10/59 – sexta -
Prova de Química. Fiquei preenchendo o livro de tiro até meia-noite.
03/10/59 – sábado – O
Comandante não veio. Fiquei preenchendo livro de tiro até 23:00. Fui ao Baile
das Debutantes np Círculo Militar onde dancei bastante com a minha Rainha.
04/10/59 – domingo –
Fiz um planejamento para o futuro tendo como objetivo ser Engenheiro Militar,
se Deus quiser. À noite fui à missa na Igreja da Ordem. Pe. Augusto. R..
Confissão. Comunhão. O namoro me traz mais dificuldade para a vida espiritual.
Jantei na casa da R..
05/10/59 – segunda –
À tarde fui à cidade e conversei com a R.. Penso em casar com ela.
06/10/59 – terça –
Continuo preenchendo o livro de tiro.
07/10/59 – quarta –
Preparativos para um exercício no terreno.
10/10/59 – sábado –
Fizemos um exercício militar no terreno. Na Seção de Reparação e Suprimento
atuaram os sargentos Noronha, Fabro e Boçon. Regressamos hoje. Dormi à tarde. O
Boçon ainda foi instalar os alto-falantes para a competição de atletismo
regional. A R. foi a Paranaguá.
17/10/59 – sábado –
Semana de Competições. A 5ª Cia Com ficou em 2º lugar no Atletismo. Fui o
primeiro em lançamento de dardo a 42 metros. Nesta semana escriturei o livro de
tiro e fiz o teste da Instrução Básica de Qualificação. Recebi telefonemas de moça que não se
identificava. Calor. Estou gostando cada vez mais da R.. Enviei o requerimento
para o concurso à Escola Técnica do Exército. Hoje perdemos o jogo de basquete
com o CPOR em homenagem à Semana da Asa. Não foi um bom jogo, tendo o Major
Jansen de Mello nos repreendido em campo, havendo desclassificações. Moral da
história: só aceitar jogo quando estiver bem treinado. A assistência foi
regular. Penso ter sido a minha despedida do basquetebol. Tudo passa!
18/10/59 – domingo
das Santas Missões – Estou contente com a vida. Espero ano que vem estar na
Escola Técnica no Rio de Janeiro, junto da minha mãe e dos meus parentes. A R.
iria lá em julho. Deixei a Faculdade de Engenharia. Era um pesadelo. Ontem não
gostei de ver um soldado colando no teste. Não compreendo essa atitude. Almocei
na casa do Mário. À noite fui à missa com a R.. Comungamos. Jantei na casa
dela. O pai dela estava em um congresso sobre câncer, em Videira, Santa
Catarina.
19/10/59 – segunda –
Competição de natação no Colégio Estadual.
20/10/59 – terça –
Consegui nadar 1.500 metros.
21/10/59 – quarta –
Últimos preparativos para as manobras militares. Apitei com o Joélcio um jogo
no CMP. À noite joguei basquete pela seleção universitária. Saí com 5 faltas.
Vencemos por 1 ponto na prorrogação. Fui dormir à meia-noite e meia.
22/10/59 – quinta – A
Cia Com foi para as manobras em Três Barras, no Campo de Instrução Marechal
Hermes. Na hora senti vontade de ir mas vi que seria mais eficiente ficando no
quartel. Dei instrução. À noite fiquei sabendo que não poderia fazer concurso
para a Escola Técnica. Não faz mal! Na hora fiquei triste mas depois fui até a
Catedral onde me confessei. Vi que havia muitas vantagens em permanecer em
Curitiba. Tudo O.K. , para frente! Seja
feita a vontade de Deus! Vou ter mais tempo para estudar e tentar no próximo
ano. Hoje o irmão da R., o Luis Armando completou 14 anos. Dei para ele um
livro sobre Espaço e Foguetes. Havia muita gente da família da R.. Fiquei com
ela até 23:00.
23/10/59 – sexta –
Dia do Aviador. Dia de Santos Dumont. Acordaram-me às 07:00. Aproveitei para
arrumar as minhas coisas. À noite perdi o jogo de basquete com os gaúchos.
24/10/59 – sábado –
Instrução. À tarde consertei o rádio conseguindo aumentar bem o som. Viva!
Coloquei os discos do Joélcio. Às 20:00 joguei basquete pelos paranaenses
contra os gaúchos e perdemos na prorrogação. A R. assistiu ao jogo junto com o
Luis Armando e sua prima Eliane. Conversei com ela até 23:40 e ela me deu um
disco coma música “Eu sei que vou te amar...”.
25/10/59 – domingo –
Acordei às 09:00. Dia bonito. Escrevi cartas no cassino dos oficiais ao som de
discos. O Figueiredo apareceu e lhe emprestei a minha Yashica para tirar
fotografias. Escrevi cartas para a mamãe, a Maria José e o Oscar. Enviei uma
fotografia minha para o Oscar e a Risoleta. Para a mamãe enviei uma da R. e
outra minha. Comecei a fazer o rascunho de uma palestra. À noite fui à Igreja
da ordem com a R.. Confessei-me e comungamos. Jantei na casa da R.. Troquei a
agulha do toca-discos.
26/10/59 – segunda –
Continuo responsável pelo expediente no quartel. Instrução. Faxina. Tenho
telefonado diariamente às 18:30 para a minha R..
30/10/59 – sexta – A
Cia Com regressou às 16:15 das manobras. Tudo correu bem, graças a Deus! Frio.
31/10/59 – sábado –
Instrução. Músicas. Achei bonito o quadro:
ela bordando uma toalha e eu ao lado dela lendo a revista “O Cruzeiro”. O primo dela
Raul apareceu. Conversamos. Eleições na Faculdade. Navio aeródromo. Jogos.
Jantei. Estudei rádio. Li os diários para a R.. Sono. Regressei às 22:30.
E assim cheguei ao
final de mais um mês. Estou gostando cada vez mais da R.. Espero vender a Lambreta
por uns Cr$70.000,00 e colocar o dinheiro no BNMG para o casamento.
NOVEMBRO-1959
01/11/59 – domingo -
Dia de Todos os Santos – Acordei às 08:30. Estudei no cassino de oficiais ao
som de boa música no alto-falante Goodman. Reli meu diário e fiz novos
propósitos. Ad astra! Ad maiora natus sum! Depois do almoço dormi das 13:00 às
15:00. Voltei ao cassino e preparei a Palestra. Às 15:45 fui com o Sérgio até o
centro da cidade. Fui à missa com a Da. Lycia, R. e Luis Armando. Confessei-me
e comungamos. À saída falei com o Pe. Augusto dizendo-lhe que o sermão tinha
sido muito bom: “Bem-aventurados os que sofrem porque serão consolados”.
Conversei bastante com a R.. Sinto por ela um sentimento muito sincero e
profundo de amor. Que Deus nos abençoe! Jantei. À saída, disse-lhe: - já que
bem-aventurados os que sofrem, vamos servir na Belém-Brasília? –Você vai? –Ela
respondeu: Não! - Não? Perguntei eu.
Não, respondeu ela. Bem, lhe disse eu, então não dá mais. Muito obrigado
desculpe-me o incômodo. Adeus! E ia me retirando quando do portão perguntei de
novo:- Vai? – Vou, respondeu ela. Voltei então e resolvi ficar mais um pouco,
pois não gostara nada da experiência. Após pedir desculpas pela brincadeira,
resolvemos nunca mais brincar assim... Ao chegar ao quartel, o sentinela
soldado Jamil me disse que o soldado Horácio estava “atacado” quebrando
tudo. Fui até lá. O soldado estava
deitado de bruços sobre a cama. Logo mandei todos os soldados irem para as suas
camas e o Horácio também. Estava já no meu quarto quando o Sgt Lemos me chamou
de novo. Fui até lá. Rezei o terço sentado na cama do Horácio pedindo a Jesus e
às Almas do Purgatório que fizessem que ele dormisse. De fato após murmurar
algumas orações, ele dormiu. Graças a Deus! Fui dormir às 00:45.
02/11/59 – segunda –
Acordei às 07:50. Fui para o cassino, onde trabalhando ouvia a Rádio Tupi do
Rio de Janeiro a transmitir músicas clássicas. Também a Rádio Tingui de
Curitiba. À tarde fui ao Cemitério Municipal com a R., Dona Lycia e Elyane.
Flores. Túmulo dos avós. A R. colocou um ramalhete de flores para o papai.
03/11/59 – terça –
Fiz uma palestra no Internato Paranaense sobre a Vida Militar. À tarde houve
campeonato de tiro para os soldados.
04/11/59 – quarta –
Fui à Faculdade. Aula de Analítica. Alceu. R..
05/11/59 – quin ta –
Instrução para os três soldados de outras Unidades. À tarde fui à casa do Alceu
onde estudei Química.
06/11/59 – sexta –
Fui à granja com os soldados para o Tiro. À tarde tive prova de Química. Fui conversar com a R.. Planejamos nos casar
no dia 9 de junho de 1961 se Deus quiser.
07/11/59 – sábado –
Instrução. Fiquei desapontado com o fato de ir à manobra e deixar os três
soldados adidos no quartel. Reclamei com o Tavares. Estudei Rádio. Fui falar
com a R.. Hoje completamos dois meses de namoro e eu me esqueci. Dançamos. Às
23:05 me despedi.
08/11/59 – domingo –
Fui dormir às 01:05 após ler o jornal “O Globo”. Os colegas foram ao baile das
debutantes no Clube Thalia. Chegaram às 03:00. Acordei às 07:40. Fui à cidade com o Sérgio e o Joélcio e
depois fui à casa da R.. Fomos à missa e depois jantei lá. Reclamei do batom
dela.
09/11/59 – segunda –
Dei instrução para os soldados adidos. Falei com a R..
10/11/59 – terça –
Dei instrução. Fui falar com a R.. Ela me deu uma fotografia dela debutante.
Despedi-me.
11/11/59 – quarta -
Parti para uma manobra. Ponto de
suprimento. Instrução dos adidos. Saudades da R..
12/11/59 – quinta –
Instrução dos soldados adidos. Bom o ambiente na Seção de Reparação e
Suprimento (Sec Rep Sup). Sargento Noronha, Irmão Fabro, Boçon “Chumbol”, Nunes
o negativo dos outros Oficiais, Haas com o material dr construção, Pupia,
Malin, Cubas e outros.
13/11/59 – sexta –
Muita chuva, umidade e frio. O Sérgio foi ao acampamento e medisse que
telefonou para a R.. Coturno molhado e pés úmidos.
14/11/59 – sábado –
Mudança do local do acampamento. Incidente com o O’ de Almeida. Pensamentos
negativos. No final deu tudo certo. Os construtores de linha trabalhando muito.
15/11/59 – domingo –
Alvorada às 05:30. Crítica da manobra. Revi muitos colegas de turma. Afinal o
regresso. Tudo OK. Fui falar com a minha querida R.. Como estivesse pintada
custei a me acostumar. Afinal tudo um mar de rosas. Fomos à missa onde
comungamos. Jantei com ela em sua casa. Conversei com o Dr. Armando.
16/11/59 – segunda –
Dia de dispensa devido às manobras. Estudei com o Alceu. Fiz péssima prova.
Passei o resto do dia com a minha namorada. À noite estudei Química com o
Alceu.
17/11/59 – terça –
Pela manhã fiquei no quartel. À tarde fiz prova de Química. Não sei se passarei
por média. Voltei às 19:00 para o quartel. Tempo parecido com o do Rio.
18/11/59 – quarta –
Instrução. Treinamento físico. Soube que houve explosões no Rio devido a
terroristas. O Frota Leite chegou na segunda-feira. À tarde fui ao cine Ópera
com a R. e seu irmão Luis Armando ver o filme “Arsene Lupin”, história de um
francês que tinha grande habilidade em roubar. Achei-o muito malandro e sem
escrúpulos. Comentei com a R. como é fácil uma mulher se deixar beijar nesses
filmes. Voltamos para a casa dela. Conversamos até 21:30. Em dado momento dormi
com a cabeça encostada em seu ombro. Deixei a Lambretta na casa dela e voltei
de ônibus para o quartel.
19/11/59 – quinta –
Dia da Bandeira – Acordei às 07:00. Às 11:00 fomos os Oficiais e Praças até a
Praça Santos Andrade para uma cerimônia cívica. Graças a Deus os microfones e
alto-falantes funcionaram bem. Hasteamento da Bandeira. Bom o discurso do Sr. Laertes Munhoz.
Esperava a R. mas ela não apareceu. Após a cerimônia fui até a casa dela. Ela
havia se atrasado e resolvera não ir. Almocei no quartel e depois voltei à casa
dela.
20/11/59 – sexta –
Pela manhã dei as Instruções. À tarde fui para a prova de Descritiva. Tive que
estudar na hora e graças ao Raul, primo da R. é que tive mais facilidade em
resolver uma das três questões da prova. Fui depois conversar com a R.. Ontem
eu deveria ir estudar com o Alceu na casa dele, mas não o encontrei. Voltei ao
quartel sem estudar.
21/11/59 – sábado – Ontem
a R. e eu fomos à missa e comungamos. Hoje é a despedida da primeira turma de
soldados. À tarde o soldado Cassorla ainda deu uma olhada na Lambretta. Fui à
missa com a R.. Na volta o Joélcio e o Sérgio me esperavam. Fomos até a casa do
Casatle. Jantamos. Comentários sobre casamento. Ainda passei na casa da R..
22/11/59 – domingo –
Fomos à missa das 11:00 na igreja do Rosário. Comungamos. Almocei com ela.
Fomos à tarde à casa de seu avô Manoel Claro Alves. Lá fiquei até à noite de
onde após jantar voltei para o quartel. Já havia passeado de Lambretta com a
Luis Armando.
23/11/59 – segunda –
Instrução. À noite fui à missa com a R. e voltei para o quartel.
24/11/59 – terça –
Instrução. Chuva. Ao chegar à casa da R. encontrei-a com aquele vestido em que
a tinha visto no jogo de basquete e com o cabelo enrolado. Ao vê-la sair com
aqueles rolos na cabeça eu estranhei e perguntei se ela não levaria um véu.
Disse-me que não era preciso. Não gostei.
Afinal ela me mandou ir sozinho pedindo-me que rezasse por ela.
Respondi-lhe um tanto rispidamente. Na catedral senti inúmeros pensamentos
negativos, achando que ela ia à missa todos os dias por minha causa e eu havia
vindo desde o Bairro do Portão na chuva para ficar sozinho na igreja. Enfim
quase não conseguia rezar com tantos
pensamentos. Fui depois até a Caixa Econômica. Após receber os vencimentos
voltei à casa da R.. Chovia e eu não queria entrar. Afinal entrei. Ela havia
desmanchado o cabelo. Havia também chorado e tivera seus pensamentos negativos
pensando que eu não voltaria mais. Afinal eu lhe pedi desculpas muitas vezes.
Considero-me muito egoísta e orgulhoso pois eu poderia ter ter mais compreensão
para com ela.
25/11/59 – quarta –
Tempo chuvoso. Instrução. Ambiente negativo outra vez no quartel.
30/11/59 – segunda –
Fui em quase todos os dias à casa da R.. Estou cada vez gostando mais dela.
Tenho sempre jantado lá. A Lambretta está ótima. Vamos à missa e comungamos
todos os dias. Tenho tido algumas falhas no namoro, mas o ideal está sempre
vivo.
DEZEMBRO-1959
05/12/59 – sábado –
Ficamos de sobreaviso no quartel devido aos acontecimentos nacionais.
Aragarças. Cachimbo. Constellation da Panair. Coronel Veloso. (Jacareacanga
56). A R. foi hoje para Ponta Grossa passear com os pais e com o irmão. Reunião
de médicos. Fiquei o dia todo no quartel. Estou recebendo a carga das viaturas
pois o Sérgio vai para o Rio de Janeiro cursar a Escola Técnica do Exército.
Hoje foi a prova dos três soldados adidos. À tarde dormi. Limpei a Lambretta. A
R. me telefonou, se despedindo.
06/12/59 – domingo
–Fui à missa das 06:30 na igreja do Portão. Confessei-me e comunguei. Estava de
serviço. Lá pelas 10:00 fomos liberados da situação de sobreaviso. Todos
ficaram contentes. Fomos jogar basquete no Círculo Militar. À tarde ouvi o jogo
Flu 0 x Bangu 0 corrigindo as provas dos soldados.
07/12/59 – segunda –
Prova oral de Física. Somente às 17:00. Saí-me bem graças a Deus. Fui à missa
com a R.. Jejum e abstinência.
08/12/59 – terça –
Imaculada Conceição – Missa às 11:00 com a R.. Almoço. Leitura. Álbum de
retratos. Jantar em casa de uma tia. Quebra-quebra na cidade. Quartel.
09/12/59 – quarta –
Prontidão no quartel. Exercícios de patrulha. Tudo OK, graças a Deus.
10/12/59 – quinta –
Ontem recebi uma carta da mamãe. A R. também. Ela deve vir a Curitiba em
janeiro para conhecer a R.. Continuamos de prontidão. Ainda não sei se irei ao
casamento do mano Felippe com a Suely.
11/12/59 – sexta –
Continuamos de prontidão.
12/12/59 – sábado – Fomos
liberados da prontidão. Não fui falar com a R.. À noite fui à colação de grau
de uma turma do Ginásio do Portão. Achei interessante.
13/12/59 – domingo –
Como chegara um pouco atrasado à missa na igreja do Rosário, fui assisti-la na
igreja da Ordem. Estamos no Advento. Almocei com a R.. Disse-me que estava com
pensamentos negativos. Fomos até à casa dos avós dela. Passeei com ela e com o
Luis Armando de Lambretta. O Fluminense ontem foi o campeão carioca. O avô
Manoel Claro é espírita. Discussões. Fiquei
triste. Não quis jantar dentro da casa. Acabei na calçada. A R. chorou. Voltei
ao quartel à noite.
16/12/59 – quarta –
Dia do Reservista – Missa de Formatura da R.. Fui com o Sérgio. Depois fuii até
a casa dela. O Joélcio chegou depois. Jantar. Onda de sobreavisos. Novos
comandantes, exonerações, aula inaugural no CPOR. Política. Fomos até o Colégio
Estadual. Calor. Muita gente. O Joélcio levoui-nos de automóvel. Tudo bem,
graças a Deus!
17/12/59 – quinta – À
noite houve o baile da R. no Clube Thalia. Dancei bastante com ela. O Sérgio de
smoking e o Joélcio de uniforme, voltaram cedo para o quartel, sem dançar. O
Defilipo dançou. Fui embora às 03:00. A R. também. Voltei de táxi
(Nash-Cr$140,00). Saí muito feliz.
18/12/59 – sexta –
Sobreaviso. Ordem do Frota Leite. Fiz o pagamento do pessoal. Graças aos
sargentos tudo saiu bem. Fui dormir à meia-noite.
19/12/59 – sábado –
Casamento do Felippe com a Suely. Que Deus lhes dê muita da verdadeira
felicidade! Fomos liberados às 09:00 após as instruções. À tarde fui à casa da
R.. Ela estava montando a árvore de Natal. A prima dela Beatriz também estava
lá. Aproveitei para continuar a escriturar o Livro Carga da Seção de Rep e Sup
do quartel. Às 18:00 fomos à missa. Confessei-me e comunguei. Jantei. Lemos juntos
ouvindo discos. Estamos nos amando de verdade, graças a Deus!
25/12/59 – sexta –
Natal. Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.
Nesta semana fui ao CMP com o Sérgio, muito serviço no quartel, segundo
licenciamento dos soldados, Natal com a querida R., despedidas do Sérgio,
almoço com a R., fotos, visitas a presépios e confissão na igreja da Ordem.
Jantei na casa dos avós da R.. Lá estavam: avô Claro, avó Élia, tio Arildo, tia
Lourdes e as primas Eliane, Beatriz e Lúcia. Agradeço a deus este Natal e peço
perdão pelas falhas cometidas.
31/12/59 – quinta –
Cheguei ao final de mais um ano. Consegui passar para o novo ano assistindo à
santa missa e comungando. A R. esteve na casa da avó Élia. Tenho passado estes
dias bastante ao lado dela de quem estou gostando cada vez mais. Estou
contente, pois acho que no ano de 1959 eu trabalhei bastante. Espero terminar
em 1960 o 1º ano na Faculdade de Engenharia e estudar bastante para o concurso
à Escola Técnica do Exército. Por tudo agradeço a Deus meu soberano Senhor, a
quem devo a vida, a saúde, a inteligência, a vontade, enfom, tudo. Deo Gratias!
Ad maiorem Dei gloriam!
JANEIRO -1960
01/01/60 – sexta – Ia
iniciar a Santa Missa quando se ouviu o buzinar dos automóveis. Novo ano! Novas
esperanças! Eu não estava com a R., pois ela tinha ido passar o Ano Novo junto
com os avós. Após a missa fui encontrar
com ela na casa dela. Tomei um copo de leite e comi nozes. Fui dormir no
quartel. Almocei na casa dos avós. Foi feito um planejamento para um piquenique
em Ouro Fino. Estou contente em ter começado melhor este ano. Segui o conselho
de Jesus: “Estote parati!”
02/01/60 – sábado –
Meio-expediente no quartel. Rotina. Tenho recebido cartões de casa extensivos
à R.. Inicio este ano gostando muito
dela e pensando em me casar assim que puder. Sinto-me, entretanto sem dinheiro
e outras condições para tal. Espero que no decorrer deste ano fique mais claro
o caminho. Pretendo desligar-me da Escola de Engenharia e iniciar o estudo para
a Escola Técnica do Exército. Economizarei o máximo que puder.
03/01/60 – domingo –
A característica deste domingo é que fui à 1ª Tarde Dançante no Círculo Militar
do Paraná. Dancei o tempo todo com a R.. Para ir à missa na Igreja do Bom Jesus
tivemos que pegar um táxi para não chegarmos atrasados, a R., o Luiz Armando e
eu. Voltamos a pé.
04/01/60 – segunda –
No quartel estamos em meio expediente mas eu tenho aproveitado integralmente os
dias.
05/01/60 – terça – O
tempo continua bom. Tenho que aproveitar bem o verão pois o inverno para mim é
um pouco ruim.
06/01/60 – quarta –
Dia dos Reis. Dia santo. No quartel não houve expediente. Fui à missa na igreja
do Portão. Pouca gente. À noite fomos ao baile de aniversário do Clube
Curitibano. Dancei bastante com a R.. Lá estavam também a Beatriz e o Pedro.
Gostei muito do baile. As orquestras tocaram muito bem.
07/01/60 – quinta –
Começaram a se apresentar os novos conscritos no quartel.
08/01/60 – sexta – O
Ó de Almeida foi transferido para a 1ª Cia Com Blda no Rio de Janeiro. Ele me
convidou para ir para lá mas eu não achei uma boa idéia devido ao namoro com a
R..
09/01/60 – sábado – À
tarde desmontei a Lambretta ajudado pelo soldado Miguel Prezbycien para limpar
o pistão. Fui à missa com a R. e jantei com ela. Tudo combinado para o passeio
a Ouro Fino. Apareceram a Eliane, a Beatriz e o Pedro. O tempo não inspirava
muita confiança. No quartel montei o tanque e ultimei os preparativos. Fui
dormir à meia-noite.
10/01/60 – domingo –
A chuva impediu o passeio a Ouro Fino. Acordei às 06:30, mas deveria ter
acordado às 04:15. Mas a chuva me salvou, pois ninguém saiu. A Beatriz, prima
da R., me telefonou. Falei também com a R.. Fui almoçar na casa da avó Élia,
pois além do aniversário dela queriam dar um fim na comida que tinham feito
para o piquenique. Recebi um recado de que a minha mãe iria chegar à noite em
Curitiba. O meu primo Gilberto havia passado um telegrama para a R.. Fomos à
missa na igreja da Ordem. Depois nos dirigimos o Dr. Armando, a R. e eu até a
Estação Rodoviária onde esperamos o ônibus de São Paulo. O ônibus chegou às
20:15. Apareceu a mamãe acompanhada pelos netos Eliane e Ronaldo. Fiquei muito
contente em revê-los depois de tanto tempo, graças a Deus! Muito obrigado! O
Dr. Armando levou-nos de automóvel até a casa dele não me deixando pagar o
táxi. Apresentações. Conversamos até meia-noite.
11/01/60 – segunda –
Após o expediente fui até a casa da R. e jantamos todos juntos. A mamãe
conversou muito relatando os fatos da vida dela principalmente as viagens que
fez. Fui dormir tarde.
12/01/60 – terça – No
domingo, logo que a minha sobrinha Eliane me viu, ela me entregou um bilhete da
minha irmã Maria José. Ao lê-lo levei um susto, pois ela me dizia que
certamente eu ficaria noivo da R.. Eu nem pensava nisso e fiquei meio confuso.
Nestes dias ando sem dinheiro e me considero muito mal preparado ainda para
casar. Se tivesse condições eu penso que já teria casado com a R..
13/01/60 – quarta –
Pretendia ir à tarde à cidade, mas fiquei no quartel tentando descobrir um erro
na Tesouraria. À noite fui conversar com os meus familiares.
14/01/60 – quinta –
Hoje a mamãe falou muito sofre a vida dela. Ontem e hoje jogamos vários tipos
de jogos. Estou muito feliz da vida. Já marcamos o dia do noivado. Será no dia
do aniversário da R., no dia 08 de abril, se Deus quiser. No momento não tenho
dinheiro nem para as alianças.
15/01/60 – sexta – De
manhã assisti ao Juramento à Bandeira dos soldados do Grupamento B. À tarde
trabalhei na Tesouraria. Passeei de Lambretta com o Ronaldo e com a Eliane.
Jantamos todos juntos na casa da Dª Lycia. A família aumentou de repente! A
mamãe pretende voltar para São Paulo na próxima segunda-feira. Já comprei as
passagens. O Luiz Armando sempre muito alegre a brincar com o Ronaldo e a
Eliane. A Dª Lina fica vendo as novelas. No quartel, o Figueiredo foi desligado
hoje e o O’de Almeida já seguiu na quarta-feira para o Rio. O Joélcio está se
preparando para ir também para o Rio.
16/01/60 – sábado –
No quartel estou trabalhando na Tesouraria para passar os encargos ao 2º Ten I
Ex Nery Dornelles de Oliveira. À tarde não fui logo para a casa da R.. Era para
passearmos de automóvel, mas não deu certo. À noite jogamos vários tipos de
jogos em conjunto.
17/01/60 – domingo –
Fomos almoçar na Sede Campestre do Clube Curitibano. Fui de Lambretta na ida
com o Ronaldo e na volta com a Eliane. Tiramos fotografias. Conversei com a
mamãe sobre o futuro casamento com a R., onde morar, etc. Agradeço a Deus ter
podido rever minha querida mãe. Fiquei muito contente. Fiquei o máximo de tempo
com ela. Sou muito grato à família da R. pelo dedicadíssimo tratamento que deu
a ela. Espero não decepcionar em relação à R..
18/01/60 – segunda –
Providencialmente acordei às 05:30 e fui de Lambretta até a estação rodoviária.
Despedidas. Voltei de Lambretta com o Dr. Armando. Passei a Tesouraria para o
Dornelles. Tive que fazer uma cautela de Cr$5.300,00 para o acerto de contas.
Como é demorada uma Prestação de Contas!
19/01/60 – terça –
Fui à cidade para me despedir do Dr Armando e da Dª Lycia que vão viajar até o
Uruguai. Só deverei ir conversar com a R. à tarde.
20/01/60 - quarta –
Dia de São Sebastião. Os pais da R. viajaram às 04:00. As fotografias que tirei
não ficaram boas.
21/01/60 - quinta – Quartel.
Pretendo freqüentar a piscina do Circulo Militar. O Alceu Cordeiro me emprestou
a documentação de Geometria Descritiva. Soube que vários colegas entraram para
a Escola Técnica do Exército.
22/01/60 – sexta – O
Joelcio vai embora amanhã. Despedidas. Fiz o exame médico para a piscina e
passei. Graças a Deus!
23/01/60 – sábado –
Às 04:00 o Joelcio partiu para o Rio no seu Citroen preto. Ele levou o Cap
Frota Leite e o Raymundo, irmão da Miriam. No quartel, preparativos para a ida
de duas viaturas com estações de rádio até Brasília, a nova Capital do Brasil.
Hoje saiu o pagamento, graças a Deus! Fiz o Quadro de Trabalho Semanal do
Departamento de Educação Física. Fui à cidade sem Lambretta. Pequenos
desacertos com a R.. Missa na Catedral. Vitamina e pizza. Quartel. Arrumação do
quarto.
24/01/60 – domingo –
Acordei só no quarto. Nova arrumação. O meu rádio está funcionando bem salvo
algumas interferências. Fui à cidade sem Lambretta. Fui à missa com a R. e o
Luiz Armando. Fomos à sacristia onde conversamos com o Pe. Augusto que nos
falou sobre as Cataratas do Iguaçu. Ele elogiou muito. A R. lembrou que
podíamos passar a lua-de-mel lá. Quem sabe... Almocei depois na casa da R. com
ela e o Luiz Armando. Fui até a Av. João Pessoa ver a passagem da Coluna Sul de
Integração Nacional. Passou às 12:05. Obtive as Ordens com o Cap Dirceu e o Maj
Perpétuo. À tarde me excedi um pouco nos carinhos com a R., mas combinamos
sermos mais vigilantes. Segundo o Pe. Augusto o tempo de namoro e noivado é
para conhecimento da alma. Voltei para o quartel. Tudo O.K. na Operação
Brasília. O Sgt Leocádio datilografou no extensil. Fui para o quarto ouvi a BBC
e escrever este histórico. Vontade de fazer tudo certo na vida.
25/01/60 – segunda –
Foi feita a distribuição do fardamento aos novos recrutas. Levou quase a manhã
toda. À tarde fiz a pesagem e tiragem de altura dos recrutas. Terminei o dia
bem contente e satisfeito. Escrevi uma carta para o Sérgio. Tenho economizado
para poder casar com a R.. Estou me sentindo feito para ela e ela para mim.
26/01/60 – terça –
Preenchi as fichas de treinamento até a hora da educação física. Fiquei bem
queimado pelo sol. À tarde continuei nas fichas. Fui à cidade de ônibus. Enviei
os Cr$10.000,00 do apartamento na Tijuca e o dinheiro do Sérgio com a prestação
do rádio (2ª). Falei com a R.. As fotografias que eu tirei ficaram péssimas.
Fomos à catedral e assistimos à missa. Tenho tomado leite com bolo na casa dela
para economizar o jantar.
27/01/60 – quarta –
Pela manhã dei instrução de educação física básica e rústica. Eu mesmo dei o
banho nos conscritos com a água da mangueira pois a cisterna está em
construção. À tarde levei a Lambretta para consertar perto do Círculo Militar.
Tirei a carteirinha para a piscina. Chovendo sem parar. Telefonei para a R..
Consegui chegar lá bem molhado. Lá estavam a Beatriz, a Elyane e a Célia,
primas da R.. Haviam rido muito. Tomei dois copos de leite e comi bastante
pãezinhos feitos pela R.. O Luiz Armando sempre alegre. Os pais estão pelo sul
do Brasil e Uruguai. Voltei de ônibus.
28/01/60 – quinta –
Acordei às 05:50. Ouvi o deputado Eurípides Cardoso de Menezes a defender os
judeus e a pedir aos católicos que telegrafassem para a embaixada de Israel no
Brasil se solidarizando. Dei instrução de apresentação do armamento e ginástica
básica com corrida rústica. Dias bonitos com bastante sol. Estou bem queimado.
Morreu o embaixador Oswaldo Aranha. Grande repercussão. Deus lhe dê o céu.
Lembrei-me de que quando seminarista ele havia oferecido para nós passarmos uns
dias no sítio dele que tinha piscina. Foi no Ministério da Educação após uma
das apresentações do nosso coro. A Rússia está a testar foguetes com 12.000km
de alcance. O Presidente Eisenhower a tranqüilizar o povo americano dizendo que
os Estados Unidos não estavam dormindo.
Ontem a R. me mostrou fotografias de uma reportagem sobre a Elizabeth
Gasper, em “O Cruzeiro”. Vi também em uma capa da Manchete. Que a Liz esteja
bastante feliz. Cada um com a vida que Deus traçou. Que abençoe muito a E.G..
Após o expediente fui à cidade. Os sargentos Calazans, Moreira, Néri e o Cabo
Arílio me deram uma carona em um táxi. Fui à missa na catedral com a R. e o
Luiz Armando. Confessei-me e comunguei ficando em paz comigo mesmo. A R. me deu
dois copos de leite, pãezinhos que fizera e bolo de abacaxi. Deixou de dar
leite para o irmão por minha causa! Vejo que sou muito querido dela.
29/01/60 – sexta –
Instruções de armamento e tiro. Fiquei um pouco mais no quartel para fazer a
classificação dos soldados. Fui à catedral com a R. e depois como sempre fui
lanchar na casa dela. Tenho me despedido às 19:30 quando escurece.
30/01/60 – sábado –
Consegui fazer o teste de aptidão física com os oficiais e sargentos. Houve um
jogo de futebol entre os antigos e os novos. Os novos venceram por 1x0. À tarde
fui ao cinema com a R., o Luiz Armando e a prima deles Lúcia, irmã da Beatriz.
Usamos uma entrada permanente da Beatriz. Assistimos “Sissi a Imperatriz” no
cine Marabá. Um filme histórico com algumas cenas cômicas. Em casa lemos o
livro “A Vida em Aspiral”. Hoje a R. estava com dor de cabeça, garganta e
ouvidos. A hora da despedida é sempre difícil exigindo um grande esforço da
minha parte. Só penso no dia em que não mais precisarei me despedir dela. Será
que vai existir? Hoje me senti cansado. É a educação física que exigiu um pouco
mais de mim.
31/01/60 – domingo –
Acordei às 06:15. Último dia do mês. Li o primeiro capítulo do livro “O Brilho
da Mocidade” do Mons. Thiamer Toth. Tomei café e logo fui para a casa da R..
Cheguei ainda trinta minutos atrasado. Estou lendo o livro “Cadete do Realengo”
do Cel Campos do Aragão. Muito interessante e me relembra muito a minha vida de
cadete. Fomos conversar. Pedi para ler a reportagem sobre a E.G. na Manchete.
Fiquei contente em verificar que a E.G. havia abandonado a vida de boate. Agora
casada com o Carlos Madeira sente-se bastante feliz e reafirma não ter sido
corrompida por aquele ambiente. Voltei a pensar um pouco nela. Almocei com a R.
e o Luiz Armando. Depois descansei um pouco e quando acordei ela colocou uma
bala de Nescau na minha boca. Como ela ia amanhã para Guaratuba eu lhe disse
que aproveitasse o máximo, pois caso não desse certo o nosso namoro ela não
tinha perdido nada. Às 18:00 ficamos os dois de rostos colados a conversar com
a Dª Lina. Aos poucos vou vendo que o sentimento que sinto pela R. é muito mais
perfeito e abençoado por Deus do que o pela Liz. Vejo que a R. se dedica
totalmente a mim. Conversamos a passear pela calçada juntamente com o Luiz
Armando. Finalmente chegou a hora de ir embora. Fui com ela até o ponto do
ônibus do Portão, na praça Rui Barbosa. Nos despedimos. Ficaríamos 15 dias sem
nos ver. Seria um teste para mim, dizia eu. Eu não preciso deste teste,
retrucava ela. Vejo assim que eu sou o egoísta. (Bem dizia a Lidja.) No quartel
fui logo dormir. Eram 23:00.
FEVEREIRO-1960
01/02/60 – segunda –
Instrução. Educação Física. Testes. À noite reli as cartas da Liz, da Aldinha e
da Verinha. Pensamentos de não prosseguir com o atual namoro. Impressionou-me
uma frase da Aldinha: “Você às vezes escreve coisas que gelam o coração de
qualquer um...”. Vejo que sou muito egoísta. Pensei em reatar com a Aldinha.
Após rezar fui dormir.
02/02/60 – terça –
Dia chuvoso. Instrução. O Cap Dirceu Ribas Correa vai embora para a Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio. O quartel está quase sem oficiais. Dei a
Educação Física com coturnos e calça de brim. Enquanto a caixa d’água não fica
pronta eu mesmo tenho dado banho nos soldados com mangueira. À noite pensei na
minha querida “noivinha” longe lá em Guaratuba. Ao ouvir a rádio Ouro Verde
tocou a música “Luz dos meus olhos...( Meu Benzinho)”. Lembrei-me dela, apesar
desta música também me trazer a
lembrança da já casada Liz. Resolvi escrever amanhã para minha querida R.. Estou decidido a me
casar com ela. Vejo que preciso casar para estabilizar logo a minha vida e
poder me dedicar mais livre das paixões deste corpo a assunto que justifiquem a
minha passagem por este mundo. Continuo em regime de economia. Hoje as Colunas
de Integração entraram em Brasília. Juscelino, o homem do século?
03/02/60 – quarta –
Acordei e logo pulei da cama. Ouvi o deputado Eurípedes Cardoso de Menezes.
Falou sobre a confiança em Deus e a caridade. “Tudo o que pedirdes ao meu Pai
em meu nome...”. “Tudo o que fizerdes a cada um destes pequeninos, é a mim que
o fizestes...”. Citou o caso do Dep. Levy Miranda do Abrigo Cristo Redentor.
Mais oração e maior caridade. Tempo chuvoso. Instrução de armamento. À tarde
fui à cidade. Tirei fotocópia para radioamador. Encontrei o Swami Platt. Vai
para a Escola Técnica do Exército. Falou que trabalhou muito. Já está casado
com filhos. Está usando óculos. Achei-o meio esgotado. Continua espírita e me
disse que a mulher do Sólon, meu primo, valia mais do que ele porque ela era
espírita. Disse-me que o Sólon é defensor dos oficiais R-2 lá no 2º Batalhão
Rodoviário de Lages, em Santa Catarina. Fui à catedral onde me confessei renovando os
propósitos de me vigiar mais para não cometer falhas. Quis comprar um presente
para a Eliane, mas estava caro.No quartel jantei, varri o quarto e tratei do
pagamento da Lambretta. Dormi às 21:00 esperando acordar cedo. Hoje escrevi uma
carta para a minha querida R.. Já estou com saudades. Na rua vi a Sheila, mas
continuei como se não a tivesse visto.
04/02/60 – quinta –
Acordei às 05:40 e logo pulei da cama. Ouvi o Dep E.C. Menezes. Falou sobre um
outro deputado descendente de japonês elogiando-o muito pela sua capacidade e
virtude. Dia bonito. Instrução de armamento e educação física. À hora do banho
faltou água. À tarde fiz uma limpeza geral no Departamento de Educação Física.
Após o expediente joguei uma pelada de basquete. Encerei o quarto. Tomei outro
banho. Jantei. Escrevi para João Vargas de Oliveira S/A pedindo os documentos
da Lambretta. Ouvia a rádio Ouro Verde mas em dado momento saiu do ar. Pensei
na minha querida R.. Estou cuidando em me melhorar para ela. Ainda bem que vão
ser só quinze dias. Achei muito bonito o entardecer hoje. Houve uma grande
variação de cores. Aliás, o amanhecer também foi muito bonito com variações
bruscas e rápidas da cor das nuvens e do céu.
05/02/60 – sexta –
Acordei às 05:35 e logo pulei da cama. Bonita alvorada. Ouvi o dep ECM. Falou
sobre Roma e Jerusalém, e os mártires. Instrução de armamento (mosquetão
1908/1934) e educação física. Banho de mangueira. Fui buscar água no latão com
o soldado Filipak. À tarde tratei de assuntos administrativos. Fui à cidade.
Correio. Faculdade. Lambretta. Catedral. 1ª sexta-feira. Comunhão 2/9. Quartel.
Jantei. O cassineiro Nobile foi do Internato Paranaense e ouviu aquela minha
conferência que fiz lá. Cansado fui dormir cedo. Coloquei os retratos da R. ao
lado da cabeceira. Saudades.
06/02/60 – sábado –
Acordei às 05:50. Ouvi o Dep. E.C.M.. Falou sobre Roma, os mártires e a santa
missa. Pela manhã cuidei da documentação de tiro. Fiz o exame dos novos
motoristas. Houve um jogo de voleibol com os conscritos que ganhamos
facilmente. À tarde dormi até 15:00. Fui ao Círculo Militar. Joguei basquete
com o tênis do Clóvis. Vencemos por 43x41. É o Torneio Ozires Gummi. Fui para a
piscina onde nadei e convesei com vários conhecidos. Gostei muito da tarde que
passei hoje. Voltei conversando com os amigos do 5º Batalhão de Engenharia de
Porto União e amigos da Escola de Engenharia. Encontrei o Marciano que estava
com a esposa. Passei pela catedral e comunguei, Cortei o cabelo. Passei pela
casa da R. na rua do Rosário, 99. Entrei mas não falei com ninguém. Estou com
saudades dela. Vou escrever outra carta. Voltei para o quartel. Jantei às
20:00. Dormi cedo. A caneta caiu de bico no chão.
07/02/60 – domingo –
Acordei às 07:00. Escrevi outra carta para a R.. 5º mês de namoro. Graças a Deus continuo
querendo muito bem a ela , vencendo as tentações . Acredito ser a vontade de
adeus que eu me case com ela. Que seja feita a sua vontade. Fui ao Círculo
Militar. O filho do dono do posto de gasolina me levou no seu carro Ford 54 até
a cidade. Nadei. Tempo um pouco escuro. Céu nublado. Joguei basquete. Perdemos
o jogo para o time do Fritz e do Iacri. Faltou-nos o Kravitz, ótimo jogador e
eu estava com dor de barriga. Assim mesmo o jogo foi bem disputado. Ainda nadei
bastante na piscina. Um jogador de basquete me levou de carro até a praça Ruy
Barbosa. Coloquei a carta da R. no correio. No quartel almocei às 14:40. Dormi
até 16:00. Não consegui estudar Descritiva. Li um bom livro:”Concepção Católica
da Vida”. Fui à missa na igreja do Portão.Confessei-me. Estava a dar a esmola
quando passou a hora da comunhão. Fiz uma comunhão espiritual. Jantei no quartel.
Fui para o quarto. Tenho ouvido bastante a rádio Ouro Verde. O alto-falante na
caixa de som está ótimo.
08/02/60 – segunda –
Acordei às 05:50. Ouvi o ECM. Falou sobre os mártires dizendo que devemos estar
preparados para também o ser. Li um pouco dos livros de cabeceira. Dia normal
de instrução: mosquetão, educação física com ginástica básica a 8 repetições e
exercícios de vivacidade. Instrução também à tarde. À noite fiz ginástica e
tomei banho. Após o jantar ia começar a estudar Descritiva quando resolvi tomar
o pulso da minha vida. Fiz uma reconstituição de toda a minha existência.
Cheguei às seguintes conclusões: Passar em Geometria Descritiva, sair da Escola
de Engenharia da Universidade do Paraná e dedicar-me de corpo e alma ao estudo
para o concurso para a Escola Técnica do Exército. Formar-me em Engenharia de
Construção, ir para o interior do Brasil e dedicar-me inteiramente ao serviço
da Pátria , de Deus e da minha família. Se Deus quiser passarei. Querer é
poder! E eu quero! Hoje completei 2 anos de 5ª Cia Com. Penso ter
correspondido. Agora vou pensar mais na EsTE. Com a graça de Deus conseguirei
mais uma vitória. Para a luta! Viver é lutar. Hoje recebi uma carta lá de casa.
Todos vão bem, graças a Deus! Rezei o terço e pensei na minha querida R.,
futura companheira da minha passagem por este mundo. Espero muito do incentivo
que ela me der para conseguir o meu ideal. Consegui a base que eu procurava.
09/02/60 – terça –
Acordei às 05:59. Ouvi as rádios Nacional e Jornal do Brasil. Instrução.
Treinamento físico, básica a 8. À tarde triângulo de pontaria. Tratando da
instrução de tiro. Não pude ir à EEUP com queria. Resolvi ir amanhã. Hoje
recebi durante a educação física a primeira carta da minha R.. Impressionou-me
mais o seguinte período: “Querido, você pede em sua carta que eu aproveite e
esqueça um pouco de você. O primeiro eu estou fazendo, mas o segundo é
simplesmente impossível. Vou à fonte de água potável, na Santa, todos os dias e
rezo por você. Faço o mesmo quando vou à Vila e passo pela igreja. Além disso
todas as noites antes de deitar rezo um terço para você esperando que Nossa
Senhora ouça as minhas preces.”Li e reli várias vezes, tal a alegria que me
causou ter recebido esta carta. Escrevi uma carta para a minha irmã Risoleta. Estudei
Descritiva.
10/02/60 – quarta –
Acordei várias vezes durante a noite devido aos mosquitos. Levantei-me às
06:00. Ouvi a rádio Aparecida. Fiz um pouco de ginástica. Coloquei o 5º
uniforme. Instrução de mosquetão. Fui à cidade. Coloquei a carta para a Risoleta
no correio após passar pela EEUP e me inscrever para a 2ª época de Geometria
Descritiva. Encontrei vários conhecidos. Um deles me disse que uma moça estava
muito apaixonada por mim. Respondi-lhe que iria ficar noivo em abril com outra
e que ele convencesse aquela moça a me esquecer. No quartel ainda dei
treinamento físico, havendo um atraso. Após o almoço escrevi a terceira carta
para a R.. Fiz todo o planejamento do estudo para a EsTE. Serão 32 semanas. Troquei um cheque de
Cr$300,00 com o Sr. Ruy. Sou-lhe muito grato. Jantei no quartel. Amanhã
pretendo iniciar realmente o estudo da Descritiva para a segunda época. Ã
meia-noite fui acordado pelo Sargento de Dia me pedindo o jipe para o Sargento
Lemos ver o filho no bairro do Boqueirão.
11/02/60 – quinta –
Acordei às 05:20. Estou melhorando. Dei uma olhada na matéria de Geometria
Descritiva. Posso passar. Dia chuvoso. Dei instrução também de Educação Física.
À hora do almoço chegou o Cap Frota Leite. À tarde dei instrução. Saudades da
R.. Não fui buscar o despertador no relojoeiro Duda para não ficar sem
dinheiro. Limpei o quarto. Estou gostando da apresentação dele, pois está bem
arrumado e me sinto bem nele. Ouvi a BBC. Tenho rezado o terço todos os dias
ouvindo o Arcebispo de Curitiba, Dom D’Elboux pela rádio Santa Felicidade. Fui
dormir às 21:00 com saudades dela.
12/02/60 – sexta –
Acordei às 06:05. À noite senti os mosquitos outravez. Tenho estudado Geometria
Descritiva. Dia chuvoso. Mesmo com a chuva dei a Ginástica Básica no vestiário
dos soldados. Hoje finalmente eles já têm água saindo nos chuveiros. À tarde
dei instrução. Estudei Geometria Descritiva. Jantei. Saudades dela. Penso que o
Dr. Armando e a Dª Lycia já devem ter chegado de sua viagem ao Sul, pois hoje
houve um telefonema para mim que quando atendi deu sinal de ocupado. Perguntei
ao telefonista e ele me disse que era a voz de um senhor.
13/02/60 – sábado –
Estou tratando do recolhimento de armas. Houve um jogo de basquete com os
conscritos. Mesmo passando para o lado deles deu para ganhar. À tarde lidei com
as fichas biométricas. Às 15:00 fui ao CMP. Joguei basquete pelo Paraná
Esportivo. Vencemos facilmente. Nadei depois. Água ótima. Reparei que a Sheila
estava apreciando. Em dado momento fui conversar com ela. Perguntei-lhe se passara
de ano. Respondeu que sim. Perguntou por mim e eu lhe disse que ficara em três
matérias. Logo pedi licença e continuei a nadar. Graças a Deus não senti mais
nada por ela. Vejo que gosto mesmo é da R.. Após o banho de chuveiro caiu uma
forte chuva. Fui para o bar. Conversei com o Cap Camargo, o Iacri, o Dulcídio,
o Frota Leite e o Turquinho. Li “Narrativas Militares”, onde Taunay narra as
cenas da Retirada da Laguna. Achei estranho o fato dos paraguaios desenterrarem
os mortos para repartir os espólios. Também me impressionou a dificuldade em
levar cento e tantos doentes. Mais ainda quando resolveram deixar os doentes e
se irem. Em seguida a carnificina feita pelos paraguaios me pareceu desumana.
Vejo que sofreram muito e eu não sofro tanto quanto penso. A chuva continuava.
Fui de ônibus para o quartel. Cuidei da redação de um termo da Oficina de
Manutenção. A França explodiu sua 1ª bomba atômica no Saara e apareceu um
submarino desconhecido na Argentina. Fui dormir pensando na hora de rever a R..
Hoje comunguei e assisti à missa na Catedral. Era a comemoração das Bodas de
Prata de um casal. Pensei quando fosse a minha vez.
14/02/60 – Domingo da
Septuagésima – Aniversário da minha sobrinha Eliane. Não pude enviar o
presente. Dia nublado. Acordei às 07:10. Fui à Igreja do Bom Jesus. Após a
missa fui à reunião dos Congregados Marianos. Tudo simples e modesto. Deixei o
meu nome e fui até o CMP. A Sheila estava lá mas desta vez eu não fui
cumprimentá-la. Li as “Narrativas Militares”e fiquei deveras impressionado com
o ritmo de vida de certos heróis. Vejo que eu também preciso me dedicar a um
IDEAL que me exija por toda a vida. Joguei basquete. Entramos no campo certos
da vitória mas perdemos o jogo. Faltou maior conjunto. Antes do jogo o Cel
Edison me pediu o calção emprestado. Fiquei então lendo o livro sentado próximo
à piscina. Após o jogo nadei um bocado ainda. Mesmo chovendo não parei de
nadar. Às 14:00 voltei para o quartel onde almocei às 15:15 e dormi um pouco.
Ouvi o jogo Paulistas x Cariocas. A atração era o Pelé. Logo no início houve um
gol dos paulistas e eu não continuei a ouvir o jogo. Fui à missa na igreja do
Portão.
15/02/60 – segunda –
Dei instrução durante toda a manhã. À tarde tratei de assuntos administrativos.
Jantei. Fui à estação rodoviária. Encontrei o Dr. Arildo e a Dª Lycia. Depois
apareceu o Dr. Armando. Notícias de amas as partes. A Dª Lycia reclamou que eu
não os fora visitar. O Dr. Armando me disse que a minha máquina fotográfica
Yashica-mat havia falhado. Que pena! Infelizmente não sei o que pode ter
acontecido. Afinal chegaram os ônibus da Empresa Lapeana. Foram aparecendo a
Beatriz, a Elyane, a Célia, a Dª Lourdes e finalmente apareceu a minha R..
Estava bem queimada do sol. Foi procurar uns casacos que perdera. Tomamos um
táxi. Atritos por ocasião da espera na fila com o soldado da Polícia. Em casa
fiquei na copa. O Dr. Armando mostrou fotos da viagem. A R. falou sobre a
temporada em Guaratuba. Jantaram. Comi um pedaço de bolo e bebi um copo de
leite. Às 21:15 levantei-me para me despedir mas à porta demorei-me a me ir
definitivamente. Finalmente às 23:00 conseguimos nos despedir. No quartel dormi
às 23:30.
16/02/60 – terça –
Acordei às 06:20. Instrução. O Cap Dirceu apareceu. Não fui à Educação Física.
Vimos o Termo da Oficina de Manutenção. Despedidas. À tarde fiz o planejamento
do Treinamento Físico no Período de Preparação dos soldados. Fui à cidade.
Passei pela EEUP e depois fui ao QG tratar de um caso do Sgt Osmir. Fui ao
SRAM/5 tratar de novas armas para o quartel. Voltei ao quartel para a Educação
Física. A R. ligou combinando um cinema amanhã para ver “Sissi e o seu
destino”. Tomei banho. Jantei. Limpei o quarto. Estudei Geometria Descritiva
das 20:00 às 20:35. Terço e de novo Geometria Descritiva das 21:00 às 22:00.
17/02/60 – quarta –
De manhã dei instrução. Treinamento Físico. À tarde fui ao cinema com a R. e o
Luiz Armando assistir ao filme da Sissi. Filme histórico com belas paisagens.
Depois fomos à catedral onde me confessei.
19/02/60 – sexta –
Ontem e hoje dei instrução. Falei com a R. mas não fui à reunião dos
congregados marianos.
20/02/60 – sábado –
Último dia do Período de Adaptação dos conscritos no quartel. Tempo chuvoso. À
tarde conversei com o Frota Leite sobre a vida militar. Dormi. Hoje tomei
vacina Te-Tab. Às 17:00 estava na casa da R.. Tempo chuvoso. Ela estava
bordando junto com a mãe. Fomos à missa. Jantamos e depois fomos à casa da
amiga dela Terezinha, filha do Cel Bizerril. Fomos de carro com o Dr. Armando.
Apresentações. Despedidas de um dos filhos que vai ser dentista em Maringá.
Colegas militares: Iacri, Camargo, Brand Teixeira, Tourinho, e outros. Dancei
bastante com a R.. Ela estava muito bonita com um vestido branco com bolinhas
vermelhas contrastando com a sua pele bronzeada. Às 23:30 o Dr. Armando foi nos
buscar de táxi.
21/02/60 – Domingo da
Sexagésima – Acordei às 08:00. Tempo chuvoso. Toquei bandolim. Fui à casa da
R.. Assistimos a missa na igreja da Ordem. Comungamos e pedimos a Deus para
termos um tempo de namoro sem falhas. Tempo chuvoso. Almoço. Conversamos
bastante. Lemos o livro “O Mistério do Amor” de Fulton Sheen. Devemos amar
também as pessoas que não gostam da gente. Não estudei Descritiva. Preferi
conversar com a R. e a Dª Lycia. Não fui visitar a filhinha do Ten Mário por esquecimento
e por causa da chuva. Às 22:00 consegui ir para o quartel.
22/02/60 – segunda –
Novo horário. Burocracia. Testes da Aptidão Física. À noite estudei Descritiva
até 22:45. O Sérgio Tavares escreveu para o Ten Hélio. Muito estudo lá na EsTE.
Com saudades telefonei para a R..
23/02/60 – terça –
Burocracia. Testes. Treinamento Físico. Instrução. Não consegui trocar 24 armas
no SAM/5. Recebi os vencimentos de fevereiro. Muito obrigado, Divina
Providência! Treinei basquete após o almoço. Após o jantar toquei bandolim até
as 20:25. Ouvi a Rádio Vaticano e outras rádios estrangeiras. Estudei
Descritiva das 21:00 às 22:45. Saudades
dela.
24/02/60 – quarta –
Pela manhã houve Treinamento Físico e providências administrativas. À tarde fui
ao DRAM/5 onde tratei do recolhimento de 24 armas. Fui ao QGR/5 onde consegui a
assinatura do Cel Irazê Paes Brasil. Voltei ao DRAM/5 mas não pude trazer as
novas armas. O Cabo Jorge era o motorista da viatura Dodge EB-211608.Telefonei
para a R.. Fui de novo à cidade. Vi a Lambretta cujo conserto vai sair por uns Cr$3.000,00. Fui à
catedral onde a R. e eu comungamos. Depois fomos jantar. O Dr. Armando estava
jogando boliche no Clube Curitibano. Eu estava com tanto sono que quase não consegui
conversar com a R. e a Dª Lycia.
25/02/60 – quinta –
Acordei às 06:30. Tenho dormido às 23:00. Tratei da escrituração do Depto. de
Educação Física. Fui ao DRAM/5. Atraso.
Ajudei. Só pude sair às 12:20 e só com 9 armas. No quartel à tarde fiz o 2º Teste
de Aptidão Física com os Oficiais e Sargentos. Tudo pronto para o Tiro. Fui à
cidade buscar a Lambretta. Um carioca era o encarregado de tornear o cubo da
roda. Solda. Só sai lá pelas 20:15. Paguei Cr$1.500,00. Hoje houve um acidente
aéreo com dois aviões no Rio. Morreram vários músicos de uma Banda de
Fuzileiros Americanos. Deus lhes dê o céu! Conversei com a R., a Dª Lycia, o Dr
Armando, a Lina e o Luiz Armando. A R. hoje foi conversar com a Miriam na casa
dela. Esrtudei Descritiva e voltei de Lambretta.
26/02/60 – sexta –
Acordei às 06:50. Tempo instável. Mesmo assim fui à Granja para instrução.
Graças a Deus mesmo chegando com grande chuva esperei um pouco e iniciei a
instrução. Bom rendimento. Chegamos de volta ao quartel às 17:30. Banho.
Jantar. Limpei o quarto. Ouvi a Rádio Vaticano e rádios estrangeiras.
Comentários sobre a vinda do Presidente Eisenhower à América do Sul. Dormi cedo
às 21:00. Tempo frio.
27/02/60 – sábado –
Expediente. Testes de Aptidão Física. À tarde os soldados Caçador e Marques, e
eu limpamos a Lambretta. Fui à cidade. Passei pelo CMP. Recebi uma medalha do
Gilson. Fui à missa com a R.. Conversamos.
28/02/60 – domingo –
Cheguei cedo na casa da R.. Fiquei com ela o dia todo. Estudei Descritiva.
Ontem recebi uma carta do Joélcio e respondi hoje. Fui à missa com a R. na
igreja da Ordem às 11:30. Chuva. Sinto que gosto muito dela e que é muito
sincero este meu sentimento. Agradeço aos Céus me ter reservado tão boa
companheira para a vida.
29/02/60 – segunda –
Estudei Descritiva. Não pude deixar de ir à cidade, aproveitando para comungar
e falar com a R.. Deu-me um copo de leite e um sanduíche de queijo. Chegaram o
Dr Armando, a Dª Lycia e o Luiz Armando vindo de um baile infantil de carnaval
no Clube Curitibano. Despedi-me às 19:30. Estudei no quartel das 20:00 às 23:00.
MARÇO – 1960
01/03/60 – terça –
Acordei às 07:00. Estudei Descritiva. Visitei a R.. À noite voltei a estudar
até 23:00.
02/03/60 – quarta –
Estudei Descritiva. Expediente no quartel à tarde. À noite estudei até 23:20.
03/03/60 – quinta –
Acordei às 05:50. Ouvi o deputado E.C.Menezes falando sobre a Quaresma. Fui à
cidade. Estudei na praça. Fiz a prova escrita de Descritiva. Saí-me bem pois
fiz duas das três questões, graças a Deus! Passei pela casa da R. e voltei para
o quartel. A Lambretta sempre útil nessas horas. Instrução. Mochilas. Recebi
cartas da minha irmã Risoleta e da mamãe. Comecei a sentir uma dor do lado
direito mas não sei o que é. As notícias recebidas da família no Rio são todas
boas, graças a Deus! O meu irmão Felippe vai para o Rio e o cunhado Oscar está
na campanha política do Narechal Lott. As minhas sobrinhas Violeta e Vera estão
no Instituto de Educação. O Oscarzinho
está na escola. A Anna vai se casar. Nasceu uma nova sobrinha filha da Maria
Helena chamada Rosane. Iniciei o estudo para o exame oral de Descritiva às
19:00.
04/03/60 – sexta –
Pela manhã dei as instruções. À tarde fui até a EEUP. Fiz o exame oral de
Descritiva. Na hora do exame me esqueci de muita coisa. Saí na dúvida se havia
passado ou não. Fui à casa da R. onde jantei após irmos à Catedral.
05/03/60 – sábado –
Pela manhã instrução. À tarde lavei a Lambretta com o soldado Caçador. Fui ao
CMP após passar pela casa da R. e trocar a roupa. Nadei e joguei basquete.
Catedral. À noite fomos assistir ao filme “A Ponte do Rio Kwai”. Gostei da
paisagem do Ceilão e do enredo. História de soldados prisioneiros ingleses que
trabalhavam sob o jugo dos japoneses na construção de uma ponte de madeira.
Inflexibilidade do comandante inglês que venceu a do japonês. Uma patrulha dinamita
a ponte que foi muito bem construída. Aliás o próprio coronel inglês que
construira a ponte ao cair no chão aciona o circuito que provoca a explosão ao
passar o trem. Reações de um jovem soldado ao ter que matar... O trabalho de
engenharia... A música... A atenção permanece até o final. Voltei para o
quartel de Lambretta que está ótima.
06/03/60 – domingo –
Acordei às 07:00 e fui ao CMP após passar pela casa da R. onde trquei a roupa.
Nadei na piscina e joguei basquete. Bonito dia! Após o almoço fui à casa dos
avós da R.. Eu dei uma cochilada de uns dez minutos no sofá na casa da R..
Comemoração dos 71 anos do Avô Manoel Claro Alves. A irmão do Raul, Élia com os
seus filhos Ruy Carlos e Ângela. Passeei de Lambretta. Doces. Jantar.
Conversas. Política.
07/03/60 – segunda –
Treinamento Físico. Instrução para Oficiais. Treinei basquete. Hoje completamos
seis meses de namoro a R. e eu. Graças a Deus! Recebi um telefonema da R.
dizendo que eu passara em Descritiva. Viva! O Raul fez a minha matrícula em Analítica
e Cálculo na EEUP. À tarde instrução de Oficiais. A noite a R. me telefonou de
novo e comentamos p meio ano de namoro. Ela havia ido à primeira aula do Curso
de Dona de Casa. Encontrou uma prima do Tenente Luiz Cavalcanti e a Sheila.
Vejo que nesta cidade todos se conhecem. À noite escrevi uma carta para o
Sérgio Tavares. Não fui ao comício pró-Lott. Resolvi descansar um pouco no
quartel. Limpei o quarto.
08/03/60 – terça –
Treinamento Físico. Administração. À tarde fui de novo ao SRAM/5. Consegui as
armas restantes. Água mole em pedra dura...
09/03/60 – quarta –
Preparativos para a manobrinha. Treinamento Físico. Futebol com os Sargentos
ficando eu como goleiro. À tarde visitei a R.. Catedral e jantar.
10/03/60 – quinta –
Deslocamento para a granja. Tiro. Chuva. Vontade de ir jogar basquete contra o
Clube Curitibano. A chuva me impediu. Show do Sargento Fabro.
11/03/60 – sexta –
Chuva. Tiro. Treinamento Físico com chuva. À noite entrevistei os Sargentos.
Música. Chuva. Saudades da R.. Dormi bem após rezar o terço.
12/03/60 – sábado –
Acordamos às 05:00. Preparativos para o regresso. Marcha de volta. Cantos. No
quartel limpeza do material. Almocei bastante. Telefonei para a R.. Pensando no
dia do noivado que está se aproximando com certa indecisão. Arrumei a
Biblioteca do quartel. Ia à piscina mas choveu. Fui conversar com um confessor
muito bom. Disse-lhe que na minha vida costumava recuar ao ter que tomar uma
decisão muito importante. Ele me lembrou que eu já decidira duas vezes e que
não deveria deixar de decidir na terceira. Bons conselhos. Considerei-me já
casado com ela perante Deus. Chuva. Fui ver como estava a Lambreta. Com a chuva
torrencial ela ia descendo a rua do Rosário. O Dr. Armando me emprestou uma
capa e um chapéu. Fui correndo para segurá-la e molhei-me bastante. Depois a R.
colocou os meus sapatos para secar no forno. Lemos a revista Manchete juntos. A
Dona Lina ouvia a novela Sinhá Mestiça com a Virginia.
13/03/60 – domingo –
Toquei bandolim. Atrasei-me. Almoço. Casa dos avós. Missa na Igreja da Ordem.
14/03/60 – segunda –
Preparativos para a festa de aniversário da 5ª Cia Com. Chegaram Oficiais do 5º
Batalhão de Engenharia de Porto União.
15/03/60 – terça –
25º Aniversário da 5ª Cia Com. Alvorada com música. Missa. Comentei a missa
pelo alto-falante. Jogos. Perdemos o basquete para o 5º BE. Os Sargentos
jogaram futebol de salão. Almoço com chope. O Cap Rotta do CPOR declamou uma
poesia gaúcha. Conversei com o Major Walbach, o Tem Cel Edison e o Cap Lybio
King. Vencemos o jogo de futebol de salão.
16/03/60 – quarta –
Treinamento Físico. Torci o pé esquerdo ao jogar basquete. Fiquei no quartel.
17/03/60 – quinta –
Estou com o pé enfaixado. Instrução. Vacinação dos Soldados. Administração. Telefonei
para a R.. Encerei o quarto. Ouvi a rádios Vaticano, BBC e Ouro Verde.
18/03/60 – sexta –
Termos administrativos. Livros de carga ainda não escriturados. Ainda com o pé
enfaixado.
19/03/60 – sábado –
Dia de São José. Após certa indecisão fui ver a R.. Disse a ela que se não a
visse eu acabava esquecendo dela. Ela escreveu no calendário: “Eu não quero
obrigar você a nada. Faça o que quiser mas reflita antes.” Passei pelo alfaiate
onde encomendei um terno azul (Cr$8.000,00). Com a R. levei a Lambretta até a
oficina do mecânico Jorge. Missa. Comunhão. Jantar. Quartel.
20/03/60 – domingo –
Cheguei às 09:45 na casa da R.. Fiquei a ler no sol e ela na cozinha a preparar
um prato que ela aprendera. Fomos à missa das 11:30 na Igreja da Ordem. Almoço.
Conversamos e lemos ouvindo músicas de discos colocados pelo Luiz Armando. O
Dr. Armando o levou à piscina da Sociedade Duque de Caxias. Fomos à casa dos
avós. Planejamentos. A prima da R., Elyane namorando o Pedro Celso e a Beatriz
o Pedro Todeschini. Jantamos. Frio. Varanda. Ônibus.
21/03/60 – segunda –
Administração. Instrução dos Oficiais. Treinamento Físico. Ainda com o pé
inchado. Toquei bandolim. Rascunhei termos e adiantei livros de carga. Ouvi
rádio.
22/03/60 – terça
- Coomo deixei as janelas fechadas,
acordei só às 06:45. Arrumei-me rapidamente. Parte administrativa. Falta
d’água. Os cabos Rocha e Jorge datilografaram termos para mim. Partes de
aquisições. O Soldado Kitzig disse-me que as alianças iam me custar
Cr$3.600,00. Dia bonito. Corrigi provas. À noite tivemos que ficar de prontidão
e com 10 viaturas em condições de suprir a falta de ônibus devido à greve em
Curitiba. Fui dormir às 24:30. Só falei 30 segundos com a R. pelo telefone.
23/03/60 – quarta –
Suspensa a prontidão até as 20:00. À tarde dei uma saída. O Mário me emprestou
Cr$200,00. A R. foi visitar uma amiga. Fui à EEUP. Bom o horário. Carteirinha
de estudante. Colegas. Fui ao CMP. Piscina. Usando tornozeleira devido ao
tornozelo esquerdo inchado. Nadei. Problemas com a Lambretta na gasolina e no
cabo de velas. Consegui chegar no quartel faltando 2 minutos para as 20:00,
graças a Deus! Prontidão. Fui dormir às 22:00.
24/03/60 – quinta –
Acordei à 00:45 com um telefonema do QG. Às 03:00 preparativos. Suspensa a
ordem. Ainda dormi das 05:00 até 06:45. Ordem Unida. Dia bonito!
25/03/60 – sexta –
Visita do General Comandante da 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Infantaria,
Gen Div Benjamin Rodrigues Galhardo. Guarda de Honra. À tarde instrução de
Lança-Rojão para o Curso de Formação de Cabos (CFC). Dia de sol. À noite
telefonei para a R..
26/03/60 – sábado –
Dia bonito. Treinamento Físico. À tarde o Soldado Caçador limpou a Lambretta. O
cabo de troca de marchas está quebrado. Calor. A R. e o Luiz Armando foram ao
cinema. Conversei com a Dª Lycia. Ia à piscina, mas resolvi não ir para
aproveitar o tempo para consertar a Lambretta. Ia escrever uma carta para casa,
mas não consegui me concentrar. Estou sempre a pensar no dia 8 de abril que se
aproxima! Fomos à Catedral. Voltei ao quartel usando só a 3ª marcha na
Lambretta.
27/03/60 – domingo –
Acordei às 07:45. Café. Bandolim. Fui visitar a R.. Almoço. O Dr Armando e o
Luiz Armando foram passear em Oro Fino. A R. me deu um remédio para resfriado.
Que noivinha boa! Voltei para o quartel.
28/03/60 – segunda –
Treinamento Físico. Escriturei o Livro Carga da Seção de Reparação e
Suprimento. Telefonei para a R.. Dormi à 00:20.
29/03/60 – terça –
Tiro para os Oficiais no 5º Regimento de Obuses 105. Treinamento Físico. Livro
Carga. Novo comandante. Fui ao DAM/5 para resolver o caso de sabres. O Soldado
Caçador lavou a Lambretta. Telefonei para a R.. Ela foi a Ouro Fino. Livro
Carga. Carta para a mamãe.
30/03/60 – quarta –
Treinamento Físico. Corrida. À tarde levei a Lambretta para conserto. Piscina.
R.. Catedral. Comunhão. Jantar. Rádio Philco. Carta para a mamãe no correio.
Sempre amando intensamente a R..
31/03/60 – quinta –
Marcha. Acampamento. Treinamento Físico. Granadas. Metralhadora Madsen. Rádio.
ABRIL – 1960
01/04/60 – sexta –
Acampamento. Instrução. Marcha noturna de 16km. Chuva. Permaneci no
acampamento.
02/04/60 – sábado –
Quartel. Administração. Lambretta. Telefonei para a R. dizendo que não iria à
casa dela. Dormi. Fiz a manutenção da Lambretta com o soldado Caçador. Encerei
o quarto e engraxei os sapatos.
03/04/60 – domingo –
Acordei às 07:45. Café. Bandolim. Banho. O vento derrubou a Lambretta. Fui à
casa da R. e fomos à missa na igreja da Ordem. Comungamos. Almoço. Jornais.
Kruschev na França. Orós. Inundações. Brasília. Fomos à piscina no Círculo
Militar. Tirei retratos com a Iashicamat. Chuva. Beatriz e Pedro. Tarde
dançante. Regresso. Igreja da ordem. Casa da R.. Jantar. Sala de estar. Sono.
Discos. Chuva. Deixei a Lambretta e voltei de ônibus. Chuva forte. Fui dormir
às 24:00.
04/04/60 – segunda –
Acordei às 06:30. Parte administrativa.Instrução. Dia chuvoso. Canções.
Pensando como emplacar a Lambretta. Encomendei a um despachante.
05/04/60 – terça –
Ginástica Básica a 12 repetições. Futebol até as 18:15. Basquetebol à noite
entre Círculo e o Curitibano. Empate. Cesta do Miro. Dúvida. Voltei de
Lambretta que está ótima.
06/04/60 – quarta –
Treinamento físico. À tarde fui à cidade. Missa. Confissão. À noite conversei
com o Dr. Armando Tramujas. PEDI CONSENTIMENTO PARA FICAR NOIVO DA R.. ELE
CONSENTIU, GRAÇAS A DEUS! Com um beijo transmiti a notícia à R..
07/04/60 – quinta –
Sete meses de namoro. Hoje a Dª Lycia completa 41 anos. Dei-lhe uma chícara do
Congresso. À noite resolvi visitá-la.
08/04/60 – sexta –
Aniversário da R.. 18 anos. No quartel acontecem os preparativos para a visita
do Comandante do III Exército, General Osvino Ferreira Alves. Novo terno no
alfaiate (Cr$8.000,00). Fui à casa da R.. Fomos à Catedral. Confessei-me e
comungamos juntos. Depois fomos na Sacristia com o Padre Augusto. Altar do
Santíssimo. Alianças. Benção. NOIVOS! Graças a Deus, à Maria Santíssima, a São
José, à Sta Terezinha, a Sta Maria Goretti, a Sta Rita de Cássia, à Nossa Sra
de Lourdes e à Beata Bernadette Soubirous. Na casa da R. jantar e preparativos
de doces para o sábado. Despedida.
09/04/60 – sábado –
Visita do Cmt do III Exército. Boa impressão. Ordem de Marcha. Futebol.
Goleiro. Telefonei para a R.. Nesta semana recebi uma carta do Sérgio Tavares
com respostas a umas perguntas minhas. Resolvi entrar para o 1º ano se Deus
quiser. A mamãe enviou um presente para a R., que foi uma pulseira de ouro. Às
18:30 estive no CMP onde houve um coquetel em homenagem ao Cmt do III Ex.
Muitos oficiais: Braz, Hélio, Cel Edson, Rudge e o Major Waldemar da Preparatória
de São Paulo. Voltei à casa da R. onde recoloquei o traje civil. Doces.
Conversas com os parentes. Graças a Deus o nosso noivado foi muito feliz. Estou
deveras amando a minha noiva e agradeço a deus ter vencido todos os pensamentos
negativos.
10/04/60 – Domingo de
Ramos – Acordei às 07:45. Bandolim. Casa da R. de Lambretta. Missa das 11:00.
Comunguei. À saída vi a Lidja com o Barnabé. Almoço na casa da R.. Fotografias após o almoço. Escrevi duas
cartas, uma para a mamãe e outra para o Sérgio Tavares. Levamos doces para o
Padre Augusto. Conversa na sala. Planejamento de uma ida a Guaratuba. Frio.
Voltei bem agasalhado de Lambretta.
11/04/60 – segunda –
Marcha de 24km. Incidente com um motorista de caminhão. Cansado. Telefonei para
a R.. Ela me disse que o Dr Armando já comprara as passagens para Guaratuba. Um
colega também me convidou a ir a Bandeirantes, mas vejo que não vai ser
possível. Iria com uma equipe da EEUP. Frio. Lua cheia.
12/04/60 – terça –
Hoje é o dia do jogo CMPxCuritibano. Administração. Treinei basquete ao
meio-dia. À noite jantei no quartel e ainda comi algo na casa da R.. Jogo.
Foram assistir: Dona Lycia, Dr. Arildo, R., Luiz Armando, Elyane, Beatriz e
Pedro. Bom jogo. Bolas difíceis do Kravitz. O CMP virou com 14 pontos na frente.
No final empate de 49x49. Na prorrogação: 53x51. Vitória do CMP, graças a Deus!
Na casa da R. leite e bolo.
13/04/60 – quarta –
Administração. Treinamento Físico. Testes. Futebol. Cidade. Compras com a R.
(Cr$1.020,00 pelo emplacamento). Jantar. Quartel.
14/04/60 –
Quinta-feira Santa – Acordei às 02:40, 03:00, 04:00 e fui acordado às 05:00.
Mala. Lambretta. Garoa. Casa da R.. Café. Rodoviária. No ônibus ao lado da R..
Conversamos. Dormi. Quatro horas de viagem. Finalmente Guaratuba. Dia bonito.
Jardim. Almoço no hotel. Capinando. Casa da Dª Lycia de madeira, cor verde com
janelas cor de abóbora. Grande hospitalidade. A R. sempre ao meu lado. Estou
muito feliz. Praia. Fotografias. Vi o Bizerril. Muito bom o banho de mar.
Capinei. Banheiro improvisado. Jantar. Conversa. Noite estrelada. Jogo de
futebol: FluminensexSantos. Ouvi pelo rádio Philco. O Flu ganhou de 4x2 de
virada.
15/04/60 –
Sexta-feira Santa. Acordei às 07:20. Fui
acordar a R. batendo na janela do quarto dela como combinara. Resultado: janela
errada! Acordei o Dr Armando! Dia bonito! O sol já estava no alto. Banho de
sol. Li a Imitação de Cristo e o livro do Ignace Lepp. Exercícios. Compras.
Sempre com a R. ao meu lado. Banho de mar. Almoço reforçado por causa do jejum.
Dormi. A R. ajudando a Dª Lycia na cozinha. Passeio pela praia. Caieiras.
Colônia de Férias do Prosdócimo. Fotografias. Visita ao Dr. Lineu. Na rede com
a R.. Dormi.
16/04/60 – Sábado
Santo – Acordei às 07:20. Acordei a R. pela janela. Capinei. Escriturei o Livro
Carga do quartel. Praia. Fotografias. Bonito dia. Bom banho de mar com a R..
Rede. Fomos buscar água potável na Gruta da Santa. Estou amando muito a minha
noivinha.
17/04/60 – Domingo de
Páscoa – Acordei às 06:10. Acordei a R.. Missa. Fomos passear no morro do
Cristo. Fotografias. Tiramos uma nos beijando. Despedida do banho de mar.
Almoço no Hotel Curitiba. Passeio no Iate Clube (em reformas). Regresso de
ônibus. O Fluminense sagrou-se campeão do Torneio Rio-São Paulo (Roberto Gomes
Pedrosa), vencendo o Palmeiras por 1x0, gol de Valdo. Com vontade de logo me
casar com a R.. Ela me deu de presente de Páscoa uma caixa azul em forma de
coração com ovinhos de chocolate. Ah, que noivinha! Despedidas. Voltei de
ônibus para o quartel, indo dormir às 24:30.
18/04/60 – segunda –
Administração. Saudades da praia. Telefonei para a R.. Livro carga.
19/04/60 – terça –
Livro carga. Não ia ao jogo CMPxCuritibano, mas às 22:00 o Maj Paranhos me telefonou e eu fui. Perdemos por
74x55.
20/04/60 – quarta –
Livro carga. Não consegui aprontá-lo. À tarde fui à casa da R.. Colocamos as
fotografias no álbum. Todas saíram bem.
21/04/60 – quinta –
INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA – Feriado. Acordei às 09:00. Treinei basquete. Almoço
na casa da R.. Dormi. Livro carga. Catedral. Jogo CMPxCuritibano, 50x54. Perdemos
o Campeonato de Basquete de 1959. Bom jogo. Acho que joguei bem mas faltou
conjunto à equipe. Fomos os vice-campeões da cidade. A Dª Lycia, o Dr. Arildo e
a R. assistiram ao jogo. Voltei para o quartel pensando em não fazer a Escola
Técnica do Exército.
22/04/60 – sexta –
Livro Carga da Oficina de Manutenção. À tarde, instrução. Hoje é o aniversário
do meu sobrinho Ronaldinho. Basquete com os oficiais. Fui à cidade com a R..
Dormi na instrução para noivos na Igreja do Coração de Maria. A R. não gostou,
mas o sono foi muito forte e o orador bem monótono. Falou sobre o exame
pré-nupcial. Voltei de Lambretta para o quartel.
23/04/60 – sábado –
Passagem do Comando da 5ª Cia Com para o Sr. Capitão Felix Gomes do Rego Filho.
Apresentação da Bandeira aos recrutas. Fui da Guarda à Bandeira. Fotos. Corrida
de 1.500m para os soldados. À tarde o Soldado Caçador lavou a Lambretta. Fui
para a casa da R.. Trabalhos no quartel. Catedral. Confissão. Jantar. Bem
agasalhado pela minha querida noiva ao voltar de Lambretta. Gorro do Dr Armando
e manta devidamente presa com alfinetes, óculos e luvas. Também bombons para
dar caloria. Nestas demonstrações vejo transparecer o seu grande amor por mim.
Espero corresponder 100%.
24/04/60 – Domingo
“in albis”- Acordei às 07:40. Toquei um pouco de bandolim. Casa da R.. Missa
das 11:30. Tainha no almoço. Recordações do passado. Lágrimas. Desabafos. Fui
me confessar com o Padre Raymundo. Jantar. Frio. Bombons. Despedidas.
Procurando acertar como um bom noivo. Quartel às 23:00. Empate Peñarol 2x2
Ferroviário.
25/04/60 – segunda –
Preparei uma instrução anticomunista. Sobreaviso. Greve de ônibus. Viaturas.
Armas. Telefonei para a R.. Conferi o material carga da Seção de Reparação e
Suprimentos com o Sgt Weber e Sgt Botelho. Noite estrelada. Hoje recebi os
vencimentos: R$15.600,00. Recebi um telefonema do Ó de Almeida. Tudo bem.
Pediu-me as lições sobre rádio da National School que me emprestara, pois agora
é instrutor da matéria na Cia de Comunicações Blindada, no Rio.
26/04/60 – terça –
Greve de ônibus em Curitiba. Colocamos 10 viaturas fazendo a linha
Centro-Portão.
27/04/60 – quarta -
Ainda a greve. Tenho levantado cedo.
28/04/60 – quinta –
Ainda a greve. Estamos de sobreaviso.
29/04/60 – sexta –
Ainda a greve. Tenho levantado cedo.
30/04/60 – sábado –
Vou pagar Cr$14.000,00 de Imposto de Renda. A greve continua. Não fui falar com
a R.. Saudades.
MAIO – 1960
01/05/60 – domingo –
Ainda a greve dos ônibus. Fui à missa com a R.. Tínhamos passado uma semana sem
nos ver. Após o almoço fomos à casa dos avós dela. Pelo telefone controlei as
viaturas chamando o Cabo Jorge para dar as ordens. Graças a Deus tudo correu
bem. Voltei para o quartel de Lambretta.
02/05/60 – segunda –
Continua a greve dos ônibus e as nossas viaturas a rodar.
03/05/60 – terça –
Terminou a greve. Recolhi as viaturas do quartel. Usando japona de ido ao frio.
Telefonei para a R..
04/05/60 – quarta – À
tarde após acertar os cadeados das garagens e verificar a limpeza das armas fui
à cidade. Com a R. e o Luiz Armando fomos à recepção das imagens de Nossa Sra.
do Rocio e Aparecida. Dom Jaime nomeado o Legado. Falou o Sr. Moisés Lupion,
governador e o Cardeal. Bonito o espetáculo proporcionado pelos fogos.
05/05/60 – quinta –
Dispensa no quartel. Inauguração do Congresso. Missa pontifical. Falou D.
Siqueira, Arcebispo Auxiliar de São Paulo. Dia bonito. Almoço na casa da R..
Corrigi provas. Apanhei dinheiro na Caixa. Enviei à noite os Cr$4.000,00 para
pagar o apartamento no Rio. Paguei a Cibrasil.Comprei Cr$1.080,00 em material
desportivo. Tive vontade de comprar um toca-discos por Cr$1.400,00. Jantei no
quartel. Preparei as fichas de treinamento na casa da R.. Voltei de Lambretta.
06/05/60 – sexta –
Cuidando das viaturas e das fichas do Departamento de Educação Física.
Treinamento Físico. Bonito dia. Futebol. Tenho jogado de goleiro. Vencemos de
8x6. Chegou um novo 1º Tenente Veterinário, chamado Monte Lima. Saltei 1,40m no
salto em altura. Telefonei para a R.. Jantei no quartel e cuidei das fichas.
Frio.
07/05/60 – sábado –
8º mês de namoro. Viaturas. Inspeção. Telefonei para a R.. Ouvi a reportagem
sobre o VII Congresso Eucarístico Nacional.
08/05/60 – domingo –
Dia das Mães – Fui de Lambretta até a casa da R.. Ontem às 21:45 fui com os
soldados em três viaturas à Páscoa dos Militarees. Tudo bem. Confessei-me.
Dormi às 01:50. Missa pontifical celebrada por Dom Jaime. Almoço. Dormi.
Procissão. Vi um padre colega do meu irmão José Maria. Vi o Padre Ewerton.
Muita gente. Fui à missa com a R.. Eu a estou amando sinceramente. Que Deus
conserve sempre puro e santo o nosso amor.Voltei de Lambretta às 22:20.
09/05/60 – segunda –
Inspeção à vista. Fichas. Baterias. Fui dormir à 01:00. Telefonei para a R..
10/05/60 – terça – Instrução
de armamento. Futebol. Inspeção do Serviço de Saúde. Lua cheia. A R. telefonou.
Ela ia ao cinema. Pediu que às 22:00 eu olhasse para alua cheia e me lembrasse
dela. Ainda não consegui tempo para estudar para o concurso ao Instituto
Militar de Engenharia-IME.
11/05/60 – quarta – O
dia foi dedicado à inspeção de moto que se aproxima. Conversei com a R. pelo
telefone.
12/05/60 – quinta –
Véspera da inspeção. Frio.
13/05/60 – sexta –
Últimos preparativos para a inspeção. Chegou a hora e ainda não estava tudo
pronto. Graças a deus o Major que fez a inspeção não foi muito exigente.
Respirei fundo aliviado quando a inspeção terminou. À noite corrigi provas.
14/05/60 – sábado –
Viaturas. Teste oral para os soldados. À tarde fui para a casa da R. de Lambreta
lavada pelo soldado Caçador. Tudo bem. Frio. Fomos à missa. Comunhão. Jantar. À
hora da saída ela me agasalhou e deu remédio, sempre solícita.
15/05/60 – domingo –
Acordei às 07:45. Café. Casa da R.. Chuva miúda. Missa dos Universitários na
igreja do Rosário. Sermão: noção de pecado e importância da salvação da alma.
Acreditar em Deus e no demônio que também sabe as Sagradas Escrituras. Pátria.
Própria alma. Participação do noivado para os colegas. Almoço. Vinho seco.
Participações. Carta para a Maria José. Diário. Dia chuvoso.
20/05/60 – sexta –
Inspeção de Comunicações.
21/05/60 – sábado – À
tarde arrumei o quarto. Missa na catedral com a R..
22/05/60 – domingo –
Missa na igreja da Ordem. Comunhão. Almoço na casa da R.. Estava corrigindo
provas quando a Élia chegou e nos levou de Volks até a casa dos avós. Lanche.
Conversa com o avô Claro sobre religião. Voltamos de ônibus. Resfriado. A minha
querida noivinha tem tratado do meu resfriado. Sou-lhe imensamente grato. Tenho
voltado de Lambretta. Muito frio.
24/05/60 – terça –
Dia da Batalha do Tuiuti. Pela manhã o Tenente Monte Lima leu o Boletim
alusivo. Canto do Hino Nacional sob a minha regência. Hasteamento da Bandeira.
Desfile. Competições desportivas. Futebol 3x1. Futebol de Salão 9x4 e 4x2 entre
os soldados, sargentos e oficiais da 5ª Cia Com com o 5º Esquadrão de
Reconhecimento Mecanizado. À tarde fiquei
conversando com o Tenente Luiz Cavalcanti e o Tenente Duarte, apreciando
a vida na 5ª Cia Com. Fui atrasado para a casa da R., tendo terminado a
documentação para ser rádio-amador. Apesar do frio tendo usado a Lambretta como
meio de transporte. Ela está funcionando bem.
25/05/60 – quarta –
Instrução. Treinamento Físico. Segunda seleção para a corrida do Facho. À tarde
passei na casa da R. tendo almoçado lá. O Repórter Esso anunciou que os Estados
Unidos tinham lançado um satélite, Midas II que não respeitava fronteiras. Fui
ao cinema com a R.. Ela fez questão de pagar. Filme Saeta com o Joselito. Filme
que desperta os bons sentimentos da alma. Fomos ao consultório do Tio Néri que
é dentista. Ele me disse que poderia ficar muito tempo sem ir ao dentista.
Comprei um despertador Westclox por Cr$700,00 para repor na carga da Seção
Rádio. Jantar. Deitei um pouco bem agasalhado, tendo dormido das 20:00 às
21:00. Voltei de Lambretta, após a R. ter-me dado um pouco de conhaque para
esquentar. No quartel soube que amanhã não haveria expediente.
26/05/60 – quinta –
Ascensão do Senhor- Fui acordado às 07:00. Café. O Tenente Otto querendo
guardar o carro. Ele foi transferido para o Rio de Janeiro. Barulho esquisito
na Lambretta. Fui à casa da R.. Continuo com resfriado e tosse. Iniciei na 2ª
feira o estudo para o IME. A R. recebeu uma carta da Maria José me dizendo que
o Edison tinha embarcado para a Holanda e que a mamãe ia bem de viagem. Ao
acordar hoje, li um trecho da Epístola de São Paulo que elogia as virtudes do
bom cristão. Fui à casa da R.. Estudei.
27/05/60 – sexta –
Fui ao Tiro com os soldados do Curso de Formação de Cabos. À noite telefonei
para a R..
28/05/60 – sábado – À
tarde fui à casa da R. onde almocei. Fomos assistir ao filme “Amantes em
Férias”. Bonitas paisagens de São Paulo, Rio e Lima. Fraco enredo, ambiente sem
Deus e bastante leviano. Serviu como distração.
29/05/60 – domingo –
Fomos à missa das 11:00. Cheguei em cima da hora. Bom o sermão: mocidade
marcada nem que seja pelo diabo. Evitar a mediocridade. Almoço. Estudo. A R.
está com tosse.
30/05/60 – segunda –
Dia normal. Parte de Tiro.
31/05/60 – terça –
Treinamento Físico. Termos. Ontem e hoje telefonei para a R.. Continua com
tosse. O tempo esfriou. Tenho estudado bem até 23:00. Espero passar no concurso
se Deus quiser. Tenho rezado também o terço às 20:35. Hoje iniciei o
requerimento para o concurso.
JUNHO – 1960
01/06/60 – quarta –
Fui à casa da R..
02/06/60 – quinta –
Fomos a uma manobrinha. Quase faltam viaturas. Acampamento. Posto de
Suprimento. Instrução a motoristas. Frio. Discussões sobre a vida militar. Fui
dormir às 24:00.
03/06/60 – sexta –
Ainda no acampamento. Ponto de Suprimento. Material de construção. Regresso.
Desencontros. No final tudo OK. Telefonei para a R.. Fui estudar mas não
consegui devido ao cansaço. Fui dormir após o terço.
04/06/60 – sábado –
Ontem completei 24 anos de vida. Agradeço a Deus todas as graças que me
concedeu. Peço-lhe perdão por todas as ofensas. Renovo o propósito de ser o
melhor possível para com Ele. À tarde fui à casa da R. onde recebi vários
presentes: um pulôver feito por ela mesma durante um mês, uma medalha de ouro
de Santa Terezinha, uma carteira de couro do Dr Armando, uma caixa de lenços da
Dª Lycia com as minhas iniciais bordadas e um pacote de meias de lã do Luiz
Armando. Fomos à Catedral onde confessei-me e comunguei. No jantar houve vinho,
bolo e comida gostosa. Estou muito agradecido...
05/06/60 – Domingo de
Pentecostes – Acordei às 08:00. Soltou o cabo da Lambretta. O soldado Caçador
me ajudou a consertar. Não pude ir à missa pela manhã. À tarde fui à casa dos
avós da R.. Voltamos de ônibus. Missa e comunhão. Padre Augusto. Presente. Casa
da R.. Jantar. Despedidas.
06/06/60 – segunda –
Dia normal. Providências administrativas. Instrução. Telefonei para a R..
Gostando cada vez mais dela.
07/06/60 – terça –
Administração. Fui ao SRAM e ao Sv Com . Às 17:30 no quartel. Recebi carta do
Sérgio. Tudo bem lá pelo IME. Estudo moderado. Felicitou-nos pelo noivado.
Estudei como de costume até as 23:15.
Graças a Deus tenho estudado bem. Hoje faz 9 meses de namoro e 2 de
noivado. Que Deus nos abençoe!
08/06/60 – quarta –
Ordem unida. Treinamento físico. À tarde tivemos instrução de tiro na granja. À
noite jantei com a R.. A Dª Lycia e sua irmã Eleonora foram ao cinema. O Dr
Armando foi jogar boliche. Escrevi este diário. O tempo não está muito frio.
Chamam de veranico. Ficamos na copa.
11/06/60 – sábado –
Dia da Batalha do Riachuelo. Conferi a carga do Departamento de Educação Física
no quartel. Fui ver a R..
12/06/60 – domingo –
Dia dos Namorados – Fomos à missa mas chegamos atrasados. Comungamos. Almoço. A
R. me deu um despertador em forma de bola de tênis como presente de noivado.
Fiquei no início não querendo aceitar pois nada havia lhe trazido de presente.
13/06/60 – segunda –
Dia de Santo Antonio- Inspeção à vista no quartel.
14/06/60 – terça –
Exame de instrução básica militar.
15/06/60 – quarta –
Continuação do exame. Imprevistos. Críticas.
16/06/60 – quinta –
Corpus Christi – Ontem houve tiro na granja. Hoje não houve expediente. Fui ver
a R.. Missa das 11:00. Amar com amor que eleva as pessoas. Almoço. Discussões
sobre cinema e filmes. Só às 15:40 fomos ver o final da procissão.
Planejamentos. Confusões. Neblina forte. A Lambretta está ótima.
17/06/60 – sexta –
Recebi os documentos da Lambretta que há muito reclamara. Exame de IBM.
Preparação para as Olimpíadas Internas. Às 18:45 como em todos os dias liguei
para a R..
18/06/60 – sábado –
Ontem fui dormir às 24:00 pois fiquei a corrigir provas. Manhã muito fria.
Preparação para as olimpíadas. Exame de recrutas. Corrida de 3.000m. Treinei
salto em altura, saltando 1,45m. Lancei 9,56m em peso. À tarde fui ver a R..
Fomos à Catedral. Frio. Comungamos. Jantei. Voltei bem protegido contra o frio.
Fui dormir às 24:00.
19/06/60 – domingo –
Acordei às 08:15. Café. Barba. Banho. Ginástica. Casa da R.. O Tem Duarte ficou
no quarto. O Ten Luiz ia ao CMP jogar vôlei. Ele tem um carro Prefect. Missa
das 11:00. O Padre Dr. Gustavo fez um
ótimo sermão sobre a castidade. Diferença entre castidade e continência. Saí
bastante entusiamado com ele e com o que ele dissera. Comungamos. Relembramos
nossa vida desde 4 de junho de 1959. Almoço. Fomos a pé até a casa da avó Élia
na rua Lamenha Lins. Passamos pela ogreja da colônia polonesa. Bonita igreja.
Estava bem feliz ao passear com ela. O primo dela Sérgio passou e nos levou de
automóvel. Visitamos depois a casa da tia Emy, mãe da Elyane e da Célia. Bonita
casa, prejudicada pela poeira da rua e pela distância da cidade. Conversamos um
pouco e logo regressamos. Lemos um
livro sobre religião. O Renato, primo da R. nos trouxe de carro até a casa da
R.. Jantar. Conversamos até 22:00. Sinto que o nosso amor está conforme o que
Deus quer, e será suficiente para que a nossa vida em conjunto até morrer será
abençoada por Deus. Santa Tereza de Lisieux abençoe o nosso noivado.
21/06/60 – terça –
Levei os soldados atrasados no tiro para a granja. Graças a Deus que a chuva só
chegou quando já estava para terminar. Na volta dirigi pela primeira vez uma
viatura GMC-2 ½ ton.
22/06/60 – quarta –
Chuva intensa. O Comandante Cap Felix Gomes do Rego Filho, o Fiscal Administrativo
1º Ten Duarte e eu fomos até a 5ª Cia
Leve de Manutenção na Praça Rui Barbosa, onde fomos recebidos pelo Comandante
Cap Gouvêa. Contou casos tristes de desastres, seus problemas administrativos
como asfaltamento, falou sobre as viaturas da Cia, etc. Voltamos ao nosso quartel. Recebi os
vencimentos. Fui à cidade. Inscrevi os nossos corredores para a Corrida de São
João. Andei a pé pois fui sem a Lambretta devido ao chão molhado. Passei pela
Caixa Econômica e fui até a casa da R.. Ela estava experimentando um vestido de
lã azul claro esverdeado. Estudei um pouco de Geometria. Catedral. Comunhão. Jantar.
23/06/60 – quinta –
Dia chuvoso.
24/06/60 – sexta –
Competição de instrução. Administração. Coloquei dinheiro no banco. Cr$4.000,00
para o apartamento e depositei Cr$5.000,00.
25/06/60 – sábado –
Frio. À tarde fui cortar cabelo. Demorou muito. Almocei às 15:00. Fui deitar
cansado. Acordei às 16:30. Telefonei para a R. . Disse que ia mais tarde, aliás
pedsi para não ir. Ela não gostou muito mas concordou.
26/06/60 – domingo –
Cheguei às 09:00 na casa da R.. Ela ainda estava dormindo. Li o diário dela do
dia anterior. Muito negativo em relação a mim. Fiquei desconcertado. O que
fazer? Afinal ela apareceu e pediu desculpas pela demora. Tudo azul! Missa.
Sermão do Padre Gustavo. Almoço. Tia Lourdes. Frio. Não fomos à festa no Clube
Curitibano. Voltei de ônibus.
29/06/60 – quarta –
Aniversário do Pedro, namorado da Beatriz, prima da R.. Frio. Ontem houve a
festa de caipira. Fogo para esquentar. Quentão, batata doce, pinhão,
doces, etc. Animação. Achei
interessantes as pessoas vestidas a caipira. Regressamos às 02:00 da madrugada. O Raul me levou de
carro, um Volks, até o quartel. Dormi à tarde. Cheguei às 18:00 na casa da R..
Missa na igreja da Ordem. Padre Augusto. Sem notícias da mamãe. Jantar. A Dª
Lycia fazia bordados e a Dª Lina ouvia novelas. O Luiz Armando colocando os
discos sempre risonho enquanto eu conversava com a R. na sala. O Dr Armando trabalhava. Ele irá ao Rio, São
Paulo e Recife. Regressei de Lambretta ao quartel.
30/06/60 – quinta –
Dia normal no quartel. Pentatlon à vista. Falta de candidatos. Oficina de
Manutenção e Transporte. Não pude estudar. Planejamento. Telefonei para a R..
Recebi um telegrama dizendo que a mamãe chegara bem de viagem no dia 26. Graças
a Deus! Fui dormir às 22:45. Obrigado meu Deus por mais este mês! Sic flos vel
ventus, sic transit nostra juventus...
JULHO – 1960
Para frente, custe o
que custar!
01/07/60 – sexta –
Acordei às 06:45. Saí para tratar de muitos assuntos: cabeçote de motor,
lubrificante e jipe 6179. Tudo encaminhado, graças a Deus! Falei com o Cel
Sampaio, com Generais e outros. No quartel corri 8.000m. Telefonei para a R..
Tudo bem. Estudei. Fui dormir às 23:00.
02/07/60 – sábado –
Treinamento de tiro na granja. Saí-me bem. Futebol de sal;aão. Corri 1.500m.
Treinei salto em altura. Almocei. Telefonei para a R. e fui à casa dela. Estava
no jardim bordando ao sol. Ouvi o rádio Philco. Tudo azul. Contente com a minha
querida noivinha. Estou em boa forma física, me preparando para o Pentatlon.
Escrevi uma cartinha de 3 folhas para a mamãe. A Dª Lycia está gripada. O Dr
Armando vai viajar. Fomos à Catedral e comungamos. Jantamos com a Tia Eleonora
presente e com saudades do Tio Raul que está nos Estados Unidos.
03/07/60 – domingo –
Acordei às 07:30. Banho. Barba. Cidade. R.. A Lambretta est;a 100%. Missa na Igreja do Rosário. Padre novo.
Bonita homilia: “O mendigo que deu um grão de trigo e recebeu em troca um grão
de ouro, e pensou: Por que eu não dei tudo o que tinha?” O Dr Armando viajou.
A Dª Lycia continua de cama gripada. A
R. aplicou uma injeção nela. Bonito dia.
05/07/60 – terça –
Campeão no tiro com 156 pontos. Pentatlon.
06/07/60 – quarta –
Pentatlon. Percurso de patrulhas.
07/07/60 – quinta –
Dez meses de namoro.
08/07/60 - sexta –
Três meses de noivado. Que o nosso amor seja para toda a vida.
09/07/60 – sábado –
Corrida rústica. Faltaram sargentos. Mesmo assim a 5ª Cia Com ficou em 4º lugar
no C.P.M.. Fui à casa da R.. A Dª Lycia continua com tosse. O Dr Armando
continua viajando, devendo ter passado pelo Rio.
10/07/60 – domingo –
Fomos à missa. Hoje é o aniversário da tia Eleonora, mãe do Raul e da Élia. O
Raul nos levou e nos trouxe de Volks. Casa dos avós. Tudo bem. A R. não gostou
de ter demorado muito na casa dos avós. Frio. Chuva. Voltei de ônibus.
11/07/60 – segunda –
Quartel. Administração. Telefonei para a R.. Estudei até meia-noite para o
concurso ao I.M.E..
12/07/60 – terça –
Quartel. Administração. Telefonei para a R.. Já com saudades, pensando na
próxima viagem dela ao Rio e a São Paulo. Estudei até meia-noite. Apareceu no
quartel o Major Moreno do 5º BE Cmb, de Porto União.
13/07/60 – quarta –
Administração. O Soldado Wojcik montando a 8404. Sgt Ramos. Cb Jorge. Sd Walter
cansado. Melhorando a Oficina de Manutenção. Método. Bonito dia. Fui à casa da
R..
16/07/60 – sábado –
Tenho passeado de Lambretta com a R..
17/07/60 – domingo –
Missa com a R.. Casa dos avós. Preocupação com o não regresso do Dr Armando.
18/07/60 – segunda –
A Dª Lycia e a R. foram para São Paulo e Rio. Despedidas na Estação Rodoviária.
Lá estavam o Ruy, a Elias e o Ruy Carlos. Ônibus Mercedes Benz. Quartel.
22/07/60 – sexta –
Durante esta semana houve instrução para o CPOR. Recebi uma carta da R.. Está
em São Paulo. Saudades.
24/07/60 – domingo –
Quartel. Treino de tiro na granja. Estou bom no tiro de fuzil e ruim no tiro de
revolver. Quartel. Almoço. À tarde fui à missa e depois jantei com o Dr
Armando. Fui ao correio onde coloquei uma carta e um telegrama para a R..
Quartel.
25/07/60 – segunda-
Início de um bom treinamento da equipe para a Corrida do Facho. Tenho estudado
para o concurso ao I.M.E. O que me atrapalha são os encargos no quartel e as
competições. Tenho dormido normalmente às 24:00. Tenho rezado o terço todos os
dias. Tenho feito um jornalzinho “O Facho” para motivar os atletas do quartel.
Saudades da R.. Ela já está no Rio de Janeiro.
26/07/60 – terça –
Quartel. Tenho recebido cartas da R. que reclama não ter recebido as que
enviei.
27/07/60 – quarta –
Aulas no QG sobre Tática. Defensiva e Ofensiva. Major Ferreira. Generais e
Oficiais Superiores.
28/07/60 – quinta –
Aulas no QG. Capitão Lybio King e Oficiais do 5º BECmb de Porto União:
Aspirantes, Capitães e Tenente Isnarriaga. À tarde treinamento de tiro. Saudades da R..
29/07/60 – sexta –
Quartel. Aulas no QG à tarde. Carta da R.. Tudo bem no Rio. Já conhece quase
todos da família. Ainda não recebeu nenhuma carta minha. Enviei um telegrama e
uma carta. Gostou muito da Raymunda que diz que há um quarto esperando por mim
na Paróquia. O Luiz Carlos fala facilmente. Achou a Maria José bonita. Enfim
gostou muitíssimo de todos. Tenho estudado das 05:30 em diante números
complexos.
30/07/60 – sábado –
Aulas no QG. Piscina no Clube Ferroviário. Quartel. Jornalzinho. Muito serviço
ainda por fazer. Não dormi. Não jantei. Biblioteca. Cargas. Muitas saudades.
31/07/60 – domingo –
Acordei às 07:15. Café. Chuva continuada e forte. Escrevi uma carta para a R..
Fui à cidade de ônibus. Ia treinar a equipe do Facho mas a chuva não deixou.
Fui à casa da R.. Lá estavam o Dr Armando, o Luiz Armando, a Dª Lina e
a Virgínia. Conversei com a Dª Lina sobre o Luiz Armando. Almoço. Jogo
de futebol: Botafogo 4 x Ferroviário 1. O Garrincha jogou. Chuva. Casa dos
avós. Missa. Comunhão. “De que vale o homem ganhar o mundo se vem a perder a
sua alma?”. Jantar. Conversa. Todos bem. Sargento da 2ª DL. Quartel. Mais um
mês que termina. “A força que me impele para a frente é a decisão firmada em
minha mente!”.
AGOSTO – 1960
01/08/60 – segunda –
Acordei às 05:45. Inglês. David Swan. Banho. Chuva. Tiro com a equipe de cabos
e soldados (Kozak, Lilito e Tanck). Sem querer um atirou no alvo do outro, mas
mesmo assim ficamos em 3º lugar. Quartel. Um sargento com aparência de ter
bebido um pouco mais. Um soldado motorista ficou preso por 15 dias. Treinei
natação. Hoje recebi uma carta da noivinha. Visitou a ilha de Paquetá e gostou
muito. Hoje deverá estar voltando para São Paulo. Eu já estou com muitas
saudades e não vejo a hora de estar de novo ao seu lado. “Love is a many
splendored thing!”. Quartel. O cabo Jorge e a carroça. Jornalzinho “O Facho”.
Entusiasmo. Biblioteca. O Ten Duarte a ler outro livro. Tempo chuvoso. Estudei
só até as 22:00 porque amanhã haverá competição de tiro.
02/08/60 – terça –
Acordei às 05:20. Competição de Tiro. Revolver. Fiquei mais ou menos em 12º
lugar com 205 pontos. Chuva. À tarde assuntos administrativos. À noite estudei
até 22:00. Saudades da R..
03/08/60 – quarta –
Tiro com os sargentos Boçon, Venson e Noronha. Treinamento de tiro com pistola
contra silhueta móvel. Quartel. Cidade onde comprei livros para estudar. Tratei
da Lambretta. Fui à casa da R. onde conversei com a Dona Lina que me ofereceu
um copo de leite com arroz doce. Tudo me lembrando a R.. Estou com medo de não
passar no concurso. Tenho que estudar muito. Hoje passei dois telegramas, um
para o Sérgio e outro para a R.. Quartel. A Lambretta está boa. Biblioteca.
Folheei os livros que comprei. Há muita coisa que eu não sei. Vontade de
estudar muito para passar. Fui dormir às 21:30.
04/08/60 – quinta –
Tiro para os Oficiais. Pistola. Rapidez
em silhueta. Saí-me mal. Estudei inglês. À tarde natação. Nadei 100m peito
ficando em 2º lugar. Fui dormir cedo por causa do Tiro.
05/08/60 – sexta –
Tiro. Fuzil a 200m. Saí-me bem em precisão com 87 pontos, mas decaí
inexplicavelmente em rapidez, 56 pontos. Total de 143 pontos. Esqueci a pasta e
um livro lá no estande. À tarde, piscina. Nadei 100m borboleta ficando em 2º
lugar e nadei também peito no revezamento 4x100. A nossa equipe venceu.
06/08/60 – sábado –
Quartel. À tarde fui à cidade com o
Sargento Jair. Reconhecemos um local para a corrida. Faltou gasolina. Colegas
me convidando para ir a um jogo basquete para jogar pela EEUP no Torneio
Início. À noite chegou a minha querida noiva. Não fui esperá-la na estação
rodoviária pois o ônibus chegou cedo. Fui à cidade. Jantei com ela em casa.
Fiquei muito contenet em revê-la e conversamos bastante.
07/08/60 – domingo –
De manhã fui à cidade onde treinei a equipe do Facho. Quartel. Cidade. Casa da
R.. Almoço. Mostrou-me o que trouxera do Rio e de São Paulo, inclusive
presentes para mim. Depois fomos à casa dos avós dela. Missa das 20:00 na
igreja do Rosário. Comungamos. Pedi a Jesus para abençoar o nosso noivado.
Ainda muita conversa sobre Rio e São Paulo.
08/08/60 – segunda –
Ordem Unida. Facho. Motor 8404. Telefonei para a R..
09/08/60 – terça –
Ordem Unida. Facho. Criptógrafo. Carga.
10/08/60 – quarta -
Ordem Unida. Facho. Futebol até 13:00.Descobri um local para fazer os móveis do
casamento. Cidade. Sapato. Terno. Uniforme verde oliva. Cabo Jorge e Wilma
Terezinha. Casa da R.. Estudei inglês. Ela limpou a graxa da minha calça devida
à Lambretta. Fomos à Catedral. Jantar. Inglês. Voltei ao quartel às 22:35.
Tenho rezado o terço todos os dias pedindo para passar no concurso. Hoje a
lambretta me foi muito útil. Sinto pena ao pensar que poderei vendê-la.
11/08/60 – quinta –
Ordem Unida. Garagem. Facho. Estou com grande esperança que a nossa equipe saia
bem no Facho. Oficina de manutenção, acertando o material carga. Por causa do
carro de um sargento fiquei sem estudar depois das 17:00. Jantar com o Duarte.
Conversa sobre o Facho. Telefonei para a R.. Tudo bem graças a Deus! Estudei.
12/08/60 – sexta –
Acordei às 06:00. Estudei um pouco. Quartel. Conferência da carga. Treinamento
para a equipe do Facho. À noite estudei Álgebra. O sono lá pelas 21:00 não me
deixou estudar. Fui dormir às 22:00. Estou confiante em passar. Telefonei para
a R.. Tudo bem.
13/08/60 – sábado –
Exame de motoristas. Conferência das ferramentas. Facho. Fui com o Luiz ver os
móveis. Depois telefonei para a R. dizendo para vir. Vieram. Viram. Voltaram.
Fui de Lambretta. Aniversário da Lúcia, prima da R.. Fotografias. Doces.
Lambretta. Rua do Rosário. Estudei. Sono. Baile no Concórdia. Dançamos
bastante. Lá o pessoal mais idoso é mais animado pois dançam bastante e durante
os shots dão gritos animados.
14/08/60 – domingo –
Aniversário do Dr Armando (48 anos). Dia dos Pais. E o baile continuou. Todos
dançando. A R. e eu um pouco cansados. Regressamos a 01:30. Fui para o quartel. Dormi até 07:30.
Fui de Lambretta à cidade. Treinamento para a corrida do Facho. Apareceram o
soldado Moletta e o Ten Medeiros que me auxiliaram. É pena que tenham faltado
alguns corredores. Fizeram as 4 voltas do dia. Tenho esperança de que saiamos
bem no próximo dia 25. Chuva. Voltei de Lambretta derrapando no paralelepípedo
molhado. Tomei banho e fui de ônibus para a casa da R.. Almoço. Fui dormir
depois no quarto dela até 15:30. Deu para descansar bem. Agradeço a Deus me ter
dado uma noiva tão boa.
25/08/60 – quinta –
Primeiro aniversário de conhecimento da minha noiva. Graças a Deus! Compromisso
dos recrutas no 20º RI. Guarda-bandeira. Corrida do Facho. Não almocei. O
desfile do 2º Batalhão Ferroviário de Rio Negro foi muito bom. 2º lugar no
desfile. O Comandante da 5ª Cia Com proibiu que saudássemos a assistência ao
desfilar. Ficamos em 6º lugar, graças a Deus! Conversei pouco com a R.. Será
que eu fui promovido? Nestes 11 dias que passaram, correu tudo bem. Tenho
estudado pouco devido ao Facho.
26/08/60 – sexta –
Acordei às 07:15. Expediente. Fotografias com a equipe do Facho. Viaturas para
o desfile de Sete de Setembro. Consertei o criptógrafo. Tempo chuvoso. Hoje
recebi Cr$41.000,00. Agradeço a deus esse dinheiro que me servirá para o
casamento. Eu sempre me lembro: “Bem-aventurados os pobres de espírito!”. Saiu
o último número do jornalzinho “O Facho”.
Não pude estudar. Telefonei para a R.. O Exército autorizou o meu
casamento.
27/08/60 – sábado –
Não houve expediente no quartel. Fui à cidade onde com a R. retirei
Cr$41.900,00 da Caixa Econômica e depositei Cr$38.000,00 no Banco Nacional de
Minas Gerais. Fui ver os móveis e a geladeira no Prosdócimo e na Ultralar. Nada
resolvido. Dia chuvoso. Conversamos. Catedral. Confessei-me e comunguei.
Jantar.
28/08/60 – domingo –
Cidade. Missa das 11:00. Estudei. Almoço. Ainda não sei se fui promovido. Enquanto
a R. bordava eu estudava. Consegui resolver meia questão em um dia e meio.
Vibração. Tarde dançante. Tourinho com a Vânia e o Camargo com a Terezinha.
Fomos e voltamos a pé. Exercício. Jantar. Conversamos sobre os novíssimos do
homem. Neste mundo é tudo vaidade exceto amar a Deus e ao próximo como a nós
mesmos. Querendo manter bem o nosso noivado. Regressei ao quartel e fui dormir
à meia-noite.
29/08/60 – segunda –
Soube que fui promovido a 1º Tenente. Graças a Deus! Peço que me ajude a ser um
ótimo oficial. Agradeço ter vivido até o presente e a noiva de coração tão
carinhoso. Agradeço também a religião que os meus pais me ensinaram. Peço obter
o máximo com os talentos que recebi. Viaturas para o desfile de Sete de
Setembro. Comprei uma geladeira por Cr$52.000,00. Telefonei para a R..
30/08/60 – terça – Já
pensando no desfile do Dia da Pátria. Problemas com tinta para pintar as
viaturas. Tenho jogado basquete pela equipe da Escola de Engenharia da
Universidade do Paraná. Graças a Deus temos vencido.
31/08/60 – quarta –
Mais um mês que termina. Agradeço a Deus ter vivido até o presente e amar uma
noiva tão boa e carinhosa.
SETEMBRO – 1960
01/09/60 – quinta –
Não houve competições de atletismo. Tempo chuvoso. Pintura das viaturas.
02/09/60 – sexta –
Preparativos para o desfile de 7 de setembro. Diariamente tenho telefonado para
a R.. Churrasco. Basquete.
03/09/60 – sábado –
Continuo junto às viaturas. À tarde fui à cidade. R.. Desfile. Frio. Catedral.
Comunhão. Chateado por não ter ido ao jogo.
04/09/60 – domingo –
Cidade. Missa com a R.. Almoço. Churrasco na Churrascaria Edy no bairro da Vila
Isabel. Casa dos avós. Sol. Noivando. Regresso no carro do Dr Raul. Jantar.
Conversamos bastante. Frio.
05/09/60 – segunda -
Calor. Apresentação no Quartel General ao Comandante da Região dos Oficiais
recém-promovidos. O Dorneles e eu fomos de Lambretta. R. e Luiz Armando. Voleibol e basquetebol
contra a Medicina. Perdemos os dois. No basquete o jogo estava empatado e eu
perdi dois lances livres! Regresso à meia-noite. Fui dormir mais ou menos à
01:00. Calor.
06/09/60 – terça –
Viaturas. Treinamento. Calor forte. Livro do Tenente Casatle. Viaturas prontas.
Estudei.
07/09/60 – quarta –
Desfile do 7 de Setembro. Graças a Deus tudo saiu bem. As viaturas estavam bem
bonitas. A R. estava com o Luiz Armando assistindo na Praça Osório. Ela pensou
que eu não a tinha visto. Disse-me que um indivíduo quis se aproveitar dela.
Que Nossa Senhora a proteja. À tarde fui à casa dela. À noite fomos ao Baile da
Independência. Um major não deixou que ela entrasse mesmo eu dizendo que os
pais dela vinham depois com o convite. Fiquei bastante contrariado com tal
atitude e me lembrei bastante disso durante o baile. Baile muito selecionado.
General Galhardo e Governador Moysés
Lupion. Doces em cada mesa. Dancei o tempo todo com a R..
08/09/60 – quinta –
Descanso da tropa. Dormi na casa da R.. Estou gostando muito dela. Sinto
saudades só em pensar que no dia 17 irei para o Rio de Janeiro. Que esta
separação sirva como sacrifício em reparação das falhas em nosso noivado e que
Deus me conceda a graça de passar no concurso.
15/09/60 – quinta –
Jantar dos aspirantes. Vinho. Casa da R.. Dormi lá.
16/09/60 – sexta –
Prontidão. Dia do Protesto. Saudades.
17/09/60 – sábado –
Passei a noite anterior toda em claro devido à Prontidão. Estou na incerteza se
poderei ou não ir para o Rio, mas tenho pensamento positivo e confiança em
Deus. Saudades.
18/09/60 – domingo –
A prontidão continua. Os colegas mexem comigo: “E o pensamento positivo?”. Continuo
arrumando as coisas. Mala e caixote. Afinal veio o telefonema do QG, Major
Ferreira. O Major Félix pergunta sobre o meu caso. Chefe do Estado Maior.
Afinal após dizer que eu não poderia ir, brincando, o Cmt me disse que era
brincadeira e que eu podia ir. Graças a deus! Fiz as últimas arrumações. O
Duarte chamou o táxi. Casa da R.. O motorista já me conhecia. Achei a R. com o
rosto um pouco triste. Também pudera, com a prontidão não nos pudemos ver
nesses dias. Seja feita a vontade de Deus e eu assim pude deixar as coisas no
quartel mais em ordem. A saudade aumentava só em pensar que depois de algumas
horas eu iria partir. Fui à missa na igreja da Ordem. Padre Augusto. Missa pelo
papai. Despedidas. Jantei. Fui ao QG. Apresentei-me. O jogo de futebol entre
Coritiba e Grêmio terminou 1x1. O Dr Armando comentou que o juiz prejudicou o
Coritiba que vencia por 1x0. Finalmente chegou a hora. Táxi. Estação
Rodoviária. Ônibus. Despedidas meio apressadas. Partida. Lá estavam o Dr
Armando, a R. e o Luiz Armando. A Dona Lycia não pôde vir devido a uma gripe. A
Dona Eulina também não pôde vir. Deixei Curitiba à noite com soldados na rua.
Estrada ruim. Bom motorista. Só 6 passageiros. Dormia. Acordava. Dormia.
Cidades antigas. Sorocaba. Comi o que a minha noivinha havia preparado: pães de
minuta, sanduíches e biscoitos.
19/09/60 – segunda –
Chegada em São Paulo de manhã após as 09:00. Trocamos de ônibus. Rua da
Consolação muito cheia. Demoramos muito para atravessá-la. Finalmente entramos
na Rodovia Presidente Dutra. Saudades da R.. Que estará fazendo? Jacareí.
Conversei com dois empregados de Transportes Confiança e já tratei sobre a
mudança de meus móveis. Resende. Novas fábricas. Academia Militar. Restaurante.
Dormia. Acordava. Finalmente chegamos ao Rio. Fila de táxis. Demora. Afinal
tomei um. O motorista tem 61 anos. Conversamos. Rua Desembargador Izidro. Tudo
bem em casa, graças a Deus! Mamãe, Maria José e filhos. O Luiz tinha ido me
esperar na rodoviária. Distribuí os presentes. Todos ficaram satisfeitos. Tratamos
de vários assuntos: Marica e apartamento. Onde estudar: sítio, Marica ou
apartamento. Resolvi experimentar a paróquia. Dormi às 21:15. Antes assisti um
pouco de televisão com a Patrícia.
20/09/60 – terça –
Acordei às 06:30. Coloquei em dia o diário. Saudades da R.. A mamãe foi à
missa. Escrevi a primeira carta para a R.. Fiz o planejamento total para o
estudo: horário e matérias. Fiz uma arrumação no quarto. Resolvi estudar lá em
casa mesmo. O Luiz apareceu. Conversa sobre onde estudar. Almoço. Fui com ele
até a cidade. Apresentei-me no DPA. Percorri o QG. Casa Passarelo. Comprei um
gorro com pala novo e uma gravata. Fui a pé até a avenida Rio Branco fazer um
pagamento para a mamãe. Depois fui até o IME na Praia Vermelha. Conversei com o
Paes de Lima, com um funcionário civil Amaro e com oficiais. Terei que voltar
amanhã.. Dei uma olhada nos apartamentos. Conversei com o Capitão Darcy. Voltei
para casa. Comprei alguma coisa na A Futurista. Em casa abri um coco para a
mamãe. Jantar. Diário. Chegaram o Oscar e a Risoleta. Conversamos. Gostaram
muito dos presentes. O Oscar falando sobre as propriedades. Fui escrever uma
carta para a R.. Eram 20:45. Estudei até meia-noite. Rezei e dormi a 01:00.
21/09/60 – quarta –
Acordei às 06:30. Missa. Cumprimentei os padres: Serafim, Boaventura e Basílio.
Passei pelo correio onde coloquei uma carta. Resolvi um problema. Cidade. IME.
Capitão Gomes. Tudo OK. Revi os colegas e antigos instrutores: Sérgio Tavares,
Swami Platt, Serafim, Roehl, Tibério, Guedes e Thales. Conversamos bastante.
Passei pelo Edifício Praia Vermelha onde perguntei pelos tipos de apartamentos
existentes. Regressei para casa. Calor. Almoço. Mamãe a distribuir suas
fotografias. Estudei até 16:30. Dia’rio. Terceira carta. Banho. Educação
Física. Jantar. O Platt me ofereceu o apartamento dele e eu agradeci. Procurei
um professor TenCel Bandeira de Mello mas não o encontrei. Estudei à noite.
Havia um pouco de barulho. Fui dormir às 21:30. Resolvi estudar de madrugada.
Saudades.
22/09/60 – quinta –
Acordei às 04:00 e estudei até 06:30. Missa. Correio. Cartas para a R., Edison
e Madre Simões. Estudei até 11:30. Dificuldade em achar um seno. Almoço às
11:30. Dormi das 12:00 às 12:30. Diário. Carta 4. Estudo. Chegou a Maria Helena
com a Rosane. Dei o presente. Ela gostou. Mais tarde chegou a Heloisa com a R.
Helena que já está uma moça. Pediu conselhos pois já está decepcionada com os
colegas. Dei o presente. Ela gostou e disse que ia usar na casa de Lambari.
Conversamos bastante sobre os fatos. Mais tarde reiniciei os estudos. Às 17:30,
depois de resolver um problema de Geometria, fiz ginástica básica. Jantar.
Terço. Estudo. Dormir. Saudades.
23/09/60 – sexta –
Acordei às 04:00. Estudei . Resolvi facilmente um problema que ontem não havia
conseguido resolver. Às 07:00 passei pelo Correio. Missa. Ajudei o Padre Bruno
Trombetta meu conhecido do Seminário.
Comunguei. Café. Visitei os apartamentos em construção no terreno dos
fundos. Conversei com os bombeiros.
Estudei até 11:30. Almoço. Dormi até 12:30. Diário. Ontem vi os filhos do Luiz:
o Décio Luiz e José Victor que já estão crescidos. Carta 5. Ainda não recebi a
primeira dela. Estudei durante toda a tarde. Faltou água. Não pude tomar banho.
Calor. Estudei até 21:00. Pensei em ir até a igreja de Santana mas não fui.
Resolvi fazer adoração noturna em casa mesma. Dormi às 21:30. Saudades.
24/09/60 – sábado –
Acordei às 04:30. Hora santa. Rezei bastante. Rezei bastante. Pedi pela R..
Estudei até 07:00. Correio. Missa. Não pude ajudar porque cheguei atrasado.
Comunguei. Visitei o novo apartamento 404 do quarto andar, com uma sala e dois
quartos. Estudei até 11:30. Almoço. Dormi. Resolvi fazer uma arrumação no
quarto. Deu trabalho. Calor intenso. Ficou bom. Banho. Jantar. Telefone do
Sérgio. Disse que havia um baile no Clube Militar mas não sabia que ia pois era
a rigor. Vida dura no IME. Tenente Tibério. Estuda muito. Foi à praia hoje. Não
tem visto o Joélcio. Na televisão o Walt Disney falando sobre a construção da
Disneylândia. Diário. Carta 6. O tempo mudou. Vento forte. Talvez chova. Mas
não choveu.
25/09/60 – domingo –
Acordei às 06:30. Fui à missa das 07:00. Padre Pelayo era o celebrante. No
Evangelho: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado!”.
Caridade. Dia nacional da Bíblia. Congregados Marianos. Reunião depois com o
Padre Nicolau. Próximas eleições. O presidente já foi da UME e da UNE. O Padre
Nicolau me apresentou. Falou sobre os atos que podem ser essencialmente bons,
essencialmente maus e indiferentes. Correio. Comprei o Jornal do Brasil. Às
09:30 recebi a primeira carta da R.. Tudo bem por lá. Muitas saudades. Fiquei
muito contente. Carta 7. A Maria José atendeu o telefone. Era a tia Eleonora
que dizia ter uma carta da R. para mim. Combinei de ir à tarde. Almoço. Estudei
Francês. Romantisme. Fui até Copacabana de lotação. Fui pela Avenida AStlântica
tentando descobrir onde morava o Sérgio mas não descobri. Finalmente cheguei ao
apartamento 906 do Edifício Camões. O Cel Aragão assisti a Flamengo 0 x América
1. Conversei com o Dr Raul bastante sobre os EUA e um pouco com a Dona
Eleonora. No final o Cel Aragão entrou falando sobre os candidatos. Saí às
18:15 tendo chegado às 17:00. Voltei de ônibus. Muita gente na rua e muitos sem
fazer nada. Também a praça Saenz Pena bem movimentada e barulhenta devido à
época eleitoral. Em casa terminei a carta 7. Assisti um filme de mocinho na TV.
Fui dormir às 21:30.
26/09/60 – segunda –
Acordei às 05:30. Estudei até 07:05. Correio. Ajudei a missa do Padre Basílio.
Estudei Geometria. Teorema de Euler e de Stewart. Eixo radical e plano radical.
Consertei a bóia da caixa d’água da descarga do vaso sanitário. Às 11:45
comecei a carta 8. Terminei à noite. Estudei à tarde. Fui dormir às 21:30.
Saudades.
27/09/60 – terça –
Acordei às 05:00.Estudei Homologia. Ginástica. Banho. Missa. Comunhão. Correio.
Estudo. Oscarzinho, Risoleta, Anna, Raymunda e Padre José Maria. Gostaram dos
presentes. Almoço. Consertei tomadas de ferro. Estudei Trigonometria. Tempo
chuvoso. Dor de cabeça. Jantar. Terço. Televisão. Comício do Marechal Lott.
Carta 9. Muitas saudades.
28/09/60 – quarta –
Acordei às 05:20. Avisei a mamãe sobre a hora. Estudei Homologia, Afinidade e
Homotetia. Missa. Comunguei. Chuva. Correio onde coloquei uma carta da Maria
José para o Edison e a minha para a R.. Trigonometria. Almoço. Carta 10.
Álgebra.. Apareceu a Maria Helena e depois o Padre José Maria. A Maria Helena
está muito bem e nem parece ser mãe de 6 filhos. Dia chuvoso. O Padre José
Maria veio em um Fusca emprestado. Interrompi um pouco o estudo. Educação
Física, básica a 12. Banho. Jantar. A Maria Helena ofereceu o lanche com pães e
presunto. TV. Diário. Carta 10. Estudo. Saudades intensas.
29/09/60 – quinta –
Dia chuvoso. Missa. Ajudei o Padre Nicolau. Perguntou-me sobre a R. e a
família. Tentou lembrar da casa em Curitiba mas não conseguiu. Correio. Estudo.
Recebi 3 cartas da R.. Perguntou-me bastante coisas na terceira carta e
desabafou toda a saudade na quarta e toda a preocupação financeira na quinta.
Disse-me que ia me ligar amanhã às 08:00. Fiquei triste em pensar o quanto
sofre longe de mim. Pensei em ir votar lá em Curitiba. Estudo. Almoço. Affonso.
Estudo. Tenho que fazer 27 exercícios por dia. Resfriado. Saudades. Carta 11.
Mate quente.
30/09/60 – sexta – Acordei
às 05:40. Estudei muito pouco. Terminei a carta. Hoje é o dia do telefonema.
Fui à missa das 07:00. Comunguei. Esperei o telefonema com o fone no ouvido. Às
08:00 em ponto tocou. Conversamos. Tudo bem por lá. Disse-me que o telefonema
era pelo dia 8 de outubro, sexto mês de noivado. Casos a resolver: geladeira,
voto, móveis, Lambretta, adiantamento de fardamento que não veio. Pediu que
enviasse Cr$2.400,00. Despedidas. Trigonometria. Correio, carta 11. Tempo
chuvoso. Almoço. Trigonometria. Álgebra. Resolvi problemas de geladeira e do
voto por telefone sem precisar sair de casa. Carta 12. Jantar. A Cristiana, o
Newtinho e a Patrícia gostaram de ficar na escrevaninha. Revisão do diário.
Terminei a carta. E cheguei ao fim de mais um mês com muitos propósitos de bem
aproveitar o mês seguinte.
OUTUBRO – 1960
01/10/60 – sábado –
Acordei às 05:45. Meio doente ( resfriado). Missa das 07:30. Estudei Geometria.
Demorei muito com um problema. Almoço. Recebi mais uma carta da R., a de nº 6.
Escrevi adiantando a de nº 13, pois vou a Marica, no Estado do Rio. Às 18:00
fomos com o José, a Osmarina e o filho Paulo Roberto, a mamãe, a Patrícia e eu.
Anoitecia. Atravessamos a Baía da Guanabara, chegamos a Niterói, continuamos na
estrada de rodagem até Marica. Velas, bolos e cama. A mamãe a conversar com a
minha prima Osmarina, filha da tia Rita e do tio Manoel. Saudades da R.. Rezei
o rosário.
02/10/60 – domingo –
A mamãe acordou cedo. Eu só me levantei às 06:30. Tentei estudar Homologia e
Francês. Estava muito distraído. Não obtive rendimento. Tamarindo, mamãe, etc.
Praia. Banho de sol. Saudades da R.. Tirei a aliança para ler o seu nome
gravado. Ginástica. Bom o almoço. Camarão grande e peixe. Conversei com o seu
Antonio e seu Horácio sobre consertos. A mamãe ainda pagando. Regresso. Terço.
Dormi. Niterói. Travessia com vento do mar. Em casa a carta 7 da R.. Fiquei
muito feliz. Graças a Deus por essa noiva tão boa. A Maria José recebeu um
telefonema do Edison, tudo bem. Atualizei este diário. A Cristiana se cortou.
Choro. Escrevi a carta 14. Apareceram: Risoleta, Margarida, Violeta, Vera,
Oscarzinho, Oscar e tia Artemira. Saudades da R..
03/10/60 – segunda –
Dia de Santa Terezinha, minha padroeira. Parabéns pela data de hoje. Que esteja
bem feliz no céu! Eu, cá neste mundo, lhe peço que deixe cair umas rosas sobre
a R., a mamãe, e sobre mim, sobre todos os parentes, amigos, benfeitores e
superiores, sobre o Brasil, sobre o Exército e sobre o mundo inteiro. Peço sua
proteção nos dias 16, 18 e 22 de novembro quando farei um concurso, e também
para que o meu casamento com a R. seja abençoado por Deus. Meus parabéns por
ter sabido amar a Deus! Santa Terezinha do Menino Jesus rogai por nós! Acordei
às 06:00 e fui à missa das 07:30. Estudei Trigonometria. Carta 14 no correio. 7ª
Zona Eleitoral. Declaração justificando porque não votei. Almoço. Álgebra.
Raymunda, Pe. José Maria, Maria Helena, Robertinho, Renatinho, Ronaldinho e
Eliane. Oscar, Risoleta, Vera e Oscarzinho, todos apareceram em casa. Conversa
sobre os candidatos. Fiquei estudando. Despedidas. A mamãe foi para um retiro
espiritual no Cenáculo. Telefonema do Sérgio. Ainda não sei a resposta.
Conversamos bastante. Jantar. O Newtinho e a Cristiana choram muito e a
Patrícia meio malcriada. Coisas de criança. Diário. Carta 15.
04/10/60 – terça –
Acordei às 04:00 e levantei-me às 04:15. Geometria. Missa às 07:30. Comunhão.
Correio. Café. Estudo. Almoço. Diário. Carta 16. Cartas 7 e 9 da R.. Tudo bem
por lá. O Luiz chegou de Itacuruçá. Carta do Edison para ele. Estudei à tarde e
à noite fazendo 27 exercícios.
05/10/60 – quarta –
Acordei às 04:15. Geometria. Missa das 07:30. Comunhão. Correio. Geometria e
Trigonometria. Dia bonito. Resfriado. Almoço. Dormi. Dia’rio. Carta 17.
Saudades. O candidato a Presidente do Brasil, Jânio Quadros está na frente na
apuração dos votos e se distancia cada vez mais do segundo colocado. Estudei
até 17:45. Ginástica. Jantar. Estudo até 21:30.
06/10/60 – quinta –
Acordei às 05:30. Não ouvi o despertador. Estudei. Hoje só comunguei pois não
houve a missa das 07:30. Correio. Estudo. Dia ensolarado. Carta 12 da R. datada
de 03/10. Li avidamente. Tudo bem por lá. Muitas saudades também. Almoço. Dormi
até as 13:00. Diário. Carta 18. Álgebra. Jantar. Estudo. Banho. Igreja.
Confissão com o Pe. Nicolau. Cortei o cabelo.
07/10/60 – 1ª
sexta-feira – Acordei às 05:45. Comunhão 1/9. Pedi para Deus abençoar o meu
casamento. Muito resfriado. Calor. Estudo. Almoço. Dormi. Diário. Carta 19.
Apareceu o tio Adauto defendendo o Jânio Quadros. À tare fui ao QG do Exército.
Sobe. Desce. Tive que ir ao IME. Cheguei às 15:45. O Major Jarí havia saído.
Cruzara comigo. Sérgio. Regresso para
casa. Muito resfriado. Cansado. Calor. Caindo pelas tabelas. Jantar. Não
consegui estudar. Carta 19. Tomei um remédio que a Maria José comprou para mim.
Chá quente. Suadouro. Semi-acordado. Suor. Ventania à noite. A mamãe foi cuidar
de mim.
08/10/60 – sábado –
Afinal o relógio marcou 5 horas. Estudei Álgebra. Missa das 07:00. Correio.
IME. Major Jarí. Cap Gomes. Cópia autêntica de um radiograma. As pessoas na
praia. Vontade de morar no Edifício da Praia Vermelha. QG do Exército. Terei
que voltar na segunda-feira. Ainda estou resfriado. Carta 14 da R.. Que
felicidade em receber uma carta dela. Tudo bem por lá. Enviou dinheiro. O caso
da geladeira está resolvido. Deverei receber aqui no Rio. Disse-me que o
telefonema custara Cr$655,00. Que caro! Mandou-me 4 fotografias. Gostei mais de
uma com o vestido de bolinhas, em que está com a mão sob o queixo olhando para
frente e aparecendo a aliança no dedo da mão direita. Sinto que amo de verdade
a R. e desejo que no futuro sejamos bem felizes com a graça de Deus! Diário.
Carta 20. Estudei meio doente. Jantar. Estudo. Dormir. Saudades.
09/10/60 – domingo –
Acordei às 05:30. Estudei Álgebra. Missa dos Congregados Marianos. Comunhão.
Café com leite e pão. Reunião. Fui citado de novo. Leitura da ata. Apostolado
leigo. “e vendo Jesus a fé dos que levavam o doente...”Campanha para comprar um
novo órgão para a igreja. Voltei para casa. Carta 15 da R.. Muitas saudades.
Ela escrevia às 23:00 com sono e ainda sem rezar o terço! Iniciei uma relação
dos parentes. Fiquei admirado com a quantidade. Almoço. A mamãe foi com a tia
Arthemira almoçar na casa do tio Françu. Fui dormir um pouco. Diário. Carta 21.
Assisti pela televisão marca Philco
Predicta da Maria José, ao jogo Flu 2 x Bangu 0 . Escrevi uma carta para o Felippe. Vento forte. Faltou
luz. A Maria José com os filhos fora. A mamãe preocupada. Fiquei pior da tosse.
Em dado momento externei as saudades que sinto da R.. O Affonso apareceu mas
logo foi embora. Conversei bastante com a mamãe. Chegaram a Maria José, os
filhos e a Neusa, graças a Deus! Fui dormir. A Anna chegou. Discussão sobre os
padrinhos de casamento. Eu pensei em convidar os meus tios. E pensando e
sonhando cheguei às 05:20 do sai seguinte.
10/10/60 – segunda –
Estudei Álgebra. Missa das 08:00. Dona Minervina. Comunguei. Correio, carta 22.
Estudei até 22:00. Saudades.
11/10/60 – terça –
Fui à missa das 07:00. Correio. Estudei. Almoço. Recebi um telefonema do Dr
Armando. Está de passagem pelo Rio. Disse-me que tinha uma carta e um embrulho
com presentes da R.. Convidou-me para jantar às 19:00. Está hospedado no Rex
Hotel. Comentei com a mamãe que nós não tínhamos condições de hospedá-lo em
nossa casa. Dei dois telefonemas , um para o Maj Omar, no Ministério da Guerra
e outro para o Ten Luiz sem ser bem sucedido. Não consegui mais resolver nenhum
problema. Fui à cidade. Hotel Rex. Dr. Tramujas. Tudo bem lá em Curitiba.
Conversamos bastante. Jantamos. Não consegui comer tudo. Muito bom o filé
mignon. Fomos até Copacabana . Casa errada. Enfim acertamos. Tia Lourdes, Cap
Rubens, esposa Ângela e dois filhos. Televisão. Conversamos bastante sobre os
fatos: noivado, política, Academia Militar, Resende, Escola Técnica do
Exército, etc. Saímos além das 22:00. Regresso. Lotação. O Dr. Armando não me
deixou pagar nada. Li a carta da R. com muito sentimento de amor. Em casa abri
o embrulho. Era uma lata cheia de biscoitos feitos por ela mesma ontem à meia-noite.
São todos muitos gostosos e se desmancham na boca. Muito a amo por tanta
dedicação.Reli a carta escrita naquela manhã. Fui dormir com saudades.
12/10/60 – quarta –
Nossa Senhora Aparecida rogai por nós. Acordei com o despertador às 05:00 mas
só me levantei às 06:30. Diário. Carta 23. A mamãe foi para Paquetá. Dei-lhe
biscoitos da R.. Fui à missa das 08:00 e comunguei. Correio. Estudo. Almoço.
Rede. Patrícia e Newtinho. Estudo. Ginástica. Jantar. Estudo. Dormi às 21:30.
Saudades.
13/10/60 – quinta –
Missa das 07:30. Correio. Cartas para o Edison, para o Luis Armando e para a
R.. Estudo. Águia de coco. Almoço.
Dormi. Maria Helena. Carta 25. Recebi a 19 da R. dizendo que não ia à piscina
por minha causa. A carta é do dia 10 e ela diz que iniciou o bordado de um novo
lençol e que eu ia gostar. Em outro trecho diz: “Posso dizer-lhe apenas que
continuo amando-o e continuarei por toda a vida. Tenho feito tudo para ser uma
boa noiva e uma esposa exemplar da qual você sempre vai se orgulhar. É isto que
tenho sempre pedido a Deus. Quero compreendê-lo, ampará-lo, ajudá-lo sempre em
toda e qualquer ocasião. Já que não sei exprimir o meu amor por meio de
palavras, procurarei exprimi-lo por meio de atos.” Muito obrigado querida noiva
pelo que escreveu. Por um telefonema ao Maj Omar soube que tudo será resolvido
hoje. Estudei Geometria. A Maria José foi visitar a Heloisa. Faltou água.
Jantar. Chutei umas bolas para o Newtinho que também já sabe chutar. Rezei o
terço andando no pátio. Estudei. Consegui fazer 27 exercícios. Saudades.
14/10/60 – sexta –
Acordei às 05:30. Estudo. Missa das 07:30. Confessei-me com o Pe. Boaventura.
Correio. Estudo. A mamãe foi para Aparecida. Levei a mala dela até a igreja de
Santo Afonso. As pessoas me achando alto e diferente. Tia Maricas, Araci, Tia
Arthemira, Tio Moysés, Tia Rita, Marieta. Na volta passei pela casa do Tio
Manoel e lá encontrei a Natália, a Nair, a Nairzinha e o Tio Manoel. Em casa
estudei. Almoço com a Maria José. Acho o Newtinho muito parecido com o Edison.
Dormi. Carta 20 da R.. Ela diz que já está acostumada a receber carta minha
todos os dias e quer que continue assim. Que não acha graça em ir ao cinema sem
mim. Que assistiu no Concórdia o filme sobre as debutantes e se achou feia e
que por isso os outros a chamam de convencida. Que gosta de Curitiba por sua
variação do tempo. Que fica esperando por outros momentos felizes ao meu lado.
Li trechos da carta para a mamãe. Carta 26. Estudei até a hora da ginástica.
Banho. Estudei até meia-noite. Terço. Dormir.
15/10/60 – sábado –
Missa das 07:00. Correio. Fui até o Ministério da Guerra. Tudo OK.
Apresentei-me por término de férias e passagem à disposição do Primeiro
Exército. Correio. Cr$121,00 em telegramas: Cmt III Ex, Cmt 5ª RM e Cmt 5ª Cia
Com. Estudo. Almoço. Dormir. Estudo. Jantar. Estudo até meia-noite. Terço.
16/10/60 – domingo –
Missa das 07:00. Café. Carta 27. Almoço. Fui com a Patrícia até o Aeroporto de
Santos Dumont. Ao chegar lá também chegava o Covair da Cruzeiro do Sul com o Dr
Armando procedente de Salvador. Tudo bem. Missão cumprida. Bagagens.
Restaurante. Tônica. Coca-cola. Aviões a sair e a chegar. Trocamos idéias.
Afinal chegou a hora de ir para são Paulo. Scandia da Vasp, das 14:30. Só
levantou vôo da 2ª vez. Ronaldo. Eliane.
Estudo. Flu 1x Bonsucesso 0. Heloísa, Frank, R. Helena. Estudei até 23:30.
Diário. Carta 28. Terço. Orações.
17/10/60 – segunda –
Santa Margarida Maria rogai por nós. Acordei às 07:30. Missa das 08:00.
Confissão. Para a frente com a graça de Deus. Correio. 3º bloco de rascunhos.
Estudo. Não recebi carta da R.. Almoço. Sesta. A mamãe chegou de Aparecida,
graças a Deus. Estudo. Ginástica básica a 12. Banho. Jantar. Estudo até
meia-noite. Diário. Carta 28. Terço. Dormir. Saudades.
18/10/60 – terça –
Acordei-me às 08:15. Missa das 08:40. Calor. Correio. Estudo. Almoço. Sesta.
Estudo. Ginástica. Banho. Jantar. Carta 23 da R.. Diz que ao receber a minha
carta 23 chegou até a chorar. Que isto agora é coisa rara, pois de tanto eu
falar as lágrimas dela agora estão secando. É pena, continúa, pois no último
domingo o padre citou uma frase de um escritor famoso: “Há mais beleza no rosto
de uma mulher que chora doque no de uma que ri!” Que o Raul, no seu aniversário
fora até a casa dela jantar e contara que o time de Engenharia perdera para os
Mórmons e para o Curitibano por 10 pontos e que me enviava lembranças. Recebi
também um telefonema do Joélcio que reclamou que eu ainda não lhe
telefonara. Que está em 1º lugar na
turma e que foi convidado para instrutor no Colégio Militar em 1961 ou para
ficar na própria Escola de Educação Física do Exército. Que vai ao Peru jogar
basquete junto com o Gedeão, Calomino, Alexandre e Lobão dizendo que eu por
causa do concurso ia perder a oportunidade de ir. Que a Miriam estava aqui no
Rio e conversaram. Que vários da nossa turma que estavam no Batalhão Escola de
Engenharia foram transferidos e, portanto tiveram que tentar o IME. - Eu em casa eu ouvi numa estação de rádio um congregado
mariano condenar o baile como forma dissimulada de se ofender a Deus e ocasião
quase certa de pecado. Estudo. Carta.
Diário. A Maria José foi ao cinema ver um filme sobre 1964 com o efeito
destruidor das irradiações. Carta 30. Terço. Dormir. Saudades.
19/10/60 – quarta –
Missa. Comunhão. Estudo. Recebi o livro de Trigonometria, com uma fotografia
ampliada e uma cartinha. Estudo.
Ginástica. Banho. Estudo. Fui dormir às 01:30. Saudades. Calor.
20/10/60 – quinta –
Acordei às 07:30. Missa. Estudo. Almoço. Faltou luz. Sesta. Estudo. Fui à
cidade para a mamãe. Josué. Greve dos bondes. Fiquei admirado com o número de
livros perniciosos. Paguei uma prestação de Cr$16.000,00 e o da mamãe.
Regresso. Com o seu Chico conseguimos
colocar luz. Calor. Diário. Carta 32. Estudei até meia-noite. A mamãe fazia uma
hora santa noturna em casa. Rezei os terços. Saudades.
21/10/60 – sexta –
Missa das 08:00. Correio. Estudo. Recebi as cartas 24, 25 e 28. Reli bem a 28
em que ela me envia preciosos conselhos. Estudo. Calor. Almoço. Estudo.
Ginástica com a Patrícia. Calor. A Light reconsertou a luz. Estudei até 23:30.
Diário. Ouvia a transmissão do jogo decisivo entre o Flu e o Grêmio. Terminou
1x1 e na prorrogação o Flu fou vencedor por gol average. Carta 33. A mamãe
telefonou para o meu primo Gilberto que mora em São Paulo pela passagem do seu
37º aniversário.
22/10/60 – sábado –
Missa das 08:00. Confessei-me e comunguei. Em casa não consegui resolver um
problema siquer. À Tarde tirei uma sesta com o quarto às escuras. À noite
estudei. Fiz 26 exercícios. Carta. Fui dormir às 02:30. Terço. Saudades.
23/10/60 – domingo –
Dia de santos Dumont. Acordei às 09:50. Faltando água. Calor. Vontade de ir à
praia. Fui à missa das 11:00. Encontrei o Affonso que deu uma volta comigo.
Conversamos sobre os problemas da Engenharia Civil. Calor. Televisão. Flu2xOlaria1.
Terço. Estudei até de madrugada. Saudades.
24/10/60 – segunda –
Missa. Confissão. Comunhão. Calor. Falta d’água. Estudo. Recebi duas cartas da
R.. Tudo bem graças a Deus. Saudades. Conversei com o Luiz.
25/10/60 – terça –
Acordei 07:45. Missa. Calor. Correio. Ajudei a mamãe na arrumação da casa.
Livros. Almoço. Diário. Carta da R. em qie ela me diz que me ama e o seu maior receio é perder-me na vida. Que
o Luis Armando no dia do seu aniversário acordou todo o mundo dizendo: “Como é
que é, não vai me dar os parabéns?” Que encontrou com a Míriam do Joélcio. Que
depois do almoço se deitou um pouco na sala, ouvindo música e relendo minhas
cartas dizia como era bom amar e ser amada. Falou sobre o casamento, já pagou
os móveis, precisa resolver o questão da geladeira, conseguir o instrumento
canônico, quase certo o dia 10 de janeiro de 1961, mais ou menos resolvido os lugares da
lua-de-mel. Precisando arranjar dinheiro para a lua-de-mel, os convites ficam
prontos só no final de novembro. Vejo
que tudo está em dia e agradeço a Deus por uma noiva tão prestimosa. Estudei
até 01:30. Saudades.
26/10/60 – quarta –
Acordei às 07:45. Missa. Padre Pelayo. Conversa sobre Curitiba. Morte do Padre
João de motocicleta. A certidão é velha. Correio. Inglês. Francês. Almoço.
Falta d’água. A Maria José reclamando. Estudei. Ginástica. Banho com cuia.
Terço. Estudei até meia-noite e meia. Saudades. Hoje não fiz os 27
exercícios.
27/10/03 – quinta –
Acordei às 07:45. Missa. Terço. Comunhão. Pedindo a proteção de Deus. Correio.
Chuva. Recebi as cartas 32 e 33 de 23 e 24 de outubro. Eis os principais
tópicos: Foi até o quartel de Artilharia do Boqueirão, 5º RO105 com o Pedro
Achilles namorado da Beatriz, com a Beatriz, com a Elyane e seu namorado Pedro
Celso no domingo visitar um amigo que estava de Oficial de Dia. Disse que o Noel e a esposa estiveram à noite
na casa dela e conversaram bastante com
ela a respeito da vida de casada. A esposa do Noel disse que a dona de casa
trabalha o dia todo e o serviço não aparece e os maridos não dão valor. Recebi
um santinho da 1ª comunhão da Yereza Cristina prima da R., que fez questão de
me dar um. A R. escreveu que quando começa a pensar na proximidade do nosso
casamento fica um pouco amedrontada com as responsabilidades que irá assumir,
mas ao lembrar que vai enfrentá-las comigo todo o medo desaparece. Na carta 33
fala sobre o casamento, o local da lua-de-mel mais ou menos resolvido.
Justifica desejar que o casamento e a lua-de-mel sejam os melhores possíveis
porque são os únicos na vida e que para mais tarde os lembremos com saudades e
alegrias. Disse que terminou as aulas de corte e vai aprender a costurar a fim
de se completar melhor. Eu estudei até
24:30. O tempo no Rio está chuvoso.
28/10/60 – sexta – Acordei
às 07:45. Missa e comunhão. Correio. Francês. Recebi a carta 34 da R.. Diz que
o dia 25 não foi dos melhores para ela. Ficou molhadíssima com um temporal e
não recebeu carta. Uma chuva enjoada. Incêndio na casa da frente. Levou 15
minutos para vir do Prosdócimo (na esquina com a Praça Tiradentes) até a casa dela. Chegou com o rosto preto de
carvão. A chuva também esfriou muito o tempo.
Aqui em casa no Rio apareceram a Vera e a Violeta. Almoço. Vendedora de
roupas. A Nair, a Risoleta e a Anna também vieram. Sesta. Diário. Carta 40. A
mamãe e a Margarida foram até a Paróquia do Padre José Maria. Fui à igreja de
Sant’ Anna. Certidão de batismo. OK. Regresso. A mamãe já havia chegado e
trouxera os móveis de fórmica. Arrumamos no quarto. Fiquei muito agradecido
pela mobília. Deus lhe dê a recompensa em graças do céu. Estudei até 24:00. A
empregada do Luiz, chamada R. fazendo um barulho. Um empregado da obra ao lado.
Guarda noturno. Luiz. Maria José toda nervosa. Delegacia. Fui dormir às 02:30.
29/10/60 – sábado –
Missa das 08:30. Comunhão. Padre Pelayo. Certidão. Instrumento canônico. Tudo
OK. Estudei Francês. Correio. Carta 40. Dia nublado. Sesta. Francês. Álgebra.
Resfriado. Luiz defendendo Fidel Castro. Tia Arthemira. Frio. Portão caído.
Diário. Carta 41. Saudades. Cansado. Deitei e dormi até 19:30. Sopa. TV.
Estudo. Oração. Dormi às 01:30.
30/10/60 – domingo –
Missa das 08:00. Comunhão. Pedi a Jesus para amar com generosidade. Correio.
Recebi as cartas 35 e 36 dos dias 26 e
27 da R.. Diz que tem vontade de vir correndo até o Rio para matar as saudades.
Pede para eu de 15 a 23 de novembro só pensar nos estudos e esqueça dela. Que
ela vai pensar nela por nós dois. Todo o desejo de uma rainha deve ser
satisfeito! Não precisa escrever para
ela nestes dias. Saberá compreender. Que
quem esperou tanto pode esperar mais um pouco. Quanto às minhas falhas, se
Jesus me perdoou nas confissões quem é
ela para não me perdoar. Para eu me lembrar que apesar de tudo ela continua e
continuará a me amar por toda a vida e a eternidade. Que errar é humano. Que se
eu fosse perfeito ela teria se afastado de mim pois se acharia indigna do meu
amor. Que depois de casados procuraremos nos tornar os mais perfeitos
possíveis. Na carta 36 diz que o frio em Curitiba estava bárbaro. Que ontem
havia sido a festa da irmã do Pedro Achilles. Ele a havia convidado mas ela
respondeu que sem o noivo o que iria fazer lá. Que sem mim nada tem graça para
ela. Que eu não imagino o quanto eu significo para ela. Falou ainda sobre a lua-de-mel em Poços de
Caldas ou Campos do Jordão. E terminou dizendo Boa noite, amor, um beijinho em
cada lado, durma bem e sonhe comigo! Eu escrevi a carta 42 para ela. Reli o
diário e fiz um novo planejamento.
31/10/60 – segunda –
Missa. Comunhão. Frio. A mamãe foi a Maricá com o Padre José Maria, a Raymunda,
a Maria Helena e filhos. Tudo bem. Recebi a carta 37. Muito frio em Curitiba. O
Tem Duarte entregou a ela os meus vencimentos de Cr$60.310,30 sendo
Cr$23.000,00 de auxílio ao fardamento. Encerro este diário até o dia 22 de
novembro, se Deus quiser!
DEZEMBRO – 1960
01/12/60 – quinta –
Acordei às 05:30. Dasa da R.. Quartel. Novo mês. Planejamento de colocar tudo
em ordem, mas os automóveis particulares prejudicam. Enfim procuro fazer o que
é possível. Ainda não sei o resultado do concurso mas tenho o pensamento
positivo de que com o que eu fiz dá para passar. Tenho combinado com a R. tudo
sobre o nosso próximo casamento. Sinto que a amo de verdade e que seremos muito
felizes se continuarmos amando a Deus e procurando observar os seus
mandamentos. Estou com bronquite asmática mas o Dr Armando já me deu diversos
remédios, a Dona Lycia me aplica injeções muito bem e a minha querida noiva
cuida demais de mim. Fui dormir cedo no sofá-cama dp escritório do Dr Armando.
02/12/60 - sexta -
Acordei às 05:30. Levantei-me às 05:45. Conversei coma R. e fui para o
quartel. Estou acertando o material sob minha responsabilidade na Oficina de
Manutenção e Transporte. Dia bonito. À tarde fui para a cidade. Catedral com a
R.. Terceira de nove comunhões das primeiras sextas-feiras do mês em homenagem
ao Sagrado Coração de Jesus. Adoentado. Dormi cedo sempre sob os cuidados da
R.. Terço.
03/12/60 – sábado –
Acordei às 05:30. Quartel sem falar com a R. ainda dormindo. Acertando os toldos
das viaturas. Carros particulares. Almoço. Injeção com o soldado padioleiro.
Conversei com o Major Moreno que não quer que o filho seja do Exército, etc.
Cidade. Sol. Fraqueza. Catedral. Comunhão. Doente. Deitei no sofá da sala de
jantar. Jantar. Injeção. Dormir.
04/12/60 – domingo –
Acordei às 07:30. Gemada. Salada de fruta, Tudo trazido pela R.. Missa das
11:00. Comunhão. Sermão sobre São João Batista. Fomos até a casa da Tereza
Cristina, prima da R. que comemorava o seu aniversário. Parentes da R.. Impressionado
com a conversa dos casados. Conversamos
bastante a R. e eu. O Ernani irmão da aniversariante (filhos do Renato e da
Consuelo) mexendo nos presentes dela. O
Renato nos levou de carro até em casa: Dr Armando, Dona Lycia, Luis Armando, R.
e eu. Injeção. Dormir.
07/12/60 – quarta –
Fiquei estes três dias no quartel. Nesta tarde vi várias coisas com a R. na
cidade. Eu a estou amando muito e ela faz tudo de bom para mim.
08/12/60 – quinta –
Imaculada Conceição. Houve expediente no quartel. Hoje é o aniversário da minha
primeira comunhão. Agradeci a Deus e pedi que me conserve com Ele até o fim da
minha vida. Preparativos para o dia 23 de dezembro. Fui à missa com a R. e
comungamos.
09/12/60 – sexta –
Quartel. Tenho dormido no escritório, na casa da R.. Tirei duas chapas do
pulmão. O Dr Armando tem cuidado muito de mim. A Dona Lycia aplica as injeções
no braço. Desejando que chegue logo o dia do casamento.
10/12/60 – sábado –
Não houve expediente. Fiz compras com a R.. Convites para o casamento. Flu 1x
Vasco 0.
11/12/60 – domingo –
Acordei às 07:30. Banho. Barba. Café. Conversei com a R.. Almoço. Descanso.
Convites. Missa das 20:00. O pregador foi um padre que estivera na Alemanha.
Falou sobre a língua latina no liturgia. Na casa da R. estavam o tio Raul e a
tia Eleonora. Jantar. Despedidas. Despedidas. Tenho rezado o terço diário.
12/12/60 – segunda –
Acordei às 06:00. Café feito pela R.. Gosto de conversar com ela pela manhã
quando o sono não atrapalha. Quartel. Viaturas. Sala do S-3. Sargento Isaias
Venson, Sgt Stocco, etc. Viatura. Carga. Ao almoço o Ten Medeiros e o Cap
Félix fizeram uma crítica aos padres que
falam mal do Exército. Retruquei dizendo
que o meu irmão padre se dedica ao subúrbio de Honório Gurgel, no Rio de
Janeiro. Pensando nos próximos acontecimentos: solução do concurso ao IME,
festa do dia 23, inaugurações e o meu casamento.
25/12/60 – Domingo de
Natal – Pedi a deus que abençoasse o meu casamento. Ontem fomos até a casa dos
avós da R.. Quase todos reunidos. Um bom exemplo de vida em família. Fiquei
conversando com a R., que estava muito bonita com aquele vestido azul. A
Beatriz com o Pedro Achilles e a Eliane com o Pedro Celso. O Luis Armando
contente com os presentes. Noite quente com uma brisa fria. Na casa da R. houve
distribuição de presentes entre todos: Dr Armando, Dona Lycia, Luis Armando,
R., eu, Dona Eulina, Virgínia e Elizabeth. Todos contentes com o que receberam. Ganhei um cinto preto da
R.. Dos pais um estojo de couro completo para barbear. Fiquei muito contente e
comigo todos, com exceção da Elizabeth. Não fomos à missa do Galo porque no ano
passado eu dormira e quase não aproveitara. Fui dormir ouvindo a irradiação da
missa da catedral e dormi sem rezar. No dia 23 houve aquele dia festivo no
quartel que o Comandante tanto esperava. No cinema houve entrega de medalhas.
Recebi seis. Depois houve sorteio de prêmios. Coube-me pelo número 1011 a
escolha do 2º maior prêmio. Escolhi um barbeador elétrico no valor de
Cr$3.780,00. Muito obrigado, meu Deus! Houve também um jogo de futebol entre os
cabos e soldados da 5ª Cia Leve de Manutenção e da nossa 5ª Cia Com. Vencemos
por 3x1 com três gols do soldado Bídio (Kozak) no goleiro Paulista. Houve um
bom churrasco em que compareceram muitos oficiais. Foi o melhor da festa para
os que apreciam um bom prato mais do que
tudo. À noite houve uma demonstração de judô, jogo de basquete entre oficiais
da PMP e da Cia QG, futebol de salão entre sargentos da PMP e da Cia Com e
finalmente basquete entre oficiais da
Cia com e da Cia QG. Boa assistência. Tudo funcionou bem, graças a Deus! As
salas ficaram prontas graças ao trabalho intensivo do Sgt Venson, Sgt Noronha,
Cabos Gerson, Riozo e Milton e dois civis. Ainda não sei se passei no concurso.
Aguardo com muita esperança e ansiedade pois tenho que decidir sobre os móveis e a geladeira.
26/12/60 – segunda –
Expediente à tarde. Baile no Clube Concórdia. O Dr Armando comprou-me um
convite no valor de Cr$500,00. Bom o baile. Dancei bastante com a R..
31/12/60 – sábado –
Já soube que não passei no concurso para o IME. Consegui saber por meio do Sgt
Noronha, radioamador PY5-IG. Pelo telefone a mamãe me disse que eu não havia
sido aprovado. Fiquei triste na hora mas aos poucos com muito pensamento positivo fui
transformando essa tristeza em alegria por poder continuar na 5ª Cia Com, em
Curitiba e iniciar aqui mesmo a minha vida de casado com a R.. Mais tarde
chegou um telegrama da mamãe confirmando: “Reprovado. Iremos em 6 chegaremos
dia sete à noite. Reserve lugares. Abraços. Umbelina.” Ando com a R. procurando
um apartamento para alugar. Há alguma dificuldade. À noite fomos à missa da
meia-noite na igreja do Coração e Maria. Ficamos até 01:30 na casa dos avós
dela. Doces. Crushes.
JANEIRO – 1961
01/01/61 – domingo -
Novo ano. A R. me disse que estava sentindo uma grande tristeza pois fora a
primeira vez que passara de um ano para o outro longe dos pais. Eu lhe disse
que foi só uma diferença de 40 minutos. Temos sempre pensado no nosso próximo
casamento, com grande vontade de que ele logo chegue.
06/01/61 – 4/9
primeiras sexta-feiras – Graças a deus! Domingo da Epifania – Fizemos compras.
Fomos à missa das 09:30 na igreja do Rosário. Nestes dias próximos ao casamento
a R. está um pouco mais preocupada. Graças a Deus as coisas têm saído a contente.
Peço a Ele que tudo saia bem.
07/01/61 – sábado –
Chegaram a mamãe, a Maria Helena e o Josué. Vieram de avião. Graças a Deus
todos bem. Levei tudo o que era meu do quartel para o novo apartamento alugado
à rua da Glória, 396/4. Na casa do Dr
Armando jantamos e conversamos bastante. Já fui dormir no novo apartamento.
08/01/61 – domingo –
Fui à missa dominical às 09:30 na igreja do Rosário com o Dr Armando e o Luis
Armando. É o Domingo da Sagrada Família. P padre jesuíta falou muito bem sobre
a família dizendo que o mal não provém dos playboys mas das playfamilies e
terminou dizendo que a família que reza unida permanece unida até o fim.
Almoço. Foram até o apartamento a R., a Maria Helena, a mamãe, o Luis Armando e
eu. No final a mamãe e eu dormíamos e a Maria Helena e a R. conversavam. Jantar
na casa da R.. Conversei com a R.. Fui dormir no apartamento.
09/01/61 – segunda –
Fiz várias coisas referentes aos preparativos para o casamento. À tarde, graças
à colaboração do Dr Armando e o Dr Raul tudo saiu bem. A R. e eu casamos no
civil. Fiquei meio assustado à entrada dos juízes mas logo me dominei e com os
cumprimentos de muitas felicidades, tudo saiu normalmente, graças a Deus! Fui
dormir no apartamento após me despedir da minha querida noivinha pensando ser
pela última vez.
10/01/61 – terça –
Catedral de Curitiba. A R. e eu nos casamos. Estou muito feliz. O Padre Augusto
Sanzol Goni, meu padrinho, oficiou a cerimônia e disse palavras muito bonitas.
Eu seria o sol e a R. a lua. Que nós deixássemos Deus e Nossa Senhora entrar
entre nós. Que tivéssemos filhos. Lembrou o meu querido pai já falecido. A
catedral estava muito bonita, com muitas flores, iluminada e o coro cantou
muito bem. À saída estavam lá cruzando
as espadas o Tenente Luiz, o Tenente Duarte, o Tenente Dorneles, o Major
Félix e o Tenente Medeiros. Senti que o
Tenente Hélio não apareceu. O meu primo Gilberto veio de São Paulo e apareceu à
hora do casamento. Fomos depois para a Sede Campestre do Clube Curitibano.
Fiquei muito feliz em me casar com a minha querida R.. Lembro-me que ao vê-la
entrar na Catedral eu quase comecei a chorar de emoção, mas consegui me
dominar. Ela parecia uma princesa. No altar eu a recebi das mãos do Dr Armando.
Faltou um fotógrafo para documentar esta entrada. O tio Raul entretanto
fotografou outros lances. A recepção no Clube Curitibano foi ótima, não tendo
faltado nada, graças a deus! Todos os parentes gostaram muito.
Também compareceram
os sargentos Calazans, Jardim, Leopoldo, Travassos e Lima e o subtenente Wasilewski.
Recebemos muitos presentes dados principalmente pelos médicos colegas do Dr
Armando. Dos oficiais do quartel ganhamos um liquidificador Walita. Dos
sargentos um jogo para café, muito bonito. O namorado da Elyane, Pedro Celso
nos levou de automóvel até em casa. Trocamos a roupa e saímos para viajar. Vôo
512 para São Paulo. Despedidas.
Encontrei o irmão do colega Dalmei casado e com 1 filho indo para a AMAN.
Jogaram arroz na gente. Fizemos boa viagem, graças a Deus! A mamãe foi junto,
sempre receosa. O Josué e a Maria Helena estavam calmos. Só houve uma hora
quando bem próximo a São Paulo o avião teve que subir bem rapidamente e bem
alto (coisa que depois achei até emocionante) por causa da falta de teto. Em
São Paulo encontramos a Verinha e a filha com a esposa do Coronel Paulo, amigo
do Oscar. Despedidas. Hotel. Procura com o motorista de táxi, um português.
Enfim chegamos ao Hotel Alvear onde ficamos. Bonito apartamento atapetado e bem
moderno. Depois demos um passeio e fomos assistir ao filme “Os Dez Mandamentos”
que eu achei formidável. É um filme do Cécil B. de Mille sobre Moyses, os
Hebreus no cativeiro, o Faraó Ramsés, Josué, Aarão. Enfim toda a História
Sagrada. Um lance bonito é a passagem pelo Mar Vermelho quando este se abre.
Voltamos para o hotel e vivemos a nossa primeira noite juntos.
11/01/61 – quarta
– Almoçamos e jantamos na cidade.
Visitamos a Catedral da Sé. Encontrei um antigo colega desde a Escola
Preparatória, o nº 136 – Delamare. Já comprei as passagens para Caxambu.
12/01/61 – quinta –
Em cima da hora embarcamos para Caxambu. Paguei Cr$3.000,00 no hotel. Boa
viagem graças a Deus! Eu queria conversar o tempo todo de viagem mas dormi
algumas vezes e a R. também. Estamos satisfeitos com a nossa lua-de-mel. Perto
de Caxambu (Pouso Alto) arriscamos pegar o ônibus que vai para São Lourenço.
Graças a Deus deu tudo certo. Sentamos no último banco e fomos conversando até
São Lourenço. Chuva. Carregador Abreu muito atencioso. Hotel Londres. Quarto nº
64. Jantar. O meu primo Arizinho também a trabalhar com os garçons. Boa comida.
Não sabemos se irão cobrar os dias que vamos passar no hotel.
13/01/61 – sexta –
Agradeço a Deus a esposa que me deu. Fico triste em não ter sido melhor antes do
casamento. Faltou mais confiança em Deus quanto ao futuro. Espero poder
inculcar nos meus filhos o valor de uma vida com um ideal antes do casamento.
14/01/61 – sábado –
Já conversamos com o Ari e ontem à noite com a minha prima Arminda, filha da
Tia Amélia e esposa dele. Falamos bastante ate as 22:00. Ela gostou da voz da
R.. Falou sobre a família. A Maria Arminda filha dela já é mãe de um garotinho
chamado Vinicius com 8 meses. O Arizinho seu outro filho já tem 27 anos e é
noivo de uma moça que vai terminar o Normal e um curso de piano. Uma outra
filha já casada, Dulcemar já é mãe de três crianças. Moram em Volta Redonda. A
Arminda disse que nestes meses há muito serviço no hotel e ela trabalha muito.
Achei-a uma pessoa muito simples e uma
avó, mãe e esposa cem por cento. Ela colocou tudo à nossa disposição e nos deu
uns doces feitos por ela mesma. Hoje após o café bem reforçado saímos a passear
pela cidade. Engraxei os sapatos com um menino chamado Newton. Cheguei à
conclusão que os hotéis dão ocupação para muita gente. Há necessidade, portanto
de alguns terem mais para dar para outros que nada têm. Almoço. Sesta. Saímos a
passear e tiramos vários retratos. A R. escreveu uma carta e enviou um postal
para os pais. Andamos de barco. Tempo instável. Tive que pagar Cr$600,00 por um
vidro que eu quebrei por ter me apoiado sobre o balcão. Ficamos bem tristes.
Enfim nada nos pertence neste mundo. Tomarei mais cuidado. Comprei uma revista
Capricho para a R.. Desabafei com ela quando pensei que iria ser menos lembrado
um dia por ela quando viessem os filhos e outras preocupações. Combinamos que
tudo faríamos para que sempre nos amássemos e fizéssemos demonstrações
recíprocas de amor.
15/01/61 – Segundo
Domingo depois da Epifania – Aniversário da Arminda. Fomos ao Parque. Tiramos
fotografias. Andamos no lago de Gaivota. Almoço. Tiramos fotos junto com o Ari
e a Arminda. Fomos de novo ao Parque e andamos de baleeira. Encontrei o Padre
Daher do meu tempo de seminário, com a mãe e uma irmã e tirava fotografias. Fomos
à missa das 19:00. Benção. Conversamos na varanda do hotel.
16/01/61 – segunda –
Após o café passeamos de charrete com Seu José Ferreira e sua égua Estrela e
fom,,os até a fazenda do Seu Ramon. Fotos. Compramos vinho, queijo e doce.
Almoço. Fomos de novo ao Parque. Novas fotos. Compras. Despedimo-nos da
Arminda. Fomos visitar a Maria Arminda. O Sílvio (Leo) marido dela ia saindo
para o Rio. Vimos o filho Vinicius já deitado para dormir ao som da orquestra
do coaxar de sapos e rãs. Voltamos para o hotel onde paguei a conta de
Cr$6.300,00. Esperava que o Ari não me cobrasse como fez para o mano Felippe,
mas talvez a situação não o permitisse desta vez.
30/01/61 – segunda –
Recapitulação. Tem chovido bastante aqui no Rio. Choveu quase toda a semana
passada. A vinda de São Lourenço foi muito boa. Estivemos a 1.600 metros de
altura, pois a BR-58 passa bem perto das Agulhas Negras. É uma bonita estrada,
muito arborizada e toda asfaltada. O ônibus muito bom, Mercedez Bemz,
carroceria Metropolitana. Saímos de São Lourenço às 07:30 e chegamos ao Rio às
14:00-. Em casa encontramos a minha prima Lea e depois a mamãe fazendo a
limpeza da casa com a Dirce. Ela ficou surpresa com o nossa vinda inesperada,
no dia 17/01/61- terça-feira. No dia seguinte fomos para a casa da Maria José,
no Botafogo. O edifício é bem grande. A Maria José está numa grande expectativa
pois o Edison deverá chegar de viagem no início do mês de fevereiro. A Patrícia
está cantando várias músicas. O Newtinho está bem engraçadinho. A Cristiana bem
gordinha e com saúde. A empregada ainda é a Neusa. A R. e eu fomos à praia de
Copacabana. Muita gente. Assistimos ao filme Ben -Hur, uma história do tempo de
Jesus. Saí muito satisfeito, um grande filme e uma aula de Evangelho. Visitamos
também a Tia da R., Lourdes Mäder, o seu primo Cap Rubens e sua esposa Ângela
cuja irmã R. é casada com o Cap
Paladino, técnico da turma do Cap Roehl. No dia 21, sábado voltamos para a
Tijuca. O Padre José Maria foi nos buscar de Kombi. Antes me levou até o IME
onde ia conseguir ver as provas, mas não consegui pois a comissão estava de
férias. À tarde fomos até o Alto da Boa Vista e passeamos pela cidade. O Luiz e
a Dinah também aproveitaram e a Raymunda
também. O Padre José Maria está para sair da Paróquia. Talvez seja Capelão
Militar. No dia 22, domingo, fomos para Niterói. Chegamos bem tarde. Almoçamos.
Todos bem. Maria Helena, Josué, Eliane, Ronaldo, Renatinho, Robertinho, Rosane
e a empregada Dilma. Fomos à praia de Icaraí. Banho de mar. Jantar. Dormimos no
quarto da Maria helena. No dia 23, segunda, Voltamos para a Tijuca. Não fomos à
praia, pois mudou o tempo. No dia 24, terça, fomos a Marica com o Padre José
Maria, Raymunda, mamãe e dois garotos. Boa viagem. Dirigi um pouco a Kombi. É
fácil. Fizemos um piquenique em Marica. Passeio. Lagoa. Conserto na Kombi.
Regresso por Magé. O José Maria arrisca muito. Ele conhece bem o Rio de
Janeiro. Nos dias 25, 26, 27 e 28 muita
chuva. No dia 29, domingo, ficamos na Tijuca todos esses dias devido às chuvas.
Assistimos aos filmes: La Dolce Vita, Paixões Desenfreadas e Eu Pecador
(Mojica). Nós nos estamos amando muito e o nosso relacionamento tende à
perfeição. O tempo chuvoso nos obriga a ficar em casa. Visitamos a exposição da
Indústria de Automóveis e Autopeças. Muito interessante. Também visitamos o
Monumento ao Soldado Desconhecido. No
dia 30, segunda também ficamos em casa.
31/01/61 – terça –
Fomos para Paquetá. Todos bem. O Francisco Antônio (Tuquinha), filho da minha
prima Nair já está bem crescido. O Oscarzinho já está bem esperto. A Risoleta
está a cozinhar. O Oscar aproveitando as férias. A Violeta, a Vera e a filha do
Cel Paulo, Elaine vão bem. A Margarida
está gripada. O tempo continua chuvoso. Nós dormimos na casa do Dr Piedras marido
da Nair. Casa muito bem construída e em estilo moderno.
FEVEREIRO – 1961
01/02/61 – quarta –
Novo mês. Que Deus nos abençoe! Ainda em Paquetá. O tempo melhorou. Fomos à
praia.
02/02/61 – quinta –
Paquetá. Passeios de bicicleta. Fotos.
03/02/61 – sexta –
Paquetá. Banhos de mar. Muito bom. Regresso ao Rio. O Edison chegou ontem com o
navio aeródromo Minas Gerais. Fomos com o Luiz, a Diná e a mamãe visitá-lo. O
Dt Djalma Landinho, presidente da Susan. Regresso.
04/02/61 – sábado –
Apresentei-me no QG do Exército. À noite fomos a Copacabana com o Affonso. Tia
Lourdes, Cap Rubens, Ângela e o Cap Machadinho. Passeio. Pizza. Discussão sobre
o Lott.
05/02/61 – Domingo da
Sexagésima – Fomos à missa do meio-dia. Parábola do semeador. Pão de Açúcar.
14/02/61 – terça –
Dia chuvoso. Já estamos em Curitiba. Temos dormido na casa da rua do Rosário,
99. Pela manhã estudei inglês. O nosso regresso para Curitiba foi bom, graças a
Deus! Saímos do Rio no dia 07, no último banco do ônibus da Viação Cometa. Em
São Paulo estivemos com o Gilberto, Gilfredo, Lázaro, Maria Helena, Gildinha,
Ricardo, Reinaldo e Renata. Fomos a Guarujá, onde encontramos a irmã da Suely
com o sobrinho, filho do Felippe e e da
Suely, Rogério Felippe muito engraçadinho e gordinho. Depois chegou a Suely.
Achei-a bonita. Fomos à praia. À noite chegou o Felippe. Conversamos bastante. Jantamos. Ouvimos Vasco
2 x Real Madri 2. Cedeu-nos a cama do casal para dormimos. Achei muito bom
morar lá, ao lado do mar. A R. também. O barulho das ondas não para. Já a Suely
está enjoada e acha a casa muito grande. No dia seguinte, chuvoso, tiramos
fotografias e fomos à praia. O Felippe foi para o quartel. À tarde regressamos
à cidade de São Paulo, onde ficamos mais um dia (dia 9) onde fizemos compras e
visitamos a tia Sara e a Elza. A tia Sara não estava. Assistimos ao cinerama,
que achei interessante (Holiday). História de dois casais em lua-de-mel, um na
Suíça e França e outro nos Estados Unidos. No sábado, dia 10, regressamos no
avião DC-3 da Varig. Muito boa a viagem. Em Curitiba só de táxi gastamos Cr$600,00.
Apartamento.
15/02/61 – quarta –
Aniversário da Raymunda (49 anos). Passei um telegrama. Que ela seja muito
feliz!
16/02/61 – quinta –
Dormimos ainda na casa da rua do Rosário. Apresentei-me no QG. Chegaram a Dona
Lycia, Luis Armando, Pedro Achilles, Beatris e Lúcia. Almoço. À tarde estudei e
saí. Cortei o cabelo. Comprei um toca-discos por Cr$14.500,00. Catedral.
Confessei-me. Jantar. Dormimos no nosso apartamento. Continuo amando muito a
minha querida esposa.
26/02/61 – 2º Domingo
da Quaresma – Acordei às 08:00. No quartel saiu o Major Félix e no lugar ficou
o Tenente Mário. O nosso apartamento está muito bonito e arrumado. Dá gosto
morar nele. Durante todos estes dias temos feito as refeições na casa dos pais
da R. com exceção do café da manhã. Todos vão bem, graças a Deus! Recebi uma
carta do Sérgio Tavares e do Major
Botto. Ainda não iniciei o estudo para um novo concurso ao IME. Espero iniciar
no dia 1º de março. Hoje fomos à missa na igreja do Rosário, a missa dos
universitários. No Evangelho foi narrada a Transfiguração do Senhor no monte
Tabor. O Padre Doutor Gustavo falou-nos sobre a beleza da vida eterna. A R. e
eu não acertamos quanto ao lugar na igreja. Ela quer sentar junto com os
universitários e eu não. Almoço com a Dona Lycia, Dr Armando e Luis Armando.
Depois fomos os dois para o nosso apartamento. Li Dale Carnegie e dormi. Ela
leu um livro da biblioteca de Seleções. Chuva. Jantamos na casa dos pais dela.
Triste por ter perdido um anel. Regressamos e continuamos a ler. Dormi às 22:00
e ela às 23:30.
27/02/61 – segunda –
Acordei às 06:30. Dei um salto da cama. Exercício respiratório. Escrevi este
diário. À tarde reiniciei os trabalhos no quartel.
28/02/61 – terça –
Último dia de fevereiro. Mais um mês, graças a Deus!
MARÇO – 1961
01/03/61 – quarta –
Novo mês. Novas esperanças. Iniciei o estudo para o concurso ao IME. À tarde
fui ao quartel. À noite estudei.
02/03/61 – quinta –
Pela manhã fui ao quartel. À tarde paguei as contas. À noite fui ao CMP mas não
houve jogo. A R. e eu ficamos sentados ao lado da piscina. Em casa não estudei.
03/03/61 – sexta –
Coloquei os plafoniers e fiz outros
serviços em casa. Não estudei. À tarde fui aao quartel. Basquete. Esqueci de ir
à missa e comungar nesta primeira sexta-feira. Não temos rezado o terço.
04/03/61 – sábado –
Quartel. A R. levantou-se para fazer o café para mim. Providências
administrativas. À tarde fui ao CMP. Vontade de ir à piscina. Basquete. O Iacri
e eu fomos juizes no jogo entre o QG e o 20RI. Depois joguei com os colegas da
5ª Cia Com contra o 20RI. Ganhamos. Muitos me perguntaram se iria continuar a
jogar basquete e eu respondi que não pois tinha que estudar. Recebi uma carta
do Sérgio em que me disse que eu tirara
1,8 em Geometria, 2,8 em Álgebra e 8,6 em Línguas no último concurso. Também
recebi uma carta da mamãe escrita pela Risoleta. “Está em Paquetá. O tio Adrião
morreu no dia 09 de fevereiro de 1961. Deus lhe dê o céu! Sofreu muito mas teve
a morte de um justo com todos os Sacramentos. A mamãe esteve no sítio e em Itacuruçá.
O Padre José Maria já preparou os papéis para ser Capelão Militar, mas ainda
vai ficar de dois a três meses em Manguinhos, na Paróquia de São Daniel.” Hoje
o Luis Armando ficou conosco. Jantou e dormiu no apartamento. Lavamos os
pratos. A R. fez um café reforçado. Ficou a ler no quarto. Atualizei este
diário.
05/03/61 – 3º Domingo
da Quaresma. Fomos à missa na igreja do Rosário. Desta vez conseguimos um lugar
que contentou a nós dois. Antes ela queria ficar nos lugares reservados aos
universitários e eu não queria. Ficávamos de lado e ela reclamava que não podia
acompanhar no missal porque não via o celebrante. Em outro lugar porque não via
o padre fazer o sermão. Hoje é o aniversário do Ruy.
08/03/61 – quarta-
Nestes dias tenho estudado e ido ao quartel. A R. cozinha muito bem. Hoje
cortei o cabelo. Ônibus cheios. Cheguei às 19:00 em casa e a R. não pôde ir
mais ao cinema com os pais e ficou zangada. Preciso ser pontual mesmo não
fazendo muita questão de deixar o nosso lar para ir a um cinema.
18/03/61 – sábado –
Dia chuvoso. Fui ao Serviço Regional de Obras e ao 5º Regimento de Obuses 105.
Vários oficiais conhecidos. Fui ao estande de tiro com o Major Delvaux passando
pelo 5º Esquadrão de reconhecimento Mecanizado. Tenente Magno. São José dos Pinhais.
Conversa sobre o Professor Noronha, Lúcio Costa, Brasília, Niemeyer e
engenheiros. O ex-soldado Thomas era o motorista. Ontem fui ao quartel. Tudo
bem. Toldos nos jipes. Deixei bilhetinhos para os auxiliares diretos. Dia
chuvoso. Em casa tudo bem. A R. muito bonita e carinhosa fazendo do nosso lar
um verdadeiro ninho de amor. O bebê é que parece não querer vir logo. Seja
feita a vontade de Deus! Não tenho estudado direito ainda. No dia 16 passei o
dia no estande de tiro trabalhando no teodolito Wild com o cabo Ozório e o Sgt
Jó. No dia 15 foi o aniversário da 5ª Cia Com. Ajudei o Frei Silvestre na Santa
Missa e comunguei pedindo a Deus que abençoasse o nosso Exército. Perdemos o
futebol de salão para o CPOR e a Cia de QG. Fui o goleiro. À noite perdemos o
basquete para o QG. O almoço foi um churrasco. Do dia 9 ao dia 15 tudo bem,
cumprindo a missão de topógrafo no estande de tiro do Boqueirão. No quartel
mandei fazer umas repartições para as ferramentas das viaturas. Tenho estudado
pouco.
30/03/61 – Quinta-feira
Santa – Li o livro Concepção Católica da Vida em que o autor acha que muito da
desordem no mundo se deve à Reforma e defende a religião católica. Do dia 18 ao
dia 30 continuei a minha missão no estande de tiro. Já nivelamos metade dos
pontos e com mais um dia de trabalho espero terminar. No dia 28 assumiu o comado o Capitão Bruno Tancredo Porto que em outras palavras
disse que considerará bastante o lado humano dos subordinados. O General
Benjamin Rodrigues Galhardo, Comandante da 5ª Região Militar compareceu. Não
tenho estudado muito pois aguardo o início das aulas particulares com o Major
Botto. Com a graça de Deus todas as coisas têm saído bem. No lar estou muito
feliz com a minha esposa. No quartel as missões que dou aos sargentos são bem cumpridas.
Cada vez mais me ufano de ser brasileiro e católico. Sou feliz por já estar
casado. Peço a Deus que me ilumine e guie durante o resto da minha vida.
ABRIL DE 1961
Neste mês iniciei
definitivamente o estudo para o concurso ao IME, com a graça de Deus! No dia 8
a minha querida R. completou 19 anos de vida. Houve reunião familiar em nosso
apartamento tendo comparecido o Avô
Claro, o Tio Nery, a Tioa Emy, o Pedro Celso coma Elyane, a Célia, o Dr
Armando, a Dona Lycia, o Luís Armando, a Virgínia coma Betty, o Raul e as
amigas da R.: Terezinha, Vânia e outras.
MAIO DE 1961
No dia 13, sábado, recebi uma carta da mamãe
com muitas notícias tristes: a tia Arthemira estyá doente, o meu primo Edgard
está magro e cansado, o meu primo João Bosco, filho do Duca foi acidentado e a
morte do Dr Serpa Lopes. A R. desabafou querendo ter logo um filho para ter uma
companhia constante com ela já que eu não posso ficar mais tempo com ela.
Recebemos uma notícia inesperada: Fui transferido para uma cidade de Mato Grosso
chamada Aquidauana. Fomos ver no mapa onde era.
JUNHO de 1961
Completei 25 anos de
vida, ¼ de século de vida. Graças a Deus! Sou feliz com a minha R. com a graça
de Deus.
AGOSTO de 1961
Estamos em Aquidauana. Embarcamos no dia 2 no trem em Curitiba. Estavam
na estação: a Dona Lycia, o Dr Armando, o Luis Armando, o Ruy Carlos, o Ruy e a
Élia. Ficaram em casa: Dona Eulina, a Virginia e a Betty. No quartel, os
colegas. Fizemos boa viagem. Ourinhos. Ônibus. Bauru. Um desconhecido
prestativo. Hotel. CR. Trem. Susto na partida. Fui comprar uma crush e o trem
começou a andar. Entrei no último vagão e a R. pensou que eu havia perdido o
trem. Deixamos São Paulo e entramos em Mato Grosso. Campo Grande. Finalmente
Aquidauana. Na estação o Tenente Lauro Dias Marques nos esperava e me deu os
pêsames por ter sido transferido para lá. Foi muito prestativo conosco. O Cmt é
o Tenente Marcello. O médico é o Tenente Lobato. Há um Tenente antigo chamado
Marisco. Problemas. Sou o S!, S2, Ajudante, Secretário e encarregado do SFIDT
por falta de oficiais. Tenho estudado. A
R. não gostou da cidade. Muito calor, muita poeira, vento, falta de coisas,
custo de vida e água barrenta do rio Aquidauana que tem que ser fervida para
poder ser bebida. Tudo é motivo para eu estudar! Neste mês o russo Titov deu 25 voltas em
torno da terra. No dia 21 a mamãe
completou 68 anos. No dia 25 o Presidente Jânio Quadros renunciou. Denys.
Carlos Lacerda. Prontidão.
SETEMBRO de 1961
01/09/61 – sexta –
Sobreaviso no quartel. A cadeia da legalidade a irradiar contra a não assunção
do Jango, comandada pelo Leonel Brizola.
Machado Lopes é o General Comandante do III Exército rebelde. A R.
dormiu com a Dona Rosalda esposa do Tenente Dentista Paim. Na lata de manteiga
só foi por engano casca de limão. Estamos morando na casa do Comandante da 1ª
Cia do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, provisoriamente. Almoçamos no Lord
Hotel, do Seu Honorinho e Dona Loris.
02/09/61 – sábado –
Acordei no quartel. O Tenente Lauro Dias Marques chegou ontem de Campo Grande.
Eu sou o S1, S2 e Ajudante Secretário da Unidade. Tenho estudado para o
concurso ao IME. Tenho gostado do quartel. Há muita coisa para se fazer. Ordem
Unida. Reuniões. O Aspirante Waldir de Intendência foi promovido a 2º Tenente.
A R. e eu fomos à cidade. Almoço. Compras. Nós nos amamos muito. Deus ainda não
nos quis dar um filho. Seja feita a vontade Dele. O Tenente Lauro vai dormir no
quartel. É um bom amigo. Agora posso dormir em casa com a minha R.. Continuamos
a almoçar no Lord Hotel. A comida é muito boa e variada. Aos domingos vamos à
missa na igreja Matriz às 17:30. Vamos de charrete e é um passeio. À noite
tenho estudado. Tenho confiança nos céus de que passarei. No quartel tenho me
saído bem nas missões. Tenho dado instruções quase todos os dias. Passaram em
visita o Gen Emílio Garrastazu Médici e outro Coronéis, Tenente Coronéis e
Capitães. Criticaram o quartel. A R. está sentindo umas dores esquisitas.
Escrevi para a Dona Lycia achando que era o neném.
27/09/61 – quarta –
Fomos ao médico. Remédios e exames.
28/09/61 – quinta –
Ao chegar do quartel perguntei à R. sobre os resultados dos exames e ela me
disse que no sangue não havia nada e que o outro de urina só no dia seguinte.
Eu perguntei: “Mas você não me disse que não precisava mais ir ao médico?”.
Então ela me confessou que estava esperando um neném! Fiquei muito contente.
Graças aos céus! Vou ser papai e ela mamãe. Eu que pensei que não tinha
capacidade. Falta-me confiança em Deus! Pedi a Deus para abençoar mais esta
criatura!
30/09/61 – sábado –
Terminou mais um mês. Comunguei pouco devido a dúvidas quanto a faltas
cometidas. Continuo mirando o céu como última morada junto a Deus. O amor para
coma minha R. está se tornando mais espiritual e verdadeiro. Recebi uma carta
da mamãe, datada de 12/09/61, em que dizia:”Para sempre seja louvado N.Senhor
Jesus Cristo! Estive em Guarujá durante 10 dias e no aniversário do Rogerinho.
Gostei muito e passei 4 dias em São Paulo com o Gilberto. Estou me tratando no
Hospital Central do Exército e me dando bem. Hoje a Arthemira veio para cá.
Cedi o meu quarto para ela e quem vai cuidar dela é a Inês, sua nora e esposa
do filho Orlando. Depois de 1 mês ela vai para a casa da filha Nair. Ela está
passando bem mas não fala e nem se movimenta. O filho Edgard tem muita
esperança em Deus e em Nossa Senhora de Lourdes. O Padre José Maria vez por
outra aparece aqui, estando bem de saúde e trabalhando no Jardim América para
transformar a Capelinha de madeira em Paróquia. Eu aluguei a nossa casa de
Marica, por Cr$2.000,00 por mês. A Anna Maria espera um bebê para janeiro. O
Affonso ficou noivo e a noiva é filha do Coronel Boiteux e é muito boazinha. O
Edison e família mandam lembranças. A Risoleta está cansada. O Oscar está na
Fábrica de Bonsucesso. O Orlando está no apartamento da Arthemira. Escreva para
o Padre Augusto. Rezo para que seja feliz nos exames. Beijos e abraços de sua
mãe Umbelina.”
OUTUBRO de 1961
A R. foi para
Curitiba. Que saudades! Não posso viver sem ela. Estudei para o concurso.
Escrevi e recebi cartas. Todos bem. Tia Arthemira na mesma. Consegui rezar o
terço todos os dias. Ainda estou na casa do ex-Comandante.
NOVEMBRO de 1961
Mudei-me para outra
casa. Tenho recebido cartas da R. e da mamãe. No quartel fomos visitados pelo
Cmt do II Éxército, General Nelson de Mello, pelo Cmt da 9ª RM, pelo Cmt da 4º
Divisão de Cavalaria e outros. Tenho estudado para o concurso. Vou transcrever
uma carta que escrevi para a mamãe, no dia 29 de novembro de 1961 “Minha
querida mamãe,- Para sempre seja Ele louvado! – Como me pediu, apresso-me em
responder-lhe a carta de 22 deste, aproveitando uma hora em que o sono não me
deixa estudar, mas me permite escrever duas cartas, uma para a senhora e outra para a minha querida
Regina. Ela está em Curitiba muito bem, graças a Deus, e com muitas saudades;
pretende ir para São Paulo no dia 12 de dezembro com a D. Lycia e de lá vir até
Aquidauana, onde junto com o Dr. Armando e o filho Luis Armando, que chegarão
nas vésperas, passaremos o Natal, todos juntos. A senhora não quer também vir
depois até Aquidauana? Olhe, eu deverei
estar em São Paulo no dia 8 de dezembro e lá nós combinaremos. A Regina em
Curitiba assistiu ao filme nacional – A Primeira Missa - que é sobre a vida de um seminarista pobre
que consegue ser padre. Ela me escreveu dizendo que gostou muito e que também
quer ter um filho sacerdote... Deus é quem sabe... espero saber educar tão bem
como a senhora... A solução que o Josué deu para o caso do apartamento foi
boa... primeiro os parentes. Continuo estudando bem para o concurso que se
aproxima. Tenho confiança em Deus, nas orações de todos e um pouquinho em
mim... agora depende da prova... Este ano estou melhor preparado que no ano
passado: tenho tudo para passar, mas se Deus não o permitir, seja feita a vontade
d’Ele, e no ano que vem, tentarei
diretamente para o 1º ano, fazendo somente em duas matérias...Por aqui,
tudo muito parecido com o Rio: calor, mosquitos. Água não falta, mas vem
barrenta. A comida no hotel é muito boa e os donos de mesmo, muito gentis. A
novena da Imaculada Conceição, iniciou-se com grande assistência. É a Padroeira
da cidade. Há um costume de ficar uma imagem de Nossa Senhora, cada dia na casa
de um católico. Aliás, lá em Curitiba, também havia esse costume. Só aí no Rio é
que não. Agradeço os parabéns da
Raymunda. Desejo muitas felicidades para ela, e peço as orações dela para que
eu me saia bem nas provas. Envio um abraço para o Dr. Edgard, de apoio moral,
nesta fase em que a querida tia Artemira está tão doente... Peço a Deus que
melhore. Lembrança a todos os parentes. À Anna desejo muitas felicidades em
janeiro, e à mamãe Célia, os parabéns.
Que todos estejam e permaneçam felizes, na graça de Deus! Para a senhora
um beijo afetuoso do _ Trio de Amor :
Regina – netinho (a) – Felinto “
DEZEMBRO de 1961
Saudades da R..
Estudo para o concurso. Fui para São Paulo em avião da Cruzeiro do Sul. Boa
viagem, graças a Deus! Fiquei no quartel da 7ª Cia de Guardas onde encontrei o
Lopes e o Bozon. Estudo. A R., a Dona Lycia e o Luis Armando chegaram de
Curitiba. Em São Paulo revi o Gilberto, a Maria Helena, a Gilda, o Ricardo, a
Renata e o Reinaldo. A mamãe veio do Rio com a Eliane. Graças a Deus, todos
bem. A Tia Arthemira continua na mesma.
12/12/61 – terça –
Prova de Línguas. Em Inglês fui muito bem e em Francês cometi uns 7 erros
(couchant em joue = apontando).
15/12/61 – sexta –
Álgebra. Faltou tempo. Saí-me razoavelmente, graças a Deus. Espero uns 4,75.
O Dr. Armando teve um
“amolecimento”. A Dona Lycia e o Luis armando foram de avião para Curitiba. Que
Deus lhe devolva a saúde. A R. resolveu voltar comigo para Aquidauana.
19/12/61 – terça –
Prova de Geometria Complementar. Prova diferente. Todos achando que saíram mal.
Espero uns 3 e pouco.
Regresso a
Aquidauana. Ônibus até Bauru. Hotel. Trem. Aquidauana. Calor. Na expectativa do
resultado do concurso.
Natal de 1961 – A R.
e eu fizemos o nosso Natal. Ela armou e enfeitou uma árvore de Natal e fez dois
enfeites natalinos. Compramos uma garrafa de champagne. Dormimos cedo pois o
sono veio logo.
ANO DE 1962
JANEIRO DE 1962
01/01/62 – segunda –
Iniciamos o ano juntos, a R. e eu. Ela comprou uma champagne e nós brindamos
sozinhos. Desta vez conseguimos ficar acordados até meia-noite. Estamos em
Aquidauana. A R. sente o calor e a solidão. Temos ido à missa na Matriz de
Nossa Senhora da Conceição, todos os domingos. Às vezes comungamos. Sinto-me
muito feliz, graças a Deus! Estou na expectativa do resultado do concurso. Acho
que passei.
08/01/62 – segunda –
Aniversário de noivado, 1 ano e 9 meses.
10/01/62 – quarta –
1º aniversário de casamento. Graças a Deus! Que o Senhor nos abençoe e nos dê a
graça santificante. Agradeço-lhe ter-me dado tão carinhosa esposa.
18/01/62 – quinta –
Soube que não havia passado no concurso. Senti uma grande decepção mas seja
feita a vontade de Deus! Faz muito calor. Às vezes chove e venta. Pedi revisão
da prova mas não me concederam dizendo que se basearam em casos idênticos que o
Sr. Ministro despachara.. A R. ficou triste de eu não ter passado, mas se
conformou. Quer que eu vá para o Rio tirar um curso. Ela está esperando neném
desde agosto. Se for homem quer dar o nome de Guilherme e se for mulher, Dayse.
Acho a minha esposa muito bonita. Agradeço a Deus ter-me dado esta companheira.
Peço-lhe que nos abençoe por toda a vida.
FEVEREIRO DE 1962
Mais um mês que se
inicia. A R. sente a solidão e o calor.
17/02/62 – Chegaram
no mesmo trem: o Dr. Armando, a Dona Lycia, o Luís Armando, o Capitão Lybio
King, a Dona Cleusa, a Cleusa Maria, o Ney César, o Nestor e a criada Tereza.
Muita chuva. O SR. Honório Simões Pires muito nos ajudou. O Dr. Armando sente
uma das pernas. Todos felizes juntos outra vez. A R. e a Dona Lycia juntas
muito trabalhavam. Vi que o que faltava para a R. era uma companheira. Tiramos
fotos. Fomos à missa. O Luís Armando gostou da charrete e do trem. Fomos ao
cinema. Fizemos as refeições no Lord Hotel. Após uma semana foram embora a Dona
Lycia e o Dr Armando. O Luís Armando ficou para ir com a R.. Parece que está
gostando.
MARÇO DE 1962
Passou o Carnaval e
nós em casa. Bem que uma moça amiga nossa chamada Marli brincava com o Luís
Armando para ele ir ao baile com ela. Em casa dormíamos cedo. Para mim valia
muito mais estar com a minha querida esposa. Infelizmente depois do Carnaval,
ela e o Luís Armando foram embora de avião. Tiveram que esperar um dia na
cidade de Campo Grande. Em São Paulo tiveram que desistir de ir de ônibus.
Foram de avião para Curitiba.
25/03/62 – domingo –
Aniversário do 9º Grupo de Canhões 75 Auto Rebocados da vizinha cidade de Nioaque. Fomos ontem a
Nioaque: Tenente Lauro, Tenente Waldyr, Tenente Dias e eu. O Capitão King chegou
depois com a família. Fiquei em 9º lugar no tiro com 98 pontos. O 1º colocado
fez 126 pontos. Vencemos no basquete por 33x31. Cansei no 2º tempo. Todos
felizes com os resultados. A Marli foi a madrinha do time. Voltamos de
jipe.Cheguei às 18:00 em Aquidauana e não pude assistir à missa.
26/03/62 – segunda –
Recebi uma carta da R.. Está em Curitiba. Muitas saudades!
27/03/62 – terça –
Não tem quase chovido em Curitiba. Os dias têm sido ensolarados. Continuo
fazendo as refeições no Lord Hotel, indo a pé por economia. Tenho dado Educação
Cívica para os alunos e alunas do
Ginásio Paroquial Imaculada Conceição. Também Educação Física às terças,
quintas e sextas. Senti dificuldade em
dar educação física para as moças, mas tudo foi bem. No quartel tudo em progresso.
Escrevi cartas para a R. e para o Sérgio. Não tenho estudado.
28/03/62 – quarta –
Despedida do Tenente Lauro Marques. Churrasco. O Tenente Marcelo faltou. Um
indivíduo foi ao quartel e contou muita coisa sobre a sociedade local. Em casa
reli este diário. Tenho que reiniciar o estudo com a graça de Deus!
ABRIL DE 1962
Mais um mês que se
inicia e eu longe da R..
08/04/62 – domingo –
Aniversário da R.. Levantei-me às 08:00. Escrevi uma carta para o Sérgio e
iniciei uma outra para a R.. Ontem no Torneio Início de Futebol de Salão, no
quartel, o Vilagran foi o campeão e eu fiz dois gols. Tenho dado educação
física e cívica para os alunos e alunas do Ginásio Imaculada Conceição. No
quartel tenho desempenhado as funções de S1, S2, S3, Ajudante-Secretário, Oficial
de Educação Física, Oficial de Tiro e deverei receber as viaturas. O Capitão
Lybio King é de boa vontade e está resolvendo os problemas. O calor na cidade
de Aquidauana é forte e não tem chovido. Não tenho recebido notícias da mamãe.
A R. tem enviado cartas. Está com muitas saudades. Tem sentido as dores da
gravidez.
22/04/62 – Domingo de
Páscoa – Continuo longe da R.. Na sexta-feira santa acompanhei a Procissão do
Senhor Morto. Ontem recebi uma carta da R. em que ela me pede para ir com
urgência para Curitiba mas no quartel eu tenho compromissos. Tentarei ir no
próximo dia 25. Ela me enviou umas fotografias dela, do Luis Armando e da
Betinha. O avô Manoel Claro Alves está muito mal. Eu não tenho me dedicado ao
estudo quanto desejo devido as atividades extras. Mas quando começar com
vontade o estudo espero ir, não, irei até o fim sem parar! Tenho que me formar
engenheiro, se Deus quiser!
25/04/62 – quarta –
Partida para Curitiba. Na estação ferroviária estavam o Cap King, o sargento
Marino e soldados. Na cabine do trem foi comigo a mocinha Terezinha Souza a
pedido do Cap King. Passamos por Campo Grande. Dormimos.
26/04/62 – quinta -
Chegamos em Araçatuba às 13:00. Almoçamos. Ãs 19:20 tomamos o ônibus FNM,
carroceria Caio para São Paulo. Boa viagem.
27/04/62 – sexta –
Chegamos em São Paulo às 05:30. Resolvi ir logo para Curitiba. Estrada com
defeitos. Chegamos enfim a Curitiba. Frio. Táxi. Entrei pela cozinha. Uma nova
empregada, Dona Maria foi chamar a R.. Enfim apareceu a minha querida esposa.
Está esperando neném mas sempre a acho muito bonita. Como é bom o reencontro com a pessoa amada! Todos
bem mas o avô Claro está doente e o pai
Armando bem melhor e trabalhando.
28/04/62 – sábado – Fui
me apresentar no Quartel General e depois fui ao médico com a R.. Assistimos
televisão.
29/04/62 – domingo –
Fomos à missa. No sermão o padre disse que devemos viver segundo a fé. Não
temos necessidade de evidência que um São Tomé racionalista exigiu do Senhor.
Almoço. Casa dos avós. Conversa sobre vários assuntos. Álbum da família.
30/04/62 – segunda –
Acordei às 09:00. Café. Ginástica. Banho. Almoço. Fui ao Estabelecimento
Regional de Subsistência com a Dona Lycia e a R.. Encontrei generais já na reserva.
Encontramos a tia Anneci, o seu filho Renato com a esposa Consuelo. Coloquei
cartas no correio para a Maria José e o Sérgio. Lanche na Confeitaria Iguaçu
com a R.. Às 20:00 fomos assistir ao filme Spartacus no novo cine Marabá.
História de um escravo que se revoltou
mas no final morreu em uma cruz na Via Appia. O Luis Armando foi
conosco.
MAIO DE 1962
01/05/62 – terça –
Dia do Trabalho – Mudei a fita da máquina de escrever do Dr. Armando. Dia
chuvoso. Continuo em Curitiba, junto do
meu Bem, aguardando o nascimento de nosso primeiro filho. Peço a Deus que nasça
com saúde e perfeito. Confessamo-nos no Catedral.
02/05/62 – quarta –
Acordei às 08:00. Estudei. À tarde demos uma saída. Relógio no relojoeiro.
Televisão.
03/05/62 – quinta –
Acordei às 08:00. Levantamos às 09:00. Estudei Eletricidade. À tarde houve
trote de calouros. Fomos ao dentista que é o Tio da R., Nery Simas Alves. Graça
a Deus não tenho cáries. Comprei um livro: “Aspectos psico-biológicos do
Matrimônio” de P.P. Paes de Carvalho, pela metade do preço. À noite vimos
televisão. O Dr. Armando foi jantar fora. Fomos dormir como sempre no
escritório dele, no sofá-cama. O frio ajuda a dormir.
04/05/62 – sexta –
Acordei às 08:15. Café. A R. ficou triste quando eu disse que teria que voltar
para Aquidauana no dia 22.
05/05/62 – sábado –
Tenho estudado um pouco de Eletricidade ( Intensidade do campo magnético).
Tenho assistido à Televisão.
06/05/62 – domingo –
Domingo do Bom Pastor – Fomos à missa na Igreja do Rosário. O Padre Doutor
Gustavo Pereira falou sobre a necessidade de um catolicismo ativo e sincero.
Tomamos vinho ao almoço. Dormimos um pouco. Depois fomos à casa dos avós. Lá
estavam: avô Manoel Claro, avó Élia, tia Lourdes, tia Emy, tia Anneci, a Lúcia,
tio Nery, Dr. Armando, Dª Lycia e o Luis Armando. O Brasil jogava com Portugal
no Pacaembu e venceu por 2x1. O avô Claro ainda está com vestígios da doença.
Depois chegou o tio Ernani com os remédios.
Regresso. TV. Dormir.
07/05/62 – segunda –
Escrevi uma carta para o Capitão King, meu comandante em Aquidauana. A R.
insistiu para que eu pedisse mais 8 dias para desconto nas férias. Ela tem
comprado coisas para mim. Está esperando o bebê para esses dias. Sente-se bem,
só que o andar é um pouco diferente devido ao peso. No humor nem parece que vai
ser mãe: sempre alegre, jovial e bem disposta, e cada vez mais bonita. Amo-a
muito! A televisão está apresentando um defeito, acho que é devido à antena.
Fui na Biblioteca Pública e consultei sobre as antenas Yagi. Penso em subir no
telhado para tentar melhorar. Estudei.
08/05/62 – terça –
Estudei. Estou gostando da matéria: Campo elétrico produzido por um condutor e
uma coroa. Subi no telhado e com a ajuda da R. e do Luis armando melhorei a
recepção da TV graças a Deus! Fomos fazer compras na cidade. A R. me deu um par
de sapatos como presente do próximo aniversário. À noite vimos TV. Rubens
Requião x Lopes Munhoz sobre Ney Braga e Moisés Lupion, até 01:05.
09/05/62 – quarta –
Estudei Lei de Gauss e linhas de força. A R. foi visitar a amiga Terezinha,
esposa do Cap Camargo. À noite assisti ao filme “A Família Trapp”. História de
uma moça de convento que foi designada para ser ama na casa de um capitão
reformado da Marinha com sete filhos. Ela encontra um ambiente de quartel. Aos
poucos transforma tudo e ensina os meninos a cantar. Casa-se com o pai dos
meninos. Acaba o dinheiro. A casa vira hotel. O coral cria fama. Vem a anexação
da Áustria à Alemanha e eles fogem para os Estados Unidos onde a custo
conseguem entrar e obtêm sucesso. Gostei da ingenuidade e confiança em deus que
a moça demonstrou. “Sempre que Deus fecha uma porta, abre uma janela”. O Brasil
jogou com Portugal e venceu na 2ª etapa por 1x0, gol de Pelé mas eu não vi o
jogo preferindo ficar com a R..
10/05/62 – quinta – 1
ano e 4 meses de casados. Sinto-me muito agradecido a Deus pela esposa que me
deu. Que possamos comemorar sempre juntos muitos aniversários de casamento! Que
a sagrada família e Santa Terezinha derramem bastante graças sobre a nossa
família que em breve se tornará composta de três: ela, o nenê e eu. Estudei
Eletricidade.
11/05/62 – sexta –
Recebi livros, polígrafos e provas enviados pelo Sérgio. É muita boa vontade da
parte dele. Deu-me um livro, um polígrafo e emprestou-me um outro livro.
12/05/62 – sábado –
Saí com a R.. Comprei um livro de Termodinâmica. Visita de um Doutor lá do
Norte. No futebol Brasil 3 x País de Gales 1.
13/05/63 – domingo –
Dia da Mães – Demos um guarda-chuva para a Dona Lycia. O Luis Armando deu uma
estola. Na missa das 11:00 o Pe. Dr. Gustavo falou sobre as belezas de uma mãe.
Fomos à casa dos avós. O avô Claro estava passando mal. Fiquei conversando com
a R. e o Luis Armando. Ao chegarmos em casa a Da. Lycias disse-nos que a mamãe
havia telefonado dizendo que não vinha a Curitiba devido ao frio mas queria que
eu fosse ao Rio pois desejava muito falar comigo.
14/05/62 – segunda –
O neném ainda não nasceu. Tenho estudado Eletricidade. Potencial e energia
potencial.
15/05/62 – terça –
Temos acordado às 09:00. A R. já arrumou o berço tenho colocado uma boneca
deitada. O carrinho ficou muito bonito que, aliás, foi o mesmo que ela usou
quando criança. Ela foi visitar com a Da. Lycia a Maternidade do Hospital das
Clínicas. Tenho estudado Diferença de potencial. Eu não me sinto muito bem no
frio. Fico com o nariz entupido e ruim da garganta. Temos visto à noite bons
programas na televisão.
16/05/62 – quarta –
Estudei Potencial e Distribuição de Carga. À noite fomos ao cinema. Os pais da
R. foram ver outro filme. A R., o Luis Armando e eu fomos ver “O s jovens anos
de uma rainha”com a artista Romi Schneider, no Cine Arlequim. História da
mocidade da Rainha Vitória, da Inglaterra.
17/05/62 – quinta –
Nascimento da nossa primeira filha: Dayse! Às 06:00 a R. acordou-me. Parecia
que havia rompido a bolsa. Vestimo-nos. Tomei o café meio apressado. Chamamos
um táxi e fomos para o Hospital das Clínicas a Dona Lycia, a R. e eu.
Maternidade nova. Apartamento 516. Chegamos às 07:30. As contrações haviam
começado. Tomei nota a partir das 09:47. A R. aplicou o que aprendeu nas aulas
de parto sem dor. Respiração e Rema-Rema. A última contração que anotei foi às
15:14 e durou três minutos. Depois o Dr Jaime Guelman resolveu levá-la para a
sala de parto. Beijei a R. e lhe desejei felicidades. A sala de parto é bem moderna.
Duas Irmãs de Caridade atendiam e uma também se chamava R.. Às 16:15 nascia uma
menina pesando 3,60kg. Morena de cabelos pretos. O Dr Armando também havia
chegado. Recebi os cumprimentos de papai. Agradeci a Deus e à Santa Terezinha
ter tido uma filha. Peço a Maria Santíssima que cubra a Dayse com o seu manto e
a proteja do mal. A Dona Lycia e eu ficamos com a R. que estava deitada. Eu fui
depois para casa de onde telefonei para o Rio falando com a Eliane que me
perguntou pela R. e pelo neném. Falei depois com a Maria Helena que ficou
contente com o nascimento de mais uma sobrinha. A mamãe não estava, ela
chegaria na terça-feira e telefonaria no domingo à noite. Toda contente ela me
disse que transmitiria a todos a boa notícia. Jantei e saí com o Dr Armando.
Levei as notícias aos jornais: Diário do Paraná e o Estado do Paraná. Comprei
bombons para a R.. Voltei. Telefonei para ela dizendo as notícias esquecendo-me
de dizer que enviara um telegrama para o Cap King. Fui dormir depois de
assistir pela televisão o But Masterson.
18/05/62 – sexta –
Acordei às 08:00. Fui comprar um buquê de flores para a R. e cortei o cabelo.
Fui buscar o relógio de parede. Almocei e fui para a Maternidade com o Dr
Armando de ônibus. Lá estavam o tio Arildo e a tia Lourdes. Conversamos. Chegou
o Dr Guelmann que falou sobre o parto. O neném veio tomar leite. Fiquei para
dormir. O neném tem mamado de três em três horas das 06:00 às 22:00. Dizem que
tem a boca da mãe, o nariz da Dona Lycia e o resto do pai. A Dona Lycia e a R.
fizeram um enxoval de princesa. Acho a nossa primeira filha muito engraçadinha.
19/05/62 – sábado –
Acordei às 04:00 e às 06:00. Tenho lido o livro em inglês The
Adventures of Huckleberry Finn de Mark Twain’s simplified and adapted by Robert
J. Dixson. A R. vai melhorando bem. Quando a Dayse chupa o leite ela me
diz que dói bastante e sente cólicas. A Dayse logo de início aprendeu a pegar o
bico do seio. A R. dá um de cada vez. A Dayse parece ser bem quietinha. Não dá
muito trabalho. Já obrou o mecônio e agora está saindo mais amarelo. Depois da
mamada ela vai para o berçário onde fica aos cuidados de uma enfermeira. Há
mais um menino e uma menina lá. O menino é o mais chorão. Hoje a Consuelo esposa do primo Renato veio visitar e trouxe
uma toquinha. Mais tarde vieram a tia Lourdes e a prima Lúcia. O Dr Armando, a
Dona Lycia e o Luis Armando também apareceram. O Luis Armando, titio, deu uma
medalha de ouro com o Anjo da Guarda. Assisti da janela à abertura dos XIII
Jogos Universitários Paranaenses. Em um dado momento o orador falou: o Major,
digo, o Coronel, digo, o General Ney Amintas de Barros dará início aos 800
metros. Hoje faltou luz devido à falta de chuvas nestes dias. Um padre de São
Camilo de Lelis veio nos visitar. Cofessei-me com ele. A R. não gostou porque
saiu errado no jornal a data e o nome dela. Ela me acha comodista em tudo.
20/05/62 – domingo –
Às 06:30 faltou luz. Um padre trouxe a comunhão para a R.. Levantei-me, fiz
ginástica e tomei banho. Fui à missa na igreja do Rosário com a Dona Lycia e o
Luis Armando. O Pe. Dr. Gustavo Pereira falou sobre a greve sob o ponto de
vista moral católico. Os quatro motivos que dão justificativa a uma greve são:
1) causa justa 2) as vantagens compensam os prejuízos 3) o último remédio 4) há
possibilidade de êxito. Os piquetes são moralmente aceitos sem sangue nem
violência. A sabotagem sempre proibida. Após a missa falei com o Padre Gustavo
que me reconheceu e me disse que a missa das onze é a minha missa e ele é o meu
padre. Pedi-lhe que fosse ver o avô Claro e combinamos para amanhã. Almoço. Fui
ao correio. Comprei doces para a R.. Maternidade. Visitas: tio Nery, tia Emy, a
Eliane, a Célia, tio Ernani, tia Nini, a Sara, a tia Anecy, o Renato, a
Beatriz, a Lúcia e o Pedro. Conversei sobre os problemas sociais com o Dr
Ernani, sobre a Maternidade com o tio Nery, sobre a indústria com o Renato e
sobre indústria e futebol com o Pedro. Todos acharam a Dayse bonita.Voltei para
casa de ônibus com o Dr Armando e o Luiz Armando. Jantamos e vimos TV. A mamãe
telefonou do Rio dizendo que vem de ônibus na terça-feira com a Dinah. Todos lá
vão bem com exceção da tia Arthemira. A R. ligou e lhe dei as notícias. Na TV a
Miss Paraná tocou piano e cantou. Red Skelton Show. Estávamos assistindo: o Dr
Armando, do Luis Armando, Dona Lina e eu. Fui dormir às 22:20.
21/05/62 – segunda –
Saí com o Dr Armando. Registrei a Dayse. Talão nº 82. Pág 108. Registro Civil.
Estado do Paraná. Distrito de Curitiba. 5ª Zona. Bacharel Jurandir de Azevedo e
Silva. Nascimento nº 1158. Certifico que às fls 131 do livro nº 25 de Registro
de Nascimentos foi lavrado hoje o assento de “DAYSE TRAMUJAS VASCONCELLOS”
nascida aos dezessete de maio de 1962 (mil novecentos e sessenta e dois) às
dezesseis horas e quinze minutos em A Maternidade do Hospital das Clínicas,
nesta cidade, do sexo feminino, de cor branca, filha legítima de Felinto Paulo
de Oliveira Vasconcellos e de sua mulher dona R. Maria Tramujas Vasconcellos,
esta natural deste Estado e aquele do Estado da Guanabara, casados nesta Cidade
e residentes em Aquidauana, Estado do Mato Grosso, Avós paternos: José Assis
Vasconcellos e dona Umbellina de Oliveira Vasconcellos. Avós maternos: Armando
da Cunha Tramujas e dona Lycia Alves Tramujas. Foi declarante: o Pai. Serviram
de testemunhas Armando Tramujas e Joel da Costa penter. O referido é verdade e
dou fé. Curitiba, 21 de maio de 1962. Assinado: Jurandir de Azevedo Silva,
Oficial do Registro Civil. Foram tiradas mais duas cópias, Cr$580,00, pagos
pelo Dr Armando. Fui depois à fábrica de malas Ika, onde me deram uma nova alça
para mala só que o couro era preto. Fui à Maternidade levar um remédio para a
R. para o leite sair mais (Cr$800,00). Voltei com o Dr Armando de táxi
(Cr$90,00). À tarde limpei um rádio Philips muito bom, do Dr Armando. A Dona Lycia,
a tia Eleonora, a Élia e a Verinha trouxeram de carro a R. com a Dayse. Chovera
mas logo voltou o sol. A Dayse estava chorando. Foi para o andar de cima da
casa e ficou na cama da Dona Lycia. Levei o carrinho lá para cima. Fui levar o
Padre Doutor Gustavo Pereira para ver o avô da R., Manoel Claro Alves, graças a
Deus! Tudo correu bem. Conversaram bastante sendo o Monsenhor Celso e a mãe
dele Dona Paulina Carolina Alves o meio para iniciar a conversa. O ponto em que
o avô crê piamente é na reencarnação. Em dado momento o avô declarou que
deveria ser muito católico. Saímos convencidos de que a graça de Deus pode
resolver este caso. O Pedro casado com a prima da R., Beatriz que chegaram há pouco da lua-de-mel levou-nos
para casa. Em casa soube que um quadro caíra da parede e quebrara vasos e copos
da Dona Lycia. Disse que iria escrever para mais tarde contar para a Dayse. À
noite assisti à Interpol na TV e levei uma cama para cima. Durante a noite a
Dayse chorou muito tendo a Dona Lycia se levantado muitas vezes. Eu só acordava
mas como não era solicitado continuava a dormir. Estou muito contente em ser
pai e acho a nossa filha muito bonita. Que Deus a abençoe! A.M.D.G.
22/05/62 – terça –
Era para eu ir embora hoje pelos meus cálculos anteriores, mas como a mamãe me
telefonou dizendo que chegaria hoje, resolvi só chegar em Aquidauana na 2ª
feira. A R. fica triste quando eu falo que está para eu ir embora. À noite
fiquei desde as 21:00 na Estação Rodoviária esperando pela mamãe e a Dináh. Fui
até o Diário do Paraná mas já estava fechado. Às 23:45 resolvi perguntar se o
ônibus estava atrasado. Disseram-me que já havia chegado. Fui a pé para casa.
Já ia dormir quando o telefone tocou: era a mamãe... o ônibus chegou logo que
eu saí. Disse-lhe que pegasse um táxi. Logo depois chegaram ela e a Dináh.
Cumprimentos. Dr Armando, Dona Lycia e eu. Logo fomos dormir. Sou grato a Deus
por ter podido ver mais uma vez a minha querida mamãe! A Dayse chorou um pouco
durante a noite. A Dona Lycia tem agido como uma verdadeira mãe. A minha R. tem
aproveitado para se recuperar.
23/05/62 – quarta – A
mamãe e a Dináh foram à missa na Igreja da Ordem. Conversei com a mamãe
perguntando sobre todos. O Padre José Maria vai bem. Receberá uma nova Paróquia
para resolver os problemas, pois certas presidentes de congregações querem
mandar mais que o Pároco. Quase que ele vinha também a Curitiba. O Felippe e a
Suely vão bem, compraram uma televisão. O Felippe é o primeiro aluno no Curso
sobre Automóveis. Anda lidando com o carro do Luiz. Parece que quer ir para
Brasília. O Rogério Felipe vai bem. O Luiz vai bem no emprego. Talvez passe a
ganhar muito mais. Os filhos estão sendo criados em Itacuruçá. A Maria Helena e
o Josué Esperam ter novo filho em junho. Quer vender o “estufa” e está comprando
um apartamento para fins lucrativos. O Josué é sócio de um clube na Barra da
Tijuca. O Ronaldinho joga muito futebol
e é muito compenetrado nos estudos. A Raymunda gosta muito dos afilhados e vai
bem, sempre esperando poder ajudar o José Maria. O Frank e a Heloísa vão bem.
Comprou um apartamento em Ipanema e o Frank fez uma operação. O Frankinho está
alto. A R. Helena quer ser freira. O Oscar e a Risoleta vão bem e estão muito
absorvidos pela netinha Cláudia. Enviaram Cr$1.000,00. Aliás a Dináh também havia
dado Cr$1.000,00. O Affonso vai casar em dezembro com uma moça chamada Marisia,
irmã do meu colega da AMAN, Nilmar Reis Boiteux. A Margarida já é professora e
não pretende se casar. A Dada (Violeta) e a Vera já têm pretendentes mas só
querem os bonitos. Estão aprendendo a dirigir. A Anna e o Hélcio vão bem. Está
morando com a sogra. A filha Cláudia é muito bonita e engraçadinha e se parece
com a mãe do Hélcio. Enfim, todos bem. Até a tia Arthemira ri e dá gargalhadas
apesar de não poder falar e continuar doente.
24/05/62 – quinta –
Batismo da Dayse. Mamãe, Dináh, R., Dayse e eu fomos à Maternidade onde a Irmã
R., a enfermeira Elza e o Dr. Antunes cuidaram da Dayse. Ela vai indo bem
dentro do normal, pesando 3.270 gramas. Ãs 17:00 mais ou menos a Dayse já
estava batisada. Ãs 16:00 os padrinhos Pedro Achilles e Beatriz levaram-na para
a Catedral. Compareceram a mamãe, a Dináh, a tia Lourdes, a tia Eleonora, o Dr
Armando, a Dona Lycia e a Élia. Fui chamar o Padre Rafael Rodrigues SSCC. A
Dayse estava chorando muito mas depois que foi batizada deixou de chorar. O
Padre Rafael deu os parabéns a todos e desejou muitas felicidades para a Dayse.
Finalmente deu-lhe uma benção, fazendo o sinal da cruz na testa dela. Em
seguida a mamãe a levou no colo até o altar principal onde o Padre Rafael
presidiu a Consagração a Nossa Senhora feita pela mamãe que foi portanto a sua
madrinha de consagração. Disse para a mamãe que esperava que ela rezasse muito
pela Dayse quando lá no céu. Convidei o Padre Rafael para ir tirar umas
fotografias na casa dos avós da Dayse. Fomos todos e tiramos três fotografias.
O Padre Rafael não ficou para o lanche porque ia celebrar uma missa. Houve um
lanche depois. À noite dormimos cedo e a Dayse chorou menos, só acordando às
03:00.
25/05/62 – sexta –
Pela manhã conversei bastante com a mamãe e a Dináh. À tarde mais um pouco.
Fomos mamãe, Dináh, R. e eu à Confeitaria Iguassu onde tomamos chocolate e
comemos tortas. À noite televisão e conversa. O Dr Armando disse-me que um tal
de Blaschi havia pedido ao Comandante da 5ª Região Militar uma Declaração de
que eu estava servindo em Aquidauana para não devolver a casa dos fundos
alugada. O Dr Armando ficou bem aborrecido mas ia conseguir uma outra
declaração de que a minha permanência em Aquidauana não era definitiva. Fomos
dormir cedo.
26/05/62 – sábado –
Acordei às 07:00. Café. Despedidas. Levei a mamãe e a Dináh à Estação
Rodoviária. Visitaram a Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, pois a igreja ainda
está em construção. Finalmente pela Cometa foram para São Paulo. O Dr Armando
compareceu à despedida. Agora dirigirei todos os carinhos para a minha R..
Recebi um telegrama do Joélcio me felicitando pelo nascimento da Dayse: “Aceite
sinceros parabéns pelo nascimento da Dayse. Alegrou-me bastante. Felicidades
toda família. Joélcio.”
27/05/62 – domingo –
Missa da 11:00. O Padre Gustavo repeliu a acusação de que seja comunista ou
inocente útil. À tarde recebemos a visita da Nilzamira e do Raul (Negro) e da
filha Arai.
28/05/62 – segunda –
Recebi um telegrama da Sérgio:”Parabéns feliz evento nascimento Dayse. Henrique
Tavares”.
29/05/62 – terça –
Dormi mal. Gemada. À tarde saímos a R. e eu. F-r-i-o.
30/05/62 – quarta –
Telefonei para a 5ª Cia Com. Atendeu o Sargento Ramos. Tudo bem. As viaturas
estão do mesmo jeito. Tenho conversado com a minha querida filhinha mas ela não
entende...
31/05/62 – quinta –
Último dia de férias. A Dona Lycia me deu uma calça de nycron que não amarrota.
A minha R. está triste porque vou embora. É a vida, o que posso fazer? Partirei
também com o coração em frangalhos, mas partirei pois este é o meu dever: Deus,
Pátria, Família. Despedi-me de todos,
Dona Lycia, Dr Armando, Dona Lina, Virginia, Luis Armando, da minha Dayse e do meu
Amor. Fomos de táxi o Dr Armando e eu. Ônibus da Cometa, velho e ruim. Muito
frio. Mais uma vez fui com o Dr Armando de tarde ao Forlanini com o Dr Betega
que me fez uma radioscopia que confirmou o bom estado dos meus pulmões, graças
a Deus!
JUNHO DE 1962
01/06/62 – sexta –
Cheguei em São Paulo às 06:00. Fui à cidade. Tratei sobre transmissor.
Comunguei. Tomei café. Sapataria Casa Gil, na Rua Santa Ifigênia. Encontrei os
meus primos Gilberto e Gilfredo, o Oswaldo e o Lázaro. Almocei com o Gilfredo,
D. Edna, irmã, mãe e filha. Às 15:00 embarquei no ônibus para a cidade de
Bauru. Fiz boa viagem chegando às 21:30 em Bauru. Hotel.
02/06/62 – sábado –
Embarquei no trem das 08:00 para Aquidauana.Fiz boa viagem de leito. Ouvi o
jogo Brasil 0 x Tchecoslováquia 0.
Passei pelas cidades de Araçatuba e Três
Lagoas.
03/06/62 – domingo –
Às 06:00 chegamos em Campo Grande. Café com leite. Primeira classe. Frio. Ãs
10:40 cheguei em Aquidauana. Encontrei o Capitão Lybio King e família todos
bem. A minha casa estava em reforma. Fui
à missa, chegando atrasado pois o horário havia mudado. Almocei e jantei com o
Cap King. Fui dormir às 23:30. Hoje completei 26 anos de vida. Agradeço-vos ó
meu Deus tudo o que me deste!
04/06/62 – segunda –
Quartel. Recebi os vencimentos. Tudo bem. Novos conscritos. Dormi das 19:00 até
05:30 do dia seguinte.
05/06/62 – terça –
Não dei ginástica. Quartel. Carta da R.. Muito serviço. Reformas na casa da
Vila: vaso, caixa d’água. Voltei ontem a fazer as refeições no Lord Hotel.
Todos bem por lá. Sempre perguntam pela R. e sobre o neném. Até os
charreteiros, Seu Zizi e Seu Neif. Estou com grande vontade de melhorar a
Primeira Companhia do 9º Batalhão de Engenharia de Combate.
06/06/63 – quarta – A
casa em plena reforma. À tarde consertei o rádio Philco. Ouvi o jogo Brasil 2 x
Espanha 1. Fui ao Ginásio Imaculada Conceição onde desisti de dar as aulas de
ginástica. Fui ao Lord Hotel onde a comida está muito boa.
07/06/62 – quinta –
Quartel. Muito serviço. À noite tenho emendado o sono. Quando chego em casa a
cabeça fica pesada e o corpo cansado.
08/06/62 – sexta –
Muita chuva. Saudades da R. e da Dayse. Fico a me lembrar do rostinho da Dayse
com aqueles olhinhos a mexer. Que estará fazendo agora a minha R.?
09/06/62 – sábado –
Ainda não pude estudar para o concurso ao IME. Muito serviço no quartel.
Trabalhei à tarde. A casa continua em reformas. À tarde fui à casa do Ten
Waldyr e dei 500,00 para o Vladimir. A D. Nildéa disse que ele havia caído da
cama. Fomos depois até a casa do Cap King. Muita conversa. Fui dormir à 01:00.
10/06/62 – domingo –
1 ano e 5 meses de casado. Muito obrigado, meu Deus! Abençoai minha querida
esposa e adorada filha! Daí-nos muita fé e muito amor para convosco. Almocei no
Lord Hotel. Estreei a calça de nycron que a D. Lycia me deu. Montei o
toca-discose o rádio. Ouvi músicas. Fui à missa e comunguei. Jantei na casa do
Cap King. O Ten Waldyr, a D. Nildéa e o Vladimir estavam lá.
11/06/62 – segunda –
Dia da Batalha do Riachuelo. Formatura. Desfile. Competições esportivas. Trabalhei
à tarde. Saudades.
12/06/62 – terça –
Quartel. Frio.
13/06/62 – quarta –
Dia da Retomada de Corumbá – Formatura. Jogos. Na Copa do Mundo o Brasil venceu
o México por 4 x 2. Recebi a 1ª carta da R.. Disse que a Dayse havia tomado o
1ª banho e havia gostado muito. Disse-me que o leite havia diminuído devido às
saudades. Tinha começado a escrever no dia 1º e terminado no dia 5. Que Deus as
abençoe. Com saudades aguardo o dia em que ficaremos juntos outra vez.
14/06/62 – quinta –
Ontem chegou o 1º Ten Eng Edson Amaro de Oliveira com a sua esposa D. Nora e
suas duas filhas Maria Isabel e Nora. Todos gaúchos de Uruguaiana. Estão
morando com o Ten Waldyr. Deixei umas funções e assumi outras. Tempo frio.
15/06/62 – sexta –
Quartel. Muito serviço. Saudades. Tenho levado trabalho para casa mas não faço.
Ouvi todos os discos de inglês.
16/06/62 – sábado – À
tarde varri a casa. Fui à lavadeira e à Casa Bom Gosto. À noite jogos: Cabos 4
x Soldados 5. Sargentos 2 x Oficiais 12. Eleição de Miss Brasil: 1ª Miss Bahia,
2ª Miss São Paulo e 3ª Miss Guanabara. A Miss Mato Grosso desfilou mal e ficou
em 12º lugar. Expectativa quanto ao jogo Brasil x Tchecoslováquia. Saudades.
Sonhos.
17/06/62 – domingo –
Ouvi rádio. Escrevi este diário. Cartas para a R. e para a mamãe. O BRASIL É
BICAMPEÃO ! 3 x 1.
18/06/62 – segunda –
Faleceu o avô da R., o senhor Manoel Claro Alves. Deus lhe dê o céu como
recompensa!
19/06/62 – terça –
Ontem e hoje quartel e estudo.
20/06/62 – quarta –
Marcha. Sapateiro. Lavadeira. Consertos em casa. À noite voleibol e futebol de
salão. Chuva. Esfriou.
21/06/62 – quinta –
Festa de Corpus Christi. Estudei. À tarde ia à missa mas só houve a procissão
que eu acompanhei. À noite assisti a um filme: Assim Deus Mandou, sobre as
Carmelitas, aceitando um convite da empresa.
22/06/62 – sexta –
Quartel. Estudo.
23/06/62 – sábado –
Vacina. Estudo. Reunião na casa do Cap King. Foram: 2º Ten João Nemo Marisco,
senhora e filha, Ten Médico Paulo Sarmento e senhora, Ten Waldyr Ramos e Silva e
D. Nildéa, Ten Edson Amaro de Oliveira, D. Nora e filhas, Ten Edson Pierre
Marcelo e D. Nilda, Sr. Honório Simões Pires e D. Loris (donos do Lord Hotel).
Cervejas, salgados e doces. Frio. Conversas do Marisco. HiFi do Comandante.
24/06/62 – domingo –
Estudei Desenho. Carta para a R..
27/06/62 – quarta –
Neste dias dei expediente integral no quartel. O Livro Carga do S3 não me deixa
estudar. Saudades.
28/06/62 – quinta –
Quartel. Competições de tiro. Saí-me bem.
29/06/62 – sexta –
Dia de São Pedro e São Paulo. Visita do Maj Ururahi filho do General do mesmo nome. Almoço no quartel. Missa.
Comunhão. Procissão.
30/06/62 – sábado –
Fui para o quartel mesmo sem expediente. À tarde adaptei um caixote para o
rádio e o toca-disco. À noite jogo de futebol de salão. Os soldados perderam. A
torcida vibrou com o jogo dos mirins. Um japonesinho craque. Frio. Casa do Cap King. Famílias jogando
canastra. Fui dormir. Saudades. Disco do Agostinho dos Santos. E assim terminou
o mês em que completei 26 anos de vida. Graças a Deus por tudo. Que cada dia
seja melhor para Ele! Preciso estudar mais para o concurso ao IME.
JULHO DE 1962
01/07/62 – domingo –
Acordei às 06:00. Missa das 06:30. Comunhão. O padre ressaltou a necessidade da
comunhão freqüente. Café com o Tenente Edson e Dona Nora que também foram à
missa. As filhas Maria Isabel e Norinha a brincar. Testes. Almoço no Lord
Hotel. Sesta. Cartão para a avó Élia e filhos. Carta para a Dona Lycia e R..
Atualizei este diário. A casa ainda está desarrumada e sem pintura. Fui
convidado para jantar com o Ten Edson e D. Nora. Corrigimos os testes TSE-1.
Jantar. Conversa.
05/07/62 –quinta –
Dias normais no quartel. A casa em reformas, pintura e forro. Frio. Saudades da
R. e da Dayse, torcendo para que cheguem logo.
06/07/62 – sexta –
Primeira do mês. Fui a pé até a Matriz mas não encontrei ninguém lá e eu não
pude comungar. À noite jogos de futebol de salão, cabos x sargentos, oficiais x médicos. Frio.
07/07/62 – sábado –
BCE. Arrumação da casa. Lavei roupa. Saudades. Ouvi todos os discos até 22:00.
Dormir.
08/07/62 – domingo –
Fui à missa das 06:30. Comunguei. O padre falou sobre a Eucaristia. Tomei café
na casa do Ten Edson. Conversamos. Senti que havia falta de programa para eles.
Atualizei este diário. Carta para a R.. Almoçp. Hotel. Sesta. Jantar com o Ten
Edson. Capitão King e família. Testes. Saudades.
09/07/62 – segunda –
Recebi cartas da R. e da mamãe. Tudo bem, graças a Deus. Só a tia Arthemira
muito magra. A Dayse dando trabalho o dia todo para a R.. No Rio o mano Felippe
fez uma operação. A Maria Helena está para ter um neném. A esposa do meu primo
médico Edgard também está grávida. A mamãe quer vir em setembro até Aquidauana.
Ela não sabe se vai até a Palestina. O mano Padre José Maria está em Olaria.
Enviei a carta para a R..
10/07/62 – terça – 1
ano e 6 meses de casado. Agradeço a Deus ter-me dado a R. como esposa e
abençoado o nosso lar com uma menina. Peço-lhe que a nossa família tenha como
exemplo a Sagrada Família.
11/07/62 – quarta –
Tenho arrumado a casa. Estão terminando de pintar os quartos. Espero que a R.
fique gostando mais desta nossa casa, agora, que foi reformada.
12/07/62 – quinta –
Não tenho estudado. Tenho serviço atrasado. Falta-me ter tudo em ordem para me
dedicar ao estudo. Agora penso no quartel, na casa, na R., na Dayse, etc.
Enfim, espero que quando estiver com a minha querida esposa a minha vida fique
mais ordenada e eu estude mais.
13/07/62 – sexta – Os
Estados Unidos lançaram um satélite “Tell-Star”que facilita as comunicações.
Continuam as experiências com explosões atômicas. Estou sentindo grande falta
da minha família. Quando me lembro dos momentos que passei junto com o meu Bem
me vem uma grande saudade. Gostaria também muito que a mamãe passasse uns dias
conosco. Fiquei contenet em saber que a Dona Lycia e o Luis Armando vêm com a
R. e a Dayse. Penso nos momentos em que estarei com a Dayse no colo, brincando
com ela.
14/07/62 – sábado – À
tarde com o soldado carpinteiro Amâncio, desencaixotei e montei os móveis.
15/07/62 – domingo –
Missa das 06:30. Comunguei. Que a minha vida seja toda dedicada ao amor a Deus
e ao próximo. Café com a D. Nora, Ten Edson, Maria Isabel, Norinha (gringa) e a
Didi (Luiza) . Consertamos o chuveiro na casa do Ten Waldyr, D. Nildéia e
Wladimir. O Dr. Paulo apareceu. Almoço no Lord Hotel. Não houve um churrasco na
granja do Ten Marisco devido a doença. À tarde sesta e cartas. Na sexta-feira
recebi uma pistola .45 Colt. Quando vejo as filhas do Ten Edson penso na Dayse
quando estiver maior. Ouvi discos. Jantei com o Cap King. Tive uma surpresa:
ouvi a voz da R. pelo telofone falando com o radioamador Telange. Fiquei muito
emocionado. Graças a Deus por esta dádiva. Fiquei com vontade de comprar logo
um transmissor.
27/07/62 – sexta –
Estamos todos juntos em casa: Dona Lycia, Luis Armando, Virgínia, Elizabeth,
Regie a minha filhinha Dayse com 2 meses. Chegaram na segunda-feira, dia 23, de
trem. Tinham ido de Curitiba a São Paulo de avião e de São Paulo a Bauru de
ônibus. Na semana passada eu havia procurado deixar a casa do melhor modo mas
não pôde ficar muito bom, apesar do meu esforço. Logo a D. Lycia e a Virginia
junto comigo e a R. iniciamos os melhoramentos. Senti-me muito feliz junto com
os meus entes queridos. Agora tudo me parece mais fácil graças a Deus! A Dayse
está bem de saúde e muito bonita. Não tenho estudado mas não perdi a vontade de
entrar para o IME. Assim que aparecer uma oportunidade reiniciarei o estudo.
31/07/62 – terça – A
R. esteve ruim dos seios. Doem muito ao dar o leite para a Dayse pois esta aperta
os bicos entre as gengivas. A R. me disse que desde que teve a Dayse nunca
deixou de sentir dores. Noto entretanto que ela como uma boa mãe adora a sua
filhinha. Falta agora uma caminha para a Dayse pois ela está dormindo no
carrinho. Apesar disso a Dayse não dá incômodos. Dorme a noite toda e de manhã
fica acordada no carrinho esperando, às vezes resmungando, a hora de mamar nos
seios da mãe. Acho-a muito bonitinha e agradeço a Deus me ter dado tão bonita
filha. Que ela no futuro seja uma santa e que nunca ofenda a Deus. Que Nossa
Senhra da Luz a proteja com o seu manto.
AGOSTO DE 1962
05/08/62 – domingo –
Fui à missa das 06:30. Comunguei. A D. Lycia, R. e o Luis Armando foram à das
07:30. Fiquei com a Dayse. A Virginia e a Elizabeth já estavam acordadas. Dia
de sol. Fez calor durantye a semana que passou. Está muito bom com todos
reunidos em casa. Ontem capinei em frente da casa.
12/08/62 – domingo –
A D. Lycia foi embora para Curitiba com o Luis Armando na sexta-feira.
Esqueceram os casacos. Fez calor e choveu sábado pela manhã. Faltou água na
casa. A Betty tossiu. A Dayse vai bem. O Cap King tirou fotografias dela. Tenho
jogado futebol de salão como goleiro da equipe dos oficiais. Iniciei o estudo
mas não fui constante. Não tenho rezado o terço. Não comungamos neste domingo.
Na cidade houve o 1º Torneio dos Campeões. Preparativos para o dia 15 de
agosto, aniversário da cidade de Aquidauana. Completamos 1 ano em Aquidauana.
26/08/62 – domingo –
Temos ido à missa na capela do Guanandy, às 07:30 aos domingos. Hoje
comungamos. Que Deus nos abençoe. A Dayse continua bem. Completou 3 meses no
dia 17. Tem tirado fotografias. Ela está muito engraçadinha. Já quer colocar o
dedo na boca para chupar. A R. e eu temos ido à cidade fazer compras e a
levamos no carrinho. Na poeira o carrinho exige força para andar. A Virginia
tem ajudado em casa. A Betty tem dado um pouco de trabalho. Estão pintando a
casa de verde. A Companhia desfilou no dia 15 de agosto, Comandei a tropa.
Todos foram assistir ao desfile. A R. e eu, a D. Nora e o Tenente Edson, a D.
Cleusa e o Cap King fomos ao baile no Clube Feminino. Paguei Cr$900,00 de táxi.
O bailde foi bonzinho. Recebi uma carta de casa onde a mamãe me comunicava a
morte da sua irmã mais velha, a Tia Amélia. Que Deus lhe tenha dado o céu como
recompensa. Tenho estudado Pontes e não as matérias do IME.
SETEMBRO-1962
02/09/62 – DOMINGO
– Levantei-me às 08:00. Nesta Semana
estudei para o concurso ao IME das 20:00 às 23:00. No aniversário do filho do
Dr. Paulo Sarmento fomos até lá e depois todos nós: Tenente Edson, D. Nora,
Tenente Waldyr, D. Nildéa, R., eu e a filha do Tenente Marisco fomos assistir
ao filme “O Belo Antonio”que versa sobre os problemas de um homem que se tornou
impotente. Na sexta à noite jogamos futebol de salão com o 9º Grupo de Canhões
75 AR de Nioaque e vencemos por 2 a 1. Chegou a caminha da Dayse, enviada pela
vovó Lycia lá de Curitiba. No dia 1º,
sábado foi efetivado o 9º Batalhão de Engenharia de Combate. Vieram à
solenidade: General de Exército José Machado Lopes , General Moraes e Barros.
General Arnaldo Matta, General João Baptista de Mattos e o General Emílio
Garrastazu Médici. Houve alvorada festiva, almoço, desfile (levei o Estandarte
da Unidade), demonstração de Ordem Unida. Desfilaram o 9º GCan e um esquadrão
do 10º Regimento de Cavalaria da cidade de Bela Vista. O General Machado Lopes
ao falar ressaltou que devemos falar pouco e agir muito. Cumprimentou cada um
dos ofociais e relembrou a sua carreira militar. À noite fomos ao baile no
Clube Feminino (de jipe). Gostei. Fomos dormir às 03:00.
16/09/62 – domingo –
Duas semanas se passaram. Graças a Deus todos bem. A R. anteontem teve febre
mas no dia seguinte já estava boa. A Dayse está cada dia mais esperta. A Betty
é um tanto chorona. Calor. Tenho estudado. Rezamos o terço durante três dias
mas depois deixamos de novo. Enviei um telegrama ao primo e cunhado Oscar,
extensivo aos seus irmãos Duca, Edgard e
Orlando e irmã Nair, de condolência pelo falecimento da querida Tia Artthemira
no dia 25. Que Deus lhe dê o céu. A mamãe ficou de vir até Aquidauana mas não
veio não sei por que. Hoje fomos à missa das 07:30 com a Betty. Comunguei.
Senhor auxiliai-me a viver do melhor modo.
30/09/62 – XVI
Domingo depois de Pentecostes. A R. e eu comungamos. Em casa ela me disse que
está com os nervos em pilha. Chegou a chorar em dado momento. Está querendo
sair de Aquidauana. A mamãe e a Dinah estiveram aqui. Chegaram numa
quinta-feira e partiram na quinta-feira seguinte, dia 27 de setembro. Fiquei
muito contente em revê-la. Contou-me todas as notícias do Rio. Tiramos retratos
juntos. Ela foi à missa todos os dias. Ela deu Cr$10.000,00 para a Dayse.
(perdoou nossas dívidas). Enviei fotografias da Dayse para as minhas irmãs.
Elas enviaram presentes. (A Anna também). A mamãe e a Dináh foram de trem. Na
hora da partida a mamãe chorou. Disse-lhe que no próximo ano eu iria para o
Rio. Tenho estudado para o IME. Já enviei o requerimento para o concurso. A
mamãe me disse que ela ia rezar muito. A Dayse completou 4 meses. Graças a Deus
não ficou doente. A R. desconfia que esteja esperando outro bebê. A D. Lycia
tem escrito. Todos bem.
OUTUBRO-1962 – O
homem propõe e Deus dispõe! No dia 9 recebi um radiograma do TenCel Ari Pinho, Instrutor
Chefe do Curso de Engenharia da AMAN, convidando-me para Auxiliar de Instrutor.
Aceitei imediatamente. Em casa coloquei o disco de músicas da AMAN e fiz
surpresa para a R. que nem acreditou de tanta alegria. Creio que foram as
orações e desejos da minha querida mãe. Graças a Deus! Tive entretanto depois
que decidir se faria ou não o concurso para o IME. Resolvi não fazer e ir para
a AMAN, esperando poder fazer o concurso mais tarde. Seja feita a vontade de
Deus!
21/10/62 – domingo –
A Dayse está com umas assaduras e tem
feito um cocô meio diferente, às vezes esverdeado, outra vezes preto, outra
vezes amarelo, outras vezes branco. Devido a isto a R. fica nervosa e
preocupada. Discutimos. Faz parte da vida de um casal. Irei até o fim, aconteça
o que acontecer. Tenho os meus defeitos e ela os dela. Recebi uma carta do Rio.
Graças a Deus a mamãe chegou bem. Só perdeu o travesseiro que eu havia dado
para ela. O Felippe foi papai novamente, de uma menina chamada Nair, no dia 19
de setembro. A mamãe disse ter sentido muitas saudades ao partir de Aquidauana.
31/10/62 – Graças a
Deus a Dayse ficou boa. Terminou mais um mês. Infelizmente não consegui rezar o
terço diário. Não tenho estudado. No quartel recebi novas missões: Tesoureiro,
Almoxarife, Aprovisionador e S3. Na expectativa de ser transferido a qualquer
momento a minha situação é sem muitas novas decisões.
NOVEMBRO-1962
Todos bem, graças a
Deus. No quartel ns função de Tesoureiro e outras.
19/11/62 – Assumiu o
novo Comandante do Batalhão, o TenCel Ivan de Souza Mendes.
DEZEMBRO – 1962
29/12/62 – SÁBADO –
Estamos todos reunidos em Aquidauana: Dr. Armando. D. Lycia, Luis Armando. R.,
Dayse, Virginia, Betty e eu. Eles chegaram no dia 20. O Natal foi muito bom.
Muitos presentes. Dei um broche para a R.. Ganhei uma calça e quatro camisas..
Aguardo a publicação da Portaria me classificando na AMAN. O TenCel Ivan tem
vindo jantar aqui em casa aos domingos.
O meu sobrinho Affonso casou com a Marisia no dia 15 de dezembro. E mais
um ano chega ao fim!
JANEIRO DE 1963
Mais um ano se
inicia. Que Deus nos abençoe. Que sejamos unidos até o fim, para sua maior
glória. Em 1963 espero aperfeiçoar-me na instrução de engenharia e continuar
estudando para um dia me formar engenheiro. No quartel estou desempenhando as funções
de intendente. No dia 26 de janeiro soube que fui nomeado Auxiliar de Instrutor
do Curso de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Graças a
Deus!
FEVEREIRO DE 1963
Preparativos para ir
embora. Passei os encargos da Tesouraria. A minha sogra Dona Lycia levou a
netinha Dayse para Curitiba. A R. e eu engradamos e encaixotamos toda a
mudança. O Ten Cel Ivan tem sido muito compreensivo. Bom o ambiente no quartel.
Faleceu o sogro do Tenente Marcelo.
MARÇO DE 1963
Despachei a mudança
pelo Expresso Real. Viajei com a R., a Virginia e a Betty de trem até São Paulo
onde nos despedimos. Elas foram de ônibus para Curitiba e eu fui para a cidade
de Resende. Apresentei-me no dia 6 de março. Passei o Carnaval com a R. em
Curitiba. Fomos ao Círculo Militar. Todos bem graças a Deus. Na AMAN sou
Auxiliar de Instrutor de Fortificações de Campanha e Minas e Armadilhas.
Comandante de Pelotão e Instrutor de Educação Física. Orientador da ABEP. Moro
na Rua Monteiro de Barros, 12 no bairro de Monte Castelo. A R. chegou com
Virgínia e a Betty. Estive no Rio. A minha irmã Maria José está em Natal no Rio
Grande do Norte. A Maria Helena foi com todos também para lá.
ABRIL DE 1963
Tenho ido à piscina.
Estou com idéia de comprar um automóvel. Feliz com a minha R.. Novas amizades:
Ten Cel Ari Pinho e senhora, Ten Cel Carlos Bernardo e senhora, Maj Paranhos,
Cap Ivany e senhora (ele conheceu o meu sobrinho Affonso no CPOR), Cap Ely e
senhora, Cap Pastuk e senhora, Ten Tourinho e senhora e Ten Diniz e senhora, enfim
muitos já conhecidos e muitos novos.
Houve no Brasil os
Jogos Pan-americanos. Tenho jogado basquete com o Maj Gedeão (o meu técnico de
basquete quando eu era cadete em 1957), Maj Malebranches, Maj Buzzato, Ten
Vilela. A R. está querendo mudar de casa. A mamãe vendeu o apartamento no Rio.
MAIO DE 1963
Não pude assistir ao
primeiro aniversário da Dayse no dia 17. A R. foi para Curitiba no início do
mês assim que nos mudamos de casa no dia
1º. Comprei um automóvel Volkswagen ano
1960. Fiquei muito contente com o meu primeiro automóvel. Fui até Curitiba e
até o Rio. Graças a Deus o carro está bom. Comprei por Cr$1.133.000,00 sendo
800.000 de entrada e 10 prestações de 30.000. Está com 47.470 km rodados. Em
Curitiba passei pela 5ª Cia Com, vendo que o quartel estava necessitando ser
pintado. A Dayse está muito engraçadinha. A Betty ficou com a Virgínia em
Resende. Visitamos os parentes. Curitiba é uma cidade sempre atraente. A R. e a Dayse estão com tosse.
JULHO DE 1963
A Regina recebeu uma carta da Dona Cleuza, esposa do Cap King, do dia
02 de julho: “Querida Regina. Grande foi a nossa satisfação ao receber ontem
mais uma cartinha sua. Nora chegou em Aquidauana justamente no dia do
recebimento da sua primeira carta, está furiosa com você por não ter recebido
notícias conforme havias prometido. Sua cartas têm sido lidas por todos da
Vila, pois grande é o interesse de todos pelas notícias dos caros amigos e da
sobrinha caçula que não foi desbancada, apesar da distancia. Meus parabéns pela
“motorização”, nós aqui continuamos na expectativa de uma oportunidade.
Sofremos sábado momentos de angústia com o acidente sofrido pelo menino Carlos
Jorge, filho da Maria José que se queimou com essas bombinhas de estalar. Ele
estava com uma caixa no bolso, cheia e aberta, e foi acender uma que quebrou e
pulou dentro da caixa que estava no bolso incendiando todas e estourando,
provocando as queimaduras embaixo do braço e na mão esquerda. Ele está acamado
numa posição incômoda, pois tem que ficar com o braço esticado para não
encostar nas queimaduras. Tem sofrido um bocado, e Maria José mais ainda por
ver o filho sofrer. A família da Vila Militar tem estado junta em torno do
Carlos Jorge para aliviar a ajudar no que preciso for. O Tenente Amaro
“fraturou”o pé em jogo de futebol de salão, anda de muletas com o pé engessado,
mas na hora do acidente do Carlos Jorge, apanhou as muletas colocando-as
embaixo do braço, e correu à casa da Maria José, sem usá-las. O King pulou o
muro de nossa casa para a casa do Dr. Paulo indo assustar a Jacira, pois foi
parar dentro da casa sem bater, chamando pelo Dr. Paulo. Foram momentos de
angústia, mas felizmente já passaram e o menino nesta noite já dormiu melhor
deixando seus pais descansar, pois não dormiam há duas noites. Bem Regina, as
coisas aqui pelos nossos lados não andaram muito boas, pois foram seguidos os
acidentes. O Tenente Marcelo tirou a rótula do joelho do lugar, no mesmo jogo
do acidente do Tenente Amaro. E o meu filho Ney César, no dia 25 de junho foi
empurrado no colégio onde abriu a cabeça levando três pontos. As notícias de
hoje não foram muito boas, mas os amigos servem para isso (desabafo). E dos
males, que venham os menores que têm remédio. Vamos agora mudar de assunto. O
King anda como sempre atarefadíssimo com o quartel, pois no dia 15 de julho vai
funcionar o Batalhão com novos recrutas. Bem que o Tenente Vasconcellos tem
feito falta, pois no lugar dele não veio ninguém. O efetivo parou nos cinco
Aspirantes e nos três Capitães que terminaram a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais,
no Rio. Ninguém mais. Os Majores que foram transferidos para cá bateram o pé, e
ficou por isso mesmo. Creio que a carta
de hoje vai dar para cansar de ler. Acabo de telefonar para o Seu Chico e ele
me falou que não tinha recebido nada do Tenente Vasconcellos, mas que hoje
mesmo ele remete o recibo da quota de gás, e eu à tarde, telefono mais uma
vez. Com um grande e saudoso abraço, me
despeço, prometendo voltar breve com boas notícias. Beijos na Dayse. CLEUZA”
OUTUBRO DE 1963
No dia 21 de outubro
faleceu o pai da R., Dr Armando da Cunha Tramujas, com 51 anos. Que Deus lhe dê
o céu Estive em Curitiba onde deixei a R. e a Dayse. A Dona Lycia e todos nós ficamos muito tristes. Sentimos
muito a perda de tão bom pai.
DEZEMBRO DE 1963
24 – terça-feira –
Estou em Curitiba junto com a R. e com a Dayse. Conosco a Dona Lycia, o Luís
Armando e a Dona Lina. Cheguei anteontem domingo. Vim com o Volks. Saí de São
Paulo às 06:40 e cheguei em Curitiba às
13:00. Alguns buracos na estrada. Vim conversando a partir de certo trecho com
um rapaz chamado Menezes, estudante de Direito e morador no Arpoador, 81. A R.
está esperando neném para o final do mês de janeiro. A Dayse já está crescida e
muito engraçadinha. Nota-se que tem algum gênio pois não obedece prontamente.
Aguardo o resultado do concurso que fiz para o IME. Sairá no dia 30. Tenho
esperanças de passar. Estive desde 1º de novembro até 12 de dezembro no Rio, no
Forte São João estudando para o concurso ao IME. Juntos estávamos: o Tenentes Osíris Fernandes, Clóvis, Ivon Borges
Martins, Kiofumi Higo, Beleli e o Cap Cordeiro. A prova de Descritiva e Desenho
foi adiada devido a violação do sigilo. No Rio fui à praia muitas vezes saindo
um pouco da minha vida mais controlada. Foi um período de 2 meses longe da R..
No Rio visitei algumas vezes a mamãe, a Raymunda, o Luiz, a Dináh, o Felippe, a
Suely, o Rogerinho, a Nairzinha. Todos bem. O Luiz trabalha nos Correios e o
Felippe no 1º RO105. O Affonso e a Marísia estão em São Pedro da Aldeia. A
Verinha está namorando um rapaz. O Oscar é o Diretor da Fábrica do Realengo.
Estou numa fase mais fria em relação à religião tendo só ido às missas aos
domingos. Ontem o Raul primo da R. esteve aqui com a noiva. Está em Volta
Redonda. É Engenheiro Metalúrgico. Ando numa fase de pouco dinheiro. A Dona
Lycia enviou dinheiro para cumprir a promessa do Dr Armando de custear o curso
que eu fiz no Rio com o Cel Humberto, Cel Flarys e Maj Damm. O Joélcio também
fez o concurso. Foi ele que organizou o Curso. Ele ainda está solteiro. Revi
vários colegas no Rio. Resumindo, neste ano com instrutor na AMAN dei
instruções, educação física, competi em voleibol. Enfim gostei de servir lá.
Graças a Deus pude fazer o concurso para o IME. Espero poder assim melhorar as
condições de vida da minha família. Se passar pretendo ir mensalmente à igreja
de Sant’Ana fazer a adoração noturna em agradecimento. A Dayse está ao meu lado
e já diz muitas palavras: água, neném, ah, ór, um, pipiu, ã, papai, uau-au,
bumba água, ta qui, a-a-á, lá-lá-lá, maninha, bolinha, cocorocó, auau, miau,
pato, um, me, glugluglu, uón, pa-pa-pá. Já mostra o nariz, a boca, a língua, a
orelha, o cabelo, a bochecha, os olhos e a mão.
31-terça-feira –
Termina hoje mais um ano de minha existência. À noite fui à Igreja da Ordem com
a Dona Lycia. Fizemos uma Hora Santa e assistimos à missa da meia-noite
celebrada pelo Padre Boaventura (o mesmo lá da Tijuca, Rio de Janeiro).
Comungamos. Fiquei contente em passar o ano rezando aos pés de Deus. Espero em
1964 ser melhor do que fui em 1963. Ainda não soube o resultado do concurso. A
mamãe telefonou hoje dizendo que será na 5ª ou 6ª feira. Como ela não entrou no
assunto logo, pensei que eu tivesse sido reprovado... Ainda bem que ainda resta
uma esperança. Vão todos bem no Rio, com exceção do Tio Manoel, marido da Tia
Rita que está muito mal. A Vera ficou noiva. A mamãe ficou de me mandar um
telegrama com o resultado do concurso. No Natal ganhei uma calça feita por
encomenda, de nycron, cuecas, lenços e meias como presentes da Dona Lycia, R. e
Luis Armando. Dei um secador elétrico para a R. e uma caixa de talco fino para
a Dona Lycia. Fico devendo um presente melhor pois ela bem que merece. Ela tem
um coração de ouro. Tenho lido muito nestes dias de férias: A Vida de Santo
Agostinho, Fadiga Mal do Século, O General Góis depõe. Novembro, Radiografia
de...). Tenho lucrado com essas leituras. Cheguei à conclusão que o melhor é
viver sempre corretamente e de acordo com os princípios da Santa Igreja
Católica.
JANEIRO DE 1964
01/01/64 – quarta –A Dona
Lycia e eu iniciamos o Ano Novo na Igreja da Ordem. A R. não pôde vir por causa
da Dayse. Ao chegar em casa comemoramos todos juntos a passagem do ano comendo
castanhas, tomando champagne e comendo doces. Depois fomos todos deitar. O
almoço foi para toda a família, inclusive o tio Rubens que veio do Rio, muito
frango assado. A Dayse anda vomitando e sujou o vestido novo da avó
(Cr$10.000,00) e o Volks.
02/01/64 – quinta
– Levamos a Dayse ao médico Dr. Irineu
Antunes que disse ser problemas de estômago e fígado. Graças a Deus que não foi
de maior gravidade.
03/01/64 – sexta –
Acordei com os agrados da R.. Desconfiei... Afinal ela medisse que sentia
contrações. Verifiquei o intervalo: 4’30”. Fui até a casa da tia Emmy com a
Dayse buscar a Elyane. Ficamos todos em casa aguardando. Limpei o Volks.
Almoçamos e nada. Foi apenas um alarme falso.
04/01/64 – sábado –
Lavei o carro na casa do vizinho e na rua passei cera. O TenCel Pinho passou
com a esposa Dona Célia.
05/01/64 – domingo –
Fomos à missa na Igreja do Rosério.
06/01/64 – segunda –
Dia dos Reis. Fui à missa com a R. e comunguei.
07/01/64 – terça – A
mamãe me telefonou do Rio dizendo que eu havia passado para o IME!!! Realizei
um ideal! Graças a Deus, ao Dr Armando, à Dª Lycia, à R., à mamãe, professores,
colegas e superiores e aos meus santos Padroeiros. Nem pude acreditar. Quando
me dirigi para atender o telefone senti um calafrio pensando que não havia
passado pois a mamãe havia combinado que só telefonaria se eu não tivesse
passado. Recebi as felicitações de todos.. A minha irmã Maria Helena está no
Rio. O tio Manoel está muito mal. Deus lhe dê a saúde!
08/01/64 – quarta –
Bati à máquina planos de sessão. Recebi um telegrama do Tenente Osíris nos
seguintes termos: “Parabéns brilhante aprovação IME. Gráu 6,2, oitavo lugar.
Abraços. Ten Osiris.”
Fui ao CPOR.
Conversei com o Major Felix, Cap Meirelles, Cap Luiz Cavalcanti, TenCel Edison
e Cel Barcelos. Fui depois até a 5ª Cia Com onde revi todos os conhecidos.
Regressei à AMAN com
o tio Nery. Dormimos em casa. No dia seguinte fomos para o Rio onde ele comprou
ouro. Almoçamos na cidade. Ele foi comigo ao Edifício Praia Vermelha onde eu
conversei com a esposa do meu primo Sólon. Em seguida fomos à casa do tio
Rubens. Fui dormir na minha casa no Tijuca. Soube que o tio Manoel havia
falecido. Deus lhe dê o céu!
20/01/64 – segunda –
Regressei à AMAN.
31/01/64 – sexta – Às
17:45 nasceu em Curitiba a nossa segunda filha Sônia. Foi no Hospital Geral de
Curitiba. Infelizmente eu não pude estar presente. Que Deus abençoe esta nova
futura mulher neste mundo! Mais tarde a R. comentou que a Dona Lycia teve que
ajudar no parto e que esperava não ter que ter mais bebê no Hospital Militar.
Mas graças a Deus que tudo correu bem!
FEVEREIRO DE 1964
Tenho arrumado a
mudança ajudado pelo soldado Rodolfo que é de Três Rios.
03/02/64 – segunda –
Recebi o telegrama da R. com a notícia do nascimento da Sônia: “Sônia chegou
dia 31 às 17:45. Estamos bem! Beijos! R..” Fiquei muito contente. Graças a Deus
por ter saído tudo bem. Saudades.
04/02/64 – terça –
Saí às 05:15 com o Ten Osiris e o Ten Tourinho para o Rio a fim de escolher o
apartamento. Recebi um maior, nº 211 graças ao nascimento da Sônia. Fui até em
casa onde deixei a TV, a máquina de costura e o faqueiro. A mamãe está bem,
sentindo um pouco de cansaço. Maria Helena, Raymunda, Ronaldo, Eliane, Roberto,
Renato, Rosane, todos bem, graças a Deus!
05/02/64 – quarta –
Acertei as contas na AMAN.
21/02/64 – sexta –
Hoje foi a Aula Inaugural no IME. Foi proferida pelo Marechal Armando Dubois.
Estou alojado provisoriamente no apartamento 517 do Edifício Praia Vermelha. A
mudança ainda não chegou. Já instalei a TV à qual tenho assistido. Pega melhor
o canal 2 – TV Excelsior. Os canais 9-Continental, 6 – Tupi e 13 – Rio aparecem
com chuvisco. Tenho gostado das aulas de inglês. “Keep smiling” foi uma canção
da Doris Day que foi apresentada. A R., Dayse e Sônia continuam em Curitiba.
Tenho muitas saudades. Para matar as saudades já fui à praia, buate, cinema,
teatro... É uma situação bem ruim ficar casado mas como se fosse solteiro. A R.
tem escrito. A Sônia é parecida com a dayse que esteve doente. O trabalho tem
sido muito. A R. diz que está muito esgotada e não sabe como seria se não
tivesse a Dona Lycia junto ajudando. A mamãe está bem. Aliás todos aqui no Rio
estão bem, graças a Deus! O Volks também tem funcionado bem. Ontem pela
primeira vez coloquei gasolina azul. Aguardo com ansiedade os meus tesouros a
fim de restabelecer o meu lar! Estou dormindo em um apartamento vazio e fazendo
as refeições fora.
MARÇO DE 1964
01/03/64 – domingo –
Fui a Ipanema com o Felippe. Almocei e conversei com a Maria helena. Na missa
das 19:00 encontrei o Joélcio e a sua namorada Celene. Recordações. Batida no
Volks dele. Jantar na Spaghetilândia. Organizei a vida. Coloquei carta para a
R.. Saudades.
08/03/64 – domingo –
Na semana que passou continuei no apartamento 517. As matérias para estudar
aumentaram. Recebi cartas da R.. Tudo bem graças a Deus! A Sônia e a Dayse
estão com medidas acima do normal. Pretendem chegar aqui no Rio no dia 14,
sábado. Chegou a minha mudança de resende, com falta de 2 caixotes. Tive
problemas para arranjar quem me ajudasse a descarregar do caminhão. Os colegas
me ajudaram e os soldados também. Ontem ao jogar voleibol eu torci o tornozelo.
Fiquei chateado e prometi a mim mesmo nunca mais jogar. Em casa todos bem. A
mamãe está passeando com o Luiz em lugares altos. Sinto problema de estar com
pouco dinheiro. Tenho que me controlar bem. Tive uma boa orientação do Cap José
de Ribamar Nunes Moreira que vai para Manaus. Reli este meu diário. A vida
passa bem depressa e os minutos devem ser bem aproveitados. Uns morrem: tia
Arthemira, tio Adrião, Avô Manoel Claro, Dr Armando, tia Amélia, tio Antônio,
tio Manoel... e outros nascem: Dayse, Nair, Cláudia... É o tempo a passar.
Consegui um ideal, sou aluno do Intituto Militar de Engenharia, agora vou me
dedicar inteiramente ao estudo para compensar todo o esforço anterior. Estes
três anos vão passar rapidamente. Tenho que aproveitá-los integralmente. E a
família? Daqui a uns 5 dias estaremos reunidos: R., Dayse, Sônia e Dª Lycia.
Será a alegria do lar reconstituido. Certamente haverá outras separações mas
espero que demorem muito a voltar. Em vista do passado, sei que haverá dias em que
talvez discutamos. Agora quero exprimir a vontade de nunca falar com a minha
querida R. de modo duro. Serei amável. A mulher nasceu para ser amada. A minha
família será 100% católica. Rezarei o terço em família. Serei um marido e pai
para todas as horas. Serei um aluno exemplar. Os divertimentos ficarão para as
férias. Notei que o meu estudo nunca foi profundo e constante. Este será um
ponto que vou atacar com energia. Serei um engenheiro competente. Fui à missa
na Urca. O sermão foi sobre o cristianismo autêntico. Tmei um copo de leite e
comi dois pães. Estudei Perspectiva das 20:30 às 22:00. Ao me lembrar que
sábado vou rever a minha adorada R. e as minhas duas filhinhas fico tão
contente que chego a rir.
19/03/64 – quinta –
Estamos todos reunidos: Dª Lycia, Luis Armando, R., Dayse, Sônia e eu. Graças a
Deus todos estão bem. Há muita coisa para ser feita no apartamento. Tenho
estudado. Elas vêm televisão. Tudo bem.
ABRIL DE 1964
Revolução no Brasil.
Fiquei durante um mês sem as atividades escolares. Serviços de guarda ao
prédio. O Felippe teve que se deslocar. A AMAN saiu-se bem. Não tem havido
aulas. O Marechal Castelo Branco é o presidente. Cortado o avanço do comunismo
no Brasil, graças a Deus! Momentos de expectativa. Carlos Lacerda no Palácio
das Laranjeiras falando p[elo rádio. Tanques nas ruas. Prisões. Tenho ajudado a
R. a cuidar da Dayse “du-papai”. Ela faz chichi e cocô no piniquinho mas está
muito gritona. A R. tem que dar de mamá para a Sônia tarde e fica vendo
televisão. Acorda tarde. Arranjamos uma empregada chamada Wilma que mora lá em
Vigário Geral. Um dia fui até lá para buscá-la. Na casa da mamãe vão todos bem.
O Josué já veio do Norte. Já foi a Brasília com a mamãe. O Felippe é capitão e
continua do 1º RO105 na Vila Militar. O Luiz está no Departamento de Correios e
Telégrafo (DCT) e se virando como pode. A Dináh está esperando nenem.
MAIO DE 1964
Instalei a antena da
TV. Fui buscar a empregada Wilma lá em Vigário Geral. Na missa do dia 07,
Ascensão, na igreja da Urca o celebrante ressaltou que a felicidade é ficar
satisfeito com o seu lugar na Terra. Tenho levantado às 05:00 e dormido às
22:00. Estou estudando Resistência dos Materiais, Hidráulica e Mecânica Técnica
para o primeiro teste. A R., a Dayse, a Sônia e eu estamos vivendo a nossa vida
em família. A Wilma ajuda bastante. No
dia 15 chegou a Dona Lycia. Veio passar uma semana conosco. No dia 16, sábado
foi comemorado o aniversário da Dayse, que completou 2 anos no dia 17, graças a
Deus! Vieram nos visitar: a mamãe, a Raymunda, a Dináh, o Luiz, o Décio Luiz, o
Felippe, o Josué, a Maria Helena, a Anna, o Hélcio, a Cláudia, o Raul e a Vera
(noivos), a Eliane, o Ronaldo, o Renato, o Roberto, o Oscarzinho, a Risoleta, a
R. da Dináh, e o tio Rubens. Gostaram muito dos doces da R.. A Dayse ficou toda
contente quando apagou a vela com o nº 2. Repetiu mais duas vezes e ficava toda
contente com as palmas. No dia 17, domingo ela foi passear na praia com a avó
Lycia. Eu aproveitei para nadar um pouco. À tarde fomos à casa do tio Rubens. A
R. foi à missa na Urca e depois nos beijamos na Praça do Amor. Hoje é o Dia do
Espírito Santo. Que nos ilumine e abrase no fervor de uma religião sincera.
JULHO DE 1964
31/07/64 – De maio
até hoje continuamos morando no apartamento 211 que está sendo pintado. A R.
reclama do pintor Seu Braulino achando-o lento no serviço. Graças a Deus todos
estão ebm. A Dayse está muito teimosa para comer, grita e chora mas também
gosta muito de dançar em frente da televisão. Ela gosta muito do programa da TV
Excelsior, canal 2 às quintas-feiras: Tele-Rio Times Square. “Samba de branco
tem conta no banco, tem cadilac, conforto e chofer. Samba de branco não é um
qualquer , mas também, mas também tem mulher!”. A Sônia está gorda e forte. Tem
muita fome e é muito bonita. A R. tem cozinhado devido à falta de empregadas.
Hoje comprei um flash para tirar fotografias das meninas. A Dona Lycia e o Luis
Armando vieram de Curitiba para passar o mês de julho. A tia Eleonora passou
uns dias conosco. Já tive as provas parciais e finais. Terei exame oral de
Resistência dos Materiais. O meu tempo é absorvido quase todo pelo estudo. Não
sobra tempo para “hobbies”. O frio parou com a ida à praia. Minha ginástica é
no banheiro. A mamãe e todos da família vão bem. A Teínha, filha da Dona Vanda,
madrinha do Felippe, morreu de derrame. Quando eu era menino gostava de ver uma
fotografia dela achando-a muito bonita. Que Deus lhe dê o céu! O Raul casou com
a Vera lá em Volta Redonda. Visitei as obras do Governo do Estado. Estive a 64
metros abaixo da superfície da terra. Grandes obras. Grande engenharia. Vi as
casas dos ex-favelados em Vila Esperança, Vila Aliança e Vila Kenedy.
AGOSTO DE 1964
08/08/64 – sábado –
Hoje a Dona Lycia e o Luis Armando foram para Curitiba no ônibus da penha das 17:00.
O rio Rubens almoçou lá em casa e foi até a Estação Rodoviária. Hoje tirei
fotografias da família usando o flash que comprei há poucos dias. Na semana que
passou terminei as provas semestrais e aproveitei para modificar o rádio e o
toca-discos. Também fui à praia. O apartamento continua sendo pintado. Ontém
estive lá em casa na Tijuca. A mamãe e a Raymunda estão bem graças a Deus!
12/08/64 – quarta –
Aniversário da Maria Helena (32 anos). Estivemos lá. Todos bem.
21/08/64 – sexta –
Aniversário da mamãe (71 anos). Muita gente reunida. Chegamos atrasados. Tirei
fotografias. Que Deus ainda lhe dê muitos anos de vida, querida mãe! Muito
obrigado por tudo a senhora fez por mim!
31/08/64 – segunda –
Mais um mês que termina. A vida se escoa rapidamente!
SETEMBRO DE 1964
E a vida continua. Graças a Deus todos bem. A
Vera, minha sobrinha, filha da Riosoleta e do Oscar casou-se com o Rolando. Eu
tirei fotos. Graças a Deus tudo correu bem. A mamãe vai bem e toda a família.
Falta-me mais constância no estudo. A Dona Lycia esteve uma semana no Rio.
OUTUBRO DE 1964
A minha vida
espiritual está muito irregular. Tenho rezado o terço todos os dias e ido
mensalmente fazer a adoração noturna na igreja de Sant’Anna. A R. foi passar o
1 ano da morte do pai, Dr Armando, em Curitiba. Levou a Dayse, a Sônia e a
empregada Vânia. Assisti ao filme “Apartamento Clandestino”que me mostrou os
problemas conjugais na Itália e no mundo. Identifiquei muitos dos meus
sentimentos e da R., naquele filme. Vi que o egoismo é a causa dos problemas. O
marido não quer deixar de se sentir jovem. Quer sentir novamente a sensação de
um amor novo. E coitada da mulher, ou aguenta tudo em silêncio ou se separa ou
paga na mesma moeda (o que não lhe é normal). Enfim, as experiências
extra-matrimoniais são cercadaas de tantas complicações, mentiras, hipocrisia e
fingimento, que no final é bem melhor muito melhor mesmo (o ideal) ser fiel.
Guardei a frase da esposa no filme: “Tornou-se tão fácil trair o marido que se
prefere ser fiel!”. Comprei uma máquina de escrever. O meu colega de turma,
Capitão Cacaes está com um filho em estado de suspeita grave de um tumor na
cabeça. A Sônia já está ficando sentada. É comilona e já assiste à televisão. A
Dayse gosta dos filmes com desenhos animados e já fala tudo. Ela se impressiona
com leão, macaquinho, mosquito, barata. Gosta muito das bonecas: Aurora,
Sebastiana, Tonico, Felisbina, e principalmente a Luluzinha. Ao embarcar para
Curitiba levava a Aurora toda enrolada nas toalhinhas amarela e azul. Está com
um gênio muito interessante. Acorda sonhando brabinha e zangada. Zanga-se à
toa. Chora e grita (deve ser uma fase da vida). A Sônia é muito boazinha e
risonha. A Dayse já sabe andar no triciclo, gosta de saltar e dar cambalhotas,
e dançar imitando o que vê na televisão. Para dormir às vezes apanha e à noite
costuma vir para a nossa cama. A R. tem feito vestidinhos e dormido tarde. Ela
gosta de assistir às novelas da TV Excelsior, canal 2, principalmente “A outra
face de Anita”. Estou muito contente com a esposa que Deus me deu. Gosta de
tudo limpo. Gosta de estar sempre bem vestida. É trabalhadeira e amorosa. O meu
maior desejo é não cometer uma asneira de querer arriscar um prazer passageiro
e perigoso com outra mulher que não terei conhecido bem, arriscando perder uma
esposa que deu toda a sua vida para mim, por amor. Que Deus me ajude a não
fazer tamanha ingratidão. Apesar disso tudo, às vezes me vêm pensamentos de que
a gente vai ficando velho e depois não haverá mesmo alternativa. Não se vai
atrair mais ninguém por impressão a não ser por dinheiro. E será que não
ficarei arrependido de não ter tido aventuras fora do casamento? Mas chego à
conclusão que o melhor é ser fiel e um bom marido. É difícil mas a família que
reza unida permanece unida.
DEZEMBRO DE 1964
15/12/64 – Hoje soube
que havia passado em Matemática. Era a última que faltava saber. Graças a Deus
passei para o 4º ano por média. Tirei boas notas nos exames escritos. Vejo que
o estudo sempre é recompensado e nada resiste a um bom “gagá”. Para o 4º ano
desejo melhorar ainda mais os resultados e estudar melhor. A R., a Dayse e a
Sônia vão bem. A Dayse muito esperta. Fala muito que quando crescer vai à
escola. Já tem lápis azul, vermelho e amarelo. Que vai ganhar medalhas... Gosta
de ir à biblioteca. Às vezes apanha do pai e da mãe e chora muito. Sabe ficar
séria e ralhar com a gente. A Sônia anda no “voador” e já emite vários sons. Já
engatinha por toda a casa. Come muito bem e é sossegada. Está bem forte. A R.
tem cozinhado e lavado as fraldas, pois falta empregada. Comprou um maiô “gota
d’água e tem ido à praia. Gosta de fazer compras em Copacabana. A Beatriz, o
Pedro, a Dona Lycia, o Raul e a Vera estiveram aqui.
20/12/64 – domingo –
Estivemos na Tijuca. Hoje é o aniversário da Anna. Todos bem. A mamãe está em
dieta devido à pressão alta. O Luiz e o Felippe foram ao jogo onde o Fluminense
foi o campeão carioca de 1964, vencendo o Bangu por 3x1. Nós fomos à missa em
Botafogo.
21/12/64 – segunda –
Viajamos para Curitiba no Volks 60. Tudo bem, só uma pane de gasolina. Em São
Paulo dormimos na casa do Gilberto e da Maria Helena. Em Curitiba tudo bem.
24/12/64 – Natal.
Tudo bem. À noite houve distribuição de presentes. A Sônia não entendia o que
se passava.
JANEIRO DE 1965
01/01/65 - Passamos o
ano na casa da Avó Élia. Depois fomos ao clube. Pulei as músicas de carnaval
com a R. e sua prima Tereza Cristina. Durante o dia comecei a ensinar a Sônia a
andar.
07/01/65 – Fomos
comprar verdura em São Brás. Na volta eu estava a retirar as compras quando vi
um Pontiac 51 marron creme desviar rapidamente e bater em uma kombi e
finalmente para no escritório do Prosdócimo. Ouvi um grito da Dona Lycia e vi a
Dayse estendida na rua. Ela tinha sido atropelada. A R. começou a chorar. Fui
ao Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná.
Ela quebrara o femur esquerdo e machucara a cabeça. Poderia ter sido bem
pior. Graças a Deus por ela não ter morrido. Ela foi muito bem atendida pelo Dr
Mott e pelo Tio Ernani. Ela chorou muito. Ficou com a perna entalada e
dependurada. Depois se acostumou. Dormia com a vó Lycia no escritório. O Luis
Armando punha disquinho para ela ouvir. Ela via também televisão na sala.
31/01/65 – Primeiro
aniversário da Sônia. Houve festinha. Tirei fotografias. Ela já ensaia os
primeiros passos.
FEVEREIRO DE 1965
01/02/65 – Hoje a
Dayse engessou a perna e saiu do aparelho que ela chamava de balancinho. A R. e
eu, o tio Nery e a tia Emmy, o tio Arildo, a tia Lourdes e a Lúcia, o tio
Ernani, a Consuelo e a Tereza Cristina estivemos juntos em Guaratuba. Foi muito
bom. Boa praia e muita fome. O tio Nery e eu endireitamos as coisas na casa de
madeira e pintamos. A R. dirigia o Volks até a vila para fazer as compras. A
Dona Lycia ficou em Curitiba com o Luis Armando, a Dayse e a Sônia. Os dias têm
sido bonitos. Voltamos depois para Curitiba.
Resolvemos ir todos
de novo para Guaratuba: Dona Lycia, R., eu, Dayse e Sônia. Passamos bons dias.
Pena que a Dayse não pôde tomar banho de mar. Ela gostava de ser o centro das
atenções dos meninos e meninas na praia devido à sua perna engessada. Na volta
para Curitiba tive um acidente numa ponte com assoalho de madeira. O Volks
derrapou devido à chuva. Felizmente só quebrou o pára-choque traseiro e amassou
o paralama esquerdo.
A R., a Sônia e eu
regressamos ao Rio no Volks no Carnaval. A volta foi sem atrapalhos, só um pneu
esvaziou. Em São Paulo dormimos na casa do Gilberto. Chegando ao Rio ainda
fomos duas noites ao carnaval no Clube Militar. A minha irmã Maria Helena
cuidou da Sônia.
MARÇO DE 1965
Recomeçaram as aulas
no IME. Tenho estudado à noite no IME com o meu amigo e colega Tenente Ivon
Borges Martins.
ABRIL DE 1965
No dia 8 foi o
aniversário da R..
MAIO DE 1965
No dia 17 a Dayse
completou 3 anos. Tirei fotografias. Vieram os parentes e conhecidos. Tenho ido
bem nos estudos. Fui a Santana no dia 24 mas continuo sem muita devoção.
JUNHO DE 1965
No dia 3 quinta-feira
completei 29 anos de vida. A mamãe e o mano padre José Maria apareceram e
almoçaram conosco me felcitando pela data.
No dia 4, sexta-feira,
data oficial de meu aniversário fui cumprimentado na turma. À tarde apareceram
a Anna, a Margarida, a Risoleta, a Maria Helena, o Ricardinho, o Ronaldinho, a
Rosane, a Cláudia e o Oscarzinho.
No dia 5, sábado
fiquei em casa todo o dia. À noite na cama fiz uma meditação sobre a vida com
propósitos de melhorar.
No dia 6, domingo,
fiz as mamadeiras e coloquei disquinhos para as crianças ouvirem. Há dois
americanos a girar no espaço. Anteontem um deles saiu da cápsula por 20
minutos.
JULHO DE 1965
Mês de estudo e
provas.
AGOSTO DE 1965
Tive uma semana de
férias. Desmontei o carburador do Volks. Visitas. No dia 29 houve uma choppada
aos novos promovidos: TenCel Hallo, TenCel Martinez, Cap Chico Santos e Cap
Vasconcellos. Os meus amores foram para Curitiba de ônibus pois a R. vai ter
neném lá com o Dr Guelmann. Fiquei sozinho outra vez. Mais um teste para a
minha força de vontade para o estudo e fidelidade.
SETEMBRO DE 1965
No dia 5, domingo, às
06:30 nasceu em Curitiba, no Hospital São Lucas, pelas mãos do Dr Guelmann o
meu primeiro filho Guilherme. I’m very happy! Que Deus o ilumine durante toda a
sua vida de modo a ser um homem útil à Pátria e à sociedade. Que tenha um
caráter íntegro! As características da época são: 1) Os americanos e os russos
tentando alcançar a Lua. Dois americanos ficaram 8 dias no espaço, girando em
torno da Terra. 2) Há uma guerra entre a Índia e o Paquistão e no Vietnam
contra o Vietcong. 3) O Brasil é o campeão sulamericano no basquetebol
feminino. 4) O Brasil é o bicampeão mundial de futebol. 5) Campanha eleitoral
para o Governo da Estado da Guanabara. O Governador Carlos Lacerda apoia o
Flexa Ribeiro. 6) O pai do Guilherme estudando engenharia de construção do
Exército, no posto de capitão no Instituto Militar de Engenharia, morando no
apartamento 211 do Edifício Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. 7) Presidente do
Brasil: Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. 8) Presidente dos Estados
Unidos: Johnson. 9) Papa: Paulo VI. No dia 11 fui à Tijuca. O Josué está
querendo comprar uma casa. Todos vão bem. Tenho recebido felicitações de todos
pelo nascimento do Guilherme. Revi a mamãe, Raymunda, Suely, Felippe, Luiz,
Oscar, Risoleta (com dentadura nova) e filhos. O Felippe cuidou do meu Volks
enquanto eu dava uma olhada na TV GE dele. Almocei lá com a Maria helena e o
Josué. À noite vi televisão: Espetáculos Tonelux e ouvi uma palestra do
Governador Carlos Lacerda.
No dia 12, domingo,
acordei às 08:30. Tempo chuvoso. Reli este diário. “Como passa rápida a nossa
vida?!” Amo muito minha querida esposa e filhos. Que logo estejamos todos
juntos. Que nossa vida seja de cintínuo amor, sem brigas nem discussões. “Nunca
falar alto com a mãe de meus filhos!”Não esquecer de fazer o ramalhete com as
flores disponíveis!”A vida é constituída de “presentes” bem realizados. Vale a
pena amar com entrega total – é a sinceridade de pensamento. Agora com três
filhos tenho que me dedicar mais ao trabalho para poder garantir a educação
deles. ( Em São Paulo, no dia 17/01/1993 acrescentei a frase: Olhai os lírios
do campo...)
30/09/65 – Mais um
mês passou e eu longe dos meus amores. Que logo estejam de volta. A Dona Lycia
e a R. estão terminando bem cansadas o
dia lá emCuritiba, pois têm que cuidar da Dayse, da Sônia e do Guiherme. No Rio
nasceu o Pedro Afonso, filho do Affonso e da Marisia. Que Deus o proteja!
04/10/65 – O Papa
Paulo VI está em Nova York e falou na ONU sobre a paz mundial. Ontem houve
eleições para Governador. Votei no Flexa Ribeiro. Já passaram automóveis pelo
Túnel Rebouças, o maior do mundo. Continuo sozinho e a estudar no 4º ano
profissional de Construção no IME. Acordo às 05:00 e durmo às 22:15. Aguardo a
chegada da R. com muita vontade de ser ótimo marido e pai. Como é bom ver um
casal feliz junto com os filhos
refletindo essa felicidade! Ainda não sei como é o Guilherme. Espero
transformá-lo em um homem de caráter e envidar todos os meus esforços para o
seu aperfeiçoamento espiritual, mental, intelectual e físico. Enfim educá-lo do
melhor modo e fazer com que seja um homem de caráter, se Deus quiser.
21/10/65 – quinta –
Continuo só no Rio, com muitas saudades da minha querida Rainha, das minhas adoradas filhinhas e do
meu filho que ainda não conheço. A R. me escreveu dizendo que a Dayse tem ido
ao Jardim da Infância e que a Sônia está impossível. Que o Guilherme dorme bem
e se parece com ela. Que também está com muitas saudades de mim e que na rua
“os gaviões”não a deixam em paz. Desejo muito o regresso da minha R. pois já
estou chateado de só ver mulheres dos outros e parcecer como um mendigo quando na realidade tenho a minha rainha e os
meus tesouros. Farei tudo para não cair na rotina e tratar mal ou menos bem os
meus entes queridos. Continuo estudando no IME as matérias de construção e
também inglês. Entendo muita coisa nos filmes mas ainda tenho muito que
aprender. Tenho procurado dormir às 22:30 e acordar às 05:00. Ando meio fraco
de vontade. Em casa todos bem. A mamãe esteve em Paquetá. O meu carro está no
quartel do Felippe. A Verinha vai ser mamãe. Que Deus a abençoe! Saí-me bem na
prova de Eletrotécnica. Cheguei atrasado às aulas. A falta de ordem me
prejudicou em encontrar o Título de Eleitor. Epro iniciar um estudo continuado
de Estabilidade e Arquitetura até o dia 27 de novembro.
18/12/65 – Arranjei
um emprego como estagiário na Companhia Construtora Nacional a partir de
03/01/66, graças a Deus! A família está
reunida. A Dayse já lê 16 palavras. A Sônia diz: paê, Daysê, mãe, aqui, não,
água, naná, não-ôôô, Guierme, Maída (Margarida, a empregada), lápis... O
Guilherme diz angú, grr,... No IME passei bem para o 5º ano profissional,
graças a Deus e à minha querida esposa.
19/12/65 – Estamos
prontos para vajar para Curitiba. Tenho cuidado d Volks-60. A mamãe e todo o
pessoal foram a Minas para um casamento.
25/12/65 – Ontem
passamos uma feliz Noite de Natal. A Dayse e a Sônia ficaram muito felizes com
os presentes. Só faltou o vovô Armando, que Deus o tenha no céu! A Dona Lina, o
Luis Armando, a Dona Lycia, a R. e eu também recebemos mutuamente presentes. O
Guilherme foi dormir cedo. Ontem fomos ao baile no Clube Concórdia e hoje
levamos lá a Dayse e a Sônia que brincaram basante. A Dayse dançou lá no palco
com um da orquestra.
31/12/65 – Fomos ao
baile no Clube Curitibano. Mais um ano termina. Que os erros cometidos em 1965
não se repitam em 1966. Que Deus nos dê saúde e paz de espírito. 1965 foi o ano
do iV Centenário do Rio e o nascimento do meu filho Guilherme. Terminei bem 0
4º ano de Construção e só me falta 1 ano para me formar ENGENHEIRO, o meu
antigo sonho. No casamento tenho tido fases de tentações e pequenos atritos, mas estou certo de que
tudo sairá bem.