Memórias de Felinto Paulo de Oliveira Vasconcellos

1953 – EPSP – 17 anos. Um ambiente completamente diferente.Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo. Rua da Fonte, 91. Havia ainda duas outras, uma em Fortaleza e outra em Porto Alegre. A sorte é que o meu irmão Felippe já era veterano e me ajudou bastante. Pensei em sair mas consultando o Padre Sebastião que estava em São Paulo, ele me aconselhou a ir em frente. Comecei a aprender a jogar basquete com o Djalmir, que havia estudado no Tuiuti comigo. Ficava até escurecer a arremessar a bola ao cesto. Como não tinha um terno ia fardado de bonde ou a pé à cidade. O comandante da Companhia, Capitão Waldemar insistia para a gente dançar nos bailes que eram realizados no refeitório por nós encerado. Assim aprendíamos a dançar..

 

1954 – EPSP- 18 anos. No dia 04 de março de 1954 perdi o meu querido pai. Ele que dizia que ia viver até os 100 anos, morreu com um câncer fulminante no pâncreas. Senti muito e até hoje fiquei impressionado com a sua partida. Morreu no mesmo quarto e na mesma posição de cama que a Violeta. Com os filhos ao redor e o Padre José Maria dando a última benção. Segurando nos pés do papai que não paravam de se mexer, senti o frio ir caminhando para o centro do corpo onde com respiração ofegante lutava pela vida. De repente tudo parou. Todos começaram a chorar. Do quarto o Affonso gritou: “Voltou a respirar!” Todos suspenderam o choro. Mas logo foi confirmada a morte mas então o choro já não foi tão intenso. Será que não foi a última brincadeira do Seu Zéca, considerado por todos um grande brincalhão? Na Escola Preparatória eu gostava de estudar inglês. Não me saí bem em Física ensinada pelo coronel Colucci, que tinha em um caderninho todos os exercícios resolvidos. O professor de português Quintanilha chamava a nossa atenção pelo seu modo original de dar aula. O capitão Ner revolucionou a educação física introduzindo novos exercícios. O presidente da Sociedade Literária e Recreativa era o Amazonas.  Admirava uns colegas que tinham namoradas bem bonitas e levavam uma vida de festas e namoros. Eu ficava de fora pois não tinha nem roupa nem dinheiro. Flertava com uma loirinha  chamada Karin que morava em um apartamento que se via lá da Escola. Como não queria voltar a São Paulo por namoro, fiquei assistindo perto dela ao desfile do IV Centenário de São Paulo na avenida Nove de Julho por duas horas sem tentar iniciar uma conversa. Às vezes eu ia visitar o meu primo Gilberto e a Maria Helena que moravam no Brooklin, perto do aeroporto. Sempre fui muito bem tratado. Andava de bonde e de ônibus. Admirava o trabalho do prefeito Jânio Quadros na recuperação dos bondes da CMTC. Admirava as grandes mansões da avenida Paulista. Fazíamos as marchas a pé até o Morumbi, na época um grande matagal onde fazíamos exercícios militares. No refeitório um garçom meu amigo me dava as sobras de goiabada. Num fim de semana entrei na garagem e liguei um jeep, batendo na parede. O tenente Luiz quebrou o meu galho e não fui punido. Admirava o colega Waldeck que estudava depois do almoço e conseguiu ser o primeiro passando o Teberge. Nesta época já havia  televisão em São Paulo. Nas noites frias de São Paulo dávamos serviço de sentinela usando uma capa chamada pelerine. Gostava de tomar leite com groselha nos bares de esquina à noite. Gastava o meu dinheirinho também na cantina da Escola comprando doces Confiança. Quando o Getúlio cometeu o suicídio ficamos de prontidão. Eu permaneci na encosta que dá para a Avenida Nove de Julho apontando um fuzil. Com um colega mineiro de Astolfo Dutra, o Brás Defilippo aprendi a levantar peso. Fizemos também juntos um curso de radiotécnico por correspondência. Até hoje nos correspondemos por e-mails na Internet. Essa amizade foi para toda a vida.

1955 – 19 anos – AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras –  Uma linda paisagem, instalações modernas e amplas. Curso Básico. Cansativas instruções à tarde, sentado em banquinho ou no terreno.  Entrei para o time de basquete da Academia. Tinha a regalia de uma alimentação reforçada e não desfilava na desgastante Parada de Sete de Setembro. Em um feriado o  time de basquete do Curso Básico foi jogar em Petrópolis. Dancei e fiquei amigo da Elizabeth Gasper com quem me correspondi durante algum tempo. Neste mesmo feriado uns colegas foram fazer uma peregrinação a Aparecida e na volta o caminhão virou. Morreu um colega. Ficamos todos muito consternados.

 

 

1956 – 20 anos – AMAN – Curso de Engenharia – Fui para a Arma de Engenharia. Achava que lá poderia ser mais útil ao Brasil, construindo e ao mesmo tempo instruindo os soldados como na Infantaria. O meu amigo Taveira desistiu da Engenharia e escolheu a Infantaria. O meu irmão Felippe queria que eu fosse para a Artilharia. O Brás Defilippo foi para a Intendência.  Tínhamos aulas de nós com o Ten Pallazo. Acampamentos com o Cap Maranhão. Jogava basquete e vôlei pela Engenharia e era do time de basquete da AMAN. Numa excursão a Lorena dancei e gostei da filha do Prefeito. Por coincidência encontrei os meus primos Orlando e Edgard  que estavam de passagem pela cidade e apreciavam o baile. Eu estava indo bem na Engenharia. Na cidade de Resende eu quase não ia. Costumava acordar às 4 horas nas vésperas das provas e estudar sentado na privada. Sentia muito sono à noite e não conseguia estudar. Não ia muito ao Rio. Achava que não compensava o esforço por poucos dias. Admirava o cadete Paes de Lima que estudava enquanto os outros iam ao cinema. O comandante da Companhia era o Cap Aboim. Tive que pagar um tampo da privada que quebrei ao sentar. Havia concurso para classificar os apartamentos e as alas mais bonitas. Numa instrução de equitação quebrei o braço esquerdo. Foi assim: “Voltávamos de um feriado e os cavalos foram todos trocados. Eu estava acostumado com um cavalo velho bem manso que não causava problemas. Fiquei com uma égua arisca que não parava de mexer com o pescoço. Ia indo muito bem quando me caiu o estribo. Desci e coloquei no lugar, mas perdi o contato com os outros colegas. Consegui recuperar a diferença. Estavam atravessando o rio Lambari num lugar com barranco e uma ilha no meio. A égua não quis descer o barranco e começou a rodar. Cai e me apoiei com o braço esquerdo no chão, ainda com as pernas no cavalo que ainda deu mais uma volta, quebrando o meu braço”.

11/11/56 – domingo – A missa hoje estava concorrida. Muitos cadetes foram à mesa da comunhão, talvez porque os exames estão próximos. Também não houve licenciamento geral. O Waldeck anda às voltas com um amor difícil. Ela chama-se Maria Luiza  é bonita  e parece ser ótima menina. O dia está úmido e não favorece aos esportes. Também não estudei. Pensei em ir ao bairro Vicentino, mas não tive vontade forte. Dormi. Assisti ao jornal em que apareceu um pouco de “rock and roll”. É mais acrobacia. O começo do filme de Marylin Monroe “O pecado mora ao lado”. Filme sobre a vida moderna e seus problemas morais. Ando pensando muito na Liz. Ela saiu em foto , na “O Cruzeiro”, estava bem bonita. Preguei a capa da revista na porta do armário e reli as cartas dela relembrando os nossos encontros. O tempo dirá se é um sentimento digno de atenção ou não. O Fluminense perdeu para o Bangu e a tarde passou rápida. À noite o Brás veio bater um papinho no apartamento onde eu escrevia . O Darzan redigia cartas e o Horst discutia os problemas nacionais. São 21:11hs, no meu relógio Mondaine quadrado que está na caixinha. de papelão do sabonete  Lifebuoy. Vou rezar e dormir. Na semana que entra muito estudo me espera.

12/11/56 – 2ª feira – Comecei o dia esquecendo o gorro V.O., foi porque demorei muito engraxando o sapato, coisa que fiz umas 5 vezes no dia.  Fui ao hospital ver o cotovelo. O Dr. Souza Lobo mandou-me tirar a radiografia. Fiquei  sentado estudando  movimento projetado sobre plano e sobre eixo. Via os srs. Oficiais saírem e chegarem em seus carros. Estou procurando estudar ordenadamente para ver se guardo para a vida.  Escrevi uma carta para o Felippe. Cortei o cabelo, tendo dado Cr$10,00 ao barbeiro, pois cortou muito bem. À tarde estudei Química e às 15:40hs fui jogar basquete. Houve eleição na Vicentina. Só não gosto dos elogios mútuos que são feitos. À noite estudei Topografia e escrevi esta página. Meus objetivos próximos são: passar bem de ano e tirar a carteira de chofer.

13/11/56 – 3ª feira – « Aux yeux des hommes de vraie foi, rien ne sáccomplit qui ne soit oeuvre de la Providence »( Daniel Rops). Hoje correu tudo normal, mas mesmo assim ainda não cheguei em boa hora em forma. Não houve desfile matinal. Tirei meia dúzia de radiograafias. Fui ao Dr. Souza Lobo que me recomendou fazer mais exercícios para o braço esquerdo, pois o que resolve agora é a mecanoterapia e os raios de calor úmido.

Após estudar um pouco, fui ao cinema assistir ao filme “A perdida” (TAXI). “O tema foi sobre um motorista de táxi que só tem o seu carro de praça. A mãe dele fica em cima para que ele case. Uma mulher chega ao cais à procura do marido. Ele anda bastante com ela e não acham o marido. Ela volta para o navio. O motorista leva-lhe um embrulho de cartas que esquecera. Ela já tem um filhinho. Ele a leva para casa. Descobrem que o marido está com outra, sem dinheiro e não mais a quer. O motorista volta com ela.”

Na revista de recolher de hoje foi lido no boletim que o Cel Manuel Aranha, ao ir para a reserva oferece Cr$20.000,00 ao primeiro colocado de Artilharia. Houve eleição para o Grêmio Vilagran Cabrita. Chapa única. O meu braço esquerdo ainda não está com o movimento total.

14/11/56 – 4ª feira- « Jesus aime lês coeurs joieux, Il aime lês âmes toujours souriantes » Sainte Therese de lÉnfant Jesus.

Final do ano letivo. Banda de música no almoço. O amigo Francisco disse-me que leu no “O Mundo Ilustrado” que a Elisabeth Gasper havia renovado contrato com o Carlos Machado por mais um ano. À tarde joguei duas partidas de basquete. Houve licenciamento, mas saíram poucos.

 

15/11/56 – 5ª feira – « Lê Christ est vie, et son message n’a  pas de sens s’il n’est à tout instant infiniment juste et présent. » ( D. Rops)

Talvez por costume acordei-me às 05 :20hs. Levantei-me e fui fazer ginástica e tomar banho como tenho feito todos os dias. Estudei um pouco e às 08:50hs fui ao ginásio Cadete Virgílio. Lá encontrei o Cap Hugo de Medeiros Dias e os colegas de basquete. Tiramos várias fotografias com o uniforme de jogo. Depois houve uma partida entre os que iam embora e os que ficavam. Os aspirantes, melhores,  ganharam com 7 cestas de diferença. Houve uma despedida com crushes e alguns falaram. Espero que continuem a jogar bem basquete e que sejam ótimos oficiais , dando tudo pelo Brasil. Não fui a uma apresentação de canto coral trazida até nós pela A.C.E. (Associação de Cadetes Evangélicos) . O filme de hoje era inglês com uma artista muito bonita “Jean Collins”, sendo o título “Três homens e um biquíni”. Fiquei somente até as 19hs.

16/11/56 – 6ª feira – « Lê courage n’est pás d’ignorer le danger, de ne jamais avoir peur, mais , ayant peur, de marcher quand même ». Il y a d ‘une autre courage : celui des petits gestes dont chacun demande un effort.

Treinei conduta auto no jipe da Engenharia com o Horst. Fui ao hospital aplicar calor úmido. Estudei polígono funicular e de Varignon.. Estudei química com o Otto. Fui buscar as fotos com o fotógrafo.  À tarde o Machadinho me disse que não haveria mais neste ano o exame de motorista. Á noite inventei uma música:  Meu amor você partiu, não mais me quis, ó meu amor. Meu amor, quem foi que viu? Quem foi que viu o meu amor? Agora, me ponho a cantar, buscando apagar a mágoa, que me faz chorar. Pois tenho grande saudade, que sempre aumenta a minha ansiedade.

17/11/56 – sábado – “Seigneur Jésus donnez-moi la simplicité et la confiance de l’enfant qui vous prie » Jean Salem.

Comecei bem o dia assistindo a uma missa  pela alma do Exmo. Sr. General Anastásio Somoza G. que fora o Presidente da República da Nicarágua. Ganhei um santinho do cadete Edmundo Röeder Sedilles. Foram uns quinze cadetes e a missa foi celebrada pelo major capelão Padre Archimedes Bruno. Estudei Mecânica : centro de gravidade de linhas, superfícies e volumes. Fui ao HE aplicar calor úmido. Sempre encontro crianças filhas de oficiais tomando banho de raios ultravioletas. Alguns choram. Hoje consegui ser das primeiras fileiras da formatura para o rancho.  À tarde estudei química.: ferro doce e aço.Às 16 horas consegui ganhar nas três partidas de basquete que joguei.  Fui ver o jornal cinematográfico. Passei pela sala de física com aquele seu ambiente de fluxos e raios.

18/11/56 – domingo – « Lês sots vivent sans trouver de joie à la vie. »  (Démocrite)

Acordei às 06:00hs, fiz ginástica e notei que o braço esquerdo melhora com a flexão. Vou continuar fazendo. Não fui à missa do Francisco lá na Escola Profissional, mas à dos cadetes no hall do cinema, tendo comungado e ficado muito feliz. Estudei e joguei basquete. Recebi uma carta do mano Felippe, 2º Tenente, que dizia o seguinte: “Rio, 15 Nov 56- Caro mano, Saudações. Não poderia sair do Rio sem antes responder a carta que tão prontamente me enviaste ao me saber no Rio. Gostei de tua carta , escrita nos moldes de crônica social. Será que é para em futuro talvez próximo, relatar as novidades acontecidas no Night and Day? Há porém uma ressalva, não mencionaste o recebimento de uma carta que te enviei por um sargento lá de Castro que ia servir na AMAN no Curso de Artilharia. Talvez não tenha te encontrado, embora eu lhe tenha fornecido indicação das mais precisas. Sobre você soube também, pela Maria José, que me escreveste para Castro e não obtiveste resposta. A  carta não me encontrou lá com toda certeza. Terei o prazer de lê-la agora quando chegar àquela cidade. Estou tratando da minha transferência. Há vagas no Rio, embora não as queira. Prefiro no Estado do Rio, em Valença. Fica a duas horas daqui e possui todos os requisitos de um grande quartel. Vamos ver primeiro a minha situação lá em Castro. Partirei amanhã, digo sábado as 09:00hs, em Convair 340 da Real. É uma coisa que atenua a saudade de deixar o Rio.( Em 2001 este meu mano mora em Miguel Pereira e tem verdadeiro trauma em ir ao Rio, após tantos assaltos que presenciou!). Sinto-me muito bem quando viajo de avião. Gastei 4.000,00 de ida e volta. Mas vale. Tenho planos de comprar um carro Citroen 51 por 200.000,00, pagando 7.000,00 por mês. ( Deves saber que o Luiz-Zé Maria compraram um Morris-Oxford também por este preço. É um bom carrinho. Já fomos até a Barra da Tijuca, sem que desse sinais de desvalor.)   Ainda há pouco o Edison me falou em entrar em sociedade comigo, pagando 3.000,00 e eu 4.000,00 por mês. É um caso a estudar. Carro é como escova de dente...Em todo caso, olhando para o futuro economicamente, vejo vantagens nesta sociedade. Tudo porém está para ser estudado. Pas de presse! Mamãe veio à varanda para dizer-me que mandasse beijos e abraços. Feito o pedido, executada a tarefa. Ai vão... Passei uns bons dias na casa da Maria Helena, considerada por mim a melhor recepcionista de 56. Sra. Josué Felinto... Aconteci em Paquetá por 3 dias. Muito bom, “sensas”. Gastei 10.000,00 neste 30 dias. Como?  Je ne sais rien... Com grande abraço e votos de felicidade constante nos exames, despeço-me até Castro. Do mano Felippe. Anexo I à carta. – Raymunda manda perguntar se estás disposto a vender a sua mala pequena azul e por quanto; caso não queiras, deseja ela saber quanto custa uma igual, nova.Qualquer que seja a decisão, escreva a respeito, à Raymunda, com a devida urgência, de tal forma que antes de vires de férias esteja este assunto resolvido. Ainda a respeito da Raymunda: - desde há tempos, anda ela se preparando condignamente para ser tua madrinha de espada. Já comprou sapatos, brincos, relógio, com vistas também na fazenda para o grande vestido do dia, presente para te dar. Quer me parecer de que será , de fato, uma grande madrinha. – Mamãe não te escreverá mais. Diz ela que não terá mais tempo. As viagens a Barra da Tijuca, e  Maricá, produzem grande cansaço... Está te esperando para consertares o rádio de cabeceira. Sem mais, um abraço e reitero os votos de felicidade, do mano Felippe”.

Fui assistir ao jornal no cinema. Passou um passeio de trem pela Itália. Estudei Química. e Topografia. Fui dormir as 21hs.

19/11/56 – 2ª feira – “Toute discipline suppose um renoncement”. (Daniel Rops)

Acordei às 06:15. Fiz ginástica. O Villar também fez o mesmo.Fui ao HE tomar calor úmido e conversei com o Theberge e um garotinho Luiz Fernando e sua irmã Crsitina que sempre estão lá recebendo raios ultravioletas. Comprei mais um sabonete porque tendo esquecido ontem por descuido no banheiro, o mesmo sumiu. O almoço foi mais cedo, às 11:15hs. Houve depois o Culto à Bandeira. Falou o Sub-comandante sobre os feitos a que a Bandeira esteve presente. Em seguida o embaixador Olegário Mariano, dirigindo-se ao pavilhão nacional fez um belo discurso que pelo ritmo parecia uma poesia.

22/11/56 – 5ª feira – “Tentons d’être toujours celui qui apaise, qui pacifie, fût-ce au détriment de nos goûts.”

Tenho estudado Química e jogado basquete. Paguei Cr$130,00 ao Sr. Cap Medeiros Dias pelas fotos. Saí-me bem no exame escrito de Química.  Sábado será Topografia. O Horst, o Gonçalves e o Yapir têm feito compras em Resende para pagar no ano que vem.

23/11/56 – 6ª feira – « Y-a-t-il bonheur semblable à celui d’une âme heurese du bonheur des autres ? » 

O dia hoje será para o estudo de Topografia. Estudei o dia todo com o Villar, o Francisco e o Largaespada. No final da tarde fui jogar basquete. A equipe de Oficiais de Engenharia tem ganhado muitos jogos. O Sr. Ten Rheul (meu futuro professor de cálculo estrutural no IME, em 1966), tem jogado muito bem e está em grande forma.

24/11/56 – sábado – « Heureux lês doux, car ils posséderont la Terre.»

O ponto sorteado em Topografia foi o 7. Continha: Poligonação e Sistema Cartográfico Brasileiro. Fiz boa prova, graças a Deus. Foram 4 horas só de cálculos e gráficos. À tarde joguie basquete. À noite vi o filme “Terça-feira trágica”, sobre um tal de Canelli condenado à cadeira elétrica  que foge. A polícia descobre o seu esconderijo e ele começa a matar um por um dos presos que estão com ele. No final um dos presos mata o Canelli e depois é morto.

25/11/56 – domingo

 Depois da missa conversei com o Brás sobre a diferença entre D.D.P e F.E.M. chegando à conclusão que F.E.M.= D.D.P. + rI., sendo portanto a D.D.P. o que sobra depois que a corrente passa pelo interior do gerador.

Estudei Mecânica. Depois assisti ao jornal que mostrou a Festa das Rosas em São Francisco, nos EUA. Folheei a revista Maquis e não gostei do modo de criticarem as autoridades.

26/11/56 – 2ª feira

Prova de Mecânica. Afobei na hora quando vi  questões que não sabia. Acho que não sei estudar Mecânica, pois só li muitos problemas resolvidos à última hora. Acho que os professores foram tolerantes ao me darem 5,8.

27/11/56 – 3ª feira

Estudei Mecânica e Química

28/11/56 – 4ª feira – A metade da turma E-2 foi fazer exame de Topografia. Fomos ao Oliveira Botelho. Caiu uma interseção avante. Saí-me bem. Foram 3,5 horas de trabalho. À  tarde estudei Mecânica. Continuei estudando nos dias 29 e 30.

01/12/56 – Sábado

Acordei às 05:20. Escolhi o ponto 12 em Mecânica. Fiz um bom exame oral com o Cel Benevides. Agora só faltam a Química e as matérias de Engenharia. À noite assisti ao filme “Nunca me deixes”com Gene Tierney e Clark Gable. Um americano que casa com uma bailarina russa. A polícia o manda de volta para os EUA sem ela. Ele resolve ir buscá-la. Compra um barco e após várias peripécias como a do embriagamento de dois policiais chega a uma cidade da costa  da Estônia, Tallinn. Pôe um uniforme de um coronel médico, vai ao teatro  e lá consegue reaver a sua amada. Gostei do filme.

02/12/56 – domingo

Acordei às 06:30.  Dei o meu número ao Auxiliar do Oficial de Dia para tomar o café depois. Fui à missa. Li o jornalzinho “O Domingo”. O Padre Arquimedes Bruno falou sobre a penitência, dizendo que não devemos ser como Santo Antão, Santa Tereza e outros santos,pois devemos comer de tudo, inclusive carne que nos fornece protídios e proteínas. Que não devemos ter medo dos examinadores. Como ele se esqueceu de consagrar as hóstias,  os cadetes não puderam comungar.

Ando impressionado com os colegas do tipo Paes de Lima, Bethlem, Alcione, Walmor,.. que conseguem médias 9,5; 9,8; 9,4. etc... Acho-os superiores. Espero no próximo ano imitar o Paes de Lima em Resistência dos Materiais. No jornal do cinema vi o sofrimento do povo na Hungria e no Egito. O filme foi o “Hell and High Water”( Tormento sob os mares) com submarino e bomba atômica. Estudei Química. O Darzan dizia que não sabia o que ia fazer. O Ferreira fazia Educação Física.

03/12/56 – 2ª feira. Ontem à noite tentei estudar Química, porém as divagações acerca da imensidão do universo, com o Horst, não me permitiram. Fomos dormir às 21:50hs. As noites têm sido bem estreladas. Até as 8hs cortei o cabelo, apanhei o saco de roupa e copiei a música do Sapador Mineiro. Depois estudei Química.

04/12/56 – 3ª feira- Oral de Química com o Major Gastão. Tirei 8. Na biblioteca procurei para o zelador qual o antigo nome de Niterói e achei: “Vila Real da Praia Grande”.  Estudei Comunicações. Graças a Deus passei no Fundamental.

05/12/56- 4ª feira-  “O homem vale pelo que sabe”( dizia o meu pai)

Fui estudar armamento com o Horst Bockler, carabina .30 e metralhadora Browning.30. À tarde voltei lá e revi a metralhadora. O compressor de ar Le Roi  foi visto um pouco com o Magalhães da E-4. À noite fui à biblioteca e estudei Estradas com o Felintho Quaresma e o Joélcio. Fui dormir às 22:30hs.

6/12/56 – 5ª feira – No H.E. o Dr. Souza lobo mandou-me ir ao HCE, na enfermaria 15 procurar pelo Maj Neves ou Spínola. Não fui ao cinema, Passava o filme sobre a Ester Williams “Easy to love”de muitos e bonitos cenários.

7/12/56 – 6ª feira – Prova escrita de estradas. Dia chuvoso. Estudei pontes e comunicações. O Darzan está com um furúnculo no rosto.

08/12/56 – sábado

Exames orais de Pontes e Comunicações.  Fui bem mas errei certos detalhes. O Brás bateu um papo comigo à hora da tora, falando sobre os seus planos de tirar uma faculdade de Filosofia. (Na realidade, mais tarde tirou e foi professor!). Depois fui ao Parque estudar motores. Vi o filme “Amante sob medida”com Gabriel Gabin. De tanto tapear acabou em descrédito.

15/12/56 – Sábado – Encontro-me na fazenda de São Joaquim, do meu tio Françu ( o tio rico. Pai do Célio Borja). Ela acha-se na localidade de Juparanã, servida pela E.F.C.B.. Perto acha-se a fazenda de Santa Mônica que pertence ao Governo e foi onde morreu Caxias. Não está longe de Vassouras, bela cidade dos tempos coloniais. Cheguei aqui no dia 13, no jipe com o meu primo Hélio. Encontram-se aqui, a tia Rosa, a mamãe, a minha prima Maria Lúcia e seus filhos Cláudio, Flávio e Jorge que vieram de trem. O Antônio Jorge  pai deles, chegou hoje. O Flavinho ontem machucou a boca com um pedaço de pau. Hoje eu fui à cidade de Juparanã a cavalo. Saí em um burro e depois montei o “Gaúcho’e cheguei lá. Ia haver um casamento. O noivo é um lavrador de 40 anos e a noiva tinha 19 anos. Ele ganha Cr$40,00 de diária. Que Deus abençoe este novo lar. Voltei montando outro cavalo e o Hélio veio no “Gaúcho”. Pegamos uma boa chuva no caminho. Ainda bem que eu estava com a calça do tio Françú, podendo depois trocar de roupa. Chegamos às 14 hs e fui tomar banho em um regato. Acordei com desarranjo intestinal. Acho que foi devido ao leite puro tirado da vaca.  Estou lendo o livro “O Homem Esse Desconhecido”de Aléxis Carrel.  Estou de férias desde o dia 12/12/56-4ª feira. Vim para o Rio no trem de aço das 14:25. Só havia uma porta no último vagão. Além do carro restaurante só um outro tinha ar condicionado. Cheguei no Rio lá pelas 18hs. Tomei o 102- Praça Saenz Pena – Largo do Machado. Em casa estava a minha irmã Risoleta, o meu cunhado Oscar e o filhinho Oscar. Também estavam o mano Luiz, a irmã Maria José, a mamãe e a Raymunda. O rádio de cabeceira está estragado. O  José Maria e o Luiz compraram um carro por Cr$70.000,00. É um Morris-Oxford, 1950. Muito bom. Dei uma volta com o Luiz pela Praça Saenz Pena. Depois fui assistir com o,Luiz ao jogo de basquete feminino entre o Botafogo e o Fluminense. Muita gente. Ficamos de pé. Nomes de algumas jogadoras: Aglaé, Marta, Didi do Flu, Garrincha do Bota. Uma botafoguense chorou quando foi substituída. Ganhou o Botafogo. Fui dormir às 23:30hs. Acordei no dia seguinte às 05:30hs. Limpei os registros de entrada da água. Tomei café. Chegou o Hélio com o jipe. Dirige bem. Fomos pela Quinta da Boa Vista, Avenida Brasil, Rio-São Paulo, Estrada de Vassouras. Chegamos bem empoeirados. Em uma frase que me impressionou no livro: “Estamos tão longe de vencer a ociosidade como estamos do câncer e das doenças mentais.”

16/12/56 – domingo. Hoje não fui à missa. Durante a noite toda houve dança no paiol. O interessante é que chovia muito e mesmo assim veio muita gente. Fui dormir cedo. Hoje veio o noivo que casou ontem, descalço e com a mesma  calça do casamento. Só casaram no civil mas ela foi de véu, grinalda e vestido de noiva. Acabei de ler o livro donde tirei os seguintes propósitos: Cuidar da saúde, procurar uma esposa de boa saúde, fazer uma oração perfeita, tratar com afeição os soldados, evitar excessos, fazer exercícios de todos os tipos: físicos, morais e intelectuais. Tenho feito ginástica, tomado banho no regato e bebido leite tirado direto da vaca.

17/12/56 – 2ª feira – Vamos hoje para o Rio. O caminho está ruim e o jipe bem cheio. O Hélio dirigia e dizia que estava com medo. A mamãe como sempre rezava o terço e o Cláudio dizia para ela rezar mais. Tomei o trem em Juparanã. Fizemos baldeação em Barra do Piraí para um elétrico. A tia Rosa pagou o carro até a Tijuca.

Os primos Ivan, Rubens e Horácio vieram me visitar em casa. Conversamos bastante. Á tarde fiquei um pouco com a minha sobrinha Patrícia de quatro meses. Ela tem olhos azuis.

18/12/56 – 3ª feira – Fui para Niterói com a Raymunda. Fomos de lotação pela Lapa. Encontramos a Maria Helena e os filhos bem. Ela está grávida. Assisti à televisão.

19/12/56 – 4ª feira – Fui à praia. Os sobrinhos hoje foram dormir cedo. Às 21:55hs assisti na TV ao show “Bendix-Monsanto”de Carlos Machado em que aparecia a Elizabeth Gasper.

20/12/56 – 5ª feira – O dia amanheceu um pouco nublado. Acordei com o Renatinho em cima de mim.  Fomos à praia e corri com os três sobrinhos. Voltamos ao Rio todos juntos. A Maria Helena me deu Cr$100,00 para as passagens, dizendo: “Homem é quem paga!”.

Fui ao correio. Estava cheio. Comprei um bloco de cartas e cola. Fui à confeitaria onde comprei pão e biscoito para a mamãe.

21/12/56 – 6ª feira – Aproveitei que o Luiz ia a Bonsucesso receber um dinheiro de uma venda de fecho éclair  e fui de carro com ele até o HCE, na rua Licínio Cardoso. Lá procurei pelo Dr. Spínola que estava de férias e pelo Dr. Neves. Depois de certo tempo este me atendeu e mandou-me fazer mecanoterapia. Lá recebi massagens do sargento Henrique que disse-me ter um irmão que ia entrar para a AMAN. Na volta a condução demorou.

22/12/56 - Sábado – Voltei ao HCE onde recebi massagens de um outro sargento.

23/12/56 – Domingo – Fui à missa. Consertei o rádio da mamãe. O Felippe chegou às 17hs trazendo vinho em barril. Está usando bigode. Voltará no dia 2 de janeiro.

24/12/56 – 2ª feira – Dia normal. Consertei a porta do banheiro. Fui à Missa do Galo. Notei a Maria Anita com um novo namorado. O Padre Máximo falou muito bem em como o católico o deve ser com sinceridade.

25/12/56 – 3ª feira – Natal – Houve um almoço em conjunto com a presença do Oscar, do Frank, do Josué, do Pe. José Maria, do Felippe, do Edison...Muito vinho... Muito riso...Choveu. O Josué voltou para Niterói. Fui assistir TV na casa do Luiz com o Felippe que logo dormiu na sala, só de calção e com uma toalha por  cima.

26/12/56 – 4ª feira – Acordei às 08:35hs. Fui ao HCE para tirar radiografia do cotovelo esquerdo. Em casa escrevi cartas e fui ao correio. Passei pelo apartamento da tia Arthemira onde tirei uma lâmpada vermelha e tomei sorvete. Meio contra a vontade fui de novo para Niterói com a Raymunda. A lancha estava cheia..Chegamos às 21:55hs. Assisti de novo ao show na TV onde apareceram a E. Gasper e a Norma Benguel que cantou”Papai Noel, não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem! “.Rezei o terço e fui dormir.

27/12/56 – 5ª feira – Dia meio nublado. Fomos a Marica. À saída encontrei o Oto, colega de Engenharia que estava chegando ao Rio e ia para a casa da avó, que mora na mesma rua no número 192. Conseguimos arranjar um táxi que nos cobrou Cr$40,00. Na estação a Maria Helena comprou balas para os sobrinhos. O ônibus da Viação Nossa Senhora do Amparo , passou na entrada da cidade. Logo veio outro.Em Marica tomamos outro táxi (Cr$35,00). A Eliane entrou pela janela. A raymunda apanhou as chaves e varreu a casa. A Maria Helena e eu capinamos.  O lampião funcionou mal. Rezamos o terço. Após conversar com a Maria Helena fui dormir.

28/12/56 – 6ª feira – Acordei quase às 8hs. Dia muito bonito. Fui correndo até a Vila. Comprei leite, ovos, pão, querosene e água sanitária. A dúzia de ovos foi Cr$38,00, o litro de leite Cr$7,50, o querosene Cr$2,80  e a bisnaga Cr$4,00. Voltei a pé. Passeamos na canoa com o pai do Ênio que é um garoto que passa o dia lá em casa e faz muitos serviços. Muito bom rapaz. Limpei a caixa d’água. A mamãe chegou. Veio de carro, Cr$30,00. Disse que o Felippe estava andando muito de carro com o Luiz e que o Josué vinha domingo.. Capinei. O lampião está precisando de uma nova camisa. Rezei o terço e cantei.

29/12/56 – sábado – Acordei às 7hs. Capinei. Fui à Vila correndo. Comprei 1,5 kg de carne (patinha) a Cr$ 65,00. Meio quilo de farinha, Cr$5,00 e 5 litros de leite. Voltei conversando com um garoto da região. Tomei um rápido banho na água suja  da lagoa. Na cidade eu era o único de calção. Capinei e dormi um pouco. À noite rezamos o terço. Falei com o pessoal que estava pensando muito na E. Gasper e a mamãe como de costume foi contra a mistura de raça e dizendo que a vida dela era diferente e que geralmente esses casamentos são infelizes. Todos comentaram o estado deplorável do mundo!

30/12/56 – domingo – A mamãe anda às voltas com um conserto de carro que há muito a preocupa. A Maria Helena e a Raymunda foram à missa na Vila. O Josué chegou de Niterói, mas voltará hoje para regressar a Marica amanhã. Mamãe e eu voltamos para o Rio.Fomos a pé até a Vila e em Niterói a pé até as Barcas. Fomos de carro, Luiz, Felippe, Affonso, Maria José, mamã e eu assistir à missa na igreja de São Francisco Xavier. Pouca gente. O padre já está bem velhinho. Tomamos todos juntos um lanche na casa da Maria José. Fui dormir cedo. O Felippe e o Affonso andaram no carro do Luiz até às 5hs. Estavam já a tirar o carro.

31/12/56 – 2ª feira – Último dia do ano! Fui à missa onde me confessei e comunguei, graças a Deus! Fui ao HCE. O osso do cotovelo esquerdo está com uma protuberância. O Dr. Neves recomendou que eu continuasse com a fisioterapia e mecanoterapia e que nadasse. O Pe. José Maria veio em casa. Quem fez o almoço foi a mamãe, que estava toda atarefada. O Zé Maria comprou cerveja. O Felippe e o Affonso estavam com muito sono. Depois chegou o Edison que vinha do trabalho. O Duca chegou também, vinha da Barra da Tijuca, dizendo que na cidade havia muitos “paus d’água”.  Afinal o Luiz foi para Itacuruçá, o Pe. José Maria para o Alto da Boa Vista, o Felippe e o Affonso para Paquetá. A noite estava muito barulhenta. Ficamos em casa a mamãe, a Tia Amélia e eu. Fui à missa da meia-noite. Confessei-me e comunguei. Voltei contente para casa.  Hoje tentei consertar o rádio da tia Arthemira mas não consegui. Conversei com o Edgard que me disse que já era uma “personna grata”junto à Presidência da República e que poderia ser chamado a ocupar um grande cargo e que tinha um gabinete muito grande e todo atapetado. Que já saíra umas quatro vezes na coluna social e que em breve chegaria o carro que encomendara nos Estados Unidos.

“Sic flos vel ventus, sic transit nostra juventus!”Assim como a flor ou como o vento passa a nossa juventude!

E chegamos ao final do ano de 1956! Ano Novo! Chegou 1957!

01/01/57 – terça-feira – Tenho tentado consertar o rádio da tia Arthemira mas não consigo. Fui à casa da tia Rita onde consertei a enceradeira.

02/01/57 – quarta-feira -Consertei a tomada na casa da tia Arthemirra. Tomei sorvete na casa dela. O Felippe foi embora e deu-me duas camisas. À noite fui ver televisão na casa tia Arthemira. Hoje passei um telegrama para o Felippe dizendo que a transferência dele havia sido assinada.

03/01/57 – quinta-feira – Acordei, fiz ginástica. Fiquei muito contente quando vi que o meu braço esquerdo já dobrou quase todo. Graças a Deus! Fui à igreja. Estava cheia de alunos do Colégio Militar e vi lá o Dr. Neves à paisana. Em casa a mamãe me deu Cr4300,00 para que eu comprasse camisas. Fui ao Ministério da Guerra, onde encontrei o Barros que me disse que estava no Regimento Escola de Infantaria, na Vila Militar. O Lobão na Polícia do Exército, o Bonneti em Ponta Grossa. Não consegui receber a carteira da mãe. Fui ao Passarelo e dei o meu nome. Fui a pé até a Av. Graça Aranha, 226, para receber a escritura do meu terreno em Marica, estava fechado.Tomei uma vitamina (7,00) e um refresco (3,00). Consegui depois a escritura. Comprei duas camisas (445,00) na Ducal . Tomei o ônibus 102- Praça Saenz Pena – Largo do Machado. À tarde fui até a rua São Cristóvão na loja de um russo que foi soldado na Rússia, de cavalaria. Disse-me que o russo é mais forte que o brasileiro. Que os cavalos de lá são altos e fortes. Que os russos são muito bons. Que os estudantes russos são muito idealistas. Que a disciplina lá é duríssima. Que combateu na guerra de 1914. Que um tal de Trotski tinha sido um orador como nunca vira em toda a Europa e foi quem introduziu o comunismo na Rússia. Que combateu na guerra de 1914. Que um tal de Trotski tinha sido um orador como nunca vira em toda a Europa e foi quem introduziu o comunismo na Rússia. Que ele havia sido expulso da Rússia como não comunista.Que tinha uma loja de rádio no Brasil. O mecânico de rádio era um português que parecia entender bastante. Voltei a pé até a praça da Bandeira e peguei o 102. Em casa a mamãe reclamava do aumento do custo de vida. À noite fui à igreja com a mamãe. O Padre Basílio falava. Confessei-me com o Padre Rafael. Vi o Padre Nicolau que é o novo vigário.

04/01/57 – 6ª feira – Levantei-me e fiz educação física. Fui no carro do Dr. Piedras até o sítio. Íamos: Ivan, Edison. Maria José, Patrícia, tia Arthemira e eu. Furou um pneu no caminho. Chegamos, não havia ninguém. Tia Arthemira rindo, disse que a Mariinha tinha ido casar. Comi um sanduíche e voltei com o Ivan que já está dirigindo bem. Tinha combinado com o Ivan ir para Paquetá às 16:30hs. Tinha que fazer o seguinte: consertar o rádio da tia Arthemira, pois já tenho as resistências, fazer as chaves para o portão dos fundos. Deixei tudo de lado quando o Ivan resolveu ir às 14:00hs. Apressei-me e fui tomar o lotação, só conseguindo às 14:00hs. Cheguei à Praça 15 às 14:30hs. Só havia lancha para as 17:00hs. Fiquei sentado apreciando um indivíduo do Exércitio da Salvação. Chegou sozinho. Tirou um acordeão e pôs-se a cantar e tocar. Aos poucos foram chegando alguns daqueles que ficam pelas  praças. Tomei a lancha Petrópolis. Em Paquetá ia a pé para a casa da Risoleta. Veio a Ana de bicicleta e eu a levei atrás. À noite fomos até a ponte: Rubens, Horácio, Ivan, o Caetano, filho do Seu Moisés e eu. Vi o movimento. Íamos dormir quando uma garota chamada Cléa deu bola. Ficamos os cinco a conversar com ela. Disse que estudava no Colégio Piedade, tinha 15 anos e conhecia muitos rapazes. Fomos com ela até a praia da Guarda e nos despedimos.

05/01/57 – sábado. Acordei cedo, fui à praia fazer ginástica e nadei. Encontrei a tia Rita já tomando banho e a Marieta fazendo ginástica ouvindo rádio. Apareceu o Oscar que quis experimentar o motor Evinrude de 10 cavalos, que não pegou. À tarde andei de barco com o Ivan.  Vi hoje o Machadinho, já aspirante, que vai para João pessoa no dia 21.

06/01/57 – domingo – Acordei às 05:45hs. Fui à missa  com a Risoleta, Oscar, Margarida, Vera e Oscarzinho.  Experimentamos o motor. Pegou. Estava com de3feito, parava sozinho depois de cert tempo. Puxei muito motor. Depois o Oscar passou por cima de uma pedra oculta e quebrou o pino. Hoje vi um outro cadete. Ontem vo o Cap Medeiros Dias na praia do Catimbal. O Ronaldo da EPSP está namorando a R. do tio Françu. Ganhamos duas partidas de basquete. Hoje vi o Cláudio, o Fafá e o Jorge filhos da Maria Lucia e do Antonio Jorge. A casa do tio Françu é muito bonita.

07/01/57 – 2ª feira – Tenho encontrado vários colegas da AMAN ou conhecidos, como Cap Medeiros Dias, Jamil (Inf), Luiz de Eng, Ronaldo da EPSP, um cadete alto do 1º ano, o tio Moisés e o Henriquinho. Tenho gostado muito de Paquetá, andado bastante de bicicleta, nadado bastante e o braço está ficando bom, graças a Deus! Só que aqui eu não consigo levar uma vida mais espiritual. Fico muito distraído. A Cléa foi para o Rio. Todos nós gostamos dela, pois é uma das mais bonitas da ilha. Tem 14 anos, sabe conversar sem constrangimentos. É uma garota diferente.

08/01/57 – 3ª feira – Acordei cedo e fui para a praia fazer educação física. Consertei as instalações elétricas da casa da Risoleta. A mamãe chegou com a tia Amélia. Pegaram uma charreta. Fui tomar banho de mar. O Horácio foi ao Rio e voltou no mesmo dia. Fomos passear na ponte. Paqueramos um pouco. A Clélia apareceu. Voltamos para casa. Dormi na casa da Nair às 21:30hs.

09/01/57 – 4ª feira – Acordei às 05:10. Fui à praia. Ginástica. Fui à ponte comprar pão. A mamãe foi visitar a tia Rosa. A Maria Célia está namorando um ex-aluno da Escola Naval. A R. está namorando o Ronaldo da EPSP. O calor hoje está muito forte, até as velas da sala dobraram sozinhas. Colocamos o motor do Oscar para funcionar. Ainda continua ruim. À noite o Rubens, Horácio e eu conversamos com a Cléa. Chovia. Dormi na rede. Hoje a mamãe rezou o terço com todos juntos.

10/01/57 – 5ª feira – O dia amanheceu chuvoso. Fiz ginástica e tomei banho. Fui seis vezes à ponte. A Nair chegou. O Rubens e o Horácio limparam o barco do Oscar. O dia está muito chuvoso. À noite fui à igreja. A mamãe rezou o terço.. Fui dormir na rede às 21hs.

11/01/57 – 6ª feira – Acordei às 06:10. Chovia. Fui à ponte comprar pão e peixe (Cr$70,00) e camarão. Conversamos com a Cléa, o Horácio, o Caetano e eu. Contou que a mãe é enfermeira no Hospital Pedro Ernesto e trabalha à noite. Hoje limpamos o barco do Oscar e a prancha.

12/01/57 – sábado – O Oscar chegou ontem e o Affonso hoje. À noite fomos à ponte. Ontem joguei outra pelada de basquete. A ilha ficou muito cheia.

13/01/57 – domingo – Fomos à missa no Preventório. O motor pegou bem no começo. Conversei com a Marta e a Irene que conhece o meu irmão Felippe. A fila para voltar para o Rio estava enorme. Afinal o Affonso conseguiu ir, tendo eu ficado um pouco para ele na fila.

14/01/57 – segunda- O Oscar, o Ivan e a Verinha foram cedo para o Rio Fiz ginástica. Colocamos o motor para funcionar. A Martha e a Irene andaram de lancha. A Risoleta contou-nos casos da nossa família. Consertei o banco da lancha do Oscar. Fui passear de bicicleta. À noite o Rubens conversou com a Cléa. Horácio, Caetano e eu fomos falar com três garotas: Maria Alice, Vera e Edy. A Edy me disse que está no 4º ano do Instituto de Educação e é filha do Cel Bessa. Todos gostamos da noite e fomos dormir contentes, graças a Deus!

15/01/57 – terça – Acordei cedo. Fiz ginástica. O braço está quase bom. Levei o Oscarzinho à ponte. Ele dá para chorar muito  à noite, querendo ir para a rede. A Risoleta às vezes até se impacienta. Fui à praia. Andamos de prancha com a Risoleta, Margarida, Violeta, Anunciada, Marta, Irene, Cléa e as netas do tio Manoel. A Zilda chegou do Rio. Brinco com ela em relação ao samba. O dia hoje está bem quente, as noites com um bonito mar. À noite limpei as velas do motor. À noite conversei com a Marta, vendo a lua cheia que se escondia atrás das nuvens, na praia do Catimbau.

16/01/57 – quarta – Acordei cedo e fui passear com o Oscarzinho. A tia Rita estava com a Mônica filha da Hilda. Fui à praia. A Maria Lúcia e filhos, A Célia e o namorado passeavam de lancha. Conversei com a Edy e a Vera Lúcia. Guardamos o motor já enjoados de dar partida no mesmo. A Vera e a Anna chegaram do Rio dizendo que a mamãe me queria lá em fevereiro e que o José Maria ia para Taquara em Jacarepaguá e que a Maria helena tinha ido ao Rio com toda a filharada. Dormi à tarde. Choveu. Fui à ponte. Dormi cedo depois de rezar o terço.

17/01/57 – quinta – Fui hoje comprar pão. Comprei tinta e pintei os lustres da varanda. Dia chuvoso. A Vera quer saber tudo sobre um tal de James Dean. O rock and roll no filme “A Dança das Horas”causa distúrbios no Rio, porém a polícia tem controlado. Pegou fogo hoje um petroleiro da Petrobrás, o Amapá, perto da ilha Comprida. À tarde tomei banho, nadando como exercício. Chovia À noite rezamos o terço. Conversei com a Risoleta sobre a nossa família até as 22 horas. Dormi na poltrona.

18/01/57 – sexta- Amanheceu chovendo. Fui à ponte com o Oscarzinho e comprei uma rosca para ele e outra para o Joãozinho irmão do Caetano. Limpei a bicicleta do Oscar. A Zilda fez um gostoso prato de talharim. À tarde chegou o Oscar que fez anos ontem (45 anos). Ele trouxe a bicicleta da Vera. O Ivan também chegou, trouxe duas caixas de uva. Dei dois mergulhos na água e caiu um grande toró. O jornal Diário da Noite  trazia a seguinte notícia: Testados ontem os foguetes brasileiros. Com a presença do ministro da Guerra , general Lott, do chefe do Estado Maior das Forçasa Armadas, general Otavio Maza, do chefe do Estado Maior do Exército, general Zeno Estillac Leal, foram testados ontem no Forte de Copacabana, os foguetes rotativos de 105mm e 5.500 m de alcance, fabricados com matéria prima  exclusivamente nacional. As experiências tiveram pleno êxito e constaram da perfuração de chapas de aço, destruição de peças de madeira revestidas de aço, tudo com explosivos militares plásticos e ciclotrol. São das manobras os flagrantes que divulgamos.

Rezamos o terço. Dormi das 19 às 21hs. Parou a chuva e voltou a luz. A Margarida, Violeta e Vera foram ao cinema.

19/01/57 – sábado – Acordei às 7hs. Ganhei um retratinho da Vera. Consertei a bicicleta do Oscar que foi pescar. Fui à praia rapidamente. À tarde dormi e brinquei com o Oscarzinho. Fui à ponte. Chuva. Caiu um raio que deu três estouros. Pensei que fossem latões de gasolina que tivessem estourado. Tive medo. O Ivan saiu correndo e eu atrás. Eis que aparece o Dr Piedras e nos chamou de medrosos e covardes e que quanto mais rezamos mais medrosos ficamos e blasfemou. Que Deus o perdoe! À tarde também fui à praia. Vi a Vera Lúcia, Edy, Marta e Irene. A Cléa apareceu com o Rubens e disse, segurando na minha bicicleta, que ia para o Rio. Havia uma festa mas não fui. Em casa rezamos o terço e fui dormir às 21:45hs.

20/01/57 – domingo- Dia de São Sebastião. Bonito dia! Fomos à missa no Preventório. A Vera quase que chora porque a Margarida foi na bicicleta dela. Fui comprar pão com o Ivan. Usamos a lancha e o motor ainda não está bom. Na praia conversei com a Vera Lúcia que me disse que a Edy havia chorado porque os pais a levaram para outra praia. O Oscar não gostou que subíssemos na lancha andando nem saltássemos dela. Ivan e eu guardamos a lancha. Ã tarde e à noite fui à ponte. 

21/01/57 – segunda – Comprei pão com o Oscarzinho. Fui à praia. Brincamos com umas americanas de sete anos para menos. Estavam com a governanta. Foi divertido. Conversei com a Edy e com a Vera Lúcia. À tarde dormi. Fui à ponte, onde cortei o cabelo  e comprei pão e carne. O Caetano, o Horácio e eu encontramos a Vera Lúcia e a Edy. A falta de assunto foi grande. Em casa a Risoleta , as filhas e eu rezamos o terço. A Zilda trabalhava na cozinha. O Caetano e eu fomos conversar com a Vera Lúcia e a Edy.

22/01/57 – terça – Fui à ponte com o Oscarzinho. O Horácio e o Caetano compraram gasolina misturada (86,00). Andamos de lancha até a ilha de Brocoió. Depois fui conversar com a edy e a Vera Lúcia. À tarde torei. Fui à praia. Conversei com um consertador de bicicleta de nome Nico. À noite fui à ponte. Chegaram o Rubens e o Dr Piedras  que foi de barca para o Rio. Ofereceram-me dinheiro, mas não aceitei. Na volta encontramos a Edy e a Vera Lúcia.  Hoje também rezamos o terço em casa.

23/01/57 – quarta – Acordei cedo. Fui à ponte com o Oscarzinho. A Zilda cantava: “Ah este mundo está louco, está, está de pernas pro ar, pra uns é doce de coco, pra outros é de amargar! A gente inda ganha pouco, inda tem que rebolar, rebolar, rebolar!”

 26/01/57 – sábado – Atrasei-me, faço uma recapitulação: Tenho conversado com a Edy e olhado muito para a Pepei. Joguei uma pelada de basquete quinta à noite, com o Rubens e o Caetano. Chamavam o Rubens de apavorado e a mim de coqueiro e cobra. Nadei até o globo que é um marco que existe em frente à praia dos Coqueiros. A Risoleta me disse que ficou com o coração deste tamanho. O Caetano e o Horácio foram buscar a lancha. O Dr Piedras, o Edgard e o Ivan vieram ontem. Temos rezado o terço todas as noites. Hoje apareceu o namorado da Vera Lúcia, Jaime. O Edgard foi pescar com o Oscar e pegaram 40 peixes.

27/01/57 – domingo – Fomos à missa no Preventório às 06:30hs. Andei de lancha. Deixamos o Edagrad e o Horácio pescando. Fui para a praia. Houve procissão de São Sebastião mas eu não fui. Ivan e eu conversamos e passeamos na ponte. O Rubens foi embora depois de brigar com a Cléa. Vai viajar.

28/01/57 – segunda – Fui à ponte com o Cacá. O Oscar, o Edgard e o Ivan foram na barca das 05:30hs. O Oscar foi chateado, só falando nas férias dele. Consertei a bicicleta do Oscar. Fui à praia, rapidamente. A praia estava suja com peixe morto. Chegaram uns antigos colegas do seminário: Darci, Manoel, um louro de óculos e um cearense. Lancharam na casa da risoleta. Conversamos bastante lembrando o tempinho. Eles iam dormir mas não foi possível. O Cândido começou a consertar os motores. Ã noite fui à ponte. Apostamos corrida de bicicleta. Ganhei uma do Horácio até o Municipal. Havia um arrasta-pé no Municipal. Não dancei. Fiquei de calção, vendo. A noite estava muito linda.

29-01-57 – terça – Fui à ponte com o Oscarzinho. O dia está bonito. Hoje não conversei com garota alguma. É que fiquei influenciado pelo estado de espírito dos seminaristas que aqui estiveram, todos alegres sem pensar em namorar. Fui para a praia. Nadei bastante. Rezamos o terço. A tia Rita também. A casa da Risoleta está sendo pintada. P pintor se chama José e é paraibano. É do Arsenal. Trabalha bem. Dormi cedo. O Rubens ficou conversando com a Cléa. O Horácio e o Caetano com uma moça do SAPS.

30/01/57 – quarta – Penso em ir ao Rio. Estou enjoando de Paquetá. Os primos encheram a balsa do Orlando. Fizemos farra na praia. A Lúcia e outras garotas emprestaram um remo. Não conversei com a Edy. Já enjoei dela. À tarde dormi. Fui à praia com o Oscarzinho. O Beto brincou comigo, caçoando. Fui ao Rio na lancha Petrópolis. Cr$10,00. Fui com o Rubens e o pintor José.

31/01/57 – quinta – Fui à missa. Confessei-me e comunguei. O vigário é o Pe. Nicolau. Fui ao Ministério da Guerra. Tirei abacate. Comprei um calção por Cr$180,00. A Raymunda deu um banho no Triquinho e eu cortei o pelo dele. Dormi. Encontrei o Edgard bem vestido no ônibus 102. Fui com a Anna e o Rubens para Paquetá. A Margarida, o Paulinho, o Horácio e o Caetano estavam lá. Levei abacate para a Risoleta. Não tenho conversado com garotas. Rezamos o terço. Há muita mosca na casa.

01/02/57 – primeira sexta-feira – Dia normal. Compras. Fui à missa com o Oscarzinho e a Margarida. Comunguei. Tenho tomado muita “bomba”, que é suco de laranja da terra.

02/02/57 – sábado – Não fui à missa. Tenho limpado bem a bicicleta do Oscar. O Edgard veio ontem com o Oscar. O Ivan hoje com o Dr. Piedras. Encontrei com o Roberto, primo do João Bosco. Passou para o 3º ano da EPSP. Conversamos bastante. Tem uma irmã chamada Wilma. Há uma festa hoje no Jaca’s. Metade normal, metade grito de carnaval. Não fui. O Edgard, o Ivan, o Rubens, o Horácio e o Roberto foram. Não tenho conversado com a Edy.

03/02/57 – domingo – Missa das 06:30 no Preventório. Dormi mal. Tenho bebido bomba demais. Deitei-me e a Risoleta me deu magnésia e mate. O mar hoje está muito picado. Treinamos waterpolo, Roberto, Rubens e eu. A Edy estava na praia. Encontrei-me com o Asp Wilson de Infantaria. O Rubens vai embora hoje. Teve dificuldade em ir para o Rio, pois havia muita gente na ilha. Hoje é o dia de São Brás. A Marieta levou quase toda a sobrinhada à igreja do Bom Jesus para receber a benção das velas.

04/02/57 – segunda – O Oscar entrou de férias. O Edgard e o Ivan foram para o Rio na lancha das 06:00hs. Encontrei-me com o Roberto que vai hoje para o Rio. Comecei a jogar sinuca. À tarde choveu. O Rubens voltou do Rio. Hoje não rezamos o terço em conjunto. O Oscarzinho está com 2 anos e 2 meses. A Risoleta às vezes o chama de bomba porque é muito agarrado e à noite as vezes chora.

05/02/57 – terça – Fui pescar com o Oscar. Ele pescou 6 e eu 4. O motor não está bom. Queimei-me mais ainda na pescaria. À tarde joguei sinuca. O Dr Piedras e o Rubens foram para o Rio. Fui à ponte com o Horácio e depois jogamos sinuca.

06/02/57 – quarta – Encontrei-me com o Waldir de Infantaria, de bigode. O Caetano foi para o Rio.Vai passar o resto das férias em Petrópolis. O João também foi para o Rio. Joguei vôlei com o Horácio na praia. A rede de vôlei é da Pepei. Há sempre jogo na praia dos Coqueiros. À tarde também jogamos vôlei no Municipal. Á noite resolvi dormir cedo na casa da Nair. A Nairzinha chorou de noite. Passou mal.

07/02/57 – quinta – Oscar, Horácio e eu fomos pescar. Na praia ontem vimos o coronel Bessa que também foi pescar. O Horácio deu sorte ( ele diz que não é sorte mas sim classe). Pescou uma big “Carinhanha” e um “Peixe-Porco”. No final foram 10 do Horácio, 7 do Oscar e 6 meus. À tarde fomos jogar vôlei no Municipal. À noite fomos à  Ponte e depois resolvemos ouvir serenata. Uma colega da Verinha, Lucy, irmã da Lecy, tocou violão. Dormi na casa da Nair.

08/02/57 – sexta – Limpei a bicicleta do Oscar. Ele resolveu passear com a Risoleta e o Oscarzinho. O motor porém decepcionou. À tarde quando acordei, o Oscar e o Horácio tinham desmontado o motor. Depois o Horácio e eu fomos jogar vôlei no Municipal. O motor depois pegou bem. Vibração geral. À noite fomos à Ponte. Nada de novo. Fui para casa. O Oscar e a Risoleta dormiram nas redes. Li este diário para o Horácio. Resolvemos aproveitar mais o resto das férias.Eis as normas adotadas:

1)      Novos conhecimentos;

2)      Mais jogos de basquete e vôlei;

3)      Descansar bastante.

As sobrinhas foram ao cinema no Municipal.

09/02/57 – sábado - O Horácio, a Nair, a Nairzinha, o Tuquinha e o Paulinho foram de charrete para a Ponte. Vão para o Rio ver o embarque do Rubens. Experimentamos o motor, Oscar e eu. Ainda há defeito. À tarde começamos a tentar consertá-lo. Recebi um convite hoje para o baile inaugural do Paquetá Iate Clube. É que um advogado havia prometido para o Horácio. Às 17:30hs fui jogar basquete no Municipal contra o Boog-Yoog. Uma boa pelada (60x22). Estava na dúvida se iria ao baile. Lia o livro “A Ponte dos Suspiros”, em que um tal de Rolando Candiano sofre um bocado de adversidades na vida. Gostava de uma tal de Leonor e eram chamados “Os Amantes de Veneza”. Outros personagens (Cardeal Bengo, Altieri, Branc, Valeria, o dodge Foscari, etc.) ã meia-noite fui ao Iate Clube. Dancei com a Marta. Encontrei o Roberto Ribeiro, da EPSP. Um cadete da Aeronáutica, meio alto, entabolou uma conversa comigo. Joga basquete e conhece o Calomino e o Tarcísio da EPSP. Depois veio o carnaval. Como pulavam e suavam os que brincavam. Não pulei. Às 02:30hs fui para a casa da Nair dormir. A Edy e a Vera Lúcia brincaram.

10/02/57 – domingo – A Margarida ia me acordar. Fomos ao Preventório. Comunguei. Fui dormir de novo. O Oscar sozinho andou de lancha. Fui depois. Ainda há defeito. À tarde consertamos. Hoje é o jogo entre paulistas e cariocas. Até agora vencem os cariocass por 1x0. O speaker fala mal do juiz Antonio Musitano. No final os cariocas ganharam de 4x0. Primeira vitória no Maracanã. À tarde choveu forte como de costume. Acabei de ler “A Ponte dos Suspiros”.

11/02/57 – segunda – O Oscar e a Margarida foram ao Rio. Mandei consertar a bicicleta do Oscar. Chegou o Horácio. Experimentamos o motor. Está bom. Acabou a gasolina. Passeamos de bicicleta. Vimos a Cléa e a Dupla. A Dupla estava pescando. O Horácio comprou jornal. Havia um padre na fila. Caiu uma forte chuva. Joguei sinuca com o Horácio. Ele rezou o terço. Discutimos os problemas da juventude. Fui dormir na casa da Nair. Pensei na Liz.

12/02/57 – terça – Fui à Ponte com o Oscarzinho. Brincamos com a arara da praia dos Tamoios. Li uma revista. Peguei o barco do Oscar e comecei a dar a volta na ilha. O tempo já mudou. Atraquei o barco perto da Covanca. O Horácio quis continuar. Fomos de barco até a Praia Grossa. Apanhei a bicicleta do Oscar cujo conserto foi de Cr$50,00 no Seu Francisco e fui buscar o dinheiro. A Cléa foi a um banco da Praia Grossa  e nos ficou olhando. Quando passamos fez um olhar de desconsolada. O Oscar chegou do Rio com a Margarida. À tarde jogamos vôlei no Municipal. À noite encontramos a Marta e a Irene que iam a uma festa na Casa Moderna. Não íamos mas o Horácio estava em dúvidas. Depois apareceu uma garota alta e gorda que sem se apresentar queria que fôssemos à tal festa. Veio dizendo que eu era enjoado e parecia bom para ser padre. Chamava-se Vilza. Um tal de Zeca convidou as minhas sobrinhas para dançarem no Iate Clube mas elas não foram.

13/ 02/57 – quarta – Fui continuar a volta à ilha de barco. O barco estava com água mas consegui esvaziá-lo. Fui remando. Parei algumas vezes para descansar na Praia dos Frades, na Ilha das Flores e outros lugares. O Oscar e o Horácio foram pescar de lancha. Não pescaram quase nada. Depois encontrei a Marta e a Irene na praia. As primas e as sobrinhas brincavam  no  barco. A Cenira e a beatriz foram passear de lancha com o Oscar e a Anna. Passeei com o Franz. O Caetano telefonou às 14:30hs lá de Petrópolis. Vai bem. Convidou-nos para passar sexta, sábado e domingo lá. Ficamos para resolver, Horácio e eu. Resolvemos não ir. À tarde o Nelson convidou-nos para jogar voleibol no Municipal. À noite fomos deixar o Oscar na Ponte. Rcebeu um chamado do Rio. Pagou-nos um cafezinho. O Horácio foi conversar com a Lúcia e a Sônia. Como riem! Depois passamos pelo Iate Clube para ver o ambiente. Quase que fomos com a Anna. A Risoleta ouviu sem quere um programa da Rádio Mundial (Cruzada da Boa Vontade) . Dormi na casa da Risoleta.

14/02/57 – quinta – Limpamos o motor, Horácio e eu. Pedi emprestado a chave do Dr. Piedras, para consertar a bicicleta da Margarida e a chave não agüentou o esforço. Telefonei para o Oscar pedindo que trouxesse uma chave de 6 inches, igual à do Dr Piedras. O Horácio cortou o pé na lancha quando andava com o motor do Ronaldo Espoleta, Jonhson 5 1/2cv. À tarde jogamos voleibol no Municipal. A Marta quis jogar e jogou. O Oscar chegou mas não trouxe a chave. À noite fomos à Ponte. Conversamos com a Lúcia e a Sônia. O meu primo João Bosco, filho do Duca e da Afonsina chegou hoje.

15/02/57 – Aniversário da Raymunda ( 45 anos). Fui à Ponte com o Cacá. Fomos à praia. O dia não está muito bonito. No final joguei voleibol. Perdi uma e ganhei outra. Cheguei atrasado para o almoço. O Cacá foi cortar o cabelo. Chorou muito. Quem segurou foi a Maria lavadeira. À tarde joguei basquete, uma péssima pelada. À noite chegou o meu primo João, pai da Cenira, com a Carmen sua filha e o meu primo Dr. Edgard. A Vilza apareceu na Ponte. Vi a Cléa. O Horácio e o João Luiz conversaram com a Lúcia e a Sônia. Queria conversar com a Cléa mas não tentei. Só disse um Boa Noite. O Affonso também chegou hoje. Esteve 12 dias em Pindamonhangaba. Fez um reconhecimento de ponte. Tomamos três coca-colas, João Luiz, Horácio e eu. Estávamos em vista de falar com três garotas do edifício. Chegaram dois homens que vão fazer o churrasco amanhã. Dormimos Affonso e eu em redes.

16/02/57 – sábado – Churrasco. O Cacá como sempre acordou todos pela manhã com seu chorinho matinal. O Affonso foi com ele à Ponte comprar pão. Apanhamos cadeiras e mesas no Municipal para o churrasco. Fui com o Affonso ver o motor. Não pegou. Jogamos voleibol. Na hora do churrasco estava sem fome. Vieram algumas pessoas de fora. Foram 3 charretes. Havia duas mocinhas, uma delas Maria Inês havia passado 30 dias em Caxambu. Andamos no motor do Ronei (Espoleta). Havia um meio italiano, Antonio Polini que me ajudou a ligar o motor do Oscar, que quebrou. À tarde as visitas foram embora. Chegou o Roberto. Uma garota lhe perguntou se era de São Paulo. À noite choveu. Tentamos um convite para o Iate. O Jaca’s deu a festa. Na hora o advogado fez entrar todos. Não fui. Dormi na rede, ouvindo a música que tocava no Municipal. As sobrinhas foram.

17/02/57 – domingo – Da Septuagésima – Fomos à missa na capela de São Roque às 08:30hs. Vi uma moreninha que já estou a observar há muito tempo. O Edgard e o Affonso também foram. O Edgard estava com uma camisa escura azul por fora das calças. O Horácio me disse que havia dançado com a Cléa. O Affonso dançou com a Irene. O Roberto dançou com a Marta. Conversei com o Dr. Pedras e lhe disse que quebrara a sua chave. Ele conversou sobre vários assuntos: judeus, turcos, padres, natureza, Deus, família, etc. Fui à praia. Estava bem cheia. Joguei voleibol no Municipal. À noite fomos à Ponte, menos o Affonso. Ficou estudando Descritiva. Hotel Fragata... Lúcia e Sônia... Cléa e um rapaz... Garota da dupla e acordeom... Fui dormir às 22 horas. Os cariocas empataram com os mineiros em 2x2. O jogador Índio perdeu um pênalti.

18/02/57 – segunda – O Edgard foi cedo para o Rio. O Affonso também foi embora. Encontrei um ex-aluno da EPSP que já está na AMAN. Bicicleta do Oscar... Praia...Bola com o Roberto... Primas Dayse e outra... Cortei o cabelo... Discussões entre o Oscar, Risoleta, Margarida, Dadá em relação à caridade para com a Nair que está sem empregada. Fui à Ponte. Horácio com a Lúcia e a Sônia. A Vilza no banco. A Dayse da dupla... A moreninha do Hotel. A Cléa com short amarelo. Chegou o Roberto com o João e primas Dayse e outra, Regininha e Gracinha. A Cléa passou dizendo à mãe que estava enjoada e que ia dormir. O Horácio chegou dizendo que a Sônia não entendia que ele só queria a Lúcia. Volta... Prai dos Coqueiros... Dormir.

19/02/57 – terça – O Oscar mais uma vez reclama que o Felippe não escreve. Consertei a bicicleta do Oscar, que foi à Ponte com o dr. Piedras para cortar o cabelo. Escrevi uma carta para o Felippe e fui colocar no correio. Fomos à praia o Roberto, o João Bosco e eu. Jogamos bola dentro d’água. À noite fui à Ponte e encontrei a Dayse prima do Roberto a pé. Andei com ela atrás da bicicleta. Voltei à Ponte e encontrei o Ivan. Havia uma festa mas resolvemos não ir. À noite choveu. Desmoronou um edifício no Rio, era de 10 andares. Vi a Cléa com um outro rapaz.

20/02/57 – quarta – Fui à Ponte com o Cacá.Dia chuvoso. Fomos à praia, Ivan,Horácio, Roberto e eu. A Célia, uma garota de 13 anos que mora no Andaraí foi para o Rio. Vai passar o restante das férias em Petrópolis. Ela tem um rosto bonito. Em Petrópolis tem um sítio no KM30 antes da cidade. Diz que vende terreno lá, lê romance e engorda.Estuda no Santa Tereza e está no 3º ano do ginásio. Foi na lancha das 11:20hs. À tarde dormi bem. O Horácio, Ivan e Ronei Espoleta foram passear de lancha na Ponte. Oscar e eu fomos montar o motor. À noite choveu. Veio um homem conversar com o Oscar. Trabalha na Cia de Cimento Itaú, de Belo Horizonte. Veio tratar de terrenos. As garotas foram ao cinema, menos a Anna e a Margarida. A Elisabete Gasper apareceu no Diário da Noite.

21/02/57 – quinta – Fui à Ponte com o Cacá. O Oscar foi pescar com a Risoleta. Fui à praia tentar achar a poita do barco e não encontrei. Fui à praia. Jogamos vôlei sem rede Roberto, Horácio, Waldir de Infantaria e eu. Folheei revista, O Cruzeiro e Mundo Ilustrado, fui dormir na rede e depois na cama da Dadá. Chamaram-me para jogar vôlei no Municipal. Não fui pois estava consertando o pneu da bicicleta do Oscar e o ferro de passar roupa, que deu um curto e queimou um fusível. Fui à Ponte comprar os jornais. Li o livro de inglês da Dada. A mamãe telefonou do Rio dizendo que viria para me buscar. À noite rezamos o terço como sempre e fui à Ponte. Roberto, Marquinho e outro com as primas foram também. Horácio e eu fomos falar com a Cléa que estava com uma colega Suely. Elas depois se despediram. Ivan e eu fomos conversar com a Marta. A Vilza estava por perto. À porta do Iate Clube paramos. Conversamos com a Irene, Marta e Thaisen. Brincaram comigo, cantando a música Felinto Pedro Salgado Guilherme Fenelon... Eu não queria ir à festa e todos comigo diziam o mesmo. Fui dormir às 22:10hs. A noite foi muito fria. Senti frio pois estava na rede e só com um lençol e sem camisa, mas isto faz bem. O Cacá acordou várias vezes. Falava no cachorro Rock and Roll que aparece todas as noites e toda a gurizada brincara com ele. Tenho a impressão que a Marta está gostando de mim?!

22/02/57 – sexta – A Anna tem ido à igreja todos os dias. O ferro de passar roupa está deixando sair fumaça mas não foi nada pois continuou a funcionar e a Maria a passar a roupa. À tarde fui à Escola da Prefeitura perto de São Roque onde joguei vôlei.

23/02/57 – sábado – Ontem à noite o Roberto e o Horácio fizeram uma defesa do ponto de vista de se devia aproveitar a juventude. Resolvi me confessar na igreja do Bom Jesus onde encontrei a Pepei e irmã que comungaram. À tarde joguei vôlei. À noite a ponte estava animada. Falei com a Cléa, Suely, Mavi, etc. A Mavi e a Taisen dançaram na rua mesmo. Procuramos arranjar convite para ir ao Iate. Não conseguimos. À noite choveu. O Affonso chegou. Também houve música no Municipal.

24/02/57 – domingo – Missa às 06:30 com comunhão. Figuei na Ponte ouvindo o Pixinguinha tocar saxofone e o Alfredo tocar flautim. Estava ótimo. O Oscar, O Piedras, o Edison e o Affonso foram passear de lancha com o Cândido até Magé. Fui à praia. A Miss Maquillage sentou à minha frente. Fui nadar. O Roberto foi embora tendo falado em “metermos um praião” no Rio. Uma garota interpelou-me quando nadava. Chama-se Sandra Miriam e mora em Copacabana. O Affonso e o Edison jogavam sinuca. Fui jogar vôlei após ter dormido até 15:30hs. Até que enfim ganhei duas partidas em seguida. Um tal de Marino joga bem. Caí na água. Fui à Ponte. O Marino começou a contar lances do CPOR. Ele já saiu aspirante e vai servir em Petrópolis, ganhando Cr$10.000,00. Havia uma festa na casa de uma tal de Margarida. Não fomos.

25/02/56 – segunda – Fui à Ponte apanhar leite e levar a Maria José, que com a Patrícia (com seis meses) e a empregada Ana (aquela mesma da fazenda do tio Françu) foram para o Rio. A lancha era pequena (Fluminensezinha). O Oscar e o Affonso endireitavam o motor. Affonso e eu fomos à praia. O motor funcionou 100%. Só que quando parava, custava a pegar. Caiu a torneira do tanque dentro d’água. O Oscar assistia lá do barranco. À tarde colocamos o banco novo na lancha, Oscar, Affonso e eu. Fomos jogar vôlei. Formamos um time: Marinho ( Simões), Roney, Ivan, Horácio, Affonso e eu. Ganhamos bem do outro time (15x7, 15x0). As garotas também formaram dois times e jogaram. Estavam lá: Gisé, Maria, Maria Celina, Lúcia, Sônia, Irene, Taisen, Edy, Nilza, e outras. A Risoleta trabalhou hoje na cozinha pois a Zilda não veio. À noite rezamos o terço. Fui conversar com a Cléa. A Lúcia e a Sônia me cumprimentaram. Depois encontrei-me com o Affonso, o Ivan, o Marinho e o Roney. Saiu a corrente da bicicleta da Marta e eu coloquei no lugar sujando as mãos.

26/02/57 – terça- Levei o Cacá na Ponte. O Affonso comprou gasolina. O Oscar foi ao Rio receber dinheiro. Limpamos a lancha. Às 11:30hs levamos para a praia. Passeamos com as sobrinhas, com a Daisy (prima do João), com a Sônia e com a Lúcia. À tarde dormi bastante. Depois fomos passear de lancha. O Affonso e o Horácio levaram as meninas para passear na ilha de Brocoió. Fiquei na praia. O Marquinho, primo do Roberto foi para o Rio. Fiquei observando uma garota bem bonita de corpo, chamada Albertina (Bertina). Quando fomos embora ela deu adeus. O Oscar chegou do Rio. À noite encontrei-me com a Bertina e ficamos conversando à noite. Houve festa na casa da Mavi. O Affonso foi e não gostou. O Oscarzinho acordou, chorou, apanhou e ainda pediu: “Mamãe, rede, mamãe...!” O Rubens chegou. 

27/02/57 – quarta – Acordei às 05:30, pois o Cacá chorou. Fui à praia. O Affonso saiu de bicicleta, acompanhando o João, a Daise e a Lúcia. O Rubens foi comigo ligar o motor. Custou mas pegou. O Marino disse-me que a Gisé queria ser apresentada a mim, mas eu não quis.Mamãe chegou com a tia Arthemira. À tarde o Affonso, o Oscar e eu apanhamos o motor. O Manoel emprestou a bóia. Fomos jogar vôlei. Ganhamos a última partida. A família brincava de roda. Fui encontrar-me com a Bertina. Fiquei esperando conversando com a Verinha, a Ione e o Ciro (o do jiu-jitsu)  Passei várias vezes pelo lugar onde ela foi dormir ontem. Nada. O Affonso e o Rubens conversaram com a Cléa. Passei pelo Iate paraa ver a Liz. Nada.

28/02/57 – quinta – Fiquei na praia. Andei de lancha com o Oscar, Risoleta, mamãe, tia Arthemira e Cacá. Fiquei esperando pela Bertina. Nada. Dormi. Fui à Ponte. A Cléa tomava banho lá mesmo. Chegou a tia Rosa. A Anna foi para o Rio. Joguei vôlei. À noite fui à Ponte e logo depois vim com o Ivan e a Marta. Passamos pelo Municipal onde havia um teatrinho infantil. O Affonso conversou com a Verinha.

01/03/57 – sexta – Fui à igreja com a Verinha, Margarida, Marieta e outros. Confessei-me e comunguei, graças a Deus. Andei de lancha. Conversei com a Edy que me apresentou à Gisé. Joguei bola com o Ivan e o Rubens. À tarde Oscar, Affonso e eu consertamos a porta do banheiro e fizemos uma tampa para a caixa d’água. Joguei vôlei. Caí na água que estava ótima. À noite fui à Ponte. As garotas me cercaram (Edy, Nilza, Maria Alice, Gisê e outras). Conversei com a Gisê. O Edison, a Maria José e a Patrícia chegaram. Vi a Dona Zélia, o Dr. Otacílio e o Aníbal Augusto.

02/03/57 – sábado – A Patrícia ri muito aos seis meses. O Cacá não chorou. À noite comecei a arrumar a mala. O Oscar levou o motor. Fui à praia. Vi a Gisé, mas não fui falar. Vi o Marinho que me disse que ela queria que eu ficasse em Paquetá para o Carnaval. A Edy também estava com a Maria Alice. À tarde dormi. Fui às barcas. Encontrei o Affonso e o Marinho no Parque dos Tamoios. Parei. Conversei. A barca chegou com a Anna. Entrei sem conversar com as garotas. Entretanto quando a barca saiu  dei adeus com o braço. A moreninha da dupla estava tomando banho na Ponte, dando saltos na água. Vi a Sandra Miriam que ia na mesma barca. Fiz de tudo para ela me ver mas não via. Até que fiquei em frente dela. Ela me viu. Quando passei me disse “Como vai?“ Eu lhe disse “Boa Tarde!”. Nãao conversei com ela porque parecia estar com parentes. Fiquei o tempo todo a observá-la de costas. Ela costurava uma fantasia. Quando passei pela ilha de Itapuama, davaa paraa se ver que havia alguns moradores tomando banho. Quando chegamos no Rio, a Sandra Miriam desceu, pois estávamos na parte superior. Fiquei junto. Ela conversava em francês com uma senhora. Perguntei-lhe se ia passar o carnaval no Rio, disse-me que sim. Despedi-me dela dizendo “Até o próximo ano, pois irei para a Academia na quinta-feira. Ela me perguntou: “Você não havia me dito que era na quarta-feira?” Respondi-lhe que lendo melhor o cartão, vira o engano.”Felicidades, disse-lhe. Ela me disse: Você vai para a Tijuca, não é?  Respondi que sim. Do lotação eu vi que ela entrou num cadilac sedan, de cor amarela e roda atrás por dentro de lataria. Um motorista abriu a porta para ela. Fiquei impressionado com a demonstração de riqueza e fiquei pensando no fato o resto do dia. Na praça Saens Pena cruzei com o Ivan, artilheiro. Gritei : Bah, Che!  Mas ele não,ouviu. Em casa só estava a minha tia Amélia, que me abriu a porta. Daí a momento chegou o Luiz de carro com a mamãe e a Raymunda. Tinham ido até Honório Gurgel onde será a paróquia do Pe. José Maria. Disseram que a igreja é no morro e muito pobre. Conversei com o Luiz sobre a vida em Paquetá e ele contou-me como namorara a Dinah, no tempo do tio Antônio. Houve também uma tal de Marisa que ele namorara antes. Deu conselhos e eu acabei contando o lance do cadilac. Depois chegou o Frank com o Frankinho e a R. Helena. Conversei com a R. e comecei a escrever este diário ao lado dela. O Luiz resolveu levar o Frank em casa. Fui com eles. A Heloísa apareceu. Estava dormindo. O Frank mandou o filho comprar cervejas e deu-nos balas gostosas. O Luiz começou a conversar sobre dinheiro e sobre a fazenda do Seu Décio. Às 22:30 fomos dormir. A tia Dalila chegou.

03/03/57 – Domingo da Qüinquagésima – Fomos à missa das 06:00 nos SSCC. O Pe. Nicolau rezou o Ângelus e o Pe. Basílio celebrou a missa em que S.Paulo na Epístola faz a apologia da Caritas: ”Caritas patiens est”e no Evangelho Jesus prediz a sua Paixão e cura um cego. Lembrei-me que quando garoto também prestar a atenção neste evangelho, no mesmo domingo da Qüinquagésima. O Luiz levou-nos até a Barra. Passamos pelo apartamento do Duca e ele disse que o Roberto iria se a Afonsina fosse. A viagem foi boa e a estrada está quase pronta. Há uma nova boate “Caniço”. A tia Dalila foi conosco. A casa da mamãe está boa. A árvore do papai ainda está de pé. Há guarda-roupas e camas na sala de jantar. A mamãe é muito conservadora e gosta muito de móveis antigos. O almoço foi sem talher. Dormi muito na rede pensando nas férias que se vão e na Academia.

Chegaram o Duca e o Sérgio, irmão da Daisy. Ele tem escritório de venda cafeeira, tem bom físico e conversa esticando um barbante. O Duca está pálido e um pouco abatido. Mesmo assim aceitou um gim do irmão do seu João Lima. Armei a cama de casal com a Raymunda. Estive de manhã, lá na praia da Barra da Tijuca. A água é muito boa e as ondas também o são. Havia muitos carros parados. Às 19:00 fui até a praça da Barra. Seguimos, Sérgio e eu até o Esporte Clube Barra da Tijuca, onde tinha havido um baile infantil e haveria às 22:00 um baile de Carnaval, sendo a entrada Cr$100,00. Comemos milho e tomamos caldo de cana. Passamos pelo Come-Gordo. O Duca pagou um guaraná e conversava com o Sr. Waldir, gerente da boate Caniço. Este já é um sujeito gordo e bem barbeado. Chegaram os carros e ele fez funcionar a boate colocando os discos. Antes de dormir fiquei na rede olhando o céu que estava muito estrelado. Pensei de novo no incidente com a Sandra Miriam. Não rezei o terço. Telefonei para casa, ninguém atendeu.

04/03/57 – segunda – A tia Dalila foi embora. Fui apanhar água, tendo telefonado para a tia Arthemira que não havia ido ao sítio porque o Orlando não havia ido buscá-la. Hoje faz três anos que o papai morreu. “Requiescat in pace!“ Fiz uns buracos para pregadores de rede. Dormi à tarde, tendo sonhos relativos a Paquetá. Fui dar uma volta com o Sérgio. Fomos até a praia que ele chamou de Linda e depois até o Quebra-mar. Telefonei para a tia Arthemira já que em casa ninguém atendeu. Telefono do Posto Policial pois é de graça. Dei um mergulho em frente à casa. Gostei da comida da Raymunda. O jantar estava bom. Rezamos o terço e depois de conversar um pouquinho com a Raymunda, dormi às 19:30.

05/03/57 – terça – Acordei às 06:20. A mamãe conversava baixinho. Cimentei umas telhas e troquei outra. Estou gostando daqui, pois estou num descanso reparador. O Duca veio conversar com a mamãe. O tempo está bonito e a lua é nova. Sonhei com a Liz. O interessante é que ela apareceu com a fisionomia da Idisséia e estava com cabelos louros. A mamãe pediu para que visse as telhas do barraco. Havia marimbondos e eu não vi. Hoje não tomei banho. Fomos para o Rio. Eu estava chateado de levar sacolas. Tomamos o lotação que já estava cheio. No Leblon tomamos o que vai para as Barcas. No trajeto por Copacabana procurava ver indícios da Liz ou da Sandra Miriam. Nas Barcas afastei-me e fui a pé até a praça Mauá e de lá até a Central. Não havia passagens. Em casa falei em ir até a cidade ver a Liz entrar no Hotel Serrador. Mamãe deu contra. Resolvi então ir logo embora amanhã às 05:20 para a Academia. Passou o bloco dos Acadêmicos do Salgueiro. Os integrantes estavam vestidos com muito luxo. Fui dormir.

06/03/57 - quarta-feira de cinzas – Acordei às 04:00. A Raymunda deu-me o café. A mamãe e ela pediram-me que eu escrevesse. A Raymunda quer saber o preço das maletas. Tomei um lotação que se encheu de farristas. Tomei o Expresso das 05:20. O trem atrasou 50 minutos. Os colegas Alcione e Alcoforado também iam no mesmo trem. Não almocei. O Comandante da Companhia é novo. Encontrei-me com o Ferreira e o Aníbal. Arrumei o armário. O Comandante do Corpo de Cadetes visitou a ala. Cortei o cabelo com um bom barbeiro. Após o rancho senti-me mal com dor de cabeça e gripe. O Cap Millazzo leu a minha ficha e parece que gostou. Apresentou-me à noite ao Ten Tibério.  Com surpresa vi que a minha irmã Maria Helena havia assinado as seleções do Reader Digest para mim. Amanhã estarei de Ajunto ao Oficial de Dia. Passei a calça pelo processo que a minha irmã Risoleta me ensinara. Senti-me gripado e fui dormir. Chegaram os colegas Horst e Darzan do mesmo apartamento.

07/03/57 – quinta – Entrei de Adjunto ao Oficial de Dia à AMAN. O oficial de dia é o Ten Amaral  de Intendência. Ensinou-nos dicas para a vida em quartel. Foi o último serviço com sapatos e gorro verde oliva. A partir de agora será de coturnos e capacete. Chegaram cadetes atrasados até para mais de meia-noite. O dia foi dedicado à arrumação dos armários.À noite houve cinema, “Tempos Modernos” com Charles Chaplin.

08/03/57 – sexta – O novo oficial de dia é o Tem Gedeão de Engenharia, que está na Seção de Educação Física. O corneteiro não foi acordado na hora. Sou o furriel da Companhia. Houve reunião e bebidas. Passei o dia montando folhas de vencimentos. Bati algo à máquina de escrever. Houve treinamento para desfile.

09/03/57 – sábado – Alvorada às 06:00. Fomos ao almoxarifado mas voltamos pois faltara luz. O Cmt da Cia, Cap Millazzo falou em bom senso. Recebemos algumas peças no almoxarifado. À tarde houve churrasco. Acenderam as brasas com o compressor de ar. A bebida foi cerveja. Fiquei depois para arrumar. Dormi. O Gonçalves levou o Ari Koerner ao apartamento e deu uns trotes nele. Do Ari Koerner eu guardo até hoje um dicionário de inglês que ele me deu de presente em 1953 na EPSP. (The Excelsior Pronouncing Dictionary of the English Language  by W. Nicholson). Aproveito para lhe agradecer o útil presente. Levaram uma nova vitrola para o Grêmio. Houve um cinema, “Até onde o céu permite” com o Rock Hudson. Saí antes do final. Conversei com o Brasil sobre o jogo com o 2º ano. Li a Manchete carnavalesca procurando pela Liz. Graças a Deus não a vi. Fui dormir após ler um pouco.

10/03/57 – domingo – 1º da Quaresma – Acordei às 06:40, tomei um bom banho e desci. Não me confessei. Ia comungar quando conversando com o Braz chupei uma pastilha sem querer. À missa ajudei a arrumar os paramentos. O Brasil ajudou na missa. O general assistiu. O Pe. Arquimedes falou bem. Houve jogo de vôlei e basquete com o 2º ano. Ganhamos de 2x0 e de 60x19. À tarde fui ao bairro vicentino com o Theberge, o Ferreira e o Lopes. Lá vi um gordo chamado Pedro que tinha o perfil de intelectual. Na volta passamos pela escola Profissional. As garotas Leonita e Odete se lembraram de mim. A esta última devo um presente. O rancho da tarde foi tipo lanche. Depois encontrei-me com o Capitão Galdino e o Vila Mariana lá de São Paulo. Ouvi discos, dancei, preguei divisas e fui dormir.

11/03/57 – segunda – O plantão acordou-me às 05:30. Tomei um bom banho. Todos os Oficiais compareceram com o 5º uniforme. O Gen Cmt discursou. Tocaram o Hino Nacional. Tivemos instrução de Técnica-Auto. A viatura auto-móvel divide-se em carroceria e chassis. O chassis compõe-se de 1) motor e seus órgãos anexos, 2) transmissão, 3) rolamentos do chassis, 4) freios, 5) direção, 6) equipamentos de eletricidade, 7) acessórios. Divisão quanto ao destino de serviço, etc.

Houve depois com o Cap Arruda e depois como Maj Asdrúbal, uma explanação sobre a Instrução Militar neste ano. Após o almoço conversei com o Tarcísio e um outro colega. O Saraiva fez a faxina para o Chico. À tarde tivemos aula de História Militar com o TenCel Cardoso. Mandei uma carta para casa. Tivemos aula de Balística. O Ten Gedeão deu uma  instrução muito boa sobre basquete. Houve reunião da Conferência Vicentina. Quiseram me colocar como presidente da comissão “pró – Basílica”. Chuva forte. Fui à sala de aula. Apanhei leite. Tomei coalhada, dando um pouco para o Largaspada.

12/03/57 – terça – Piscina. Nadei menos do que esperava. Três horas de aula de Resistência dos Materiais em que o Maj Carlos falou sobre o polígono de Varignon ou das forças. À tarde aula de Balística com a nomenclatura dos elementos da trajetória. Fui à piscina com o Schirmer, Horst, Helder, Iapir e Sérgio Rocha. Nadei e joguei waterpolo. Aula de História Militar. Vi o Cel Benevides lá na OEP que me saudou; “Olá Engenharia!’. Depois eu peguei com o Cmt da Cia a permissão para ir ao barbeiro. À noite eu fui ao cinema e vi o começo de um filme com a Susan Harvard, uma aventura na Irlanda e na áfrica do Sul. Fui cortar o cabelo. Fiz um rol de roupa suja, tomei coalhada dando um pouco para o Horst e levei leite para o Chico. Vi uma notícias sobre a Liz Gasper na Revista da Semana. Ela ia ser eleita Miss Lambretta.

13/03/57 – quarta – O café da manhã foi mais tarde. Estava presente o Cmt da AMAN, Gen Hugo Panasco Alvim. Houve educação física. A minha altura é de 1,88m e o meu peso 81,9kg. Fiz ginástica básica com o sargento e com o Ten Gedeão. O sol estava forte. À tarde tive Emprego das Armas e metralhadora INA. Meu saco de roupa suja voltou. Eu havia errado em duas peças de roupa. Joguei sinuca com o Peroni.Minha colocação junto aos colegas é a 14ª com 28.008 pontos. O Largaspada foi visitar sua namorada Lucia. Comi coalhada e lustrei os sapatos. 

14/03/57 – quinta – Acordei às 05:20 e fui para o Parque de Engenharia como sargento de dia. Apresentei-me ao Cap Maranhão e comecei o serviço. Tive instrução de Minas e Armadilhas, Estradas e Reconhecimento. Meu dente estava doendo e me incomodou durante a instrução de Destruição com o Ten Roehl.

15/03/57 – sexta – Instrução de banquinho todo o dia. Não fui bem na instrução de destruição com o Ten Roehl. À noite arrumei meus livros e limpei o armário. Dormi cedo.

16/03/57 – sábado – Tive Ordem Unida com o Ten Tibério. Fui à sala de aula para ouvir o Cap Milazzo e receber algumas recomendações. Depois fui jogar basquete com os oficiais de Engenharia. Os cadetes do 2º e 3º anos de Infantaria também estavam jogando. À hora do almoço dois indivíduos vieram me oferecer um dicionário de português mas eu não aceitei. Joguei sinuca no cassino. Depois fui para o apartamento e lavei algumas roupas. Achei o filme de hoje muito bom, Marty com Burt Lancaster. Um homem gordo e feio que não tinha sorte com as mulheres. Em um baile ele encontrou uma. Muitas situações da vida comum. Fui pegar leite.

17/03/57 – domingo – Confessei-me com um novo padre, Cap Azambuja que me deu muitos conselhos. Joguei depois waterpolo com a artilharia. Vencemos por 4x2. Fiz um gol. Um lindo dia hoje. Fui ver o filme, “Uma estranha em meu destino”. Santa Fé, Novo México, 1887. A história de um médico. O Núncio Apostólico deverá visitar a AMAN.

18/03/57 – segunda – Dia normal. Não estudei tanto quanto devia. À noite fui à reunião da Congregação Mariana. O Pe. Arquimedes também estava lá com um professor de Direito já idoso.

19/03/57 – terça – Dia de São José – Tive equitação. Graças a Deus não me acidentei. O Villar caiu algumas vezes. Depois Resistência dos Materiais com o Maj Carlos. Estou preparando as folhas de pagamento dos colegas. Fui ao cinema. Vi um filme com Jeff Chandler. A vida de um homem e uma mulher em uma casa de praia. Não apreciei o filme e fiquei meio pessimista com o tipo de vida levado. Escrevi para a minha irmã Risoleta.

20/03/57 – quarta – Estou resfriado e cansado. Estou ocupado com o pagamento de muitos cadetes. Houve alguns erros. À tarde tive instrução.

21/03/57 – quinta – Instrução de Engenharia o dia todo. À noite fui ao cinema   e vi o filme “Nunca diga adeus” com Cornell Borchers e Rock Hudson. A história de um médico americano que na guerra gostou de uma alemã, se casaram e tiveram uma linda menina.  Ele era muito ciumento e ela o deixou. Mais tarde ele a encontrou e a levou de volta para a América. A filha não a aceitou e ela resolve voltar para a Europa. No final a filha fica gostando dela. Um grande filme e uma linda estrela.

22/03/57 – sexta – Instrução o dia todo com Ordem Unida no final. Depois com chuva houve uma rápida revista de uniformes. Fui dormir.

23/03/57 – sábado – Estou de Adjunto ao Oficial de Dia à Guarnição que é o Cap José Maria Camargo de Artilharia. Uma mulher cearense de nome Maria Rosa  veio visitar a AMAN. Um americano tirou uma foto minha na entrada da AMAN. À noite fui por duas vezes inspecionar a cidade de Resende. Fui dormir às 02:00.

24/03/57 – domingo – Na missa o Pe. Arquimedes falou sobre a penitêncai. Toquei harmônio com o Dídimo e o seu irmão que está saindo da AMAN. Não fui ao cinema. Li cartas da Liz. À noite fiz alguma coisa útil e dormi às 22:00.

25/03/57 – segunda – Feriado – Fiz alguma coisa útil. À tarde dormi e preparei o pagamento. À noite  fiz alguma coisa útil e fui dormir às 22:00.

26/03/57 – terça – Dia normal. Aulas. Natação. ResMat. Balística. Estudo. História Militar.

27/03/57 – quarta – Outro dia normal. Perdi muito tempo fazendo contas para o pagamento dos colegas. Tomei coalhada e fui dormir às 23:00. Pensando na Liz com amor.

28/03/57 – quinta – Dia de instrução. Transportes. Reconhecimento com o Cap Fettermann. Fui ver um filme que não me agradou.

29/03/57 – sexta – Dia de instrução. Minas e armadilhas. Tive rádio com um jovem oficial, Ten Ferraz. Nestes dias eu tenho acordado às 04:00 para fazer alguma coisa útil como fichas de pagamento, estudar e fazer exercícios físicos. O meu grupo venceu na instrução de Minas e Armadilhas. À noite houve dois jogos  de vôlei e basquete entre o 2º e o 3º anos da AMAN. Joguei dois sets de vôlei e todo o basquete. O 3º ano venceu no basquete por 40x30 e perdeu no vôlei por 2x1. A luz se apagou várias vezes e tudo terminou às 23:20.

30/03/57 – sábado – Hoje os cadetes do 1º ano entraram pelo portão monumental. Usamos o 1º uniforme  e na entrada muitos cadetes diziam palavras de provocação. Depois tivemos Ordem unida. O Tem Ivens quis jogar basquete mas nós não fomos porque havia pouco tempo. À tarde fiz coisas úteis e talvez desnecessárias. Ã noite fui ao cinema, Jovens de coração com Doris Day e Frank Sinatra, um homem sem dinheiro.

31/03/57 – domingo – Hoje comunguei. Joguei basquete e fui ver “Alexandre o Grande”, um filme interessante.

01/04/57 – segunda – Dia normal. À tarde fui à conferência Vicentina com a presença do major capelão e do tencel Moraes e Barros. Grandes idéias.

02/04/57 – terça – Aula de equitação que nos deixa receosos de algum acidente. À noite fui ver o filme “A guerra íntima do major Benson”estrelando Julie Adams, muito bonita. É a vida de um oficial do exército que tem algumas idéias de rigorismo  e por causa disso vai ensinar em uma Academia Militar. Lá existem jovens e muitas freiras e uma médica (Julie Adams). No final o major muda sua idéias e o filme tem um final feliz. Havia também um menino que trabalhou muito bem. Depois do filme fui estudar Emprego das Armas.Alguém escreveu (não sei quem) em um livro: “Pão duro, usurário, não colabora com o Grêmio!”. Não entendi.

04/04/57 – quinta – Levantei-me às 04:30, estudei válvulas diodo e tomei o costumeiro banho. Dia de instrução militar. Ã tarde fomos com o ten Tibério visitar uma olaria. Vi as notícias no cinema onde apareceram grandes cavalarianos no México. Joguei sinuca com o Felintho.

05/04/570- sexta – Dia de instrução. Tivemos aulas de guindaste quickway, válvulas triodo e minas anti-tanque. No final fizemos exercícios. Houve depois revista de uniformes pelo Oficial da Companhia. No refeitório cantamos músicas. Alguns foram para suas casas.

06/04/57 – sábado – Estou de serviço de Auxiliar do Oficial de Dia à AMAN. Muitas coisas para fazer durante o dia e à noite um dormir bem diferente. O Oficial era o 1º Ten Teixeira, do Curso Básico.

07/04/57 – domingo – Fui à missa e cantei no coro. Tudo muito bonito. O padre Archimedes falou muito bem. Disse que o catolicismo não combina com orgulho, a inveja e os desejos do corpo. Fui ao cinema e estudei História.

08/04/57 – segunda – Em Curitiba, minha futura esposa R. Maria Tramujas completava seus 15 anos de vida! Fui convocado para jogar na equipe de basquete da Academia. O técnico é o Ten Gedeão.

09/04/57 – terça – Dia normal com treinamento de basquete.

10/04/57 – quarta – Dia do Patrono da Engenharia , Vilagran Cabrita. Acordei às 05:30 e cantamos a Canção do Pontoneiro. O cadete Frota de Infantaria falou muito bem. Foram dados presentes aos bons alunos da EPSP. Houve teste de História. O Cel Cardoso me perguntou se eu estava jogando basquete bem. Respondi afirmativamente. Fiz um bom teste. Novos treinos de basquete. Ã noite os cadetes de engenharia ouviram uma palestra no anfiteatro 201.

11/04/57 – quinta – Exercícios com minas anti-pessoais e anti-carro. Graças a Deus não houve acidentes. À tarde tivemos Estradas com o tenente Tibério e o tenete Yvens. Fui o Prumo a vante. Fui ver o filme “O Salário do Pecado”. Não gostei. Muito comercial. Estudei minas e armadilhas para amanhã.

12/04/57 – sexta – Teste de minas e armadilhas. Exercício de Estradas. Aula de Transportes e Emprego das Armas.

13/04/57 – sábado – Concurso de Ordem Unida. No jogo com a Infantaria perdemos por 49 a 34. Senti-me muito cansado no segundo tempo. Dormi à tarde. À noite fui ao cinema. Vi “Ódio entre irmãos”. A estrela era muito bonita e o filme com cenas sombrias. Fui me confessar.

14/04/57 – Domingo de Ramos – Comunguei. Muitas pessoas na missa. Muitos ramos. Houve uma procissão. A missa terminou às 10:00. Dormi e fui estudar Balística. Depois treinei arremessos no basquete. À noite estudei e dormi.

15/04/57 – segunda – Treino de basquete. Estou aprendendo muitas coisas com o Tenente Jamil Gedeão.

16/04/57 – terça – Dia normal. Basquete.

17/04/57 – quarta – Teste de Balística. Emprego conjunto das Armas (Artilharia). Basquete. Exercícios.

18/04/57 – Quinta-Feira Santa – Teste de Estradas. Fui mal, também em Destruições. Ordem Unida. Música ao jantar. Uff! Estou muito cansado. A semana foi muito dura e diferente. Este terceiro ano é muito diferente. Não me sobra tempo.

19/04/57 – Sexta-Feira Santa – Fui ao ginásio jogar basquete. Lá encontrei o tenente Gedeão que me ensinou a dar ganchos  e arremessos com salto (jumps). Joguei bastante. À tarde dormi. Ã noite fui com o Waldeck até Resende.   Ouvi  o padre Archimedes falar.

20/04/57 – Sábado Santo – Fui comprar muitas coisas, uma bola de basquete (Cr$450,00) e outras coisas. Joguei Tênis de mesa com o Villar. À tarde fui ao ginásio jogar basquete com a minha nova bola. Ã noite limpei o nosso apartamento.

21/04/57 – Domingo de Páscoa – Fui à missa e comunguei. Esqueci que havia tomado o café da manhã. Estava de Sargento de Dia. Ouvi rádio, inclusive a Rádio Difusora da Suécia. Fui ao cinema ver “No tempo da guilhotina”. Não gostei. Acordei às 02:00 para fazer a ronda.

22/04/57 – segunda- Dia normal. Muitos conselhos sobre Sistema de Alimentação, Ignição e depanagem na aula de Técnica Auto. Exercícios sobre argamassas com o tenente Tibério. Reconhecimento de Pontes com o tenente Roehl.. Treino de basquete. Exercícios. Apartamento. Dormir.

28/04/57 – domingo – Passou-se uma semana. Foi muito cansativa. Não tive tempo para nada e ainda por cima uma tosse constante. Novo serviço de Sargento de Dia com ronda externa a pé. Treinos de basquete. Reconhecimento de pontes para destruição. Guindaste Quickway e quatro testes. Ontem à noite vi o filme  “Mensageiro do Diabo”. Filme ruim e pessimista. Pela manhã pratiquei waterpolo. Ontem pela manhã a Intendência venceu e Engenharia por 2x0 no voleibol. Houve um bom jogo de basquete entre a Artilharia e a Infantaria, na qual esta ganhou. Meu apartamento está com ótima apresentação e eu sou o chefe. O Chico leu que o Heron Domingues chamou a atenção para o fato que a Elisabeth Gasper pode ser a showgirl de 1957.

29/04/57 – segunda – Acordei com a mesma tosse. Exercícios. RAD-101 e o Pelotão de Engenharia. Treino de basquete.

05/05/57 – domingo – Mais uma semana passou. Ontem dei serviço com o 1º Tenente Albano Fressati. Hoje confessei-me.

06/05/57 – segunda – Dia normal usando japona devido ao frio. Instrução. Basquete. Aulas. Enviei uma carta para a minha mãe.

07/05/57 – terça- Resistência dos materiais. Basquete. O técnico falou bem a meu respeito. O meu apartamento foi classificado como “Bom”.

10/05/57 – quinta – Ontem fiz a prova de resitência de Materiais. Fui bem, graças a Deus. Hoje fiz uma marcha a pé até a ponte da divisa, sobre o rio Paraíba. Estou como soldado de suprimento de água. A água saiu com cloro a 5 ppm e com 6.0 de PH, quando deveria ser 6.8 ppm.

À noite, às 23 horas estava trabalhando nas bombas, fazendo a limpeza de filtro, quando chegou o cadete Carlos Martins e disse: “Atenção aí, os plantões. Estou esperando a apresentação, pois eu sou o ronda. Então eu disse: Então eu sou o cadete 200-Vasconcellos, às suas ordens e continuei a trabalhar. O Martins ainda ficou por lá um pouco de tempo e falou: Então agora vou passar pelos outros postos que faltam. E retirou-se. Na manhã seguinte, o cadete Martins havia desaparecido... Deus lhe dê o eterno descanso! Mais tarde foi encontrado um capacete de fibra junto à margem do rio  pelo Cap Maranhão que fazia uma busca. Daí então, até o fim do E.L.D ( Exercício de Longa Duração), foi procedida a busca por uns e o recolhimento do material por outros. A limpeza dos tanques de lona é bem difícil. Tudo terminou às 20:00hs. Às 22:00fui rezar o terço. Rezamos pelo Martins. Fizeram uma relação dos que queriam ir fazer a busca nas margens do Paraíba. Pensando nos jogos que teria sábado, não dei   o meu número. Um jornal do Rio publicou o seguinte artigo do jornalista Oscar Azevedo: Não foi encontrado ainda o corpo do cadete Martins. Luto e silêncio sobre a Academia.  Durante os exercícios o cadete desaparecido salvou da morte uma cadelinha. Na Academia o pai do jovem. Mergulhadores da marinha no Paraíba. Homens rãs em ação. Está faltando um entre os 78 cadetes do 3º ano de Engenharia, da Academia Militar das Agulhas Negras. O cadete 96 – Martins há seis dias não responde à revista. Mas seus companheiros e superiores sabem perfeitamente que essa ausência é por motivos superiores à sua vontade. E quando a tarde cai e chega a hora do toque de revista, todos os outros cadetes olham para o lugar vago onde deveria estar colocado o Martins, o companheiro por excelência, o voluntário das operações difíceis, e militar cumpridor de seus deveres. E por isso, toda a Academia está imersa num silêncio de respeito e de dor, porque para todos não existe mais dúvida de que o 96 morreu vítima de um acidente a poucos metros do campo de batalha simulado, quando de serviço, fiscalizava os postos das sentinelas. Mas os cadetes não se conformam com o desaparecimento, e, por isso, todos da Arma de engenharia, inclusive os oficiais, não pregam olhos há cinco dias, revezando-se em constantes buscas por todos os recantos de vastos descampados e matagais, descendo às regiões ribeirinhas e mergulhando nas águas lodosas do rio Paraíba, onde teria perecido Carlos Martins. O capacete foi encontrado, flutuando a trezentos e cinqüenta metros da ponte de concreto armado por onde passa a Rodovia Presidente Dutra, distante algumas centenas de metros do último posto de ronda, onde ele deveria ter passado. Agora, quando todos os recursos humanos existentes na Academia foram empregados, sem resultado, infelizmente, o Comando geral pediu a colaboração dos homens-rãs, dos mergulhadores e escafandristas da Marinha, a fim de que estes, mais habituados com as lides marítimas, possam talvez conseguir melhor êxito na procura cruciante e desesperadora do jovem desaparecido. Não querem seus companheiros, superiores e pais que ele fique sepultado nas águas do rio traiçoeiro. À hora da alvorada (seis horas de sexta-feira), os cadetes de plantão ainda dormiam quando o Oficial de Dia lá chegou. Sentiu a falta do cadete Martins. Ele não havia acordado os companheiros que assim dormiram a noite toda. Foi-se ver na sua barraca e o cadete Celso Silva Lima, que era o seu par, informou que lá não dormira. Onde estava o cadete? Convencidos de que algo de grave acontecera, trataram de alertar o general Higo Panasco Alvim, Comandante da Academia, o coronel Arold Ramos de Castro, Sub-comandante e o Chefe do Gabinete, tenente-coronel Pedro Luiz Taaulois. O comando rapidamente organizou um plano de ação e mil e quinhentos homens, entre cadetes, oficiais e soldados pertencentes à Arma de Engenharia, puseram-se em ação . De Resende até Ribeirão da Divisa, passando pelas cidades de Barra Mansa, Volta redonda, Barra do Piraí e as zonas ribeirinhas, não houve lugar que não tivesse sido procurado. O 1º Batalh~~ao de Infantaria Blindado de Porto Real foi requisitado, bem como o Batalhão de Engenharia de Pindamonhagaba, com seus escafandristas. Tudo inútil, porém.

OFERECEM-SE AS OUTRAS ARMAS

Já então toda a Acdemia sabia do desaparecimento. Cadetes e oficiais de outras armas (como Infantaria e Intendência) se ofereceram para ajudar na procura. Mas os cadetes de Engenharia, por questão de código moral, agradeceram comovidos os oferecimentos e preferiram, ao invés de descansar, dobrarem eles mesmos as turmas, revesando-se continuamente. Eis que passados seis dias, quando todos os recursos humanos empregados não surtiram efeito, voltam-se como última esperança para encontrar o corpo, para os escafandristas da Marinha. Explica-se: os mergulhadores da Marinha possuem material moderno e capaz de resistir a profundeza, indo até as “secadoras”ou sejam até os primeiros fundamentos das pontes de concreto armado, onde se presume tenha  ficado preso o corpo do cadete Carlos Martins. Este serviço, provavelmente ainda hoje começará a ser efetuado.

CESSOU A ALEGRIA

Preparando-se para as provas todos os cadetes estão estudando mais do que nunca. As horas de folga que, em outras ocasiões, são aproveitadas nos grêmios recreativos, foram por eles espontaneamente dispensadas. Os grêmios de todas as armas estão fechados. Também a formatura não está sendo feita com banda de música. Está fechado o cinema.

O PAI E A IRMÃ CONVENCIDOS DA MORTE

O senhor Américo Martins e sua filha Creusa estão alojados na academia. Ele é o pai do cadete. Ela, a irmã. Desde sábado passado, quando foram informados por um oficial do desaparecimento do cadete  para lá rumaram a fim de assistir e poder acompanhar de perto os trabalhos que estão sendo realizados. Um jornal estranhou que somente dois dias depois a família tivesse sido notificada do desaparecimento. A verdade é que a falta do cadete só foi notada na sexta-feira e a certeza de que algo de grave acontecera na noite daquele dia. Não seria justo nem humano que houvesse precipitação numa notícia de tamanha responsabilidade.

O RELÓGIO DO COMPANHEIRO

 - “Maurício, empresta-me o relógio, pois tenho que fazer a ronda e esqueci de trazer o meu. Como és do segundo quarto e eu sou do primeiro, ele não te fará falta.” Faltavam alguns minutos para 23 horas. Maurício o cadete mais chegado a Carlos Martins, tirou o relógio de pulso, passando-o ao colega.  – Atenção aos plantões! Eu sou o ronda. Quem é o plantão da hora? O cadete Vasconcellos apresentou-se em seguida ao Martins que exercia as funções de sargento. Eram então vinte e duas e quarenta e cinco. O cadete Martins ficou conversando por alguns minutos, procurando sabero que estava sendo feito e, inteirado de que os companheiros trabalhavam na filtração da água, dirigiu-se até o motor. Lá estavam os cadetes Olsen, Gonçalves, Magalhães e Vasconcellos. Permaneceu pouco tempo, despedindo-se. Disse que iria aos outros postos que ainda tinha que percorrer.

O PROVÁVEL ACIDENTE

Os cadetes acima mencionados foram os últimos a terem contato com Carlos Martins. De lá, ele teria dois caminhos a tomar: ou seguir até o posto mais distante, sem precisar atravessar a Presidente Dutra, ou atravessar a Rodovia, passando por uma ponte de concreto armado. Preferiu com toda a certeza este caminho. O que aconteceu são apenas conjeturas, mas baseadas em fatos palpáveis e depois de eliminadas todas as outras possibilidades, por mais remotas possíveis. O cadete, ao atravessar pela ponte da Rodovia, enfrentou  em cheio os faróis possantes de carros e veículos que trafegavam em grande velocidade. Deve ter procurado se esquivar  de algum mais  perigoso, quando então, não encontrando apoio na baixa amurada da ponte no estreito espaço reservado aos pedestres, viu-se projetado dentro do rio. Alguns sinais, ainda que ínfimos, foram notados sobre o parapeito, como se alguém tivesse arranhado um cinto, bem como sinais palmares. Independente disso, existe o encontro do capacete, algumas horas depois de ser notada a sua falta, flutuando no rio Paraíba, a uns trezentos e cinqüenta metros do local admitido como o da queda.

MIL E QUINHENTOS HOMENS

Para o senhor Martins, não pesa nenhuma dúvida sobre o trágico destino do filho. Apenas diz ele: -- “Já estamos convencidos do acidente. O que nós queremos é que o corpo apareça. Minha senhora está presa numa cama, chamando a todos os instantes pelo filho. A última vez que o vimos foi no dia 5 de maio. Ele havia ido para casa dia 3, lá ficando até o domingo, às 20 horas, quando, alegre e satisfeito, despediu-se de todos. Não sei o que vou dizer a Carminda. Meu filho estava com o relógio de um cadete. Darei o dele para o seu amigo.

UMA PASSAGEM EMOCIONANTE

Pela manhã de quinta-feira – quem nos conta é o cadete Otto – quando nos dirigíamos em marcha para o campo de treinamento, uma cachorrinha ia na frente, acompanhando a marcha dos cadetes. De vez em quando se descuidava e ia para o meio da estrada, arriscando a ser colhida por algum automóvel. Martins (que era um dos comandantes) tinha o cuidado de ir apanhar o animal e protegê-lo, colocando-o ao lado direito da estrada.

BOM ALUNO

Carlos Martins, o cadete desaparecido, nasceu no dia 4 de janeiro  de 1936, no Distrito Federal. Seu pai é o senhor Américo Martins, de nacionalidade portuguesa e sua mãe a senhora Carminda Monteiro Martins, residentes em Braz de Pina. Junto aos Comandantes da academia, apuramos que o jovem era alvo de grande simpatia e estima, sendo um bom aluno e pontual cumpridor dos seus deveres. Confirmando-se a morte, terá, de acordo coma lei, direito a promoção, passando a aspirante.

ONDE ENTRA A FATALIDADE

Um detalhe impressionante e que nos foi relatado pelo senhor Américo Martins, pai do cadete desaparecido: -- Ele não seria o primeiro quarto, tendo mmesmo sido escalado para outro. Entretanto pediu que se tirasse a sorte para a escalação. Ganhou o primeiro quarto, que lhe permitiria dormir quase toda a noite, depois das vinte e três horas.

NÃO EXISTEM OUTRAS HIPÓTESES

Para o Chefe do gabinete tenente-coronel Pedro Luis Taulois, e para todos os demais, tanto oficiais como cadetes, não existe outra hipótese que não a do acidente para explicar o desaparecimento do jovem. Assalto, casos amorosos, suicídio são todos pontos superados e só aventados a título de sensacionalismo.

12/05/57 – domingo – Dia das Mães – À hora da missa o Pe. Arquimedes Bruno falou sobre o desaparecimento do cadete Carlos Martins. Disse que não deveríamos ficar chocados e tristes, pois como Jesús mesmo dissera no evangelho de hoje: “Mais um pouco e não me vereis e ainda mais um pouco e me vereis”, nós acreditamos na ressurreição da carne e na vida eterna. Que esta revolta interior devida à imortalidade da alma e que a oração é que a domina. O senhor pai do Carlos Martins, estava num carro vermelho-creme, ia ao local. Nova turma de cadetes da engenharia saiu para a busca. Disseram-me que a senhora mãe do Martins estava de cama. Não tem havido sessão de cinema, o cassino da SAM permanece fechado. Hoje recebi o meu melhor amigo, espero que fique mais forte espiritualmente, não indo na conversa do meu maior inimigo. Estou bem ruim de saúde. Tosse, catarro no pulmão e gripe. Ontem quando jogava basquete o tem Gedeão mandou-me ir embora, pois senão cairia na quadra. Na verdade, estou precisando de um bom tratamento de saúde. No inverno fico sempre assim. É com saudade que me lembro de Paquetá, onde tomava o suco de laranja  que a Zilda fazia, todos os dias e dormia na rede. No momento desejo me aperfeiçoar no basquete. O Gonçalves chegou bastante cansado da noite que passou em claro. Foi direto para a cama.

18/05/57 – sábado – Mais uma semana passou. Continuam as buscas ao corpo do cadete Martins. Estive na margem na noite de domingo para segunda. Tossi durante a noite. Dei plantão à ponte (Porto Real). Nada do corpo. De manhã pensei em baixar ao Hospital escolar. No final acabei não indo. Não fui ao treino de manhã. À noite joguei pouco, pois ando bem ruim do pulmão. Não houve o teste de História Militar. Fui conversar na segunda-feira à noite com o sr. pai do Martins e a srta. Irmã dele. Conversei até as 22:00hs. Na terça-feira fui entrevistado pelo repórter do jornal Diário da Noite e o Jornal. Dei Cabo de Dia, dando a classificação de “regular”para o meu apartamento 354. Logo o Fulgêncio Largaespada mandou encerar e no dia seguinte foi “Muito Bom”, sendo eu o faxineiro. Instrução. Campos minados com o capitão Maranhão na sexta-feira, teste de História Militar, vigotas, B4A1 com o tenente Tibério. Prova de Destruições  com o tenente  Roehl, tendo eu na véspera estudado muito com o Chico. Este fala muito em ir almoçar e ficar em casa, no Rio, quando formos para o desfile em homenagem ao Sr. Craveiro Lopes, presidente de Portugal. Revista de uniforme. Hoje sábado, arrumei minhas coisas, fui ao cinema com o Brás ver “The Prodigal“.

19/05/02 – domingo – Às 05:00 fui a Barra do Piraí e de lá subi o rio Paraíba de pontão a motor. Dois pescadores. Não encontramos o corpo do Martins. Saímos do rio Paraíba em Várzea Alegre. O major Carlos Bernardes pagou café, tangerina, pão, etc.

20/05/02 – segunda – Estudo.

21/05/02 – terça – Treino de basquete à noite na quadra de fora com iluminação. Estou melhor de saúde. Escrevi uma carta para casa.

22/05/02 – quarta – Prova de História Militar. Aula de Emprego Conjunto das Armas na defensiva. Treino de basquete. Cheguei atrasado ao rancho. Treino de voleibol até as 22hs.

23/05/57 – quinta – Curva de Transição com o capitão Yvens. Fui na turma de salvamento do tenente Tibério . Motor Johnson. Cinema “Riot on the cell 11”.

24/05/57 – sexta – Dia da Batalha do Tuiuti. Instrução de Comunicações e Equipamento Mecânico. À tarde tive outra vez “Curva de Transição”com o capitão Yvens, no campo de parada. Conversei com o Alcione dizendo-me ele que o estudo e a religião nunca o decepcionaram e que ele não pode deixar de estudar. Disse-me também que o companheiro de estudo dele , o Alconforado está tratando dos nervos e está melhorando bem. Passaram o filme  “Último encontro”,  italiano, do qual não gostei.

25/05/57 – sábado – Festa da Infantaria. Houve o segundo concurso de Ordem Unida, sendo eu o Porta Símbolo. Na hora de passar em frente, o capacete de fibra ficou em má posição. Joguei voleibol contra a Cavalaria. Ganhamos bem o primeiro set e perdemos  os dois outros. Comentaram que eu joguei bem. O Villar ficou nervoso. A Intend6encia ganhou da Artilharia de 43 a 34. Jogo monótono. O filhinho do capitão Bettero pulando na cama elástica. Joguei basquete com o Joélcio, Heredia, Pedrinho e Theberge. Houve filme oferecido pela Infantaria, que hoje nos acordou com os seus canhões a atirarem.

26/05/57 – quinto domingo depois da Páscoa. Belo sermão fez o Pe. Arquimedes, falando sobre a vida como uma morte contínua. Comunguei após a missa. Ia haver treino de water-polo, mas não houve. Visitas. Freira Ursulina. Treinei basquete sozinho no ginásio. Havia duas duplas de oficiais jogando vôlei. Ia chegando atrasado ao rancho mas o Ligneul me justificou. Fui ver Helena de Tróia onde a beleza de Rossana Podestá  me impressionou e o ator Jaques Sernas trabalhou como Páris, filho de Príamo.  Balística. Basquete. Conversei após o rancho com o Joélcio que me disse ter recebido uma carta da namorada Cristina.que estava em Recife , praia da Boa Viagem. O Fluminense sagrou-se campeão do torneio Rio-São Paulo ao empatar hoje com o Santos. Saiu invicto. O Darzan e o Roeder enceraram o apartamento.

27/05/57 – segunda – Instrução. Basquete. Bom treino de basquete à tarde. Estou precisando ser mais vivo nos passes. Ao dar a ginástica básica me atrapalhei todo.

28/05/57 – terça – Equitação. Na verdade sinto um friozinho por dentro quando antes da instrução penso numa descida de um barranco. A instrução de hoje foi fácil, dentro do picadeiro, com o capitão Azambuja. Três horas de Resistência dos Materiais. No final do teste troquei uma característica sem pensar. Foi-nos apresentado o professor, capitão Weber. Treino de basquete. Teste de Balística, tendo me saído mal, pois tinha ido ao cinema e estudado pouco a matéria muito acumulada. Treino de basquete. Estudo de Balística.

29/05/57 – quarta – Prova de Balística. Fui mais ou menos, graças a Deus. Não houve Emprego Conjunto das Armas. Instrução. Voleibol AMAN 2 x L.D.V.R. 1.

30/05/57 – quinta – Instrução de ponte B4A1 no rio Paraíba, com o tenente Tibério. Campos minados com o capitão Maranhão. Conversa com o Joélcio. À noite também houve instrução.

31/05/57 – sexta – Operação Craveiro Lopes. Treino de basquete. Teste Psicotécnico com o professor Janson. Treino à noite. Conversa e críticas. Último terço rezado em conjunto.

01/06/57 – sábado – Treino de basquete. Tenho que pagar uma coronha de fuzil. Não fui ao cinema.

02/06/57 – domingo – Confessei-me e comunguei. Treino de basquete. Estudei Equipamento Mecânico.

03/06/57 – segunda – Completei 21 anos de vida, graças a Deus! Prova de Equipamento Mecânico às 13 hs. Treinamento. Exame dentário. À noite houve uma conferência do prof. Mello  e Souza (Malba Tahan), à qual não compareci por estar muito cansado. Fui dormir cedo.

04/06/57 – terça – Fiz um teste psicotécnico onde me mandaram desenhar uma árvore, um homem e uma mulher, enunciando uma frase. Treino de basquete. Hoje espero ir bem até o Rio de Janeiro. À tarde cortei o cabelo e fui para o Rio no Expresso Agulhas Negras, tendo recebido dois telegramas de casa (Risoleta e Maria José, Edison e Patrícia). Cheguei às 23 horas em casa, estando tudo escuro. Afinal a mamãe acordou.

05/06/57 – quarta – O Luiz foi ao Arsenal apanhar uma coronha de mosquetão que o Oscar conseguiu para mim, graças a Deus, para repor a que eu quebrei sem querer na AMAN. Recebi vários telefonemas de garotas que não se identificavam e me diziam que eu havia saído na revista do Instituto de Educação. Eu estava interessado era na Liz. O tenente Gedeão telefonou-me dizendo que haveria um treino às 20:00. Começamos jogaqndo com guris. Terminamos com um time mais ou menos. Fui dormir às 23:20.

06/06/57 – quinta – ãs 11:00 fui a Niterói com a mamãe, Risoleta, Oscarzinho, Maria José, Patrícia e Vera. Comprei um copinho para o Renatinho. Fomos de táxi. No começo muita alegria mas no final muito choro, pois todos queriam vir para o Rio. O apartamento da Maria Helena está muito bem decorado. Ela está esperando um bebê para agosto, se Deus quiser. Na volta muita gente. Ao esperar o lotação veio ao meu encontro a Cléa, junto com a Sueli (de Paquetá). Olá, como vai, está passeando? – disse-me. - Estive em Niterói, respondi-lhe. - Não vai a Paquetá? – Por enquanto é-me impossível. – Então, até logo. – Até logo. Ela estava com um vestido muito justo e decotado e de sapato de salto bem alto. Continua com umas manchas brancas nas costas. Eu estava com o Oscarzinho no colo. Notei também que estava com os cabelos pintados  e se dirigia para a fila da lancha que vai para Paquetá. Comprei o jornal “A Noite” que tinha notícias do Heron Domingues sobre a Liz.

07/06/57 – sexta – Primeira do mês. Fui à missa e comunguei. Não pude falar com o Padre Augusto. À noite o Luiz levou-me de carro até o Clube Sírio e Libanês. O time que nos enfrentou hoje foi mais forte que o anterior. Entrei somente quando a marcação foi mudada para 3:2. Infelizmente a equipe ainda não se acertou nesta marcação. Com o Alexandre na marcação 4:1, a AMAN ganhou de 20x17. O Luiz trouxe-me de volta para casa. Hoje chegou ao Brasil o Presidente de Portugal, General Francisco Higino Craveiro Lopes. Recebi a visita da irmã do cadete Carlos Martins, na casa da Maria José.

08/06/57 – sábado – O Ronaldo, o Rogério e a Eliane estão no Rio. Fui à cidade com o Edison, Luiz e família. O filho do Luiz, Décio Luiz está bem forte e saudável. Comprei um agasalho e o Edison um presente para um camarada. Aliás o Edison está dando um duro nestes dias da chegada do Gen Craveiro Lopes, no C.T. Mariz e barros. Ele é o intendente do navio. À tarde o Edison mostrou-me algumas fotografias suas. Hoje de manhã na cidade eu vi um Subtenete da AMAN, o Cap Notari da EPSP e o Cap Arruda  da Engenharia. Chegou o Alípio de Menezes, marido da Gemima. Tem dois filhos. Veio ver a cama que projetou para o Josué. Conversamos muito. Contou-me um negócio mal feito pelo tio Françu. Contou-me também que tem dois automóveis e três HI-FI. Admirei o espírito de trabalho que ele possui. Telefonei para a boate Night and Day e deixei um recado para a Liz me telefonar. Fui dormir, após cobrir o Ronaldo que tossia.

09/06/57 – domingo – Fui à missa das 06:00 e depois em casa esperei o telefonema da Liz que não ligou. À noite o Ivan e o Horácio foram lá em casa. Recordamos as férias de Paquetá. Disseram-me que brincaram bastante no Carnaval e que as garotas todas lá estiveram.

10/06/57 – segunda – À tarde fui assistir ao desfile em homenagem ao Gen Craveiro Lopes. Os colegas estavam com a aparência de exaustos. Em casa estavam o Pe. José Maria e a Raymunda. Ãs 17:30 fui até Honório Gurgel. Na volta fui jogar basquete no Grajaú Tênis Clube onde a AMAN perdeu por 66x57, no final, após prorrogação e troca de marcação. Eles jogaram uniformizados e nós à vontade.

11/06/57 – quinta – A mãe foi fazer retiro. Não fui me despedir do Pe. Augusto. Almocei na casa do Luiz, que me propôs ajuntar dinheiro na Cibrasil. Boa idéia. Ã tarde recebi um telefonema qe me pareceu ser da Edy, de Paquetá. Como sempre não se identificou e parecia que alguém datilografava o que eu dizia. O Edison chegou e conversamos. Disse-me que está com a idéia de ser médico. Mexi em muitas coisas. Jantei na casa do Luiz. O Edison me disse que eu mudaria o meu tipo de vida, como aconteceu com um seu colega da Marinha, Amaral ( Brequelé). Ouvi um pouco do jogo Brasil x Portugal que foi assistido pelo Gen Craveiro Lopes. Poderia ter ido com o Horácio mas preferi dormir cedo. O Didi fez um gol tipo “folha seca”.

12/06/57 – quarta – Fui à missa, confessei-me e comunguei. Fui à cidade com o Luiz e a Maria José. Entrei na Cibrasil.Pagarei Cr4300,00 mensais. Almocei com a Maria José. Torei. A Maria José ligou para o Affonso, fingindo ser a Gisé (de Paquetá) .O Affonso caiu na conversa. Ele parece que arranjou um emprego. O Oscar está servindo no Gabinete do Ministro da Guerra. À tarde tomei um táxi e fui conversando com o motorista sobre a AMAN (Cr$62,00). Fiquei conversando na estaç~~ao Rodoviária Mariano Procópio com o irmão do Waldeck. Saímos bem atrasados e fizemos boa viagem, graças a Deus. O apartamento 354 estava muito bem arrumado, obra dos cadetes Villar e Horst.

13/06/57 – quinta – Instrução.

14/06/57 – sexta – Instrução. À noite o Prof. Mello e Souza ( Malba Tahan) fez uma pequena conferência.

15/06/57 – sábado – Instrução. Jogamos basquete contra a Intendência. Tinha pensado somente na vitória mas veio a derrota no último minuto por 51x50. À tarde jogamos futebol com a Cavalaria e perdemos por 2x1.Torci o tornozelo duas vezes no jogo de basquete. À noite o Pe. Caetano de Vasconcellos fez uma conferência. Abordou quatro pedidos: 1) calma (mais humanos); 2) Buscar Deus ( um Deus exigente); 3) Confissão (em degraus como uma escada); 4) Comunhão. Elogiou a limpeza. “O estilo é o homem, também a limpeza é o homem. Onde há limpeza há trabalho, onde há trabalho há esperança.” Citou exemplos: “Filho, o que queres nos teus 14 anos? Um apartamento, uma mulher ou um automóvel, pergunta o pai. Quero os três respondeu o filho” . Esse filho mais tarde ficou amigo do Pe. Caetano, fez um retiro, confessou-se, mudou de vida e tornou-se um líder em uma Escola de Piracicaba. Um outro exemplo foi do Pe. Foucault. Foi morto no deserto do Saara pelos muçulmanos. Ele havia sido expulso quando jovem de uma caserna de Paris, por imoralidade.

16/06/57 – domingo – Dom Jaime de Barros Câmara, ajudado pelo Cônego Ivo, foi quem celebrou a missa. Eu cantei no coro. À tarde o Gonçalves conversou comigo e falou-me das dificuldades que estava tendo para terminar um namoro com uma mulher de 27 anos, chamada Antonieta. Ele foi ao cinema ver “Sapatinho de Cristal porque a artista se parecia com ela. O Roeder escreveu no meu caderno que faria exercícios e estaria daqui a 3 meses em melhores condições físicas. Estudamos bem no apartamento. Como não tinha gelo para colocar no tornozelo, fiquei com o pé dentro do capacete com água gelada.

17/06/57 – segunda – Instrução de manhã. À tarde aulas. À noite houve um show da Academia do Mário Mascarenhas. Começou muito bem. As moças apareceram cada uma com um vestido de baile e com um acordeon. Achei a esposa do Mario Mascarenhas muito bonita, lembrando-me a Liz. Depois vieram algumas cantoras bem ruins de voz. Apareceu um garotinho(Joil) que sapateou, sendo seguido pelo pai (Joel), bom na arte. Apareceru a Conchita vestida de boneca e já o ambiente ficou um tanto carregado e foi piorando até que resolvi ir embora, pois ela ao cantar fazia gestos que eu considerei indecentes. Fui estudar Balística.

18/06/57 – terça – Sou o Cabo de Dia e levei 1 hora fazendo a revista dos apartamentos. Muitas irregularidades. Tive instrução de patrol e de Metodologia. Fui ao treino de basquete, tendo aplicado infravermelho no tornozelo que ainda está inchado. À hora do almoço o Calomino relembrou a conquista que eu fizera da Liz, tendo eu lhe dito que agora ela estava no show do Carlos Machado. Fiquei todo prosa. Fui fazer o teste de Balística. Graças a Deus saí-me bem. À tarde os oficiais de Engenharia treinaram basquete. À noite estudei Balística.

19/06/57 – quarta – Acordei às 04:30. Estudei Balística.Conversei com o Tenente Roehl sobre o meu tornozelo. Desfile. A Banda apareceu com um instrumento novo de percussão. Tirei 5,3 na prova de Balística. Errei uma substituição do valor de y e não fiz a 2ª questão. Não houve Emprego Conjunto das Armas. Fui ao treino e o Dr Tong recomendou que eu colocasse gelo no tornozelo. Instrução. Treino à noite. Queriam que eu treinasse pólo  aquático. À noite houve jogo de vôlei entre a Eng e a Inf. Perdemos por 15x2 e 19x17.

20/06/57 – quinta- Corpus Christi. Esqueci-me de ir à missa. Durante todo o dia tivemos instrução. À noite fui ao cinema  ver um filme sobre um grande compositor de óperas. Gostei muito das músicas.

21/06/57 – sexta – Durante todo o dia tivemos instrução de ponte B4A1 com o Ten Tibério. No final estava bem cansado e à noite tive dor de cabeça e narinas entupidas igual ao Roeder. Fui convidado a ir ao baile do Tijuca no dia 30. Lá apresentarei os 29 colegas ao Maj Ênio de Cav. O Horst está preparando as malas. O Chico preocupado com a punição do Villar, e o Gonçalves também. Afinal o Villar foi liberado. Dormi. À 01:00 o Horst e o Darzan me acordaram. Estavam indo embora. Ficamos o Gonçalves e eu.

22/06/57 – sábado – Dia bonito. Fui ao armazém reembolsável (AR) onde comprei uma caneta Parker 61 por Cr$1350,00, um pijama e objeto de perfumaria. Não fui ao almoço por estar desarranchado. À tarde tomei o trem de aço. Graças a Deus havia lugar. Chegando em casa encontrei a mamãe que já ia para a Igreja. O Edison convidou-me para ir até a casa dos pais dele. Depois de certa recusa, aceitei, lembrando-me que sou responsável também pela alegria dos outros. Em lá chegando cumprimentei a tia Caribe (?), a Cristina e a Da. Celina. Depois apareceu o pai do Edson que conversou sobre política. Mais tarde chegaram o tio Benjamin esposa com dois filhos Alcino e Bento e duas lindas netinhas. A conversa girou em torno do fato do bento ir estudar nos EUA, na Universidade de Troy (Engenharia Mecânica). Quando falaram de estradas, entrei na conversa. O Alcino e o Bento foram vizinhos do Maurício Teixeira em Belo Horizonte.

23/06/57 – domingo – Fui à missa das 09:00 que é a das crianças. Depois fui com o Oscar, Risoleta e Oscarzinho à casa da Nair. O Dr. Piedras via o jardim. O Rubens, Horácio, Ivan e Álvaro jogavam vôlei. Mostrei-lhes a minha bola de basquete. A Nairzinha estava gripada. Fui com o Oscar e família até o Jardim Zoológico onde vi jacarés, girafas, elefantes, zebras, hipopótamos, dromedários, camelos, sucuris, etc. Voltamos e eu almocei na casa do Oscar. O Affonso está no CPOR, as sobrinhas estudam para as provas parciais. O almoço feito pela Zilda estava muito bom. O Oscar foi dormir. Fiquei ouvindo discos. Matei as saudades do piano. Brinquei com o Oscarzinho que me ajudou a limpar e varrer o chão. À noite passei pelo apartamento da tia Arthemira que mostrou-me rádios para consertar. O Dr Edgard já ia sair. Em casa a mãe já se preparava para ir à Igreja. Fui dormir cedo na cama da mamãe de colchão de mola.

24/06/57 – segunda – Fui à casa da tia Arthemira ver os rádios dela. O Affonso foi comigo. Limpamos alguns objetos, comemos bananas assadas e ouvimos discos, bons discos. Almocei com a Maria José. Quem fez a comida foi a cozinheira Dina, que parece ser muito simpática. À tarde fui com o Pe. José Maria e o Luiz de carro até a cidade. Fui à alfaiataria Passarello onde verifiquei os uniformes. Comprei a passagem de volta na Praça Mauá. Vi que o trânsito e a poeira no Rio são de amargar. Fui com o José Maria, Raymunda e Luiz até Honório Gurgel. Não consegui fazer uma ligação para o alto-falante. Continuo com o tornozelo inchado.

25/06/57 – quinta – Fui à missa mas não comunguei. Pratiquei arremessos sozinho e depois com o Bira. O José Maria chegou lá pelas 15:00. Almocei. Dormi. Tomei vinho. Falei ao microfone. Contei dinheiro. Assisti a um filme. Li o jornal ”O Globo“. Notícias sobre a Coréia do Sul e a seção Mesa de Pista do Antonio Maria sobre o desfile de misses no  Quitandinha. Basquete Vasco 62xFlamengo 68. Fui dormir.

26/06/57 – quarta – Fui à missa mas não comunguei. Gostei de ver o Pe. José Maria cantar o “Libera me Domine”. Ele está bem no canto gregoriano. (Obs. Em 29/08/2002, em Aparecida, no seu jubileu de ouro de ordenação, ele também cantou em latim). Depois pratiquei um bocado de arremessos e treino individual de basquete. Ouvi aulas na rádio Ministério da Educação. Fui dormir. Lá pelas 14:00 chegou o Luiz. O carro estava com o motor de partida ruim À noite fui à igreja, onde confessei-me.

27/06/57 – quinta – Fui à missa e comunguei. De manhã pratiquei basquete. À tarde tentei consertar o rádio do Josué mas não consegui. Nestes dias estamos todos aqui em casa preocupados com o Rogerinho filho do Josué e da Maria Helena. Parece que o meu sobrinho tem leucemia. A Maria Helena que já está esperando outro filho para agosto, hoje chorou e a Maria José também. Levaram o Rogerinho para fazer todos os exames e receber transfusão de sangue. Dizem que se ele resistir neste 15 dias poderá viver ainda por muito tempo, até aparecer talvez um remédio mais eficaz. À tarde o Affonso foi bater papo comigo. Depois conversei com a tia Arthemira que me contou fatos e falou sobre as pessoas da nossa família que nos precederam. Fui jantar na casa do Oscar. A Margarida e a Vera estavam estudando em voz alta. A Violeta lia revista. O Oscarzinho brincava lá em cima. Cumprimentei a Zilda e fui tocar piano. O ten-cel Oscar chegou fardado. Vai viajar amanhã com o Presidente Juscelino para São Paulo, para a inauguração de novo quartel. Estava vibrando. Irá no Viscount presidencial. Conversei com o Affonso sobre a Engenharia.

28/06/57 – sexta – Festa do Sagrado Coração de Jesus. A missa foi celebrada por Dom Helder Câmara. Muita gente. Cantos. Quando cantaram o hono das damas “Honra e glória aos Sagrados Corações, cuja vida queremos imitar, pra defender a sagrada bandeira, todas unidas queremos lutar...”, lembrei-me dos meus tempos de garoto quando ia à igreja com a mamãe. Fui à cidade com o Luiz e depois até à drogaria V. Silva apanhar um recibo para a Maria Helena. Lá um funcionário me disse que a novidade agora é o Apiserum, geléia real que rejuvenesce. Também pudera, o preço de Cr$1.500,00 diz tudo.  Ouvi discos na casa da Maria José e arrumei os livros do Edison. A Risoleta esteve em casa e eu fui com ela jantar. O Oscarzinho foi no colo até lá. Acabamos de jantar e chegou o tencel Oscar de sua viagem a São Paulo onde foi inaugurar um quartel e ao lançamento da pedra fundamental do Arsenal de Guerra de São Paulo. O Viscount fez a viagem em 50 minutos. O Dr Moisés telefonou dizendo que o único especialista que pode curar o Rogério (Bibi) é o Dr Maia de Mendonça. Voltei para casa. O Josué me disse que o caso do Rogério é dos mais graves e que pelo último livro que trata de leucemia, 100% destes casos terminam em morte.

29/06/57 – sábado- Dia de São Pedro- Dormi na casa do Luiz. A mamãe queria que o Dr Edgard desse uma opinião sobre o Bibi. Fui ao Bando de sangue onde doei  350 gramas de sangue, para diminuir as despesas do Josué com o Rogerinho. Tive que ficar em jejum até as 11:00. À tarde o Affonso passou uns filmes da família. Depois também passei para a tia Rosa e tia Maricas. Fui à missa das 18:00. Falei com o Calomino. À noite dei uma volta no carro do Luiz, parando numa ladeira. Felizmente deu tudo certo. O Affonso e o Ivan também andaram. O Luiz e o Edison conversavam no portão. Depois na varanda o Affonso passou filmes sobre a Gigóia. Foi muito bom. Estávamos assistindo: mamãe, Maria José, Edison, Josué, Luiz, Affonso e eu. Fui dormir na casa da Maria José. À noite muito barulho no Tijuca Tênis Clube e serenata dos gatos no telhado. A Anna dormiu com o Rogerinho.

30/06/57 – domingo – Fui à missa das 08:00. Comunguei. O 2º Ten Felippe chegou hoje. Está de bigode. O Rogerinho ainda está muito doente. As mulheres da família têm vindo visitar a Maria Helena . ãs vezes chegam a chorar. O Orlando veio de carro. É um Plymouth e está com estofamento novo. (Cr$10.000,00). O Affonso e o Felippe têm andado de carro. Dei outra volta com o Affonso e o Frankinho. À tarde fui ao Tijuca. Vi que nos tinham dado hora errada. Fiquei no apartamento da tia arthemira. Assisti ao jogo Tijuca 34x Escola Naval 30. Dancei com a Dayse, procurando depois me esquivar dela, não tendo dançado mais. Fiquei conversando com o Bethlem, João e Rubens. Fui dormir à 01:20 tendo entrado pela janela.

01/07/57 – segunda – Acordei às 08:30. Estou com furúnculo na perna e com o tornozelo inchado. Fiquei observando o Bibi que ganhou um relógio (900,00) da Maria José. O Pe. José Maria veio visitá-lo. Ele está em dificuldades com a mudança de paróquia.  À tarde fui com o Luiz até a cidade. Ele está indo às aulas das Listas Telefônicas Brasileiras. Voltei para a AMAN tomando o ônibus do Expresso Agulhas Negras das 18:30. Boa viagem, graças a Deus!

02/07/57 – terça – Acordei com vontade de baixar ao hospital. Ainda bem que quem teve equitação foi a turma E-1. Instrução e aulas de ResMat. Não treinei basquete. Falei com o Dr Tong sobre o tornozelo e os furúnculos. Aulas. Saí-me mal em Balística (5,3). Na aula de História Militar falaram os capitães Camargo e Portugal sobre Caxias  e a Batalha de Humaitá. Fui ao treino. Apliquei infra-vermelho. Treinei individualmente. O Alexandre rompeu os ligamentos do tornozelo no Rio. O Maj Ênio falou-nos sobre o jogo do Tijuca com a escola Naval.

03/07/57 – quarta – MORREU O ROGERINHO ÀS 04:30. Deus lhe dê o céu. Instrução. O ten  Palazo me disse que era o comandante do 2º pelotão. À noite houve o jogo AMAN x Seleção juvenil do Estado do Rio em que a AMAN perdeu por 3 pontos. Não assisti porque estava ouvindo a situação do Exercício de Longa Duração (ELD).

04/07/57 – quinta – Acordamos às 04:30. Fomos para o ELD em Bulhões. Reconhecimento. Cercas de arame, concertinas. Ferreira. Moriconi.

05/07/57 – sexta – Fossos anti-carro.

06/07/57 – sábado – Recolhimento de minas. Mal cheguei ao Parque fui ao Conjunto Principal, tomei banho e entrei no ônibus da AMAN que fez um péssimo deslocamento. Saímos às 13:30 e chegamos às 18:30. Fui em casa. O Luiz levou-me à Central. O ônibus atrasou. Afinal fomos ao Jacarepaguá Tênis Clube. Ganhamos bem no vôlei por 2x0. No basquete entrei com o tornozelo inchado e a garganta querendo inflamar. Joguei mal, perdendo o controle da bola várias vezes e arremessos à cesta. Perdemos por 59x34. Houve um baile depois, tendo dançado umas três vezes. Terminou às 03:30.

07/07/57 – domingo – Acordei tarde. Missa das 11:00. Conversei com a mamãe e a Maria helena. O felippe está em casa. Amanhã vai para Paquetá com a Risoleta. O Oscar levou uma trombada no enterro da quarta-feira passada. O Edison fez um barco. Ãs 18:00 saímos em um ônibus que não estava bom. Voltamos para a Central. O Joélcio emprestou-me Cr$50,00. Boa viagem de trem, graças a Deus.

08/07/57 – segunda – Instrução. Treinei basquete. O Cel Pondé se despediu, ficando no lugar o Maj Aluízio. À noite não houve treino.

09/07/57 – terça – Instrução. Treino de basquete.

10/07/57 – quarta – Prova de ResMat. Instrução. Fomos a Volta Redonda de ônibus. Ida e volta muito bem. Ganhamos o vôlei por 2x1 e o basquete por 49x46 (com a seleção juvenil do Estado do Rio). Na volta um lanche.

11/07/57 – quinta – Instrução. Fui ao filme “Os Rapinantes”.

12/07/57 – sexta – Instrução no rio Paraíba com o ten Tibério. O Horst cortou-me o cabelo.

13/07/57 – sábado – Estou de faxineiro. 3º concurso de desfile a pé. A 1ª Cia do Curso Básico venceu, seguida de duas companhias de Infantaria. Às 12:30 fomos para o ginásio de onde partimos em uma viatura Studebaker da engenharia, tendo como motorista o cabo Ataíde. Fomos bem de viagem até Pindamonhangaba. Descansamos e fomos ver a quadra onde jogaríamos. À noite jogamos contra Pinda e ganhamos por 12 pontos .

14/07/57 – domingo – Fui à missa. No Evangelho dizia: “Se tens alguma coisa contra teu irmão, vai e reconcilia-te com ele, antes de vires me oferecer um sacrifício”.  Falou-se sobre um ex-padre que matou um bispo, considerando-o um novo Judas. Fiquei na praça. Só gostei de uma moça. Discos no clube. À tarde jogamos com Taubaté, ganhando de 48x38. Fomos os campeões, graças a Deus. Discos no clube. Joélcio, Dario e Serpa. O Sebastião com a filha do comandante. Voltamos às 21:15. Boa viagem. Chegamos à meia-noite. Vi que estava de serviço.

15/07/57 – segunda – Rendi a parada. O oficial de dia à AMAN é o tem Roehl. O oficial de dia à Guarnição é o Cap Solero, de Inf , que só apareceu às 20:00. Serviço normal. Estudei História. Rondas. Soldado Alencar. Dormir. Graças a Deus tudo normal.

16/07/57 – terça – Livro de partes. Novo subchefe de turma. Canção “O Brazão”do Curso Básico. Aulas de resMat, tendo me saído mal pois faltei à aula de ontem. Aulas. Gagá de História militar. Treinos de basquete. Cortei cabelo. À noite vendo o Darzan torando e o Gonçalves estudando, fui descansar. Dormi até direto até as 04:00 da manhã! Devia estar bem cansado.

17/07/57 – quarta – Infelizmente deixei muitas lições para estudar no último dia. Antes da prova ainda li as conclusões das lições 27, 28, 29 e 30. À noite houve jogo de vôlei entre a Eng  e a Art. A Eng perdeu. Bom jogo foi o de basquete entre a Inf e a Cav. Mesmo sem o Alexandre e o Calomino com a mão direita ruim, a Cavalaria ganhou pois o Calomino jogou muito.

18/07/57 – quinta – Instrução.

19/07/57 – sexta – Prova de Estradas. Não acordei para estudar e fiquei pouco preparado para a prova. Visita à estação de Agulhas Negras. Vimos diversos tipos de trilhos, acessórios, o bloqueio do páteo da estação e a ponte rolante. À tarde instrução de rádio com o ten Ferraz e sgt Monterisse e Paiva sobre o demonstrador dinâmico; rad 302 e oscilador. Ordem Unida. Faltou-me tempo para preparar-me para a revista de uniforme. Apresentei-me sem brazões e os oficiais não viram. Corri muito mas deu tudo certo, graças a Deus.

20/07/57 – sábado – Quase que perco o ônibus para o Rio, mas felizmente deu tudo certo. Chegando em casa encontrei bem a Maria Helena. A mamãe está em Minas Gerais, em Congonhas. Dormi na casa do Luiz.

21/07/57 – domingo – Fui à missa das 10:00. Jogo Fluminense x Vasco. 5x2 para o Flu. Fui jogar no Fluminense contra a F.A.E.. Perdemos o jogo. Joguei mal, errando passes e lances livres.

22/07/57 – segunda – Fui à missa. Confessei-me com o Pe. Boaventura que me aconselhou a nunca ficar ocioso, praticar esportes e ler bons livros. Aconselhou-me a esquecer a Liz, dizendo-me que se os pais dela são separados ela facilmente seria tentada ao mesmo. Que ela está acostumada a ser cortejada por muitos homens. Aceitei as observações dele e resolvi seguir os conselhos dele, portanto de agora em diante farei tudo para esquecer a Liz. Estudei Balística. Regressei à AMAN. Boa viagem. Estão consertando uma ponte sobre o rio Paraíba.

23/07/57 – terça – Aulas. Comentários sobre a derrota no Rio. Errei passes.

24/07/57 – quarta – Prova de ResMat. Treino de basquete.

25/07/57 – quinta  - Instruções.

26/07/57 – sexta – Instruções. Jogamos basquete com a Seleção Paulista de Juvenis. Ganhamos de 64x37. Comentaram que joguei bem.

27/07/57 – sábado – Instrução. Prova de Comunicações. O major Asdrúbal Esteves falou-nos que estávamos possuídos de grande apatia. Que devíamos gritar “Ao braço firme!”” e seguir para a frente. Mas logo em seguida veio o cap Milazzo e estragou tudo o que o major havia conseguido. Tudo foi por terra com as palavras ásperas e estridentes do capitão. Dormi à tarde. Houve competição de atletismo com o Fluminense. Jogamos basquete com a seleção juvenil do Ceará. Ri-me interiormente do tamanho dos garotos, mas... perdemos de 67x42. Havia um menor que deu-me uma grande finta e fez a cesta. Errei um lance livre. Fiz cinco faltas e tive que sair. Meu grande erro foi fazer cinco faltas sem necessidade. Dormi cedo.

28/07/57 – domingo – Ontem foi um dia agitado, tendo havido várias competições (pólo, atletismo e basquete). No atletismo vi o campeão sul-americano Jorge Machado correndo muito bem nos 4x400. Hoje fui à missa e comunguei. Fui treinar basquete no ginásio com o Henrique. No final torci de novo o tornozelo. Preciso me cuidar mais. À tarde passou um grande filme “Rififi chez les hommes”. Não assisti, pois dormi bem. Os colegas disseram que foi um filme muito bem feito. Escrevi para o Piero Ludovico Gobbato e para a mamãe. Escrevi também para a National School, Escuelas Latino-Americanas e Rádio Técnico Monitor. O Jacques me falou sobre um passeio a Itatiaia com uma delegação de engenheiros de Minas. Não aceitei o convite. À noite fui dormir cedo após arrumar um pouco as minhas coisas.

29/07/57 – segunda – Instrução. Estradas: medições das escavações. Cuidado com as empreitadas! Metodologia em que o cap Arruda falou-nos sobre o plano de sessão. Finalmente em comunicações o ten Ferraz falou-nos sobre os circuitos osciladores em um transmissor. À tarde tivemos aula de História Militar em que o professor falou-nos rapidamente das causas e movimentos da Primeira Grande Guerra. Depois no tempo vago em coloquei as cartas no correio e estudei balística para o teste. À aula de balística fiz um teste mais ou menos e recebi a grau da prova que foi 9,8, graças a deus. À tarde ainda, treinei basquete com o ten Gedeão. Cortei o cabelo. Li um bom opúsculo “Primavera do Amor”.

30/07/57 – terça – Aulas de ResMat. Outras aulas. Treinos de basquete. Filme de que não gostei. Torei. Estudei Emprego da Arma.

31/07/57 – quarta – Tenho sido o sub-chefe da turma e desfilado. Prova de Emprego da Arma.

01/08/57 – quinta – Instrução. Filme. Assisti ao “Tribute of a bad man” com James cagney. Gostei de ver a fibra, a tenacidade e a força do Dr Rodock, a figura do Steve e o seu amor por Jocasta. O tipo do James Cagney me lembra o Dr Piedras. Estudei Minas. Fui dormir. Acordei às 04:15. Estudei Minas no cassino.

02/08/57 – sexta – Aniversário do Affonso. Prova de Minas, mais ou menos. Ponte B4A1 no rio Paraíba com o ten  Tibério. Fiquei na turma de âncoras e suportes flutuantes. Não trabalhei muito. Quando o Joélcio foi lançar a âncora eu fiquei na ponte de Resende controlando com três amarras ligadas. O rancho foi servido mais tarde pois a manutenção do material de pontes foi demorada.

03/08/57 – sábado – Festa da Engenharia – Não fui ao juramento da Bandeira. Fui para o Parque onde com o ten Palazzo, o Pimpão e o Cunha pensamos na apresentação do material da ponte M-2 ( Portada nº1 de apoio à Infantaria). Lá pelas 11:00 começaram a chegar os convidados. Falei muito. O Gonçalves estava no guindaste Quick-way. O Otinho no suprimento d’água e o Lousada na Passadeira. Muitos oficiais e muitas garotas. Depois houve um churrasco. Às 15:30 houve um jogo de futebol entre a Art e a Eng, onde ganhamos por 2x1. O Chico me apresentou à senhora mãe dele, Da. Custódia, à Da. Delorme, mãe do Villar, à irmã do Villar e a algumas garotas. O ismar estava com duas garotas de Pindamonhangaba. Houve um lanche. Eu estava com muita fome mas o lanche foi guaraná, pastéis, bolinhos de peixe e empadas em quantidade que logo me enjoaram. Fiquei com dor de cabeça. Fui deitar na cama do Stélio e não gostei de ouvir colegas conversando sobre mulheres junto a um garoto de oito anos. Não fui ao baile pois estava com dor de cabeça e queria fazer um bom treino de basquete no dia seguinte.

04/08/57 – domingo – Fui à missa. O capelão maj Arquimedes comentou o evangelho de hoje em que Jesus fala sobre a esperteza do administrador infiel. Disse-nos que precisávamos de meditação para que os alicerces da nossa personalidade fossem bem firmes. Que não deixássemos que a nossa consciência se tornasse um quarto todo sujo e cheio de teias de aranha, pois esta claridade interior facilita e permite que sejamos chefes tanto no quartel como no lar. Seremos líderes e contagiaremos os que conosco vivem. Na epístola São Paulo fala-nos que somos filhos de Deus e, portanto co-herdeiros com Cristo. Li também que o modo como tratamos a Deus e ao próximo é que nos conseguirá ou não viver eternamente na presença de Deus. Logo depois fui treinar sozinho basquete no ginásio. Treinei bem, graças a Deus. Depois do rancho fui cumprimentar umas garotas da Escola Profissional. Fiquei conversando com o Joélcio que me falou sobre a educação que recebera de seu pai Jaime. Fui ao cinema com ele apesar de ter previsto. Ele recebeu um telegrama da Cristina com quem havia terminado o namoro. O jornal cinematográfico versou sobre modas, corrida de automóvel, ano geofísico internacional e casamento. O filme foi sobre uma aventura na Índia. O problema é do mestiço. Eis uma frase que guardei: “Não odeio no plural!”e a frase em inglês no final do filme: “Don’t be fool, marry with me!” que sintetiza a solução adotada pela Victoria (Ava Gardner), aceitando o conselho do Coronel (Stewart Granger). Pausa para meditação: Reli este meu diário, vendo que a vida passa rapidamente e que a única alegria provém do Bem. Ora, é difícil conseguir-se o Bem. Vi que a estrada que percorri até agora está cheia de crateras e que há falta de boeiros que canalizem as águas na época das enchentes. Vi que a ociosidade é a principal causa de quedas morais e também quanto vale o conselho de um confessor. Vi que após o conselho do Pe. Boaventura, a Liz não é mais para mim o que era antes. Consigo viver fora do cassino. Deixei de fuçar os jornais e revistas com o pretexto de achar notícias sobre a Liz. Estou no momento sem a preocupação de namorar, pois ao ler o que São Paulo diz na sua epístola “não casar é melhor, mas quem quiser casar, tome a sua esposa e respeite-a. Lembrei-me de que o sexo é uma das coisas importantes da vida, mas não a única. Meus objetivos no momento são: ser metódico, evitar o sexo e me preparar para ser um bom oficial de Engenharia. Treinar basquete bem, para bem representar a AMAN. Estudar o máximo que puder. Ao braço firme! Ad maiorem Dei gloriam! À noite li um bom livro: “Conselho aos jovens”. Dormi cedo.

05/08/57 – segunda – Instrução. Estradas (Apropriação) e Emprego da Arma (Ofensiva). Como o ten Gedeão estivesse doente, quem dirigiu o treino foi o cap Gênio Pinheiro. Deu-nos uma sessão de ginástica básica. Exigiu saltos e arremessos em profusão. À tarde aula de História (Alsácia Lorena). Treinamento dos cadetes do 1º ano para o recebimento do espadim. Diferente e bonito, sendo orientados pelo cap Magalhães. Aula de balística (cálculo da trajetória Siacci). Sessão de ginástica básica e pista de aplicação com o ten Tibério. Confusão sobre monitores. No final tudo normal. Treino de basquete com o ten Gedeão. Boa pelada. No rancho quase só tomei leite. O ótimo leite Agulhas Negras. Cortei cabelo. O Serpa deu-me uma fotografia de um jogo de basquete. Mostrou-me várias dele. Engraxei os coturnos. O Chico comentou que a Liz estava noiva e que o seu noivo a proibira de um quadro no show.

06/08/57 – terça – Equitação. Graças a deus não houve ferimentos apesar das quedas. O cap Azambuja exige e nós assim temos que saltar obstáculos mesmo. Aulas de estradas ( em campanha) e de ResMat ( exercícios). Cheguei bem atrasado ao treino. Aula de balística. Treinamento dos cadetes novos. O Largaespada querendo ler este diário. Aula de História. Treino de basquete. Entro de sargento de dia amanhã.

07/08/57 – quarta – O cap Milazzo não deixou um momento sequer a ala, pois hoje é dia de concurso. Treino de basquete. Instrução. Treino de basquete. O Horst e o Lino fizeram parte da comissão de julgamento. Tiramos 8º lugar. O nosso apartamento está muito bom.  Treino de basquete. Serviço de permanência no Corpo de Cadetes das 24:00 às 02:00. estudei pontes.

08/08/57 – quinta – prova de pontes  Mais ou menos. Instrução sobre metodologia. À tarde lidei com a motoniveladora (O Isaltino do lado). Quickway  com caçamba ( O ten Fortuna ao lado) e outros equipamentos. Comecei a fazer um aro de basquete. Treinei os cantos de amanhã. Muito bom. O Brás veio bater um papo.

09/08/57 – sexta – Entrega do espadim. Alvorada às 06:30. Sou o faxineiro porque o Villar recebeu uma punição e não pôde fazê-la. O café foi na entre-ala. O Joélcio está de sargento de dia. Fiz uma faxina no apartamento. Cantei na missa e no apartamento. À tarde coloquei o 1º uniforme e fui passear pela AMAN para ver o movimento. Chegaram muitos carros. O sargento de Engenharia no tráfego. Carros... Carros... Automóveis... Espadins e flâmulas... Guarda de Honra... Salvas... O Sr. Presidente Juscelino Kubistec e o Sr. Ministro da Guerra  General Henrique Teixeira Lott. Começa a cerimônia. Discurso demorado. Cadetes caem no chão. Gritos dos assistentes. Lanche. Cassino (revista Pointer).

10/08/57 – sábado - Alvorada às 07:00. O Horst envernizando tudo. Treinei basquete. À tarde dormi e fiz educação física. Conversei com o Brás. À noite assisti ao filme “Pane, amore e gealosia”com Gina Lollobrigida e Vittorio de Sicca. Alegre. Dormi cedo. Hoje é o baile no Monte Líbano.

11/08/57 – domingo – Confessei-me. Generosidade! Toquei no harmônio enquanto o capelão batia um papo com outros. Dirigi a leitura na missa com o Rui Ferreira. Comunguei. Pedi para dominar meus defeitos inclusive o egoísmo. Treinei basquete com vontade de melhorar bem. Dormi após assistir um pouco ao filme “Interrupted melody”com Glenn Ford e Eleanor Parker. Ópera e romantismo. Passeei após o jantar. Morreu um aspirante de Infantaria, filho do cel Fernandes, vítima de uma explosão de granada que cobriu com o seu corpo para que não matasse mais gente. UM HERÓI! Que Deus lhe dê o céu como recompensa. Ele ia se casar em novembro! “Assim como vai o rio os alvos seixos rolando, assim também vai a vida as ilusões arrastando!” O Horst passando enceradeira no apartamento que eu encerei à tarde. Estou escrevendo no cassino da SAM, ouvindo as belas músicas em HiFi.

 

23/08/57 – sexta – Sou o sargento de dia à 2ª. Cia do Curso Básico, comandada pelo Cap Paes. Hoje tive prova de Estradas sendo muito lento ao resolver as questões. Cálculo de pontes com o ten Tibério. À tarde aplicação da metodologia. O Roeder e o Largaspada falaram sobre a Nicarágua. O mack falou sobre a Chefia e o Magalhães sobre Organização do Terreno. Revista de uniformes e licenciamento. Nestes onze dias não deu para escrever nada. Tive prova de ResMat em que o maj Carlos Bernardes nos colocou em um ônibus e nos levou até o Parque. Tivemos Exercício de Longa Duração em que me especializei em motoniveladora e trator D4. os colegas sofreram mais se afundando nos alagados campos de minas. Joguei basquete com o CIB e ganhamos. A engenharia ganhou da Artilharia. Joguei bem graças a Deus. Jogamos com os oficiais. Perdemos e empatamos. Vacina. Festa da espora. Enviei um telegrama para a mamãe no dia 21, seu aniversário (64 anos). (Ela veio a falecer em 1973 com 79 anos e meio). Recebi revistas dos EUA e voltei a pagar a RT Monitor. O Brás e sua máquina fotográfica. Incerteza em onde servir após sair aspirante. Expectativa das competições com a Escola Naval e de Aeronáutica. Falei sobre Televisão muito descontraído. O Villar falou sobre a Preocupação. Devemos ter interesse e não perturbação. Ele tem boa dicção. Estou me sentindo melhor sem me preocupar com a Liz.

24/08/57 – sábado – Fui treinar basquete. Fiz ginástica com o aparelho do Roeder. À tarde dormi bem. À tarde assisti ao filme “Julieta”, comédia francesa. Fiz um relatório de reconhecimento de estradas (drenagem). Fui dormir.

25/08/57 – domingo – Confessei-me com o Pe. Arquimedes. Disse-me que devo reconhecer que eu sou fraco sem o auxílio de Deus, mas que este esforço que eu agora faço mais tarde quando eu constituir família será recompensado pois estou treinado em lutar. Tudo por um ideal! Cantei na missa e comunguei. Deo gratias! Muito obrigado Jesus, sois tudo e eu não sou nada. Joguei basquete após um individual. A pelada foi até 100 e eu dei uns bons ganchos e jumps. Quase não almocei. Conversei com o Aníbal sobre o artigo:”Nós pagamos o brinquedo” de David Nasser. Assisti ao filme “Casa de chá em luar de agosto”. No qual ri bastante e saí satisfeito. Até que enfim uma película de humor sem piadas de duplo sentido. Arrumei o arma’rio e a mesa. Fiz uma faxina preparatória no apartamento. O Chico veio me dizer que a Liz apareceu na capa da manchete ao lado da Norma Benguel. Fui ver. Ela está muito bonita. Acabei voltando a pensar nela. O Horst relia as cartas da Zenaira.

26/08/57 – segunda – Instrução. Filme sobre a 2ª Guerra Mundial em que é mostrada toda a miséria que ocorreu. Treino de basquete e da torcida, não havendo desfile matinal. 

27/08/57 – terça – ResMat. Instrução.Treino de basquete. Filme na aula de História Militar. Treino da equipe de basquete: Palma, Alexandre, Calomino, Dario e eu.

28/08/57 – quarta – Desfile matinal. O 3º foi torcer no cinema. Treinei basquete. Ontem comprei a Manchete em que a Liz apareceu na capa. À noite jogamos com a equipe de Volta redonda. Ganhamos de 60 a 40.

29/08/57 – quinta – Instrução.

30/08/57 – sexta – Instrução. À noite houve jogo de pólo aquático com o Mackensie. Perdemos de 8x3.

31/08/57 – sábado – Reunião com o Cmt da Cia, Cap Daniel Milazzo. Choveu bem da hora do atletismo, não havendo a competição. Houve natação. Ganhamos. O Schirmer nadou bem. À tarde dormi. Ã noite houve vôlei e basquete. Ganhamos no vôlei de 2x1. O Jorginho como sempre jogou bem. No basquete viramos na frente  mas no final perdemos por 3 cestas. Eles tinham um jogador que saltava muito bem.

01/09/57 – domingo – Missa. Cantei e comunguei. O general Dubois, diretor da Diretoria de Obras e Fortificações assistia à missa. Fui depois jogar basquete no ginásio com o Molinari. À tarde quase que perco o trem de aço por causa do meu relógio. Viajei com um colega dos aqualoucos. Em casa estava a mamãe. Havia uma televisão nova. Edison e Maria José.

02/09/57 – segunda – Fui de carro até Honório Gurgel.O José Maria me levou até o Clube Militar. Apresentação ao Gen Magessi. Perguntou, quais são os que saltam? À noite jogo com o Sírio. Perdemos por oito pontos. Jogamos bem. Torci o tornozelo direito.

03/09/57 – terça – Treinamento na P.E.. O ten Lobão está lá. O Lasssance vai casar hoje. Good luck! Torei à tarde. Fui em casa. À noite jogo contra o Colégio Militar e Clube Municipal. Fui de ônibus buscar os jogadores do Clube Municipal. Um padre chamando o povo para a visita de Nossa Senhora de Fátima. Demora. Enfim. Muita chuva. Ganhamos. Dario e Palma chateados. Apontei o jogo. 54x34. Suco de uva. Barulho no alojamento. Oficial de dia.

04/09/57 -  quuarta – Dia chuvoso. Rádio. Café. Tora. Aqua vegetomineral no tornozelo. Sgt Freire. Anteontem comprei a Manchete onde a Liz aparece de novo muito bonita. Voltei a pensar nela.

10/09/57 – terça – Colégio Militar. Treinos. Ten Gedeão. Dario. Nos mudamos para a P.E..Ótima comida. No sábado passado houve um baile no Colégio Militar. Conheci uma moça bonita sem pintura chamada Aldaléa Vieira de Freitas- Rua Mariana Portela, 64 – Riachuelo. Estive em Niterói. A Maria helena ganhou mais um neném, Roberto. Deu-me um par de meias. Tomei banho de sol e nadei. O Fluminense ganhou do Flamengo por 3x1. A AMAN ganhou no atletismo. O Villar no salto com vara era um número a parte. A escola naval ganhou a natação, vôlei e basquete da Escola de Aeronáutica. Não tenho estudado!Escrevi uma carta para o Felippe. Transferência. Fui dormir na P.E..

11/09/57 – quarta – O dia todo na P.E..Treinei um pouco e li sobre basquete. À noite jogamos com a Aeronáutica e ganhamos de 2x0 no vôlei e 41x22 no basquete.

12/09/57 – quinta – Pensei o dia todo no jogo com a Naval. O ônibus enguiçou. Ganhamos o vôlei por 2x1. Bonita reação, de 10x3 ganhamos por 15x12. No basquete porém perdemos. O técnico Paluca sabendo bem qual a nossa jogada, marcou-me muito bem, não permitindo que saísse a jogada e os nossos arremessadores não estavam bem. Coisa do esporte. Resta a satisfação do dever cumprido. Ad maiorem Dei gloriam! Ficamos todos tristes é claro. O ten Gedeào não gostou da atuação dos juizes Aladino e Marzano. Errei dois lances livres, avançando o pé na linha. Não pude jogar como esperava pois a marcação estava perfeita sobre mim. Terminou portanto um esforço de seis meses de preparação. Esperávamos o vitória, falávamos em cervejada e no final veio a derrota. Penso que esta derrota poderia ser evitada se tivéssemos uma outra jogada além da cruz. Espero que no próximo ano nós vençamos, apesar dos juízes ruins. Talvez se a Naval marcasse individualmente nós ganhássemos pois estávamos bons na chave 4x1. Nós marcamos individualmente e eles conseguiram muitas cestas de arremessos e entradas. Enfim eles jogaram mais e mereceram a vitória. Não será por causa disto que eu ficarei desanimado, pois confiante em mim irei firme em frente, com a decisão firmada em minha mente. Fiat voluntasTua!.

13/09/57 – sexta – Estou gripado e com tosse. Aquela tosse antiga. A Heloísa foi lá em casa. Está com uma bonita conversa sobre Deus e sobre a vida. Muita chuva. Não pude mandar um telegrama para o Felippe que hoje completou 23 anos. Ele está querendo vir para o Rio.

14/09/57 – sábado – Fui comprar a passagem de volta, encontrando-me com o Otto Moura. Comprei um pijama.

15/09/57 – domingo – Fui a niterói. A Eliane estava com febre. O Robertinho dorme muito. Fui à praia. Estou doente. Fui à missa. Voltei para Resende doente.

16/09/57 – segunda – Faxineiro. Resolvi tirar a carteira de motorista. Escrevi para a mãe e para a Aldinha. ]

17/09/57 – terça – Acordei bem adoentado. Quando em forma tive que sair. Pedi ao cap Azambuja para não fazer equitação, no que ele acedeu. A turma fez mais um passeio a cavalo do que uma instrução que costumamos fazer. Aula de ResMat em que li 3 horas sobre Concreto. Foram suspensos os filmes e a instrução no campo devido ao surto de gripe que está havendo na AMAN.

18/09/57 – quarta – Estudei no bosque Pontes. Instrução.

20/09/57 – sexta – Ontem e hoje instrução e provas. Muitos cadetes baixados ao hospital que se estende às alas e 4º piso.

21/09/57 – sábado – assisti a um filme sobre invasões alemães na 2ª Grande Guerra. A guerra é uma calamidade mesmo. Vi quanto sofrem os homens na guerra. Que Deus nos dê a paz.  Li uma carta do ten Almir Paes de Lima sobre o batalhão onde está servindo lá no Rio Grande do Norte. Disse que devemos ficar a contemplar as Agulhas Negras. Ante tão belo espetáculo parar e deixar que fique impressa tão bela paisagem. Que devemos aproveitar bastante o nosso  tempo de cadete. Ele é um saudosista da AMAN. Estudei ResMat. Dormi. Fui a Resende com o Brás. Ele pagou o frete de um livro. Comprei laranjas. O Jael me deu carona na ida e um tenente na volta. O Darzan estava dormindo e o Horst escrevia uma carta para a irmã aeromoça. Após o jantar conversei com o Henrique e assisti a um filme passado na grande galeria: “Lágrimas amargas”. Tratava da vida de um grande artista que não queria acreditar que o seu tempo já havia passado. Li um livro sobre amizade e dormi.

22/09/57 – domingo – 40 anos da Conferência Vicentina (1917). Comunguei. Foi lida a alta da fundação. Muitos fundadores ainda vivem e são generais da ativa ou reformados. Alguns já morreram. Dizia a ata que a coleta havia sido de 16:000 réis. Recebi a primeira carta da Aldaléa. Parece que está gostando muito de mim. Escrevi outra carta para ela.

23/09/57 – segunda – Entrei de serviço. Ajunto do oficial de dia à AMAN, ten Asdrúbal de Artilharia.

24/09/57 – terça – Teste de ResMat. Aulas. Cinema na galeria.

25/09/57 – quarta – Fui treinar e dirigir jipe com o cap Yvens que me deu muitos macetes como não reduzir sempre antes das curvas, fazer os sinais manuais, tirar pouco o pé da embreagem. Não pude fazer baliza.

26/09/57 – quinta – Dia de instrução. Rádio. Na aula de liderança o maj Capelão disse-nos que lera de um oficial americano o seguinte: “O oficial centralizador é uma praga. O oficial medíocre procura sobressair sendo enquadrado e quer que todos sejam iguais a ele. O oficial preguiçoso mas inteligente é muito bom pois simplifica as coisas”. Fui a Resende.

27/09/57 – sexta – Prova de metodologia. Podia ter estudado mais. Ponte Bayle com o ten Tibério. Topografia. O cap Fetterman pediu que usássemos nos corpos de tropa o material que tivéssemos. Revista de uniformes. O Cmt da AMAN, Gen Hugo Panasco Alvim incitou-nos a que estivéssemos todos em forma na 2ª feira. Que não ficássemos em casa. Conversa com o Chico. Devo ir ao Rio com o Joélcio. Conversa com o Chico sobre o Felintho Quaresma.

28/09/57 – sábado – O Rocha acordou-me às 02:40. O Joélcio e eu fomos para o Rio de trem. Ele à paisana conseguiu lugar sentado. Sentei em Barra do Piraí. Iam juntos estudantes do ITA. O trem passou às 03:10. Chegamos às 07:30. Em casa estavam: mamãe, Maria José, Mariinha, Zacarias, Dináh, Patrícia, Jorginho, Lea, Manoel e Edison. O Affonso telefonou. A Aldaléa telefonou e marcamos um encontro para as 17:30. Estou esperando o Luiz que está em Niterói. Chuva. Fui ao encontro com a Aldinha. Não esperei muito. Entramos em um ônibus errado. Fomos de bonde. Conversamos bastante. No começo ela falava muito. Afinal entramos no assunto que era o principal: continuaríamos ou não. Fiquei até as 09:00 passeando com ela, próximo à casa dela. Gostei muito. Na volta vi o Benedito Guimarães que ia para a casa do Felintho Quaresma. Em casa estava o Josué e família. Dormi com o Renatinho que pensava que eu era o Josué e se mexia todo. Afinal o Josué levou-o para outra cama. A mamãe da cama brincou comigo dizendo que queria saber quem era a namorada.

29/09/57 – domingo – Fui à missa das 06:00. Confessei-me com o Pe. Boaventura que me disse que eu devia procurar saber bem sobre a família da Aldinha. Comunguei. Estava muito inspirado e pedi a Deus que abençoasse a minha vida me dirigindo para o Bem. O Luiz levou-me para que treinasse a dirigir o carro. Giramos bastante com o Ronaldinho e Renatinho. Fomos à casa da Risoleta e conversamos com ela, com o Oscarzinho, com a Anna, com a Vera e com a Margarida. À tarde fui treinar sozinho e uma hora me esqueci que estava freado com o freio de mão, mas felizmente não houve nada. O Fluminense ganhou do Botafogo, com gol do Escurinho. Didi errou um pênalti. Ã noite voltei para a Academia. A Aldaléa foi à estação com a sua prima R..  Conversamos bastante. Fui sentado ao lado do Joélcio que havia errado o nome de uma garota 4 vezes, Cristina em vez de Ângela. Fizemos boa viagem.

30/09/57 – segunda – Emprego da Arma e instrução com o Pe. Bruno que falou-nos sobre a personalidade. Escrevi uma carta para a Aldinha. Não fui ao cinema.

01/10/57 – terça - Mês do Rosário – Teste e aula de ResMat. Aulas. Não pude treinar direção. À noite não fui ao cinema. Rezamos o terço no anfiteatro 301.

02/10/57 – quarta – Prova de Pontes. Faltaram-me observação e calma. Apresentação do teodolito Vasconcellos. Treino de pólo-aquático. Instrução de metralhadora Browning .50 com o ten Roehl . Rádio com o ten Ferraz, sgt Monterisse e sgt Paiva. Filme de guerra. Assisti um pouco, dormi e estudei. Esqueci de ir ao terço de Nossa Senhora.

03/10/57 – quinta – Dia de Santa Terezinha do Menino Jesus. Instrução. Não fui ao cinema, ao contrário fui estudar com o Swami Platt, para fazer o problema de ResMat. Fomos até 00:30. Não ficou um trabalho completo. O Horst Bockler por exemplo fez um ótimo projeto em várias folhas. Posso aproveitar o exemplo para que em futuros trabalhos eu procure fazer com antecedência e mais capricho. Esqueci-me de novo de ir ao terço.

04/10/57 – sexta – Instrução. Regulamento Disciplinar do Exército. Tiro. Vi que sou bem ruim no tiro com revolver. O ten Roehl me disse que só fechasse o dedo indicador e prendesse o revolver com o polegar e o indicador  e o médio, deixando dois dedos livres. Fui treinar pólo-aquático. Estava cansado e saí pouco da água. O hemetério me ajudou a livrar-me de uma câimbras. À noite fui rezar o terço. O Schwingel me disse que ia servir em São Leopoldo.

05/10/57 – sábado – Instrução de ponte Bayle em miniatura com o ten Tibério. O cap Milazzo falou conosco. À tarde dormi até 15:00. Fui à piscina. Recebi uma carta da Aldaléa, da qual não gostei. Não sei se foi porque me chamou de Paulinho ou por causa dos erros de português. Treinei com o Joélcio. Fui ao cinema. O filme pretendia meter medo. Saí no meio. Fui escrever uma carta para a Aldaléa, mas a vontade que eu tinha era escrever: termino. Resolvi deixar para amanhã depois da comunhão. Conversei com o Joélcio sobre as garotas que conhecemos, os problemas advindos e as decisões. Fui dormir. Passei da hora do terço.

06/10/57 – domingo – Fui à missa e comunguei. Escrevi para a Aldaléa falando sobre nossos problemas. À tarde dormi e joguei pólo-aquático, tendo deixado passar três bolas. Perdemos da Artilharia por 3x2. Depois do jantar fui a Resende com o Brás Defilippo. Fomos ver uma exposição de livros. Muito caros. Não compramos livro algum. O Pimpão me pediu para fazer um trabalho sobre rádio galena mas não fiz. Sinto-me ansioso por algo. Amanhã haverá outro jogo de pólo-aquático. No final de semana iremos a piquete e Pinda. Penso no exame de motorista que tenho que fazer. No estudo faltam-me muitas horas de gagá para sair aspirante. Onde vou servir? No Rio ou fora? Ainda não joguei basquete desde setembro. Estou com vontade de jogar de novo. E a Aldaléa? Vou indo gostando dela

mas pensando às vezes na Liz. Deus é quem sabe. Entrego tudo nas mãos Dele. Fiat voluntas Tua!

07/10/57 – segunda – Aulas com o maj capelão e com o instrutor chefe ( Engenharia no combate). À noite jogamos pólo-aquático com a Cavalaria e ganhamos de 12x0. O Menezes quis dar um serviço no meu lugar ( Sargento ao Parque). A 1ª Cia do CB ganhou vôlei e basquete  da 3ª Cia . Rezei o terço.

08/10/57 – terça – Teste de ResMat. Saí-me mal. Aula de vigas. Muitas fórmulas. Jogo com a Cavalaria.

13/10/57 – domingo – Nestes dias fomos a Piquete e Pinda de trem. Jogos. Pólvora. Nitroglicerina. Ponte Bayle. Estrada Itajubá-Piquete. Cartas da Aldaléa e do Affonso. Escrevi uma carta para terminar com a Aldaléa mas a conselho do Villar amassei-a.

14/10/57 – segunda – Dia normal. Jogo de pólo-aquático com a Intendência, ganhamos de 6x3.

15/10/57 – terça – Mandei uma carta para a Aldaléa.

16/10/57 – quarta – Prova de História Militar com consulta livre.

17/10/57 – quinta – Equipamento Mecânico.

18/10/57 – sexta – Ponte B4A1 no rio Paraíba com o ten Tibério. Deixei cair um cachimbo dentro do rio. Graças a Deus e Nossa Senhora, no final com o pé consegui achar. Licenciamento.

19/10/57 – sábado – Exame de motorista. Não consegui passar. Ontem e hoje não rezei o terço. Não fiz a prova entre as balizas. Entrei pouco. No trânsito sem querer a alvanca de mudança saiu da segunda marcha para o ponto morto e eu quis sair assim. Como é que pode! Vai haver um baile hoje. Calor!

20/10/57 – domingo – Fui à missa. Fui o leitor. Comunguei. Jesu quem velatum nunc adspício, ora Fiat illud quod tam sítio, ut te revelata cernens facie, visu sim beatus tuae gloriae! O maj capelão falou sobre a necessidade de se equilibrar a vida. Controlar divertimentos e estudo. Até Jesus ia às festas. Se for a um baile e terminar de madrugada, isto não é motivo para não chegar ao quartel na hora certa. Arrumei os polígrafos. Depois do almoço varri o local onde está a rádio-vitrola e li o começo do livro do Érico Veríssimo:”Gato preto em campo de neve”. Fui verificar se havia chegado uma cart da Aldaléa.-  Não. Os colegas estão no cinema. A rádio agulhas negras de Resende com um programa de músicas. A mamãe deve estar em Aparecida. Vou estudar ResMat para quarta-feira. Dormi. Continuei a leitura do livro do Veríssimo. O locutor da bandeirantes emocionado com os lances da partida entre São Paulo e Coríntians. Após a ceia conversei com o Helder sobre casamento, noivado e namoro. Ele é a favor do casamento bem cedo. Copiei a poesia “Se”que Rudyard Kipling fez para o seu filho. Estudei ResMat. O Darzan escrevendo carta para a Mara sobre o passeio a Piquete. O Horst a endireitar os polígrafos para mandar encadernar, e mais ninguém no apartamento.

21/10/57 – segunda – O despertador soou às 05:30. Só eu levantei da cama. O Horst e o Darzan continuavam a dormir. Li mais algumas páginas do Veríssimo. Encerei o apartamento. O dia amanheceu nublado. Fui à sessão de moto de bicicleta para me certificar que havia sido reprovado. Passei enceradeira no apartamento. Estudei resMat. À tarde fui à cidade com o Henrique para reacertar o nosso   título eleitoral. Estava fechado. Comprei algumas coisas. Ao passar pela construção da casa do laranjeira, conversei com o encarregado das ferragens. Comprei picolé. Carona com o major de História militar. Guaraná na cantina. Eram 14:00 e o Horst e o darzan ainda dormiam. Estudei ResMat com o Horst.

22/10/57 – terça – Na aula de ResMat fomos visitar as construções dos novos edifícios para capitães casados. Lá o maj Campello de Artilharia deu-nos explicações. É um indivíduo de baixa estatura, olhos verdes, bigodes loiros, óculos ao cinto e fivela suja. Vê-se que não faz educação física há muito tempo. Mostrou-nos várias coisas do gabinete e da construção. Não me quis falar sobre concreto protendido, dizendo-me que era o último passo em concretagem. Hoje foi a última aula de ResMat. O maj prof Carlos Bernardes recomendou-nos que continuássemos sozinhos já que nos tinha sido dado o impulso inicial. Recomendou-nos vários livros. O cel Armindo, agente diretor também falou. À tarde tivemos aula de Balística em que eu não sabia a área de uma elipse: S= piXab. Fui receber Cr$90,00 que emprestara a um praça. Bom pagador e honesto. Aula de História Militar sobre a FEB. À noite estudei ResMat. Rezei o terço na cama.

23/10/57 – quarta – Desfile com a presença do Gen Hugo Panasco Alvim. A banda estava mais numerosa. Prova de ResMat em que ao achar o Jmin<Jind julguei a peça estável quando era o contrário. Deveria então da fórmula do Jind tirar o valor de P, que seria o de maior segurança. Jind = 70Ph2p donde P=Iind/70h2p. Tirei 8,5 graças a Deus.

Aula de Emprego da Arma com o major instrutor chefe de Artilharia que falou sobre o emprego da Artilharia no ataque. Há 3 tipos de tiro: Apoio imediato, Ação conjunta e Artilharia de Corpo de Exército (contra bateria).

24/10/57 – quinta – Equipamento mecânico. Tirei fotografias à tarde. Movimento retrógrado. À noite dormi às 19:45 sem rezar. Nenhuma carta ainda da Aldaléa.

25/10/57 – sexta – Semana Olímpica. Lendo Caminhos Cruzados de Érico Veríssimo, enquanto o soldado passava enceradeira no apartamento. Fiquei com aversão à vida burguesa e à vida na cidade grande. Que materialismo! Só se pensa em prazer. Tudo é imitação. Procurarei com a ajuda de Deus me afastar disso. Que saiba com minha esposa educar meus filhos e no final olhando para trás achar que fiz o melhor que pude. À noite houve competição de natação. Fui cronometrista com o ten Gedeão. Errei duas vezes mas aprendi depois. A Infantaria tirou o 1º lugar e a Engenharia o 2º. O Schirmer nadou muito vencendo três provas em três estilos.

26/10/57 – sábado – haverá uma visita das alunas do Colégio Brunet do rio. Limpei o cassino do Grêmio Vilagran Cabritta. À tarde joguei de goleiro no jogo de pólo-aquático com a Infantaria. Perdemos de 3x1. Não deixei passar nada no segundo tempo.  À tarde houve um baile no refeitório dos cadetes. Não dancei e não fui falar com uma garota que estava com o Joélcio.   Serviram catanho. Chuva. Filme: O Homem e seu destino.

27/10/57 – domingo – Cristo Rei. Ia me confessar. Cantei. Ia estudar Balística, mas acabei não estudando. Falta de método, seu Felinto! À tarde dormi e fui assistir à competição de atletismo. Visitantes alunas do Instituto de Educação e Surdos e Mudos. Grandes sensações e certas emoções. Li Seleções. Oficiais na chuva. Fui assistir o filme Good morning miss Dove. História de uma moça que não podia casar e foi ser professora para saldar a dívida de seu pai. Educou severamente várias gerações e possuía a gratidão de todos, desde o policial até o médico. Gostei do filme. Estou sem receber carta da aldaléa há mais de uma semana. Fiat voluntas Dei. Do filme: what writen, writen, what wrong, wrong. Fui dormir às 21:00 sem rezar. O que é que há? Deve haver tempo para tudo,. seu Felinto!.

28/10/57 – segunda – Instrução sem boas condições de odógrafo com o cap Fettermann. Fator de correção = reg/real. Chuva. Estudei Balística. Na aula dessa matéria falei uma coisa por falar, sem saber ao certo. Conclusão: risada geral! Lição: “Só falar do que tem certeza!”. Estudo. Na aula de História Militar falaram companheiros que estiveram na Itália na 2ª Grande Guerra. O Maj Césio de Infantaria e o General Hugo Panasco Alvim contaram algo sobre a guerra. Recomendaram que se insista na Instrução Militar. Estudei Balística e rezei o terço.

29/10/57 – terça – Chuva. Não houve Equitação. Instrução sobre regulação do tiro de Artilharia e Aerofotogrametria. Teste de Balística em que fiquei na dúvida se usava Vo como U ou como u1. Acabei errando e usando como u1. Vão fazer um filme sobre a vida de um cadete na AMAN. O Horst vendendo seus retratos e fotografias de Pinda. Fui ao cinema onde assisti ao filme “Ali Babá” que me fez ficar meio desconcentrado. Fui estudar Balística.

30/10/57 – quarta – Acordei às 03:00 e fui estudar no cassino. Boa prova, graças a Deus! Brincadeira no apartamento com o Horst sobre quem tirava melhores notas. Última aula de História Militar em que falaram o Major Tório e o Major Asdrúbal juntamente com o Coronel Cardoso. Metodologia de Educação Física. À tarde instrução. Último terço do mês de outubro, em que “puxei”o terço.

31/10/57 – quinta – Instrução. Tiro com lança-rojão e foto-informação. À tarde houve uma demonstração da Artilharia para todas as Armas. Revista de uniformes.

RETIRO ESPIRITUAL – Após o rancho convidei o Brás Defilippo. Aceitou o convite. Fomos de ônibus até a fazenda dos padres jesuítas (Três Poços – Pinheiral – Volta Redonda) . em lá chegando fomos recebidos pelos padres, tomamos um copo de leite e fomos nos ambientar. O Pe. Campos, um nortista do Ceará é quem será o pregador. É um indivíduo de baixa estatura, que usa óculos e aparenta ter menos que os seus 34 anos. Fala calmo, seqüenciado bem as idéias. Fui dormir em um quarto individual. A construção é bem antiga, de pau a pique. Fiquei bem impressionado com a casa que me fez lembrar em quase tudo o Seminário do Rio Comprido.

01/11/57 – 1ª sexta-feira do mês e Festa de Todos os Santos. Missa. Várias conferências das quais escrevo a seqüência:

I – DEUS – EXISTÊNCIA

a) Nasci não porque quis. Deus é quem quis por amor.

b) Deus criador, eu criatura. Homenagem

c) Devo salvar a minha alma. Depende de mim.

d) Tenho uma finalidade: “Salvar a minha alma”. Responsabilidade pessoal.

II – EM QUE CONSISTE A SALVAÇÃO DA ALMA?

a)      Salvar é por fora de perigo.

b)      Como?  LOUVANDO, REVERENCIANDO, SERVINDO E AMANDO. CUMPRINDO O DEVER, mas para isso é preciso o ESTADO DE GRAÇA.

c)      Qualquer coisa que não atinja a sua finalidade é frustrada.

d)      Nós somos feitos para a felicidade e para o amor.

e)      Deus pôs as suas criaturas como meio.

f)        Amando a criatura eu amo Deus.

g)      Preferindo a criatura eu não amo Deus.
RECAPITULAÇÃO GERAL

Realidade da nossa vida.
Sou limitado: física, intelectual e moralmente.
Isto não foi determinado por mim.
Não pedi para ser colocado neste mundo.
Tenho que tomar decisões e uma atitude diante da vida. (Ex. Ingressar na carreira militar).
Atitude diante do problema religioso. Todos tomam porque Deus é uma realidade.
Dado inicial para nós: Deus existe.
Sou criatura, fui criado, devo submissão a Deus.

Se tudo tem sua finalidade, a minha existência também terá.

Deus é o fim supremo, logo salvar a minha alma é a suprema finalidade.

Só eu posso salvar a minha alma.

O que é salvar a alma? – É conseguir a posse da nossa felicidade.

Se não conseguir, serei um frustrado.

Isto é uma realidade, quer eu aceite ou não.

Deus me cercou de coisas que são boas; plantas, minerais, mulheres, animais..., às quais devo respeito.

III

Há os erros de concepção da vida. Colocam o fim nos prazeres, na honra, no poder, etc. Deus tinha o seu plano que foi perturbado pelo pecado, primeiro dos anjos e depois dos homens, que sabemos pela revelação.

Deus é bom e justo. Se Ele puniu é porque o pecado é uma coisa bem séria. Adão e Eva pecaram. Pecado é uma desordem, uma transgressão, é uma negação da autoridade de deus. Ora, como a autoridade se identifica com a pessoa de deus, toda desobediência à autoridade é a negação da pessoa. É verdade que nós não pensamos assim quando pecamos. Vendo as conseqüências do pecado vemos a sua importância.

- Responsabilidade de um Oficial.

-  Uso dos Sacramentos.

-  Oração. Devoção a Nossa Senhora.

02/11/57 – sábado – Continuo fazendo o meu retiro espiritual com uma grande felicidade interior. Ouço as conferências do Pe. Campos, S.J., comentando o Santo Evangelho e vejo quantas belezas aparecem após uma meditação.De hoje em diante, todos os dias pretendo ler um trecho do Evangelho e anotar neste diário. Hoje na parábola dos talentos, eu vi que Nosso Senhor retribui conforme o nosso esforço e generosidade. À noite cantamos todos os que aqui estamos: Jacques, Brasil, Zacarias, Olsen, Moreira, Paulo Schwingel, Peroni, Maggioli, Brás Defilipo, Yapir, Saraiva, Moriconi e mais um colega de Artilharia. Fui me confessar com um outro padre de cabelos brancos, contando toda a minha vida.  Quanto aos namoros ele me disse que eu deveria escolher como se estivesse fazendo um negócio. Ver a formação, a família e a saúde. A beleza eu vejo na mãe. Devo namorar muitas garotas sem deixar transparecer nenhum sentimento. Escolher bem. Aconselhou-me a esperar até me colocar bem. Citou que conhece muitos casais felizes. Que não era prudente casar com uma alemã ou com o francês de uma garota, ou com uma garota mais rica do que eu. Disse-me que a vida de soldado é dura e que eu devo escolher uma mulher que agüente e seja de grande formação, pois até isto influi nos soldados. Disse-me que tinha sido soldado em 1914-1918 e que tinha sido derrotado na Batalha do Marne. Disse-me que o soldado precisa de calma e coragem e que isto eu possuía. De alma leve e todo satisfeito eu disse: “Muito obrigado, Padre! Boa noite!”.

03/11/57 – domingo – Continuando o retiro, cantei junto ao harmônio com o Jacques e o Saraiva. Comunguei. Conferência sobre o matrimônio. Perguntas. Retratos. Almoço. Despedidas.

04/11/57 – segunda – Estou de sargento de dia ao Parque. Chuva.

05/11/57 – Construção de ponte. Houve um erro de nivelação das pernas dos encontros por falta de maior cuidado mas serviu para criar uma solução.

06/11/57 – quarta – Exercício de comunicações. Fui operador de uma rad-300 com o Jael e o Otinho. Houve uma palestra sobre o 1º Grupamento de Engenharia, do Nordeste. Vi que a finalidade é ótima e compensa a dedicação de uma vida. Respondi à carta da Aldaléa.

07/11/57 – quinta – Continuamos a construção da ponte. Achamos que o peso próprio é muito grande.

08/11/57 – sexta – Fomos marchando até próximo ao campo de pouso. Fizemos reconhecimentos à noite e voltamos. Chovia. A outra turma ia para lá. Conersei com o Sérgio Garrido Pinto sobre a vida militar e os namoros. Ele acha que eu sou muito severo ao aplicar o regulamento. O Largaspada me disse que não ia tomar banho, mas o Roeder e eu conseguimos que ele fosse, puxando pelos seus brios.

09/11/57 – sábado – Continuamos na construção da ponte de circunstância sob a direção do Tenente Tibério. Chuva tipo tempestade. Dormi cedo.

10/11/57 – domingo – Não fui à missa pois tive que ir à instrução de construção da ponte. Fiat voluntas Dei! Inauguração da ponte ‘Cadete Martins”. Falou o cadete Theberge e o General Panasco Alvim. Faz 6 meses que morreu o nosso colega Carlos Martins. Que Deus o tenha no céu. É considerado morto. À noite conversei com o Brás Defilipo sobre a Liz e a Aldaléa. Estou numa sinuca.

11/11/57 – segunda – Ainda não sobrou tempo para o estudo. Reuniões. Despedida da SAM.

12/11/57 – terça – Levas de aviões “Sapo”largando paraquedistas. Concurso de Ordem Unida. Um helicóptero no P.T.M ( Pátio Tenente Moura).Cartazes sobre o gagá. Voleibol. Carta para o felippe e flâmula para o Sargento Gentil. Calor. Gagá. Preparei tudo para começar o estudo. Recebi uma carta da Maria José. Todos bem, graças a Deus. Hoje o pai do Joélcio veio visitá-lo. Assisti ao filme “Lisboa”. História vivida nesta cidade. Um indivíduo contrabandista que matava passarinhos para dar ao gato. Um americano, uma esposa de um milionário velho e uma portuguesinha bonita. O americano era muito beijoqueiro. O filme apresentou uma esposa descontente por ter casado por dinheiro com um indivíduo bem mais velho do que ela. Estudei grafostática(corda de tensões, linha de fechamento, polígono funicular, dinâmico ou das forças.

13/11/57 – quarta – Última formatura. Continuam os paraquedistas a saltar próximo da Academia. Dia nublado. Chuva. Estudei História Militar, Comunicações, História Militar, Resistência dos Materiais, Emprego da Arma, Balística. No final do dia, às 21:15 infelizmente como no ano passado conversei com o Roeder e o Largaspada sobre guerra e condições no Brasil, etc. Um paraquedista no cassino.

14/11/57 – quinta – Dia nublado. Estudei normalmente de manhã História Militar e Emprego da Arma. À tarde História Militar e à noite ResMat. Não fui ao cinema.Torei. telefonei para a mamãe. O Alcione e o Alconforado estudavam. Todos bem em casa. Perguntei quem queria ir ao baile em Quitandinha, mas ela não me deu uma resposta categórica. Falou-me de uma moça de uma família distinta. Pedi que comprasse a espada. Ela me felicitou por ter feito o retiro. Fui dormir muito contente. Alguns colegas foram ao Rio.

15/11/57 – sexta – Proclamação da República. Acordei às 05:15 e fui estudar Balística. Alvorada às 06:50. O dia foi idêntico aos outros, só que às 10:40 fui jogar basquete. Estava bem ruim de pontaria. Hoje o estudo não rendeu à noite porque recebi uma fotografias e fui preparando o uniforme para o serviço de Comandante da Patrulha de Agulhas Negras amanhã. Dormi às 22:40 após conversar com o Mack sobre a religião católica. Eu mesmo fiquei impressionado com o mandamento “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.

16/11/57 – sábado – Acordei às 04:50 na base do despertador. Rezei o terço. Estudei com o Chico e o Largaspada. À noite fui dar patrulha em Agulhas Negras, como comandante. Eis o resultado:

“O Comandante da Patrulha de Agulhas Negras, ao ser interpelado às 23:20 sobre a existência de cadetes na região de campos Elíseos, deixou transparecer que havia cadetes que não queriam se recolher. Quando lhe foi perguntado se era cadete um indivíduo que permanecia num bar tomando cerveja, respondeu que não o conhecia. Como a referida pessoa apresentasse aspectos de cadete, mandei-o informar-se a respeito. De volta ele trouxe uma resposta afirmativa, dizendo que o cadete parecia estar alcoolizado e não queria se recolher. Perguntou-me como devia proceder. Mandei que o anotasse e mandasse mudar a roupa para voltar à Academia. Quando novamente interpelado o cadete Vasconcellos confessou conhecê-lo desde a escola Preparatória. ........ Analisando esta parte eu verifico que ela está errada em vários aspectos. Vou redigir tudo o que aconteceu: “Às 23:00 alguns cadetes vieram da região do Bar Divina Providência. Estavam à paisana. Isto fez com que o cabo de patrulha e dois outros cadetes de serviço voltassem da missão que lhes confiara minutos antes de avisar a esses cadetes de que deviam regressar à AMAN. O cabo da patrulha, cadete Tourinho disse-me que a maioria tinha permissão para ficar até mais tarde. Eis que vejo o cadete Meziat convidando o cadete ....... a regressar à AMAN. O cadete .... às vezes caminha no sentido da AMAN. Mas eis que se dirigiu para um bar, entrou na sala de sinuca e saiu. Estava dentro do bar quando o jipe que conduzia o Oficial de Dia à Guarnição apareceu. O colega Meziat avisa o cadete ........ O jipe se afastou ante a ponte velha, fez a volta e o cadete ...... continuou no bar. Fui me apresentar ao Oficial de Dia, omitindo o “serviço sem alteração”. Ele perguntou-me se havia cadetes na redondeza, disse-lhe que sim, mas que não podia levar certos cadetes à força, mas que iria continuar a missão. Respondeu-me ele que já deveria haver mais cadetes na região. Comecei a verificar os bares sem  ir para o bar onde estava o cadete ... dando tempo ao mesmo para voltar à AMAN. Passei finalmente pelo bar onde ele estava e ainda numa última tentativa fiz-lhe sinal para voltar para a Academia, pois ainda não eram 23:30. Saí do bar e me dirigi para verificar outros locais apesar de acreditar não haver outro cadete além do...... Neste momento o Oficial de Dia me chamou e perguntou se ainda havia cadetes. Respondi-lhe que sim, mas que tinha dificuldade de convencê-lo a regressar à academia. Então ele me disse que desde o começo notara o cadete ... no bar em frente e perguntou-me se era cadete. Respondi-lhe que ia verificar. Dirigi-me então para o bar, mas o .... estava lá no fundo da sala de sinuca. Dirigi-me para ele e lhe disse: “Olha ..., o Oficial de Dia já percebeu que você é cadete e mandou-me que anotasse o seu número e que voltasse para a AMAN. Ele me disse: “Você vai dizer que não não me encontrou e que eu não sou cadete. Certo? Eu interiormente me admirei de até que ponto um indivíduo pode chegar. Consegui que ele saísse, desse o número ao cadete adjunto à Guarnição (Hélio de Artilharia). Vendo o Oficial de Dia o ... se dirigiu a ele e se apresentou. Depois se dirigiu para a casa do Laranjeira. O Oficial de Dia, Capitão Cirillo de Cavalaria, disse-me que eu tinha agido molemente e em conivência com o .... Eu lhe disse que tinha tido dificuldade pois o ... tinha sido meu colega desde a Preparatória. Foi esta minha sinceridade que ao contrário do que eu pensava, fez com que ele falasse para o Adjunto que frizasse bem isto na parte. Ora, eu tinha agido procurando dar a maior oportunidade ao ... sem desobedecer ao regulamento no que não fui bem sucedido em todos os pontos. Nem sequer sou um amigo do  ..., mas como conhecia bem a sua vida, procurei agir de maneira que eu desse a parte e não o oficial de Dia que o não conhecia ainda. Às 23:30 já havia dito aos componentes da Patrulha que iríamos fazer uma verificação total e que todos os que ainda estivessem em Agulhas negras sem permissão deveriam ser anotados. Não estava em conivência com o ... pois se assim estivesse, não estaria bem defronte ao bar onde ele estava, à espera do Oficial de Dia que ainda não havia feito nenhuma ronda pessoalmente e eu precisava das ordens relativas ao regresso.

17/11/57 – domingo –Nesta semana fui cantar na igreja de Resende. Saiu tudo muito bem. Antes eu havia ficado atrasado para a formatura, mas o Cap Milazzo aceitou a minha explicação. Tenho estado preocupado com a solução que será dada à parte do Cap Cirillo, da Seção de equitação sobre o meu servi’vo em Agulhas Negras. . Na prova de ResMat, que durou 03:30 houve cafezinho, chocolate, despertador e tive dor de cabeça devido à má digestão. Tenho estudado para os exames e não tenho ido ao cinema. Tenho escrito para a Aldaléa mas sinto não gostar muito dela. O Roeder e sua saudação: BÊÊÊ!

23/11/57 – sábado – Fui tirar fotografia para a carteira de identidade. Continuo na expectativa da solução da parte  sobre o meu serviço em Agulhas Negras. Devo receber uma prisão.

24/11/57 – domingo – Fui à missa. O coro de São Maurício cantou muito bem pela última vez. Saiu-se muito bem o cadete Cunha no “Silêncio”.

25/11/57 – segunda – prova de Balística. Devo tirar uns 5 , graças a deus! Relacionei tempo máximo com a distância máxima sobre a linha de sítio Xi quando a variação de t é com o seu fi.s. Estudei depois emprego da arma.

26/11/57 – terça – O cadete Novaes recebeu 10 dias de prisão. Prova de Emprego da arma. Estou de Adjunto ao oficial de Dia à AMAN.

27/11/57 – quarta – estudei Balística. Assisti à missa pelas vítimas da Intentona Comunista de novembro de 1935. Falou o Pe. Arquimedes sobre o tumor maligno que apareceu no Exército naquela ocasião. Estou esperando a punição de uns 10 dias de prisão. Sinto dificuldade em pensar como estudar lá. Confio em Deus. Quando o ... me viu olhando para ele, sorriu. Estudei bem Balística. Resistência do ar. Método de Gâvre e Siacci. Método das funções secundárias e primárias, Parodi e Siacci. Recebi Cr$1.436,00 de soldo. Saiu a minha punição de 10 dias de prisão. Fiat voluntas Tua! Estudei na sala dos adjuntos. Havia mais seis cadetes na prisão. Achei que faltava na prisão um ambiente próprio para estudar.

28/11/57 – quinta – primeira alvorada na prisão. Levantei-me às 05:00. Estudei Balística e tomei banho. Fui sortear o ponto, 11. sala de exame. O Alcione e o Bethlem na presença do General Hugo Panasco Alvim. Até o Sputnik entrou na conversa. Fui examinado pelo Cap Vasconcellos de Artilharia. Saí-me bem, graças a Deus! À tarde tentei estudar História, mas a conversa do pessoal não me deixou. Fui pedir ao oficial de Dia para estudar na sala de adjuntos, mas este me disse que a situação de preso era diferente. Estudei. Fiz educação física e tomei um bom banho. Fiquei com 7,2 em Balística. Viva!  noite estudei debaixo do chuveiro. O Chico veio dar uma espiada. Já me acostumei bem. É só aproveitar o tempo porque ele passa mesmo.

29/11/57 – sexta – Acordei ao toque de avançar. Estudei Resistência dos Materiais. Tenho estudado no banheiro, ao lado da privada, pois é o melhor lugar onde a claridade e o silêncio são bem favoráveis. Sinto que a vida de preso é de expectativa. Talvez fosse assim que os santos viviam em relação à Terra. Entretanto acho que se o indivíduo procura se esquecer que existe outro tipo de vida e procura fazer um ramalhete com as flores de que dispõe, ele consegue viver bem, sem que o fato de estar preso lhe prejudique. Por isso é que tenho estudado e lido os santos Evangelhos. À tarde estudei História e à noite também.

30/11/57 – sábado – Sorteei o ponto 13. O Oficial de Dia foi ao alojamento e disse: ‘Não quero ver nada errado, senão eu escrevo! “Fui examinado pelo Maj Aragão e Cel Cardoso. Saí-me bem. O Maj Ângelo comentou: “Que decoreba! “. Tirei 8,6 no final. À tarde estudei ResMat, mas não rendeu muito. Fui identificar-me. Um sargento que tinha visto o lance do bar em Agulhas Negras me disse: “Saíste mal no caso do bar, não? “Eu respondi: “Segui um caminho perigoso!”. O Horst Bockler me disse que a Zenaira respondera agradecendo o bilhete de aniversário. Estudei ResMat até 23:30. Não rendeu muito por causa do sono.

01/12/57 – domingo do Advento – Fui à missa, cantei e comunguei. Comentei com Jesus: “Cá estou cumprindo uma punição numa prisão. É a justiça humana. Como não será  a vossa se eu acho estes dias difíceis? Peço-vos perdão das ofensas que contra vós tenho cometido. Tenho muita vontade de ser um bom discípulo vosso. Muito obrigado por tudo! Sinto como os profetas ansiavam quando cantavam: ‘Rorate coeli désuper et nubes pluant Justum!”. Peço-vos que nasçais em muitos corações por vossa Mãe Maria!. Estudei ResMat. O Fluminense perdeu para o Vasco. Mosquitos. Picadas. Sono. Escrevi uma carta para a Aldaléa. Gostei muito da que ela me enviou hoje.

02/12/57 – segunda – Prova oral de ResMat com o Maj Carlos Bernardes. Caiu a ponte de treliça (miniatura). Com o Tenente Tibério o ponto da viga em que a tensão é 4kg/cm2. Com o Cap Weber achar o centro de gravidade de uma figura qualquer que eu não fiz. Tirei 6,6. Na hora de demonstrar que P1d1=P2d2 me enrolei, mas consegui fazer depois. À noite estudei Emprego da Arma, situações táticas.

03/12/57 – terça – Cortei o cabelo, sendo vigiado pelo ajunto à Guarnição, Joélcio de Campos Silveira que me aconselhou a escrever para a Liz. Resolvi fazer isso à tarde e enviei uma participação e um convite para ela. O Largaspada colocou a carta apara a Aldaléa. O Tenente Gedeão acompanhado pelo Tenente Amaral vieram me visitar e perguntaram-me o motivo da prisão. Chuva. Estudei Construções. À noite, Emprego da Arma.

04/12/57 – quarta – Passei o dia a estudar Emprego da arma. Só às 21:30 é que terminei o exame oral. Fui examinado pelo Maj Asdrúbal Esteves, Cap Margus e cap Arruda. Chuva. Conversei com o Largaspada e Villar sobre a Liz. Espero que ela apareça.

05/12/57 – quinta – Estudei Terceiro Grupo. Muita matéria e pouco tempo. Fico a estudar sem muito método. Estradas: não terminei. Pontes com o Cap Arruda. Comunicações.

06/12/57 – sexta – estudei.

07/12/57 – sábado – Terminei a prisão, graças a Deus! Aproveitei bastante o tempo. Prova de Técnica Auto e às 13:00 Transporte e Circulação. Errei o gráfico de marcha pois não considerei a possibilidade de chegar com a coluna em marcha às 02:00. Conclusão: ler bem todos os dados, já me dizia o Cônego Cipriano.

08/12/57 – domingo – Há 16 anos eu fiz a minha 1ª Comunhão. Hoje houve a primeira comunhão das crianças pobres. Estudei Patrol e D7 com o Joélcio.

09/12/57 – segunda – Degundo Grupo. Hoje estudei até as 02:30 da madrugada e acordei às 05:00. estudei. Última arrancada.

10/12/57 – terça - Terminei o estudo! Graças a Deus, passei! São 20:00.

11/12/57 – quarta – Arrumação das coisas. Cheguei no final do 3º ano de Engenharia com 43.030 pontos e no 11º lugar entre 73. Graças a Deus! AMDG. Pro Pátria! Treinamento para a entrega do Espadim.

12/12/57 – quinta – Devolvi o material. Treinei para a festa. Foi feita a escolha do local onde servir. Devo ir para Curitiba. Primeiramente o Joélcio e eu íamos para Porto Alegre, mas não houve vagas. Depois íamos para Pinda mas no final mudamos. Numa capital eu poderia estudar Engenharia Civil.

13/12/57 – sexta – Às 02:00 o Horst e  eu fomos pela Estrada de Ferro Central do Brasil para o Rio. Fizemos boa viagem, graças a Deus! Chegando ao Rio a mamãe ainda estava na igreja. Todos bem. O Luiz está desde o começo do mês em Cataguazes. Fui ver u uniforme na Alfaiataria Passarello  e passei a tarde na ciade com o Henrique e o Joélcio. O Edison saiu bacharel em Direito. O Affonso este em provas. O Oswaldo esteve em casa. A Maria José está esperando neném ( Newton que nasceu em 01/04/58). Conversei com o Affonso.

14/12/57 – sábado – Fui à missa e me confessei com o Pe. Boaventura que gostou do fato de eu ir para Curitiba. O Pe. Rafael e a irmã Margarida me cumprimentaram. A mamãe só fala na viagem à Europa e à Palestina. Iniciadas as obras no terreno no fundo do quintal. A Patrícia está bem engraçadinha. O TenCel Oscar e a Risoleta apareceram no seu carro Ford 51 azul claro. A Maria José foi fazer compras de Natal. A tia Arthemira falando da formatura do Horácio no Colégio São Bento e do Rubens na Escola Naval.

15/12/57 – domingo – Fui à missa e comunguei. Depois fui a Niterói onde encontrei todos bem. O garotinho mais novo Roberto, o Renatinho, o Ronaldo e a Eliane que fez a 1ª comunhão há pouco tempo. A Maria Helena vai bem como também o Josué. Só senti a falta do Rogerinho. A Maria Helena me falou em ir assistir ao Mister samba. Fui à praia. Fiz um reconhecimento a nado. Vi um dos examinadores do exame que eu fiz para motorista. Admirei a paisagem: “O Pão de Açúcar sobressaindo, ao fundo o Cristo Redentor. A beleza da entrada da Baía de Guanabara, com algum navio a entrar...A grande mistura de pessoas à praia. Gente de todos os tipos. A senhora idosa com ares de mocinha, a fumar e a rir. O halterofilista todo cioso de sua força. O paradista com ares de possuir algo exclusivo. O “pater-familias” a cuidar das criancinhas. O escurinho a brincar com os outros branquinhos, usando a areia como meio de brincadeira. A senhora com ar de esperta. Um barco a vela com os seus ociosos passageiros. As três garotas com quem eu repartia os olhares... No apartamento da Maria Helena assisti à televisão enquanto a Eliane me mostrava os seus cadernos. Passava na televisão : “O Milagre de Natal”. De volta ao rio, tomei o bonde “Uruguai – Engenho Novo” às 07:00 e cheguei às 07:40 na Central. Fiz boa viagem. Uma moça me olhava como quem está gostando.

16/12/57 – segunda – AMAN. Treinos. Ociosidade. Cinema. Li jornais e revistas.

17/12/57 – terça – Assinei os papéis para receber o pagamento. Treinamento. Fizemos uma escolha dos lugares no anfiteatro 201. Fui mesmo para Curitiba com o Henrique e o Joélcio. Fui praticar basquete com o Joélcio.

18/12/57 – quarta – Reuniões. Despedidas. Treinamento de passagem pelo portão dos Aspirantes.

 

 

19/12/57 – quinta – DECLARAÇÃO DE ASPIRANTES. Às 08:00 houve o Hasteamento da Bandeira. Às 09:00 – Cultos Religiosos. Missa. Confessei-me e comunguei Às 10:30 RESTITUIÇÃO DOS ESPADINS e Entrega de prêmios... O primeiro Cadete do 2º ano de Engenharia, restituiu o espadim do Cadete Carlos Martins. Às 15:00 -  Declaração de Aspirantes. Chegaram a mamãe, a tia Arthemira, o Pe. José Maria de batina branca, a Maria José, a Maria Helena, o Ronaldo, a Eliane e a madrinha Raymunda com um vestido azul e um chapéu branco. O José Maria queria visitar a Academia. Eis o compromisso: “Recebendo a nomeação de Aspirante a Oficial do Exército, assumo o compromisso de cumprir rigorosamente as ordens que me forem dadas pelas autoridades a que estiver subordinado, de respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os camaradas e com bondade os subordinados, de me dedicar inteiramente ao serviço da Pátria, cuja HONRA, INTEGRIDADE E INSTITUIÇÕES, DEFENDEREI COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA!”. Às 16:00 – Lanche. Às 17:30 – Passagem pelo “Portão dos Novos Aspirantes”. Todos os oficiais de Engenharia se despediram de mim , desejando-me boa sorte. Voltei no trem de aço com a família.

20/12/57 – quinta – Dormi na casa da Maria José. O Josué com os presentes de Natal dos garotos curiosos. Às 13:00 estive no Palácio da guerra onde encontrei o TenCel Oscar Marques de Almeida que me apresentou a vários Oficiais. Depois no Salão Nobre o Sr. Ministro da Guerra falou para os novos Aspirantes dando conselhos, como saber aplicar a justiça e não ser bom-moço. Conversei com os colegas e com o Maj Asdrúbal. No ônibus vim conversando com a sra. mãe do Asp. Maia, de Intendência. Treinei dança na casa da Maria José. À noite fui com a Raymunda até a Candelária, onde o Sr. Cardeal fez uma Benção e se cantou o “Te Deum”.  O Pe. Arquimedes Bruno falou sobre os novos Aspirantes dizendo que a Pátria podia confiar neles. A Risoleta e o Oscar me deram um barbeador elétrico de presente. Muito obrigado!

21/12/57 – sábado – Fui até Niterói com o Luiz e com o Edison. Nadei e quase nada almocei. Dormi e cheguei em casa às 19:00. preparei-me e fui com o 3º Uniforme  até Quitandinha. Fui com o Rubens e o Horácio. Em lá chegando fiquei esperando que a Liz aparecesse, porém quem apareceu foi a aldaléa e eu tive que ficar com ela o tempo todo. “Seja feita a vontade de Deus!”. Até que no final dançamos bastante. Terminei entretanto com ela, pois sentia que não gostava dela. Fiquei bastante triste porque a Liz não apareceu.

22/12/57 – domingo - Cheguei ao Rio às 06:00. Fui à missa. Dormi até as 13:00. Muito sol. Recebi uma carta do Pe. Augusto. O Duca me deu um pouco de vinho.

23/12/57 – segunda – Fiz o pagamento do Passarello. Pintei a varanda. Fui à igreja de Sant’Anna para adoração noturna.

24/12/57 – terça – Passei a noite na igreja de Sant’Anna . Em casa dormi um pouco e depois pintei o portão. À noite fui à casa do Dr. Piedras. Ele colocou o disco do Hino nacional e depois ceamos O TenCel Oscar Marques de Almeida veio fardado do Ministério da Guerra com os seus alamares de Oficial de gabinete. Estávamos lá: Nair, tia Arthemira, Risoleta, Vera, Violeta, Margarida, Oscarzinho, Nairzinha, Affonso (3º ano de Engenharia, Rubens, Horácio (vai fazer exame para a Escola Naval, e outros de quem não me lembro. Ficamos um pouco “altos”, dançamos rock and roll, etc...

Fui à Cinelândia onde assisti à missa celebrada pelo Cardeal Arcebispo do rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, ajudado pelo meu ex-colega Júlio Wolfgang e o Simões. Depois falou S. Excia, tendo notado eu que uma mulher se retirou dizendo que ele adulava o prefeito. Isso me entristeceu. Depois fui à boate Night and Day onde conversei com a Liz. Achei-a muito bonita. Durante duas horas fiquei do lado de fora lendo uma revista e um jornal. À saída vi o Didi que acabara de assistir ao show “Mister Samba”. Aluguei um táxi e  fui com a Liz até a sua casa do Jóquei Clube. Conversamos bastante. A mãe dela a esperava segurando um cão  tipo policial. Fiquei muito contente. Voltei conversando com o motorista do táxi que levou até o centro da cidade, cobrando por tudo Cr$200,00. Caminhei pelo centro do rio, cantarolando. Cheguei em casa. O dia amanhecia. A mamãe não gostou.

25/12/57 – quarta – NATAL. Fui à missa. Confessei-me com o Pe. Boaventura e comunguei. Estava muito feliz com tudo. Em casa todos os da família reunidos: “Heloísa, R. e Frank, Risoleta e filhos, Maria José, Edison e Patrícia, Maria Helena, Josué, filhos e brinquedos. Houve um almoço em que cada um contribuiu com um pouco. À tarde comecei a montar um álbum de fotografias, conversando com a Verinha. À noite o 2º Tenente Felippe telefonou do aeroporto, dando a entender que ainda estava em São Paulo. Chegou em casa logo depois. Fui de novo a Sant’Anna para fazer uma adoração noturna como voluntário. Fui e voltei de bonde. A minha hora foi das 02:00 às 03:00 da madrugada.

26/12/57 – quinta – Dormi toda a manhã. Penso muito na Liz, mas em cãs a mamãe está contra mim e isto me deixa um pouco triste. O Felippe foi à cidade fazer compras. Endireitei o portão e o chão em frente de casa. A filha do Maj Ênio ao passar em frente de casa  respondeu ao meu cumprimento. Tenho feito ginástica. Calor.

27/12/57 – sexta – Fui à missa. O Pe. Boaventura disse que queria falar comigo. Fui à cidade onde comprei uma calça e três camisas. Almocei rapidamente na casa da Maria José e tomei um táxi para o Jóquei Clube. Cheguei ao apartamento da Liz . É bem pequeno e tem muita coisa dentro dele. Ela dormia. Conversei com o seu irmão Peter, de 17 anos, sua irmã Bärbel de 12 nos e sua mãe Elsbett. Fiquei triste em saber que o pai , Sr. Werner os abandonara. Peço a Deus  que volte ao lar antigo, se possível. Vi que gostam de cachorros, pois havia dois. Depois a pareceu a Liz. Lanchou, colocou uns discos long-play e conversamos. Quando falavam entre si, falavam em alemão. Depois fui com ela até a cidade. Às 19:00 tomamos o lotação na praça 15 para o Leblon. Conversamos bastante. Em casa estava uma senhora pernambucana  de nome Olga e seu filho. Tinha uma conversa tipo tia Arthemira e era desquitada. Convidaram-me para jantar. Aceitei. A D. Olga dominou a conversa. Depois fui com a Liz até o Night and Day onde me despedi dela às 23:30. Eu estava muito feliz. A Maria José hoje completou 27 anos  de vida. Que deus lhe dê muitas felicidades.

28/12/57 – sábado – Fui à missa. Conversei com o Luiz sobre a Cibrasil e sobre a vida financeira. À tarde enterrei um gato morto que já estava cheirando mal.

29/12/57 – domingo – Fui à missa das 07:00. Em casa não quis ir com a mamãe até a Barra da Tijuca, pois estava esperando um telefonema da Liz . Mexi no rádio do Luiz  e notei que havia duas válvulas trocadas.  Tenho estudado alemão. À noite resolvi ir até ao Leblon, onde não encontrei a Liz em casa. Perdi a minha viagem!

30/12/57 – segunda – Fui à missa das 07:00. Fui à cidade para apanhar as fotografias, mas ao chegar lendo o recibo vi que ainda não era  o dia. Que distração! Para não perder de novo uma viagem, comprei uma válvula para o rádio do Luiz, que ficou bom, graças a Deus! À tarde muita conversa na sala de jantar entre a Maria José, Maria Helena, Felippe e eu sobre as nossas vidas. O Pe. José Maria e a Raymunda estiveram em casa. Ele me perguntou se a Liz ia bem. Respondi que sim. Comecei a arrumar as malas. A mãe começou a falar contra a Liz: “Não serve! Não quero nem pensar. Logo o meu filho dileto, não! Você vai para Curitiba e lá o seu padrinho Pe. Augusto indicará uma ótima moça. Essa não. Mostrar o seu corpo, templo do Espírito Santo, como ela mostra! Quantos homens ela não induziu ao pecado! Quando me mostraram uma fotografia dela, nem quis ver. Os pais são separados e ela um dia quererá o mesmo. E começava a contar fatos e mais fatos da família para me persuadir a deixar a Liz”. Eu retrucava, tendo ao meu lado a Maria José: “A senhora não pode dizer que ela não presta. Não viu os casos do Evangelho, da Madalena e da mulher adúltera, e Jesus a comer com os publicanos e pecadores? Continuamos a discutir sem eu conseguir nada. Peço a deus, a Nossa Senhora e a São José que cuidem do meu caso. Tem feito muito calor. Hoje o Renato e a patrícia se sujaram todos de mercúrio cromo e com um óleo da mamãe. Muitas crianças em casa. Eu pretendia ir a Paquetá hoje, mas não foi possível.

31/12/57 – terça – Consertei o rádio do Josué. Pintei rapidamente  duas janelas. À noite assisti à missa da meia-noite. Encontrei um cadete do 1º ano que repetiu. Fiz um resumo do ano de 1957 e bons propósitos para o futuro.

01/01/58 – quarta – Fui à missa das 07:00. e comunguei. A mãe (com 64 anos e meio), acordou dizendo que perdera os óculos. Tenho estudado alemão. A Maria Helena, Josué e filhos ainda estão em casa. O Felippe também. Vão embora hoje. Ontem ouvi um telefonema de uma garota dos tempos da Preparatória de São Paulo, para o Felippe. Quem atendeu foi o Luiz. Ela falou em mim (Luci). Achei gozado o modo do Luiz conversar. O Felippe fala em bons pratos ( galeto al primo canto, etc.) e em boas roupas. Não gostou da nossa casa com um casal que está no antigo quarto da Raymunda. O Manoel, a Lea e o Jorginho moram na parte de baixo. O Manoel sabe manter uma conversa. Sempre traz o jornal “A Última Hora”. À tarde estava eu já no ônibus, quando me lembrei que não me despedira do Felippe. Voltei e me despedi dele.

Fui até o apartamento da Da. Elsbett, não encontrando ninguém. Conversei com o porteiro e fui até a igrejinha local, onde vi o Pe. Sérgio a batizar. No edifício Prado há umas garotas tipo geração coca-cola das quais eu não gostei.Apareceu a Da. Elsbett e apanhei com ela um retrato da Liz. Deixei um bilhete para a Liz, desejando um Feliz Ano Novo. Saí com o Peter e conversamos. Ele pretende seguir Arquitetura, dizendo que se soubesse que iria ser como o Nyemeier  ele se dedicaria inteiramente ao estudo. Voltei para casa onde encontrei a mamãe, o Luiz e o Edison. O Affonso chegou depois dizendo que Paquetá estava ótima. O Luiz e o Edison comentavam as infidelidades conjugais existentes atualmente no mundo moderno.

02/01/58 – quinta – Fui à missa e comunguei. Em casa, depois de certa indecisão, mamãe, Dilma  e eu fomos para a barra da Tijuca. Lá a família, graças ao Dr. Edgard conseguiu uns terrenos. O problema é a falta d’água, de luz e de mantimentos. O ideal é se ter um automóvel para ir até lá. A mamãe ia combinar com o José da Osmarina, mas ele havia ido para Paquetá. Fomos até a Usina e lá tomamos o lotação errado, tendo de usar um táxi de Copacabana ao Leblon. Lá na ilha dos Guaiamus, antiga Gigoia, vi alguns novos edifícios de madeira e uma casa de alvenaria a ser construída. Há uma família pobre morando no antigo barraco do papai. Tomei um banho na lagoa, consertei uma porta e preparei a tinta para a mamãe. Dormi bastante. Vi que aqui é um ótimo lugar para descansar. À noite, deitado na rede, cantei todo o meu repertório. A mamãe ouvia do quarto. Em certo momento cantamos juntos músicas de igreja, como o Hino do Congresso Eucarístico do qual ela tanto gostava. A noite estava muito bonita.

03/01/58 – 1ª sexta-feira do mês – Acordei com o sol já um pouco alto. Aqui durante a tarde venta até demais e à noite chega a fazer frio. Que diferença da praça Saenz Peña. Peguei dois garrafões vazios de vinho e depois de ter discutido quase uma hora e meia com a mamãe sobre a Liz, fui a pé até a Barra. A caminhada é puxada mas eu a uso como exercício. Muito sol. Uma moça a tirar o seu carro. Bananas. Caldo de cana. Pão. Barbante. Dedos doendo. Banho na lagoa. À tarde um velho pescador cearense ficou a conversar, dizendo que tinha sido católico mas que agora era crente. A mamãe começou a lhe dar uns conselhos. Voltei para a nossa casa na Tijuca por dois motivos. Um para comungar e outro pelo telefonema da Liz. Na Praça Quinze a fila estava enorme. Vi o Frank e o Calomino. Graças ao Bom Coração de Jesus ao saltar em frente à igreja dos Sagrados Corações e entrando vi o Pe. Nicolau que ia dar a comunhão. E já eram 19:50. Fiquei muito contente. Em casa encontrei a Raymunda. Tomei um bom banho, jantei e esperei o telefonema da Liz. Logo soou o telefone. Era ela. Conversamos e combinamos um encontro às 18:00 da segunda-feira. Fiquei muito contente. Conversei com a Raymunda e a Maria José.

04/01/58 – sábado – Voltei para a ilha da Gigóia tendo tomado várias conduções para chegar lá. Todos bem. Tomei banho de sol para melhorar a aparência. O Duca chegou com o João Bosco. A lua estava muito bonita e eu fiquei a contemplá-la da rede. Dormi bem cedo. Rezei o terço. Pensei no que diria no encontro. Estudei alemão.

05/01/58 – domingo – Fui à missa na Pracinha da Barra da Tijuca. O padre falou na grandeza do nome de Jesus e que neste mundo devemos considerar tudo como um meio e não um fim. Fui com o João Bosco até a praia da Barra. Antes conversando com o major Lira este me aconselhou a fazer eletrônica na Escola Técnica. Na praia a água estava geladíssima. Fomos correndo. Pareceu-me em um dado momento que morrera um indivíduo lá no quebra-mar. Não fui ver. Que Deus lhe dê o céu!  À tarde dormi. À noite cantei. Já decorei uma frase em alemão: “Ich liebe dich sehr, heute und immer!”. 

06/01/58 – segunda – Voltamos para a cidade: mamãe, Dilma e eu. Em casa consertei a máquina de lavar roupa e a enceradeira da Maria José. Fui à missa das 10:00 onde um casal celebrou seus 25 anos de casados. O Pe. Nicolau falou-lhes em espanhol, desejando que chegassem aos 50. À tarde passei o meu terno e ao me despedir da mamãe ela não gostou de saber que eu pretendia ir a um cinema com a Liz. Custei muito a chegar no apartamento da Liz. Só encontrei lá o Peter,  a Bärbel e a Dona Elsbett. O Peter contou-me que a Liz voltara para o antigo namorado, Carlos Madeira que todas as noites a trazia de carro para casa após os shows. Voltei para casa muito chateado e senti como a Aldaléa também deve ter sentido quando terminamos o namoro. “Quem com ferro fere com ferro será ferido!”. “Qui gládio ferit gládio perit!“

Vejo que foi melhor que acontecesse assim. “Fiat voluntas Dei!“ Em casa a mamãe me perguntou: “Então, terminou?“ Fiquei admirado pois saíra de casa sem intenção alguma de terminar e ela me faz essa pergunta! Ela me disse depois que sonhara ou tinha tido alguma coisa a esse respeito. Fui dormir meio amargurado. Ah, esses tempos de juventude!

07/01/58 – terça – Fui à missa e comunguei. Passei o dia ainda chateado com o que acontecera na véspera.

 08/01/58 – quarta – Fui com a tia Amélia e a mamãe até a paróquia de Honório Gurgel visitar o mano Pe. José Maria. Falei sobre o acontecido. Andei de automóvel. Visitei um clube. Falei sobre basquete com uns rapazes. O Pe. José Maria deu-me uma relação de bons livros para eu dar para a Liz. Não sei se devo dá-los. Na volta, em um dado momento a tia Amélia ao descer do ônibus sentou na calçada. Desde o acidente que ela sofreu ainda não se restabeleceu completamente. Lá na paróquia a raymunda está criando galinhas, coelhos e pombinhos. Gostei de uma frase que li num dos livros do José Maria: “A cada dia bastam os seus sofrimentos! “ Devo portanto esquecer os contratempos passados.

09/01/58 – quinta – Fui à missa e comunguei. Conversei com o Pe. Boaventura que considerou o que aconteceu comigo e a Liz, uma graça de Nossa Senhora. Fui à cidade duas vezes. O Edison me disse que eu não soube prender a Liz.

10/01/58 – sexta – Fui para Paquetá na barca das 10:00. Lá encontrei todos bem: Oscar, Risoleta, Margarida, Violeta, Anna, Oscarzinho e Zilda. Fui à praia onde nadei um pouco. Sinto-me como alguém que acabou de sair de uma aventura e não quer começar outra. À noite fui à Ponte.

11/01/58 – sábado – Aniversário da Zilda. Fui à missa no Preventório com a margarida. Comungamos. Fui à praia onde fiquei um pouco distraído. Nadei. À tarde brinquei com o Oscarzinho. Eu estava em cima do telhado consertando a antena quando passou a Marta e eu a cumprimentei.  Fui à praia. Nadei. À noite a Risoleta e o Oscar comentavam o namoro da Anna com o Élcio, achando que não era uma coisa boa para ela. A Anna porém está com o coração já muito voltado para o namorado que ainda é estudante. Fui à Ponte onde ouvi uns indivíduos a compor canções em homenagem a Paquetá. Dormi na rede. Ontem a noite estava bem bonita sem lua e com muitas estrelas.

12/01/58 – Domingo da Sagrada Família – Fui à missa no Preventório. Depois fui até a igreja do Bom Jesus onde me confessei, assisti a outra missa e comunguei. Vi algumas garotas conhecidas. Vi a Pepei e seu namorado. O padre é um jovem espanhol que fala muito bem e com facilidade. Rezei hoje pela família da Liz. O rádio já está com músicas de carnaval. A Zilda a preparar o almoço. O pessoal foi à missa. Fui à praia. Conversei com o Nelson, um jogador de futebol do Clube Municipal. O assunto foi a política e a situação nacional. Vi uma garota que a Anna queria me apresentar. Não simpatizei e não fui falar com ela. À noite dei uma volta na Ponte.

13/01/58 – segunda – Fui à missa no Preventório. Fui à praia. A Marta veio conversar comigo. Está bonita e continua com aquele jeito de doçura. Perguntou pelos meus primos Ivan e Rubens. Disse-me que o Horácio lhe telefonara convidando para uma festa. Perguntou pelo Felippe e sobre a minha situação. Contei-lhe o caso do cadete Carlos Martins. Falei sobre a vida de um oficial solteiro em uma cidade pequena. Vi a Sandra Miriam. À tarde lidei com os rádios. Fui à praia. Hoje pela manhã telefonei para o Joélcio. Combinei que  ele iria ao Ministério da Guerra e eu lhe telefonaria às 19:00. Na Telefônica encontrei a Marta e uma outra garota que também acho bonita. Conversei com o Joélcio que me disse as novidades relativas às apresentações e à viagem. À noite acompanhei o Oscar sobre as providências contra ladrões de poita e de barcos. Rezamos o terço e ainda passei pela Ponte querendo encontrar a Cléa. A Margarida me disse que a tinha visto na ilha.

14/01/58 – terça – A Margarida não quis me acordar para ir à missa dizendo-me que eu estava roncando.  Fui então à igreja da Ponte. Praia. Tora. Praia. Vi a Cléa. Quase que não a reconheci, pois está bem diferente, muito maquiada. Cumprimentou-me mas quando fui falar com ela, ela não parou. À noite rezamos o terço em casa. Fui à Ponte. Fiquei sentado em um banco sem conversar com ninguém. Vi a Cléa de novo. Quando comecei a conversar ela pediu licença e voltou para a casa dela. Conversei com o Oscar sobre a vida em Curitiba. Como sempre fui dormir na rede.

15/01/58 – quarta – Fui à missa do Preventório e comunguei. Fui à praia. Conversei com a Célia, minha prima, filha do tio Françu, que me chamou. Ela estava com a irmã do Tem Luiz, que vai para Crateús. Conversei com uma garota que mora na rua Desembargador Izidro. Depois fiquei sentado a olhar as pessoas na praia.  Nadei e me fui. Torei. À tarde ainda fui à praia e depois fui para o Rio na lancha “Brasileirinha”. A Maria Luiza guardara o lugar para mim. Não cumprimentei a Cléa. Fiquei em pé na parte de trás da lancha. Flertei com uma moça que fumava mas não deu certo um convite para ir a um cinema. Ela mora no leme. Na praça Saenz Pena comprei a revista Cinelândia. O Edison me pagou um copo de caldo de cana. Disse-me que gostaria de ter uma profissão liberal. O Affonso chegou. Havia sido aprovado em Química e passado para o 3º ano.

16/01/58 – quinta – fui à missa. Confessei-me com o Pe. Boaventura. Fui ao Ministério da Guerra. Encontrei vários colegas. À tarde a mamãe chegou de marica, com a Dilma. Faz calor! Voltei para Paquetá com o Affonso. Boa viagem. Levei umas bananas verdes para a Risoleta. O Oscar com suspeita de que descobriu a poita roubada. Bonitas garotas na ilha. À noite o Affonso e eu conversamos com uma garota que fumava. Falava baixinho e disse que era namorada do Betinho, que passeava em um automóvel feito com três rodas de bicicleta. No final nos deu o telefone 88. Vimos a Cléa mas não conversamos com ela. Assistimos todos aos programas da Liz na TV. Decepcionou-me com aquela sua voz ao cantar. O Oscar não gosta nada da tal de Virginia Lane. Fomos dormir.

17/01/58 – sexta – Aniversário do Oscar. 46 anos! O motor não pegou. Fui à praia com o Affonso e o Oscarzinho. Lá estava a Cynira, esposa do João, com as suas duas filhas Carmen e Beatriz. Estavam também a Maria Luiza (filha da Osmarina), o Luiz Felipe e o Manoel Afonso filhos do Elízio . A Isaura tomava conta  do Luiz Cláudio, filho da Hilda. Fui até a praia Pintor Castanheto e depois à Ponte. À tarde dormi. Fiz alguns trabalhos caseiros. À noite voltei à Ponte.

18/01/58 – sábado – Experimentamos o motor. Nada. Chuva. Pria. Tora. Ponte. Televisão: luta do Luizão com o Archie Moore, no Parque do Ibirapuera, transmitida pela TV Record e TV Rio. O americano, apesar dos seus 41 anos mostrou sua grande classe, pois quase não saia do lugar, movimentando somente a parte superior do corpo. Ganhou por pontos. O Luizão mostrou-se sempre rápido, mas pareceu fugir a partir do 4º ou 5º round.

19/01/58 – domingo – Missa no Preventório. Pratiquei basquete com o Affonso. Fui à praia. À tarde dormi. Calor. Ilha cheia. Sol. Basquete. Passeio. O Afonso foi falar com uma tal de R., amiga da Ada. Praia. Conversei com a Martha e uma amiga sua Vera, que estuda no Colégio Santa Úrsula e nada pelo Fluminense, namorando um tal de Orlando nadador do Fluminense e estudante de Direito.

20/01/58 – segunda – Dia de São Sebastião. Basquete no Boogie-Wood. Missa na Ponte.

21/01/58 – terça – Dias chuvosos. Afonso e eu jogamos no Iate. Fomos à Ponte e hoje conversamos com a Elisa, a Irene e a Vera. Vi a Cléa, bem diferente, dando a aparência de uma menina contrária ao que parecia.

22/01/58 – quarta – Dia chuvoso.limpei a bicicleta do Oscar (Husqvarna). O Affonso tentou adaptar a um motor de 5CV a parte elétrica de um de 10CV, mas faltou peça. À tarde armei uma lona para as bicicletas. Assisti à TV com a Risoleta, era um filme do Fernandel. O Affonso e  eu conversamos sobre a Física e os foguetes. Fomos à Ponte mas não encontramos ninguém conhecido, exceto a dayse, porémainda não fomos falar com ela. Não tenho rezado o terço pois ao deitar me vem um sono que logo eu durmo.. Assistimos à TV, programa da Norma Benguel.

23/01/58 – quinta – Missa no Preventório. A Natália tem ido à missa. Dizem que ela gostaria de ser freira. Fui comprar pão. Vi o tio Moisés que ontem me disse achar muito cara a diária na pensão. Fui à praia com o Affonso, que teve uma luxação no dedo mínimo. Ficamos a conversar sobre estudo. Apareceram a Célia e o Oscar. Nadei e fui com o Affonso até a Ponte para ir ao Rio. Lá encontrei o irmão do Brito Fernandes. A irmã da Ruth Costalat esquiava rebocada por uma lancha com dois rapazes. Li um pouco sobre jejum. Conversei com o Seu Nico, das bicicletas, prometendo que ia me despedir dele antes de partir para Curitiba. Na Praça Quinze tomei o bonde Tijuca. Apanhei  a fotografia do Aspirantado. Em casa encontrei a Maria José que está esperando bebê para breve (Newton que nasceu em 01/04/58). A Patrícia estava com a Dinah. A Lea estava com o Jorginho. Jantei com a Maria José e o Edison. Fui a Santana para adoração noturna. Um Brigadeiro me colocou da meia-noite à uma da madrugada. Enquanto um padre falava, eu cochilei. Estava com sono!

24/01/58 – sexta – Em casa ainda dormi um pouco. Fui até o Ministério da guerra, porém ainda não começara o expediente. O Oscar voltou de Paquetá. A tia Arthemira falando que o dinheiro é que resolve tudo e elogiou um filho da tia Martha que vai ser da Marinha Mercante. A mamãe foi a uma reuni’~ao. Almocei mal. Ouvi rádio enquanto a mãe dava conselhos. Fui de novo ao Ministério da Guerra onde fui atendido por um Capitão Intendente que me disse ter um filho na AMAN. Vi o meu nome no Almanaque do Exército. A Dilma e a Raymunda telefonaram. A irmã da Dilma ficou meio louca quando teve gêmeos. Estou arrumando as malas. O tal de Jimenez caiu. Comentam que foi conseqüência de ter mexido com a Igreja. O JK vai resolver uma greve de marítimos. A carteira de motorista do Rubens vai sair por 7 contos. Parece que o Horácio não passou para a escola naval. O Luiz continua em Vitória. O Oscar veio de Paquetá para ver o carro e receber os vencimentos.. Ele está de férias. O Edison pintou um carro que mandou fazer. Fui dormir.

25/01/58 – sábado – Fui à cidade fazer compras e tratar de uns documentos. Na Loja encontrei o Célio Borja e um tal de Baiúca. Encontrei também o tio Adrião e o Lilito

 (Francisco filho do tio Francisco e da tia Francisca). Na volta eu não queria ir à Paróquia, mas acabei indo. A Raymunda me mostrou as suas criações. Treinei um pouco no carro. Vi um sujeito com ares de megalômano que vai ser topógrafo e dirige o time de basquete.Na volta encontrei a Maria Helena em casa com os filhos dormindo.

26/01/58 – domingo – Fui à missa das 8. a mamãe foi à ilha da Gigóia com o Ronaldinho e a Eliane. Tirei cocos. Conversei com a Maria Helena que arrumava a casa. Calor! Ainda penso na Liz por incrível que pareça e com muitas saudades. É que a Maria Helena fica a cantar a música que ela cantou naquela quinta-feira na TV: ”Eu gosto do calor...Eu gosto ...”. A Maria Helena gosta de brincar com o Josué.

27/01/58 – segunda – O Pe. José Maria e a Raymunda vieram até em casa. Ele brinca com os sobrinhos. À tarde voltei para Paquetá. Lá chegando, esperei alguém que viesse comprar o jornal. Apareceu a Violeta. Fui a pé. À noite fui à Ponte com o Affonso.

28/01/58 – terça – Chuva. O Affonso e eu temos jogado com a minha bola de basquete que sempre conservo com graxa marron. A Zilda voltou da cidade.

29/01/58 – quarta – Affonso e eu limpamos os barcos, ajudados pelo Oscar e o Vitor. O Affonso, o Vitor e eu fomos de barco até a Ponte. Remei quase o tempo todo. Na Praia Grossa voltamos. O Affosno pagou sorvetes. Vi a Daise a jogar vôlei na rua. Voltamos. As sobrinhas voltaram com o Horácio. Brincamos de basquete. Praia. Um sujeito gostou da Martha. Conversamos, Affonso, Horaçio e eu na calçada.

30/01/58 – quinta – O Oscarzinho ainda pediu pela rede nesta noite. Acordei cedo e fui à missa, onde encontrei a Natália. A Margarida chegou atrasada.fui comprar pão. Jogamos basquete. Praia. Vôlei. Despedidas. Agradeci à Risoleta, ao Oscar e à Zilda. O Horácio, o Affonso e o Oscarzinho foram até a Ponte para a despedida. Passou um cadáver para a lancha rabecão. Voltei conformado e contente com a vida. Passei pelo Passarello onde encontrei o colega Ivan e um outro colega. Pensei em assistir à TV hoje, porém estava com muito sono e dormi logo.

31/01/58 – sexta – fui até Niterói. Fui à praia. Nadei um pouco. Almocei e regressei com duas malas. Fui à Central do Brasil, onde encontrei alguns Aspirantes. Apareceu o Joélcio e tratamos da passagem. Disse-me que está gostando de uma campista que já está no último ano de piano.também hoje eu dormi muito cedo.

01/02/58 – sábado – Fui à cidade onde comprei a capa apar a espada e o 2º volume do Engenheiro da Globo, por Cr$600,00. Não encontrei o fotógrafo da Candelária, Foto Darcy. À tarde dormi e fiz uns consertos. À noite também dormi cedo. Ainda penso na Liz.

02/02/58 – Domingo da Septuagésima – Missa das 06:00. O Pe. Basílio disse-nos que devemos fazer caridade. Os americanos lançaram o Explorer pelo foguete Júpiter C às 00:00 do dia 1º. O Edison está em Paquetá e a Maria José em Botafogo. A Maria Helena chegou de Niterói. Vai passar um ano. Dormi cedo.

03/02/58 – segunda – Fui à cidade onde me encontrei com o Joélcio, mas o Ministério da Guerra estava fechado. Saímos a andar. Encontrei o Edmundo Roeder Sedilles, bem vestido, que está na Escola Técnica do Exército. Disse que me escreveria sobre o concurso. Falou que a noiva do Ortegaray não apareceu para casar. Que o Fulgêncio Largaspada chorou muito ao deixar o Brasil. Encontramos os Sr. Jaime, pai do Joélcio. Saímos a andar. Fomos nos apresentar. Encontrei o Taveira, noivo e outros. O Ivan Souto também já está noivo. Arrumação.

04/02/58 – terça – Fui à Central do Brasil com o José da Osmarina. Ele já tem 10 filhos e já vem outro.( João Luiz, Maria Violeta, Maria da Penha, Carlos Alberto, Antonio Jorge, Alexandre, Maria Luiza, Fernando, Maria Helena, Paulo Roberto e a Maria Teresa que ia nascer). Faltavam outros papéis. Voltei. Havia um erro. Fui ao Ministério da Guerra. Graças a Deus resolvi tudo. Pensava em me despedir da família da Liz, porém não tive jeito. À Noite choveu. O Luiz chegou do Espírito Santo. Ainda fiz uns consertos em casa.O José veio na hora. Chuva copiosa. O Joélcio apareceu com a sra. sua mãe Jalda, sua tia Jany, sua irmã Jane e o sobrinho Ulysses. Alguns Aspirantes que também iam para o Sul, apareceram. Boa viagem em leito na cabine 17-18 com o Joélcio. Recordações.

05/02/58 – quarta – Chegamos em São Paulo pela manhã. Táxi. Bagagens. O Joélcio e eu encontramos o Gilfredo. Almoço pago por ele. Encontramos com o Felippe. Vai comprar uma Lambretta. Que casualidade! Fomos para a casa do Gilberto. Ele está com um carro Cônsul preto, 1951. Custou Cr$220.000, sendo que pagou Cr$100.000 em dinheiro e o resto em mercadoria. À tarde passeamos. Jantamos bem pizzas, sendo muito bem tratados. Dormimos lá.

06/02/58 – quinta – Pela manhã nos despedimos. A Maria Helena e o Gilberto têm além do Ricardo e da Gilda um caçulinha chamado Reynaldo. Fomos com o Gilberto emplacar o carro. Fomos resolver quanto à passagem com o tenente Abreu que usava suspensórios. Conseguimos um leito que o Joélcio atenciosamente colocou em meu nome. Na loja do Gilberto o Joélcio resolveu telefonar para as antigas garotas do tempo da EPSP. Embarcamos para Curitiba. Dormi até Itararé, de 17:10 até 03:30. Havia um major que já estava há 12 anos no Rio, paraquedista com 204 saltos, chamado Paranhos.

07/02/58 – sexta – Hoje a Liz está fazendo 20 anos . Que Deus e Nossa Senhora cuidem dela. Entramos no Paraná. Pinheiros. Casas de madeira. Barro. Cabeças loiras. Rosita , rainha do Carnaval em Jaguariaíva, alemãzinha. Castro. Chofer. Ponta Grossa. Tora, bagagens e finalmente Curitiba, cidade sorriso. Estava chovendo. O que iríamos fazer, o Joélcio e eu? Telefonar para o Henrique? Ir para um hotel? Acabamos alugando um táxi. Boa conversa com o chofer. Enfim apareceu a 5ª Cia Com, no bairro do Portão. Rendição do sentinela. Espera. Apareceu o Henrique. Onde dormir? Afinal fomos para o quarto do oficial de dia. Graças a Deus!

08/02/58 – sábado – Apresentações. O Cap Dirceu é o comandante da companhia. Outros oficiais. Parada. Primeiras conversas. Assinar o livro na Casa das Ordens (C.O.). Serei o comandante do Pelotão de Exploração. O 2º tenente R2 Ribas a dar a Ordem Unida. Muitas funções. Comprei um par de tênis menor (42). À tarde joguei basquete. Fui ver a cidade com o Henrique e o Joélcio. Muitos homens. Bonito o Círculo Militar. Discussões com o Joélcio. Distraído em pedi canudinho para tomar chope. Riram de mim com razão. Avenida principal. Encontramos o aspirante Bueno de Infantaria, aspirantes de Intendência e de Artilharia. Uma batucada na rua bem inferior à do Rio. Muita conversa com pouca variação de assunto. Volta ao quartel. Batida de ônibus. Uma loirinha tipo Jane Mansfield  chamando alguém de ignorante.

09/02/58 – Domingo da Sexagésima – Fui à missa na igreja do Coração de Maria. Confessei-me. Visitei o Pe. Augusto. Fui ao Círculo Militar. Encontrei o Otto de Intendência e o Califa de Artilharia. Este me disse que já queria ir para o Rio. Pessoas a tomar banho na piscina. Pelada de basquete. Conversa sobre carnaval e garotas. Fui almoçar com o Pe. Pelayo e o Pe. Augusto. Antes passei pela igreja da Ordem. Lá reparei numa loira a rezar. Quando ela saiu, eu como já assistira à missa saí também e resolvi ir falar com ela. Aproximei-me e perguntei se ela era de Curitiba. Disse-me que não, por que? Não tive muito o que falar pois fiquei meio sem jeito. Afinal comecei a dizer quem eu era, pois a isso levou ela a conversa. Ela me disse que iria fazer concurso para odontologia e se chamava Lidja. É loira, alta e de olhos verdes. Combinei conversar com ela à tarde. Voltei ao quartel. O Joélcio dormia e o Henrique lia X-9. Antes conversei muito com os padres após almoçar muito bem com eles. Graças a deus por tantos benefícios. À noite parecia qie ia chover com trovoada, mas mesmo assim resolvemos sair os três. Eu estava muito atrasado em relação à hora que marcara com a Lidja. Afinal me dirigi a pé, cortando caminho.Escurecia. Cheguei a uma praça em que estivemos de manhã. Comecei a andar a procura da rua onde me despedira. Andei muito e os pés doíam devido ao jogo de basquete da tarde com o tênis apertado. Não encontrava a rua. Recomecei. Nada. Rezei. Nada. Fiquei cansado. Sentei-me. Recomecei e finalmente desisti. Tomei uma boa garrafa de leite e voltei para o quartel.

10/02/58 – segunda – Acordei-me às 06:10. Como comandante do pelotão de exploração dei ordem unida, acelerado e educação física. Reunião com o tenente Mário Moreira Leite. Joguei basquete (21) . À tarde fui me apresentar no QG, na rua Carlos Cavalcanti. Fui ao Círculo Militar (CMP) e à Universidade do Paraná. Tomamos água mineral. Parente do Bethlem. O major do trem (Paranhos) com um coronel engenheiro civil irmão do Tourinho (aquele cabo da Patrulha em Resende) ( Obs. Agora em 2002, acho que foi o Engenheiro Luiz Carlos Tourinho, pai e não irmão do Luiz Fernando Tourinho que mais tarde casou com a Vânia Bizerril, já falecida). Voltamos para o quartel. Conversa sobre a minha vida com o Joélcio e o Tavares.Discussão em relação à vida social.

11/02/58 – terça – Centenário das Aparições de Nossa Sra de Lourdes. Parada matinal. Senti-me mal à noite (intestinos) . Ordem Unida. Instrução com o tenente Mário. À tarde com o cap Dirceu. Treino de basquete com os oficiais. O jogo foi um pouco para a pelada e muitas faltas. Errei todos os lances livres. À tarde recebemos o convite para jogarmos pelo time da Região Militar. Aceitamos. À chegada vimos o treino da seleção feminina paranaense. Depois jogamos. Começamos na marcação por zona e terminamos na individual, melhorando. Mas perdemos.

12/02/58 – quarta – Ordem Unida. Assinatura dos cortes de cabelo. Instrução de estágio de aspirantes da ativa. Educação Física. Cidade. O Henrique querendo comprar um travesseiro. Fomos até a Universidade do Paraná. Fui à Biblioteca Pública a qual muito admirei e me senti nulo diante de tantos livros e revistas. Comemos uma pizza grande e outra pequena, mussarela. Fomos ao edifício Demeterco . Aula de basquete. Deverei ser cronometrista do Campeonato Feminino. Tomamos uma garrafa de leite cada um.

13/02/58 – quinta – Instrução de ordem unida. Os aspirantes, temos tido instrução com o tenente Mário e o capitão Dirceu. Educação física: corrida. Teatrinho do tenente Ribas. Fomos à cidade. A Sandra do basquete ficou intrigada com o meu silêncio. Um projetista Edílson e um esportista João Carlos. O Joélcio e eu ficamos admirados com a boa apresentação de um típico alemão chamado Horst que foi o juiz da partida. Temos dormido tarde.

14/02/58 – sexta – Fui com o tenente Ribas até a granja da 5ª. Cia Com. Instrução de tiro o dia todo. Notei a sensível melhora proveniente de uma melhor assistência ao atirador. Gostei do meu tiro com o revólver Smith and Wesson .45.

15/02/58 – sábado - 46 anos da Raymunda. Peço a Deus que olhe com bastante cuidado para ela. Instrução. Vacina. Passagem de carga. Dormi. Estou de permanência. Joguei basquete. O Joélcio e o Henrique foram até o Círculo Militar.  Fiquei no quartel. O sargento Osmir cumpriu bem o serviço.

16/02/58 – domingo – Acordei cedo. Joguei basquete. Fui à cidade. Fui à igreja da ordem. Vi o Pe. Augusto mas por causa da Lidja não falei com ele. Voltei conversando com a Lidja Lemanczik. O meu almoço foi de 2 garrafas de leite. Conversei com a Lidja em uma pracinha. Depois estudei português. Conversei bastante. Dona Lota. Marta. A garota do capitão, Ivete. Saí às 20:30.

17/02/58 – segunda – À noite chegaram o Tavares e o Silveira que não via desde anteontem. Estava dormindo e só ouvia as exclamações deles a meu respeito. De manhã joguei basquete. À tarde passei rapidamente a minha calça e fui ao Correio onde enviei uma carta para a Escola Preparatória de São Paulo e um telegrama para o meu irmão Luiz pedindo a certidão de nascimento. Vou tentar concurso para a Universidade do Paraná, se Deus quiser. Estudei Física com a Lidja toda a tarde até escurecer. Passeamos pelo centro e comemos uma pizza e bebemos soda limonada. Choveu. Levei-a até uma casa. Na volta encontrei o Joélcio com o João Carlos e os aspirantes de Intendência. Fui dormir às 23:00.

18/02/58 – terça – Jogamos uma partida de basquete com quatro jogadores até 50 pontos. Dia nublado. Tenho que fazer um plano de defesa do quartel. Escrevi uma carta para o Affonso. Dormi um pouco à tarde até as 15:00. Temos pago Cr$20,00 por refeição fora do expediente. Li um pouco e após o jantar fui visitar a Lidja. Estou gostando dela mas sem muito intensidade. Passeamos um pouco. Chuva. Estudamos Química durante uma hora. Ela me disse que saiu mal em Física. Conversa. Garrafa de leite.

19/02/58 – quarta-feira de Cinzas – Acordei às 06:30 quando o Joélcio chegava do baile. Disse-me que conhecera a Rainha do Carnaval passado. Tomei banho e saí com o Henrique. Fomos à igreja do portão. Muita gente e pouca ventilação. Depois fomos até a cidade. Confessei-me. Passeamos e voltamos para o quartel. Basquete com os soldados. O tenente Aldo apareceu dizendo que ia faltar comida para os soldados e que por isso tinha vindo ao quartel. À tarde dormi um pouco e depois arrumei a minha sala. Dei uma saída e comprei um par de kedes. O Henrique foi a um cinema. Fui com a Lidja até a Universidade do Paraná. Ela ia fazer o exame de Química. Depois tive com o Joélcio uma aula de basquetebol com o juiz Riva. Às 15:00 fui esperar a Lidja que me disse que saíra mais ou menos na prova. Fui com ela até a pensão.

20/02/58 – quinta – Ordem Unida e educação física. Assinei um voto para a chapa amarela. Preciso verificar bem depois.

21/02/58 – sedta – Dia todo de instrução. Pela manhã apareceram a mamãe, a tia

Maricas, o Pe. Augusto, a Maria Helena, a Eliane, o Ronaldinho e a Anna. Fui falar com eles. Voltei para a instrução, mas o Capitão Dirceu me disse que podia ir atendê-los. Visitamos rapidamente o quartel. À noite fui até o hotel. Conversamos bastante . Disseram que tinham passado 7 dias em Santos com o Felippe. Que a viagem de ônibus tinha sido horrível e que em Santos tinha feito muito calor. A tia Maricas queria que a mamãe fosse até Lages para visitar o capitão Sólon, mas não conseguiu. Elas estão no  Palace Hotel, que de Palace só tem o nome. A Anna arranjou um outro namorado em Santos, chamado Tomaz.

22/02/58 – sábado – Exame de Instrução do Período de Adapatação no quartel. À tarde fui até o hotel. Passeamos. Comemos pizza. Fui até o Círculo Militar. Passei pela casa da Lidja que me disse ser cinco meses mais velha que eu. Fiquei um pouco confuso. Dormi às 23:20.

23/02/58 – 1º Domingo da Quaresma – Passei pela casa da Lidja e fomos à Igreja da Ordem onde a apresentei a todos. Fui à missa das 09:30. Gostei da igreja e da missa. A Lidja e eu comungamos. Voltei ao quartel. A Maria Helena me telefonou dizendo que às 15:00 iriam até a granja dos padres. À tarde fui passear com a Lidja. Fui até uma praça onde tomei um copo de chope e ela solda limonada. Conversamos bastante. Ela me disse que nascera no Corredor Polonês e que a família dela está na Alemanha Oriental. Que esteve na ilha das Flores. Que quase casou aos 16 anos. Que namorou um tal de Aristides. Que iria me ajudar a estudar. Que o pai é muito econômico. Que a mãe esteve doente. Que estão morando em São Mateus do Sul. Depois fui até o hotel onde conversei com o pessoal da família e comi maçãs.

24/02/58 – segunda – Instrução de ordem unida. O Joélcio entrou de oficial de dia. Passagem de carga. À noite fui até à cidade, mas esqueci a carta que o Josué mandara para a Maria Helena. Voltei com ela. Conversei com o Joélcio. Despedidas da mamãe, da tia Maricas, da Maria Helena e Anna. O Ronaldinho dormia e a Eliane também.

25/02/58 – terça – Ordem Unida. Estou de Oficial de Dia. Passagem de carga. Novas funções. Vacina. No almoço conversei com o Gedeão. Nestes dias já foram embora o tenente Agenor Farias, o tenente Mário Moreira Leite e o tenente Aldo de Farias. O tenente Ribas vai se casar amanhã. O Pelotão de Exploração tirou o 2º lugar no exame do Período de Adaptação. O Joélcio foi até a Confederação Paranaense de Basquetebol.Chuva. Fui dormir às 24:30.

 26/02/58 – quarta – Manhã de instrução no alojamento. À tarde chovia. Saí com o Joélcio e o tenente Mastrângelo. Depositei Cr$10.000,00 no Banco Nacional de Minas gerais S.A. Espero que Deus me ajude a fazer um bom uso desse dinheiro. Encontramos o João Carlos. Visitei um apartamento onde havia um oficial intendente, um capitão artilheiro e um outro. Queriam que nós alugássemos por Cr$2.000,00. Visitei um alfaiate, Sylvio Moraes. Cortamos o cabelo. Fui ver um treino de basquete feminino. A Delcy no final veio conversar comigo. Perguntou-me se eu iria jogar pelo Círdulo Militar e disse-me que gostava do meu jogo. Disse-lhe o mesmo sobre o jogo dela. A Sandra brinca muito. O dia todo chuvoso. O Joélcio e eu compramos guarda-chuvas.

 27/02/58 – quinta – Instrução. Instrução. Chuva. Chuva. À noite fui até ao Atético para treinar como cronometrista porém faltava uma tabela. Assim mesmo treinei com o Clodoaldo Nielsen (Camelo) Cheguei no quartel às 22:00.

28/02/58 – sexta – Instrução de funcionamento do mosquetão. À tarde apitei um jogo de oficiais e sargentos jogando depois um pouco não tendo esquentado errei alguns arremessos. Um sujeito queria que o ajudássemos, porém não foi possível. O Joélcio e o Henrique saíram com o capitão Dirceu. Estou de Oficial de Dia. Visitei o Pombal. Ah, se a Raymunda pudesse ser o oficial de Columbofilia, como gostaria de tratar daqueles bichinhos. Praças jogando pelada e o Toshioshi dando serviço todo compenetrado. Faz um friozinho gostoso. Termino assim o 2º mês de 1958. Conclusões: Tenho já uma garota com quem conversar, é a Lidja. Tenho me esforçado para dar boas instruções aos soldados. Espero jogar basquete pelo Círculo Militar e estudar durante este ano, se Deus quiser. Mamãe esteve aqui em Curitiba e peço a Deus que ela faça uma boa viagem à Europa. Revi o pessoal lá de casa, graças a Deus!. Tenho o Pe. Augusto que é meu padrinho, aqui em Curitiba. Ainda não metodizei a minha vida. Falta-me um objetivo fixo. Entretanto confio em Deus e em Nossa Senhora.

 01/03/58 – sábado – Ordem Unida. Dei jogos para os soldados tendo sido cronometrista e apontador como treinamento para a noite. À tarde dormi um pouco e saí com o Joélcio que dava exclamações a torto e a direito. Curso de Arbitragem da Confederação Brasileira de Basquete foi a nossa ocupação. Um senhor de óculos, Seu Mello, Ivan Raposo, Moriah e outros. Fomos até o Círculo Militar do Paraná, porém logo voltamos. Comemos cachorro quente e fomos para o ginásio do Atlético. Fui o cronometrista e o Joélcio o apontador. Após este jogo houve a abertura do Campeonato Brasileiro de Basquetebol Feminino. Iniciou-se com o jogo entre as cariocas e as paranaenses. Gostei muito do jogo da Marta, da Marli e da Marilene. A seleção carioca venceu bem. Fomos dormir às 24 horas. Dor de cabeça.

02/03/58 – domingo – 2º da Quaresma – Fui até a igreja do Portão. Assisti a metade de uma missa  e ao começo de outra. Saí às 07:45 e voltei para o quartel tendo comprado limão, melhoral e um pente. Estou de Oficial de Dia. Está faltando água. Dormi um pouco à tarde e à noite preparei as instruções. Fui dormir à meia-noite.

03/03/58 – segunda – Instrução.À noite fui cronometrista do jogo entre cariocas e paulistas. Saí-me bem, graças a Deus. Já o apontador teve que agüentar as reclamações do técnico das cariocas Charles Borer quando da saída da Marta com 5 faltas. Fui dormir à meia-noite. O Joélcio hoje me apresentou à sua namorada Miriam Muller.

04/03/58 – terça – Instrução. Ginástica acrobática. À noite fui conversar com a Lidja que graças a Deus passou no exame para a Faculdade de Odontologia. Disse-me que estivera muito contente ontem e que já levara os primeiros trotes como caloura. Conversamos bastante. No ônibus pensava que não gostava dela talvez por ter entrado em contato com outro tipo de mulher como a Maria Helena Cardoso, jogadora paulista, mas no final da noite vejo que estou gostando muito da Lidja. Voltei às 10:30. Hoje faz 4 anos da morte do papai! Requiescat in pace!

05/03/58 – quarta – Saí para uma pequena marcha de 8 km. Na volta assisti a uma aula do Capitão Capelão. Estou de Oficial de Dia. Li um pouco sobre Caxias. Vejo que é uma figura bem venerada e digna de grande culto por parte dos brasileiros. O Henrique chegou. Jantamos juntos e conversamos sobre a vida que levávamos. Depois dormi um pouco. Eram já 20:30. Mais tarde fui preparar as aulas de amanhã. Fui dormir às 24:00.

06/03/58 – quinta – Dia cheio. Instrução.

07/03/58 – sexta – Dia de instrução. À noite fui assistir ao jogo cariocas x paulistas, sendo vencedoras as cariocas. As paulistas cometeram faltas desnecessárias.

08/03/58 – sábado – Instrução. Treino de basquete. À tarde dormi um pouco. E fui conversar com a Lidja. Pretendia ir ao Atlético porém fiquei com ela até as 23:00. Frio e carinhos.

09/03/58 – 3º Domingo da Quaresma – Fui à missa das 09:30 na igreja do Rosário, dos jesuítas. Missa bonita com órgão e coro. O padre falou-nos sobre a comunhão. Não comunguei mas a Lidja confessara-se e comungara pela manhã. Conversei no jardim com ela e após longos assuntos cheguei à conclusão de que seria melhorar eu conversar com ela somente pela manhã de domingo e assim eu me despedi, sentindo já um pouco de saudade. Fui almoçar com o Pe. Augusto levando um jarro de mel. Depois de uma boa conversa voltei para o quartel onde dormi um pouco e depois ainda joguei basquete, indo jantar às 19:15.

10/03/58 – segunda – Estou de Oficial de Dia. Instrução. Recebi três cartas de casa: da mamãe, da Maria José e do Affonso. Gostaram da Lidja. À tarde fui convidadopara o Pentatlon Militar mas eu não aceitei por não me achar em condições. Treinei basquete. O Capitão Lybio King também jogou. O jogo não foi bom. À noite preparei instruções, fiz a ronda e fui dormir.

11/03/58 – terça – Instrução de Ordem Unida na qual o Joélcio e eu unimos os pelotões de Construção e de Exploração. Saiu bom. Graças a Deus. Na educação física dei a série básica a 5 repetições. À tarde instrução de Infantaria (IBM), faxina (campo de futebol). Basquete. Jantar e tora. Levantei-me às 23:15.

12/03/58 – quarta – Acordei às 06:30. Instrução de Ordem Unida. Instrução no campo. Progressão. Instrução sobre as Comunicações. À tarde houve faxina preparando o quartel para o dia 15 de março aniversário de fundação da 5ª Cia Com. Não pude fazer o que queria lá na cidade. Treino de basquete. O Joélcio saiu. Pedidos de soldados. Estive na sala do Departamento de Educação Física.

13/03/58 – quinta – Instrução pela manhã. À tarde faxina. Rotina.

14/03/58 – sexta – Faxina. Instrução. Às 15:00 treinamento para o desfile de apresentação da Bandeira à tropa. O Joélcio é o porta-bandeira. Regi a canção da Engenharia. À noite fui pintar árvores com uns soldados ( Cavassin, Mário e João), porém uma forte chuva nos surpreendeu. Fiquei no departamento de educação física a encher bolas e forçando o braço direito.

15/03/58 – sábado – Aniversário da 5ª Cia Com. Acordei bem cedo (04:50). Chovia. O Pe. Capuchinho celebrou a missa no alojamento. Não houve comunhão. Chegou o Sr General Comandante da 5ª Região Militar. Desfile. Visita às dependências. Show. Competições. Graças a Deus tudo deu certo. Os nossos sargentos ganharam dos da 5ª Cia de Intendência. O Pelotão de Exploração ganhou no futebol e nós os oficiais ganhamos no basquete do CPOR, após muito tempo atrás no marcador.No final eles ficaram com 3 jogadores. Foi um grande dia e até o rancho dos soldados foi muito bom. Visitaram-nos os aspirantes da 5ª Companhia de Intendência e almoçaram conosco. Sou o Oficial de Dia. Graças a Deus tudo correu bem. No jogo arremessei muitas bolas tendo errado muito. Acho que foi porque havia forçado o braço direito na véspera. Espero melhorar muito, entrando agora para o time do Círculo Miliatr.

  16/03/58 – domingo – Fui à missa. Não encontrei a Lidja. À noite porém conversei com ela na Praça Osório. Falamos bastante. Fui dormir um pouco tarde.

17/03/58 – segunda – Hoje é o dia do aniversário do meu irmão Luiz Carlos. Que Deus lhe dê muitas graças e à família que chefia! Dia de instrução.

18/03/58 – terça – À noite joguei pelo time Paraná Esportivo. 

19/03/58 – quarta – Dia de São José. À tarde saí com o Tavares para fazer compras. Comprei uma japona e um bandolim. Também trouxe um par de kedes. À noite falei com a Lidja, com quem já me encontrara antes. Tivemos algumas frases não alegres mas um pouco verdadeiras demais., porém no final saí pedindo que ela não ficasse triste.

22/03/58 – sábado – À noite fui conversar com a Lidja. Conversamos bastante na praça em frente à Universidade do Paraná.

23/03/58 – Domingo da Paixão – Fui à missa na Igreja do Portão, onde infelizmente não gostei da personalidade do pároco. Acho que deve ter entrado n a rotina. Que Deus abençoe a todos os fiéis do bairro do Portão!rei de serviço de oficial de dia. O adjunto é o Sargento Plombon. Ele é bem antigo no quartel. Já fez muita coisa mas andou bebendo e infelizmente tem um aspecto triste. Respondeu à parada com capacete, túnica de brim e sapatos pretos! Fala um tanto confuso. Que Nosso Senhor endireite esye homem e salve a sua alma! Tirei os tempos de alguns soldados na corrida. Por incrível que pareça ainda penso na Liz. Mudamo-nos o Joélcio e eu para o quarto onde está o Henrique. A Lidja telefonou. Falei um pouco em inglês. Chuva. Bandolim. Preparar as instruções. É a rotina da vida de quartel! Pedi a Deus para orientar a minha vida.

24/03/58 – Segubda-feira da Paixão – Instrução. Dia normal como tantos outros. Acordei com um ruim “bom-dia”, pois o nosso quarto amnheceu todo alagado. Falara com o Sargento de Dia para que ligasse a bomba d’água mas uma das torneiras ficou aberta. Conclusão: trabalhei bastante até que os soldados vieram me ajudar.

01/04/58 – terça – Estou no Hospital Geral de Curitiba desde o dia 29, sábado à tarde. Estava a 5ª Cia Com lá na granja fazendo um exercício de longa duração. Na realidade já atrasara um dia pois o Cmt, Capitão Dirceu não gostara da arrumação das mochilas na manhã do dia 27. No final da instrução de Minas e Armadilhas ao ajeitar uma boneca de pólvora junto com um acionador de pressão, este deve ter funcionado somente com o peso da tábua que eu colocara em cima  ocasionando a queima rápida da pólvora. Fiquei com os dedos queimados. Veio muita dor. O soldado Mechon é que me atendeu, sendo muito prestimoso. Fui de viatura até o quartel e depois até aqui acompanhado pelo Tenente Muller. Para suportar a dor eu vim com a mão dentro d’água num capacete de aço. Na terça-feira p[assada eu fui campeão pelo time de basquete Paraná Esportivo, graças a Deus! Já vieram me visitar o Capitão Dirceu, com uvas, maçãs, pêras e jornais, os sargentos Santinor, Barbosa e Trindade, osargento Osmir com um  nortista boêmio, e os soldados Jorge e  Reinold Stephanes, todos no domingo. Na segunda não recebi visitas. Aqui existem freiras que tratam muito bem. Há um oficial R-2 doente muito nervoso (Mário) com a mãe. Há vários sargentos e soldados. Está quase pronto o novo pavilhão, muito bonito. À noite tive uma agradável surpresa, pois a Lidja veio me visitar acompanhada do Araldo, estudante de Engenharia. Fiquei muito contente. Tenho lido muto bons livros. Um falou sobre as almas do Purgatório. É do Monsenhor Ascânio Brandão. O outro sobre a vida de Madre Maria Teodora de Voirou, da Congregação de São José. Outro do Monsenhor Henrique de Magalhães “Aos que sofrem...”e um outro sobre a vida do Pe. Miguel Agostinho Pró, mártir mexicano. Tenho pensado em muitas coisas e em Deus. Agradeço a Deus ter-me propiciado esta semana de meditação e paciência. Que as benditas almas do Purgatório descansem em paz!

02/04/58 – quarta – Dia muito bonito. Fiz novo curativo. Pensava em voltar para o quartel mas o Dr, Durval não me liberou. Este médico é do tipo baixo, tendendo a engordar e fuma cigarros “Douradinhos”. Perguntou-me se eu era do Rio, de que bairro e de que rua. Aproveitei um pouco do sol. Fui à Cap[ela onde fiz uma rápida Via-Sacra. O Asp Joélcio me mandou os objetos que eu lhe pedira. Os sargentos Ramos, Miranda e Walfrido vieram me visitar. Logo depois chegou a Lidja de saia branca e blusa azul. Fiquei muito contente. Estava no meio da conversa quando chegou um funcionário com o jantar. Eram 16:10! Jantava quando chegou o Henrique. Conversamos bastante. Disse-me que o serviço está de um dia sim e outro não, mas que amanhã acaba. Chegou ainda o Tenente Ribas com um sobrinho. Depois se foram o Henrique, o Ribas e o sobrinho. Fiquei com a Lidja. Ainda conversei bastante. Ela conyou-me o filme: “Marcelino, Pane, Vino”. História de um menino, doze frades e Jesus Crucificado. A Lidja me disse que pensa na mãe doente. Achei-a um pouco pálida mas estou gostando muito dela e muito contenet fiquei nas horas em que com ela estive. Às 18:15 já estou só no quarto. Penso... Devo orientar b em a minha vida. Amor com amor se paga! Jesus deu a sua vida por mim. Não posso ser ingrato. Ele nos deu um exemplo de humildade e generosidade e eu não posso ser diferente. Quero ser um ótimo católico. Quero agradar a Deus e ser um bom filho da Mãe do céu. Para isto: oração, trabalho e generosidade. Após uma leitura rápida do livro do Mons. Magalhães para copiar as frases mais originais, comecei a ler o catecismo do Mons. Cauly. Detive-me mais nas partes referentes à Eucaristia. Após rezar o terço fui dormir.

03/04/58 – quinta – Também um dia muito bonito. Poucas pessoas no hospital. Banho de sol. Conversa com o mecânico eletricista. Com o doente nervoso e sua mãe. Continuo a ler o catecismo de Nons. Cauly. Vejo como é b ela a religião que os meus pais me deram. Graças a Deus por tão grande graça! À tarde, às 16:00 voltei à Capela (muito bonita) e assisti à Santa Missa celebrada por um frade bem barbudo. Comunguei. Leitura. Conversa com um 1º Tenente da Cia de Manutenção. Religião. Terço.

04/04/58 – Sexta-feira Santa - Meditei sobre a morte de Jesus e fiz votoos de melhorar na vida espiritual.  Apareceu o Joélcio. Conversamos bastante. Disse-me que a semana foi puxada. Que o Pelotão de Exploração está dando muitas alterações. Que terminou o serviço de Oficial de Dia. Que a Shirley sua namorada tem saído muito nos jornais. Que o Cmt não está gostando de eu demorar tanto aqui. Que os pais dele vão para o Rio. Que ele e os soldados têm praticado atletismo. Que lhe oferecem carros para vender. E que tem dormido muito. Deixara o Henrique na igreja e viera me visitar. Deixou-me Cr$100,00 emprestado. Fiquei muito satisfeito com a visita. Fiz um horário para a minha vida e espero seguir. À tarde fiz a Via Sacra mas me senti meio distraído.Li certos artigos da Military Review sobre uma futura guerra. Penso na transformação havida desde o tempo de Jesus. Quantas guerras, quantas intrigas, quantas bobagens. E pensar qua a qualquer momento pode vir mais uma guerra. Quanta miséria não ocasionará. Quanta dor. Ainda bem que apesar de nossa inclinação para o Mal, Deus nos acena com a Vida Eterna após uma vida para o Bem. Fiz uma oração. Li o catecismo, rezei o terço e fui dormir.

05/04/58 – Sábado de Aleluia – Dia bonito. Andei um pouco pelo pátio, fiz o curativo e vi que, graças a Deus estou ficando bom. Gostaria de dar alta hoje mas o médico não veio. Consegui entretanto voltar para o quartel. As irmãs é que ficaram sem o ajudante da missa de amanhã. No quartel encontrei o Joélcio e o Tavares deitados, descansando. À noite após o jantar fui cortar o cabelo, enviei cartas para casa (mamãe e Affonso) e passei pela catedral. Fui interpelado por uma mulher na rua mas logo encerrei a conversa. Dormi pelas 23:00 enquanto o Silveira e o Tavares foram até o Círculo Militar. E por hoje é só. Muita vontade de ficar bom da mão, jogar basquete, estudar, rezar e namorar.

06/04/58 – Domingo da Ressurreição – Acordei cedo. Tomei um bom banho de sol e li um pouco de um bom livro. Após saí e fui até a Catedral e assisti ao Pontifical de Dom Elboux. Demorou duas horas e vi que o Tavares não estava habituado a tanto. À saída encontrei o Tenente Ribas e esposa. Tomei injeção e voltamos para o quartel. Os soldados Stephanes e o 112 foram pedir a bola de basquete. O Tavares ficou aborrecido e o Silveira e eu rimos muito.  Li no jornal Voz Do Paraná que o Exército dos Estados Unidos lançou no dia 26 de março o terceiro satélite americano, Explorer III que tem 2 metros de comprimento e 13 kg de peso. Dá uma volta ao redor da Terra em 121 min com uma velocidade de 28.800 km/h.

À tarde eu saí e passando pela igreja do Portão fui assistir à missa mas não deu para entender o que o padre falava. Fui visitar a Lidja. Estava jantando. Conversei com o Barnabé sobre estudos e esporte. Fui com a Lidja até o jardim onde conversei bastante com ela. Achei-a parecida com a Ester Williams. Falei sobre muitas coisas, inclusive sobre a Liz. Deu-me um presente de Páscoa, um coelhinho branco com ovos de chocolate. Mostrou-me o missal que mandara encadernar, ficou muito bom. Disse-lhe que em retribuição lhe daria também um missal. Voltei para o quartel muito contente.

07/04/58 – segunda – Às 04:45 o Tavares se levantou. Vai hoje para Ponta Grossa com o Cap Dirceu para uma manobra. Coloquei o 6º uniforme e fui até o hospital. À tarde dei instrução e fiz alguma coisa no PC, mas como a mão esquerda está enfaixada, isto me dificulta um pouco. Ã hora do Boletim Interno, punições. À noite estudei inglês e português e conversei sobre a nossa vida com o Joélcio.

08/04/58 – terça – Coloquei o 6º uniforme e fui até o hospital. O sargento tirou tudo da mão e fiquei esperando bastante um ofício com o atestado de origem , mas aproveitei o tempo estudando inglês. Comprei um livro de alemão, envelopes e papel de carta. À tarde dei alguma instrução.

09/04/58 – quarta – À tarde fui até o hospital de onde saí com ordem de voltar na segunda-feira. Ainda estou sendo considerado baixado, mas prefiro voltar para o quartel. À tarde fui à cidade onde fiz várias compras, paguei a Cibrasil, mandei Cr$15.000,00 para a mamãe e fui assistir ao filme Marcelino, Pane  y Vino., muito interessante. Fui com a Lidja. Voltei depois para o quartel muito contente, graças a Deus.

10/04/58 – quinta – Dia normal de instrução. Já voltei a jogar basquete, graças a Deus. À noite não consegui seguir o horário. Fui dormir muito cedo e toquei bandolim, querendo tirar a música do filme, mas não me lembrava de tudo.

11/04/58 – sexta – Dia normal de instrução. Faltou-me tempo em uma, tendo eu atrasado a educação física. Dei instrução para sargentos. A Lidja me telefonou, tendo eu só falado em inglês. Queria que eu fosse sábado, mas eu só vou domingo porque tenho muito que fazer. Conversei com o Tenente Pascenda. A minha caneta Parker 61 caiu pela 2ª vez no chão. De ponta e ficou bem ruim. Que falta de cuidado a minha! Estive na quarta-feira lá na Universidade do Paraná onde conversei com o Capitão King, o Barnabé e o porteiro. Pretendo entrar no próximo ano. Quero estudar muito neste ano se Deus quiser.

12/04/58 – sábado – Ontem fui dormir um pouco tarde, 23:30 pois fiquei estudando no PC. Hoje acordei às 06:50. Preparei as instruções e ia fazer um exame de motorista, mas me achei sem condições. Recebi um cartão da Maria José em que me participava o nascimento do Newtinho no dia 01/04/58. Quis puer erit iste?Que o Senhor o proteja por toda a vida e depois lhe dê a recompensa. À tarde joguei basquete com o soldado Linhares. O Neves telefonou. Conversei bastante com ele pelo telefone. Mais tarde apareceu o Joélcio e conseguiu ainda ligar para o Manoel Neves. Este veio até o quartel e nos contou a vida lá em Rio Negro, dizendo que é muito dura e que está custando a se ambientar. Disse-me que o Jael também se queimou e se encontra no Rio. Que o Galaor escreveu dizendo que o Horst está dando suas voltinhas de jipe, que o Gonçalves está trabalhando duramente no Nordeste, que ele fizera um campo de futebol e uma piscina em um rio, mas que as curvas não fechavam. Que a obra em Rio Negro já está quase terminando e que depois irão para Sorocaba. Veio até Curitiba, pois o Mesquita e o Medeiros é que estão de serviço. Depois ele saiu com o Silveira, sendo que este ia ao baile do Curitibano (Maísa Matarazzo). Hoje um soldado, Israel Pinheiro recebeu a notícia de que três irmãs dele faleceram em um desastre. Que Deus as receba no céu e dê conforto ao soldado. Rezei o terço e fui dormir.

13/04/58 – Domingo in Albis- Acordei às 07:00 e fui até a casa da Lidja onde encontrei o Barnabé. Fomos até o Duque de Caxias e depois até o Thalia. Lá encontrei o Capitão King. Depois fui de novo até a Pensão de onde saí com a Lidja. Conversei com ela bastante até umas 14:00. Não fui conversar com o Neves. Voltei para o quartel. Chuva. Dormi. Fui à missa. Haviam chegado o Capitão Dirceu, o Asp Tavares e os soldados do Curso de Formação de Cabos (CFG). Jantei com o Tavares. Toquei bandolim e ele gaita. Preparei a instrução e fui dormir.

14/04/58 – segunda – Fui ao Hospital. Não consegui receber alta. Voltei. Ao almoço conversas frívolas. Hoje fiz uma boa corrida de 14km do Portão até o centro da cidade, na Praça Ruy Barbosa. Frio. 17º C. À noite toquei bandolim.

15/04/58 – terça – Fui ao Hospital. O Joélcio foi até a granja para instrução de tiro. À yarde preparei perguntas. À noite fui até o Círculo Militar onde treinei basquete como pivot do time reserva. Estou cumprindo o programa de basquetebol, graças a Deus!.Frio!

16/04/58 – quarta – Ordem Unida. Fui de novo até o Hospital, conseguindo a alta para amanhã, graças a Deus!Escrevi uma carta para a Maria José.

17/04/58 – quinta – Marcha de 24km. À noite treinei basquete no CMP. Estou ruim.

18/04/58 – sexta – Dia normal. À noite assisti às aulas do Curso Superior de Cultura Católica. Muito sono. Encontrei os aspirantes Manoel Neves e o Mesquita. Foram dormir no quartel. Preparei uma alocução sobre o Caxias. Fui dormir à meia-noite.

19/04/58 – s;abado – Exame dos soldados sobre IBM, Instrução Básica Militar. Li ao microfone. Dormi bastante à noite. Estou cansado. O Henrique foi ao Rio.

20/04/58 – 2º Domingo de Páscoa – Fui à missa com a Lidja. Conversamos bastante. Vejo que cada vez estou gostando mais dela. Já penso em casamento. Deus é quem sabe. Fiat! Tirei 5 fotografias dela. Fui almoçar com os padres Augusto, Raymundo e Pelayo. Bom almoço. Levei-lhes uma lata de biscoitos. Falaram sobre a Espanha. Voltei para o quartel. Deitei na cama às 16:00 e só levantei no dia seguinte às 09:30.

21/04/58 – segunda- Tiradentes – Li muita coisa nos boletins informativos. Lavei roupa. Almocei. Toquei bandolim. Escrevi uma carta para a mamãe.

22/04/58 – terça – Aniversário do meu sobrinho e afilhado Ronaldinho.

27/04/58 – domingo – Páscoa dos Militares. Tudo saiu quase bem. Basquetebol. Não fui falar com a Lidja. Mais tarde ela me telefonou dizendo que iria ao Chá de Engenharia com o Araldo. Disse-lhe que aproveitasse. Nesta semana em duas noites fui dormir mais tarde, 02:30 e 03:00. Fui às aulas de Cultura Católica e não fui ao treino de basquete. Muito trabalho e pouco tempo.

28/04/58 – segunda – Dia normal. Educação Física. Monitor de ginástica básica. Instrução. Fichas biométricas. Peso. Telefonema da Lidja.

29/04/58 – terça – Encarregado de um Inquérito Técnico sobre pneus que se desgastaram antes do tempo. Basquete no CMP.

30/04/58 – quarta Fui à cidade. Comprei a partitura da música do Pablito Hidalgo Calvo: “Marcelino, Pane y Vino”. Toquei de camisa. E mandei revelar um filme. Fui encontrar com a Lidja na Faculdade de Odontologia. Não conversei direito com ela. Fiquei dizendo frases como esta: “Considero namorar perda de tempo!” Afinal ela não foi à aula de alemão e fomos até uma outra praça perto da pensão da Dona Lota. Conversamos mais ainda mas eu via que eu ia terminar a qualquer momento pois não sentia mais atração alguma por ela, achando defeitos nela. Afinal fomos até a pensão de onde depois de certo tempo me despedi, deixando o missal outra vez com ela e dizendo que voltaria no domingo.Disse-lhe que eu estava um pouco desorientado. Saí pela rua a caminhar e a cantarolar. Comprei “O Globo” e comi pizza. Tomei uma vitamina e voltei para o quartel. Penso que assim foi melhor, pois me sinto mais aliviado.Posso viver mais independente. Aliás isto já me ocorreu quando a Liz terminou comigo, quando eu terminei com a Aldalea e agora me sucede o mesmo com a Lidja.Não me sinto bem preso a alguém.Quero ser livre. Quero trabalhar sem me preocupar com mulher em que fico achando alguns defeitos. Talvez isso seja egoísmo, mas penso em chegar ao Rio livre como antes, se Deus quiser. Vejo que a Lidja já está gostando muito de mim e que eu acabaria gostando dela, apesar dos pequenos defeitos que todos temos. Porém  mais tarde poderia acontecer que já não conseguisse vencer o meu desgosto. Será que eu estou agindo errado? Espero que o Divino Espírito Santo me ilumine e me mostre o caminho certo. Agora reli o diário e vejo que ainda gosto da Liz. Ainda não consegui uma outra pessoa que apague esta lembrança. Entretanto a Liz oferece tantas dificuldades. Acho que com ela talvez viesse a acontecer o mesmo. É que ainda leio no jornal que ela está trabalhando na TV-Rio, às quartas-feiras. E mais mês se acabou!Ad maiorem Dei gloriam!

01/05/58 – quinta – Acordamos já com o sol em cima. O Henrique e eu fomos jogar basquete. O Joélcio dormia. Bom banho de sol. Os soldados jogavam futebol. Alguns faziam peso e outros jogavam basquete com o Stephanes e o Honório. À tarde dormi bastante. O Joélcio saiu.. De tarde o céu escureceu. Estou no PC. Penso na mamãe que já está viajando e no jogo que terei hoje à noite.. Quero ser um bom jogador de basquete se Deus o permitir. Quanto aos estudos estou parado. Falta-me tempo pois tenho muitas missões: Comandante do Pelotão de Exploração, Columbófilo, Bibliotecário, Oficial de Tiro, Oficial de Educação Física,  Gabinete Fotográfico, e tenho que receber cargas e efetuar inquéritos. Aos poucos com a ajuda de Nossa Senhora vou cumprindo essas missões. Além disso estou jogando basquete pelo Círculo Militar e fazendo um Curso Superior de Cultura Católica. O tempo que sobra aproveito para descansar, tocar bandolim e ir à missa aos domingos, ainda com a Lidja. Não terminamos ontem porque ainda não sei se é um sentimento passageiro. Para o final do ano pretendo estudar bastante. À noite fui até o Círculo Militar. Lá troquei de roupa. Nós os jogadores tomamos táxis e fomos até a quadra do Atlético. Perdemos o jogo para a Sociedade Thalia. Saí com cinco faltas. Regras novas. No Círculo tomei um guaraná caçula e comi um sanduíche. Voltei tarde para o quartel. É bom sofrer uma derrota no início para um reajustamento.

02/05/58 – Saímos um pouco atrasados para a Granja. Realização dos tiros:4, 5 e 7. O Joélcio está resfriado. À noite ainda fui até a aula de Cultura Católica.

03/05/58 – sábado – Dia chuvoso. Educação Física. Cantamos a canção da 5ª Cia Com pela primeira vez, após a Educação Física. À tarde lavei roupa e arrumei as coisas. À noite saí para jantar. Assisti à Benção na Igreja do Portão. Cantei bastante. Fui dormir cedo. O cantor Cauby Peixoto está em Curitiba. A Maysa Matarazzo já esteve.

04/05/58 – domingo – Fui à missa na igreja do Rosário com a Lidja. Conversei pouco. Comunguei. Chuva. Convidou-me para ir a uma choppada no Atlético. Declinei do convite. Estou um pouco insensível em relação a ela. À saída pedi-lhe desculpas pela minha falta de generosidade. À tarde dormi bastante.

05/05/58 – segunda – Dia normal. Estou tendo instrução com o Capitão Dirceu.. À noite toquei um pouco de bandolim e deitei-me um pouco. Só levantei-me no dia seguinte.

06/05/58 – terça – À noite após tocar bandolim fui até o CMP. Joguei pouco.

07/05/58 – quarta – Instrução sobre Zona desenfiada. Falei sobre Ozório. Ataque e Defesa. Recebi uma cartinha da Maria José dizendo que houve muita choradeira quando a mamãe partiu. Disse que o Felippe está namorando uma moça de 16 anos. Disse que está querendo conhecer a Lidja. Escrevi uma carta para ela enviando uma fotografia da Lidja e outra do Padre Augusto. Cortei o cabelo. Paguei a Cibrasil. Ouvi um professor falar sobre Shakespeare, mas não entendi nada. À saída perguntei a uma mocinha se havia entendido e ela me disse que sim. Voltei para o quartel. Conversei com o Sérgio. Tomei uma limonada e fui para o PC.

08/05/58 – quinta – Fui até a Granja onde com o Joélcio, demos instrução de tiro aos soldados. Na volta a viatura parou por falta de gasolina. Ouvi uma conferência do Coronel de Cavalaria Barcelos do CPOR sobre Manuel Luiz Ozório. À noite fui até o CMP de onde fui jogar no Atlético. Perdemos do Curitibano por uma cesta. Joguei o tempo todo e me lembro de ter cometido alguns erros na marcação, fazendo faltas, errando lances livres e os arremessos de jump mas estou contente em poder continuar a jogar basquete. Na volta esperei o ônibus sentado na meio-fio.

09/05/58 – sexta – Dia normal. Dei instrução de baioneta. À noite assisti a duas aulas do Curso Superior de Cultura Católica. Achei o professor de Teologia Dogmática muito inteligente.

10/05/58 – sábado – Dia de Osório – Fui até o CPOR. Lá encontrei com o Geovanni e muitos oficiais. Assisti ao desfile. Depois o Joélcio e eu fomos até o QG mas estava fechado. O Joélcio já conhece bastante gente. À tarde dormi, sendo que às 16:30 estávamos no CMP para ouvir uma conferência sobre Osório. Muitos oficiais. A Lidja telefonou dizendo que ia para São Mateus do Sul. Estou agindo friamente com ela pois não estou sentindo atração mais. Estou pensando em terminar. Deus é quem sabe.

11/05/58 – domingo – À noite fui à missa n a igreja do Portão. Depois fui falar com a Lidja. Achei-a bonita. Fiquei admirando a sua beleza. A noite também estava muito bonita. Conversamos até 21:45. No quartel o Henrique já dormia. Depois chegou o Joélcio.

12/05/58 – segunda – Ontem pela manhã joguei basquete. O Joélcio dormia, descansando de um baile. O Henrique foi à missa. Hoje amanheceu um dia muito bonito. Pela manhã Ordem Unida e Baioneta. À tarde preocupações administrativas.

13/05/58 – terça – Educação Física, jogos. À tarde preparei perguntas para a verificação. Missão para junho: Inspeção. À noite não fui ao treino. Muito trabalho.

14/05/58 – quarta – Foi criado o Oficial de Faxina. O primeiro foi o Joélcio. Preparei os alvos para o tiro.

15/05/58 – quinta – Ascensão do Senhor – Fui para a Granja com o CFG. Foram obtidos bons resultados. Senti dor de cabeça por causa do sol no capacete. Fui à missa na igreja do Portão. Fui ao CMP mas não houve treino.

16/05/58 – sexta – Exames dos soldados. Fiquei a providenciar as coisas com o Sargento Albino Plombom que entende muito de tudo. À noite fui às aulas de Teologia Moral, Dogmática e História da Igreja. Na última aula sempre durmo.

17/05/58 – sábado – Presidi ao exame dos cabos. À tarde pensei muito em comprar uma Lambretta. Dormi. Telefonema rápido da Lidja. Fui para o PC. Dormi às 22:45.

18/05/58 – domingo -  Fui à missa com a Lidja. Tirei várias fotografias com ela e coma Vilda. Carinhos... Voltei para o quartel. Dormi. Basquete. Ao jantar o Sargento Barbosa apareceu com o filho. Fui para o PC. Novas missões. Acho a minha vida um pouco irregular. O que está errado?

Semana de 19 a 24 de maio de 1958 – Nesta semana fiz muito esforço. Duas vezes dormi após as 24 horas. Na granja fiquei muito tempo na chuva e sem japona. Não saí do quartel. Estou levando uma vida como a de cadete. Ao pensar nisso fico contente pois noto que não tenho perdido tempo, graças a Deus! Tenho descuidado porém da oração pois quando vou dormir já estou muito cansado. Recebi uma carta da Maria José me aconselhando a falar com a Lidja. Entretanto não posso mudar, pois nem para tocar bandolim acho tempo. Não fui à aula de Religião. Não joguei basquete. O tempo tem estado chuvoso e tem feito muito frio.

24/05/58 – sábado – Feriado militar da Batalha de Tuiuti. Acordei às 08:00. Os três aspirantes a conversar. Dia frio e chuvoso. Tomei café e depois saí. Coloquei uma carta para a Raymunda no Correio. Visitei as lojas. Ontem recebi Cr$8.700,00. Cheguei a sentar em uma motocicleta, mas não a comprei. À tarde dormi bastante. À noite escrevi uma carta para o Felippe.

25/05/58 – Domingo de Pentecostes – Fui à missa com a lidja. Comungamos. Conversamos. Frio. Voltei para o quartel onde almocei e depois fui para o PC. À noite conversei com o Sérgio sobre o futuro de nossas vidas e comentei com ele sobre o meu plano de fazer a Faculdade de Engenharia e depois a Escola Técnica do Exército. Sentia uma certa saudade do Rio. Fui para o PC de onde saí às 23:00.

26/05/58 – segunda – Dia úmido e chuvoso. Dei uma instrução e no resto do dia fiquei a preparar os pneus para o técnico que vem amanhã. O Comandante Capitão Dirceu ficou no quartel após as 17:00. Fui para o PC.

27/05/58 – terça – Dia úmido e chuvoso. Estou numa vida burocrática só recebendo material.À tarde o Tenente Nelson Querido veio ver os pneus. Depois fui com ele até a Polícia do Exército. Conversamos sobre a Escola Técnica do Exército. Cafezinho. Rifa. Pneus. Jipe novo. Voltei para o quartel. À noite dei uma boa arrumação no chão do PC. O Joélcio falou por rádio amador com os pais.

28/05/58 – quarta – Recebi material. À tarde houve expediente. Conferi a carga do Departamento de Educação Física. O sol hoje resolveu aparecer.

29/05/58 – quinta – Continuo na vida burocrática. À noite fez muito frio, 5º C, e eu resolvi não ir treinar.

30/05/58 – sexta – Muito frio. 3ºC.

31/05/58 – sábado – À tarde joguei basquete, dardo e futebol. Fui ao CMP em vão. E assim cheguei ao final de mais um mês. À noite, antes de pegar no sono, ouvi a conversa do Joélcio e do Henrique sobre mim. Disseram que eu era um bocado enrolado, muito confuso, etc. Gostei de poder ouvir uma crítica sincera sem que os críticos soubessem.    

01/06/58 – domingo – Fui à missa das 09:30  com a Lidja. Confessei-me e comunguei. Tiramos fotografias e conversamos muito.Ela me disse que não gostara da semana pois ao cortar cadáveres sentira uma repulsa. Disse-me que chorara durante a semana pensando nos pais e nestas aulas de anatomia. Voltei para o quartel, comprei uma pizza mas esfriou. O dia de hoje está muito bonito e a noite de ontem foi de lua cheia. Penso na mamãe que está viajando e na família que está no Rio. À tarde deitei-me um pouco e dormi até tarde. O Henrique voltou da rua. Tomamos chá e após ler o livto do Pe. Geraldo Kelly “Juventude, Sexo e Moral” fui dormir. A lua hoje está muito bonita!.

02/06/58 – segunda –Ordem Unida. Instrução. Educação Física, etc.

03/06/58 – terça – Na realidade completo hoje 22 anos graças a Deus! Dia normal. Burocracia. Fichas de Tiro. Hoje o CMP jogou com o Thalia e perdeu por 1 ponto. Não fui lá pois não sabia da existência desse jogo.

04/06/58 – quarta – Oficialmente hoje completo 22 anos. Olhando para trás revejo o caminho que percorri. Quantas quedas, quantas saídas fora do trilho. Quanto estudo, quanto esporte, orações, alegrias e tristezas. Rio. Itaipava. Paquetá. Sítio.São Lourenço. São Paulo. Petrópolis. E já sou Aspirante a Oficial do Exército Brasileiro. Mas não estou contente. Não quero parar. Deus há de me ajudar a percorrer esta trajetória que me há de conduzir ao máximo. Ad Astra! Durante o dia de hoje houve expediente normal. À tarde recebi um radiograma do Oscar. Saí. Comprei uns cadernos e caneta. Comi doces e pizzas para comemorar o meu aniversário. Ia comprar um Missal para a Lidja mas não encontrei. Fomos os três Aspirantes verificar o título e eu depois ia falar com a Lidja mas ela estava com a família de passagem por Curitiba. Tomei mate com o Paschenda.

05/06/58 – quinta – Corpus Christi – Pie Pelicane, Jesu Domine! Jesu quem velatum nunc adspicio, oro Fiat illud quad tam sitio, ut Te revelata cernens Facie visu sim beatus Tuae gloriae. Tibe se cor meum totum subjicit quia Te contemplans totum déficit. Senhor, hoje quero agradecer-vos tão grande dádiva de vossa bondade! Quero cumprimentar-vos neste dia e dizer que eu não quero vos magoar.Amor com amor se paga. Quantas vezes não vos dedignastes  de entrar em minha alma. Quantas vezes me fortalecestes contra as tentações do meu inimigo. Peço-vos hoje aos meus 22 anos  que eu sempre vá ter convosco. Quero ser vosso amigo, amigo sincero e generoso. Senhor, às vezes sou tentado a vos negar como São Pedro. Peço-vos que nestas horas eu seja na realidade um homem e um caráter com têmpera.  Adoro Te devote latens deitas quae sub his figuris vere látitas. O esca viatórum Iesu Domine!

Pela manhã entramos em forma e o Sr Cmt disse-nos que não haveria expediente. Joguei basquete. O Joélcio andou de motocicleta. À tarde descansei e à noite  fui à missa na Catedral, às 18:30. Encontrei o Guilherme Guimbala. Depois me dirigi ao CMP. Joguei contra o Curitibano. Ganhamos por uma cesta, (70x68). Os pais da Lidja  foram de viagem para a Alemanha. Fiquei contente em termos ganhado do Curitibano. Fiquei mais confiante em mim. Hoje me confessei e comunguei.

06/06/58 – sexta – Dia normal. À noite fui à aula de Cultura Católica.

07/06/58 – sábado – À tarde jogamos basquete, o Joélcio, o Sérgio e eu, com alguns soldados. À noite fomos jantar para comemorar o meu aniversário. Foi muito bom. Foram: a Lidja, a Miriam Muller e sua irmã Marli, o Sérgio, o Joélcio e eu. Depois conversei com a Lidja, sempre com os meus problemas. Ela me disse que também às vezes pensa em terminar comigo guardando o seu amor para alguém que na realidade goste dela. Eu fico indeciso achando que sob certos aspectos ela seria uma esposa ideal.

08/06/58 – domingo – Acordei às 08:00. Treinei basquete durante toda a manhã. À tarde deitado, conversamos com o Manoel que viera de Rio Negro. Disse-me que iria casar no próximo ano. Brincaram comigo dizendo que eu iria casar logo com a Lidja. Depois que o Manoel foi embora, dormi. Ouvi depois o jogo Brasil x Áustria, do qual o Brasil saiu vencedor  pela contagem de 3x0 (Mazzola, Nilton Santos e Mazzola). Fui à missa das 18:30 na igreja da Ordem com a Lidja. Encontrei o meu padrinho Padre Augusto, que estranhou eu não ter aparecido na quinta-feira  pois ela faz aniversário no dia 4. Cumprimentamo-nos reciprocamente pelos aniversários. Assisti à Santa Missa tean do comungado. O coro estava muito harmonioso. Conversei muito depois com a Lidja tendo eu falado da hipótese dela voltar da Alemanha para casar comigo. Dise-me que o pai, Sr, Bernardo quer que ela se forme e que lhe prometera um Volkswagen na Europa. Sinto que estou gostando muito da Lidja pois vejo que ela possui muitas virtudes. Ela também gosta muito de mim mas já me disse ontem aquela frase que me fez pensar um pouco. Ontem ela me deu um cachecol muito bonito. Fui dormir às 22:00.

09/06/58 – segunda – Ordem Unida. Educação Física. O soldado Osmar está correndo 6.000m em 20’32”. À tarde saí com o Joélcio e o Sérgio. Tiramos uma abreugrafia. Cortei o cabelo. Jantamos no quartel. Comentaram o fato de eu ter caído dentro da viatura ao sentir uma freada brusca, dizendo que eu tinha perdido pontos. Coversamos bastante e chegamos à conclusão que o máximo que poderíamos ajuntar seria Cr$210.000,00. Falamos que estávamos perdendo tempo aqui na 5ª Cia Com. Entretanto Curitiba nos proporciona muito de útil. Disse que queria aprender rádio. Fui para o PC. Reli este diário. Li as Sagradas Escrituras.

10/06/58 – terça – Novo impulso!

15/06/58 – domingo – De terça para cá fui à cidade várias vezes: inspeção de saúde e como Oficial de Educação Física. Encontrei o Guedes que quer ir para Suez. Hoje domingo fui à missa com a Lidja. Comunguei. Ela me deu um um lindo álbum como presente. Eu lhe dei um vidro de perfume. Foi pelo Dia dos Namorados no dia 12. Não falei com ela pois fui treinar os soldados para a Corrida de São João. Ela bem que gostaria de me ter visto fardado. Fica para outra vez. Eu agora não estou ficando contra a Lidja. Acho que estou na fase em que a amizade verdadeira aumenta gradativamente. Também pudera! Com tantos presentes só uma pedra não se comoveria! Tenho corrido 6.000m. Estou gostando porque quero aumentar a minha resistência. À noite dormi após conversar com o Sérgio e ouvir rádio. O Brasil ganhou da Rússia por 2 x 0. À noite o Joélcio deu remédio ao Sérgio que estava bem gripado.

16/06/58 – segunda – Tiro. Fui com o Joélcio que voltou antes. Consegui gastar toda a munição. O 2º Tenente Ó de Almeida chegou ao quartel. O pessoal brinca comigo dizendo que eu vou casar logo com a Lidja. Olho para o futuro meio incerto.

17/06/58 – terça – Recebi uma carta do Brás Defilipo.

18/06/58 – quarta – Vejo que continúa o mesmo Brás. Sua carta parece uma divagação filosófica! Nesta quarta-feira não houve folga à tarde. Manutenção do material.

19/06/58 – quinta – Manutenção. Corrijo provas. À tarde Instrução Básica de Qualificação. O jogo Brasil 1 x País de Gales 0, foi irradiado pelo alto-falante do quartel. Fui ao SAM/5. Oficiais a ouvir o jogo. O Tenente Fraga me atendeu. Hoje está fazendo muito frio. Sinto os pés gelados. Só no PC é que a temperatura é quente.

20/06/58 – sexta – Instrução. Treinamento dos corredores. O soldado Ferreira tirou o 1º lugar com 19’22”. Tempo frio! À noite fui às aulas do Curso Superior de Cultura Católica.Interessante a teoria marxista no aspecto de como também nela existe uma filosofia. Graças a Deus há uns pontos errados e eixte a força do espiritual a negar esse materialismo. A Santíssima Trindade, um mistério. O Filho procede do Pai. O Espírito Santo, do Pai e do Filho. A Inquisição e os comentários falsos. Voltei de ônibus com o Joélcio.

21/06/58 – sábado- Instrução e Educação Física. À tarde comecei lendo uma carta da Maria José em que me felicita pelo aniversário e me diz estar muito contente com os seus dois filhos  e que o Edison vai ser professor. Que deseja um carro e um apartamento. Que a mamãe está na França. Já comprou um relógio mas ainda não o rádio do Joélcio. Enviou lembranças para a Lidja. Arrumei a Biblioteca com o soldado Adélio. Lavadeira. Biblioteca. Jantar com o Henrique e o Tenente Paschenda.

22/06/58 – domingo – Pela manhã esporte. À tarde dormi. Fui à missa com a Lidja. Conversamos. Vi o soldado Jorge à paisana. Voltei para o quartel.

23/06/58 – segunda – Dia normal.Tirei fotografias da equipe que correrá no dia de São João.

24/06/58 – terça – Hoje haverá corrida de São João. À noite fui de viatura com os sargentos Barbosa e Noronha. O Subcomandante Ó de Almeida e o Joélcio foram fardados. O nosso primeiro colocado foi o Eloy Biguinas seguido do Elyoncio de Pinto Ramos e do cabo Braggio (46º, 48º e 60º) . Foram uns 130 corredores. A nossa equipe foi de 18 corredores e o sargento Barbosa correu. Havia uma fogueira no quartel.

25/06/58 – quarta – Houve expediente durante todo o dia.

26/06/58 – quinta – Livros cargas e biblioteca.

27/06/58 – sexta – Manutenção. À noite fui às aulas de Cultura Católica.

28/06/58 – sábado – Manutenção. À tarde arrumei o PC. À noite conversei com o soldado Arzírio. Toquei bandolim.

29/06/58 – domingo – Dia de São Pedro. Acordei cedo. Joguei volei e futebol. Ouvi o jogo Brasil 5 x Suécia 0, (Vavá, Vavá, Zagalo, Pelé e Pelé). O Brasil foi o campeão do mundo!!!

Um cadete do 3º ano de Engenharia veio nos visitar.Depois do almoço fui para o PC onde reli este diário vendo como passa depressa o tempo. Ainda penso na Liz. Acho que o que sinto por ela é mais forte do que sinto pela Lidja apesar de seus presentes e de todas as suas virtudes. Espero quando estiver no Rio ir falar com ela. Devo estar com mais dinheiro que no começo do ano e não mais entrarei em filas de ônibus.Às vezes penso que a Liz me abandonou porque certa vez eu lhe disse que Cr$25.000,00 eu não ganharia senão como coronel. Será que ela pensou que eu era rico? Nunca mais soube nada sobre ela. Espero que esteja bem feliz e que ainda não tenha se casado com o tal de Carlos Madeira. Revendo os diários antigos vi que em 1955 a Adalgisa Colombo, atual Miss Brasil era concorrente naquele ano tendo perdido o título de Miss Cinelândia  1955 para Vilma Sozzi do Paraná. À noite fui à missa com a Lidja, tendo comungado. Após a missa conversei com o Padre Serafim que muito se admirou da minha altura. Falou da possibilidade de a Lidja ficar com o irmão no Brasil e casar comigo. Falou no Seminário que está construindo e na possibilidade de eu substituí-lo. Conversei bastante com a Lidja e cheguei a ficar muito tempo sem falar, em virtude de ter dito certos sentimentos provenientes de um egoísmo, mas que não consegui deter. Ela me deu algumas fotografias e o gorro com a estrela de aspirante.No final me despedi por uns 15 dias, pois ela irá a praia de Guaratuba. Pedi-lhe desculpas pelo egoísmo, mas lhe disse tudo o que sentia.

30/06/58 – segunda – Inspeção de material de comunicações. Ordem Unida. Treinamento para o 2º exame físico. Almoço com Majores. Inspeção na Seção Rádio: Rad 200 e Rad 300. Harmônios e condensadores. Sargento Plombom faltando. Bandolim. Mate. Ó de Almeida falando em Rio de Janeiro, carro e mulher. O sargento Plombom apareceu. Fui para o PC. Mais um mês terminou. Quase não tenho tempo de meditar um pouco. Muito trabalho e muita responsabilidade.Gosto que assim seja, pois ao menos não fico ocioso, evitando assim muitas coisas desnecessárias. Estou com 22 anos de vida. Não quero estacionar, entretanto falta-me tempo para fazer outras ações de aumento de ciência. Continuo querendo me formar em Engenharia Civil e depois na EsTEx. Deus assim o queira para sua maior glória. Na última vez fiz ver à Lidja que ainda não gosto dela muito. Sei que ela ficou triste mas preciso abrir meu coração. Seja o que Deus quiser!

01/07/58 – terça – Preocupo-me com a inspeção de Material Bélico do dia 14 de julho. Que Deus permita que tudo esteja pronto no dia!

02/07/58 – quarta – Exame físico para os soldados. O sargento Venson vai a Porto Alegre como pentaatleta. À tarde trabalhei nas fichas de tiro e dei uma saída. À noite toquei bandolim, estou melhor.

03/07/58 – quinta – Lista dos livros da biblioteca. Apareceu o capitão Lybio King. Inspeção. Voleibol. Ainda não consegui estudar por fora.

04/07/58 – sexta – Fui até o Depósito de Armamento e Munição/5. O CPOR teve instrução na Companhia. Fiquei triste em não me achar em condições de dar essas instruções. Continuo me preparando para a inspeção do dia 14.

05/07/58 – sábado – À tarde joguei voleibol. Enviei uma carta ao Brás de Felippo pelo cadete Paulo de Azevedo.

06/07/58 – domingo – Acordei às 0800. Fui para o PC. Às 11:00 volei e basquete. Almoço. O Manoel de Rio Negro veio nos visitar. Sesta. Bandolim. P.C. Os colegas saíram.

14/07/58 – segunda – Dia da inspeção do armamento. Por causa desta inspeção tenho trabalhado muito., mas graças a Deus tudo saiu muito bem. O major Eloy e o tenente Fraga examinaram tudo. O único erro foi a falta de um paiol de munição. O major Eloy gostaria de já ter tirado um curso. Mudaram-se várias coisas no quartel, tudo obra do tenente Hélio Casatle da Conceição, atual subcomandante.

15/07/58 – terça – Tendo dado instrução.

16/07/58 – quarta – Dei instrução pela manhã. À tarde os colegas saíram de jipe e eu dormi bastante. À noite o sargento Valfrido consertou a minha caneta e estava a consertar a máquina de escrever do sargento Leocádio. Conversando os sargentos Plombom, Aleixo e o soldado Dirceu Deconto (117). O Parque em frente ao quartel a tocar sempre as mesmas músicas pelo alto-falante. Recebi uma carta da Maria José estranhando que eu não havia respondido à carta dela. Vou responder agora. O soldado Vidal (118) batia à máquina de escrever.

17/07/58 – quinta– Instrução. Recebi uma carta da Lidja que se encontra em Guaratuba dizendo estar com muitas saudades.

18/07/58 – sexta – Instrução. O Gabinete Fotográfico está funcionando porque os soldados adidos voltam hoje para seus quartéis. O sargento Noronha está bem ativo.

19/07/58 – sábado – Dispensa geral. O Tavares está doente. O Joélcio e eu fomos levá-lo ao hospital. Ontem chegou o tenente Ribamar. Às 11:00 houve um jogo de basquete. Não foi muito bom. Ontem se formaram novos cabos. A conversa gira em torno de dispensas. Eu gostaria de ir até o Rio mas tenho muito trabalho por aqui. Peço a Deus que me dê forças para cumpri-lo do melhor modo. Ontem foram soltos os pombos lá da cidade de Palmeira a 65 km de Curitiba. Alguns não regressaram para o quartel. Tenho continuado a aprender bandolim. Fui dormir às 21:30.

20/07/58 – domingo – Pela manhã toquei bandolim. Às 11:00 tirei fotografias. Bom almoço. O Joélcio ofereceu um bom vinho. Dormi. Estudei a RAD200. Fui à missa. Confessei-me e comunguei. O padre falou sobre a necessidade de boas comunhões. Jantei. Fui para o PC. Sinto-me ínfimo perante tantas obrigações e objetivos a alcançar. Deus me ajude! Ainda sinto muitas saudades da Liz e um pouco da Lidja. Tenho entretanto um espírito de paciência, pensando que mais tarde tudo sairá bem. Jesus, muito obrigado por ter vindo a este pobre indivíduo. Peço-vos força e auxílio. Confio em Vós! “Não desprezais aqueles que em Vós confiam!”AMDG!

21/07/58 – segunda e 22/07/58 – terça – Instrução.

23/07/58 – quarta – Preparei o tiro. O soldado Reinold Stephanes me ajudou muito. Visitei o Sérgio no hospital. O Pegado lá estava. Missal da Lidja. Irmão...

24/07/58 – quinta – Tiro. Levei uma Rad200. Mamãe chegou lá no Rio vindo da Europa.

25/07/58 – sexta – Tiro.

26/07/58 – sábado – Instrução. O Joélcio a receber a carga do Departamento de Educação Física. Ele foi ao Rio com o Ó de Almeida. À tarde conversamos o Sérgio e eu com o Ribamar sobre a Engenharia Civil. Arrumação das coisas. A minha espada está enferrujada. Sempre as mesmas músicas no Parque Odeon em frente ao quartel. Até que hoje variou um pouco.

27/07/58 – domingo – Pela manhã toquei bandolim e joguei basquete. À tarde dormi, tendo colocado um cobertor na janela para escurecer. Fui à missa com a Lidja. Está bem morena e muito bonita. Voltei a gostar dela.

31/07/58 – quinta – Nestes dias dei instrução. Conversei com a Lidja na quarta-feira estando cada vez gostando mais dela. Vejo que a Elisabeth Gasper é só tentação e vaidade que não devem ser satisfeitas. Mais um mês que se foi com suas inspeções e seus novos oficiais e quase todo longe da Lidja. Agora virá um novo impulso para tentar a Universidade do Paraná. Age quod agis! AMDG!

01/08/58 – sexta – Tiro com FM Madsen na Granja.À noite perdi a minha ida até a cidade. Não houve aula.

02/08/58 – sábado – Desfile com capacete e cinto por fora do quartel. Ordem Unida para os sargentos.Fui até a cidade inscrever os atletas para a Corrida do Facho. Sorteei os 15 com um Coronel cujo filho foi para Suez e um Sargento. À tarde conversa com o tenente Ribamar cujas idéias coincidem com as nossas. Arrumei o guarda-roupa e levei a roupa suja para a lavadeira.

03/08/58 – domingo – Acordei às 07:20. O Henrique está ruim dos intestinos. Fui para o PC onde arrumei as coisas.Joguei basquete e corri 1.000m. À tarde dormi.Às 16:00 encontrei-me com a Lidja e com ela estudei alemão usando um livro do Ribamar. Estou gostando cada vez mais dela. Dei-lhe um retrato grande em que apareço com o uniforme de basquete da AMAN e segurando a bola com uma das mãos. Fui à missa das 18:30 na igreja da Ordem. Conversei com o meu padrinho Pe. Augusto que celebrou a missa e fez o sermão falando sobre o Evangelho de hoje: o fariseu e o publicano. Ainda conversei muito com a Lidja. Deu-me umas balas que fizera. Voltei para o quartel. O carro do Ó de Almeida já estava lá. O Sérgio e o Joélcio dormiam. Na minha cama dois embrulhos. Não os abri supondo ser o relógio e o rádio. O rádio do Joélcio estava ligado. Voltei para o PC. Música no alto-falante do Parque Odeon.

04/08/58 – segunda – Dia normal com a sua rotina habitual. Estudo.

05/08/58 – terça – Dei hoje uma instrução sobre a transmissor-receptor RAD-300. Os oficiais gostaram. À noite fui até o CMP onde joguei basquete com o Fritz, o Kravitz, o Gilson e um outro de Aeronáutica.

06/08/58 – quarta – Dia de meio expediente. Fui esperar a Lidja à saída de sua Faculdade. Vi uns cadáveres que servem para estudo. Possuem uma cor esverdeada. A Lidja não me quis dar a mão achando que tinha micróbios. Dei-lhe um vidro de perfume que recebera de minha mãe junto com o relógio Omega Seamaster e o rádio Monitor que montara no Rio. Conversamos bastante.

07/08/58 – quinta – Estava programada instrução de tiro mas devido à chuva não houve. À noite fui ao CMP.

08/08/58 – sexta – Houve instrução de tiro. Os poucos soldados deram o tiro de combate nº1.

09/08/58 – sábado – À tarde consertei o meu rádio. Ã noite a Lidja me telefonou. Os colegas saíram.

10/08/58 – domingo – Dia dos Pais. Acordei tarde. Preparei instruções. À tarde saí com os colegas. O Ó de Almeida levou-me de carro. Estudei alemão com a Lidja. Em dado momento senti muito frio. Conversei com o irmão dela e com um indivíduo formado em Farmácia e Direito. Fui à missa com ela. Fui falar com o Pe. Augusto que depois da missa me deu dois bombons. Voltei para o quartel onde ainda preparei uma instrução para os oficiais ouvindo rádio.

11/08/58 – segunda – Ordem Unida e faxina. Treinamento para a corrida do Facho.Espero que os corredores se saiam bem. O General Lott deve vir visitar o quartel. À noite ouvi um pouco de música e fui estudar no PC. O cabo Stephanes ajudou-me a trocar a lâmpada. Disse-me que fará exame para a Escola de Sargentos do Exército. Estudei Descritiva, Álgebra e Análise Combinatória. Aproveitei estas linhas para praticar redação. Fui dormir às 23:00.

12/08/58 – terça – Aniversário de minha irmã Maria Helena (26 anos). Como estamos às vésperas de uma visita do Sr. Ministro da Guerra  treinamos ordem unida. Os soldados do Pelotão de Exploração ficaram com os braços esquerdos bnem doídos devido à prolongada instrução com o mosquetão. Somente reclamou aquele soldado que ainda não possuía uma completa formação. À tarde houve a faxina de última hora. Joguei basquete e à noite fui ao CMP. Voltei conversando com o Fritz e o Kravitz. Tomei vitamina e fui dormir à meia-noite.

13/08/58 – quarta – Pela manhã houve um treinamento demorado de desfiles e continências. Logo em seguida continuou a faxina. À tarde conversei com o Sargento Edson e depois fomos até a Seção de Reparação e Suprimento onde estudamos a RAD-300. Jantei e fui para o PC. O Parque Odeon e sua músicas populares. Recebi um telefonema da Lidja em que ela me disse estar com saudades dos seus parentes e estava desiludida pois estudara muito e tirara nota 5. Consolei-a um pouco.

14/08/58 – quinta – Treinamento para a visita do General Lott. Os corredores do Facho correram mal. À noite fui até o CMP. Joguei basquete. Fui dormir à meia-noite.

15/08/58 – sexta – Assunção de Nossa Senhora – “Benedicta es Tu inter mulieribus!” – Meio expediente pois surgiu a notícia de que não haveria a visita. À tarde dormi e fui à missa com o Sérgio. Confessei-me com o Pe. Raymundo que me deu bons conselhos. Ajoelhei-me ao lado da Lidja. Conversamos depois. Cruzei com o soldado 112-Leonardo à paisana.“Salve R.!”

16/08/58 – sábado – Continuou a faxina. Hoje houve um jogo inesperado contra o CPOR e fomos derrotados. O Cel Edson Giordano de Medeiros e o tenente Pestana jogaram. À tarde li revistas Manchete. Os colegas trouxeram um convite para o baile de amanhã. Dedilhei o bandolim. Dormi ouvindo música pelo meu rádio a válvulas que chamo de radiovás.

17/08/58 – domingo – Fui à missa à tarde na igreja do Portão onde me confessei. À noite fui ao baile do CPOR com o uniforme cinza e dancei bastante com a Lidja. O Ó de Almeida nos deu carona após o baile.

18/08/58 – segunda – Dia normal de instrução.

19/08/58 – terça – À noite treinei o pessoal do Facho. Fomos dormir às 03:00 da madrugada.

20/08/58 – quarta – À tarde comprei um tênis.

21/08/58 – quinta – Aniversário da minha mãe (65 anos). Mãe do céu pedi a Nosso Senhor que conceda muitas graças à minha mãe da terra! Instrução de tiro na granja. À noite basquete no Círculo Militar. Deram-me um tênis muito bom.

22/08/58 – sexta – Tiro na granja. Fomei um bom banho de sol. À noite dormi e fui para o PC. O Facho vem aí! Esta é a minha preocupação. Espero que Deus me ajude e saiamos bem nesta corrida.

29/08/58 – sexta – Tudo já passou! Ficamos em 9º lugar entre 14 concorrentes, graças a Deus! Não tenho falado com a Lidja. Não estou sentindo muita vontade de falar com ela. Aliás uma amiga dela tem telefonado para mim. Estou contente em ter transformado o meu rádio colocando um alto-falante mais potente. Fui promovido a 2º Tenente. Viva! Já sou Oficial! A.M.D.G. Recebi um radiograma do meu primo, cunhado e padrinho TenCel Oscar Marques de Almeida do Gabinete do Ministro da Guerra! Tenho ido às instruções de tiro e dado aula aos Aspirantes R2: Raul., Luiz Fernando Muller, Tomaselli e Esmanhoto. A vida continua. Quero chegar à perfeição, se Deus quiser! Tenho estudado rádio. Penso em montar um rádio e uma televisão. Tenho me esquecido um pouco do estudo para a faculdade de Engenharia mas ainda há tempo.

31/08/68 – domingo – Acordei e ouvi o vasvox ou radiovás como eu costumo chamar. O sermão de hoje é aquele que diz: Ninguém pode servir a dois senhores! O dia está frio! Almocei e voltei para a cama. Estou lendo o livro do Mons. Fulton Sheen: “Vale a pena viver!”. Tenho gostado. Também estudo rádio. Fui à missa na igreja do Portão, comunguei e fiqu - ei muito contente. “Jesus, donnez moi la simplicité et la confiance de l’enfant que vou prie!/ ”.  Tomei o refrigerante Wimi com Sonrisal.

01/09/58 – segunda - Competição de atletismo onde o meu Pelotão de Exploração perdeu para o de Construção, do Joélcio. À tarde ordem unida, faxina e esporte. Recebi uma carta da mamãe. Graças a Deus vão todos bem. A minha sobrinha Anna querendo terminar o namoro com o Tomaz. Uma moça está gostando do Felippe. Ela e o Pe. José Maria fizeram aniversário. Já começaram a construir o edifício de apartamentos no terreno nos fundos da nossa casa na rua Dezembargador Isidro. A mamãe está querendo ir ao Rio Grande do Sul em dezembro. Disse que no Rio muita gente está querendo me conhecer e que está com muitas saudades de mim. O Luiz esteve em Belo Horizonte. À noite escrevi uma carta para ela.

02/09/58 – terça – Pela manhã continuaram as competições. O Pelotão de Exploração ganhou de 2x0 do Pelotão de Construção no voleibol. Os sargentos competiram em atletismo. Tempo chuvoso. Acho que esta manhã foi um pouco perdida. Fico com saudades do tempo de formação. À tarde Ordem Unida. Fiz um concurso entre as Seções. Ganhou a seção do Centro de Mensagens. Penso no jogo de volei de amanhã e nas competições de atletismo. À noite fui para o PC. Saiu no Boletim Interno nº 196 de hoje a minha promoção a 2º Tenente, em Portaria de 25 de agosto..

03/09/58 – quarta – Pela manhã houve a competição de atletismo para oficiais. O Joélcio saiu em 1º lugar, o aspirante Tomaselli em  2º e eu em 3º com 31 pontos. À tarde sai com o Sérgio. Fiz compras de material de radio, pois pretendo construir um transmissor de 15 watts da Monitor. Tive que tirar dinheiro do banco: Cr$4.000,00.

04/09/58 – quinta – O Pelotão de Exploração foi o campeão no futebol. Viva! Hurra!

À tarde Ordem Unida. Tenho oferecido guaraná aos que se saem melhor. Aliás o Asp Raul e o Asp Luiz Fernando me têm ajudado neste ponto.

05/09/58 – sexta – O Pelotão de Exploração foi o campeão de basquete. Eu estava em um dia feliz. À noite fui assistir às aulas de Cultura Católica.

06/09/58 – sábado – Treinamento. Limpeza dos mosquetões. Falei sobre o Sete de Setembro. Chuva. À tarde dediquei-me ao radio. Telefonei para a Lidja. Falei mal com ela perguntando o que ela queria comigo. Fui muito orgulhoso. Na hora não vi o meu erro.

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07/09/58 – Dia da Independência. A 5ª Companhia de Comunicações desfilou motorizada. Dia chuvoso. À tarde os 3 tenentes dormiram. Fui à missa das 18:30 na igreja da Ordem com a Lidja. Comunguei. O Pe. Augusto falou sobre a fé que todos os brasileiros devem ter. Ser católicos de verdade. Conversamos após a missa. Disse-me que recebera uma carta da mamãe ( a comadre Bila), em que ela dizia que gostaria de voltar mais uma vez à Europa. Essa mãe! Perguntou ele à Lidja se ela voltaria da Europa para casar comigo ao que ela respondeu que não pois a vida dela era junto dos pais. Chovia. Comemos Kibamba e bebemos guaranás. Em dado momento ela falou:”Por que você age assim comigo? Você não acha que me tem tratado muito mal? Por que você falou aquilo no telephone ontem? Olha, eu pensei bastante durante estas três semanas e resolve terminar. Assim não pode continuar. Olha Paulo, continuou ela quando no portão da casa da Da. Lota, você é muito orgulhoso. Você pensa que é irresistível . Eu já tive algum prazer ao seu lado mas muito mais você me maltratou. Você ainda pensa como criança. Eu penso que um homem de 22 anos já deve saber agir com certeza. Tenho a impressão que você está habituado desde criança a essa vida de quartel e não sabe agir. Eu nunca pedi nada a você. É claro que o fato de eu o conhecer iria influir na minha vida. Você chegava e dizia: vai ao baile, dança, se diverte!as é claro que eu não poderia fazer como você queria. Eu não entendo é que você com seus princípios religiosos não notava como me tratava mal. Você não sente o sofrimento dos outros. Resolvi portanto, após pensar muito no que você fez comigo, terminar. Olha que eu não me envergonho de dizer que gostei de você. Ainda gosto. Mas sei que pensando no modo como você agiu comigo logo o esquecerei. Eu me preparei para este momento. Um dia você verá o erro que cometeu. Você está iludido com a Elisabeth Gasper. Quando você falar com ela ficará desapontado. Você não sera feliz, pois você não sabe agir direito…

08/09/58 – segunda – Ontem à noite a Lidja terminou aquele tipo de amizade que tínhamos. Estou, portanto livre e independente  com o Brasil em 1822. Começo, portanto a relatar uma nova fase da minha vida. Eis uns pensamentos desta fase: Quero: Dominar os meus sentidos e os meus sentimentos, dar ordem ao caos dos meus pensamentos, refletir antes de falar, ponderar as coisas antes de agir, aproveitar as experiências do passado, pensar no futuro e, portanto fazer o melhor possível no presente. Trabalhar com ânimo, sofrer sem me lamentar e viver de uma maneira irrepreensível e finalmente morrer em paz, na esperança da minha felicidade eterna. Tudo isso com a ajuda do Bom Jesus! Vis mea in labore! “Aquele que satisfaz o seu instinto sexual fora do casamento quer tocando o seu próprio corpo para excitar em si mesmo gozos impuros, quer tendo relações com mulher antes de se haver associado a ela  como esposa, é o algoz da própria honra e da própria infelicidade, tanto para si mesmo como para os outros” Monsenhor Thiamer Toth  em O Brilho da Mocidade, pág.32.

Começo hoje o estudo para o concurso à Faculdade de Engenharia do Paraná, para evitar a atrofia intelectual do Corpo de Tropa, completar-me em outro ângulo da minha vida em que poderei ser útil a Deus e à Pátria. Estarei preparado para estudar na Escola Técnica do Exército na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Continuarei a treinar basquete no Círculo Militar do Paraná e no quartel. Estudarei rádio para ficar entendendo bem. Cuidarei da parte religiosa freqüentando as aulas de Cultura Católica, indo às missas dominicais e comungando. Cuidarei da saúde comendo corretamente e fazendo educação física. Cuidarei da minha apresentação. Em resumo, farei o máximo para conseguir a perfeição, seguindo o conselho de Jesus: “Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito!”.

Os colegas saíram às 23:15. Fui dormir. Acordei com a chegada deles. O Joélcio dançara com a Lidja que lhe perguntara: “Cadê o Paulo? Não compreendo o Paulo! Vou acabar me acostumando assim com ele. Ele estuda muito? Trabalha muito? Não sei para que eu vim a este baile sem o Paulo!  O Sérgio dançou com a Miriam. Disse-me que não viera às 02:00 poeque não encontrara táxi. O Joélcio colocou um cobertor na janela e dormiu. Acordei ruim da barriga. Tomamos café, o Sérgio e eu. Fui para o PC onde escrevi uma carta para a mãe da Elisabeth Gasper. Deus me ajude e que tudo dê certo. Dia cinzento e úmido. À tarde fui à missa com o Sérgio. Cantei muito em honra de Nossa Sra da Luz. Comunguei e depois fomos ao correio onde passei um telegrama para a mamãe perguntando as condições de compra de um apartamento e coloquei no correio a carta que escrevera para  a mãe da Liz, Da. Elsbett. Na hora senti um receio das conseqüências mas fiquei vibrando por estar tentando falar de novo com a Liz. Comi uma pizza com o Sergio e tomamos vitamina. Chovia. Ad maiorem Dei gloriam!

09/09/58 – terça – Dia chuvoso. Dei instrução para os aspirantes R2. À tarde TJ-1. Saí-me bem graças a Deus. Dia friorento. Estou bastante ativo. Só penso no resultado da carta que escrevi. Chegaram os graus da AMAN. Às 16:00 fui fazer a caixa para o meu rádio vasvox, com o soldado Ramos. Jantei. Fiquei a lidar com rádio até as 21:00 enquanto o Joélcio e o Sérgio estudavam. Fiz a ceia e fui para o PC. Lá escrevi e li até 22:10. À hora de dormir ouvi rádio até meia noite. Estou resfriado.

10/09/58 – quarta – Dia úmido e chuvoso. Instruções e educação física. À hora do almoço os colegas reclamaram da comida do quartel achando-a muito fraca. Estou esperando a  resposta da carta. Fiquei toda a tarde na carpintaria com o solado Ramos a fazer a caixa para o meu novo rádio. Em dado momento partiu-se a chave de pua. Fiz um novo chassis para o radio. O Joélcio e eu estamos gripados. Preparei uma instrução sobre RAD200. Devido aos fatos de a Lidja ter terminado comigo, eu ter comungado e ter escrito uma carta para a mãe da Liz, estou bastante motivado para viver. O tempo passa e eu fico a pensar na resposta da carta.

11/09/58 – quinta – Fui com o Pelotão de Construção até a granja onde executei o tiro nº 11. Voltei cedo mas não deu tempo para eu dar a instrução de RAD200. Joguei basquete tendo me sentido cansado no final. Não fui a um possível treino de basquete no CMP, pois estou gripado. À noite trabalhei no meu rádio.

12/09/58 – sexta – Fui ao tiro com os soldados do Pelotão de Exploração. (Tiro 9 de combate). Voltei cedo. À tarde instrução com o Sr. Comandante sobre Ofensiva. À noite dediquei-me ao rádio.

13/09/58 – sábado – Aniversário do mano Felippe (24 anos). Pela manhã elaborei um rascunho de uma sindicância. À tarde e à noite dediquei-me ao rádio. Os colegas foram a um risoto oferecido pelos Asp R2. Fui dormir às 23:00.

14/09/58 – domingo - Aniversário do papai. Se vivo estaria com 72 anos. Acordei às 08:15. Tomei um bom banho cantando. Estou esperando a resposta da carta. Penso de novo na Liz. Ainda não comecei os estudos para a Faculdade. Estou cumprindo a meta rádio. Se Deus quiser começo com intensidade no dia 01/10/58. Soube que o meu colega de basquete na AMAN, Bonetti de Infantaria já apareceu no jornal como titular do Vila Isabel. Espero também chegar à fama no basquete. Passei a manhã no PC. Reli o diário tendo chegado 1ª conclusão que no presente a minha vida ficou um pouco sem mudanças. Tudo passa! Devo fazer tudo bem feito e aproveitar a mocidade. Devo cuidar da saúde. Continuar a vida religiosa. Ter ideal que motive a existência. O que resta são as boas obras. Conversei com o Ó de Almeida. É uma personalidade interessante. Aliás, na 5ª Companhia de Comunicações há vários oficiais cujos caracteres divergem muito: Dirceu Ribas Correa, capitão comandante, José de Ribamar Nunes Moreira, subcomandante, Hélio Casatle da Conceição, S3, Jorge Luiz Abreu do Ó de Almeida, S1, Henriel Loyola de Figueiredo, Tesoureiro, Rodolpho Norberto Pascenda, R2, José dos Santos Ribas Neto, R2, Mário Muller, que esteve na FEB, Joélcio de Campos Silveira, Sérgio Henrique Carneiro Tavares e eu. Havia também os aspirantes R2 já citados anteriormente. Fui jogar ping-pong com o Ó de Almeida. Almoço muito bom. Criaram um S.S. (Sindicato dos Solteiros). Os dias têm sido úmidos e frios. Estou gripado. À noite fui à missa na igreja do Portão e comunguei. Muito obrigado, meu Deus!

15/09/58 – segunda – Tiro para o Pelotão de Construção. Falhou o tiro de Lança Rojão. Treinamento para os sargentos. O vento muito forte atrapalhou.

16/09/58 – terça – Tiro para oficiais. Saí-me bem. À noite fui treinar basquete no 20º RI.O Ó de Almeida é muito prestativo com o seu carro.

17/09/58 – quarta – Instrução para os Asp R2. Deixei o Pelotão se atrasar m ais uma vez para a instrução religiosa. Basquete. Rádio. Ajudei a lavar o carro do Ó de Almeida. A válvula 35W4 do vasvox quebrou-se e queimou-se. Fiat! Penso no exame da sexta-feira. Estou esperando impaciente a resposta da carta. Sera’que fui mal compreendido? O dia d hoje foi bem bonito. O sol resolveu esquentar de novo.

18/09/58 – quinta – Instrução para os AspR2. À noite não fui ao treino de basquete no 20RI. Preparativos para o exercício de amanhã. Ainda não veio a resposta da carta. What happened?

19/09/58 – sexta – Fizemos um exercício de deslocamento de PC. O Tenente Sérgio Tavares foi o árbitro e deu os parabéns ao Pelotão. O Sr. Capitão Dirceu achou alguns defeitos. À noite fui à aula de religião. Frio.

20/09/58 – sábado – Passei a manhã planejando reformas nas dependências do Pelotão. Houve uma instrução com o Major Willi sobre Herança. À tarde chegou o Joélcio com as notícias sobre a Semana Olímpica. Fui trabalhar no rádio com o Sargento Fabro que fez o curso pela  National School e entende bem de rádio. Esteve em Francisco Beltrão onde economizou Cr$40.000,00 e vai montar uma loja com o Sargento Boçon. Às 18:45 o rádio estava falando e eu estava atrasado para o jantar que o Sérgio oferecia pelo transcurso do seus 21 anos. Depois do jantar o Joélcio foi falar com a Miriam e nós voltamos para o quartel.

21/09/58 – Acordei e comecei a ouvir o vasvox pelos fones. O dial está com defeito.Tomei café e fui para ao P.C. Ainda tenho esperanças de receber uma resposta à carta que enviei à sra. mãe da Liz. Fui à missa na Catedral mas não comunguei. Voltei passando pelo correio e pela casa da Da. Lotta.

22/09/58 – segunda – SEMANA OLÍMPICA – Pela manhã fomos os atletas da 5ª Cia Com até o estádio Dorival de Brito. Corri 1.500m e lancei peso a 19,65m. À tarde jogamos um jogo fácil com o time de basquete da Intendência. À noite, após lermos as regras fomos dormir. Ad maiorem Dei Gloriam!

23/09/58 – terça – Fui correr 3.000m e saí-me em 5º lugar. À tarde jogamos basquete Os soldados contra a equipe do 5º RO105 e os oficiais contra a equipe do QG. Saímos vencedores. À noite chegaram os pais do Joélcio. Fomos até o Hotel Maracanã. O pai do Joélcio trouxe um pequeno rádio. Fomos até o CMP. Não houve o jogo programado devido à chuva. Havia um treinamento das debutantes.

24/09/58 – quarta – Tenho acordado às 06:00. Hoje será o jogo decisivo de basquete contra o CPOR. Dia chuvoso. Pela manhã ainda dei instrução aos Asp R2. Depois treinamos umas jogadas na cancha mesmo com o 7º uniforme. Grande tensão de antever uma vitória. Fomos para o CMP. Tempo ameaçando chuva. Começa o jogo. Camisas brancas e calções brancos. Cestas de ambos os lados. O Joélcio sai com 5 faltas. Senti o gosto da derrota na garganta. Tornei-me o capitão da equipe. Mudei a marcação para zona. Coloquei o Asp R2 Raul que é bem alto como pivot. Faltavam 8 minutos e a diferença era de 2 pontos (1 cesta). Começamos a nos distanciar. Eu levava a bola até o ataque e atirava na cesta e o Raul aproveitava o rebote devido à sua altura. A confiança na vitória foi aumentando. A torcida incentivava. Lá estavam: os pais do Joélcio, a Miriam  e sua irmã Marly, a Lavínia esposa do Tenente Ribas e os soldados da Companhia. Soa o apito final e o marcador era de 46x32. Éramos os campeões, graças a Deus! Grande vibração! Conseguimos o que queríamos. Depois dirigi o time dos soldados e conseguimos vencer por 19x15. Chuva.

25/09/58 – quinta – Fui ao atletismo. No final fui o quarto corredor nos 4x400 não podendo mais tirar a diferença, À tarde o time dos sargentos perdeu o basquete para o 20RI. Apontei e apitei depois o jogo de sargentos entre o QG e o 1/5 RO. Os artilheiros venceram. Regressei ao quartel. Calor. Dormi cedo. Estava cansado. A 5ª Cia Com tem se salientado no atletismo e nos jogos. AMDG.

26/09/58 – sexta – Pela manhã fiquei no quartel com o Tenente Casatle querendo montar uma situação tática. À tarde os oficiais fomos até o 20RI onde perdemos os dois sets de vôlei para o time do QG. Treinei dardo na Cia. No final este apareceu lascado. À noite fui com a equipe de basquete de soldados até o 20RI onde perdemos o jogo se não me engano por 32x21. O time do QG era muito bom. Fiquei contente com o Linhares ter acertado a mão e temos perdido de pouco.

27/09/58 – sábado – Dormi somente com a colcha por cima. O dia amanheceu muito bonito. Levantei-me às 06:00. Fui para o PC. Ontem recebi Cr$24.000,00. Ainda não chegou a resposta da minha carta à Da. Elsbett. Fui ao concurso de tiro. Cheguei atrasado e não concorri. Vi o tencel Breno com algodão no ouvido e outros atiradores. À tarde dormi e arrumei as coisas. À noite consertei o meu rádio vasvox.

28/09/58 – domingo – Fui com o Sérgio até a piscina do CMP onde nadei pela 5ª Cia Com. De volta ao quartel toquei bandolim. Almoçamos: Sérgio, Ó de Almeida, Ribamar e eu. Conversas sobre casamento e vida de solteiro. Fui deitar e ouvir rádio. Levantei-me às 15:00 e fui para o PC. O Ribamar e o Ó de Almeida a conversar em frente ao saguão. Estou sentindo falta da Liz. Gostaria de estar me correspondendo com ela como nos tempos de cadete. Mas já agüentei bem dois anos. Não me custa agüentar até as férias, ainda mais que começarei a estudar e terei pouco tempo para pensar em sentimentalismo, com a graça de Deus!  Estou um pouco desorientado desde que a Lidja terminou comigo. Penso um pouco no futuro e vejo que deverei ter no fim do próximo ano uns Cr$200.000,00 se Deus quiser. Gostaria de ter mais. Penso em comprar um carro. Até lá a solução é andar de ônibus. Portanto não pensarei mais nisso. Até lá não quero casar, então não ficarei preocupado em arranjar uma namorada. Até lá espero entrar na Faculdade de Engenharia, portanto devo estudar.Provavelmente não terei missões diferentes das que tive até agora então devo construir em outro ponto. Calma! Calma! Calma! Olha para a vida dos que já foram antes de você. Estiveram noivos, têm carros e não estão satisfeitos. Não abandone Deus! Comungue! Reze! Viva perfeitamente! Deus dirige tudo. Se Ele quiser tudo acontecerá como você quer! Não se afobe! Não fique ocioso! Procure o Reino de Deus e o resto lhe será dado em acréscimo! Trabalha, sofre, sorri, vive, tudo esperando somente em Deus e não nos homens. Não ajunte tesouro aqui. Trate de ajuntá-lo no céu! Ama em silêncio. O tempo passa depressa. Cuida da sua alma e da sua saúde. Esqueça o resto! Não crie um sentimento de frustração que faz mal. A característica da juventude é a ESPERANÇA! AGE QUOD AGIS! Vejo na vida dos casais uma certa perda de tempo. Acho que os outros não sabem viver. Não vou a cinema, por exemplo. Não vou a bailes, pois vejo que os resultados não compensam. Desejo uma vida que em nada prejudique a minha saúde. Dormir às 22:00. Passeios. Nada de formalidades sociais. Vida de descobertas. De pequenos inventos. Vida para o lar sem nunca deixar de amar. Sempre aumentando o amor para a futura mãe dos meus filhos. Por isso até agora não amei mais ninguém como amei a Liz, pois é a única de quem não enjoei apesar dos defeitos que considero fora de sua pessoa. Gostaria de não perder um minuto em bobagem e em coisa inútil. Videamus

Os pais do Joélcio visitaram as dependências do quartel. Deram opiniões e admiraram as características! Fui à missa na igreja do Portão. Confessei-me. Cheguei atrasado. Em seguida dirigi-me a uma churrascaria onde se reuniram oficiais da 5ª Cia Com e famílias. Os pais do Joélcio lá estiveram. A namorada dele Miriam Muller também com sua irmã Marly e sua mãe. Cervejas. Discursos. O Sérgio não falou. Não gosta de falar. Voltei falando um pouco mais. Éramos os três solteiros: Sérgio, Ribamar e eu!

29/09/58 – segunda – Dedico-me à confecção de documentos de Comunicações: IPCom e IECom. À tarde fui nadar na piscina do CMP onde a equipe da 5ª Cia Com: Jô

Élcio, Ó de Almeida, Ribas e eu, tiramos dois segundos lugares nos 4x100 e 4x200.

30/09/58 – terça – Instrução para os Asp R2. À tarde o Raul e o Esmanhoto cuidaram das fichas de tiro. À noite fui ao CMP jogar basquete com o Raul e o Ó de Almeida. O Joélcio foi namorar. Estou com uma boa motivação para viver, pois parece que irei à cidade gaúcha de Santa Maria com a equipe da 5ª RM. Farei tudo para depois ir até o Rio de Janeiro, se Deus quiser. Findou mais um mês. Instruções. Competições. Desfiles. Término de namoro. Saudades da Liz. Tudo passa! Tenho me levantado às 06:00. Estou bem motivado. Amanhã começarei o estudo para a Universidade do Paraná, seguindo o conselho do Mons. Thiamer Toth: “Estuda também na Universidade!“. “Para frente, sempre melhor, custe o que custar!”.

Outubro- Mês do Rosário

Ave Maria, gratia plena!

01/10/58 – quarta – Acordei às 05:45. Fui para o PC onde estudei Descritiva. Desfile semanal. No PC: fichas de tiro, IECom, instrução de códigos de coordenadas. À tarde fui até a cidade onde coloquei dinheiro no banco e comprei um pano para o vasvox. À noite, de cansado, dormi às 19:30.

02/10/58 – quinta – Acordei às 05:30. Fui para o PC onde estudei Física. Durante o dia tratei das IPCom e IECom. À noite no PC grande atividade com os Sargentos Miranda, Edson, Ivoir e Guimarães, Aspirante Luiz Fernando e Tenente Vasconcellos. Fui dormir às 23:00. A partior das 12:00 de hoje estamos de “Sobreaviso”. Tenho rezado o terço.

03/10/58 – sexta- Dia de Santa Terezinha – sexta – Dia das eleições. Acordei ao ser chamado pelo Sgt Ivoir às 05:30. Fui para o PC. O dia tem clareado às 05:40. Tempo de verão. Continuo montando as IPCom-IECom. Fui votar no Grupo Escolar Novo Mundo, 3ª Zona, 77ª Seção. Votei no Jânio Quadros para deputado federal  e Tourinho para Prefeito e para senador em um General. À tarde resolvi com o Comandante o caso de dois sargentos rádio-operadores Osmir e Edson. Instrução sobre a situação. Término do sobreaviso às 19:00. Continuo fazendo as IPCom e IECom que são instruções para as comunicações em uma manobra militar. Há um novo oficial no quartel. É o 1º Tenente Frota Leite. Baixo, gordo e uma personalidade característica. À noite fui até a cidade. Eles iam ao cinema e eu ao CSCC mas não houve aula. Voltei para o quartel. Ainda penso na Liz com saudades.

04/10/58 – sábado – Pela manhã preparando as IECom. Viaturas. O Sgt Boçon colocou uma tomada no PC. O Raul trouxe a régua de cálculo do Esmanhoto. Dia frio. À tarde os outros dormiram. Fui até o oficina de rádio. À noite fiquei no PC ouvindo rádio.

05/10/58 – domingo – Pela manhã fui para o PC onde o Sgt Ivoir e o Cabo 118-Vital ou Jorge, me ajudaram a faxer as IECom. À tarde dei uma arrumação no PC. À tarde fui à missa no Portão onde fui o único a comungar. Fui depois ao correio onde coloquei uma carta para a mamãe. Ao passar pela banca de jornal ao olhar para a capa da revista  “O Cruzeiro”tive o pressentimento de que era a Liz. Folheei a revista e no final trazia uma reportagem do show do Night and Day : 1900....e 58”(Bela época...). A Liz aparece muito indecente ( Que pena! Deus tenha misericórdia dela como teve da Maria Madalena!) . Fui verificar quem estava na capa e vi que era ela imitando a Brigitte Bardot. Fiquei muito contente e gostando mais intensamente dela. Voltei para o quartel.

06/10/58 – segunda – Saímos para uma manobrinha na Granja. Eu era o Oficial de Rádio. Chuva. Reconhecimento. Poeira. Rad200 falhando devido a contato com o chassis. Fiquei entendendo bem da rádio. Era isso que eu queria no começo do ano. Muito obrigado meu Deus!

07/10/58 – terça – Dia D. A noite foi bem fria devido a barraca estar molhada e as árvores também. No almoço comemos galinha que o cabo Leonel levou. A interferência inimiga era feita pelo Ó de Almeida com o Sgt Noronha e o cabo Alírio. Centro de Comunicações Avançado junto ao 14RI na Igreja de Umbará, etc... Fui dormir às 23:30.

08/10/58 – quarta – Regresso ao quartel. Rumores da ida do Pelotão de Exploração  para o campo. À tarde dormi. Fui acordado por um chamado do Ó de Almeida: “Preparar um Centro de Comunicações Reduzido”Os outros saíram. Fiquei no quartel. Penso na Liz. Comprei coisas no AR (armazém reembolsável do quartel). Fui para o PC. Apareceu o Sgt Osmir que conversou bastante sobre a vida militar pois a sua casa estava fechada. Estudei um pouco mas o rendimento foi fraco devido ao sono. Em dado momento ouvi que Sua Santidade o Papa Pio XII, Eugênio Pacelli, havia dito antes de entrar em estado de coma: “Rezai para que este momento passe depressa!”. Depois notei que a rádio Guairacá só irradiava músicas clássicas. Às 03:52 do dia 09/10/58, em Castel Gandolfo morria o nosso querido Pastor. Desde o ano de 1939 ele era o Papa. Desde garoto eu ouço falar nele e rezei muito por ele. Que Deus lhe dê a eterna recompensa pelo muito que sofreu e fez pelo bem da Igreja Católica. Requiescat in Pace! Ele nasceu em 02/03/1876, ordenou-se Padre em 02/04/1899, sagrou-se Bispo em 13/05/1917, Cardeal em 16/12/29 e Papa em 02/03/1939. Morreu com 82 anos.

09/10/58 – quinta – Pela manhã soube que o Santo Padre havia morrido. Fiquei triste. Senti uma grande perda. Tinha a impressão de que o Papa não podia morrer e eis que morreu. Durante todo o dia músicas clássicas na rádio Guairacá. Manutenção do material. Gabinete Fotográfico. À noite fui até o ginásio do 20 RI onde assisti com o Ó de Almeida ao jogo Thalia x Curitibano, vencedor este. O Rudge ex-colega dos tempos da Escola da Preparatória de São Paulo estava de Oficial de Dia. O jogo foi muito bom, disputado até o final.

10/10/58 – sexta – Pela manhã soube com o Sr. Cap Cmt que eu iria com três CCom até o Norte do Paraná para deter juntamente com 3 Regimentos de Infantaria uma planejada marcha de agricultores  denominada Marcha da Produção. Fiat! Preparei a relação das turmas.Fiz a minha Declaração de Herdeiros e entrei para o GBOEx. À noite choveu, Arrumei as minhas coisas para a partida.

11/10/58 – sábado – Continuei a ultimar os preparativos para o deslocamento. Pensava em só partir no domingo ou na segunda-feira mas às 09:30 recebi  a ordem de me apresentar às 12:00 no quartel da AD/5. Fiquei um pouco frustrado pois pensava em ir jogar esta noite contra o Curitibano. Fiat! Arrumei-me e me apresentei com as viaturas ao Major Mazza. Tudo bem. Iniciamos o deslocamento. O Tenente Pestana dirigia o comboio. Óleo vazando. Pára-lamas solto. Mola mestra quebrada. Mas chegamos a Ponta Grossa após uma viagem um pouco cansativa. Jantamos no 13 RI. O soldado do refeitório ainda se lembrava dos meus colegas de Infantaria Bonneti e Iacri (equipe de basquete da AMAN) que haviam servido no 13 RI. Agora servem lá o Luiz (que estava em Francisco Beltrão), o Sherman e o Lopes. Os praças gostaram da comida. O cassino dos oficiais é muito bom com mesas separadas. Dormi no PC da 1ª CiaPrP. Lavei um uniforme. Aqui no interior do Paraná ainda penso na Liz. A nossa missão é deter a Marcha da Produção. AMDG.

12/10/58 – domingo – Não fui à missa. Passei o dia com o uniforme de instrução. Apresentações. Conserto de rádios. O Sgt Fabro consertando as RAD do Sgt Nelson. O Lopes e o Sherman compraram Lambrettas. À noite fui para o quarto do Sherman onde procurei melhorar a recepção do rádio dele. Depois de mudar a antena parece que melhorou. É da marca Pioneer. Dormi no quarto da 1CPP1.

13/10/58 – segunda – O dia todo com uniforme de instrução. Testei as Rad-200. Três soldados deram alterações. Solução custosa: Prisão e enfermaria. À noite chegou uma Companhia do 5º BECmb, com os oficiais: 1º Tenente Duarte, 1º Tenente Salazar e 2º Tenente Menezes (da minha turma na AMAN). Fui dormir às 23:00. O deslocamento para Londrina foi novamente transferido. Fiat!

14/10/58 – terça – Acordei às 07:00. O expediente começou às 08:00. Dois soldados continuam presos. O terceiro deu alta da enfermaria e pediu com insistência para não ir para a prisão. Vejo como é difícil lidar com as pessoas. O meu problema é conseguir motivar o pessoal. Ficam dentro das viaturas como se fossem ciganos. Jogam também futebol de salão e de campo. No final do expediente prolongaram a partida por mais 24 horas. Desapontamento geral. Eu estou com um único uniforme de instrução e sujo.

15/14/58 – quarta – Ontem eu soltei os dois presos. Confiei neles. Ando com o regulamento na mão aproveitando para aprender um pouco das Comunicações. À tarde mandei a turma limpar os mosquetões. Um sargento (Braga) falou sobre três assuntos para os soldados. Um subtenente possui um carro Nash muito bom e um 2º Sgt tem um bom Ford. No final do expediente fui para junto do PC do SubCmt Florenzano. Muitos oficiais à espera de notícias. Afinal veio a ordem: “Partir!”. Últimos preparativos. Mudanças de viaturas. Abastecimento. À noite radiogramas do TenCel Edson Giordano de Medeiros. Os oficiais de Engenharia e um sargento jogavam buraco. Alea jacta est! Fiat!

    24/10/58 – sexta – Estou baixado no Hospital Geral de Curitiba. No dia 16 saímos de Ponta Grossa integrando um Grupamento de Marcha. Muitos buracos na Estrada do Cerne. Muita poeira. Panes nas viaturas. As cidades iam se sucedendo. Todos os moradores admirados. São Jerônimo da Serra, Curiúva, Assaí, Santa Cecília. Acampamos próximo a Assaí. Era noite. Ficamos numa entrada de uma fazenda de café. Dormi no chão, cedendo a cama ao Capitão Guilherme. Dormi mal com medo de ser mordido por alguma cobra. Enfim amanheceu. Fiquei acompanhando o Capitão Barroso (não gosta de padres!) até que consegui enviar o CCom 3 para Maringá. À tarde após novas ordens do Major Veloso nos deslocamos. Chuva. Às vezes dormia. Os motoristas da EB 21-2267 se revezavam. Eles eram os Sargentos Manoel da Silva Ramos e Dirceu de Camargo Lemos. Chegamos enfim a Londrina. Bonita cidade rodeada de cafezais. Acampamos próximo ao Aeroporto. Era noite. AMDG.

No dia seguinte, 18, arrumamos as barracas e as estações de rádio. O Sgt Borges não conseguiu ligação com Curitiba. O Sgt Assis cansou de manipular a ST.32. Desconforto. Sujeira no corpo e uniforme. No domingo dia 19 não fui à missa. A tal Marcha da Produção não saiu porque foi dominada nos focos. Nos dias 20, 21 e 22 tivemos vida de acampamento. Tomei banho na casa do vizinho. Conversamos sobre religião o Sgt Fabro, o Sgt Liberato e eu. Os outros ouviam. História da evolução, áurea suja, integralismo. Os oficiais com vontade de regressar. Saímos às 23 horas do dia 22. Dormi em Apucarana. Estou doente da pele. O Dr Cap Abreu Atar me deu B1. Dia 23 partimos de Apucarana. Paramos no Hotel em Embaú.. Tibagi. Bonita moça a servir. Almoço para todos a Cr$60,00 por pessoa. Dormimos em Ponta Grossa. Cheguei meio tonto. Fui logo dormir mesmo sem roupa de cama. No dia 23 de outubro, quinta-feira regressamos para Curitiba. Chuva. Baixei ao Hospital Geral de Curitiba. Li uma carta da mamãe. O meu cunhado e primo Josué me vende o rádio por Cr$5.000,00. Ela quer que eu vá ao Rio em novembro. Ainda não recebi um tratamento. O músculo dói. Estou com o lado esquerdo da garganta empolado. O Ó de Almeida veio até o hospital. O Chaves também aqui se encontra. Sofreu uma queda de cavalo. Vai casar. Há também um Asp R-2 todo quebrado. Deus lhe dê felicidade. Penso na Liz e em comprar uma Lambreta do Chaves. À noite não pude dormir direito devido ao mal estar provocado pela dor. Ouvi bastante rádio e o programa “Balança, mas não cai”.

25/10/58 – sábado – Pela manhã resolvi comprar a Lambreta do Chaves por Cr$ 67.000,00. Entrada de Cr$ 25.000,00 e 14 prestações de Cr$ 3.000,00. AMDG. Comecei a ler o manual.À noite de ontem para hoje dormi mal. Pela manhã o Dr Amaury veio ver-me. Ele também faz o Curso Superior de Cultura Católica. Disse-me que estou com Herpes. Doença no músculo provocada por um vírus. Aparecem erupções na pele. À tarde experimentei a Lambreta. Após certas dificuldades iniciais devido à pressa consegui dominar ensinando-me o Chaves à dar a partida parado. O Sérgio veio me visitar. Ele havia ido ao 20 RI receber a viatura e o C.Com de mim e do Sgt Osmir. Logo chegaram o Joélcio e o Ribamar. Conversamos bastante. O Joélcio está com o carro do Ó de Almeida que tinha ido ao Rio. Ele quer comprar um carro. O Frota Leite está se mudando para um apartamento na cidade. À noite a Irmã Ilda deu-me injeções e eu dormi muito. Os 51 cardeais da Igreja Católica estão reunidos para eleger um novo Papa. Que Deus nos dê um outro santo!

26/10/58 – domingo – A Irmã acordou-me às 06:15 para a missa. Penso muito na Liz. Assisti à missa celebrada pelo Capelão da 5ª Cia Com. A arrumadeira do hospital pensando que eu tenho 17 anos. Dia chuvoso. À tarde recebi a visita do Joélcio. Veio dirigindo o carro do Ó de Almeida. À noite escrevi cartas. Uma diretamente para a mamãe e um rascunho de uma carta para a Liz. Fui dormir às 22;00. Ainda não fiquei bom.

27/10/58 – segunda – Acordei com o café. Tenho dormido bem. Pela manhã estudei Dilatação Térmica e Calorimetria. Assinei um cheque de Cr$ 24.500,00 como primeiro pagamento da Lambreta. À tarde limpei bem a Lambreta ficando bem bonita. Estudei. A filha de um Tenente reformado, Isa ofereceu-me um suquinho bem gostoso. Toquei bandolim para o Chaves. Recebi a visita da Miriam Muller, sua irmã Marly e do Joélcio. Ao tocar bandolim já não me saí bem. A Irmã deu-me injeção. Penso na Liz e em passeios de Lambreta. O novo Papa ainda não foi eleito.

28/10/58 – terça – Dia chuvoso. Pela manhã estudei Física e Álgebra. À tarde li um livro de Aléxis Carrel e limpei a Lambreta. O Cap Moraes e Barros continua com a perna doendo. Ao anoitecer recebi a visita da Miriam, da Marly e de sua mãe que me trouxeram um pedaço de bolo. O rádio dizia que havia sido eleito às 16:00 de Roma (13:00 aqui)  o novo Papa, Dom Ângelo Roncalli que tomou o nome de João XXIII. Deo Gratias, habemus Papam!

29/10/58 – quarta – Acordei. Saí um pouco, respirei e vi a Lambreta. Li a epístola de São Paulo aos Romanos que recomenda que nos amemos uns aos outros, que tenhamos fé e vivamos corretamente. Continuei lendo o livro do Aléxis Carrel “O Homem perante a vida”. O assunto básico é “Viver racionalmente” seguindo as 3 leis: 1) Conservação da vida; 2) Propagação da raça e 3) Elevação do espírito. À tarde andei de Lambreta. Recebi a visita do Sérgio Henrique. Conversamos bastante. Aproveitei e lhe dei uma carta para colocar no correio para a Liz e outra para a mamãe. Depois chegou o Cmt da 5ª Cia Com, Cap Dirceu Ribas Correa. Relatei-lhe a viagem ao norte do Paraná. Trouxe-me maças  e bananas secas. À noite conversei com o Cap Morais e Barros. Soube que na época de cadete ele fez muito. Ele era o encarregado dos shows, das modinhas e até hoje continua a fazer teatrinhos no 20RI para dar as instruções.

30/10/58 – quinta – Continuei a leitura do livro de Carrel. Falei com um capitão do CPOR. Disse-me que no norte do Paraná só ficara uma Companhia com o Capitão Barroso. Terminei o livro do Carrel. Tenho colocado ácido tânico sobre as feridas e depois ácido bórico. Estou bem melhor. O Cap Moraes foi embora. Chuva. À noite estudei Álgebra. A Irmã Maria Ilda conversou bastante sobre a vida religiosa.

31/10/58 – sexta – Enchi a caneta no tinteiro da Irmã. Dia chuvoso. O Ó de Almeida veio ao HGeC. Esteve no Rio dizendo que a condução está ruim para quem quer ir da Zona Sul para a Norte, pois tem que tomar duas conduções. O tempo lá estava chuvoso. Voltou noivo do Rio. Hoje é o dia em que tenho estudado mais Álgebra. Estou bastante confiante em passar no exame. Tenho estudado com o retrato da Liz na frente dentro de um cartão de Natal que me enviou em 1955. À tarde rezei o terço e cantei. Limpei também a Lambreta. O almoço foi muito bom. Chegou o final do mês de outubro, mês do Rosário, morreu o Papa Pio XII e temos um novo Leão XXIII. Estive no Norte do Paraná para deter a frustrada Marcha da Produção. Passou depressa. Não estudei como planejara. Agora preciso fazer o máximo, aproveitando todo o tempo. Não devo me esquecer do lema “Ad maiora natus sum!” Comprei uma Lambreta por 67 mil cruzeiros da qual cuidarei bem pois vai me facilitar a vida. Peço perdão a Deus e a Nosso Senhor pelos fracassos que tive neste mês e peço-lhes que me ajudem na batalha que travo dentro de mim pelo Ideal.

NOVEMBRO DE 1958

01/11/58 – sábado – Festa de Todos os Santos – Fui à missa das 06:30. Cantei no coro a convite da Irmã Ilda. Andei um pouco de Lambreta. O Geraldo Chaves foi a um baile ontem. O Dr. Amaury me deu alta ontem. Levei a Lambreta em uma viatura Dodge. Os oficiais jogavam basquete. À tarde levei o Sérgio à missa na Catedral. Paramos na rua XV de novembro. Comprei bastante na feira de livros, mais de Cr$1.000,00. Encontrei o Raul e o Esmanhoto. Voltamos bem, graças a Deus!.

02/11/58 domingo – Fui à missa pela manhã. Confessei-me e comunguei. I’m very happy. Tudo é feito graças à fácil condução da Lambreta. Fui até o CMP. Lá o Joélcio e o Sérgio experimentaram a Lambreta. À tarde passeei bastante pela cidade. Visitei igrejas e rezei pelas Almas do Purgatório. Um belo passeio foi para lá da igreja das Mercês. Visitei o cemitério. Segui uma garota  de um carro de chapa 6692. Aventura. Às 19:30 fui ao jantar oferecido pela Marly, irmã da Miriam. Bom jantar. Passeios de Lambreta. Voltei com o Sérgio. Eram 22:15. AMDG.

03/11/58 – segunda  - Vida normal. Ordem Unida. Como motivação: guaraná. Depois faxina. Visita do Gen Cmt do III Exército Floriano de Lima Brayner, amanhã. Prova para os Asp R-2. Termos. Vejo que é difícil estudar. Conversei bastante com o Ribamar depois do jantar sobre casamento, vida militar, lucros, cursos, etc. O Sérgio foi ler sentado na cama. Fui para o PC. Ouvindo rádio, espero a resposta da Liz, com certa ansiedade. Será que responderá?

04/11/58 – terça – Tem amanhecido cedo. Coloquei o uniforme de instrução, mas depois tive que mudar. Formatura. Desfile. Armar e desarmar baioneta. Às 16:30 saí com o Joélcio de Lambreta até a cidade. Vou tirar a carteira de motorista e motociclista se Deus quiser. Fiz um pagamento à Cibrasil. Voltamos ao quartel. À noite fui até o CMP onde jogamos basquete o Ribamar, o Ó de Almeida, o Sérgio, o Joélcio e eu. Na volta corri bastante com a Lambreta pela Avenida República Argentina chegando a 60 km/h.

05/11/58 – quarta – Manhã ensolarada. Levantei-me às 05:40. Fui para o PC. Penso na carta da Liz Houve expediente o dia todo. Saí às pressas para cuidar da minha carteira de motorista, mas faltou gasolina na Lambreta e eu me atrasei.

06/11/58 – quinta – Saímos para uma manobra. Ficamos na Defensiva. Tudo correu bem. Um soldado bebeu de novo e ficará preso 30 dias. Deveria tê-lo colocado bem no mato, mas ele ficou em Umbará e lá não resistiu à ocasião. À noite o Frota Leite brincou bastante com o Casatle. Fez frio.

07/11/58 – sexta – Tudo funcionou bem. É pena que não houvesse mais estações de rádio. Às 21:00 foram soltos dois foguetes de sinalização em cada Centro de Comunicações dando por encerrada a manobra. Graças a Deus houve aproveitamento. Recebi as duas revistas da AMAN, mas não gostei da apresentação. Esperava a carta da Liz, mas não veio.

08/11/58 – sábado – Pela manhã foram recolhidos todos os soldados e todo o material. Regressamos ao quartel. À tarde dormi até as 16:30. Deixara a Lambreta com o Figueiredo que melhorou certas coisas. À tarde fui até a casa do Luiz Fernando onde apanhei uns livros. Fui depois ao CMP. Bate-papo com garotas, oficiais e jogadores. A Nilceia que já namorou o Ó de Almeida querendo dizer que gostava muito de mim e me convidou para uma festa. Voltei para o quartel com o Joélcio. Estou triste porque não recebi a carta da Liz. O Ó de Almeida dizendo que vai casar e que a noiva já está fazendo o vestido.        Às 20:30 cheguei à casa do Paschenda  Ninguém quase estava dançando. Discos. Chope. Tomei uma coca-cola com rum. Dancei com uma professora, Claudete, com a Marly e outras. O Henrique foi de Lambreta até o quartel. Fui dormir a 01:30. O Joélcio se sentiu mal na festa.

09/11/58 – domingo – Fui à missa com o Sérgio. O padre falou em alemão.Confessei-me. Passei pelo CMP. Bonita manhã. Moças jogando basquete. Voltei para o quartel. Fui almoçar na casa da Beatriz. Cheguei em primeiro. Conversei com o pai dela sobre o Lampião e a teoria do Dr Aléxis Carrel. Boa feijoada. Depois a Beatriz dançou bastante para nós três: Joélcio, Ó de Almeida e eu. Começou com um vestido apertado. Depois colocou uma calça e uma blusa. Eu olhava para os olhos dela e ela me dizia que se sentia encabulada. Ela dança muito bem. É uma artista! Saímos depois o Ó de Almeida e eu. O Joélcio ainda ficou.Fomos até a casa da futura cunhada do Ó de Almeida. Admiraram a minha altura. Voltamos à casa da Beatriz que saiu comigo e com o Ó de Almeida de carro. Fomos até as Mercês e depois passamos pelo Portão. Ela comeu gelatina e bebeu água. Comecei a mexer nos cabelos loiros e bem bonitos dela e depois já fazia uns carinhos. Fomos até Araucária. Ela de vez em quando chora, ri e canta muito bem. Fala espanhol e italiano. Tem 24 anos. Possui umas teorias errôneas sobre o casamento. Diz que não vai se casar. Já namorou outros. Em Araucária saltou do carro. Fomos até o rio. Ela entrou e molhou os pés. Mosquitos. Ela era uma imagem quase perfeita da Liz. Escurecia. Voltamos. Paramos na estrada. Ela queria tudo o que até hoje não fizera. É uma enigmática. No Pinheirinho comeu sanduíche e bebeu coca-cola. O Ó de Almeida pediu uma garrafa de vermute que depois derramou.Ela também correspondia aos carinhos. Fomos para o Alto da rua XV de onde ficamos vendo a cidade. Conversaram bastante. O tempo passou rapidamente. Eu pensava na Liz. Quando voltamos já passava das 23:00. Foi uma ótima aventura, mas eu não gostei muito de mim.

10/11/58 – segunda – Nova semana. Faxina. Projeto de novo estande de tiro. Novos aspirantes. O sgt Osny é o novo sargento de tiro. Fui até a granja. Comi pêssegos. À noite dormi cedo. Foi só deitar e dormi até o dia seguinte.

11/11/58 – terça – Muita burocracia neste Período de Aplicação. O Capitão Cmt não gostou da minha sindicância. À tarde jogamos basquete, três contra três. Saí rapidamente para a cidade com o Joélcio. Tratamos dos papéis para tirar as carteiras de motorista e motociclista. Tiramos dinheiro no banco. Tirei retrato. Chuva. Ele ficou na cidade. Eu jantei no quartel. O novo carro do Tenente Casatle, um Hudson, está com defeito. Tempo chuvoso. Dormi até 20:00. Fui para o PC. Preparei uma instrução de RAD-200.

12/11/58 – quarta – Instrução para oficiais. À tarde fiz a manutenção dos 1.500km da Lambreta. O soldado Mazzer me ajudou. Chuva. À noite fomos até o CMP. Conferência sobre Brasília pelo Sr. Ernesto Silva. Falei com a Miriam e a Marly. O Casatle apareceu com o Hudson, que chamamos de Lord. O conferencista falou sobre tudo o que sabia de Brasília. Terminou às 23:00.Guiei um pouco o jipe na volta. 

13/11/58 – quinta – Dia de dispensa para quem foi à manobra. Treinei baliza e trânsito na cidade com o Joélcio e o cabo Silva. À tarde saí de Lambreta com o Ribamar. Fotografias. Exame de vista. Papéis. Selos. Conversas. Vistoria. Chuva. Beatriz (Diana Maclóvia). Brinco. Casamento. Hermes Macedo. Chuva. PC. Sono.

14/11/58 – sexta  - Fomos, o Ribamar, o Joélcio e eu fazer os exames de motorista e motociclista. Fui de Lambreta. Os examinadores foram bem atenciosos. Passamos, graças a Deus! À tarde instrução com o Joélcio (Map template) . Fui ao centro da cidade onde consegui regularizar tudo. Já estou com as duas carteiras provisórias e com a licença da Lambreta. Vejo como neste mundo devemos ter paciência e não desistir. AMDG!

15/11/58 – sábado – Proclamação da República. Fui com o Joélcio até o 20RI para apitar o jogo entre o 20RI e o QG mas chegamos atrasados e o jogo já começara. Voltamos. Passei pelo CMP de onde fui com o Sérgio até o alfaiate Sílvio Morais onde mandei fazer Cr$11.800,00 em roupas. À tarde, ajudado pelo soldado 199-Germanovix, equipei completamente a Lambreta. Ficou um espetáculo! Após o jantar descobrimos porque a luz trazeira não acendia. A Beatriz chegou com o Ó de Almeida. Conversei um pouco após uma negativa para o Ó de Almeida.

16/11/58 – domingo – Bonita manhã. Fomos ao CMP. Lá joguei mal basquete. Inchou o dedo da mão esquerda. A Beatriz tendo aulas com um Major. Depois joguei voleibol. O Cap Jucá levantou muito bem as bolas para eu cortar. Queimei-me bastante. À tarde dormi bastante. Jogo Vasco x Fluminense. Chuva. Fui à missa na Igreja da Ordem com o Sérgio, onde me confessei e comunguei, graças a Deus!  Estou feliz!Fomos depois falar com o Pe. Augusto que estivera no Rio de Janeiro. Depois tomamos uma gostosa vitamina, comemos pizza e voltamos para o quartel onde bordei uma estrela e dormi.

17/11/58 – segunda – Acordei às 05:55. Fui para o PC. Carta para a mamãe pronta. Atividades diferentes neste Período de Aplicação pelos soldados dos conhecimentos adquiridos no Período de Formação.

18/11/58 – terça – Treinamento para o Dia da Bandeira. À noite fui à aula de basquete com o Sr. Mr. Dayton M. Spaulding. A Lambreta muito me facilitou a vida.

19/11/58 – quarta – Dia da Bandeira – Pela manhã jogo de basquete com os Oficiais do 20 RI, sediado no bairro do Bacacheri. Ganhamos bem: 71 x 23. Os sargentos e os soldados perderam os jogos com a Cia de Saúde. Bom churrasco. Hasteamento da Bandeira . À noite fui à aula.

20/11/58 – quinta – Os soldados estão se preparando para dar baixa. À noite fui à aula.

21/11/58 – sexta – À noite fui à aula.

22/11/58 – sábado – Fui à cidade com o Henrique. À noite fui à aula.

23/11/58 – domingo – Pela manhã fui à aula no Colégio Estadual. Mr Dayton treinou as moças. No CMP joguei basquete. Almocei com a Nilcéia e outra bonitinha e a irmã. Também lá estavam o Ribamar (presidente), Frota Leite e Sérgio Henrique. A Miriam, Marly, Ó de Almeida, Joélcio e Dona Tina almoçaram em outro local. Fui à missa com o Ó de Almeida e o Sérgio.

24/11/58 – segunda – Tempo chuvoso. Reunião com o Cmt para a distribuição de missões. O soldado 199-Germano consertou a Lambreta. Fui ao Estadual. Joguei 21 (25). O Mr Dayton ensinando as moças do selecionado: Terezinha, Valda, Danacey, Laury, Sputnik e outras com o Prof. Almir que joga pelo Curitibano. Tomei vitamina com o Fritz.

25/11/58 – terça – Tempo chuvoso. Trabalho de ajardinamento no quartel. Fiz um empréstimo no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Fazendo uma sindicância. Asp Aristeu. À noite fui ao Estadual. Aula de basquete com Mr Dayton. Tempo chuvoso. A Beatriz estava lá. Depois chegaram as três do CMP ( Nilcéia, bonitinha e a irmã). Convidaram-me para um almoço no domingo, mas eu agradeci e recusei. Fui até a casa da Beatriz. Ceia. Convidou-me para um piquenique. Não aceitei alegando ter que estudar. Voltei de Lambreta.

26/11/58 – quarta – Conversei com o Cmt sobre o Tenente Frota Leite. O Sd 112 está preso. Instrução com o Frota Leite sobre o Comunismo. O Cmt me disse que estava com a perna doída por causa do treinamento de basquete. Tempo chuvoso. Estreei uma enceradeira que comprei lustrando o piso do PC. Cinema sobre basquete no Estadual. Não fui ao CMP. O Frota Leite falou sobre o Comunismo. Resolvi fazer um planejamento do estudo para a Faculdade de Engenharia.

27/11/58 – quinta – Tiro para Oficiais na Granja. Saí-me em 1º lugar com 27 pontos. À tarde treinamento de vôlei. À noite fui à última aula de basquete com Mr Dayton. Discursos de despedida. Voltei de Lambreta.

28/11/58 – sexta – Hoje acordei às 03:50 como planejara. Estudei Física. Às 10:00 fomos ao 20 RI jogar vôlei. Perdemos os 2 sets. Calor. Almoço. Recebemos um cartão do Brasil dizendo que vai ficar noivo no dia 08/12/58. Seja felicíssimo, se Deus quiser! Tenho varrido e passado enceradeira no PC que está com o chão brilhando. Não fui ao Curso Superior de Cultura Católica.

29/11/58 – sábado – Acordei às 04:20. Comecei a estudar às 05:00. Pela manhã joguei vôlei contra o QG e perdemos por 5 x 2. Torci mais o meu dedo torto da mão direita. À tarde dormi e estudei. O Joélcio e o Ó de Almeida foram ao aniversário de 15 anos a que a Beatriz convidara. Limpei a Lambreta à noite e senti o dedo doer e uma dor de barriga. Não sei o que é mas ando ruim da barriga.

30/11/58 – domingo – 1º do Advento – Acordei às 07:00 e fui à missa de Lambreta. Estudei. Dormi. Estudei.. Cheguei ao final de mais um mês, o penúltimo do ano. O ano termina e o estudo para a Faculdade inicia-se. Sinto uma vontade de estudar muito e ao mesmo tempo se intensifica a vontade de ir ao Rio rever a Liz e os parentes, enfim, descansar um pouco desta vida de quartel que agora no final me tem aborrecido um pouco  só com faxinas e com poucos soldados. Gastei  muito dinheiro, neste final de ano: roupas, Lambreta, máquina fotográfica Yashica, etc. Penso que nada foi desnecessário. Continuo a me esforçar para levar uma vida de católico. Não mais fui ao curso e agora falta-me vontade para tal. Penso em acertar todos os planos para que no ano que vem tudo corra bem, com a graça de Deus. Serei estudante de Engenharia e um ótimo Oficial do Exército  e se Deus quiser um correspondente da Liz, para não pensar muito em namorar. E depois de mais dois novembros   eu   iria para o Rio fazer a Escola Técnica do Exército!

DEZEMBRO-1958

01/12/58 – Segunda – Novo mês. Acordei às 04:40. Estudei Atrito. Saiu no Boletim Regional que não há necessidade de vestibular. O Comandante a cismar com as praças sem fazer nada. Projeto da nova Seção de Rádio. Instrução de Painéis para os oficiais. O Tenente Frota Leite achando que não se trabalha. Fui à cidade. Levei o Stephanes de Lambretta. Estou com Cr$1.000,00 no BNMG. Fui ao correio. Comprei cartões de Natal, um especial para a mamãe e outro para a Liz. Comprei um livro de músicas por Cr$400,00. Fui à Cibrasil. Perdi os cartões na volta. Regressei à cidade. Nada. Jantei e fui dormir.

02/12/58 – Terça – "vai, vende tudo o que tens e segue-me!". O Reino de Deus consiste na eficiência. Acordei às 03:50. Calor. Mas li do que estudei, pois estava com sono. Fiscalização de trabalhos. Jogo de futebol de salão com os sargentos (2 x 18 e 4 x 2) Jogo duro. À tarde instrução de sistema de autenticação. No final me esqueci de dois. Limpei o PC que ficou com boa aparência. Fui dormir às 20:30.

03/12/58 – Quarta – "Muitos são chamados mas poucos os escolhidos! Tirai o velho fermento!"Acordei às 04:20. Fui ao HgeC onde tirei radiografia do dedo direito. Fui com o Sérgio. À tarde dormi desde 12:30 até 15:00. Fui à cidade de Lambreta. Comprei dois cartões de Natal de novo. Passei pela Cibrasil e fui ao alfaiate onde deixei mais Cr$3.000,00. Voltei ao quartel. Estudei. Faço planos para indo ao Rio, rever a Liz.

04/12/58 – Quinta – Vacina bucal BCG. Documentação sobre tiro. Instrução do Joélcio sobre Central Telefônica CTL-201. Estudei música com o bandolim. Estudei Física: Movimentos. O Joélcio chegou pedindo-me dinheiro emprestado mas eu não disponho no momento. Movimento circular uniforme.

05/12/58 – Sexta – Dia normal. Extraí dados sobre tiro. Ia sair para o CSCC mas não fui. Fiquei estudando.

06/12/58 – Sábado – Apitei o jogo de volei dos sargentos. O 3º Sgt do CPOR Gabriel tratou-me de uma cárie. Fui à cidade de Lambreta. Paguei o alfaiate. Dormi até 15:30. Estudei até 16:30 e à noite até 21:30. Escutei o show da rádio Clube Paranaense, um conjunto do Night and day.

07/12/58 – Domingo – Acordei às 07:45 . Garoa. Fui para o PC onde escrevi uma carta para a mamãe. Hoje sonhei com a Lidja, com o estado do Amazonas e com a vida militar. A Lidja apareceu com lágrimas nos olhos quando eu estava em perigo de vida. Estudei, dormi e joguei basquete. Fui ao correio. Fui à missa na Igreja da ordem. Confessei-me e comunguei. Falei com o Pe. Augusto. O Pe. Pelayo vai para o Rio. Voltei de lambreta ao quartel. Estudei. O Henrique chegou à 1 hora.

08/12/58 – Segunda – Imaculada Conceição – Faz 17 anos da minha primeira comunhão. Houve expediente. À noite fui com o Sérgio até a Igreja da ordem onde comunguei. Falei com o Pe. Augusto. Tomei vitamina.

09/12/58 – Terça – Jardins e Instrução. Às 19:30 fui até o CMP ondei joguei volei. Joguei bem. Ganhamos na "negra". A Miriam e a marly lá estavam. Também estava a noiva do Ó de Almeida. Torciam bastante. Fui de lambreta com o Sérgio. Fui dormir à meia-noite.

10/12/58 – Quarta – Expediente total. Jardins. Limpeza para a visita do Ministro da Guerra. Gen Lott.

11/12/58 – Quinta – Pela manhã: faxina. À tarde fui ao desfile motorizado em homenagem ao General Lott. Senti uma dor de barriga que me custou muito a controlar.

12/12/58 – Sexta – Pela manhã últimos preparativos para a visita do Gen Lott. Fui a um almoço no 20 RI. Muito bom: vários copos, talheres e pratos. Discursos. Música. À tarde o Ministro foi à Companhia. Sorridente e bem corado. Visitou tudo, ele com a sua comitiva. Possui 47 anos de serviço e está bem conservado. À noite joguei volei no CMP.Ganhamos facilmente.

13/12/58 – Sábado – Feriado. Dia do Marinheiro. Acordei às 07:15. Fui ao BLMG pedir um em[réstimo de Cr$24.000,00. Fila. Calor. Fiz várias coisas. Após o almoço fui dormir. Às 14:30 a Lidja me telefonou. Fui para o PC.

14/12/58 – Domingo – Acordei às 05:40. Fui para o PC onde estudei. Depois fui até o CMP de Lambreta onde joguei um bom basquete. O cabo de embreagem arrebentou. À tarde dormi. Fui ao PC. Estudei. Fui à missa. O Henrique se confessou e comungou. A Lidja também. A Danacey e o juiz de óculos lá estavam. O Walter também. Conversei com a Lidja. Vai à Alemanha. Voltei para o quartel. Estudei. O Flamengo ganhou de 3 x 1 do Vasco. O Santos é o campeão paulista.

15/12/58 – Segunda – Tempo frio. Atividades superficiais. À tarde fiquei de Ajudante e Secretário. A nova estante da Seção Rádio ficou pronta. Manipulação. O Henrique, eu e o Cabo Stephanes. Fui à cidade. Apanhei as fotos. Comprei o cabo da Lambreta. Estudei das 08:00 às 09:30 com sono.

16/12/58 – Terça – Dia do Reservista – Formatura às 07:45. Hasteamento da Bandeira. Canto do Hino Nacional. Competições esportivas. Os soldados e os sargentos ganharam dos oficiais no basquetebol. À tarde troquei o cabo de mudança. Dormi cedo. Não ando bem dos intestinos.

17/12/58 – Quarta – Acho que não irei ao Rio. Dediquei-me hoje à revelação de fotografias. Terminei tarde. Tirei umas fotografias com a Lambreta usando a Yashica. Dormi cedo pois senti dor nos olhos e na cabeça. À meia-noite o Joélcio disse-me que iria buscar o carro que fora amassado.

18/12/58 – Quinta – Acordei às 04:00. Pulgas e mosquitos. Fui para o PC. Não tenho estudado bem. Já tenho revelado fotografias.

19/12/58 – Sexta – Sou o Ajudante e Secretário e tenho tido uma vida de burocrata. À noite fui a um baile no Thalia.

20/12/58 – Sábado – Ontem o Henrique foi para o Rio. Fiz uma musiquinha para ele: "Lá vai o Henrique, todo faceiro, pelo avião da Cruzeiro, para o Rio de Janeiro! Vai depressa e bem ligeiro o Carneiro, vai rever os seus parentes, que estão à sua espera, todos alegres e contentes!" À tarde dormi. Muita chuva nestes dias. À noite fui a um baile no Thalia. O Ó de Almeida nos levou de carro. Dancei com a Marly, com uma amiga de um oficial de Intendência, com uma amiga da Marly e com uma moça chamada Maria Dolores. Voltei de táxi com o Ribamar às 05:15!

21/12/58 – Domingo – Acordei às 10:45. Fui para o PC. Li o Apocalipse. No Sábado quando ia de Lambreta para a cidade, sem óculos, na rua Carneiro Lobo em dado momento em que esfregava os olhos entrei na contra-mão e vi surgir um caminhão FNM na minha frente. À hora da batida, desviei para a esquerda, subi na calçada, fui jogado fora, rolei duas vezes. Quase nada me aconteceu. Alguns arranhões. A Lambreta caída com o motor parado. A carteira no chão. Estive próximo da morte e não estava preparado. Agradeço ao Criador e ao Meu Anjo da Guarda e à Nossa Senhora. "Estote parati quia hora non putatis Filius Hominis veniet!". À tarde de hoje dormi até as 16:45. Fui à missa de Lambreta. Garoando. Confessei-me com o Pe. Raymundo e comunguei. Graças a Deus! Tomei vitamina no Savoya e um cachorro-quente (Cr$10,00). Voltei para o quartel. Fui para o PC. Ouvia o Vasvox e pensava na vida. Estou sentindo um pouco a falta de uma namorada. A Liz nem sequer respondeu ao meu cartão de Natal. A Lidja foi embora. As outras mulheres eu não as acho atraentes. Gostaria de ir ao Rio mas tenho que estudar e desempenho as funções de Ajudante e secretário. Acho que Nosso Senhor já poderia me mostrar a futura esposa. Talvez me ajude a estudar e variar um pouco, sei lá. Mas apesar de tudo farei o Vestibular de Engenharia e portanto a minha preocupação no momento deve ser "ESTUDAR". Farei um novo horário, em função do meio-expediente no quartel. Evitarei tirar horas de sono pois é prejudicial à saúde. Não irei ao Rio. Ofereço o sacrifício a Deus pelos meus pecados e para que eu passe no Vestibular, se assim Ele quiser. Ad maiora natus sum! Age quod agis!

22/12/58 – Segunda – Acordei às 06:50. Ajudância e fiscalização de jardins. À tarde recebi Cr$ 13.168,90. Deo Gratias! Fui à cidade de Lambreta, paguei o alfaiate e recebi o dinheiro na Caixa Econômica. Cumprimentei com um sorriso que foi correspondido, aquela garota do baile de Sábado apontada por um estudante de Direito. Achei-a imensamente linda e fiquei muito contente. Recebi a carteira de motorista, graças a Deus! No Banco da Lavoura de Minas Gerais um moço achou-me muito jovem para Tenente. Apanhei as camisas, comprei uma pulseira Champion e um prendedor de gravata. Comprei um canivete. Trouxe o Sgt Moreira de Lambreta. Estou muito contente. Enviei cartão de Natal para quase todos os amigos e parentes. Recebi um do Gustavo de Farias. O Tarcísio vai se casar no dia 3. Seja bastante feliz! Penso na beleza da moça que hoje encontrei na Praça Zacarias. A Beatriz convidou para o Natal na casa dela. Disse que ia.

23/12/58 – Terça – O expediente no quartel está bem encurtado. Para a FA, CO e Tesouraria todos os dias das 08:00 às 11:00 e das 13:00 às 16:00. Para os outros das 13:00 às 17:00. À noite fui à cidade onde comprei um disco Long Play de Cr$450,00 ( Waldir Calmon, nº 10). Penso na beleza da desconhecida.

24/12/58 – Quarta – Fiz uma boa manutenção na Lambreta. À noite fui até a casa da futura cunhada do ö de Almeida. Depois nos dirigimos até a casa da Beatriz. Fomos até Santa Felicidade comprar vinho. A festa foi na casa da "Gringa" (Maria Helena). Uns amazonenses e um estudante de Direito com uma conversa em que eu não podia dar opinião. Não pude ir à Missa do Galo como queria. Voltei para o quartel à 01:00.

25/12/58 – Quinta – NATAL! Acordei às 10:00. Fui ao CMP onde joguei 21. Ao meio-dia o Presidente (Ribamar) e eu fomos à casa do Sgt Leônidas Calazans onde comemos carne de carneiro, cabrito e tomamos bons vinhos. Voltei um pouco "alto". À tarde fui à Igreja da Ordem onde assisti à santa Missa e comunguei.

26/12/58 – Sexta – Vida burocrática. Recebi um cartão de Natal da Da. Tina (Hilbrantina), da Miriam e da Marly. Passei a noite a ler revistas e jornais, colhendo informações. Dia chuvoso.

27/12/58 – Sábado – Aniversário da Maria José. Dia muito bonito. Vida burocrática. Levantei-me às 07:50. Telegrama do Galaor para o Joélcio. Novo médico. Ganhei uma garrafa de vinho do Soldado Adélio. À tarde fiz uma nova organização do estudo. À noite (18:00) fomos, Ribamar, Ó de Almeida e eu ao casamento do Tenente Mário Moreira Leite com a Srta. Glória Maria. Demos voltas pela cidade.

28/12/58 – Domingo – Acordei às 08:00. Estudei. Às 18:30 fui à missa de Lambreta. Não comunguei. Voltei para o quartel. Hoje às 10:00 joguei basquete e volei no CMP.

29/12/58 – Segunda – Bonito dia. Vida burocrática. À tarde fui até a cidade para receber a carteira de motociclista. Resgatei uma passagem da Varig. Paguei a Cibrasil. Passeei de Lambreta com as duas gauchinhas. Encontrei-me com a Da. Tina que me convidou para ir ao baile do dia 31. Disse-me que a Miriam ainda não havia recebido notícias do Joélcio. Voltei para o quartel onde joguei um bom basquete com os soldados. À noite fui à colação de grau ( Bacharel em Jornalismo) da Beatriz Esther Bargen. Não falei com ela. Voltei e dormi.

30/12/58 – Terça – Acordei às 07:40. Burocracia. O Frota Leite é completamente contra os americanos. Atrasou o relatório do Cel Edson. À tarde fui até o centro. Levei a fotografia. Acharam pequena. Fui ao CMP e preenchi uma proposta. O Major Bello me facilitou bastante e um General moreno ainda mais. Amanhã deverei ir ao CMP. Encontrei a Myriam. Ainda não recebeu notícias do Joélcio. Ia voltando quando atropelei um idoso que cruzava a rua com sua bicicleta. Graças a Deus nada de grave aconteceu. Somente um furo no pneu. Paguei um pneu novo. Disse-me que trabalhava numa carpintaria e sentia um pouco de dor de cabeça. Creio que a culpa foi dele pois cruzou uma rua preferencial sem mais nem menos. Agradeço ao meu Anjo da Guarda e à minha querida Mãe do Céu, não tê-lo matado. A Lambreta também enguiçou. Arrebentou o cabo do acelerador. Amarrei um barbante. Esqueci os óculos. Voltei e encontrei. Regressei ao quartel. O Ribamar a falar nos cuidados de um casamento. O Sargento Levy Navolar a bater o relatório atrasado. Fui para o PC. Hoje recebi um cartão da Maria José. Estão com saudades.

31/12/58 – Quarta – Acordei às 07:40. Não estou querendo nada com o estudo. Fui ao ERF/5. À tarde consertei a Lambreta. Fui até o depósito do Hermes Macedo. Estava fechado. Bastante chuva! Fui de táxi com o Ribamar até o CMP. Pouca gente. Que passagem de ano! Com uma taça de champagne na mão vendo os outros a pular! Voltei às 03:30. Lá falei com a Bona Tina, a Marly, a Nilcéia, cadetes e outros. Não dancei nem pulei. Cheguei então ao final de 1958. Reli todo o diário. Confirmo que somente vale a alegria do trabalho útil. Achei interessante como fui inconstante e volúvel com a Lidja. Resolvo pensar só na Liz porque é a única em que não sinto variação . Gosto mesmo e com grande intensidade. Quando for ao Rio irei falar com ela, se Deus quiser. Acho uma boa idéia para mim tentar reatar a correspondência com a Liz, não pensar em namorar ninguém, estudar com o sacrifício do conforto, trabalhar do melhor modo, cuidar da saúde com um dever, ser um perfeito católico como essência da existência. Sempre "Ad Astra!". Neste ano que passou sofri muitas derrotas morais mas sempre brilhou a chama do ideal. Acho que não valeu a pena Ter dormido tarde nem acordado tarde. Devo ser mais metódico. Falhei um pouco na religiosidade, posso ser mais piedoso, ir mais à missa e comungar. Não cuidei muito da sáude. As metas para 1959 são: estado de graça, estudo, oração, saúde e método.

ANO DE 1959

01/01/59 - quinta - Circuncisão do Senhor - Acordei tarde. A Beatriz telefonou. Combinei um passeio de lambreta. Fui para o lado das Mercês. Exagerei nos carinhos. Na volta, quando um cachorro avançou, fingi  dar um  pontapé e a lambreta perdeu o equilíbrio, indo ao chão. Quebrei o pára-choque. Arranhei-me no braço e no pé esquerdo. Interpretei como um castigo de Nosso Senhor ao fato de eu sair com uma moça para quem eu não sinto um amor puro. Nunca mais levarei uma moça na lambreta. Só minha futura mulher. Fui à missa na Igreja da Ordem e confessei-me com o Padre Raymundo que me deu bons conselhos. Estou  triste  com a passagem de ano que fiz. Em vez de estar na   igreja e comungar para Deus me ajudar, não, em vez disso fui a bailes e passeios de lambreta. Mas ainda é tempo de mudar. O desvio para  o mal é pequeno, a aceleração é mínima. Posso deter e deterei. Nova vida! Ad maiora natus sum! Ad astra! À saída da igreja encontrei o Walter (filho), Sérgio e o Guimbala. Conversas. Voltei para o quartel.

02/01/59 – sexta - Acordei às 07:30. Vida burocrática. Sinto dor na perna esquerda devido à queda da lambreta. À tarde dormia quando me acordei e me lembrei que era a primeira sexta-feira do mês. Fui à catedral onde comunguei ficando bem reconfortado. No quartel jantei. Fui para o PC onde reli o diário e fiz novo planejamento para 1959. Possuo um rádio Philco Transistor, muito bom que troquei com o Ó de Almeida pela enceradeira Arno. AMDG!

03/01/59 – sábado – Expediente pela manhã. Estou com ferimentos no pé esquerdo e no braço esquerdo devido à queda da lambreta. Mesmo assim joguei basquete com oficiais, sargentos, cabos e soldados. À tarde fiz uma pequena manutenção na lambreta. Fui à catedral onde comunguei. Comi dois cachorros-quentes e uma vitamina (32,00). Voltei para o quartel. Lá jantei às 20:00 com o Ribamar. Li jornais. Consertei o trinco da porta do quarto dele. Ficou contente. Fui para o quarto onde ouvi o jogo Vasco 0 x Botafogo 1 (gol de Paulinho, passe do Garrincha). Não consegui rezar o terço, de tanto sono.

04/01/58 – domingo – O relógio despertou-me às 06:00 mas só me levantei às 08:30. Chovia bastante. Fiz curativos. Tomei café e fui para o PC. Eram 09:30. Estudei Desenho até 17:00. Chuva. Ia à cidade de lambreta mas a chuva me impediu. Fui na igreja do Portão onde assisti à missa e comunguei. Cheguei ao exercício nº 182 de Desenho.

05/01/59 – segunda – O despertador soou às 05:00. Só comecei a estudar às 07:30. Preciso ter mais força de vontade! O comandante Capitão Dirceu chegou hoje. Burocracia. Recebi um telegrama natalino do Felippe simbolizando a mamãe e toda a família. Também do Affonso recebi outro em que me desejava um Bom Natal e um grande vestibular. Animou-me! Dia chuvoso. Não fui à cidade. Fiquei a estudar.

06/01/59 – terça – Acordei às 06:00. Tosse. Quase não estudei. Burocracia. Dia úmido. Parece que irei para a Seção de Reparação e Suprimento. O Ó de Almeida não quer ficar com o Armazém Reembolsável.(AR). À tarde fui à missa na igreja do Portão.

07/ 01/59 – quarta – À tarde saí para fazer algumas compras.

08/01/59 – quinta – Burocracia. Tratando de receber bem os novos conscritos.

09/01/59 – sexta – À noite fiquei das 19:30 a 01:30  no Círculo Militar. Perdemos o jogo de vôlei.

10/01/59 – sábado – Burocracia. À tarde dormi e estudei. Vi que a lambreta está sem freio traseiro devido à lona gasta. Comprei no outro dia um estojo de couro para o rádio. Ele está muito bom e bonito. Um soldado me chamou para atender o telefone. Perguntei: é homem ou mulher? É homem, respondeu ele. O meu chinelo chegou ao fim. Fui atender. Era a mamãe que pedira a um homem para ligar para cá. Minha mãe! Muito obrigado, meu Deus! Ela achou melhor que eu fosse no dia seguinte para conversar com ela. Fui para o quarto. Ouvi o jogo Botafogo 1 x Vasco 2.

11/01/59 – domingo – Acordei às 07:00. Arrumei-me. Estudei um pouco. Fui de lambreta até o Palace Hotel.. Mamãe e tia Maricas. Trouxe-me o álbum com a fotografia da Liz e o livro do Mons. Thiamer Toth. Vendeu-me um ótimo binóculo por Cr$10.000,00. Fomos à missa na Catedral. Que coincidência, hoje é o Domingo da Sagrada Família e eu estou junto da minha mãezinha. Graças a Deus! Comungamos. Peço-vos Bom Jesus que abençoe a minha mãe e que eu nunca abandone o caminho em que ela me ensinou os primeiros passos. Abençoai-a e dai-lhe muita felicidade neste e no outro mundo melhor e eterno.Ela me trouxe uma carta da Maria José em que esta me contava as peripécias de uma enchente às vésperas de Natal e que o Felippe está gostando de uma moça chamada Suelly. Será que vai dar em casamento? Almoçamos no restaurante Rio Branco. Fomos para o quarto. Contaram os acontecimentos do Rio: “A Ana gostando do Élcio, o Affonso fazendo estágio em Santa Cruz, o 2º Ten Rubens já de volta com muitos presentes, o Ivan em um novo vestibular para Medicina, o Horácio muito bem na Naval, o Felippe de férias a passear de automóvel com um colega, a Margarida muita bonita como também a Dilva, a Risoleta em Paquetá, o Dr. Piedras construindo uma casa em Paquetá, o Pe. José Maria e a Raymunda trabalhando muito e recebendo muitos presentes, a R. do tio Françu a trabalhar para os pobres, o Luiz triste com a inundação que cobriu o carro dele, a Maria Helena em Niterói, a Miriam da tia Maricas, quando vê a Liz na televisão dizendo: essa é que a do Felinto!, o Gilberto e a Maria Helena tiveram mais uma menina no dia do aniversário da Gildinha (09 Jan) que vai se chamar Renata.”  Voltei para o quartel.

12/01/59 – segunda – Dia normal. À noite fui falar com a mamãe. Deixei o rádio com ela.

13/01/59 – terça – Estou estudando para o Vestibular.

14/01/59 – quarta – Desde domingo passado chegaram 40 convocados do Norte do Paraná. Esperei-os na estação do Portão. Chegaram a 01:50 de segunda-feira. Fui de lambreta atrás de um que pensava ter seguido no trem. Não o encontrei na estação. Os novos estão trabalhando para o quartel nos serviços gerais. Hoje à tarde tiveram expediente. Saí com o Ó de Almeida que passeou com a mamãe e a tia Maricas pelos melhores lugares de Curitiba. O Ó de Almeida foi muito prestativo! Voltei para o quartel. Deixara a chave no carro do Ó de Almeida. Fiquei no quarto do Ribamar a estudar  e ouvia o jogo Flamengo x Botafogo. Quando fui dormir o Flamengo vencia por 1 x 0.

15/01/59 – quinta – O jogo de ontem terminou 2 x 2. Às 11:00 saí de lambreta para o centro para tratar dos papéis. À tarde ainda falei com a mamãe e a tia Maricas. Molhei-me bastante na chuva. Despedi-me pois amanhã elas seguem para Lages.

16/01/59 – sexta – Às 11:00 tenho saído de lambreta. Hoje ia faltando gasolina. Calor. À noite fui ao CMP de onde fui no carro do Capitão Lenine até o ginásio do 20º RI. Lá encontrei o Capitão Camargo que terminou há pouco o curso na Escola de Educação Física do Exército. Joguei vôlei e perdi. O Ó de Almeida me trouxe de volta até o CMP de onde voltei de lambreta. Ela estava completamente sem freio. Graças a Deus a 00:15 estava dormindo. Tempo chuvoso. Com saudades da Liz.

17/01/59 – sábado – Lidando com os convocados. À tarde, auxiliado pelo Figueiredo consertei a lambreta. O trem com novos convocados atrasou de novo. Dormi. Escrevi uma carta. Estudei.

18/01/59 – domingo – O Henrique chegou do Rio. Fui a missa na igreja da Ordem.

19/01/59 – segunda – Lidando com os convocados.

20/01/59 – terça – Bonita vitória jogando vôlei.

21/01/59 – quarta – Nova arrumação no quarto.

22/01/59 – quinta – Derrota no basquete à noite.

23/01/59 – sexta – Derrota no vôlei à noite.

24/01/59 – sábado – Pela manhã houve numeração dos soldados e distribuição pelos pelotões e seções. Fui até o CPOR onde a 5ª Cia Com tinha como missão instalar o serviço de alto-falantes. Houve o Compromisso à Bandeira dos soldados do Grupamento “B”. Lá estavam vários oficiais conhecidos. Voltei ao quartel onde ainda dirigi algumas palavras aos soldados e tirei fotografias. À tarde dormi e depois com o Sérgio limpamos e arrumamos o quarto o que continuei a fazer até a noite. O Ribamar acha a Liz feia. O Ó de Almeida teve uma recaída de malária. O Sérgio e o Ribamar foram à cidade. Continuei a arrumar o quarto. O Ó de Almeida logo ficou bom. Emprestou-me uma régua de cálculo. Ele também arrumava o quarto dele. Hoje não estudei e fui dormir.

25/01/59 – domingo – Acordei às 07:00. Tomei café. Bonito dia e o sol entrando pela janela do quarto. Lia o livro do Mons. Toth. Amanhã começa a instrução dos soldados. O Sérgio foi ao CMP com o Ó de Almeida e o Ribamar. À tarde fui à Igreja da Ordem onde me confessei com o Pe. Raymundo e comunguei. Falei com o Pe. Augusto. Fui com o Sérgio até o CMP. Final de matinée. Lá estavam o Frota Leite, o Ribamar, o Cel Alípio e o Cap Camargo. Voltamos para o quartel.

26/01/59 – segunda – Ontem o Joélcio chegou todo animado. Hoje começa a instrução . Dei instrução sobre armamento. Enviaram uma estação de rádio para uma cidade do Paraná. Fui à cidade de lambreta: dentista, abreugrafia, cabo para a lambreta e óculos. Conversei com três moças enquanto esperava a vez no dentista, Dr. Cavanha: Ieda, Ione e Leny. Estudei Geometria. Jantei no quartel. Dormi cedo após rezar o terço. Lua. Calor.

27/01/59 – terça – Acordei às 04:00. Estudei Química. Educação Física. Instrução. À tarde levei o Joélcio para ver o carro dele. Consertei a mudança. Fui ao 20º RI jogar vôlei. Perdemos na “negra”. Eu estava ruim. O ó de Almeida apareceu com a Lina. Fui dormir às 23:00.

28/01/59 – quarta – Acordei às 06:10. Dia bonito. Não deu para estudar. O comandante não gostou da desobediência a uma ordem de amarrar uniformemente os coturnos. O ambiente não está bom em relação ao comandante. Penso que se deve ao fato de não saber lidar com os subordinados. Enfim é mesmo difícil contentar a todos. Dei Ginástica Básica. À tarde foram tiradas as fotografias dos soldados. Fui à cidade de lambreta com o Sérgio. Demora no Banco. Vi um ex-colega da EPSP. Dentista. Sono. Quartel. Jantar. Bandolim. Calor. Estudo. Amanhã estarei de Oficial de Dia.

29/01/59 – quinta – Estou de Oficial de Dia tendo como Adjunto o Sgt Levy. Tudo normal. Consertei a lambreta auxiliado pelo Sérgio, Plombom e Moreira. Foi feita a lubrificação dos 3.000km.

30/01/59 – sexta – Instrução. À noite jogamos voleibol. Tenho uma boa torcida por parte de uns garotos e meninas. Que barulho! A luz falhou. Empate de 1 x 1.

31/01/59 – sábado – Questões de Tiro. Fotos. Ambiente hostil ao comandante. Dormi. Fui ao CMP. O Joélcio a cuidar do seu carro. Choveu. Ia com o Sgt Joel de lambreta quando em uma curva acelerei com o chão molhado e tive mais uma queda. Graças a Deus nada de grave. Fui ao CMP. Fiz exame médico para a piscina. Não passei devido a fungos entre os dedos. Vi a Aglaé e a lourinha Naldecy do basquete. Voltei para o quartel molhando-me bastante na chuva. Hoje haveria um baile de carnaval no CMP. No fundo sentia vontade de ir. Mas estava cansado e resolvi ir dormir para estudar no dia seguinte. Termina assim o primeiro mês de 1959 em que não fiquei muito satisfeito comigo mesmo. Faltam 15 dias para o Vestibular e eu sinto uma necessidade grande de estudar. Hei de passar, se Deus me ajudar. Vou dormir só 4 horas por noite das 22:00 às 02:00. Não vou jogar mais vôlei nem basquete.Não vou sair do quartel sem necessidade. Vou evitar qualquer esforço físico desnecessário. Vou me alimentar bem. Vou conversar pouco e não ler revistas. Muita concentração. Estudo e oração!

01/02/59 – domingo – Acordei às 06:30. Meditação. Bandolim. Li o livro do Mons. Tiamer Toth. Café com o Tavares. Bandolim. Escrevi este diário até 09:15. Em seguida, com a graça de Deus comecei a arrancada final. Até o dia deste meu diário quando espero registrar a minha vitória. AMDG.

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21/02/59 – sábado – Hoje terminei de fazer o Concurso de Habilitação à Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. Ainda não sei o resultado e no íntimo acho que passei, mas só vou vibrar quando ler que fui aprovado. Agradeço a Deus e as orações de todos os que por mim pediram. Consegui estudar bastante deixando a preguiça de lado. A semana de 16 a 21 e passei dispensado pelo Sr. Capitão Dirceu Ribas Correa, o que muito me facilitou a vitória. Portanto mais uma das metas conseguidas, “entrar para a Faculdade de Engenharia” e agora apareceu uma nova: “sair o melhor engenheiro que eu puder!”. Nestes dias eu tenho estudado na biblioteca do quartel. À noite o soldado me levava um chá. Passei os dias de Carnaval a estudar e vejo que lucrei muito com isto, graças a Deus! A mamãe esteve na volta de Lages de novo aqui em Curitiba. Infelizmente não pude passar muito tempo com ela, mas agradeço a Deus a graça de a ter visto. Aos domingos sempre tenho ido à missa na Igreja da Ordem. O Joélcio, a Miriam e a Marly também têm ido. O Joélcio foi hoje à cidade da Lapa para apitar um jogo. A Lambreta está ótima. O soldado Cassorla tem cuidado dela. Na próxima segunda-feira começa o Período de Formação dos soldados em que darei muitas instruções. Estou sentindo a falta de uma namorada mas o estudo não tem me deixado tempo para pensar nisso. Ainda me lembro com saudades da Liz que não respondeu ao meu cartão de felicitações.

01/03/59 – domingo – Fui ao CMP. Joguei basquete e depois da pelada fui para a piscina onde matei as saudades da ilha de Paquetá. Fazia um dia muito bonito. No quartel tivemos o almoço de despedida do Jorge Abreu do Ó de Almeida. “Cubana”e vinho. Tora. Escrevi uma carta para o Rio noticiando mais uma vez que passei para a faculdade. Fui à missa na igreja da Ordem onde conversei com o Padre Augusto, meu padrinho de crisma. Passei depois pelo CMP e depois regressei ao quartel após tomar vitamina.

02/03/59 – segunda  À tarde fui ao centro com o Valfrido. Paguei a Cibrasil e me inscrevi na Faculdade. À noite fui para o PC onde preparei-me para a instrução de Tiro.

03/03/59 – terça – Passei o dia na granja onde dei a instrução de Tiro para o CFG (Curso de Formação de Graduados). Os soldados estão ruins. À tarde houve Tiro para os Oficiais. O Comandante, Cap Dirceu vai começar a exigir a posição de sentido e a apresentação dos oficiais. O ambiente não é dos melhores. À noite fui de lambreta até a casa do advogado Mazzaroppi levar um papel do Ó de Almeida. O Sérgio ficou a estudar. O Ó de Almeida está a preparar as malas para a viagem para o Rio e dizendo que às vezes dá vontade de voltar atrás. Que por mais que se planeje sempre na hora há muita coisa para ser resolvida. O Joélcio e o Ribamar deram uma saída. E eu? Eu estou na expectativa. O Capitão Lybio King me disse que o curso na Faculdade é duro. Estou como que retendo todo o meu sentimento de amar para alguém que um dia aparecerá. Continuo plantando, para colher mais tarde. Vou me aperfeiçoar moral e intelectualmente para ser o máximo e minha esposa e meus futuros filhos hão de ficar orgulhosos com o marido e pai que terão, com a graça de Deus! Às vezes sinto vontade  de acabar com qualquer restrição moral e começar a conviver com mulheres para me satisfazer sexualmente. Entretanto seguindo um conselho do Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara vou dizendo: amanhã,,, amanhã.... Vou protelando e assim consigo ir rechaçando este desejo forte e egoísta. E, com o auxílio de Deus eu hei de conseguir alcançar o cimo da vitória e então cantarei louvores a Deus, meu único e supremo FIM! Deo Gratias!

04/03/59 – quarta  - Pela manhã regi o canto do Hino à Bandeira. Houve um jogo de basquetebol entre os oficiais. Em dado momento o jogo começou a endurecer e devido a uma cama de gato cai ma horizontal no cimento tendo ficado com a perna esquerda muito dolorida. Fiquei deitado o mais que pude. Fiat voluntas Dei.

05/03/59 – quinta – Fui à granja onde executei o tiro com os recrutas. À noite não fui ao treino de basquete e fui dormir cedo.

06/03/59 – sexta – Comecei a passar o material sob a minha responsabilidade. Instrução. Arrumação de mochilas. Dormi cedo.

 07/03/59 – sábado – Fui à Faculdade onde me matriculei pagando Cr$1.260,00. Encontrei o Werner e o Ribas. O Emílio é um indivíduo que maceteia tudo. .Dirigi-me ao 20 RI. Encontrei o Major Bello. Houve Tiro. Música. Oficiais no esporte. Cafezinho. Ônibus. Comentários sobre o comandante da Companhia. Faxina. O Joélcio e o Sérgio a torar. Também descansei um pouco. Estou quase bom da perna graças a Deus! À tarde fui até a casa da Miriam que completava seus 18 anos. Dancei com quase todas as moças. A casa é um pouco pequena. Treinei tango com a Marli mas não me sai bem. Voltei com o Sérgio às 24:00.

08/03/59 – domingo – Basquete no CMP. Piscina. Banho de sol. Óculos. Pedro Paulo. Almoço no quartel no quartel com o Luiz Cavalcanti. Tora. Mudanças. Igreja da Ordem. Confissão. Comunhão. Pe. Augusto. Quartel. Vitamina. Dormir.

09/03/59 – segunda – À tarde fui até a cidade onde comprei remédio. Passei pela Faculdade. Fui ao alfaiate e ao CMP. Dormi às 22:00.

10/03/59 – terça – Dia cheio. Instrução. Fui ao CMP onde nadei bastante. A chuva chegou e eu tive que voltar para o quartel não podendo treinar basquete. O Capitão Lybio King me disse que propusera o meu nome para servir no CPOR de Curitiba!?

11/03/59 – quarta – Dia chuvoso. Instrução. O Frei Silvestre falou sobre o Comunismo.À tarde houve faxina. Passei a carga do Pelotão de Exploração para o 1º Tenente Luiz Cavalcanti. O Ribamar me mostrou uma fotografia da Liz na capa da Manchete. Achou-a feia. Eu porém fiquei com mais saudade dela. Afixei a fotografia em frente a minha cama.Tenho dentro de mim uma grande esperança  de um dia voltar a falar com ela. Ofereço a Deus este sacrifício de não poder falar com ela para que Ele a proteja da corrupção do meio onde vive.

12/03/59 – quinta – Dia frio. Fui à granja onde fiscalizei o Tiro dos soldados. Destruí um rojão que falhara em 1958, graças a Deus! O resultados estão melhores. À noite fui até o CMP porém faltava luz e tive que regressar. Ainda com saudades da Liz. O Joélcio e o Frota Leite me disseram que no jogo de oficiais tinha havido muita briga.

13/03/59 – sexta – Dia inteiramente dedicado aos preparativos da festa do dia 16. Passei  um pouco da carga da Seção Telefônica e Telegráfica. Recebi uma carta da minha irmã Maria José. As notícias são boas. Provável casamento da minha sobrinha Anna e possível casamento do meu irmão Felippe. Felicitações de todos pela vitória no vestibular. Dormi cedo.

14/03/59 – sábado – Dia inteiramente dedicado à preparação da festa do dia 16. À noite houve um jantar comemorativo dos aniversários do Ribamar e do Joélcio, oficialato do Werner e entrada para a Faculdade. Saiu um pouco caro! Ia haver um Ice Cream dançante no CMP. Não fui devido estar na Quaresma e já ser 22:45.

15/03/59 – domingo – Fui ao CMP. Joguei basquete. Time da 5ª Cia. Pratiquei sozinho. Nadei 300 metros, sendo 100 de crawl, 100 de costas e 100 de peito. Voltei ao quartel. Tora. Inspecionei o quartel para amanhã. Cometários de que no Ice Cream  Dançante de ontem tinha havido pouca decência por parte de uma bailarina francesa. Dia bonito. À tarde fui à missa e conversei com o Pe. Augusto em portunhol. Comunguei. Voltei para o quartel.

16/03/59 – segunda – Comemoração do aniversário da 5ª Companhia de Comunicações. A canção da Companhia saiu bem, graças a Deus! Missa. Comunguei. Desfile. Jogos. Perdemos o basquete para o CPOR e vencemos do 20 RI. Precisamos de maior controle de bola e rapidez. Churrasco. Havia muitos oficiais. Show. Tora. Alguns a jogar.Comentários sobre uma possível ida ao Rio.( Liz, Cristina, Aracaju...). É um estado de espírito interessante este que sucede a festas, cinemas, farras,.. (depressão ou insatisfação).

17/03/59 – terça – Hoje o meu irmão Luiz estava completando 30 anos. Dia normal. Instrução. Fiz a marcha dos 8 km. A lambreta ficou em uma oficina pois o Werner ficou com receio de que a roda caísse. À noite o SS saiu. Brincaram com o Sérgio Henrique. Fui ao CMP. Treinei basquete. Não voltei no automóvel do Luiz Cavalcanti. 

18/03/59 – quarta – Terminei de passar a carga da Seção Rádio, graças a Deus! À tarde saí com o Sérgio. Fizemos várias coisas úteis. Cismei de brincar com as garotas que me atendiam. Reservamos as passagens para o Rio. Viva! Acho que vou ficar mo 2º ano. What a pity! Joguei xadrez com o Sérgio. Frio. A lambreta já está no quartel.

19/03/59 – quinta – Fui para a granja onde fiscalizei a execução do Tiro pelos soldados do CFG. Bom rendimento, graças a Deus! Ao jantar o Frota Leite contou fatos da família dele. Um cachorro mordeu o pai dele. Planejamento da ida ao Rio. O Joélcio me mostrou um telegrama bem comprido que recebera do pai dele. Também a Cristina não se esquecera dele. O Sérgio a ouvir o seu rádio e o Joélcio a ler PN. O Luiz entrou no quarto. (Teacher in West Point?).

20/03/59 – sexta – Instrução.

21/03/59 – sábado – Marcha de 12 km. À tarde fomos para o Rio de Janeiro...Mudamos de avião. Viajei ao lado de uma moça chamada Claudete. Fiquei meio receoso pois era a minha primeira viagem de avião. São Paulo. Rio. Noite. Fui ao Night and Day. Deixei o meu rádio com o porteiro que gostou de ouvir o jogo do Brasil. Fui até o bairro do Jóquei Club até o apartamento da Liz mas me informaram que ela não aparecia mais lá. Regressei ao Night and Day. Passou o Grande Otelo, achei-o bem baixo. Passou a Norma Benguel com um pinta de rico.Enfim apareceu a Liz. Fazia um gesto de quem tinha torcido o pé e custou a me reconhecer e disse-me: Olá, você aqui! Como vai? Não te esperava aqui! Eu não gostei do tipo do penteado dela. Disse-me que estava com a carta que eu lhe escrevera na bolsa e ainda não tinha respondido. Achou-me com boa aparência. Reclamei do dia 6 de janeiro e ela me disse que não sabia o que fazer e tivera que escolher. Deu-me o telefone e pediu que eu lhe telefonasse na terça-feira. Eu queria esperar que o show terminasse à 01:00 mas ela me disse que estava noiva. A mãe a aconselhara e o rapaz gostava muito dela. Fiquei um pouco chateado mas de qualquer maneira este encontro me agradou e eu agradeço a Deus ter acontecido. Pude rever a Liz apesar de ter guardado a impressão de que ela já não estava  tão bonita. Ela se despediu dizendo estar na hora do show e dizendo para eu ligar para ela na terça-feira.

22/03/59 – domingo – Almocei na casa da minha irmã  Risoleta. Toquei piano.  Novidades. Fui à missa da tarde. Encontrei o Iacri na Praça Saenz Pena. Ele me disse que o Lobão estava em Suez e o Bonetti em Joinville. Encontrei a minha prima Leia, o filho Jorge e o marido Manoel. Folheei uns livros. Revi o Oscar e o Cacá. Encontrei o Duca. A sogra dele Da. Madalena está com câncer.

23/03/59 – segunda – Fui a Niterói. Fui à praia e nadei. Vi TV. Na expectativa do telefonema pa a Liz. Fiz trabalhos em casa. O telefone que ela me deu é da casa do noivo em Ipanema.

24/03/59 – terça – À tarde fui à cidade. Encontrei-me com o Joélcio acompanhado de seu pai. Laranjadas. Admirei a construção do edifício Avenida Central. Telefonei bastante para o número dado 47 7526. Às vezes o noivo me atendia e às vezes a empregada. Jantei na cidade. Fui ao cinema passando antes pela Biblioteca. Após o filme fui já meio decepcionado com tudo até o Night and Day onde deixei duas lembranças para a Liz. Voltei para casa a cantarolar.. Que vida!?

25/03/59 – quarta – Fui para Paquetá. Antes telefonei para o Joélcio que me disse que não iria. O  tempo não está ajudando. Na lancha encontrei a Risoleta com o Oscarzinho, a Ana, a Margarida, a Violeta, a Vera e a empregada. Levei o rádio portátil. Fui lendo uma Revista do Rádio. Fui à praia. Nadei bastante sozinho e um pouco com o Oscarzinho.À tarde me encontrei com a Vera Lúcia e à noite conversamos na Ponte. Revi rostos conhecidos.

26/03/59 – Quinta-feira Santa – Fui à praia. Conversei com a Vera Lúcia. Dia de sol. Passeamos à tarde de bicicleta e conversamos à noite na Ponte. Jogo do Brasil 3 x Uruguai 1. Brigas.

27/03/59 – Sexta-feira Santa – Fui à Ponte com o Oscarzinho. Comprei pão e uma rosca para ele. Fui à casa da Sandra Miriam (aquela do carro cadilac rabo de peixe com chofer). Lá estavam alguns rapazes entre os quais o Carlos que havia namorado a Cléa. Conversamos sobre o jogo de futebol de ontem. Fui à praia. Brinquei com a Patrícia, o Cláudio, o Fafá e a Silvia. Fui até a pedra ao lado da “Carmen Miranda” com a Margarida e a Verinha. Voltei à casa da Sandra Miriam onde joguei vôlei três vezes. Comentaram a minha altura. Voltei à praia onde ainda nadei um pouco. Ando retardando um exame de consciência para pesar estes dias que se passaram. Ando meio desorientado espiritualmente. A Liz me prejudicou um pouco. Agora tenho que esquecê-la. Tenho conversado coma Vera Lucia irmã da Irene mas devido ao meu regresso para Curitiba não tenho nenhum projeto com ela. À tarde passeamos de bicicleta levando o rádio comigo. A aliança paraguaia que ela usa serve para a gente se demorar mais tempo num lugar. A chuva nos atrapalha.

28/03/59 – Sábado Santo – Fui à praia. Despedidas. Voltei para o Rio. Fui até a Catedral. Tudo igual ao meu tempo de s - narista. Conversei com os antigos colegas. Dom Jaime me achou com boa aparência. Comunguei.

29/03/59 – Domingo de Páscoa – Regresso a Curitiba. Graças a Deus tudo bem. Recordações e entusiasmo.

05/04/59 – domingo – Manobra em Ponta Grossa. Saímos às 06:00. Viagem com pouco atraso. Reparações. COC – Centro de Operações Conjuntas. CDAT – Centro de Direção Aero-Tático. Missa. Gerador. Banho de rio. Revi colegas meus e do Felippe. Tudo normal e planejado. Estudei rádio.

11/04/59 – sábado – Demonstração no curral. Joélcio e eu conversamos com as normalistas. Os jatos impressionavam com suas manobras. Conversei com o Major Morais. Resolvi: “Serei Engenheiro Militar, se Deus quiser!”

12/04/59 – domingo – Acordamos às 05:30. O gerador não funcionou. Arrumamos tudo e voltamos para Curitiba. Saímos às 08:00 e chegamos às 13:15. Alguns atrasos. O Sérgio estava deitado.

13/04/59 – segunda – Fui à Universidade. Aulas. Achei que os professores falam baixo. Almocei no quartel. À tarde  voltei à cidade. Encontrei o Pimpão. Tive aula de Analítica. Conheci um colega filho de um Coronel que serve em Ponta Grossa.

14/04/59 – terça – Manutenção do material no quartel. Parte burocrática. Jogo de basquete com o Palestra, 93x37.

15/04/59 – quarta – Preparativos para exercícios na granja. À tarde fui à cidade com o Tavares que me emprestou 9.000,00. Gastei em material de rádio.

16/04/59 – quinta – Marcha de 8km até a granja. Aprendi o código Morse. Andei como infante. Perdi minha caneta Parker 61. Fiquei meio chateado com a perda. Houve demonstração feita pelo Ten Casatle . Patrulhas.

17/04/59 – sexta – Ao amanhecer levantei-me aos gritos do Pelotão de Exploração. Corri e armei o Pelotão de Construção. Infelizmente demorei-me um pouco. Houve incidentes tendo o soldado Davi atirado no rosto de outro soldado. Um sargento atirou no rosto do Antonio queimando-o. Vejo que é arriscado distribuir munição de festim. Houve tiro para sargentos e oficiais. Fui para o quartel. Preparei-me rapidamente e fomos de ônibus, o Joélcio e eu até Campo Largo. Fundiu a biela.Comprei uma tesourinha de unhas. Tomamos outro ônibus. Dormi. O Joélcio a conversar sobre motor e basquete. Chegamos a Ponta Grossa. O táxi é caro até a cidade de Castro (Cr$800,00). Apareceu o ônibus da Artilharia. Fomos até Castro. Jogo com Guarani de Ponta Grossa. Jogo rápido. Gritos do Osman. Entrei no final. No primeiro arremesso: cesta! Depois houve um baile.

18/04/59 – sábado – Foi grande a hospitalidade dos artilheiros. Competição de Tiro. Basquetebol. Apitei dois jogos e apontei outro. Despedidas. Regresso. Dormi na viagem. O Fluminense jogava com o Santos.

19/04/59 – domingo – Fui ao CMP. Bom jogo de basquete com a Aglaé. Piscina. Almoço. O Frota Leite a falar no rigor que se deve ter com o subordinado. Fui à Missa. Falei com o Pe. Augusto. Fui de novo ao CMO. Falei com o Pimpão, o Sérgio e Frota Leite. Conversa sobre pára-quedismo. Fomos até o apartamento do Frota Leite. Fui ao baile no CMP onde dancei com a Maria Dolores que estava de vestido azul, moda saco. Em dado momento ela não quis mais dançar alegando estar com calor. Andei um pouco e conversei com os amigos e ainda dancei mais um pouco. Voltei à 01:00. A Lambreta está boa.

20/04/59 - segunda – Reajustes. Reuniões. Faxina. Levei o rádio que comprei do Josué para o quarto. Não tenho estudado.

21/04/59 – terça – Inconfidência Mineira. Feriado. Fomos ao CMP. Basquete. Torci o pé. Piscina. Acho que as filhas do Coronel Edson estão gostando de mim mas não tenho falado com elas porque são meninas ainda.Regressei ao quartel. Almoço. Li a Imitação de Cristo. O Cassorla a fazer a manutenção da lambreta. Dormi.

22/04/59 – quarta – Dia normal.

23/04/59 – quinta – Instrução.

24/04/59 – sexta - Instrução.

25/04/59 – sábado – “Perante a Bandeira do Brasil e pela minha honra prometo cumprir com os deveres de Oficial do Exército Brasileiro e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria!” Hoje recebi Cr$16.000,00. Cuidei da documentação de Tiro. À noite joguei basquete no Internato. O Joélcio chegou tarde pois saira com o Ó de Almeida e esposa.

26/04/59 – domingo – Dia chuvoso. À noite fui à Missa. Falei com o Pe. Augusto e comunguei.

27/04/59 – segunda – Instrução. Fui à aula de Analítica. Haverá prova de Descritiva amanhã. Passei pela casa do Allan. Comprei polígrafos. Estou com medo de enfrentar a Engenharia. O Cel Alípio também fez este curso quando era da 5ª Cia Com.

28/04/59 – terça – Este dia vai ser descontado das minhas férias pois fui fazer a prova de Descritiva (Axonometria ortogonal e oblíqua). Fiz boa prova, graças a Deus. Fiz várias coisas na cidade. Depositei 4.000,00. Enviei 3.000,00 para Castro. 300,00 na Cibrasil. Assinei a revista Antenna. Comprei um cadeado para a lambreta que está muito boa. Comprei fazenda para um calção. À noite houve basquete no 20RI. Ganhamos do Ícaro.

29/04/59 – quarta – Instrução. Canto da Companhia. Educação Física. Discussão no vôlei. O Zambrini lavou a lambreta. Tora. Diário. Fichário.

 30/04/59 – quinta – Fui à Faculdade. O Ribamar foi promovido a Capitão. Fui à Biblioteca. Estudei Física (Teoria dos Erros e Cálculo Diferencial). Prova. Muita conversa. Saí-me bem, graças a Deus. Quartel. CMP. Treino da equipe da 5ª Cia Com. Terminado mais um mês. Sinto falta de tempo. Tudo bem, graças a Deus!

   01/05/59 – sexta – Dia do Trabalho – Acordamos cedo. Tomamos um ônibus muito pequeno e velho. Acabou parando na estrada. Regressamos até Araucária. A igreja em construção. Novo ônibus, carroceria Carbrasa e motor Mercedes Benz, muito bom. Viagem rápida. Afinal conheci a cidade de São Mateus do Sul. Entramos em estrada não asfaltada. Travessia do Rio Iguaçu. Ponte bonita da estrada de ferro. Chegamos em União da Vitória e Porto União. Quartel do 5º Batalhão de Engenharia de Combate. Todo de madeira. Cor vermelha escuro e cal. Ficamos na enfermaria. Aspirantes tirando serviço de Oficial de Dia. Fiquei no quartel e li quase todo o livro dos Nacionalistas em que havia críticas ao Papa Pio XII, ao Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara e outros. Luz fraca.

 02/05/59 – sábado – Jogamos vôlei e basquete com a equipe do quartel. Perdemos o vôlei por azar e ganhamos o basquete de 50x49. Falei muito em campo. Churrasco. Bolinhas de pão. Nacionalistas. Violão. Futebol dos sargentos (4x1). À noite (sem graça) e basquete. Perdemos o basquete acho que por falta de um bom capitão. Carro da Doda. Casa da Célia. Laurinha de traços bonitos. Afinal às 02:00 fomos dormir.

03/05/59 – domingo – Regresso a Curitiba. Muito boa viagem. Páscoa dos Militares. Um Major falou demais. Procissão até o CMP. Revi colegas. Festa na casa do Tenente Aristeu. Fui com o Sérgio. No ônibus revi aquela loirinha que tempos atrás havia dito para alguém “ignorante” forçando no “t” como os paranaenses. Na festinha logo que vi uma garota gostei dela. O Aristeu me apresentou. O nome dela era Sheila. Dançamos muito. Gostei muito da Sheila Lourdes de Souza. Ela mora na rua Almirante Gonçalves, 830. Dei-lhe o meu telefone. Gostei muito dela. A festa foi animada. O Tem Müller estava impossível. 

04/05/59 – segunda – Fui para a Faculdade. Estudei na biblioteca. Assisti a uma aula. Encontrei-me com antigos colegas. Almocei no Centro (Cr$130,00). Fiz a prova de Analítica não tendo me saído muito bem. Preciso estudar mais. Voltei para o quartel e verifiquei onde mora a Sheila. Estou muito contente em poder ficar gostando de alguém. Estudei Cálculo. Fiz uma ceia reforçada.

05/05/59 – terça – Instrução sem ficha de sessão. Educação Física mal dada. Até à noite fiquei com os soldados a limpar as armas para a inspeção. Saudades da Sheila. Biblioteca.

06/05/59 – quarta – Instrução. Mais uma vez atrasado fiquei sem uma instrução de oficiais (Painéis). Basquetebol entre Oficiais. Bom jogo. À tarde dormi. Limpeza de armamento. Fui até a casa da Sheila. Bonita casa. Conversamos uns vinte minutos porque eu tinha aula às 18:00. Fui apresentado à Sra Maria Rodrigues de Souza mãe dela. O Sr Osvaldo Scant de Souza estava viajando. Quatro cachorrinhos na casa. Havia uma piano na sala. A Sheila está no quarto ano e o irmão dela no oitavo. Ela vai parar este ano. Fui à aula. Às 19:00 fui de novo conversar com a Sheila. O irmão saíra para ir se confessar. A Sheila é católica mas estuda num colégio evangélico. Está no quarto ano ginasial. Nasceu na casa do lado em outubro de 1944. O avô é português e ela é a queridinha dele. Aos domingos à tarde vai sempre à casa da avó. Depois voltei à Faculdade onde assisti à aula de Química Prática. Havia uma Conferência sobre o Tratado de Roboré. Ouvi um pouco na rua. Tomei uma vitamina com um sanduíche Bauru. Regressei ao quartel. Frio.

07/05/59 – quinta – Ascensão do Senhor – O Sérgio e eu fomos até o Centro. Prossegui até o Colégio Santa Maria. Comunguei. Páscoa dos Estudantes Universitários. Conversei com conhecidos. Regressei ao quartel após ter comprado um Terço para dar de presente para a mamãe (Cr$1.000,00). Dormi. Saí de novo e fui até o Alto da Rua XV à casa de um colega onde apanhei um caderno. Resolvi ir falar com a Sheila. Em chegando à casa dela quem me atendeu foi a Dona Maria. Conversei bastante com ela pois a Sheila havia saído. Disse-me que tem muitos ciúmes da filha que é a única. Logo chegou o Ozires , irmão mais velho da Sheila (21 anos). Assistira ao filme “Os Irmãos Karamazov”. Também conversei com ele. Em seguida ele me convidou para entrar na casa e tocou umas duas músicas ao piano. Depois chegou a Sheila e conversamos no lado de fora da casa. Fui depois à casa do Allan onde copiei as matérias de Cálculo e Química. Dirigi-me depois ao CMP Encontrei o Abreu. Jantei e regressei ao quartel. Frio. O Sérgio dormia. Agradeci a Deus ter conhecido a Sheila.

08/05/59 – sexta – Instruções dadas e recebidas. Educação Física: jogo de bola militar. Às 16:00 jogamos basquete com colegas do 1º ano de Engenharia. Terminou às 18:00. Perdi a aula de Geometria Analítica. O Osíris me ligou dizendo que eu poderia comprar um convite para o Baile dos Calouros de Odontologia na Associação Duque de Caxias. Noite fria e bonita. O Sérgio está doente e não jogou hoje.

09/05/59 – sábado – Burocracia. À noite fui até a Associação Duque de Caxias onde conversei com o Amorim. Apareceu a Sheila. Custei um pouco a dançar. Ela estava bonita com um vestido azul. Não quis dançar muito pois estava coma garganta doendo. Os pais e ela foram embora à meia-noite e meia. Chegou o outro irmão, Osny. Fui embora também. A lambreta está ótima graças ao trabalho do soldado Zambrin. A Sheila hoje não falou muito. Notei que ela não gosta muito de baile. Acho que é porque ela só tem 14 anos e só fará 15 no dia 25 de outubro de 1959. O baile hoje parecia que ia ser ruim mas no final ficou bom.

10/05/59 – domingo – O Sérgio levantou-se cedo. Eu só me levantei às 08:30. Hoje não fui à cidade de Ponta Grossa com a Engenharia porque iria chegar tarde amanhã e tenho serviço a aprontar hoje.  Às 10:00 fui até a casa da Sheila. Ao chegar ela ia saindo para as compras. Conversei com ela até as 11:45. Ela me responde muito “Não sei.” F “Não”a toda hora.  Contei-lhe trechos da minha vida, e ao pedir-lhe que contasse mais sobre a vida dela ela me respondeu que ainda não tinha coisas para contar. Pedi que tocasse um pouco de piano mas ela não quis. Disse-me que reza por mim ao se deitar. Voltei para o quartel. À tarde preparei as provas para o dia seguinte. Dia de sol. Fui à missa na igreja do Portão. Gostei bastante da missa. Mudou o pároco. Levei e trouxe o soldado Lamidi, Dormi cedo pensando em me levantar às 04:00.

11/05/59 – segunda – Não me levantei cedo. Vejo que me é quase impossível. Provas para os soldados. Estudei Química. Após o almoço fui até a Faculdade. A prova foi transferida para amanhã. Regressei ao quartel. Cuidei do armamento. Às 17:50 saí bem rápido para assistir à aula de Analítica. Não havia aula. Resolvi ir conversar com a Sheila. Em lá chegando vi que o Osny tocava piano. Foi chamar a irmã que veio bem bonita com um casaquinho vermelho e uma saia escura. Em dado momento da conversa ela me perguntou: “Você não me acha muito criança? Levei um choque! E ela continuou: “Você não acha que é muito cedo para eu ficar presa?” Falei algumas palavras meio perplexo. Perguntei-lhe: “O que você quer que eu faça?”Ela dizia que não sabia. Afinal ela me disse que eu deveria ir às festas que eu quisesse e ela iria às dela. Então eu descansei, pois pensava que ela não gostava mais de mim e que iria terminar o namoro. Vejo entretanto que ela não quer deixar rapidamente a vida que leva. Ela gosta de liberdade como eu já gostei também. Às 19:10 regressei ao quartel. Muito frio. Achei a Sheila bem bonita e parecida com a Liz. Estudei Química. O Sérgio estava a estudar Álgebra.

12/05/59 – terça – Frio. Prova no quartel para o Curso de Formação de Cabos (CFC). Educação Física (Corrida rústica). Fui à Faculdade para fazer a prova de Química que foi fácil. Voltei ao quartel. Revista de armários. Frio. Acho que estou gostando muito da Sheila, mas em questão de amor estou meio cético. À noite fui de lambreta com o Silveira até o Círculo Militar. Noite muito fria. Jogo de basquete contra a equipe do Thalia. Em dado momento eu entrei no lugar do Kravitz. Ganhamos o jogo, graças a Deus! Fui dormir à meia-noite.

13/05/59 – quarta – Pela manhã examinei os soldados do CFC em Ordem Unida. À tarde inspecionei as armas da Seção de Reparações e Suprimento. Fui às 17:50 à Faculdade mas não havia aula. Fui conversar com a Sheila. Ela conversava com uma amiga e o Osny estava ao piano. Frio. Conversamos bastante. A amiga era uma prima dela, Sônia, também de 14 anos, mas com estatura menor. Gostei muito de poder conversar com as duas. Elas falavam de assuntos diferentes dos de quartel: cinema, estudo, ginástica, vida social e de viagens. Às 19:50 fui de novo à Faculdade, mas não haveria aula. Voltei para o quartel. Ia estudar Cálculo mas deixei para de madrugada. Mais uma vez não me levantei às 02:00. Vejo que não posso mais deixar para de madrugada pois o frio é muito forte e a minha força de vontade bem fraca.

14/05/59 – quinta – Estudei pela manhã. A matéria me é desconhecida e eu sinto muita dificuldade em aprendê-la. Após o almoço fui à Faculdade. Prova de Cálculo ( Léo Barsotti e Del Claro são os professores). Voltei para o quartel meio chateado pois fui mal na prova. Armamento. A lambreta estava sem óleo por isso eu tinha dificuldade em engatar as marchas. Declaração do Imposto de Renda. Correção de provas.

15/05/59 – sexta – Correção de provas. Ginástica Básica a 10 repetições. Atraso devido ao grande percurso. À tarde continuei a corrigir as provas. Instrução. O Comandante tem feito grandes restrições na alimentação por medida de economia. À tarde fui à aula de Analítica Prática (Determinante, Teorema de Rouché, Regra de Cramer). Fui ver a Sheila. Estava resfriada. Emprestei o rádio de pilhas para ela. Conversamos até 19:50. Ela falou sobre as amigas e os irmãos. Disse que gosta de rock e do Elvis Prestley. Fui embora querendo ficar mais. Fui ao Colégio Estadual onde joguei uma pelada contra a equipe do colégio. Cheguei de volta ao quartel às 22:30 e fui corrigir provas.

16/05/59 – sábado – Ontem como dormi ao corrigir as provas resolvi ir logo me deitar voltando a corrigir pela manhã. Levei alguns soldados ao médico. Houve inspeção de uniformes. Recebi uma carta da Vera Lúcia, de Paquetá:

“Rio de Janeiro, 12/05/59

Felinto,

Por incrível que pareça, somente ontem cheguei ao Rio e logo de parei com a sua carta, Fiquei muito satisfeita com isso, pois realmente senti saudades suas. Você deve estar estranhando a minha longa permanência na ilha, mas é do seu conhecimento eu gosto imensamente de Paquetá e assim sendo aproveitei a oportunidade, pois minha mãe iria ficar mais um mês. Quanto ao colégio comparecia regularmente às aulas, descendo às 11:00 e voltando às 18:00. Meus programas de fim-de-semana na ilha eram: praia, dançar, pescar, jogar vôlei uma vez ou outra e passear de bicicleta à tarde para apreciar o pôr do l que eu adoro. Agora que estou de novo no Rio  espero que apareçam boas novidades para na próxima carta contar a você. Quanto à sua vida aí em Curitiba não deve se tornar monótona, pois você tem sempre uma coisa a fazer. Essa sua estadia, por exemplo, na cidade de Ponta Grossa deveria ter sido muito boa apesar de ser no mato.  Felinto por esta é só. Irene manda lembranças e eu com um abração aqui fico à espera de sua resposta. Vera”

Fui dormir, mas acho que deveria ter continuado a inspeção de armamento. Foi falta de método da minha parte. O Sérgio está fazendo um resumo dos livros que tem lido (Anatomia – Enciclopédia Jackson). Os outros colegas foram ao CMP.

17/05/59 – Domingo de Pentecostes – Acordei às 07:45. Café. Li uns trechos dos livros do Mons. Thiamer Toth. Renovei os propósitos bases da minha vida. Penso na Sheila e estou querendo dar um radinho de presente para ela. Estou usando um marca Spica  que o Figueiredo quer me vender em duas prestações de Cr$3.000,00. Acho que irei comprá-lo. Fomos, os solteiros, até o CMP onde jogamos basquete. Bonito dia. Almoço no quartel. A lambreta está ótima. À tarde descansei e corrigi provas na sacada de onde observava o jogo Cia Com 5 x Portão 4. O Sérgio chegou a usar um binóculo. Fomos à missa na igreja do Portão tendo comungado e rezado pela Sheila. Compramos pão, bananas e presunto. Ceamos no quartel. Deitei na cama para descansar um pouco, mas dormi até às 05:45. Invoquei o Espírito Santo para me iluminar em todos os atos da minha vida.

18/05/59 – segunda – Preparei, dei e recebi  Instruções ( Conferência do Muller). Chuva. Saudades da Sheila. Recebi uma carta da mamãe:

“Rio de Janeiro, 6 de maio de 1959

Meu querido Felinto, Deus te abençoe!

Recebi a tua cartinha, fiquei muito contente, pois já estava preocupada de não ter notícias. Eu também tenho andado tão aborrecida de tanto trabalho com a casa da frente, mas graças a Deus já aluguei por 15 contos líquidos para um engenheiro. Ele tem 4 filhos. Parece gente muito boa. Quer dizer que tenho 180 contos por ano. Já dei o meu nome para a peregrinação para Jerusalém que vai ser para o ano se Deus quiser. Custa 150 contos a viagem, com mais alguma coisa preciso de 200 contos. Graças a Deus com estes 180 contos posso ir de novo a Europa, não achas? Felinto aqui vai tudo bem. Maria José mudou-se para Paquetá. Está pagando Cr$7.500,00 de aluguel de uma casinha. Fez contrato de 2 anos. As crianças estão gostando muito. Eu ainda não conheço a casa. No dia 14 vou ao casamento em São Lourenço, da Maria Arminda,  filha da Arminda. Depois quero ir a Pernambuco com Maricas passar um mês lá. Está dependendo de eu arranjar dinheiro, pois tenho que pagar os impostos. Com as despesas de consertar a casa gastei tudo e não fizeram nada que prestasse. Só querem dinheiro. O engenheiro vai acabar o que falta. Ele só muda no dia 15. Amanhã é que vêm mudar o telefone e foi uma luta. Maria Helena está esperando outro filho para Dezembro. Maria José também para Setembro. Luiz está sempre viajando. Pe. José Maria dorme aqui comigo segunda e terça. Ele está bem e está trabalhando muito. Raymunda nem tem tempo de vir aqui. No mais todos da família vão bem. Da. Madalena faleceu no dia 12 de abril. Sofreu muito. Diga para o Pe. Augusto que foi de câncer. Soube que você escreveu para o Oscar. Deus queira que venha estudar aqui, assim me faz companhia. Tenho muitas saudades de você. Ontem recebi um telegrama do Felipe e da Suely dizendo o seguinte: “Querida mãezinha, beijos e abraços de seus filhos, Suely e Felipe”.O que você acha? Creio que já são noivos. Sejam felizes é o que desejo. Vou escrever para ele. Do Acre, nada resolvido. Do apartamento, estou esperando resposta. Vou terminar pois estou com muita pressa . Ana está aqui e eu vou mandar colocar no correio. Espero resposta mandando contar tudo. Recomewnde-me ao Pe. Augusto. Você trabalha muito. Cuidado com a Lambreta. Aceite saudade de todos. Abraços e beijos de sua mãe que muito o ama. Umbelina”

Respondi à carta dela. Tempo chuvoso e frio. À noite preparei instruções.

19/05/59 – terça – Instrução. Tempo chuvoso. Frio. Após o jantar, comentários sobre a vida no quartel. O tempo parece que não melhorará tão cedo.

20/05/59 – quarta – Tempo úmido e chuvoso. Instruções. Preparativos para a inspeção de armamento. À tarde fiquei no quartel a fazer a inspeção. Pensei em sair e ir às aulas, mas o tempo me obrigou a ficar no quartel. Fui dormir à meia-noite. Não é nada pois o Werner tem estudado até as 04:00 da manhã. Eu é que não tenho estudado.

21/05/59 – quinta – Dei instrução. Tempo chuvoso. O Comandante inspecionou o armamento. Estou com dor de cabeça. Ainda não tenho um plano certo para o futuro. Peço ao Divino Espírito Santo para iluminar o meu caminho e eu não perca tempo. Ainda não pus a carta da mamãe no correio.

22/05/59 – sexta – Enfim, parece que o sol hoje vai sair. Dia normal de instrução. À tarde comecei uma Sindicância. Não fui à aula de Analítica Prática. Passei pelo apartamento do Ó de Almeida onde recebi as lições da National School. Tomei uma coca-cola e conversei com ele. De lá fui à casa da namorada Sheila. Noite bonita. Lua cheia. Frio. Já estava com bastante saudades dela. No começo ela conversou pouco. No final já estava mais descontraída. Chegou até a dedilhar umas notas ao piano. Dei-lhe como lembrança um cinzeiro da 5ª Cia Com, um disco do Waldir Calmon e um retrato meu. Dela eu recebi uma pequena cruz. Ela ia ter aula de Francês no dia seguinte e eu saí de lá às 21:05. Coloquei a carta da mamãe no correio.

23/05/59 – sábado – Instruções. A minha Seção foi encarregada de instalar os alto-falantes e projetores na festa da CPOR. Recebi os vencimentos hoje: Cr$15.316,10. Muito obrigado, meu Deus! À tarde fui à cidade para pagamentos.

24/05/59 – domingo – Batalha do Riachuelo – Acordei um pouco resfriado. O tempo parece que vai piorar. O Frota Leite convidou para se jogar no CMP. Fui de lambreta. Bom jogo. Ganhamos. Na volta passei na casa do Allan onde apanhei as apostilas de Descritiva. Tirei fotografias com a Iashica. Estudei Descritiva. Ouvi o jogo Fla 3 x Coritiba 1. Fui com o Sérgio à missa das 18:00 na Catedral. Voltei e jantei no quartel. A lambreta está ótima. Fui para a biblioteca e preparei instruções.

25/05/59 – segunda – Manutenção do material. Educação Física. À tarde jogo duro de basquete com faltas e reclamações. Exigiu que eu me desdobrasse. Fui à cidade e assisti a aula sobre vetores interiores e exteriores. Fui falar com a Sheila. Ela acha que eu estou perdendo tempo com ela, pois ela não se acha em condições de decidir. Pretende namorar muitos outros rapazes. Fiquei triste. Fiz uma proposta de vir conversar uma vez por mês. Ela me disse que eu é quem sabia. Despedi-me e sem olhar mais para trás, fui embora. Ao montar na lambreta esta escorregou e eu fiquei com o joelho no chão. Notei que ela estava à porta, mas não olhei. Estava bastante triste sentindo aquela mesma sensação que senti quando a Liz terminou comigo. Notei, após ter andando um pouco que perdera um embrulho de compras. Voltei e achei-o em frente à casa dela. Ela já havia fechado a porta e apagado a luz. Voltei bem rápido para o quartel. “Fiat voluntas Dei!” Quão admiráveis são os caminhos do Senhor! Rezei por nós. Não estudei Descritiva (Axonometria).

26/05/59 – terça – Fui à formatura matinal. Pela manhã estudei para a prova. Mais um dia para desconto das férias. Prova de Descritiva. Quartel. À noite houve o jogo CMP x Duque de Caxias. O CMP venceu. Só entrei no final do 2º tempo. Fui dormir às 24:00. Às 16:15 a Sheila havia me telefonado  pedindo para eu aparecer aos sábados à tarde. Agradeci a Deus o telefonema.

27/05/59 – quarta - Fui à aula de Analítica Prática (vetores e equação de curvas). De lá fui até à frente da Biblioteca Pública e na Livraria Sir comprei Cr$610,00 de material escolar e livro. Fui à aula de Química (pesagens e umidade). Fui à catedral e me confessei com um padre Passionista que dava aulas de Cultura Católica. Fui rezar a penitência em frente ao Sacrário, sentindo-me muito feliz. Voltei para o quartel com muito sono.

28/05/59 – quinta – Corpus Christi – “Adoro Te devote latens Deitas quae sub his figuris vere látitas. Tibi se cor meum totum subjicit quia Te contemplans totum déficit!”.  Dia chuvoso. Gostei porque queria mesmo ficar no quartel. O Frota Leite disse ao café que o Marechal Lott estava com câncer na garganta. Que depois de uma não de governo ele sairia e entraria o Jango Goulart. Então haveria uma grande revolução de base trabalhista e de orientação socialista. Fui à missa das 11:15 na igreja do Bom Jesus com o Sérgio, de lambreta. Chovia e ele segurava o guarda-chuva. Almocei no quartel. Disseram-me que saira uma reportagem sobre a Liz.  À tarde estudei rádio e Física. Fui dormir às 22:00 pretendendo me levantar às 02:00.

29/05/59 – sexta – Não consegui me levantar às 02:00. Mais um dia para desconto nas férias. Após o almoço fui até a cidade. Boa prova de Física. Tirei 7 em Química. Falei com o diretor da Rádio Santa Felicidade sobre instalação de alto-falantes. Assisti à aula de Analítica. Quartel. Jantar. Li a reportagem sobre a Liz e a Norma Benguel. A Liz diz que agora só pensa no casamento com o Dr. Carlos Madeira. Considera-se uma estrela.

30/05/59 – sábado – Desfile. Como sempre sou o maestro. Preparativos para a instalação de alto-falantes, mas ligaram da Rádio Santa Felicidade que não precisava mais. Era para uma corrida  de automóveis. 1ª tarde com o soldado Zambrim fiz a limpeza do carvão do cilindro da lambreta. Dor de cabeça devidoa estar cansado.

31/05/59 – domingo – Fui ao CMP. Levei o Ó de Almeida. Basquete. Bonito domingo. Pensando em falar com a Sheila. Estudei rádio. À noite levei o Sérgio de lambreta até o correio. Fui à casa da Sheila mas ela não estava. Conversei com o Oziris. Fui lanchar no apartamento do Ó de Almeida na Praça Rui Barbosa. Ele preparou tudo. Torradas com queijo. Milo. Presunto, etc. Conversou sobre a vida de casado. Voltei para o quartel às 21:30. E cheguei ao final de mais um mês no qual conheci a Sheila. Graças a Deus!

01/06/59 – segunda – À tarde fui à aula na Faculdade. Fui também conversar com a Sheila. Estava bonita com um casaco azul. Colocou o disco que eu lhe dera. Falou muito sobre o rádio, passeios, provas, amiga Sônia, etc. Às 20:30 nos despedimos.

02/06/59 – terça – Dia normal. À noite basquete no CMP. Treino. Técnico Riva. Frio.

03/06/59 – quarta – Expediente o dia todo. Estudei Analítica. Fui mal outra vez na prova. Afinal não tenho podido assistir às aulas. Vou levando como posso. Feixe de planos. Vetores. Voltei ao quartel. À noite houve um jogo de basquete com o 5º RO 105. Ganhamos apesar de não termos jogado bem. Atribui à falta de motivação. Fui falar com a Sheila. Deu-me um distintivo de Engenharia. Fui e voltei de lambreta.

04/06/59 – quinta – Graças a Deus cheguei aos 23 anos. Instrução e faxina para a visita dos Srs. Majores da 5ª Região Militar. No final do expediente, após a leitura do boletim, o soladao 101- Ilco Ribeiro fez uma alocução sobre o meu aniversário. Fiquei bastante admirado e surpreso. À noite fui ate o CMP e depois até o bairro do Bacacheri. Não houve jogo..

05/06/59 – sexta – Visita dos Majores. Na hora da Ordem Unida o Tenente Luiz deu um apito e confundiu todo o meu Pelotão. Recebi um cartão de aniversário muito bonito que desconfio ser da Rejane, filha do Coronel Edson Giordano de Medeiros:

F elicidades

E u  quero  

L he  dar, por  

I ntermédio deste cartão.

N unca deixarei de  

T e amar

O nde estiver sempre meu coração há de estar.


Fiquei surpreso! A gente fica todo prosa com uma coisa dessas. Estou intrigado. Quero agradecer tal surpresa. Houve jogo de basquete, tipo pelada. À noite aproveitei para arrumar o PC da Seção e Reparação e Suprimentos. Frio.

06/06/59 – sábado – Não houve expediente. Fui às aulas da Faculdade. Comprei material escolar e chaves, tinta para a lambreta e óleo. À tarde arrumei meus papéis. À noite chegou o meu colega da AMAN, Medeiros. Vai ficar noivo. Frio. Ainda penso no cartão de aniversário. Gostaria que a Sheila me telefonasse, mas sei que ela não fará tal coisa. O Sérgio chegou e conversou com o Medeiros.

07/06/59 – domingo – Passei o dia todo a copiar o caderno de cálculo do Allan. Fui à missa na igreja do bairro do Portão. Comunguei. Frio. Consegui fazer o exercício de Tática.

08/06/59 – segunda – Dispensado para desconto em férias. À tarde fiz prova prática de Química. Saí-me bem, graças a Deus! Mandei fazer um estojo para o rádio que vou dar para a Sheila. À noite estudei Cálculo. O cansaço é que me atrapalha. Amanhã irei à granja com os soldados.

09/06/59 – terça – Frio. Fui à granja, onde foram executados pelos soldados do CFC os tiros até o 7. O Tenente Casatle chegou do Rio. O Sérgio, o Joélcio e o Luiz iam ao Rio mas parece que não vão mais. À noite preparei umas partes.

10/06/59 – quarta – Ordem Unida. Recebi um cartão da Lidja: “Bonn, 01/06/59 Desejo lhe muitas felicidades desta terra distante. Abraços. Lidja”. Fiquei bastante surpreso! À tarde tratei de fotos, lambreta, etc. À noite preparei uma alocução sobre a Batalha do Riachuelo. E não estudei Cálculo!

11/06/59 – quinta – Dia da Batalha do Riachuelo – Almirante Barroso, Greenhalg e Marcílio Dias. Estudei Cálculo. Fui fazer a prova. Como não estudara toda a matéria fui mal. Enviei uma carta para a mamãe. Tirei 6 em Física.

12/06/59 – sexta – Instrução. Provas para o CFC. Fotos. Às 18:00 fui falar com a Sheila. Dei-lhe um presente: um missal quotidiano, que a aborreceu no início, me dizendo que já havia dito que não queria. Afinal mudei de assunto. Ela me falou que gostava muito de Elvis Prestley e das músicas que ele cantava. Conversas com Da. Maria e com o Osny, que deu uma volta na lambreta. Da. Maria queria ver algum balão. Em dado momento me convidou para um café. A Sheila não queria que eu entrasse e o Osny brincava com ela por causa disso. Conversas sobre vários assuntos: religião, vida militar, estudos, rock, etc. Só fui embora às 22:05. Frio. A lambreta enguiçou perto do quartel.

13/06/59 – sábado - Dia de Santo Antonio – Ordem Unida. À tarde organizei as minhas coisa. Cansado, mas não deitei.

14/06/59 – domingo – Estudei Cálculo. Sinto dificuldade devido às definições e poucos exercícios de limites e derivadas. ~noite fui à missa na igreja do Portão tendo comungado. Jantar no quartel.

15/06/59 – segunda – Dia normal. À noite estudei Cálculo até 23:30. Estou em plena época de plantar para o futuro.

16/06/59 – terça – Mais um dia descontado das férias. Apesar disso tratei de muitas coisas no quartel. À tarde fui à Faculdade onde fiz a prova. Defina Ponto de Acumulação. Vizinhança de um Ponto. Primeira e segunda derivada do conjunto {1/m + 1/n}, valores positivos, lim quando x tende para 0 de (cosax) elevado a x  menos 1  sobre o cubo de x. y’e y’’ de y= x- raiz cúbica de x(x-1) elevado ao quadrado, dando o gráfico das variações, as assíntotas e o diagrama. Dizer se à função y=tg(x + pi/3) se pode aplicar o teorema de Lagrange. Como sempre não me saí muito bem. Tempo chuvoso. Fiz compras para o quartel. Penso na Sheila. Biblioteca.

18/06/59 – quinta – Fui bem na prova de Química. Cuidando da recepção da carga da Seção.

20/06/59 – sábado – Estou com o meu tempo bastante tomado.

21/06/59 – domingo – De ontem para hoje uma noite muito bonita com lua cheia e não fria. Dormi cedo, mas tive que acordar porque o Joélcio ligou o rádio para ouvir o concurso de Miss Brasil em que venceu a Miss D.F. Vera Ribeiro. A Shirley Tempski, Miss Paraná também desfilou, tendo sido prejudicada pelo vestido e maiô. Como perdi o sono fui até a Seção onde continuei a preparar o termo de responsabilidade. Manhã muito bonita e ensolarada.  Saudades da Sheila. Fomos até o CMP. Bom jogo de basquete. À tarde descansei. Escrevi o termo da Seção até a tarde.

22/06/59 – segunda – Dia normal. Instrução. Não estudei Descritiva. Muito cansado.

23/06/59 – terça – Dia para desconto em férias. Estudei Descritiva. Dia chuvoso. Fiz a prova com consulta livre. Fiquei com a cabeça doendo. Apanhei o estojo para o rádio que vou dar para a Sheila. Dia chuvoso. Encapei livros. E os três Aspirantes continuam dormindo no mesmo quarto no quartel.

24/06/59 – quarta – Cuidei do material carga da Seção.

25/06/59 – quinta – Prova de Física. Pela manhã não estudei, pois cuidei do recebimento de material.

26/06/59 – sexta – Marcha de 24 km. Terminamos com marcha forçada. Distendi um músculo do joelho esquerdo. Não consegui estudar.

27/06/59 – sábado – Prova de Analítica. Fui mal. Comprei uma caneta Sheaffers. Entrei em férias. Saudades da Sheila. Recebi um telefonema da Tenente Sílvia  do Hospital Militar dizendo que o meu colega Medeiros havia baixado com o estado moral muito arriado. Pediu-me que aparecesse lá. De fato, o Joélcio, o Sérgio  e eu fomos lá. Relembramos com o Medeiros os tempos da Escola Preparatória de São Paulo e da AMAN. Quando saímos ele estava muito bem. Ele está com medo de ficar completamente sem memória. Que Deus não permita isso!  No quartel, ao ligar o rádio ele não acendeu. Descobri que era uma solda mal feita. Fui dormir às 22:00.

28/06/59 – domingo – Acordei às 07:30.Terço. Dia úmido. Copiei o Quadro de Trabalhos Semanais (QTS). Escrevi cartas. Preparei instruções. Tentaram consertar a lambreta (cabo de mudanças). À noite fui à missa na igreja do Portão. Comunguei. Não pude visitar o Medeiros.

29/06/59 – segunda – Dia de São Pedro e de São Paulo – Dia do Papa – Deus o guie e conserve. Houve expediente o qual foi dedicado praticamente aos preparativos da festinha noturna no quartel. Eu pensava que não iria cumprir as missões mas graças ao auxílio providencial do soldado Cubas tudo ficou pronto. Às 16:15 a Sheila me ligou dizendo que eu não poderia ir lá porque ela teria um compromisso e que iria viajar no dia seguinte. Respondi-lhe após uma decepção inicial que eu também não teria podido ir lá mas que pretendia ir no dia seguinte. Mas como não seria possível desejava-lhe boas férias e que aproveitasse bastante. Penso às vezes que ela não gosta de mim. Continuarei na expectativa deixando que Deus através do tempo continue o seu trabalho. Jantei às pressas e fui correndo assistir à Santa Missa. O sermão foi sobre a Eucaristia. O Sérgio também assistiu à missa. No quartel eu dirigi as brincadeiras. Tudo saiu bem, graças a Deus!

30/06/59 – terça – Tiro. Ainda não consegui me sair muito bem. E cheguei ao final de mais um mês, graças a Deus!   

01/07/59 – quarta – Espero que a Sheila aproveite bem as férias e volte mais bonita ainda. Que eu recupere as energias para continuar a estudar Engenharia. Que o meu colega Medeiros fique bom. Foi uma quarta-feira igual às outras. O rádio tem sido o meu entretenimento. Os mecânicos de rádio estão montando um receptor.

04/07/59 – sábado – Rádio. Burocracia. Faxina. CPOR.

05/07/59 – domingo – Rádio.Instrução. Hoje funcionou bastante a rádio-eletrola do Joélcio. Quebrei um disco dele. Saudades da Sheila. Fui à missa na igreja do Portão. O padre já havia notado a minha freqüência. Perguntou-me de onde eu era, etc. Deu-me conselhos para que eu continuasse assim. Bati à máquina as provas dos Mecânicos de Rádio.  

06/07/59 – segunda – Tenho ouvido programa da Rádio Farroupilha: “Alô Suez!”. Muito sentimental com a música “Vou-me embora, vou-me embora prenda minha...” Fui dormir à 01:00. Acordei com bastante frio. Os alunos do CPOR vieram ter instrução no quartel. Perdemos para eles no jogo de basquete. Senti-me cansado e sem confiança. O Raymundo, irmão da Miriam, namorada do Joélcio, veio ter aula de eletricidade no quartel. Fui dormir à meia-noite no início do “Alô Suez!”.

07/07/59 – terça – Continua a visita do CPOR. Os sargentos ganharam no futebol de 6 x 5. Fui dormir às 22:00 pensando no jogo de basquete de amanhã.

 08/07/59 – quarta – Visita às repartições com a turma do CPOR. No jogo de basquete fiz 21 pontos e ganhamos de 52 x 36. Grande vibração. À tarde fui à cidade com o Sérgio. Gastei Cr$3.700,00 em material de rádio para um transmissor de 15 watts. O Sérgio fez experiências com um retificador da National Schools. Fui dormir às 22:00.

09/07/59 – quin ta – Testes de Instrução Básica Militar e de Qualificação.Saí para fazer compras.

10/07/59 – sexta –  Continuação dos testes de IBM e IBQ. O E-3 da 5ª Região Militar, Major Morais está inspecionando a Companhia. Achou muito boa a Educação Física, mas a Ordem Unida fraca. Visitei o sargento Noronha. Encaixou melhor o transmissor. Dormi à meia-noite, pois fiquei a corrigir provas.

11/07/59 – sábado – Canto do Hino Nacional. Treinamento. Ordem Unida. Fui à granja. Tiro. Fiquei em 2º lugar com 62 pontos. Fuzis novos. Fiquei até meia-noite montando a lambreta.

12/07/59 – domingo – Fiquei no quartel.

 13/07/59 – segunda – Treino de Tiro (73 pontos).

14/07/59 – terça- Fotografias. 

15/07/59 – quarta – Os sargentos saíram mal no Tiro. Fui à cidade. Mais peças para o transmissor que vou montar.  Mandei uma carta bem atrasada para a Maria José.

16/07/59 – quinta – Os Oficiais foram atirar. Fiquei em 3º lugar tendo me saído mal no tiro rápido na posição ajoelhado. 

17/07/59 – sexta –  Os sargentos se saíram bem no Tiro. Sgt Venson, Sgt Boçon e Sgt Valfrido (2º lugar). Fotografias. A lambreta foi pintada de azul Oxford e palhinha. O serviço saiu por Cr$1.200,00 no Sr. Lucas. Ela está muito bonita. Dá gosto de ver.  

19/07/59 – domingo – Acordei com os soldados 717 – Ferraz e 739 – Link me acordando para as despedidas. Cantei bastante. Toquei bandolim. Lua cheia. Os soldados adidos voltam para os seus quartéis amanhã. Fotografias.

20/07/59 – segunda – Preparativos para a instrução de tiro. 

21/07/59 – terça – Fui à instrução de Tiro com os soldados. O vento prejudicou e hoje muitas faltas.

22/07/59 – quarta – Saí com a lambreta. Verifiquei os resultados das provas parciais: 2,5 em Cálculo, 7 em Química e 0,5 na 2ª prática de Analítica. Fui ao Correio. Comprei peças para o transmissor que estou montando.

23/07/59 – quinta – Dei instrução de rádio para os novos adidos. Hoje recebi Cr$14.436,10, graças a Deus! À tarde instrução, basquete para os sargentos e vôlei para os oficiais. Estou fazendo os exercícios do Charles Atlas que me facilitam a cortar melhor no vôlei. Estou com a garganta um pouco inchada.   

24/07/59 – sexta – O Braz Defilippo me telefonou dizendo que uma tal de Carmem com quem se encontrara perguntou por mim. Mas estou pensando na Sheila.

25/07/59 – sábado – Enrolei um transformador de saída de 3.000 e tantas espiras. Grande vibração.

26/07/59 – domingo – Passei a manhã na oficina de rádio. O Sgt Fabro me ajudou a descobrir uma interrupção na bobina de campo do alto-falante. Desenrolamos 13.350 espiras. Dia bonito.

29/07/59 – quarta – Saí com a lambreta. Retirei e enviei dinheiro. Comprei peças para a lambreta que está com a mudança ruim. Coloquei cartas no correio. Recebi carta da mamãe. 

30/07/59 – quinta – Escriturei o livro sobre armamento do Pelotão de Exploração. Apareceu um vendedor de livros. Coloquei um novo potenciômetro no meu rádio. Conversei com o soldado Horácio sobre o que eu pensava do caso de ele perder a consciência de vez em quando. Combinei com ele ir até o Bispo, Dom Delboux. Como em todas as quintas-feiras hoje há cinema. 

31/07/59 – sexta – Dia úmido e chuvoso. Instrução. Burocracia. O soldado Horácio teve novo “estado inconsciente” tendo eu anotado as seguintes respostas  que dava ao Sgt Fabro que é espírita: Gosta dele? –  Demais. É o espírito de um médico? – É verdade!  Para onde ia? – Lugar distante, Rio de Janeiro com o pai dele. Encontramos no caminho. Ansioso para ouvir aquelas suas palavras.  Qual a sua religião? – Catolicismo. Suspiros... Suspiros... Promete que não vai incorporar mais? – Prometo. Vou-me embora.  E o soldado Horácio ficou meio adormecido.  Fui ler um livro sobre o Espiritismo ficando triste por não poder fazer nada. Vou ler mais a respeito. Alguns acham que é fingimento do soldado para não trabalhar mas me parece um ataque epilético pois ele perde a consciência e cai, estrebucha e deita espuma pela boca. O ataque dura apenas alguns minutos.  

AGOSTO-1959

01/08/59 – Sábado – A vida no quartel está um pouco vazia. Tenho me dedicado a consertar o rádio que comprei do Josué. Aliás ando com o sono um pouco atrasado. Um soldado de nome Horácio tem sido “atuado” e eu fico meio surpreso diante do que o Sgt Fabro faz, aparentemente conversando com ele desacordado. Já li dois livros católicos a respeito.

02/08/59 – Domingo – Arrumei as minhas coisas. Escrevi uma carta para a mamãe. O Sérgio montou um rádio. Fiquei a tarde toda com ele tentando fazer funcionar e quando conseguimos foi aquela vibração. Fomos à missa. Na hora do jantar o soldado Horácio teve novo ataque. Mandei chamar o Pe. João. Na enfermaria teve nova inconscência. Rezou a Ave-Maria, a Salve-Rainha e o Credo. Fiquei surpreso. Afinal ficou bom. Chegou o Pe. João. Conversamos bastante. Preciso ler mais a respeito.

03/08/59 – Segunda – Instrução. Alguns soldados foram à paisana ficar na fila da Caixa Econômica. Não concordo com tal procedimento, mas como não sou casado e talvez se o fosse, a necessidade do dinheiro seria mais forte. Simplesmente tirei o meu nome da lista. São as tolerâncias da vida.

04/08/59 – Terça – Desde ontem espero um telefonema da Sheila. Já desconfio de que ela tenha viajado. Houve tiro somente até meio-dia para economizar a gasolina para levar o almoço, por decisão do Frota Leite. Vinte e cinco soldados foram à granja para preparar a terra. São as realidades da vida de quartel. Ontem o Sérgio e eu começamos as aulas de manipulação. Jogamos também com os soldados e ganhamos no basquete. Tempo frio!

05/08/59 – Quarta – À tarde fui à cidade e resolvi passar na casa da Sheila. Ela estava lá. Só tinha se afastado da cidade durante uma semana. Considerou um teste para ver se gostava mesmo de mim. Os irmãos a chamavam de boba. Ela também não compreendia porque não gostava de mim. Enfim cheguei ao fim de mais um namoro. Seja feita a vontade de Deus! “Assim como vai o rio os alvos seixos rolando, assim também vai a vida as ilusões arrastando!”   

08/08/59 – Sábado – Montei as peças da lambreta. À noite não fui ao baile no Círculo Militar porque amanhã haverá o baile do CPOR. Hoje o mano Felippe ficou noivo da Suely. Que sejam muito felizes!

09/09/59 – Domingo – Calibrei o rádio do Sérgio. À tarde pratiquei código Morse. Estou gripado. Às 23:30 me levantei e fui de lambreta ao baile do CPOR. Frio. Ninguém para dançar. Dancei com uma que não achava bonita. Depois dancei com a Maria Dolores com quem já dançara no ano passado. Ela tinha passado o mês de julho no Rio, em Copacabana. Ela estuda e ensina no Sion. Joga voleibol. Como eu acabara de ler o livro “Itinerário de Marx a Jesus Cristo”de Ignace Lepp, narrei-lhe algumas passagens interessantes, como de uma garota que estudara em colégio de freiras e depois mudara de comportamento. Comentários sobre o comunismo. O fato de eu estar gripado e ser Domingo fez com que eu fosse embora às 02:30. Uma garota que estava com uma faixa, de nome Edie Luz e que dançara com o Pedro Paulo parecia estar interessada em mim. A orquetra do baile foi a do Sílvio Mazzuca e custou Cr$120.000,00. Voltei com o Sérgio de lambreta. Frio.

10/08/59 – Segunda – Instrução. Não fui à aula de Analítica.

11/08/59 – Terça – Instrução. Volei. Perdemos na negra. Recebi uma carta escrita pela Anna dizendo que o Felippe tinha ficado noivo da Suely. Que a mamãe, a tia Maricas e o Pe. José Maria  timham ido de automóvel que era do futura sogro, dirigido pelo Felippe. Perguntou-me quando seria a minha vez. Ela me disse que iria ficar noiva no dia 2 de setembro e pediu que eu rezasse por ela. Quer que eu vá no dia do casamento dela. Também recebi um cartão do Felippe participando o noivado com a Suely. Fiquei bastante reconfortado com as notícias. O Comandante Cap Dirceu reapareceu hoje. Dispensa de 8 dias para 50% dos soldados. O Ten Aristeu passou para a minha Seção. Após quase terminar de ler o livro “Itinerário de Marx a Jesus Cristo” eu muito admirei a vida do ex-comunista. Vejo que eu me dedico muito pouco a uma causa e que sofro muito pouco. Penso que eu devo visitar mais os pobres e inteirar-me da vida dos operários. Devo evitar os erros da burguesia e dedicar-me mais à religião católica e aos soldados. Preciso também ler muito. Renovei a vontade de estudar na faculdade.

12/08/59 – Quarta – À tarde fui ao centro da cidade onde fiz várias pequenas coisas. Problemas de Analítica.

13/08/59 – Quinta – Instrução para os três soldados adidos.

14/08/59 – Sexta – Vigília da Assunção de Nossa Senhora. Fiz a educação física com os 3 adidos mesmo com o tempo chuvoso. À noite fui até o 20 RI no Bacacheri, onde joguei volei e basquete. Perdi em ambos os jogos. Fui dormir quase à meia-noite.

15/08/59 – Sábado – Assunção de Nossa Senhora – Fui ao CMP. Batí bola com o Muricy e o Popó. Ganhei em arremessos. Dia muito bonito. À tarde dormi bastante pois andava um pouco esgotado. O irmão da Miriam esteve no quartel e saiu com o Joélcio e o Sérgio de automóvel. Convidou-me para jantar na Terça-feira na casa dele. Escrevi uma carta para a mamãe.

16/08/59 – Domingo – fui ao CMP. Joguei basquete. À noite fui à missa na igreja do Portão.

17/08/59 – Segunda – Muitos soldados dispensados.

18/08/59 – Terça – Tenho treinado basquete e volei pela equipe da Escola de Engenharia da Universidade do Paraná.

19/08/59 – Quarta – À tarde lavei a lambreta ajudado pelos soldados Catai, Fernandes e o de nº 100.

20/08/59 – Quinta – Junto com alguns Oficiais fui de ônibus até a cidade da Lapa. Missa. Cerimônia no Panteón. Discursos. Vi uma garota do colégio de freiras que me lembrou a Maria Helena. Visita à Rádio Legendária. Cidade pequena. À tarde descansei. O almoço foi regular. Jogo de basquete com os oficiais do quartel de Artilharia da cidade. Ganhamos de 37 a 19. Eu joguei de pivot. As meninas do colégio de freiras fizeram uma grande torcida por mim. À noite fomos ao centro da cidade . Ruas sem iluminação. Frio. Comentários sobre a vida em uma cidade como a Lapa. Retreta na praça principal. Às 23:00 o baile no Clube Lapeano. Dancei com uma moça que não me atraía em nada para lhe dar o prazer de dançar.

21/08/59 – Sexta – Aniversário da mamãe. 66 anos. Que Deus a proteja e encha de graças e lhe dê ainda muitos anos de vida e possa eu ainda muito tempo passar ao lado dela retribuindo tudo o que ela fez por mim.  Voltamos para Curitiba. Boa viagem graças ao ótimo ônibus de carroceria Nicolas de Caxias do Sul, motor FNM. No quartel tivemos treinamento para o Juramento à Bandeira. À noite fui à aula e mandei um telegrama para a mamãe.

22/08/59 – Sábado – Treinamento para o Juramento à Bandeira. À tarde bati bola na sede campestre do Clube Curitibano. À tarde dormi às 18:30 pois estava com catarro nos brônquios. O soldado Horácio me levou chá.

23/08/59 – Domingo – Fomos até o CMP. O Joélcio e o Sérgio já haviam me prevenido de que a Rejeane, filha do Cel Edson estaria lá. Na realidade ela estava lá mas eu não tive jeito de ir falar com ela. Bonito domingo. À tarde dormi bastante. O Sérgio e o Joélcio foram de carro ao CMP par uma tarde hípica e uma tarde dançante. Outra vez lá se encontrava a Rejeane mas eu não sentia vontade de dançar com ela, achando-a muito criança. Mas o Joélcio a chamou e deixou-me a conversar com ela. No final saí bastante contente em saber que ela é uma moça de 16 anos, bem instruída e boa católica. Ela já sabia bastante sobre mim: o nome completo, a data de aniversário, etc. Fiquei intrigado em como a Rejeane gosta tanto de mim e a Sheila não. Mistérios de Deus! Despedi-me para ir à missa. Falei com o Pe. Augusto. Voltei ao quartel onde o soldado Garcia me serviu o jantar.

24/08/59 – Segunda – Treinamento no 20 RI para o Juramento à Bandeira. Últimos preparativos para a Corrida do Facho.

25/08/59 – Terça – Dia do Soldado. Nascimento do Caxias. Juramento à Bandeira no 20 RI. Condecorações. Serviço de alto-falantes. Fotografias. À tarde recebi uma carta da Maria José que dizia que a mamãe tinha gostado de tudo por ocasião do noivado do mano Felippe com a Suely. Que o dinheiro do Acre ia sair, cabendo a cada um Cr$10.000,00. Que a mamãe pedia para mandarmos celebrar uma missa pelo papai. Que a Patrícia fez 3 anos no dia 18 de agosto e está muito sabida mostrando no mapa a Baía da Guanabara. Que o Edison fica muito orgulhoso com isso. Que o Newton está muito bonitinho  e já anda tudo. Que a sogra dela Da. Celina, manda um abraço para mim e diz que a Cristina Luiza já está crescendo e ficando bem bonitinha. Que assim que  puder eu vá ao Rio para matar as saudades. Que a Anna deverá ficar noiva do dia 2 de setembro. Que a vida está cada vez mais cara e o dinheiro não chegando para nada. Que em breve espera dar a notícia de mais uma sobrinha, Márcia. Pede-me para que reze por ela. Rezei por ela. À tarde foi realizada a Corrida da Facho para os soldados no centro da cidade. A Dodge comando deu pane. Comprei uma bobina. Perdi de assistir à corrida. A 5ª Cia Com saiu-se em 13º lugar. Conversei no palanque onde cuidava do amplificador de som com a Rejeane e a filha de General Cmt da Região. Observei com interesse três moças com o uniforme do Instituto de Educação que estavam no palanque. Vi também a Dolores a quem saudei. Mais tarde soube os nomes delas: Terezinha e sua irmã Vânia filhas do Cel Bizerril e uma amiga delas chamada R..

26/08/59 – Quarta – Aniversário do mano Padre José Maria. Rezei por ele. À tarde fiz várias compras e pagamentos. Comprei um alto-falante Goodman por Cr$8.500,00 que instalei no dia seguinte com o Sgt Boçon. Fui à aula de Analítica. Passei um telegrama para o mano. Enviei Cr$4.000,00 e uma procuração para a mamãe para a compra de um apartamento no edifício que foi construído no terreno nos fundos da nossa casa no Rio. Treino de vôlei na Sociedade Duque de Caxias.

27/08/59 – Quinta – Instrução.

28/08/59 – Sexta – Jornada fora do quartel. Os soldados do Pelotão de Construção é que trabalham mais estendendo as linhas. Fiquei acordado até às 01:00 devido a um rádio em pane.

29/08/59 – Sábado – Instrução de telefone com o Ten Mário. Queimei uma válvula retificadora e o Sgt Noronha outra. Mas no final o rádio falou.  Futebol de salão para os sargentos e basquete para os soldados. Tempo frio outra vez. Fui até o CMP. Encontrei o Cap King. Final de basquete fraco na Olimpíada Universitária, facilmente vencida pela Engenharia.

30/08/59 – Domingo – Fui à missa na igreja do Bom Jesus na Praça Rui Barbosa no centro da cidade. À tarde dormi. Tempo frio. Jogo de vôlei com a Filosofia Federal no 20 RI (3 x 0) .

31/08/59 – Segunda – Dia normal. Cheguei ao final de mais um mês, o oitavo de 1959. Já alimento a idéia de ir para o Rio fazer a Escola de Comunicações do Exército em 1960. 

SETEMBRO-1959

01/09/59 – Terça – Novo mês. Mais motivação. XII Jogos Universitários Paranaenses. A chuva à noite impediu o jogo. Discussões sobre novo jogo com Ponta Grossa. Fui dormir à 01:00.

02/09/59 – Quarta – À noite basquete. Jogamos bem. Boa torcida. Bom jogo de basquete.

03/09/59 – Quinta – Voleibol. Vencemos “na negra” por causa da chuva. Foi no ginásio da Escola Técnica. Ando pensando numa daquelas normalistas que estavam no palanque no Corrida do Facho no dia 25 de agosto. Ela assistiu ao jogo de basquete de ontem até o final e deu sinais de estar gostando de mim. Tenho dormido tarde. Na equipe eu admiro o jogador Mario pelo seu ótimo jogo.

04/09/59 – Sexta – Basquete na Escola Técnica. Boa assistência. A Dolores estava lá. Graças à lambreta tenho podido atender facilmente aos compromissos esportivos.

05/09/59 – Sábado – Chuva. Treinamento para o desfile do dia 7. Recebi uma carta da mamãe com as seguintes notícias: Gostou muito da minha última carta que tem orgulho de mostrar a todas as pessoas. O aniversário dela foi muito animado. Todas as filhas e a nora compareceram. Dos filhos só o Luiz apareceu. À noitinha muita alegria geral com a chegada do dinheiro do Norte : Cr$8.000,00 para cada um. Promoção do Edison com champanhe e muita comemoração. E o recado: “Não se prenda aí em Curitiba pois aqui há várias moças lhe esperando!” O preço do apartamento é de Cr$ 1.250.000,00 e os donos são ela, o Josué e eu, sendo Cr$4.000,00 por mês para cada um. Tem 2 quartos e uma sala. Disse que Marica ficará para mim. Guardou o meu dinheiro no Banco. Rezar para a Maria José que está esperando bebê por estes dias. O Pe. José Maria comprou uma lambreta.” Rezei pela minha irmã Maria José. À tarde dormi bastante pois tenho ido tarde para a cama.

06/09/59 – Domingo – Li bastante sobre basquetebol para o jogo de amanhã. Fui à missa na igreja do Portão. Pensando no jogo de amanhã.

07/09/59 – Segunda – Dia da Independência – Desfile. Inovações. Bandeirolas. Palmas. Pensando no jogo. Jogamos voleibol com o time da Engenharia Civil (Paulo, Lúcio) e perdemos de 2 x 0 . Acho que as causas da derrota foram as falhas de defesa nos saques e muitos saques errados. Bons os saques do Lúcio e do Barnabé. Depois jogamos basquete com a equipe da escola de Educ ação Física. Jogo fácil. Todos ficamos cansados. Boa a torcida. Fui depois à Casa do Estudante Universitário onde coloquei o 3º Uniforme do Exército (cinza) e fui ao baile no Círculo Militar. Era o Baile da Independência com muita gente. Fiz um reconhecimento preliminar  e fui dançar com a Dolores. Depois dancei com aquela moça que havia torcido até o final do jogo de basquete do dia 2. Chama-se R., é curitibana e está no 3º ano no Instituto de Educação. Mora no centro da cidade. Gostei muito de dançar com ela. Conversamos bastante. Depois que ela foi embora dancei com a Terezinha, filha do Cel Bizerril até o final do baile. Lá estavam todas as autoridades militares.

08/09/59 – Terça – Natividade de Nossa Senhora – Dia de folga. Dormi bastante. Treinamos basquetebol pela manhã e voleibol à tarde. À noite fui até o Clube Thalia. Não era o baile de encerramento dos Jogos Universitários e sim um dos Chás de Engenharia. A R. estava lá e dançamos bastante até meia-noite.

09/09/59 – Quarta – À tarde houve jogo de basquete para os sargentos que venceram os da Fábrica de Curitiba. O Joélcio e eu apitamos o jogo entre a Cia do QG/5 x 5 Cia Int. Incidentes no final. O Cel Edson achou que fomos parciais. A Cia do QG perdeu. Não falei com a Rejane que estava lá. À noite dormi bem cedo. O calor parece com o do Rio de Janeiro.

10/09/59 – Quinta – Instruções. Voleibol. Incidentes entre treinador e jogador.

11/09/59 – Sexta – À noite deveria ir apitar um jogo de vôlei mas devido a um jogo amanhã não fui.

/2/09/59 – Sábado – À tarde houve um jogo de basquete contra os oficiais do CPOR lá no 20RI. Vencemos e fiz 23 pontos graças a Deus! À noite fui até a Praça Tiradentes para a assistir à chegada de Nossa Senhora Aparecida. Lá estavam os missionários pois começavam as missões. Fiquei com a R., Da. Lycia e Dr. Armando seus pais. Conversei algum tempo durante as cerimônias. Ontem fiquei até 21:00 conversando com a R., à porta da casa dela à Rua do Rosário, 99. Estou gostando cada vez mais dela.

13/09/59 – Domingo – Neste dia o meu irmão Felippe completava 25 anos. Os sargentos jogaram contra o QG vencendo por 36 x 30. Ontem os soldados perderam para o 20RI. À tarde dormi e copiei as matérias para o concurso da Escola Técnica do Exército. O Fluminense ganhou do Botafogo  por 2 x 1. O Sérgio e eu torcemos pelo Fluminense e o Joélcio pelo Botafogo. À noite fui à missa com a R.. O Pe. Augusto falou bem.

21/09/59 – Segunda – Estou cada vez mais gostando da R.. Parece que desta vez está nos planos de Deus! Tenho conversado com ela na sala de visitas. Já me mostrou os retratos dela e eu os meus. Ontem a apresentei ao Pe. Augusto. Tenho ficado mais fervoroso nestes dias de missões, com conferências, sermões, comunhões e missas. Tenho jogado basquete e voleibol. O Joélcio hoje me disse que está fazendo um teste para ver se gosta mesmo da Miriam. Tenho recusado ir a festas mas no sábado fui à casa do Ó de Almeida. Hoje comecei o estudo para a Escola Técnica. O Sérgio foi ao Rio no Sábado. Já combinei com a R. o horário de namoro durante a semana.

22/09/59 – Terça – O Sgt Noronha revelou muitas fotografias. As que eu tirei com a R. ficaram muito boas. O Frota Leite também tirou duas fotos quando eu colocava a bola dentro da cesta de basquete. À noite preparei instruções e rascunhei dois termos. Telefonei às 18:30 para a R..

23/09/59 – Quarta – Instrução. Voleibol. Escrevi para a mamãe.

30/09/59 – Quarta – Neste final de mês eu fui ao Baile das Debutantes no Clube Curitibano dançando o tempo todo com a R.. O Joélcio me levou no Citroen dele. Assisti com a R. e seu irmão Luiz Armando ao filme “Meus Amores no Rio”. Gostei muito pois revi Paquetá, a Barra da Tijuca, enfim todo o Rio.  Fui também ao encerramento das Missões. Na volta vim com a R. e sua prima Beatriz sob forte chuva e uma só sombrinha. Jantei na casa da R.. Tenho conversado bastante com ela. Estou pensando em ficar mais um ano em Curitiba para podermos nos conhecer melhor. Termino o mês meio indeciso em relação ao futuro, mas gostando demais da R.. Que Deus nos abençoe!

OUTUBRO-1959

01/10/59 – quinta – Com dúvidas sobre o futuro. Perdemos os jogos de voleibol.

02/10/59 – sexta - Prova de Química. Fiquei preenchendo o livro de tiro até meia-noite.

03/10/59 – sábado – O Comandante não veio. Fiquei preenchendo livro de tiro até 23:00. Fui ao Baile das Debutantes np Círculo Militar onde dancei bastante com a minha Rainha.

04/10/59 – domingo – Fiz um planejamento para o futuro tendo como objetivo ser Engenheiro Militar, se Deus quiser. À noite fui à missa na Igreja da Ordem. Pe. Augusto. R.. Confissão. Comunhão. O namoro me traz mais dificuldade para a vida espiritual. Jantei na casa da R..

05/10/59 – segunda – À tarde fui à cidade e conversei com a R.. Penso em casar com ela.

06/10/59 – terça – Continuo preenchendo o livro de tiro.

07/10/59 – quarta – Preparativos para um exercício no terreno.

10/10/59 – sábado – Fizemos um exercício militar no terreno. Na Seção de Reparação e Suprimento atuaram os sargentos Noronha, Fabro e Boçon. Regressamos hoje. Dormi à tarde. O Boçon ainda foi instalar os alto-falantes para a competição de atletismo regional. A R. foi a Paranaguá.

17/10/59 – sábado – Semana de Competições. A 5ª Cia Com ficou em 2º lugar no Atletismo. Fui o primeiro em lançamento de dardo a 42 metros. Nesta semana escriturei o livro de tiro e fiz o teste da Instrução Básica de Qualificação.  Recebi telefonemas de moça que não se identificava. Calor. Estou gostando cada vez mais da R.. Enviei o requerimento para o concurso à Escola Técnica do Exército. Hoje perdemos o jogo de basquete com o CPOR em homenagem à Semana da Asa. Não foi um bom jogo, tendo o Major Jansen de Mello nos repreendido em campo, havendo desclassificações. Moral da história: só aceitar jogo quando estiver bem treinado. A assistência foi regular. Penso ter sido a minha despedida do basquetebol. Tudo passa!

18/10/59 – domingo das Santas Missões – Estou contente com a vida. Espero ano que vem estar na Escola Técnica no Rio de Janeiro, junto da minha mãe e dos meus parentes. A R. iria lá em julho. Deixei a Faculdade de Engenharia. Era um pesadelo. Ontem não gostei de ver um soldado colando no teste. Não compreendo essa atitude. Almocei na casa do Mário. À noite fui à missa com a R.. Comungamos. Jantei na casa dela. O pai dela estava em um congresso sobre câncer, em Videira, Santa Catarina.

19/10/59 – segunda – Competição de natação no Colégio Estadual.

20/10/59 – terça – Consegui nadar 1.500 metros.

21/10/59 – quarta – Últimos preparativos para as manobras militares. Apitei com o Joélcio um jogo no CMP. À noite joguei basquete pela seleção universitária. Saí com 5 faltas. Vencemos por 1 ponto na prorrogação. Fui dormir à meia-noite e meia.

22/10/59 – quinta – A Cia Com foi para as manobras em Três Barras, no Campo de Instrução Marechal Hermes. Na hora senti vontade de ir mas vi que seria mais eficiente ficando no quartel. Dei instrução. À noite fiquei sabendo que não poderia fazer concurso para a Escola Técnica. Não faz mal! Na hora fiquei triste mas depois fui até a Catedral onde me confessei. Vi que havia muitas vantagens em permanecer em Curitiba.  Tudo O.K. , para frente! Seja feita a vontade de Deus! Vou ter mais tempo para estudar e tentar no próximo ano. Hoje o irmão da R., o Luis Armando completou 14 anos. Dei para ele um livro sobre Espaço e Foguetes. Havia muita gente da família da R.. Fiquei com ela até 23:00.

23/10/59 – sexta – Dia do Aviador. Dia de Santos Dumont. Acordaram-me às 07:00. Aproveitei para arrumar as minhas coisas. À noite perdi o jogo de basquete com os gaúchos.

24/10/59 – sábado – Instrução. À tarde consertei o rádio conseguindo aumentar bem o som. Viva! Coloquei os discos do Joélcio. Às 20:00 joguei basquete pelos paranaenses contra os gaúchos e perdemos na prorrogação. A R. assistiu ao jogo junto com o Luis Armando e sua prima Eliane. Conversei com ela até 23:40 e ela me deu um disco coma música “Eu sei que vou te amar...”.

25/10/59 – domingo – Acordei às 09:00. Dia bonito. Escrevi cartas no cassino dos oficiais ao som de discos. O Figueiredo apareceu e lhe emprestei a minha Yashica para tirar fotografias. Escrevi cartas para a mamãe, a Maria José e o Oscar. Enviei uma fotografia minha para o Oscar e a Risoleta. Para a mamãe enviei uma da R. e outra minha. Comecei a fazer o rascunho de uma palestra. À noite fui à Igreja da ordem com a R.. Confessei-me e comungamos. Jantei na casa da R.. Troquei a agulha do toca-discos.

26/10/59 – segunda – Continuo responsável pelo expediente no quartel. Instrução. Faxina. Tenho telefonado diariamente às 18:30 para a minha R..

30/10/59 – sexta – A Cia Com regressou às 16:15 das manobras. Tudo correu bem, graças a Deus! Frio.

31/10/59 – sábado – Instrução. Músicas. Achei bonito o quadro:  ela bordando uma toalha e eu ao lado dela  lendo a revista “O Cruzeiro”. O primo dela Raul apareceu. Conversamos. Eleições na Faculdade. Navio aeródromo. Jogos. Jantei. Estudei rádio. Li os diários para a R.. Sono. Regressei às 22:30.

E assim cheguei ao final de mais um mês. Estou gostando cada vez mais da R.. Espero vender a Lambreta por uns Cr$70.000,00 e colocar o dinheiro no BNMG para o casamento.  

NOVEMBRO-1959

01/11/59 – domingo - Dia de Todos os Santos – Acordei às 08:30. Estudei no cassino de oficiais ao som de boa música no alto-falante Goodman. Reli meu diário e fiz novos propósitos. Ad astra! Ad maiora natus sum! Depois do almoço dormi das 13:00 às 15:00. Voltei ao cassino e preparei a Palestra. Às 15:45 fui com o Sérgio até o centro da cidade. Fui à missa com a Da. Lycia, R. e Luis Armando. Confessei-me e comungamos. À saída falei com o Pe. Augusto dizendo-lhe que o sermão tinha sido muito bom: “Bem-aventurados os que sofrem porque serão consolados”. Conversei bastante com a R.. Sinto por ela um sentimento muito sincero e profundo de amor. Que Deus nos abençoe! Jantei. À saída, disse-lhe: - já que bem-aventurados os que sofrem, vamos servir na Belém-Brasília? –Você vai? –Ela respondeu: Não!  - Não? Perguntei eu. Não, respondeu ela. Bem, lhe disse eu, então não dá mais. Muito obrigado desculpe-me o incômodo. Adeus! E ia me retirando quando do portão perguntei de novo:- Vai? – Vou, respondeu ela. Voltei então e resolvi ficar mais um pouco, pois não gostara nada da experiência. Após pedir desculpas pela brincadeira, resolvemos nunca mais brincar assim... Ao chegar ao quartel, o sentinela soldado Jamil me disse que o soldado Horácio estava “atacado” quebrando tudo.  Fui até lá. O soldado estava deitado de bruços sobre a cama. Logo mandei todos os soldados irem para as suas camas e o Horácio também. Estava já no meu quarto quando o Sgt Lemos me chamou de novo. Fui até lá. Rezei o terço sentado na cama do Horácio pedindo a Jesus e às Almas do Purgatório que fizessem que ele dormisse. De fato após murmurar algumas orações, ele dormiu. Graças a Deus! Fui dormir às 00:45.

02/11/59 – segunda – Acordei às 07:50. Fui para o cassino, onde trabalhando ouvia a Rádio Tupi do Rio de Janeiro a transmitir músicas clássicas. Também a Rádio Tingui de Curitiba. À tarde fui ao Cemitério Municipal com a R., Dona Lycia e Elyane. Flores. Túmulo dos avós. A R. colocou um ramalhete de flores para o papai.

03/11/59 – terça – Fiz uma palestra no Internato Paranaense sobre a Vida Militar. À tarde houve campeonato de tiro para os soldados.

04/11/59 – quarta – Fui à Faculdade. Aula de Analítica. Alceu. R..

05/11/59 – quin ta – Instrução para os três soldados de outras Unidades. À tarde fui à casa do Alceu onde estudei Química.

06/11/59 – sexta – Fui à granja com os soldados para o Tiro. À tarde tive prova de Química.  Fui conversar com a R.. Planejamos nos casar no dia 9 de junho de 1961 se Deus quiser.

07/11/59 – sábado – Instrução. Fiquei desapontado com o fato de ir à manobra e deixar os três soldados adidos no quartel. Reclamei com o Tavares. Estudei Rádio. Fui falar com a R.. Hoje completamos dois meses de namoro e eu me esqueci. Dançamos. Às 23:05 me despedi.

08/11/59 – domingo – Fui dormir às 01:05 após ler o jornal “O Globo”. Os colegas foram ao baile das debutantes no Clube Thalia. Chegaram às 03:00. Acordei às 07:40.   Fui à cidade com o Sérgio e o Joélcio e depois fui à casa da R.. Fomos à missa e depois jantei lá. Reclamei do batom dela.

09/11/59 – segunda – Dei instrução para os soldados adidos. Falei com a R..

10/11/59 – terça – Dei instrução. Fui falar com a R.. Ela me deu uma fotografia dela debutante. Despedi-me.

11/11/59 – quarta - Parti para  uma manobra. Ponto de suprimento. Instrução dos adidos. Saudades da R..

12/11/59 – quinta – Instrução dos soldados adidos. Bom o ambiente na Seção de Reparação e Suprimento (Sec Rep Sup). Sargento Noronha, Irmão Fabro, Boçon “Chumbol”, Nunes o negativo dos outros Oficiais, Haas com o material dr construção, Pupia, Malin, Cubas e outros.

13/11/59 – sexta – Muita chuva, umidade e frio. O Sérgio foi ao acampamento e medisse que telefonou para a R.. Coturno molhado e pés úmidos.

14/11/59 – sábado – Mudança do local do acampamento. Incidente com o O’ de Almeida. Pensamentos negativos. No final deu tudo certo. Os construtores de linha trabalhando muito.

15/11/59 – domingo – Alvorada às 05:30. Crítica da manobra. Revi muitos colegas de turma. Afinal o regresso. Tudo OK. Fui falar com a minha querida R.. Como estivesse pintada custei a me acostumar. Afinal tudo um mar de rosas. Fomos à missa onde comungamos. Jantei com ela em sua casa. Conversei com o Dr. Armando.

16/11/59 – segunda – Dia de dispensa devido às manobras. Estudei com o Alceu. Fiz péssima prova. Passei o resto do dia com a minha namorada. À noite estudei Química com o Alceu.

17/11/59 – terça – Pela manhã fiquei no quartel. À tarde fiz prova de Química. Não sei se passarei por média. Voltei às 19:00 para o quartel. Tempo parecido com o do Rio.

18/11/59 – quarta – Instrução. Treinamento físico. Soube que houve explosões no Rio devido a terroristas. O Frota Leite chegou na segunda-feira. À tarde fui ao cine Ópera com a R. e seu irmão Luis Armando ver o filme “Arsene Lupin”, história de um francês que tinha grande habilidade em roubar. Achei-o muito malandro e sem escrúpulos. Comentei com a R. como é fácil uma mulher se deixar beijar nesses filmes. Voltamos para a casa dela. Conversamos até 21:30. Em dado momento dormi com a cabeça encostada em seu ombro. Deixei a Lambretta na casa dela e voltei de ônibus para o quartel.

19/11/59 – quinta – Dia da Bandeira – Acordei às 07:00. Às 11:00 fomos os Oficiais e Praças até a Praça Santos Andrade para uma cerimônia cívica. Graças a Deus os microfones e alto-falantes funcionaram bem. Hasteamento da Bandeira.   Bom o discurso do Sr. Laertes Munhoz. Esperava a R. mas ela não apareceu. Após a cerimônia fui até a casa dela. Ela havia se atrasado e resolvera não ir. Almocei no quartel e depois voltei à casa dela.

20/11/59 – sexta – Pela manhã dei as Instruções. À tarde fui para a prova de Descritiva. Tive que estudar na hora e graças ao Raul, primo da R. é que tive mais facilidade em resolver uma das três questões da prova. Fui depois conversar com a R.. Ontem eu deveria ir estudar com o Alceu na casa dele, mas não o encontrei. Voltei ao quartel sem estudar.

21/11/59 – sábado – Ontem a R. e eu fomos à missa e comungamos. Hoje é a despedida da primeira turma de soldados. À tarde o soldado Cassorla ainda deu uma olhada na Lambretta. Fui à missa com a R.. Na volta o Joélcio e o Sérgio me esperavam. Fomos até a casa do Casatle. Jantamos. Comentários sobre casamento. Ainda passei na casa da R..

22/11/59 – domingo – Fomos à missa das 11:00 na igreja do Rosário. Comungamos. Almocei com ela. Fomos à tarde à casa de seu avô Manoel Claro Alves. Lá fiquei até à noite de onde após jantar voltei para o quartel. Já havia passeado de Lambretta com a Luis Armando.

23/11/59 – segunda – Instrução. À noite fui à missa com a R. e voltei para o quartel.

24/11/59 – terça – Instrução. Chuva. Ao chegar à casa da R. encontrei-a com aquele vestido em que a tinha visto no jogo de basquete e com o cabelo enrolado. Ao vê-la sair com aqueles rolos na cabeça eu estranhei e perguntei se ela não levaria um véu. Disse-me que não era preciso. Não gostei.  Afinal ela me mandou ir sozinho pedindo-me que rezasse por ela. Respondi-lhe um tanto rispidamente. Na catedral senti inúmeros pensamentos negativos, achando que ela ia à missa todos os dias por minha causa e eu havia vindo desde o Bairro do Portão na chuva para ficar sozinho na igreja. Enfim quase não conseguia rezar com  tantos pensamentos. Fui depois até a Caixa Econômica. Após receber os vencimentos voltei à casa da R.. Chovia e eu não queria entrar. Afinal entrei. Ela havia desmanchado o cabelo. Havia também chorado e tivera seus pensamentos negativos pensando que eu não voltaria mais. Afinal eu lhe pedi desculpas muitas vezes. Considero-me muito egoísta e orgulhoso pois eu poderia ter ter mais compreensão para com ela.

25/11/59 – quarta – Tempo chuvoso. Instrução. Ambiente negativo outra vez no quartel.

30/11/59 – segunda – Fui em quase todos os dias à casa da R.. Estou cada vez gostando mais dela. Tenho sempre jantado lá. A Lambretta está ótima. Vamos à missa e comungamos todos os dias. Tenho tido algumas falhas no namoro, mas o ideal está sempre vivo.  

DEZEMBRO-1959

05/12/59 – sábado – Ficamos de sobreaviso no quartel devido aos acontecimentos nacionais. Aragarças. Cachimbo. Constellation da Panair. Coronel Veloso. (Jacareacanga 56). A R. foi hoje para Ponta Grossa passear com os pais e com o irmão. Reunião de médicos. Fiquei o dia todo no quartel. Estou recebendo a carga das viaturas pois o Sérgio vai para o Rio de Janeiro cursar a Escola Técnica do Exército. Hoje foi a prova dos três soldados adidos. À tarde dormi. Limpei a Lambretta. A R. me telefonou, se despedindo.

06/12/59 – domingo –Fui à missa das 06:30 na igreja do Portão. Confessei-me e comunguei. Estava de serviço. Lá pelas 10:00 fomos liberados da situação de sobreaviso. Todos ficaram contentes. Fomos jogar basquete no Círculo Militar. À tarde ouvi o jogo Flu 0 x Bangu 0 corrigindo as provas dos soldados.

07/12/59 – segunda – Prova oral de Física. Somente às 17:00. Saí-me bem graças a Deus. Fui à missa com a R.. Jejum e abstinência.

08/12/59 – terça – Imaculada Conceição – Missa às 11:00 com a R.. Almoço. Leitura. Álbum de retratos. Jantar em casa de uma tia. Quebra-quebra na cidade. Quartel.

09/12/59 – quarta – Prontidão no quartel. Exercícios de patrulha. Tudo OK, graças a Deus.

10/12/59 – quinta – Ontem recebi uma carta da mamãe. A R. também. Ela deve vir a Curitiba em janeiro para conhecer a R.. Continuamos de prontidão. Ainda não sei se irei ao casamento do mano Felippe com a Suely.

11/12/59 – sexta – Continuamos de prontidão.

12/12/59 – sábado – Fomos liberados da prontidão. Não fui falar com a R.. À noite fui à colação de grau de uma turma do Ginásio do Portão. Achei interessante.

13/12/59 – domingo – Como chegara um pouco atrasado à missa na igreja do Rosário, fui assisti-la na igreja da Ordem. Estamos no Advento. Almocei com a R.. Disse-me que estava com pensamentos negativos. Fomos até à casa dos avós dela. Passeei com ela e com o Luis Armando de Lambretta. O Fluminense ontem foi o campeão carioca. O avô Manoel Claro  é espírita. Discussões. Fiquei triste. Não quis jantar dentro da casa. Acabei na calçada. A R. chorou. Voltei ao quartel à noite.

16/12/59 – quarta – Dia do Reservista – Missa de Formatura da R.. Fui com o Sérgio. Depois fuii até a casa dela. O Joélcio chegou depois. Jantar. Onda de sobreavisos. Novos comandantes, exonerações, aula inaugural no CPOR. Política. Fomos até o Colégio Estadual. Calor. Muita gente. O Joélcio levoui-nos de automóvel. Tudo bem, graças a Deus!

17/12/59 – quinta – À noite houve o baile da R. no Clube Thalia. Dancei bastante com ela. O Sérgio de smoking e o Joélcio de uniforme, voltaram cedo para o quartel, sem dançar. O Defilipo dançou. Fui embora às 03:00. A R. também. Voltei de táxi (Nash-Cr$140,00). Saí muito feliz.

18/12/59 – sexta – Sobreaviso. Ordem do Frota Leite. Fiz o pagamento do pessoal. Graças aos sargentos tudo saiu bem. Fui dormir à meia-noite.

19/12/59 – sábado – Casamento do Felippe com a Suely. Que Deus lhes dê muita da verdadeira felicidade! Fomos liberados às 09:00 após as instruções. À tarde fui à casa da R.. Ela estava montando a árvore de Natal. A prima dela Beatriz também estava lá. Aproveitei para continuar a escriturar o Livro Carga da Seção de Rep e Sup do quartel. Às 18:00 fomos à missa. Confessei-me e comunguei. Jantei. Lemos juntos ouvindo discos. Estamos nos amando de verdade, graças a Deus!

25/12/59 – sexta – Natal. Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Nesta semana fui ao CMP com o Sérgio, muito serviço no quartel, segundo licenciamento dos soldados, Natal com a querida R., despedidas do Sérgio, almoço com a R., fotos, visitas a presépios e confissão na igreja da Ordem. Jantei na casa dos avós da R.. Lá estavam: avô Claro, avó Élia, tio Arildo, tia Lourdes e as primas Eliane, Beatriz e Lúcia. Agradeço a deus este Natal e peço perdão pelas falhas cometidas.

31/12/59 – quinta – Cheguei ao final de mais um ano. Consegui passar para o novo ano assistindo à santa missa e comungando. A R. esteve na casa da avó Élia. Tenho passado estes dias bastante ao lado dela de quem estou gostando cada vez mais. Estou contente, pois acho que no ano de 1959 eu trabalhei bastante. Espero terminar em 1960 o 1º ano na Faculdade de Engenharia e estudar bastante para o concurso à Escola Técnica do Exército. Por tudo agradeço a Deus meu soberano Senhor, a quem devo a vida, a saúde, a inteligência, a vontade, enfom, tudo. Deo Gratias! Ad maiorem Dei gloriam! 

 JANEIRO -1960

01/01/60 – sexta – Ia iniciar a Santa Missa quando se ouviu o buzinar dos automóveis. Novo ano! Novas esperanças! Eu não estava com a R., pois ela tinha ido passar o Ano Novo junto com os avós. Após a missa  fui encontrar com ela na casa dela. Tomei um copo de leite e comi nozes. Fui dormir no quartel. Almocei na casa dos avós. Foi feito um planejamento para um piquenique em Ouro Fino. Estou contente em ter começado melhor este ano. Segui o conselho de Jesus: “Estote parati!”

02/01/60 – sábado – Meio-expediente no quartel. Rotina. Tenho recebido cartões de casa extensivos à  R.. Inicio este ano gostando muito dela e pensando em me casar assim que puder. Sinto-me, entretanto sem dinheiro e outras condições para tal. Espero que no decorrer deste ano fique mais claro o caminho. Pretendo desligar-me da Escola de Engenharia e iniciar o estudo para a Escola Técnica do Exército. Economizarei o máximo que puder.

03/01/60 – domingo – A característica deste domingo é que fui à 1ª Tarde Dançante no Círculo Militar do Paraná. Dancei o tempo todo com a R.. Para ir à missa na Igreja do Bom Jesus tivemos que pegar um táxi para não chegarmos atrasados, a R., o Luiz Armando e eu. Voltamos a pé.

04/01/60 – segunda – No quartel estamos em meio expediente mas eu tenho aproveitado integralmente os dias.

05/01/60 – terça – O tempo continua bom. Tenho que aproveitar bem o verão pois o inverno para mim é um pouco ruim.

06/01/60 – quarta – Dia dos Reis. Dia santo. No quartel não houve expediente. Fui à missa na igreja do Portão. Pouca gente. À noite fomos ao baile de aniversário do Clube Curitibano. Dancei bastante com a R.. Lá estavam também a Beatriz e o Pedro. Gostei muito do baile. As orquestras tocaram muito bem.

07/01/60 – quinta – Começaram a se apresentar os novos conscritos no quartel.

08/01/60 – sexta – O Ó de Almeida foi transferido para a 1ª Cia Com Blda no Rio de Janeiro. Ele me convidou para ir para lá mas eu não achei uma boa idéia devido ao namoro com a R..

09/01/60 – sábado – À tarde desmontei a Lambretta ajudado pelo soldado Miguel Prezbycien para limpar o pistão. Fui à missa com a R. e jantei com ela. Tudo combinado para o passeio a Ouro Fino. Apareceram a Eliane, a Beatriz e o Pedro. O tempo não inspirava muita confiança. No quartel montei o tanque e ultimei os preparativos. Fui dormir à meia-noite.

10/01/60 – domingo – A chuva impediu o passeio a Ouro Fino. Acordei às 06:30, mas deveria ter acordado às 04:15. Mas a chuva me salvou, pois ninguém saiu. A Beatriz, prima da R., me telefonou. Falei também com a R.. Fui almoçar na casa da avó Élia, pois além do aniversário dela queriam dar um fim na comida que tinham feito para o piquenique. Recebi um recado de que a minha mãe iria chegar à noite em Curitiba. O meu primo Gilberto havia passado um telegrama para a R.. Fomos à missa na igreja da Ordem. Depois nos dirigimos o Dr. Armando, a R. e eu até a Estação Rodoviária onde esperamos o ônibus de São Paulo. O ônibus chegou às 20:15. Apareceu a mamãe acompanhada pelos netos Eliane e Ronaldo. Fiquei muito contente em revê-los depois de tanto tempo, graças a Deus! Muito obrigado! O Dr. Armando levou-nos de automóvel até a casa dele não me deixando pagar o táxi. Apresentações. Conversamos até meia-noite.

11/01/60 – segunda – Após o expediente fui até a casa da R. e jantamos todos juntos. A mamãe conversou muito relatando os fatos da vida dela principalmente as viagens que fez. Fui dormir tarde.

12/01/60 – terça – No domingo, logo que a minha sobrinha Eliane me viu, ela me entregou um bilhete da minha irmã Maria José. Ao lê-lo levei um susto, pois ela me dizia que certamente eu ficaria noivo da R.. Eu nem pensava nisso e fiquei meio confuso. Nestes dias ando sem dinheiro e me considero muito mal preparado ainda para casar. Se tivesse condições eu penso que já teria casado com a R..

13/01/60 – quarta – Pretendia ir à tarde à cidade, mas fiquei no quartel tentando descobrir um erro na Tesouraria. À noite fui conversar com os meus familiares.

14/01/60 – quinta – Hoje a mamãe falou muito sofre a vida dela. Ontem e hoje jogamos vários tipos de jogos. Estou muito feliz da vida. Já marcamos o dia do noivado. Será no dia do aniversário da R., no dia 08 de abril, se Deus quiser. No momento não tenho dinheiro nem para as alianças.

15/01/60 – sexta – De manhã assisti ao Juramento à Bandeira dos soldados do Grupamento B. À tarde trabalhei na Tesouraria. Passeei de Lambretta com o Ronaldo e com a Eliane. Jantamos todos juntos na casa da Dª Lycia. A família aumentou de repente! A mamãe pretende voltar para São Paulo na próxima segunda-feira. Já comprei as passagens. O Luiz Armando sempre muito alegre a brincar com o Ronaldo e a Eliane. A Dª Lina fica vendo as novelas. No quartel, o Figueiredo foi desligado hoje e o O’de Almeida já seguiu na quarta-feira para o Rio. O Joélcio está se preparando para ir também para o Rio.

16/01/60 – sábado – No quartel estou trabalhando na Tesouraria para passar os encargos ao 2º Ten I Ex Nery Dornelles de Oliveira. À tarde não fui logo para a casa da R.. Era para passearmos de automóvel, mas não deu certo. À noite jogamos vários tipos de jogos em conjunto.

17/01/60 – domingo – Fomos almoçar na Sede Campestre do Clube Curitibano. Fui de Lambretta na ida com o Ronaldo e na volta com a Eliane. Tiramos fotografias. Conversei com a mamãe sobre o futuro casamento com a R., onde morar, etc. Agradeço a Deus ter podido rever minha querida mãe. Fiquei muito contente. Fiquei o máximo de tempo com ela. Sou muito grato à família da R. pelo dedicadíssimo tratamento que deu a ela. Espero não decepcionar em relação à R..

18/01/60 – segunda – Providencialmente acordei às 05:30 e fui de Lambretta até a estação rodoviária. Despedidas. Voltei de Lambretta com o Dr. Armando. Passei a Tesouraria para o Dornelles. Tive que fazer uma cautela de Cr$5.300,00 para o acerto de contas. Como é demorada uma Prestação de Contas!

19/01/60 – terça – Fui à cidade para me despedir do Dr Armando e da Dª Lycia que vão viajar até o Uruguai. Só deverei ir conversar com a R. à tarde.

20/01/60 - quarta – Dia de São Sebastião. Os pais da R. viajaram às 04:00. As fotografias que tirei não ficaram boas.

21/01/60 - quinta – Quartel. Pretendo freqüentar a piscina do Circulo Militar. O Alceu Cordeiro me emprestou a documentação de Geometria Descritiva. Soube que vários colegas entraram para a Escola Técnica do Exército.

22/01/60 – sexta – O Joelcio vai embora amanhã. Despedidas. Fiz o exame médico para a piscina e passei. Graças a Deus!

23/01/60 – sábado – Às 04:00 o Joelcio partiu para o Rio no seu Citroen preto. Ele levou o Cap Frota Leite e o Raymundo, irmão da Miriam. No quartel, preparativos para a ida de duas viaturas com estações de rádio até Brasília, a nova Capital do Brasil. Hoje saiu o pagamento, graças a Deus! Fiz o Quadro de Trabalho Semanal do Departamento de Educação Física. Fui à cidade sem Lambretta. Pequenos desacertos com a R.. Missa na Catedral. Vitamina e pizza. Quartel. Arrumação do quarto.

24/01/60 – domingo – Acordei só no quarto. Nova arrumação. O meu rádio está funcionando bem salvo algumas interferências. Fui à cidade sem Lambretta. Fui à missa com a R. e o Luiz Armando. Fomos à sacristia onde conversamos com o Pe. Augusto que nos falou sobre as Cataratas do Iguaçu. Ele elogiou muito. A R. lembrou que podíamos passar a lua-de-mel lá. Quem sabe... Almocei depois na casa da R. com ela e o Luiz Armando. Fui até a Av. João Pessoa ver a passagem da Coluna Sul de Integração Nacional. Passou às 12:05. Obtive as Ordens com o Cap Dirceu e o Maj Perpétuo. À tarde me excedi um pouco nos carinhos com a R., mas combinamos sermos mais vigilantes. Segundo o Pe. Augusto o tempo de namoro e noivado é para conhecimento da alma. Voltei para o quartel. Tudo O.K. na Operação Brasília. O Sgt Leocádio datilografou no extensil. Fui para o quarto ouvi a BBC e escrever este histórico. Vontade de fazer tudo certo  na vida.

25/01/60 – segunda – Foi feita a distribuição do fardamento aos novos recrutas. Levou quase a manhã toda. À tarde fiz a pesagem e tiragem de altura dos recrutas. Terminei o dia bem contente e satisfeito. Escrevi uma carta para o Sérgio. Tenho economizado para poder casar com a R.. Estou me sentindo feito para ela e ela para mim.

26/01/60 – terça – Preenchi as fichas de treinamento até a hora da educação física. Fiquei bem queimado pelo sol. À tarde continuei nas fichas. Fui à cidade de ônibus. Enviei os Cr$10.000,00 do apartamento na Tijuca e o dinheiro do Sérgio com a prestação do rádio (2ª). Falei com a R.. As fotografias que eu tirei ficaram péssimas. Fomos à catedral e assistimos à missa. Tenho tomado leite com bolo na casa dela para economizar o jantar.

27/01/60 – quarta – Pela manhã dei instrução de educação física básica e rústica. Eu mesmo dei o banho nos conscritos com a água da mangueira pois a cisterna está em construção. À tarde levei a Lambretta para consertar perto do Círculo Militar. Tirei a carteirinha para a piscina. Chovendo sem parar. Telefonei para a R.. Consegui chegar lá bem molhado. Lá estavam a Beatriz, a Elyane e a Célia, primas da R.. Haviam rido muito. Tomei dois copos de leite e comi bastante pãezinhos feitos pela R.. O Luiz Armando sempre alegre. Os pais estão pelo sul do Brasil e Uruguai. Voltei de ônibus.

28/01/60 – quinta – Acordei às 05:50. Ouvi o deputado Eurípides Cardoso de Menezes a defender os judeus e a pedir aos católicos que telegrafassem para a embaixada de Israel no Brasil se solidarizando. Dei instrução de apresentação do armamento e ginástica básica com corrida rústica. Dias bonitos com bastante sol. Estou bem queimado. Morreu o embaixador Oswaldo Aranha. Grande repercussão. Deus lhe dê o céu. Lembrei-me de que quando seminarista ele havia oferecido para nós passarmos uns dias no sítio dele que tinha piscina. Foi no Ministério da Educação após uma das apresentações do nosso coro. A Rússia está a testar foguetes com 12.000km de alcance. O Presidente Eisenhower a tranqüilizar o povo americano dizendo que os Estados Unidos não estavam dormindo.  Ontem a R. me mostrou fotografias de uma reportagem sobre a Elizabeth Gasper, em “O Cruzeiro”. Vi também em uma capa da Manchete. Que a Liz esteja bastante feliz. Cada um com a vida que Deus traçou. Que abençoe muito a E.G.. Após o expediente fui à cidade. Os sargentos Calazans, Moreira, Néri e o Cabo Arílio me deram uma carona em um táxi. Fui à missa na catedral com a R. e o Luiz Armando. Confessei-me e comunguei ficando em paz comigo mesmo. A R. me deu dois copos de leite, pãezinhos que fizera e bolo de abacaxi. Deixou de dar leite para o irmão por minha causa! Vejo que sou muito querido dela.

29/01/60 – sexta – Instruções de armamento e tiro. Fiquei um pouco mais no quartel para fazer a classificação dos soldados. Fui à catedral com a R. e depois como sempre fui lanchar na casa dela. Tenho me despedido às 19:30 quando escurece.

30/01/60 – sábado – Consegui fazer o teste de aptidão física com os oficiais e sargentos. Houve um jogo de futebol entre os antigos e os novos. Os novos venceram por 1x0. À tarde fui ao cinema com a R., o Luiz Armando e a prima deles Lúcia, irmã da Beatriz. Usamos uma entrada permanente da Beatriz. Assistimos “Sissi a Imperatriz” no cine Marabá. Um filme histórico com algumas cenas cômicas. Em casa lemos o livro “A Vida em Aspiral”. Hoje a R. estava com dor de cabeça, garganta e ouvidos. A hora da despedida é sempre difícil exigindo um grande esforço da minha parte. Só penso no dia em que não mais precisarei me despedir dela. Será que vai existir? Hoje me senti cansado. É a educação física que exigiu um pouco mais de mim.

31/01/60 – domingo – Acordei às 06:15. Último dia do mês. Li o primeiro capítulo do livro “O Brilho da Mocidade” do Mons. Thiamer Toth. Tomei café e logo fui para a casa da R.. Cheguei ainda trinta minutos atrasado. Estou lendo o livro “Cadete do Realengo” do Cel Campos do Aragão. Muito interessante e me relembra muito a minha vida de cadete. Fomos conversar. Pedi para ler a reportagem sobre a E.G. na Manchete. Fiquei contente em verificar que a E.G. havia abandonado a vida de boate. Agora casada com o Carlos Madeira sente-se bastante feliz e reafirma não ter sido corrompida por aquele ambiente. Voltei a pensar um pouco nela. Almocei com a R. e o Luiz Armando. Depois descansei um pouco e quando acordei ela colocou uma bala de Nescau na minha boca. Como ela ia amanhã para Guaratuba eu lhe disse que aproveitasse o máximo, pois caso não desse certo o nosso namoro ela não tinha perdido nada. Às 18:00 ficamos os dois de rostos colados a conversar com a Dª Lina. Aos poucos vou vendo que o sentimento que sinto pela R. é muito mais perfeito e abençoado por Deus do que o pela Liz. Vejo que a R. se dedica totalmente a mim. Conversamos a passear pela calçada juntamente com o Luiz Armando. Finalmente chegou a hora de ir embora. Fui com ela até o ponto do ônibus do Portão, na praça Rui Barbosa. Nos despedimos. Ficaríamos 15 dias sem nos ver. Seria um teste para mim, dizia eu. Eu não preciso deste teste, retrucava ela. Vejo assim que eu sou o egoísta. (Bem dizia a Lidja.) No quartel fui logo dormir. Eram 23:00.

 

FEVEREIRO-1960

01/02/60 – segunda – Instrução. Educação Física. Testes. À noite reli as cartas da Liz, da Aldinha e da Verinha. Pensamentos de não prosseguir com o atual namoro. Impressionou-me uma frase da Aldinha: “Você às vezes escreve coisas que gelam o coração de qualquer um...”. Vejo que sou muito egoísta. Pensei em reatar com a Aldinha. Após rezar fui dormir.

02/02/60 – terça – Dia chuvoso. Instrução. O Cap Dirceu Ribas Correa vai embora para a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio. O quartel está quase sem oficiais. Dei a Educação Física com coturnos e calça de brim. Enquanto a caixa d’água não fica pronta eu mesmo tenho dado banho nos soldados com mangueira. À noite pensei na minha querida “noivinha” longe lá em Guaratuba. Ao ouvir a rádio Ouro Verde tocou a música “Luz dos meus olhos...( Meu Benzinho)”. Lembrei-me dela, apesar desta música também  me trazer a lembrança da já casada Liz. Resolvi escrever amanhã  para minha querida R.. Estou decidido a me casar com ela. Vejo que preciso casar para estabilizar logo a minha vida e poder me dedicar mais livre das paixões deste corpo a assunto que justifiquem a minha passagem por este mundo. Continuo em regime de economia. Hoje as Colunas de Integração entraram em Brasília. Juscelino, o homem do século?

03/02/60 – quarta – Acordei e logo pulei da cama. Ouvi o deputado Eurípedes Cardoso de Menezes. Falou sobre a confiança em Deus e a caridade. “Tudo o que pedirdes ao meu Pai em meu nome...”. “Tudo o que fizerdes a cada um destes pequeninos, é a mim que o fizestes...”. Citou o caso do Dep. Levy Miranda do Abrigo Cristo Redentor. Mais oração e maior caridade. Tempo chuvoso. Instrução de armamento. À tarde fui à cidade. Tirei fotocópia para radioamador. Encontrei o Swami Platt. Vai para a Escola Técnica do Exército. Falou que trabalhou muito. Já está casado com filhos. Está usando óculos. Achei-o meio esgotado. Continua espírita e me disse que a mulher do Sólon, meu primo, valia mais do que ele porque ela era espírita. Disse-me que o Sólon é defensor dos oficiais R-2 lá no 2º Batalhão Rodoviário de Lages, em Santa Catarina.  Fui à catedral onde me confessei renovando os propósitos de me vigiar mais para não cometer falhas. Quis comprar um presente para a Eliane, mas estava caro.No quartel jantei, varri o quarto e tratei do pagamento da Lambretta. Dormi às 21:00 esperando acordar cedo. Hoje escrevi uma carta para a minha querida R.. Já estou com saudades. Na rua vi a Sheila, mas continuei como se não a  tivesse visto.

04/02/60 – quinta – Acordei às 05:40 e logo pulei da cama. Ouvi o Dep E.C. Menezes. Falou sobre um outro deputado descendente de japonês elogiando-o muito pela sua capacidade e virtude. Dia bonito. Instrução de armamento e educação física. À hora do banho faltou água. À tarde fiz uma limpeza geral no Departamento de Educação Física. Após o expediente joguei uma pelada de basquete. Encerei o quarto. Tomei outro banho. Jantei. Escrevi para João Vargas de Oliveira S/A pedindo os documentos da Lambretta. Ouvia a rádio Ouro Verde mas em dado momento saiu do ar. Pensei na minha querida R.. Estou cuidando em me melhorar para ela. Ainda bem que vão ser só quinze dias. Achei muito bonito o entardecer hoje. Houve uma grande variação de cores. Aliás, o amanhecer também foi muito bonito com variações bruscas e rápidas da cor das nuvens e do céu.

05/02/60 – sexta – Acordei às 05:35 e logo pulei da cama. Bonita alvorada. Ouvi o dep ECM. Falou sobre Roma e Jerusalém, e os mártires. Instrução de armamento (mosquetão 1908/1934) e educação física. Banho de mangueira. Fui buscar água no latão com o soldado Filipak. À tarde tratei de assuntos administrativos. Fui à cidade. Correio. Faculdade. Lambretta. Catedral. 1ª sexta-feira. Comunhão 2/9. Quartel. Jantei. O cassineiro Nobile foi do Internato Paranaense e ouviu aquela minha conferência que fiz lá. Cansado fui dormir cedo. Coloquei os retratos da R. ao lado da cabeceira. Saudades.

06/02/60 – sábado – Acordei às 05:50. Ouvi o Dep. E.C.M.. Falou sobre Roma, os mártires e a santa missa. Pela manhã cuidei da documentação de tiro. Fiz o exame dos novos motoristas. Houve um jogo de voleibol com os conscritos que ganhamos facilmente. À tarde dormi até 15:00. Fui ao Círculo Militar. Joguei basquete com o tênis do Clóvis. Vencemos por 43x41. É o Torneio Ozires Gummi. Fui para a piscina onde nadei e convesei com vários conhecidos. Gostei muito da tarde que passei hoje. Voltei conversando com os amigos do 5º Batalhão de Engenharia de Porto União e amigos da Escola de Engenharia. Encontrei o Marciano que estava com a esposa. Passei pela catedral e comunguei, Cortei o cabelo. Passei pela casa da R. na rua do Rosário, 99. Entrei mas não falei com ninguém. Estou com saudades dela. Vou escrever outra carta. Voltei para o quartel. Jantei às 20:00. Dormi cedo. A caneta caiu de bico no chão.

07/02/60 – domingo – Acordei às 07:00. Escrevi outra carta para a R..  5º mês de namoro. Graças a Deus continuo querendo muito bem a ela , vencendo as tentações . Acredito ser a vontade de adeus que eu me case com ela. Que seja feita a sua vontade. Fui ao Círculo Militar. O filho do dono do posto de gasolina me levou no seu carro Ford 54 até a cidade. Nadei. Tempo um pouco escuro. Céu nublado. Joguei basquete. Perdemos o jogo para o time do Fritz e do Iacri. Faltou-nos o Kravitz, ótimo jogador e eu estava com dor de barriga. Assim mesmo o jogo foi bem disputado. Ainda nadei bastante na piscina. Um jogador de basquete me levou de carro até a praça Ruy Barbosa. Coloquei a carta da R. no correio. No quartel almocei às 14:40. Dormi até 16:00. Não consegui estudar Descritiva. Li um bom livro:”Concepção Católica da Vida”. Fui à missa na igreja do Portão.Confessei-me. Estava a dar a esmola quando passou a hora da comunhão. Fiz uma comunhão espiritual. Jantei no quartel. Fui para o quarto. Tenho ouvido bastante a rádio Ouro Verde. O alto-falante na caixa de som está ótimo.

08/02/60 – segunda – Acordei às 05:50. Ouvi o ECM. Falou sobre os mártires dizendo que devemos estar preparados para também o ser. Li um pouco dos livros de cabeceira. Dia normal de instrução: mosquetão, educação física com ginástica básica a 8 repetições e exercícios de vivacidade. Instrução também à tarde. À noite fiz ginástica e tomei banho. Após o jantar ia começar a estudar Descritiva quando resolvi tomar o pulso da minha vida. Fiz uma reconstituição de toda a minha existência. Cheguei às seguintes conclusões: Passar em Geometria Descritiva, sair da Escola de Engenharia da Universidade do Paraná e dedicar-me de corpo e alma ao estudo para o concurso para a Escola Técnica do Exército. Formar-me em Engenharia de Construção, ir para o interior do Brasil e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria , de Deus e da minha família. Se Deus quiser passarei. Querer é poder! E eu quero! Hoje completei 2 anos de 5ª Cia Com. Penso ter correspondido. Agora vou pensar mais na EsTE. Com a graça de Deus conseguirei mais uma vitória. Para a luta! Viver é lutar. Hoje recebi uma carta lá de casa. Todos vão bem, graças a Deus! Rezei o terço e pensei na minha querida R., futura companheira da minha passagem por este mundo. Espero muito do incentivo que ela me der para conseguir o meu ideal. Consegui a base que eu procurava.

09/02/60 – terça – Acordei às 05:59. Ouvi as rádios Nacional e Jornal do Brasil. Instrução. Treinamento físico, básica a 8. À tarde triângulo de pontaria. Tratando da instrução de tiro. Não pude ir à EEUP com queria. Resolvi ir amanhã. Hoje recebi durante a educação física a primeira carta da minha R.. Impressionou-me mais o seguinte período: “Querido, você pede em sua carta que eu aproveite e esqueça um pouco de você. O primeiro eu estou fazendo, mas o segundo é simplesmente impossível. Vou à fonte de água potável, na Santa, todos os dias e rezo por você. Faço o mesmo quando vou à Vila e passo pela igreja. Além disso todas as noites antes de deitar rezo um terço para você esperando que Nossa Senhora ouça as minhas preces.”Li e reli várias vezes, tal a alegria que me causou ter recebido esta carta. Escrevi uma carta para a minha irmã Risoleta. Estudei Descritiva.

10/02/60 – quarta – Acordei várias vezes durante a noite devido aos mosquitos. Levantei-me às 06:00. Ouvi a rádio Aparecida. Fiz um pouco de ginástica. Coloquei o 5º uniforme. Instrução de mosquetão. Fui à cidade. Coloquei a carta para a Risoleta no correio após passar pela EEUP e me inscrever para a 2ª época de Geometria Descritiva. Encontrei vários conhecidos. Um deles me disse que uma moça estava muito apaixonada por mim. Respondi-lhe que iria ficar noivo em abril com outra e que ele convencesse aquela moça a me esquecer. No quartel ainda dei treinamento físico, havendo um atraso. Após o almoço escrevi a terceira carta para a R.. Fiz todo o planejamento do estudo para a EsTE.  Serão 32 semanas. Troquei um cheque de Cr$300,00 com o Sr. Ruy. Sou-lhe muito grato. Jantei no quartel. Amanhã pretendo iniciar realmente o estudo da Descritiva para a segunda época. Ã meia-noite fui acordado pelo Sargento de Dia me pedindo o jipe para o Sargento Lemos ver o filho no bairro do Boqueirão. 

11/02/60 – quinta – Acordei às 05:20. Estou melhorando. Dei uma olhada na matéria de Geometria Descritiva. Posso passar. Dia chuvoso. Dei instrução também de Educação Física. À hora do almoço chegou o Cap Frota Leite. À tarde dei instrução. Saudades da R.. Não fui buscar o despertador no relojoeiro Duda para não ficar sem dinheiro. Limpei o quarto. Estou gostando da apresentação dele, pois está bem arrumado e me sinto bem nele. Ouvi a BBC. Tenho rezado o terço todos os dias ouvindo o Arcebispo de Curitiba, Dom D’Elboux pela rádio Santa Felicidade. Fui dormir às 21:00 com saudades dela.

12/02/60 – sexta – Acordei às 06:05. À noite senti os mosquitos outravez. Tenho estudado Geometria Descritiva. Dia chuvoso. Mesmo com a chuva dei a Ginástica Básica no vestiário dos soldados. Hoje finalmente eles já têm água saindo nos chuveiros. À tarde dei instrução. Estudei Geometria Descritiva. Jantei. Saudades dela. Penso que o Dr. Armando e a Dª Lycia já devem ter chegado de sua viagem ao Sul, pois hoje houve um telefonema para mim que quando atendi deu sinal de ocupado. Perguntei ao telefonista e ele me disse que era a voz de um senhor.

13/02/60 – sábado – Estou tratando do recolhimento de armas. Houve um jogo de basquete com os conscritos. Mesmo passando para o lado deles deu para ganhar. À tarde lidei com as fichas biométricas. Às 15:00 fui ao CMP. Joguei basquete pelo Paraná Esportivo. Vencemos facilmente. Nadei depois. Água ótima. Reparei que a Sheila estava apreciando. Em dado momento fui conversar com ela. Perguntei-lhe se passara de ano. Respondeu que sim. Perguntou por mim e eu lhe disse que ficara em três matérias. Logo pedi licença e continuei a nadar. Graças a Deus não senti mais nada por ela. Vejo que gosto mesmo é da R.. Após o banho de chuveiro caiu uma forte chuva. Fui para o bar. Conversei com o Cap Camargo, o Iacri, o Dulcídio, o Frota Leite e o Turquinho. Li “Narrativas Militares”, onde Taunay narra as cenas da Retirada da Laguna. Achei estranho o fato dos paraguaios desenterrarem os mortos para repartir os espólios. Também me impressionou a dificuldade em levar cento e tantos doentes. Mais ainda quando resolveram deixar os doentes e se irem. Em seguida a carnificina feita pelos paraguaios me pareceu desumana. Vejo que sofreram muito e eu não sofro tanto quanto penso. A chuva continuava. Fui de ônibus para o quartel. Cuidei da redação de um termo da Oficina de Manutenção. A França explodiu sua 1ª bomba atômica no Saara e apareceu um submarino desconhecido na Argentina. Fui dormir pensando na hora de rever a R.. Hoje comunguei e assisti à missa na Catedral. Era a comemoração das Bodas de Prata de um casal. Pensei quando fosse a minha vez.

14/02/60 – Domingo da Septuagésima – Aniversário da minha sobrinha Eliane. Não pude enviar o presente. Dia nublado. Acordei às 07:10. Fui à Igreja do Bom Jesus. Após a missa fui à reunião dos Congregados Marianos. Tudo simples e modesto. Deixei o meu nome e fui até o CMP. A Sheila estava lá mas desta vez eu não fui cumprimentá-la. Li as “Narrativas Militares”e fiquei deveras impressionado com o ritmo de vida de certos heróis. Vejo que eu também preciso me dedicar a um IDEAL que me exija por toda a vida. Joguei basquete. Entramos no campo certos da vitória mas perdemos o jogo. Faltou maior conjunto. Antes do jogo o Cel Edison me pediu o calção emprestado. Fiquei então lendo o livro sentado próximo à piscina. Após o jogo nadei um bocado ainda. Mesmo chovendo não parei de nadar. Às 14:00 voltei para o quartel onde almocei às 15:15 e dormi um pouco. Ouvi o jogo Paulistas x Cariocas. A atração era o Pelé. Logo no início houve um gol dos paulistas e eu não continuei a ouvir o jogo. Fui à missa na igreja do Portão.

15/02/60 – segunda – Dei instrução durante toda a manhã. À tarde tratei de assuntos administrativos. Jantei. Fui à estação rodoviária. Encontrei o Dr. Arildo e a Dª Lycia. Depois apareceu o Dr. Armando. Notícias de amas as partes. A Dª Lycia reclamou que eu não os fora visitar. O Dr. Armando me disse que a minha máquina fotográfica Yashica-mat havia falhado. Que pena! Infelizmente não sei o que pode ter acontecido. Afinal chegaram os ônibus da Empresa Lapeana. Foram aparecendo a Beatriz, a Elyane, a Célia, a Dª Lourdes e finalmente apareceu a minha R.. Estava bem queimada do sol. Foi procurar uns casacos que perdera. Tomamos um táxi. Atritos por ocasião da espera na fila com o soldado da Polícia. Em casa fiquei na copa. O Dr. Armando mostrou fotos da viagem. A R. falou sobre a temporada em Guaratuba. Jantaram. Comi um pedaço de bolo e bebi um copo de leite. Às 21:15 levantei-me para me despedir mas à porta demorei-me a me ir definitivamente. Finalmente às 23:00 conseguimos nos despedir. No quartel dormi às 23:30.

16/02/60 – terça – Acordei às 06:20. Instrução. O Cap Dirceu apareceu. Não fui à Educação Física. Vimos o Termo da Oficina de Manutenção. Despedidas. À tarde fiz o planejamento do Treinamento Físico no Período de Preparação dos soldados. Fui à cidade. Passei pela EEUP e depois fui ao QG tratar de um caso do Sgt Osmir. Fui ao SRAM/5 tratar de novas armas para o quartel. Voltei ao quartel para a Educação Física. A R. ligou combinando um cinema amanhã para ver “Sissi e o seu destino”. Tomei banho. Jantei. Limpei o quarto. Estudei Geometria Descritiva das 20:00 às 20:35. Terço e de novo Geometria Descritiva das 21:00 às 22:00.

17/02/60 – quarta – De manhã dei instrução. Treinamento Físico. À tarde fui ao cinema com a R. e o Luiz Armando assistir ao filme da Sissi. Filme histórico com belas paisagens. Depois fomos à catedral onde me confessei.

19/02/60 – sexta – Ontem e hoje dei instrução. Falei com a R. mas não fui à reunião dos congregados marianos.

20/02/60 – sábado – Último dia do Período de Adaptação dos conscritos no quartel. Tempo chuvoso. À tarde conversei com o Frota Leite sobre a vida militar. Dormi. Hoje tomei vacina Te-Tab. Às 17:00 estava na casa da R.. Tempo chuvoso. Ela estava bordando junto com a mãe. Fomos à missa. Jantamos e depois fomos à casa da amiga dela Terezinha, filha do Cel Bizerril. Fomos de carro com o Dr. Armando. Apresentações. Despedidas de um dos filhos que vai ser dentista em Maringá. Colegas militares: Iacri, Camargo, Brand Teixeira, Tourinho, e outros. Dancei bastante com a R.. Ela estava muito bonita com um vestido branco com bolinhas vermelhas contrastando com a sua pele bronzeada. Às 23:30 o Dr. Armando foi nos buscar de táxi.

21/02/60 – Domingo da Sexagésima – Acordei às 08:00. Tempo chuvoso. Toquei bandolim. Fui à casa da R.. Assistimos a missa na igreja da Ordem. Comungamos e pedimos a Deus para termos um tempo de namoro sem falhas. Tempo chuvoso. Almoço. Conversamos bastante. Lemos o livro “O Mistério do Amor” de Fulton Sheen. Devemos amar também as pessoas que não gostam da gente. Não estudei Descritiva. Preferi conversar com a R. e a Dª Lycia. Não fui visitar a filhinha do Ten Mário por esquecimento e por causa da chuva. Às 22:00 consegui ir para o quartel.

22/02/60 – segunda – Novo horário. Burocracia. Testes da Aptidão Física. À noite estudei Descritiva até 22:45. O Sérgio Tavares escreveu para o Ten Hélio. Muito estudo lá na EsTE. Com saudades telefonei para a R..

23/02/60 – terça – Burocracia. Testes. Treinamento Físico. Instrução. Não consegui trocar 24 armas no SAM/5. Recebi os vencimentos de fevereiro. Muito obrigado, Divina Providência! Treinei basquete após o almoço. Após o jantar toquei bandolim até as 20:25. Ouvi a Rádio Vaticano e outras rádios estrangeiras. Estudei Descritiva das 21:00 às 22:45.  Saudades dela.

24/02/60 – quarta – Pela manhã houve Treinamento Físico e providências administrativas. À tarde fui ao DRAM/5 onde tratei do recolhimento de 24 armas. Fui ao QGR/5 onde consegui a assinatura do Cel Irazê Paes Brasil. Voltei ao DRAM/5 mas não pude trazer as novas armas. O Cabo Jorge era o motorista da viatura Dodge EB-211608.Telefonei para a R.. Fui de novo à cidade. Vi a Lambretta cujo  conserto vai sair por uns Cr$3.000,00. Fui à catedral onde a R. e eu comungamos. Depois fomos jantar. O Dr. Armando estava jogando boliche no Clube Curitibano. Eu estava com tanto sono que quase não consegui conversar com a R. e a Dª Lycia.

25/02/60 – quinta – Acordei às 06:30. Tenho dormido às 23:00. Tratei da escrituração do Depto. de Educação Física.  Fui ao DRAM/5. Atraso. Ajudei. Só pude sair às 12:20 e só com 9 armas. No quartel à tarde fiz o 2º Teste de Aptidão Física com os Oficiais e Sargentos. Tudo pronto para o Tiro. Fui à cidade buscar a Lambretta. Um carioca era o encarregado de tornear o cubo da roda. Solda. Só sai lá pelas 20:15. Paguei Cr$1.500,00. Hoje houve um acidente aéreo com dois aviões no Rio. Morreram vários músicos de uma Banda de Fuzileiros Americanos. Deus lhes dê o céu! Conversei com a R., a Dª Lycia, o Dr Armando, a Lina e o Luiz Armando. A R. hoje foi conversar com a Miriam na casa dela. Esrtudei Descritiva e voltei de Lambretta.

26/02/60 – sexta – Acordei às 06:50. Tempo instável. Mesmo assim fui à Granja para instrução. Graças a Deus mesmo chegando com grande chuva esperei um pouco e iniciei a instrução. Bom rendimento. Chegamos de volta ao quartel às 17:30. Banho. Jantar. Limpei o quarto. Ouvi a Rádio Vaticano e rádios estrangeiras. Comentários sobre a vinda do Presidente Eisenhower à América do Sul. Dormi cedo às 21:00. Tempo frio.

27/02/60 – sábado – Expediente. Testes de Aptidão Física. À tarde os soldados Caçador e Marques, e eu limpamos a Lambretta. Fui à cidade. Passei pelo CMP. Recebi uma medalha do Gilson. Fui à missa com a R.. Conversamos.

28/02/60 – domingo – Cheguei cedo na casa da R.. Fiquei com ela o dia todo. Estudei Descritiva. Ontem recebi uma carta do Joélcio e respondi hoje. Fui à missa com a R. na igreja da Ordem às 11:30. Chuva. Sinto que gosto muito dela e que é muito sincero este meu sentimento. Agradeço aos Céus me ter reservado tão boa companheira para a vida.

29/02/60 – segunda – Estudei Descritiva. Não pude deixar de ir à cidade, aproveitando para comungar e falar com a R.. Deu-me um copo de leite e um sanduíche de queijo. Chegaram o Dr Armando, a Dª Lycia e o Luiz Armando vindo de um baile infantil de carnaval no Clube Curitibano. Despedi-me às 19:30. Estudei no quartel das 20:00 às 23:00.  

 

MARÇO – 1960

01/03/60 – terça – Acordei às 07:00. Estudei Descritiva. Visitei a R.. À noite voltei a estudar até 23:00.

02/03/60 – quarta – Estudei Descritiva. Expediente no quartel à tarde. À noite estudei até 23:20.

03/03/60 – quinta – Acordei às 05:50. Ouvi o deputado E.C.Menezes falando sobre a Quaresma. Fui à cidade. Estudei na praça. Fiz a prova escrita de Descritiva. Saí-me bem pois fiz duas das três questões, graças a Deus! Passei pela casa da R. e voltei para o quartel. A Lambretta sempre útil nessas horas. Instrução. Mochilas. Recebi cartas da minha irmã Risoleta e da mamãe. Comecei a sentir uma dor do lado direito mas não sei o que é. As notícias recebidas da família no Rio são todas boas, graças a Deus! O meu irmão Felippe vai para o Rio e o cunhado Oscar está na campanha política do Narechal Lott. As minhas sobrinhas Violeta e Vera estão no Instituto de Educação.  O Oscarzinho está na escola. A Anna vai se casar. Nasceu uma nova sobrinha filha da Maria Helena chamada Rosane. Iniciei o estudo para o exame oral de Descritiva às 19:00.

04/03/60 – sexta – Pela manhã dei as instruções. À tarde fui até a EEUP. Fiz o exame oral de Descritiva. Na hora do exame me esqueci de muita coisa. Saí na dúvida se havia passado ou não. Fui à casa da R. onde jantei após irmos à Catedral.

05/03/60 – sábado – Pela manhã instrução. À tarde lavei a Lambretta com o soldado Caçador. Fui ao CMP após passar pela casa da R. e trocar a roupa. Nadei e joguei basquete. Catedral. À noite fomos assistir ao filme “A Ponte do Rio Kwai”. Gostei da paisagem do Ceilão e do enredo. História de soldados prisioneiros ingleses que trabalhavam sob o jugo dos japoneses na construção de uma ponte de madeira. Inflexibilidade do comandante inglês que venceu a do japonês. Uma patrulha dinamita a ponte que foi muito bem construída. Aliás o próprio coronel inglês que construira a ponte ao cair no chão aciona o circuito que provoca a explosão ao passar o trem. Reações de um jovem soldado ao ter que matar... O trabalho de engenharia... A música... A atenção permanece até o final. Voltei para o quartel de Lambretta que está ótima.

06/03/60 – domingo – Acordei às 07:00 e fui ao CMP após passar pela casa da R. onde trquei a roupa. Nadei na piscina e joguei basquete. Bonito dia! Após o almoço fui à casa dos avós da R.. Eu dei uma cochilada de uns dez minutos no sofá na casa da R.. Comemoração dos 71 anos do Avô Manoel Claro Alves. A irmão do Raul, Élia com os seus filhos Ruy Carlos e Ângela. Passeei de Lambretta. Doces. Jantar. Conversas. Política.

07/03/60 – segunda – Treinamento Físico. Instrução para Oficiais. Treinei basquete. Hoje completamos seis meses de namoro a R. e eu. Graças a Deus! Recebi um telefonema da R. dizendo que eu passara em Descritiva. Viva! O Raul fez a minha matrícula em Analítica e Cálculo na EEUP. À tarde instrução de Oficiais. A noite a R. me telefonou de novo e comentamos p meio ano de namoro. Ela havia ido à primeira aula do Curso de Dona de Casa. Encontrou uma prima do Tenente Luiz Cavalcanti e a Sheila. Vejo que nesta cidade todos se conhecem. À noite escrevi uma carta para o Sérgio Tavares. Não fui ao comício pró-Lott. Resolvi descansar um pouco no quartel. Limpei o quarto.

08/03/60 – terça – Treinamento Físico. Administração. À tarde fui de novo ao SRAM/5. Consegui as armas restantes. Água mole em pedra dura...

09/03/60 – quarta – Preparativos para a manobrinha. Treinamento Físico. Futebol com os Sargentos ficando eu como goleiro. À tarde visitei a R.. Catedral e jantar.

10/03/60 – quinta – Deslocamento para a granja. Tiro. Chuva. Vontade de ir jogar basquete contra o Clube Curitibano. A chuva me impediu. Show do Sargento Fabro.

11/03/60 – sexta – Chuva. Tiro. Treinamento Físico com chuva. À noite entrevistei os Sargentos. Música. Chuva. Saudades da R.. Dormi bem após rezar o terço.

12/03/60 – sábado – Acordamos às 05:00. Preparativos para o regresso. Marcha de volta. Cantos. No quartel limpeza do material. Almocei bastante. Telefonei para a R.. Pensando no dia do noivado que está se aproximando com certa indecisão. Arrumei a Biblioteca do quartel. Ia à piscina mas choveu. Fui conversar com um confessor muito bom. Disse-lhe que na minha vida costumava recuar ao ter que tomar uma decisão muito importante. Ele me lembrou que eu já decidira duas vezes e que não deveria deixar de decidir na terceira. Bons conselhos. Considerei-me já casado com ela perante Deus. Chuva. Fui ver como estava a Lambreta. Com a chuva torrencial ela ia descendo a rua do Rosário. O Dr. Armando me emprestou uma capa e um chapéu. Fui correndo para segurá-la e molhei-me bastante. Depois a R. colocou os meus sapatos para secar no forno. Lemos a revista Manchete juntos. A Dona Lina ouvia a novela Sinhá Mestiça com a Virginia.

13/03/60 – domingo – Toquei bandolim. Atrasei-me. Almoço. Casa dos avós. Missa na Igreja da Ordem.

14/03/60 – segunda – Preparativos para a festa de aniversário da 5ª Cia Com. Chegaram Oficiais do 5º Batalhão de Engenharia de Porto União.

15/03/60 – terça – 25º Aniversário da 5ª Cia Com. Alvorada com música. Missa. Comentei a missa pelo alto-falante. Jogos. Perdemos o basquete para o 5º BE. Os Sargentos jogaram futebol de salão. Almoço com chope. O Cap Rotta do CPOR declamou uma poesia gaúcha. Conversei com o Major Walbach, o Tem Cel Edison e o Cap Lybio King. Vencemos o jogo de futebol de salão.

16/03/60 – quarta – Treinamento Físico. Torci o pé esquerdo ao jogar basquete. Fiquei no quartel.

17/03/60 – quinta – Estou com o pé enfaixado. Instrução. Vacinação dos Soldados. Administração. Telefonei para a R.. Encerei o quarto. Ouvi a rádios Vaticano, BBC e Ouro Verde.

18/03/60 – sexta – Termos administrativos. Livros de carga ainda não escriturados. Ainda com o pé enfaixado.

19/03/60 – sábado – Dia de São José. Após certa indecisão fui ver a R.. Disse a ela que se não a visse eu acabava esquecendo dela. Ela escreveu no calendário: “Eu não quero obrigar você a nada. Faça o que quiser mas reflita antes.” Passei pelo alfaiate onde encomendei um terno azul (Cr$8.000,00). Com a R. levei a Lambretta até a oficina do mecânico Jorge. Missa. Comunhão. Jantar. Quartel. 

20/03/60 – domingo – Cheguei às 09:45 na casa da R.. Fiquei a ler no sol e ela na cozinha a preparar um prato que ela aprendera. Fomos à missa das 11:30 na Igreja da Ordem. Almoço. Conversamos e lemos ouvindo músicas de discos colocados pelo Luiz Armando. O Dr. Armando o levou à piscina da Sociedade Duque de Caxias. Fomos à casa dos avós. Planejamentos. A prima da R., Elyane namorando o Pedro Celso e a Beatriz o Pedro Todeschini. Jantamos. Frio. Varanda. Ônibus.

21/03/60 – segunda – Administração. Instrução dos Oficiais. Treinamento Físico. Ainda com o pé inchado. Toquei bandolim. Rascunhei termos e adiantei livros de carga. Ouvi rádio.

22/03/60 – terça -  Coomo deixei as janelas fechadas, acordei só às 06:45. Arrumei-me rapidamente. Parte administrativa. Falta d’água. Os cabos Rocha e Jorge datilografaram termos para mim. Partes de aquisições. O Soldado Kitzig disse-me que as alianças iam me custar Cr$3.600,00. Dia bonito. Corrigi provas. À noite tivemos que ficar de prontidão e com 10 viaturas em condições de suprir a falta de ônibus devido à greve em Curitiba. Fui dormir às 24:30. Só falei 30 segundos com a R. pelo telefone.

23/03/60 – quarta – Suspensa a prontidão até as 20:00. À tarde dei uma saída. O Mário me emprestou Cr$200,00. A R. foi visitar uma amiga. Fui à EEUP. Bom o horário. Carteirinha de estudante. Colegas. Fui ao CMP. Piscina. Usando tornozeleira devido ao tornozelo esquerdo inchado. Nadei. Problemas com a Lambretta na gasolina e no cabo de velas. Consegui chegar no quartel faltando 2 minutos para as 20:00, graças a Deus! Prontidão. Fui dormir às 22:00.

24/03/60 – quinta – Acordei à 00:45 com um telefonema do QG. Às 03:00 preparativos. Suspensa a ordem. Ainda dormi das 05:00 até 06:45. Ordem Unida. Dia bonito!

25/03/60 – sexta – Visita do General Comandante da 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Infantaria, Gen Div Benjamin Rodrigues Galhardo. Guarda de Honra. À tarde instrução de Lança-Rojão para o Curso de Formação de Cabos (CFC). Dia de sol. À noite telefonei para a R..

26/03/60 – sábado – Dia bonito. Treinamento Físico. À tarde o Soldado Caçador limpou a Lambretta. O cabo de troca de marchas está quebrado. Calor. A R. e o Luiz Armando foram ao cinema. Conversei com a Dª Lycia. Ia à piscina, mas resolvi não ir para aproveitar o tempo para consertar a Lambretta. Ia escrever uma carta para casa, mas não consegui me concentrar. Estou sempre a pensar no dia 8 de abril que se aproxima! Fomos à Catedral. Voltei ao quartel usando só a 3ª marcha na Lambretta.

27/03/60 – domingo – Acordei às 07:45. Café. Bandolim. Fui visitar a R.. Almoço. O Dr Armando e o Luiz Armando foram passear em Oro Fino. A R. me deu um remédio para resfriado. Que noivinha boa! Voltei para o quartel.

28/03/60 – segunda – Treinamento Físico. Escriturei o Livro Carga da Seção de Reparação e Suprimento. Telefonei para a R.. Dormi à 00:20.

29/03/60 – terça – Tiro para os Oficiais no 5º Regimento de Obuses 105. Treinamento Físico. Livro Carga. Novo comandante. Fui ao DAM/5 para resolver o caso de sabres. O Soldado Caçador lavou a Lambretta. Telefonei para a R.. Ela foi a Ouro Fino. Livro Carga. Carta para a mamãe.

30/03/60 – quarta – Treinamento Físico. Corrida. À tarde levei a Lambretta para conserto. Piscina. R.. Catedral. Comunhão. Jantar. Rádio Philco. Carta para a mamãe no correio. Sempre amando intensamente a R..

31/03/60 – quinta – Marcha. Acampamento. Treinamento Físico. Granadas. Metralhadora Madsen. Rádio.

ABRIL – 1960

01/04/60 – sexta – Acampamento. Instrução. Marcha noturna de 16km. Chuva. Permaneci no acampamento.

02/04/60 – sábado – Quartel. Administração. Lambretta. Telefonei para a R. dizendo que não iria à casa dela. Dormi. Fiz a manutenção da Lambretta com o soldado Caçador. Encerei o quarto e engraxei os sapatos.

03/04/60 – domingo – Acordei às 07:45. Café. Bandolim. Banho. O vento derrubou a Lambretta. Fui à casa da R. e fomos à missa na igreja da Ordem. Comungamos. Almoço. Jornais. Kruschev na França. Orós. Inundações. Brasília. Fomos à piscina no Círculo Militar. Tirei retratos com a Iashicamat. Chuva. Beatriz e Pedro. Tarde dançante. Regresso. Igreja da ordem. Casa da R.. Jantar. Sala de estar. Sono. Discos. Chuva. Deixei a Lambretta e voltei de ônibus. Chuva forte. Fui dormir às 24:00.

04/04/60 – segunda – Acordei às 06:30. Parte administrativa.Instrução. Dia chuvoso. Canções. Pensando como emplacar a Lambretta. Encomendei a um despachante.

05/04/60 – terça – Ginástica Básica a 12 repetições. Futebol até as 18:15. Basquetebol à noite entre Círculo e o Curitibano. Empate. Cesta do Miro. Dúvida. Voltei de Lambretta que está ótima.

06/04/60 – quarta – Treinamento físico. À tarde fui à cidade. Missa. Confissão. À noite conversei com o Dr. Armando Tramujas. PEDI CONSENTIMENTO PARA FICAR NOIVO DA R.. ELE CONSENTIU, GRAÇAS A DEUS! Com um beijo transmiti a notícia à R..

07/04/60 – quinta – Sete meses de namoro. Hoje a Dª Lycia completa 41 anos. Dei-lhe uma chícara do Congresso. À noite resolvi visitá-la.

08/04/60 – sexta – Aniversário da R.. 18 anos. No quartel acontecem os preparativos para a visita do Comandante do III Exército, General Osvino Ferreira Alves. Novo terno no alfaiate (Cr$8.000,00). Fui à casa da R.. Fomos à Catedral. Confessei-me e comungamos juntos. Depois fomos na Sacristia com o Padre Augusto. Altar do Santíssimo. Alianças. Benção. NOIVOS! Graças a Deus, à Maria Santíssima, a São José, à Sta Terezinha, a Sta Maria Goretti, a Sta Rita de Cássia, à Nossa Sra de Lourdes e à Beata Bernadette Soubirous. Na casa da R. jantar e preparativos de doces para o sábado. Despedida.

09/04/60 – sábado – Visita do Cmt do III Exército. Boa impressão. Ordem de Marcha. Futebol. Goleiro. Telefonei para a R.. Nesta semana recebi uma carta do Sérgio Tavares com respostas a umas perguntas minhas. Resolvi entrar para o 1º ano se Deus quiser. A mamãe enviou um presente para a R., que foi uma pulseira de ouro. Às 18:30 estive no CMP onde houve um coquetel em homenagem ao Cmt do III Ex. Muitos oficiais: Braz, Hélio, Cel Edson, Rudge e o Major Waldemar da Preparatória de São Paulo. Voltei à casa da R. onde recoloquei o traje civil. Doces. Conversas com os parentes. Graças a Deus o nosso noivado foi muito feliz. Estou deveras amando a minha noiva e agradeço a deus ter vencido todos os pensamentos negativos.

10/04/60 – Domingo de Ramos – Acordei às 07:45. Bandolim. Casa da R. de Lambretta. Missa das 11:00. Comunguei. À saída vi a Lidja com o Barnabé. Almoço na casa da R..  Fotografias após o almoço. Escrevi duas cartas, uma para a mamãe e outra para o Sérgio Tavares. Levamos doces para o Padre Augusto. Conversa na sala. Planejamento de uma ida a Guaratuba. Frio. Voltei bem agasalhado de Lambretta.

11/04/60 – segunda – Marcha de 24km. Incidente com um motorista de caminhão. Cansado. Telefonei para a R.. Ela me disse que o Dr Armando já comprara as passagens para Guaratuba. Um colega também me convidou a ir a Bandeirantes, mas vejo que não vai ser possível. Iria com uma equipe da EEUP. Frio. Lua cheia.

12/04/60 – terça – Hoje é o dia do jogo CMPxCuritibano. Administração. Treinei basquete ao meio-dia. À noite jantei no quartel e ainda comi algo na casa da R.. Jogo. Foram assistir: Dona Lycia, Dr. Arildo, R., Luiz Armando, Elyane, Beatriz e Pedro. Bom jogo. Bolas difíceis do Kravitz. O CMP virou com 14 pontos na frente. No final empate de 49x49. Na prorrogação: 53x51. Vitória do CMP, graças a Deus! Na casa da R. leite e bolo.

13/04/60 – quarta – Administração. Treinamento Físico. Testes. Futebol. Cidade. Compras com a R. (Cr$1.020,00 pelo emplacamento). Jantar. Quartel.

14/04/60 – Quinta-feira Santa – Acordei às 02:40, 03:00, 04:00 e fui acordado às 05:00. Mala. Lambretta. Garoa. Casa da R.. Café. Rodoviária. No ônibus ao lado da R.. Conversamos. Dormi. Quatro horas de viagem. Finalmente Guaratuba. Dia bonito. Jardim. Almoço no hotel. Capinando. Casa da Dª Lycia de madeira, cor verde com janelas cor de abóbora. Grande hospitalidade. A R. sempre ao meu lado. Estou muito feliz. Praia. Fotografias. Vi o Bizerril. Muito bom o banho de mar. Capinei. Banheiro improvisado. Jantar. Conversa. Noite estrelada. Jogo de futebol: FluminensexSantos. Ouvi pelo rádio Philco. O Flu ganhou de 4x2 de virada.

15/04/60 – Sexta-feira Santa. Acordei  às 07:20. Fui acordar a R. batendo na janela do quarto dela como combinara. Resultado: janela errada! Acordei o Dr Armando! Dia bonito! O sol já estava no alto. Banho de sol. Li a Imitação de Cristo e o livro do Ignace Lepp. Exercícios. Compras. Sempre com a R. ao meu lado. Banho de mar. Almoço reforçado por causa do jejum. Dormi. A R. ajudando a Dª Lycia na cozinha. Passeio pela praia. Caieiras. Colônia de Férias do Prosdócimo. Fotografias. Visita ao Dr. Lineu. Na rede com a R.. Dormi.

16/04/60 – Sábado Santo – Acordei às 07:20. Acordei a R. pela janela. Capinei. Escriturei o Livro Carga do quartel. Praia. Fotografias. Bonito dia. Bom banho de mar com a R.. Rede. Fomos buscar água potável na Gruta da Santa. Estou amando muito a minha noivinha.

17/04/60 – Domingo de Páscoa – Acordei às 06:10. Acordei a R.. Missa. Fomos passear no morro do Cristo. Fotografias. Tiramos uma nos beijando. Despedida do banho de mar. Almoço no Hotel Curitiba. Passeio no Iate Clube (em reformas). Regresso de ônibus. O Fluminense sagrou-se campeão do Torneio Rio-São Paulo (Roberto Gomes Pedrosa), vencendo o Palmeiras por 1x0, gol de Valdo. Com vontade de logo me casar com a R.. Ela me deu de presente de Páscoa uma caixa azul em forma de coração com ovinhos de chocolate. Ah, que noivinha! Despedidas. Voltei de ônibus para o quartel, indo dormir às 24:30.

18/04/60 – segunda – Administração. Saudades da praia. Telefonei para a R.. Livro carga.

19/04/60 – terça – Livro carga. Não ia ao jogo CMPxCuritibano, mas às 22:00 o Maj  Paranhos me telefonou e eu fui. Perdemos por 74x55.

20/04/60 – quarta – Livro carga. Não consegui aprontá-lo. À tarde fui à casa da R.. Colocamos as fotografias no álbum. Todas saíram bem.

21/04/60 – quinta – INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA – Feriado. Acordei às 09:00. Treinei basquete. Almoço na casa da R.. Dormi. Livro carga. Catedral. Jogo CMPxCuritibano, 50x54. Perdemos o Campeonato de Basquete de 1959. Bom jogo. Acho que joguei bem mas faltou conjunto à equipe. Fomos os vice-campeões da cidade. A Dª Lycia, o Dr. Arildo e a R. assistiram ao jogo. Voltei para o quartel pensando em não fazer a Escola Técnica do Exército.

22/04/60 – sexta – Livro Carga da Oficina de Manutenção. À tarde, instrução. Hoje é o aniversário do meu sobrinho Ronaldinho. Basquete com os oficiais. Fui à cidade com a R.. Dormi na instrução para noivos na Igreja do Coração de Maria. A R. não gostou, mas o sono foi muito forte e o orador bem monótono. Falou sobre o exame pré-nupcial. Voltei de Lambretta para o quartel.

23/04/60 – sábado – Passagem do Comando da 5ª Cia Com para o Sr. Capitão Felix Gomes do Rego Filho. Apresentação da Bandeira aos recrutas. Fui da Guarda à Bandeira. Fotos. Corrida de 1.500m para os soldados. À tarde o Soldado Caçador lavou a Lambretta. Fui para a casa da R.. Trabalhos no quartel. Catedral. Confissão. Jantar. Bem agasalhado pela minha querida noiva ao voltar de Lambretta. Gorro do Dr Armando e manta devidamente presa com alfinetes, óculos e luvas. Também bombons para dar caloria. Nestas demonstrações vejo transparecer o seu grande amor por mim. Espero corresponder 100%.

24/04/60 – Domingo “in albis”- Acordei às 07:40. Toquei um pouco de bandolim. Casa da R.. Missa das 11:30. Tainha no almoço. Recordações do passado. Lágrimas. Desabafos. Fui me confessar com o Padre Raymundo. Jantar. Frio. Bombons. Despedidas. Procurando acertar como um bom noivo. Quartel às 23:00. Empate Peñarol 2x2 Ferroviário.

25/04/60 – segunda – Preparei uma instrução anticomunista. Sobreaviso. Greve de ônibus. Viaturas. Armas. Telefonei para a R.. Conferi o material carga da Seção de Reparação e Suprimentos com o Sgt Weber e Sgt Botelho. Noite estrelada. Hoje recebi os vencimentos: R$15.600,00. Recebi um telefonema do Ó de Almeida. Tudo bem. Pediu-me as lições sobre rádio da National School que me emprestara, pois agora é instrutor da matéria na Cia de Comunicações Blindada, no Rio.

26/04/60 – terça – Greve de ônibus em Curitiba. Colocamos 10 viaturas fazendo a linha Centro-Portão.

27/04/60 – quarta - Ainda a greve. Tenho levantado cedo.

28/04/60 – quinta – Ainda a greve. Estamos de sobreaviso.

29/04/60 – sexta – Ainda a greve. Tenho levantado cedo.

30/04/60 – sábado – Vou pagar Cr$14.000,00 de Imposto de Renda. A greve continua. Não fui falar com a R.. Saudades.

MAIO – 1960

01/05/60 – domingo – Ainda a greve dos ônibus. Fui à missa com a R.. Tínhamos passado uma semana sem nos ver. Após o almoço fomos à casa dos avós dela. Pelo telefone controlei as viaturas chamando o Cabo Jorge para dar as ordens. Graças a Deus tudo correu bem. Voltei para o quartel de Lambretta.

 

02/05/60 – segunda – Continua a greve dos ônibus e as nossas viaturas a rodar.

03/05/60 – terça – Terminou a greve. Recolhi as viaturas do quartel. Usando japona de ido ao frio. Telefonei para a R..

04/05/60 – quarta – À tarde após acertar os cadeados das garagens e verificar a limpeza das armas fui à cidade. Com a R. e o Luiz Armando fomos à recepção das imagens de Nossa Sra. do Rocio e Aparecida. Dom Jaime nomeado o Legado. Falou o Sr. Moisés Lupion, governador e o Cardeal. Bonito o espetáculo proporcionado pelos fogos.

05/05/60 – quinta – Dispensa no quartel. Inauguração do Congresso. Missa pontifical. Falou D. Siqueira, Arcebispo Auxiliar de São Paulo. Dia bonito. Almoço na casa da R.. Corrigi provas. Apanhei dinheiro na Caixa. Enviei à noite os Cr$4.000,00 para pagar o apartamento no Rio. Paguei a Cibrasil.Comprei Cr$1.080,00 em material desportivo. Tive vontade de comprar um toca-discos por Cr$1.400,00. Jantei no quartel. Preparei as fichas de treinamento na casa da R.. Voltei de Lambretta.

06/05/60 – sexta – Cuidando das viaturas e das fichas do Departamento de Educação Física. Treinamento Físico. Bonito dia. Futebol. Tenho jogado de goleiro. Vencemos de 8x6. Chegou um novo 1º Tenente Veterinário, chamado Monte Lima. Saltei 1,40m no salto em altura. Telefonei para a R.. Jantei no quartel e cuidei das fichas. Frio.

07/05/60 – sábado – 8º mês de namoro. Viaturas. Inspeção. Telefonei para a R.. Ouvi a reportagem sobre o VII Congresso Eucarístico Nacional.

08/05/60 – domingo – Dia das Mães – Fui de Lambretta até a casa da R.. Ontem às 21:45 fui com os soldados em três viaturas à Páscoa dos Militarees. Tudo bem. Confessei-me. Dormi às 01:50. Missa pontifical celebrada por Dom Jaime. Almoço. Dormi. Procissão. Vi um padre colega do meu irmão José Maria. Vi o Padre Ewerton. Muita gente. Fui à missa com a R.. Eu a estou amando sinceramente. Que Deus conserve sempre puro e santo o nosso amor.Voltei de Lambretta às 22:20.

09/05/60 – segunda – Inspeção à vista. Fichas. Baterias. Fui dormir à 01:00. Telefonei para a R..

10/05/60 – terça – Instrução de armamento. Futebol. Inspeção do Serviço de Saúde. Lua cheia. A R. telefonou. Ela ia ao cinema. Pediu que às 22:00 eu olhasse para alua cheia e me lembrasse dela. Ainda não consegui tempo para estudar para o concurso ao Instituto Militar de Engenharia-IME.

11/05/60 – quarta – O dia foi dedicado à inspeção de moto que se aproxima. Conversei com a R. pelo telefone.

12/05/60 – quinta – Véspera da inspeção. Frio.

13/05/60 – sexta – Últimos preparativos para a inspeção. Chegou a hora e ainda não estava tudo pronto. Graças a deus o Major que fez a inspeção não foi muito exigente. Respirei fundo aliviado quando a inspeção terminou. À noite corrigi provas.

14/05/60 – sábado – Viaturas. Teste oral para os soldados. À tarde fui para a casa da R. de Lambreta lavada pelo soldado Caçador. Tudo bem. Frio. Fomos à missa. Comunhão. Jantar. À hora da saída ela me agasalhou e deu remédio, sempre solícita.

15/05/60 – domingo – Acordei às 07:45. Café. Casa da R.. Chuva miúda. Missa dos Universitários na igreja do Rosário. Sermão: noção de pecado e importância da salvação da alma. Acreditar em Deus e no demônio que também sabe as Sagradas Escrituras. Pátria. Própria alma. Participação do noivado para os colegas. Almoço. Vinho seco. Participações. Carta para a Maria José. Diário. Dia chuvoso.

20/05/60 – sexta – Inspeção de Comunicações.

21/05/60 – sábado – À tarde arrumei o quarto. Missa na catedral com a R..

22/05/60 – domingo – Missa na igreja da Ordem. Comunhão. Almoço na casa da R.. Estava corrigindo provas quando a Élia chegou e nos levou de Volks até a casa dos avós. Lanche. Conversa com o avô Claro sobre religião. Voltamos de ônibus. Resfriado. A minha querida noivinha tem tratado do meu resfriado. Sou-lhe imensamente grato. Tenho voltado de Lambretta. Muito frio.

24/05/60 – terça – Dia da Batalha do Tuiuti. Pela manhã o Tenente Monte Lima leu o Boletim alusivo. Canto do Hino Nacional sob a minha regência. Hasteamento da Bandeira. Desfile. Competições desportivas. Futebol 3x1. Futebol de Salão 9x4 e 4x2 entre os soldados, sargentos e oficiais da 5ª Cia Com com o 5º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado. À tarde fiquei  conversando com o Tenente Luiz Cavalcanti e o Tenente Duarte, apreciando a vida na 5ª Cia Com. Fui atrasado para a casa da R., tendo terminado a documentação para ser rádio-amador. Apesar do frio tendo usado a Lambretta como meio de transporte. Ela está funcionando bem.

25/05/60 – quarta – Instrução. Treinamento Físico. Segunda seleção para a corrida do Facho. À tarde passei na casa da R. tendo almoçado lá. O Repórter Esso anunciou que os Estados Unidos tinham lançado um satélite, Midas II que não respeitava fronteiras. Fui ao cinema com a R.. Ela fez questão de pagar. Filme Saeta com o Joselito. Filme que desperta os bons sentimentos da alma. Fomos ao consultório do Tio Néri que é dentista. Ele me disse que poderia ficar muito tempo sem ir ao dentista. Comprei um despertador Westclox por Cr$700,00 para repor na carga da Seção Rádio. Jantar. Deitei um pouco bem agasalhado, tendo dormido das 20:00 às 21:00. Voltei de Lambretta, após a R. ter-me dado um pouco de conhaque para esquentar. No quartel soube que amanhã não haveria expediente.

26/05/60 – quinta – Ascensão do Senhor- Fui acordado às 07:00. Café. O Tenente Otto querendo guardar o carro. Ele foi transferido para o Rio de Janeiro. Barulho esquisito na Lambretta. Fui à casa da R.. Continuo com resfriado e tosse. Iniciei na 2ª feira o estudo para o IME. A R. recebeu uma carta da Maria José me dizendo que o Edison tinha embarcado para a Holanda e que a mamãe ia bem de viagem. Ao acordar hoje, li um trecho da Epístola de São Paulo que elogia as virtudes do bom cristão. Fui à casa da R.. Estudei.

27/05/60 – sexta – Fui ao Tiro com os soldados do Curso de Formação de Cabos. À noite telefonei para a R..

28/05/60 – sábado – À tarde fui à casa da R. onde almocei. Fomos assistir ao filme “Amantes em Férias”. Bonitas paisagens de São Paulo, Rio e Lima. Fraco enredo, ambiente sem Deus e bastante leviano. Serviu como distração.

29/05/60 – domingo – Fomos à missa das 11:00. Cheguei em cima da hora. Bom o sermão: mocidade marcada nem que seja pelo diabo. Evitar a mediocridade. Almoço. Estudo. A R. está com tosse.

30/05/60 – segunda – Dia normal. Parte de Tiro.

31/05/60 – terça – Treinamento Físico. Termos. Ontem e hoje telefonei para a R.. Continua com tosse. O tempo esfriou. Tenho estudado bem até 23:00. Espero passar no concurso se Deus quiser. Tenho rezado também o terço às 20:35. Hoje iniciei o requerimento para o concurso.

JUNHO – 1960

01/06/60 – quarta – Fui à casa da R..

02/06/60 – quinta – Fomos a uma manobrinha. Quase faltam viaturas. Acampamento. Posto de Suprimento. Instrução a motoristas. Frio. Discussões sobre a vida militar. Fui dormir às 24:00.

03/06/60 – sexta – Ainda no acampamento. Ponto de Suprimento. Material de construção. Regresso. Desencontros. No final tudo OK. Telefonei para a R.. Fui estudar mas não consegui devido ao cansaço. Fui dormir após o terço.

04/06/60 – sábado – Ontem completei 24 anos de vida. Agradeço a Deus todas as graças que me concedeu. Peço-lhe perdão por todas as ofensas. Renovo o propósito de ser o melhor possível para com Ele. À tarde fui à casa da R. onde recebi vários presentes: um pulôver feito por ela mesma durante um mês, uma medalha de ouro de Santa Terezinha, uma carteira de couro do Dr Armando, uma caixa de lenços da Dª Lycia com as minhas iniciais bordadas e um pacote de meias de lã do Luiz Armando. Fomos à Catedral onde confessei-me e comunguei. No jantar houve vinho, bolo e comida gostosa. Estou muito agradecido...

05/06/60 – Domingo de Pentecostes – Acordei às 08:00. Soltou o cabo da Lambretta. O soldado Caçador me ajudou a consertar. Não pude ir à missa pela manhã. À tarde fui à casa dos avós da R.. Voltamos de ônibus. Missa e comunhão. Padre Augusto. Presente. Casa da R.. Jantar. Despedidas.

06/06/60 – segunda – Dia normal. Providências administrativas. Instrução. Telefonei para a R.. Gostando cada vez mais dela.

07/06/60 – terça – Administração. Fui ao SRAM e ao Sv Com . Às 17:30 no quartel. Recebi carta do Sérgio. Tudo bem lá pelo IME. Estudo moderado. Felicitou-nos pelo noivado. Estudei como de costume até as 23:15.  Graças a Deus tenho estudado bem. Hoje faz 9 meses de namoro e 2 de noivado. Que Deus nos abençoe!

08/06/60 – quarta – Ordem unida. Treinamento físico. À tarde tivemos instrução de tiro na granja. À noite jantei com a R.. A Dª Lycia e sua irmã Eleonora foram ao cinema. O Dr Armando foi jogar boliche. Escrevi este diário. O tempo não está muito frio. Chamam de veranico. Ficamos na copa.

11/06/60 – sábado – Dia da Batalha do Riachuelo. Conferi a carga do Departamento de Educação Física no quartel. Fui ver a R..

12/06/60 – domingo – Dia dos Namorados – Fomos à missa mas chegamos atrasados. Comungamos. Almoço. A R. me deu um despertador em forma de bola de tênis como presente de noivado. Fiquei no início não querendo aceitar pois nada havia lhe trazido de presente.

13/06/60 – segunda – Dia de Santo Antonio- Inspeção à vista no quartel.

14/06/60 – terça – Exame de instrução básica militar.

15/06/60 – quarta – Continuação do exame. Imprevistos. Críticas.

16/06/60 – quinta – Corpus Christi – Ontem houve tiro na granja. Hoje não houve expediente. Fui ver a R.. Missa das 11:00. Amar com amor que eleva as pessoas. Almoço. Discussões sobre cinema e filmes. Só às 15:40 fomos ver o final da procissão. Planejamentos. Confusões. Neblina forte. A Lambretta está ótima.

17/06/60 – sexta – Recebi os documentos da Lambretta que há muito reclamara. Exame de IBM. Preparação para as Olimpíadas Internas. Às 18:45 como em todos os dias liguei para a R..

18/06/60 – sábado – Ontem fui dormir às 24:00 pois fiquei a corrigir provas. Manhã muito fria. Preparação para as olimpíadas. Exame de recrutas. Corrida de 3.000m. Treinei salto em altura, saltando 1,45m. Lancei 9,56m em peso. À tarde fui ver a R.. Fomos à Catedral. Frio. Comungamos. Jantei. Voltei bem protegido contra o frio. Fui dormir às 24:00.

19/06/60 – domingo – Acordei às 08:15. Café. Barba. Banho. Ginástica. Casa da R.. O Tem Duarte ficou no quarto. O Ten Luiz ia ao CMP jogar vôlei. Ele tem um carro Prefect. Missa das 11:00.   O Padre Dr. Gustavo fez um ótimo sermão sobre a castidade. Diferença entre castidade e continência. Saí bastante entusiamado com ele e com o que ele dissera. Comungamos. Relembramos nossa vida desde 4 de junho de 1959. Almoço. Fomos a pé até a casa da avó Élia na rua Lamenha Lins. Passamos pela ogreja da colônia polonesa. Bonita igreja. Estava bem feliz ao passear com ela. O primo dela Sérgio passou e nos levou de automóvel. Visitamos depois a casa da tia Emy, mãe da Elyane e da Célia. Bonita casa, prejudicada pela poeira da rua e pela distância da cidade. Conversamos um pouco e logo regressamos.   Lemos um livro sobre religião. O Renato, primo da R. nos trouxe de carro até a casa da R.. Jantar. Conversamos até 22:00. Sinto que o nosso amor está conforme o que Deus quer, e será suficiente para que a nossa vida em conjunto até morrer será abençoada por Deus. Santa Tereza de Lisieux abençoe o nosso noivado.

21/06/60 – terça – Levei os soldados atrasados no tiro para a granja. Graças a Deus que a chuva só chegou quando já estava para terminar. Na volta dirigi pela primeira vez uma viatura GMC-2 ½ ton.

22/06/60 – quarta – Chuva intensa. O Comandante Cap Felix Gomes do Rego Filho, o Fiscal Administrativo 1º Ten  Duarte e eu fomos até a 5ª Cia Leve de Manutenção na Praça Rui Barbosa, onde fomos recebidos pelo Comandante Cap Gouvêa. Contou casos tristes de desastres, seus problemas administrativos como asfaltamento, falou sobre as viaturas da Cia, etc.  Voltamos ao nosso quartel. Recebi os vencimentos. Fui à cidade. Inscrevi os nossos corredores para a Corrida de São João. Andei a pé pois fui sem a Lambretta devido ao chão molhado. Passei pela Caixa Econômica e fui até a casa da R.. Ela estava experimentando um vestido de lã azul claro esverdeado. Estudei um pouco de Geometria.  Catedral. Comunhão. Jantar.

23/06/60 – quinta – Dia chuvoso.

24/06/60 – sexta – Competição de instrução. Administração. Coloquei dinheiro no banco. Cr$4.000,00 para o apartamento e depositei Cr$5.000,00.

25/06/60 – sábado – Frio. À tarde fui cortar cabelo. Demorou muito. Almocei às 15:00. Fui deitar cansado. Acordei às 16:30. Telefonei para a R. . Disse que ia mais tarde, aliás pedsi para não ir. Ela não gostou muito mas concordou.

26/06/60 – domingo – Cheguei às 09:00 na casa da R.. Ela ainda estava dormindo. Li o diário dela do dia anterior. Muito negativo em relação a mim. Fiquei desconcertado. O que fazer? Afinal ela apareceu e pediu desculpas pela demora. Tudo azul! Missa. Sermão do Padre Gustavo. Almoço. Tia Lourdes. Frio. Não fomos à festa no Clube Curitibano. Voltei de ônibus.

29/06/60 – quarta – Aniversário do Pedro, namorado da Beatriz, prima da R.. Frio. Ontem houve a festa de caipira. Fogo para esquentar. Quentão, batata doce, pinhão, doces,  etc. Animação. Achei interessantes as pessoas vestidas a caipira. Regressamos  às 02:00 da madrugada. O Raul me levou de carro, um Volks, até o quartel. Dormi à tarde. Cheguei às 18:00 na casa da R.. Missa na igreja da Ordem. Padre Augusto. Sem notícias da mamãe. Jantar. A Dª Lycia fazia bordados e a Dª Lina ouvia novelas. O Luiz Armando colocando os discos sempre risonho enquanto eu conversava com a R. na sala.  O Dr Armando trabalhava. Ele irá ao Rio, São Paulo e Recife. Regressei de Lambretta ao quartel.

30/06/60 – quinta – Dia normal no quartel. Pentatlon à vista. Falta de candidatos. Oficina de Manutenção e Transporte. Não pude estudar. Planejamento. Telefonei para a R.. Recebi um telegrama dizendo que a mamãe chegara bem de viagem no dia 26. Graças a Deus! Fui dormir às 22:45. Obrigado meu Deus por mais este mês! Sic flos vel ventus, sic transit nostra juventus...

JULHO – 1960

Para frente, custe o que custar!

01/07/60 – sexta – Acordei às 06:45. Saí para tratar de muitos assuntos: cabeçote de motor, lubrificante e jipe 6179. Tudo encaminhado, graças a Deus! Falei com o Cel Sampaio, com Generais e outros. No quartel corri 8.000m. Telefonei para a R.. Tudo bem. Estudei. Fui dormir às 23:00. 

02/07/60 – sábado – Treinamento de tiro na granja. Saí-me bem. Futebol de sal;aão. Corri 1.500m. Treinei salto em altura. Almocei. Telefonei para a R. e fui à casa dela. Estava no jardim bordando ao sol. Ouvi o rádio Philco. Tudo azul. Contente com a minha querida noivinha. Estou em boa forma física, me preparando para o Pentatlon. Escrevi uma cartinha de 3 folhas para a mamãe. A Dª Lycia está gripada. O Dr Armando vai viajar. Fomos à Catedral e comungamos. Jantamos com a Tia Eleonora presente e com saudades do Tio Raul que está nos Estados Unidos.

03/07/60 – domingo – Acordei às 07:30. Banho. Barba. Cidade. R.. A Lambretta est;a 100%.  Missa na Igreja do Rosário. Padre novo. Bonita homilia: “O mendigo que deu um grão de trigo e recebeu em troca um grão de ouro, e pensou: Por que eu não dei tudo o que tinha?” O Dr Armando viajou. A  Dª Lycia continua de cama gripada. A R. aplicou uma injeção nela. Bonito dia.

05/07/60 – terça – Campeão no tiro com 156 pontos. Pentatlon.

06/07/60 – quarta – Pentatlon. Percurso de patrulhas.

07/07/60 – quinta – Dez meses de namoro.

08/07/60 - sexta – Três meses de noivado. Que o nosso amor seja para toda a vida.

09/07/60 – sábado – Corrida rústica. Faltaram sargentos. Mesmo assim a 5ª Cia Com ficou em 4º lugar no C.P.M.. Fui à casa da R.. A Dª Lycia continua com tosse. O Dr Armando continua viajando, devendo ter passado pelo Rio.

10/07/60 – domingo – Fomos à missa. Hoje é o aniversário da tia Eleonora, mãe do Raul e da Élia. O Raul nos levou e nos trouxe de Volks. Casa dos avós. Tudo bem. A R. não gostou de ter demorado muito na casa dos avós. Frio. Chuva. Voltei de ônibus.

11/07/60 – segunda – Quartel. Administração. Telefonei para a R.. Estudei até meia-noite para o concurso ao I.M.E..

12/07/60 – terça – Quartel. Administração. Telefonei para a R.. Já com saudades, pensando na próxima viagem dela ao Rio e a São Paulo. Estudei até meia-noite. Apareceu no quartel o Major Moreno do 5º BE Cmb, de Porto União.

13/07/60 – quarta – Administração. O Soldado Wojcik montando a 8404. Sgt Ramos. Cb Jorge. Sd Walter cansado. Melhorando a Oficina de Manutenção. Método. Bonito dia. Fui à casa da R..

16/07/60 – sábado – Tenho passeado de Lambretta com a R..

17/07/60 – domingo – Missa com a R.. Casa dos avós. Preocupação com o não regresso do Dr Armando.

18/07/60 – segunda – A Dª Lycia e a R. foram para São Paulo e Rio. Despedidas na Estação Rodoviária. Lá estavam o Ruy, a Elias e o Ruy Carlos. Ônibus Mercedes Benz. Quartel.

22/07/60 – sexta – Durante esta semana houve instrução para o CPOR. Recebi uma carta da R.. Está em São Paulo. Saudades.

24/07/60 – domingo – Quartel. Treino de tiro na granja. Estou bom no tiro de fuzil e ruim no tiro de revolver. Quartel. Almoço. À tarde fui à missa e depois jantei com o Dr Armando. Fui ao correio onde coloquei uma carta e um telegrama para a R.. Quartel.

25/07/60 – segunda- Início de um bom treinamento da equipe para a Corrida do Facho. Tenho estudado para o concurso ao I.M.E. O que me atrapalha são os encargos no quartel e as competições. Tenho dormido normalmente às 24:00. Tenho rezado o terço todos os dias. Tenho feito um jornalzinho “O Facho” para motivar os atletas do quartel. Saudades da R.. Ela já está no Rio de Janeiro. 

26/07/60 – terça – Quartel. Tenho recebido cartas da R. que reclama não ter recebido as que enviei.

27/07/60 – quarta – Aulas no QG sobre Tática. Defensiva e Ofensiva. Major Ferreira. Generais e Oficiais Superiores.

28/07/60 – quinta – Aulas no QG. Capitão Lybio King e Oficiais do 5º BECmb de Porto União: Aspirantes, Capitães  e Tenente Isnarriaga.  À tarde treinamento de tiro. Saudades da R..

29/07/60 – sexta – Quartel. Aulas no QG à tarde. Carta da R.. Tudo bem no Rio. Já conhece quase todos da família. Ainda não recebeu nenhuma carta minha. Enviei um telegrama e uma carta. Gostou muito da Raymunda que diz que há um quarto esperando por mim na Paróquia. O Luiz Carlos fala facilmente. Achou a Maria José bonita. Enfim gostou muitíssimo de todos. Tenho estudado das 05:30 em diante números complexos.

30/07/60 – sábado – Aulas no QG. Piscina no Clube Ferroviário. Quartel. Jornalzinho. Muito serviço ainda por fazer. Não dormi. Não jantei. Biblioteca. Cargas. Muitas saudades.

31/07/60 – domingo – Acordei às 07:15. Café. Chuva continuada e forte. Escrevi uma carta para a R.. Fui à cidade de ônibus. Ia treinar a equipe do Facho mas a chuva não deixou. Fui à casa da R.. Lá estavam o Dr Armando, o Luiz Armando, a  Dª Lina e  a Virgínia. Conversei com a Dª Lina sobre o Luiz Armando. Almoço. Jogo de futebol: Botafogo 4 x Ferroviário 1. O Garrincha jogou. Chuva. Casa dos avós. Missa. Comunhão. “De que vale o homem ganhar o mundo se vem a perder a sua alma?”. Jantar. Conversa. Todos bem. Sargento da 2ª DL. Quartel. Mais um mês que termina. “A força que me impele para a frente é a decisão firmada em minha mente!”.

AGOSTO – 1960

01/08/60 – segunda – Acordei às 05:45. Inglês. David Swan. Banho. Chuva. Tiro com a equipe de cabos e soldados (Kozak, Lilito e Tanck). Sem querer um atirou no alvo do outro, mas mesmo assim ficamos em 3º lugar. Quartel. Um sargento com aparência de ter bebido um pouco mais. Um soldado motorista ficou preso por 15 dias. Treinei natação. Hoje recebi uma carta da noivinha. Visitou a ilha de Paquetá e gostou muito. Hoje deverá estar voltando para São Paulo. Eu já estou com muitas saudades e não vejo a hora de estar de novo ao seu lado. “Love is a many splendored thing!”. Quartel. O cabo Jorge e a carroça. Jornalzinho “O Facho”. Entusiasmo. Biblioteca. O Ten Duarte a ler outro livro. Tempo chuvoso. Estudei só até as 22:00 porque amanhã haverá competição de tiro. 

02/08/60 – terça – Acordei às 05:20. Competição de Tiro. Revolver. Fiquei mais ou menos em 12º lugar com 205 pontos. Chuva. À tarde assuntos administrativos. À noite estudei até 22:00. Saudades da R..

03/08/60 – quarta – Tiro com os sargentos Boçon, Venson e Noronha. Treinamento de tiro com pistola contra silhueta móvel. Quartel. Cidade onde comprei livros para estudar. Tratei da Lambretta. Fui à casa da R. onde conversei com a Dona Lina que me ofereceu um copo de leite com arroz doce. Tudo me lembrando a R.. Estou com medo de não passar no concurso. Tenho que estudar muito. Hoje passei dois telegramas, um para o Sérgio e outro para a R.. Quartel. A Lambretta está boa. Biblioteca. Folheei os livros que comprei. Há muita coisa que eu não sei. Vontade de estudar muito para passar. Fui dormir às 21:30.

04/08/60 – quinta – Tiro para  os Oficiais. Pistola. Rapidez em silhueta. Saí-me mal. Estudei inglês. À tarde natação. Nadei 100m peito ficando em 2º lugar. Fui dormir cedo por causa do Tiro.

05/08/60 – sexta – Tiro. Fuzil a 200m. Saí-me bem em precisão com 87 pontos, mas decaí inexplicavelmente em rapidez, 56 pontos. Total de 143 pontos. Esqueci a pasta e um livro lá no estande. À tarde, piscina. Nadei 100m borboleta ficando em 2º lugar e nadei também peito no revezamento 4x100. A nossa equipe venceu.

06/08/60 – sábado – Quartel. À tarde  fui à cidade com o Sargento Jair. Reconhecemos um local para a corrida. Faltou gasolina. Colegas me convidando para ir a um jogo basquete para jogar pela EEUP no Torneio Início. À noite chegou a minha querida noiva. Não fui esperá-la na estação rodoviária pois o ônibus chegou cedo. Fui à cidade. Jantei com ela em casa. Fiquei muito contenet em revê-la e conversamos bastante.

07/08/60 – domingo – De manhã fui à cidade onde treinei a equipe do Facho. Quartel. Cidade. Casa da R.. Almoço. Mostrou-me o que trouxera do Rio e de São Paulo, inclusive presentes para mim. Depois fomos à casa dos avós dela. Missa das 20:00 na igreja do Rosário. Comungamos. Pedi a Jesus para abençoar o nosso noivado. Ainda muita conversa sobre Rio e São Paulo.

08/08/60 – segunda – Ordem Unida. Facho. Motor 8404. Telefonei para a R..

09/08/60 – terça – Ordem Unida. Facho. Criptógrafo. Carga.

10/08/60 – quarta - Ordem Unida. Facho. Futebol até 13:00.Descobri um local para fazer os móveis do casamento. Cidade. Sapato. Terno. Uniforme verde oliva. Cabo Jorge e Wilma Terezinha. Casa da R.. Estudei inglês. Ela limpou a graxa da minha calça devida à Lambretta. Fomos à Catedral. Jantar. Inglês. Voltei ao quartel às 22:35. Tenho rezado o terço todos os dias pedindo para passar no concurso. Hoje a lambretta me foi muito útil. Sinto pena ao pensar que poderei vendê-la.

11/08/60 – quinta – Ordem Unida. Garagem. Facho. Estou com grande esperança que a nossa equipe saia bem no Facho. Oficina de manutenção, acertando o material carga. Por causa do carro de um sargento fiquei sem estudar depois das 17:00. Jantar com o Duarte. Conversa sobre o Facho. Telefonei para a R.. Tudo bem graças a Deus! Estudei.

12/08/60 – sexta – Acordei às 06:00. Estudei um pouco. Quartel. Conferência da carga. Treinamento para a equipe do Facho. À noite estudei Álgebra. O sono lá pelas 21:00 não me deixou estudar. Fui dormir às 22:00. Estou confiante em passar. Telefonei para a R.. Tudo bem.

13/08/60 – sábado – Exame de motoristas. Conferência das ferramentas. Facho. Fui com o Luiz ver os móveis. Depois telefonei para a R. dizendo para vir. Vieram. Viram. Voltaram. Fui de Lambretta. Aniversário da Lúcia, prima da R.. Fotografias. Doces. Lambretta. Rua do Rosário. Estudei. Sono. Baile no Concórdia. Dançamos bastante. Lá o pessoal mais idoso é mais animado pois dançam bastante e durante os shots dão gritos animados.

14/08/60 – domingo – Aniversário do Dr Armando (48 anos). Dia dos Pais. E o baile continuou. Todos dançando. A R. e eu um pouco cansados. Regressamos a  01:30. Fui para o quartel. Dormi até 07:30. Fui de Lambretta à cidade. Treinamento para a corrida do Facho. Apareceram o soldado Moletta e o Ten Medeiros que me auxiliaram. É pena que tenham faltado alguns corredores. Fizeram as 4 voltas do dia. Tenho esperança de que saiamos bem no próximo dia 25. Chuva. Voltei de Lambretta derrapando no paralelepípedo molhado. Tomei banho e fui de ônibus para a casa da R.. Almoço. Fui dormir depois no quarto dela até 15:30. Deu para descansar bem. Agradeço a Deus me ter dado uma noiva tão boa.

25/08/60 – quinta – Primeiro aniversário de conhecimento da minha noiva. Graças a Deus! Compromisso dos recrutas no 20º RI. Guarda-bandeira. Corrida do Facho. Não almocei. O desfile do 2º Batalhão Ferroviário de Rio Negro foi muito bom. 2º lugar no desfile. O Comandante da 5ª Cia Com proibiu que saudássemos a assistência ao desfilar. Ficamos em 6º lugar, graças a Deus! Conversei pouco com a R.. Será que eu fui promovido? Nestes 11 dias que passaram, correu tudo bem. Tenho estudado pouco devido ao Facho.

26/08/60 – sexta – Acordei às 07:15. Expediente. Fotografias com a equipe do Facho. Viaturas para o desfile de Sete de Setembro. Consertei o criptógrafo. Tempo chuvoso. Hoje recebi Cr$41.000,00. Agradeço a deus esse dinheiro que me servirá para o casamento. Eu sempre me lembro: “Bem-aventurados os pobres de espírito!”. Saiu o último número do jornalzinho “O Facho”.  Não pude estudar. Telefonei para a R.. O Exército autorizou o meu casamento.

27/08/60 – sábado – Não houve expediente no quartel. Fui à cidade onde com a R. retirei Cr$41.900,00 da Caixa Econômica e depositei Cr$38.000,00 no Banco Nacional de Minas Gerais. Fui ver os móveis e a geladeira no Prosdócimo e na Ultralar. Nada resolvido. Dia chuvoso. Conversamos. Catedral. Confessei-me e comunguei. Jantar.

28/08/60 – domingo – Cidade. Missa das 11:00. Estudei. Almoço. Ainda não sei se fui promovido. Enquanto a R. bordava eu estudava. Consegui resolver meia questão em um dia e meio. Vibração. Tarde dançante. Tourinho com a Vânia e o Camargo com a Terezinha. Fomos e voltamos a pé. Exercício. Jantar. Conversamos sobre os novíssimos do homem. Neste mundo é tudo vaidade exceto amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Querendo manter bem o nosso noivado. Regressei ao quartel e fui dormir à meia-noite.

29/08/60 – segunda – Soube que fui promovido a 1º Tenente. Graças a Deus! Peço que me ajude a ser um ótimo oficial. Agradeço ter vivido até o presente e a noiva de coração tão carinhoso. Agradeço também a religião que os meus pais me ensinaram. Peço obter o máximo com os talentos que recebi. Viaturas para o desfile de Sete de Setembro. Comprei uma geladeira por Cr$52.000,00. Telefonei para a R..

30/08/60 – terça – Já pensando no desfile do Dia da Pátria. Problemas com tinta para pintar as viaturas. Tenho jogado basquete pela equipe da Escola de Engenharia da Universidade do Paraná. Graças a Deus temos vencido.

31/08/60 – quarta – Mais um mês que termina. Agradeço a Deus ter vivido até o presente e amar uma noiva tão boa e carinhosa.  

 

SETEMBRO – 1960

01/09/60 – quinta – Não houve competições de atletismo. Tempo chuvoso. Pintura das viaturas.

02/09/60 – sexta – Preparativos para o desfile de 7 de setembro. Diariamente tenho telefonado para a R.. Churrasco. Basquete.

03/09/60 – sábado – Continuo junto às viaturas. À tarde fui à cidade. R.. Desfile. Frio. Catedral. Comunhão. Chateado por não ter ido ao jogo.

04/09/60 – domingo – Cidade. Missa com a R.. Almoço. Churrasco na Churrascaria Edy no bairro da Vila Isabel. Casa dos avós. Sol. Noivando. Regresso no carro do Dr Raul. Jantar. Conversamos bastante. Frio.

05/09/60 – segunda - Calor. Apresentação no Quartel General ao Comandante da Região dos Oficiais recém-promovidos. O Dorneles e eu fomos de Lambretta.  R. e Luiz Armando. Voleibol e basquetebol contra a Medicina. Perdemos os dois. No basquete o jogo estava empatado e eu perdi dois lances livres! Regresso à meia-noite. Fui dormir mais ou menos à 01:00. Calor.

06/09/60 – terça – Viaturas. Treinamento. Calor forte. Livro do Tenente Casatle. Viaturas prontas. Estudei.

07/09/60 – quarta – Desfile do 7 de Setembro. Graças a Deus tudo saiu bem. As viaturas estavam bem bonitas. A R. estava com o Luiz Armando assistindo na Praça Osório. Ela pensou que eu não a tinha visto. Disse-me que um indivíduo quis se aproveitar dela. Que Nossa Senhora a proteja. À tarde fui à casa dela. À noite fomos ao Baile da Independência. Um major não deixou que ela entrasse mesmo eu dizendo que os pais dela vinham depois com o convite. Fiquei bastante contrariado com tal atitude e me lembrei bastante disso durante o baile. Baile muito selecionado. General Galhardo e  Governador Moysés Lupion. Doces em cada mesa. Dancei o tempo todo com a R..

08/09/60 – quinta – Descanso da tropa. Dormi na casa da R.. Estou gostando muito dela. Sinto saudades só em pensar que no dia 17 irei para o Rio de Janeiro. Que esta separação sirva como sacrifício em reparação das falhas em nosso noivado e que Deus me conceda a graça de passar no concurso.

15/09/60 – quinta – Jantar dos aspirantes. Vinho. Casa da R.. Dormi lá.

16/09/60 – sexta – Prontidão. Dia do Protesto. Saudades.

17/09/60 – sábado – Passei a noite anterior toda em claro devido à Prontidão. Estou na incerteza se poderei ou não ir para o Rio, mas tenho pensamento positivo e confiança em Deus. Saudades.

18/09/60 – domingo – A prontidão continua. Os colegas mexem comigo: “E o pensamento positivo?”. Continuo arrumando as coisas. Mala e caixote. Afinal veio o telefonema do QG, Major Ferreira. O Major Félix pergunta sobre o meu caso. Chefe do Estado Maior. Afinal após dizer que eu não poderia ir, brincando, o Cmt me disse que era brincadeira e que eu podia ir. Graças a deus! Fiz as últimas arrumações. O Duarte chamou o táxi. Casa da R.. O motorista já me conhecia. Achei a R. com o rosto um pouco triste. Também pudera, com a prontidão não nos pudemos ver nesses dias. Seja feita a vontade de Deus e eu assim pude deixar as coisas no quartel mais em ordem. A saudade aumentava só em pensar que depois de algumas horas eu iria partir. Fui à missa na igreja da Ordem. Padre Augusto. Missa pelo papai. Despedidas. Jantei. Fui ao QG. Apresentei-me. O jogo de futebol entre Coritiba e Grêmio terminou 1x1. O Dr Armando comentou que o juiz prejudicou o Coritiba que vencia por 1x0. Finalmente chegou a hora. Táxi. Estação Rodoviária. Ônibus. Despedidas meio apressadas. Partida. Lá estavam o Dr Armando, a R. e o Luiz Armando. A Dona Lycia não pôde vir devido a uma gripe. A Dona Eulina também não pôde vir. Deixei Curitiba à noite com soldados na rua. Estrada ruim. Bom motorista. Só 6 passageiros. Dormia. Acordava. Dormia. Cidades antigas. Sorocaba. Comi o que a minha noivinha havia preparado: pães de minuta, sanduíches e biscoitos.

19/09/60 – segunda – Chegada em São Paulo de manhã após as 09:00. Trocamos de ônibus. Rua da Consolação muito cheia. Demoramos muito para atravessá-la. Finalmente entramos na Rodovia Presidente Dutra. Saudades da R.. Que estará fazendo? Jacareí. Conversei com dois empregados de Transportes Confiança e já tratei sobre a mudança de meus móveis. Resende. Novas fábricas. Academia Militar. Restaurante. Dormia. Acordava. Finalmente chegamos ao Rio. Fila de táxis. Demora. Afinal tomei um. O motorista tem 61 anos. Conversamos. Rua Desembargador Izidro. Tudo bem em casa, graças a Deus! Mamãe, Maria José e filhos. O Luiz tinha ido me esperar na rodoviária. Distribuí os presentes. Todos ficaram satisfeitos. Tratamos de vários assuntos: Marica e apartamento. Onde estudar: sítio, Marica ou apartamento. Resolvi experimentar a paróquia. Dormi às 21:15. Antes assisti um pouco de televisão com a Patrícia.

20/09/60 – terça – Acordei às 06:30. Coloquei em dia o diário. Saudades da R.. A mamãe foi à missa. Escrevi a primeira carta para a R.. Fiz o planejamento total para o estudo: horário e matérias. Fiz uma arrumação no quarto. Resolvi estudar lá em casa mesmo. O Luiz apareceu. Conversa sobre onde estudar. Almoço. Fui com ele até a cidade. Apresentei-me no DPA. Percorri o QG. Casa Passarelo. Comprei um gorro com pala novo e uma gravata. Fui a pé até a avenida Rio Branco fazer um pagamento para a mamãe. Depois fui até o IME na Praia Vermelha. Conversei com o Paes de Lima, com um funcionário civil Amaro e com oficiais. Terei que voltar amanhã.. Dei uma olhada nos apartamentos. Conversei com o Capitão Darcy. Voltei para casa. Comprei alguma coisa na A Futurista. Em casa abri um coco para a mamãe. Jantar. Diário. Chegaram o Oscar e a Risoleta. Conversamos. Gostaram muito dos presentes. O Oscar falando sobre as propriedades. Fui escrever uma carta para a R.. Eram 20:45. Estudei até meia-noite. Rezei e dormi a 01:00.

21/09/60 – quarta – Acordei às 06:30. Missa. Cumprimentei os padres: Serafim, Boaventura e Basílio. Passei pelo correio onde coloquei uma carta. Resolvi um problema. Cidade. IME. Capitão Gomes. Tudo OK. Revi os colegas e antigos instrutores: Sérgio Tavares, Swami Platt, Serafim, Roehl, Tibério, Guedes e Thales. Conversamos bastante. Passei pelo Edifício Praia Vermelha onde perguntei pelos tipos de apartamentos existentes. Regressei para casa. Calor. Almoço. Mamãe a distribuir suas fotografias. Estudei até 16:30. Dia’rio. Terceira carta. Banho. Educação Física. Jantar. O Platt me ofereceu o apartamento dele e eu agradeci. Procurei um professor TenCel Bandeira de Mello mas não o encontrei. Estudei à noite. Havia um pouco de barulho. Fui dormir às 21:30. Resolvi estudar de madrugada. Saudades.

22/09/60 – quinta – Acordei às 04:00 e estudei até 06:30. Missa. Correio. Cartas para a R., Edison e Madre Simões. Estudei até 11:30. Dificuldade em achar um seno. Almoço às 11:30. Dormi das 12:00 às 12:30. Diário. Carta 4. Estudo. Chegou a Maria Helena com a Rosane. Dei o presente. Ela gostou. Mais tarde chegou a Heloisa com a R. Helena que já está uma moça. Pediu conselhos pois já está decepcionada com os colegas. Dei o presente. Ela gostou e disse que ia usar na casa de Lambari. Conversamos bastante sobre os fatos. Mais tarde reiniciei os estudos. Às 17:30, depois de resolver um problema de Geometria, fiz ginástica básica. Jantar. Terço. Estudo. Dormir. Saudades.

23/09/60 – sexta – Acordei às 04:00. Estudei . Resolvi facilmente um problema que ontem não havia conseguido resolver. Às 07:00 passei pelo Correio. Missa. Ajudei o Padre Bruno Trombetta  meu conhecido do Seminário. Comunguei. Café. Visitei os apartamentos em construção no terreno dos fundos.  Conversei com os bombeiros. Estudei até 11:30. Almoço. Dormi até 12:30. Diário. Ontem vi os filhos do Luiz: o Décio Luiz e José Victor que já estão crescidos. Carta 5. Ainda não recebi a primeira dela. Estudei durante toda a tarde. Faltou água. Não pude tomar banho. Calor. Estudei até 21:00. Pensei em ir até a igreja de Santana mas não fui. Resolvi fazer adoração noturna em casa mesma. Dormi às 21:30. Saudades.

24/09/60 – sábado – Acordei às 04:30. Hora santa. Rezei bastante. Rezei bastante. Pedi pela R.. Estudei até 07:00. Correio. Missa. Não pude ajudar porque cheguei atrasado. Comunguei. Visitei o novo apartamento 404 do quarto andar, com uma sala e dois quartos. Estudei até 11:30. Almoço. Dormi. Resolvi fazer uma arrumação no quarto. Deu trabalho. Calor intenso. Ficou bom. Banho. Jantar. Telefone do Sérgio. Disse que havia um baile no Clube Militar mas não sabia que ia pois era a rigor. Vida dura no IME. Tenente Tibério. Estuda muito. Foi à praia hoje. Não tem visto o Joélcio. Na televisão o Walt Disney falando sobre a construção da Disneylândia. Diário. Carta 6. O tempo mudou. Vento forte. Talvez chova. Mas não choveu.

25/09/60 – domingo – Acordei às 06:30. Fui à missa das 07:00. Padre Pelayo era o celebrante. No Evangelho: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado!”. Caridade. Dia nacional da Bíblia. Congregados Marianos. Reunião depois com o Padre Nicolau. Próximas eleições. O presidente já foi da UME e da UNE. O Padre Nicolau me apresentou. Falou sobre os atos que podem ser essencialmente bons, essencialmente maus e indiferentes. Correio. Comprei o Jornal do Brasil. Às 09:30 recebi a primeira carta da R.. Tudo bem por lá. Muitas saudades. Fiquei muito contente. Carta 7. A Maria José atendeu o telefone. Era a tia Eleonora que dizia ter uma carta da R. para mim. Combinei de ir à tarde. Almoço. Estudei Francês. Romantisme. Fui até Copacabana de lotação. Fui pela Avenida AStlântica tentando descobrir onde morava o Sérgio mas não descobri. Finalmente cheguei ao apartamento 906 do Edifício Camões. O Cel Aragão assisti a Flamengo 0 x América 1. Conversei com o Dr Raul bastante sobre os EUA e um pouco com a Dona Eleonora. No final o Cel Aragão entrou falando sobre os candidatos. Saí às 18:15 tendo chegado às 17:00. Voltei de ônibus. Muita gente na rua e muitos sem fazer nada. Também a praça Saenz Pena bem movimentada e barulhenta devido à época eleitoral. Em casa terminei a carta 7. Assisti um filme de mocinho na TV. Fui dormir às 21:30.

26/09/60 – segunda – Acordei às 05:30. Estudei até 07:05. Correio. Ajudei a missa do Padre Basílio. Estudei Geometria. Teorema de Euler e de Stewart. Eixo radical e plano radical. Consertei a bóia da caixa d’água da descarga do vaso sanitário. Às 11:45 comecei a carta 8. Terminei à noite. Estudei à tarde. Fui dormir às 21:30. Saudades.

27/09/60 – terça – Acordei às 05:00.Estudei Homologia. Ginástica. Banho. Missa. Comunhão. Correio. Estudo. Oscarzinho, Risoleta, Anna, Raymunda e Padre José Maria. Gostaram dos presentes. Almoço. Consertei tomadas de ferro. Estudei Trigonometria. Tempo chuvoso. Dor de cabeça. Jantar. Terço. Televisão. Comício do Marechal Lott. Carta 9. Muitas saudades.

28/09/60 – quarta – Acordei às 05:20. Avisei a mamãe sobre a hora. Estudei Homologia, Afinidade e Homotetia. Missa. Comunguei. Chuva. Correio onde coloquei uma carta da Maria José para o Edison e a minha para a R.. Trigonometria. Almoço. Carta 10. Álgebra.. Apareceu a Maria Helena e depois o Padre José Maria. A Maria Helena está muito bem e nem parece ser mãe de 6 filhos. Dia chuvoso. O Padre José Maria veio em um Fusca emprestado. Interrompi um pouco o estudo. Educação Física, básica a 12. Banho. Jantar. A Maria Helena ofereceu o lanche com pães e presunto. TV. Diário. Carta 10. Estudo. Saudades intensas.

29/09/60 – quinta – Dia chuvoso. Missa. Ajudei o Padre Nicolau. Perguntou-me sobre a R. e a família. Tentou lembrar da casa em Curitiba mas não conseguiu. Correio. Estudo. Recebi 3 cartas da R.. Perguntou-me bastante coisas na terceira carta e desabafou toda a saudade na quarta e toda a preocupação financeira na quinta. Disse-me que ia me ligar amanhã às 08:00. Fiquei triste em pensar o quanto sofre longe de mim. Pensei em ir votar lá em Curitiba. Estudo. Almoço. Affonso. Estudo. Tenho que fazer 27 exercícios por dia. Resfriado. Saudades. Carta 11. Mate quente.

30/09/60 – sexta – Acordei às 05:40. Estudei muito pouco. Terminei a carta. Hoje é o dia do telefonema. Fui à missa das 07:00. Comunguei. Esperei o telefonema com o fone no ouvido. Às 08:00 em ponto tocou. Conversamos. Tudo bem por lá. Disse-me que o telefonema era pelo dia 8 de outubro, sexto mês de noivado. Casos a resolver: geladeira, voto, móveis, Lambretta, adiantamento de fardamento que não veio. Pediu que enviasse Cr$2.400,00. Despedidas. Trigonometria. Correio, carta 11. Tempo chuvoso. Almoço. Trigonometria. Álgebra. Resolvi problemas de geladeira e do voto por telefone sem precisar sair de casa. Carta 12. Jantar. A Cristiana, o Newtinho e a Patrícia gostaram de ficar na escrevaninha. Revisão do diário. Terminei a carta. E cheguei ao fim de mais um mês com muitos propósitos de bem aproveitar o mês seguinte.

OUTUBRO – 1960

01/10/60 – sábado – Acordei às 05:45. Meio doente ( resfriado). Missa das 07:30. Estudei Geometria. Demorei muito com um problema. Almoço. Recebi mais uma carta da R., a de nº 6. Escrevi adiantando a de nº 13, pois vou a Marica, no Estado do Rio. Às 18:00 fomos com o José, a Osmarina e o filho Paulo Roberto, a mamãe, a Patrícia e eu. Anoitecia. Atravessamos a Baía da Guanabara, chegamos a Niterói, continuamos na estrada de rodagem até Marica. Velas, bolos e cama. A mamãe a conversar com a minha prima Osmarina, filha da tia Rita e do tio Manoel. Saudades da R.. Rezei o rosário.

02/10/60 – domingo – A mamãe acordou cedo. Eu só me levantei às 06:30. Tentei estudar Homologia e Francês. Estava muito distraído. Não obtive rendimento. Tamarindo, mamãe, etc. Praia. Banho de sol. Saudades da R.. Tirei a aliança para ler o seu nome gravado. Ginástica. Bom o almoço. Camarão grande e peixe. Conversei com o seu Antonio e seu Horácio sobre consertos. A mamãe ainda pagando. Regresso. Terço. Dormi. Niterói. Travessia com vento do mar. Em casa a carta 7 da R.. Fiquei muito feliz. Graças a Deus por essa noiva tão boa. A Maria José recebeu um telefonema do Edison, tudo bem. Atualizei este diário. A Cristiana se cortou. Choro. Escrevi a carta 14. Apareceram: Risoleta, Margarida, Violeta, Vera, Oscarzinho, Oscar e tia Artemira. Saudades da R..

03/10/60 – segunda – Dia de Santa Terezinha, minha padroeira. Parabéns pela data de hoje. Que esteja bem feliz no céu! Eu, cá neste mundo, lhe peço que deixe cair umas rosas sobre a R., a mamãe, e sobre mim, sobre todos os parentes, amigos, benfeitores e superiores, sobre o Brasil, sobre o Exército e sobre o mundo inteiro. Peço sua proteção nos dias 16, 18 e 22 de novembro quando farei um concurso, e também para que o meu casamento com a R. seja abençoado por Deus. Meus parabéns por ter sabido amar a Deus! Santa Terezinha do Menino Jesus rogai por nós! Acordei às 06:00 e fui à missa das 07:30. Estudei Trigonometria. Carta 14 no correio. 7ª Zona Eleitoral. Declaração justificando porque não votei. Almoço. Álgebra. Raymunda, Pe. José Maria, Maria Helena, Robertinho, Renatinho, Ronaldinho e Eliane. Oscar, Risoleta, Vera e Oscarzinho, todos apareceram em casa. Conversa sobre os candidatos. Fiquei estudando. Despedidas. A mamãe foi para um retiro espiritual no Cenáculo. Telefonema do Sérgio. Ainda não sei a resposta. Conversamos bastante. Jantar. O Newtinho e a Cristiana choram muito e a Patrícia meio malcriada. Coisas de criança. Diário. Carta 15.

04/10/60 – terça – Acordei às 04:00 e levantei-me às 04:15. Geometria. Missa às 07:30. Comunhão. Correio. Café. Estudo. Almoço. Diário. Carta 16. Cartas 7 e 9 da R.. Tudo bem por lá. O Luiz chegou de Itacuruçá. Carta do Edison para ele. Estudei à tarde e à noite fazendo 27 exercícios.

05/10/60 – quarta – Acordei às 04:15. Geometria. Missa das 07:30. Comunhão. Correio. Geometria e Trigonometria. Dia bonito. Resfriado. Almoço. Dormi. Dia’rio. Carta 17. Saudades. O candidato a Presidente do Brasil, Jânio Quadros está na frente na apuração dos votos e se distancia cada vez mais do segundo colocado. Estudei até 17:45. Ginástica. Jantar. Estudo até 21:30.

06/10/60 – quinta – Acordei às 05:30. Não ouvi o despertador. Estudei. Hoje só comunguei pois não houve a missa das 07:30. Correio. Estudo. Dia ensolarado. Carta 12 da R. datada de 03/10. Li avidamente. Tudo bem por lá. Muitas saudades também. Almoço. Dormi até as 13:00. Diário. Carta 18. Álgebra. Jantar. Estudo. Banho. Igreja. Confissão com o Pe. Nicolau. Cortei o cabelo.

07/10/60 – 1ª sexta-feira – Acordei às 05:45. Comunhão 1/9. Pedi para Deus abençoar o meu casamento. Muito resfriado. Calor. Estudo. Almoço. Dormi. Diário. Carta 19. Apareceu o tio Adauto defendendo o Jânio Quadros. À tare fui ao QG do Exército. Sobe. Desce. Tive que ir ao IME. Cheguei às 15:45. O Major Jarí havia saído. Cruzara comigo.  Sérgio. Regresso para casa. Muito resfriado. Cansado. Calor. Caindo pelas tabelas. Jantar. Não consegui estudar. Carta 19. Tomei um remédio que a Maria José comprou para mim. Chá quente. Suadouro. Semi-acordado. Suor. Ventania à noite. A mamãe foi cuidar de mim.

08/10/60 – sábado – Afinal o relógio marcou 5 horas. Estudei Álgebra. Missa das 07:00. Correio. IME. Major Jarí. Cap Gomes. Cópia autêntica de um radiograma. As pessoas na praia. Vontade de morar no Edifício da Praia Vermelha. QG do Exército. Terei que voltar na segunda-feira. Ainda estou resfriado. Carta 14 da R.. Que felicidade em receber uma carta dela. Tudo bem por lá. Enviou dinheiro. O caso da geladeira está resolvido. Deverei receber aqui no Rio. Disse-me que o telefonema custara Cr$655,00. Que caro! Mandou-me 4 fotografias. Gostei mais de uma com o vestido de bolinhas, em que está com a mão sob o queixo olhando para frente e aparecendo a aliança no dedo da mão direita. Sinto que amo de verdade a R. e desejo que no futuro sejamos bem felizes com a graça de Deus! Diário. Carta 20. Estudei meio doente. Jantar. Estudo. Dormir. Saudades.

09/10/60 – domingo – Acordei às 05:30. Estudei Álgebra. Missa dos Congregados Marianos. Comunhão. Café com leite e pão. Reunião. Fui citado de novo. Leitura da ata. Apostolado leigo. “e vendo Jesus a fé dos que levavam o doente...”Campanha para comprar um novo órgão para a igreja. Voltei para casa. Carta 15 da R.. Muitas saudades. Ela escrevia às 23:00 com sono e ainda sem rezar o terço! Iniciei uma relação dos parentes. Fiquei admirado com a quantidade. Almoço. A mamãe foi com a tia Arthemira almoçar na casa do tio Françu. Fui dormir um pouco. Diário. Carta 21. Assisti pela  televisão  marca Philco  Predicta da Maria José, ao jogo Flu 2 x Bangu 0 . Escrevi  uma carta para o Felippe. Vento forte. Faltou luz. A Maria José com os filhos fora. A mamãe preocupada. Fiquei pior da tosse. Em dado momento externei as saudades que sinto da R.. O Affonso apareceu mas logo foi embora. Conversei bastante com a mamãe. Chegaram a Maria José, os filhos e a Neusa, graças a Deus! Fui dormir. A Anna chegou. Discussão sobre os padrinhos de casamento. Eu pensei em convidar os meus tios. E pensando e sonhando cheguei às 05:20 do sai seguinte.

10/10/60 – segunda – Estudei Álgebra. Missa das 08:00. Dona Minervina. Comunguei. Correio, carta 22. Estudei até 22:00. Saudades.

11/10/60 – terça – Fui à missa das 07:00. Correio. Estudei. Almoço. Recebi um telefonema do Dr Armando. Está de passagem pelo Rio. Disse-me que tinha uma carta e um embrulho com presentes da R.. Convidou-me para jantar às 19:00. Está hospedado no Rex Hotel. Comentei com a mamãe que nós não tínhamos condições de hospedá-lo em nossa casa. Dei dois telefonemas , um para o Maj Omar, no Ministério da Guerra e outro para o Ten Luiz sem ser bem sucedido. Não consegui mais resolver nenhum problema. Fui à cidade. Hotel Rex. Dr. Tramujas. Tudo bem lá em Curitiba. Conversamos bastante. Jantamos. Não consegui comer tudo. Muito bom o filé mignon. Fomos até Copacabana . Casa errada. Enfim acertamos. Tia Lourdes, Cap Rubens, esposa Ângela e dois filhos. Televisão. Conversamos bastante sobre os fatos: noivado, política, Academia Militar, Resende, Escola Técnica do Exército, etc. Saímos além das 22:00. Regresso. Lotação. O Dr. Armando não me deixou pagar nada. Li a carta da R. com muito sentimento de amor. Em casa abri o embrulho. Era uma lata cheia de biscoitos feitos por ela mesma ontem à meia-noite. São todos muitos gostosos e se desmancham na boca. Muito a amo por tanta dedicação.Reli a carta escrita naquela manhã. Fui dormir com saudades.

12/10/60 – quarta – Nossa Senhora Aparecida rogai por nós. Acordei com o despertador às 05:00 mas só me levantei às 06:30. Diário. Carta 23. A mamãe foi para Paquetá. Dei-lhe biscoitos da R.. Fui à missa das 08:00 e comunguei. Correio. Estudo. Almoço. Rede. Patrícia e Newtinho. Estudo. Ginástica. Jantar. Estudo. Dormi às 21:30. Saudades.

13/10/60 – quinta – Missa das 07:30. Correio. Cartas para o Edison, para o Luis Armando e para a R.. Estudo. Águia de coco.  Almoço. Dormi. Maria Helena. Carta 25. Recebi a 19 da R. dizendo que não ia à piscina por minha causa. A carta é do dia 10 e ela diz que iniciou o bordado de um novo lençol e que eu ia gostar. Em outro trecho diz: “Posso dizer-lhe apenas que continuo amando-o e continuarei por toda a vida. Tenho feito tudo para ser uma boa noiva e uma esposa exemplar da qual você sempre vai se orgulhar. É isto que tenho sempre pedido a Deus. Quero compreendê-lo, ampará-lo, ajudá-lo sempre em toda e qualquer ocasião. Já que não sei exprimir o meu amor por meio de palavras, procurarei exprimi-lo por meio de atos.” Muito obrigado querida noiva pelo que escreveu. Por um telefonema ao Maj Omar soube que tudo será resolvido hoje. Estudei Geometria. A Maria José foi visitar a Heloisa. Faltou água. Jantar. Chutei umas bolas para o Newtinho que também já sabe chutar. Rezei o terço andando no pátio. Estudei. Consegui fazer 27 exercícios. Saudades.

14/10/60 – sexta – Acordei às 05:30. Estudo. Missa das 07:30. Confessei-me com o Pe. Boaventura. Correio. Estudo. A mamãe foi para Aparecida. Levei a mala dela até a igreja de Santo Afonso. As pessoas me achando alto e diferente. Tia Maricas, Araci, Tia Arthemira, Tio Moysés, Tia Rita, Marieta. Na volta passei pela casa do Tio Manoel e lá encontrei a Natália, a Nair, a Nairzinha e o Tio Manoel. Em casa estudei. Almoço com a Maria José. Acho o Newtinho muito parecido com o Edison. Dormi. Carta 20 da R.. Ela diz que já está acostumada a receber carta minha todos os dias e quer que continue assim. Que não acha graça em ir ao cinema sem mim. Que assistiu no Concórdia o filme sobre as debutantes e se achou feia e que por isso os outros a chamam de convencida. Que gosta de Curitiba por sua variação do tempo. Que fica esperando por outros momentos felizes ao meu lado. Li trechos da carta para a mamãe. Carta 26. Estudei até a hora da ginástica. Banho. Estudei até meia-noite. Terço. Dormir.

15/10/60 – sábado – Missa das 07:00. Correio. Fui até o Ministério da Guerra. Tudo OK. Apresentei-me por término de férias e passagem à disposição do Primeiro Exército. Correio. Cr$121,00 em telegramas: Cmt III Ex, Cmt 5ª RM e Cmt 5ª Cia Com. Estudo. Almoço. Dormir. Estudo. Jantar. Estudo até meia-noite. Terço.

16/10/60 – domingo – Missa das 07:00. Café. Carta 27. Almoço. Fui com a Patrícia até o Aeroporto de Santos Dumont. Ao chegar lá também chegava o Covair da Cruzeiro do Sul com o Dr Armando procedente de Salvador. Tudo bem. Missão cumprida. Bagagens. Restaurante. Tônica. Coca-cola. Aviões a sair e a chegar. Trocamos idéias. Afinal chegou a hora de ir para são Paulo. Scandia da Vasp, das 14:30. Só levantou vôo da 2ª vez.  Ronaldo. Eliane. Estudo. Flu 1x Bonsucesso 0. Heloísa, Frank, R. Helena. Estudei até 23:30. Diário. Carta 28. Terço. Orações.

17/10/60 – segunda – Santa Margarida Maria rogai por nós. Acordei às 07:30. Missa das 08:00. Confissão. Para a frente com a graça de Deus. Correio. 3º bloco de rascunhos. Estudo. Não recebi carta da R.. Almoço. Sesta. A mamãe chegou de Aparecida, graças a Deus. Estudo. Ginástica básica a 12. Banho. Jantar. Estudo até meia-noite. Diário. Carta 28. Terço. Dormir. Saudades.

18/10/60 – terça – Acordei-me às 08:15. Missa das 08:40. Calor. Correio. Estudo. Almoço. Sesta. Estudo. Ginástica. Banho. Jantar. Carta 23 da R.. Diz que ao receber a minha carta 23 chegou até a chorar. Que isto agora é coisa rara, pois de tanto eu falar as lágrimas dela agora estão secando. É pena, continúa, pois no último domingo o padre citou uma frase de um escritor famoso: “Há mais beleza no rosto de uma mulher que chora doque no de uma que ri!” Que o Raul, no seu aniversário fora até a casa dela jantar e contara que o time de Engenharia perdera para os Mórmons e para o Curitibano por 10 pontos e que me enviava lembranças. Recebi também um telefonema do Joélcio que reclamou que eu ainda não lhe telefonara.  Que está em 1º lugar na turma e que foi convidado para instrutor no Colégio Militar em 1961 ou para ficar na própria Escola de Educação Física do Exército. Que vai ao Peru jogar basquete junto com o Gedeão, Calomino, Alexandre e Lobão dizendo que eu por causa do concurso ia perder a oportunidade de ir. Que a Miriam estava aqui no Rio e conversaram. Que vários da nossa turma que estavam no Batalhão Escola de Engenharia foram transferidos e, portanto tiveram que tentar o IME.  - Eu em casa eu  ouvi numa estação de rádio um congregado mariano condenar o baile como forma dissimulada de se ofender a Deus e ocasião quase certa de pecado.  Estudo. Carta. Diário. A Maria José foi ao cinema ver um filme sobre 1964 com o efeito destruidor das irradiações. Carta 30. Terço. Dormir. Saudades.

19/10/60 – quarta – Missa. Comunhão. Estudo. Recebi o livro de Trigonometria, com uma fotografia ampliada  e uma cartinha. Estudo. Ginástica. Banho. Estudo. Fui dormir às 01:30. Saudades. Calor.

20/10/60 – quinta – Acordei às 07:30. Missa. Estudo. Almoço. Faltou luz. Sesta. Estudo. Fui à cidade para a mamãe. Josué. Greve dos bondes. Fiquei admirado com o número de livros perniciosos. Paguei uma prestação de Cr$16.000,00 e o da mamãe. Regresso. Com o seu Chico  conseguimos colocar luz. Calor. Diário. Carta 32. Estudei até meia-noite. A mamãe fazia uma hora santa noturna em casa. Rezei os terços. Saudades.

21/10/60 – sexta – Missa das 08:00. Correio. Estudo. Recebi as cartas 24, 25 e 28. Reli bem a 28 em que ela me envia preciosos conselhos. Estudo. Calor. Almoço. Estudo. Ginástica com a Patrícia. Calor. A Light reconsertou a luz. Estudei até 23:30. Diário. Ouvia a transmissão do jogo decisivo entre o Flu e o Grêmio. Terminou 1x1 e na prorrogação o Flu fou vencedor por gol average. Carta 33. A mamãe telefonou para o meu primo Gilberto que mora em São Paulo pela passagem do seu 37º aniversário.

22/10/60 – sábado – Missa das 08:00. Confessei-me e comunguei. Em casa não consegui resolver um problema siquer. À Tarde tirei uma sesta com o quarto às escuras. À noite estudei. Fiz 26 exercícios. Carta. Fui dormir às 02:30. Terço. Saudades.

23/10/60 – domingo – Dia de santos Dumont. Acordei às 09:50. Faltando água. Calor. Vontade de ir à praia. Fui à missa das 11:00. Encontrei o Affonso que deu uma volta comigo. Conversamos sobre os problemas da Engenharia Civil. Calor. Televisão. Flu2xOlaria1. Terço. Estudei até de madrugada. Saudades.

24/10/60 – segunda – Missa. Confissão. Comunhão. Calor. Falta d’água. Estudo. Recebi duas cartas da R.. Tudo bem graças a Deus. Saudades. Conversei com o Luiz.

25/10/60 – terça – Acordei 07:45. Missa. Calor. Correio. Ajudei a mamãe na arrumação da casa. Livros. Almoço. Diário. Carta da R. em qie ela me diz que me ama  e o seu maior receio é perder-me na vida. Que o Luis Armando no dia do seu aniversário acordou todo o mundo dizendo: “Como é que é, não vai me dar os parabéns?” Que encontrou com a Míriam do Joélcio. Que depois do almoço se deitou um pouco na sala, ouvindo música e relendo minhas cartas dizia como era bom amar e ser amada. Falou sobre o casamento, já pagou os móveis, precisa resolver o questão da geladeira, conseguir o instrumento canônico, quase certo o dia 10 de janeiro de 1961,  mais ou menos resolvido os lugares da lua-de-mel. Precisando arranjar dinheiro para a lua-de-mel, os convites ficam prontos só no final de novembro.  Vejo que tudo está em dia e agradeço a Deus por uma noiva tão prestimosa. Estudei até 01:30. Saudades.

26/10/60 – quarta – Acordei às 07:45. Missa. Padre Pelayo. Conversa sobre Curitiba. Morte do Padre João de motocicleta. A certidão é velha. Correio. Inglês. Francês. Almoço. Falta d’água. A Maria José reclamando. Estudei. Ginástica. Banho com cuia. Terço. Estudei até meia-noite e meia. Saudades. Hoje não fiz os 27 exercícios. 

27/10/03 – quinta – Acordei às 07:45. Missa. Terço. Comunhão. Pedindo a proteção de Deus. Correio. Chuva. Recebi as cartas 32 e 33 de 23 e 24 de outubro. Eis os principais tópicos: Foi até o quartel de Artilharia do Boqueirão, 5º RO105 com o Pedro Achilles namorado da Beatriz, com a Beatriz, com a Elyane e seu namorado Pedro Celso no domingo visitar um amigo que estava de Oficial de Dia.  Disse que o Noel e a esposa estiveram à noite na casa dela  e conversaram bastante com ela a respeito da vida de casada. A esposa do Noel disse que a dona de casa trabalha o dia todo e o serviço não aparece e os maridos não dão valor. Recebi um santinho da 1ª comunhão da Yereza Cristina prima da R., que fez questão de me dar um. A R. escreveu que quando começa a pensar na proximidade do nosso casamento fica um pouco amedrontada com as responsabilidades que irá assumir, mas ao lembrar que vai enfrentá-las comigo todo o medo desaparece. Na carta 33 fala sobre o casamento, o local da lua-de-mel mais ou menos resolvido. Justifica desejar que o casamento e a lua-de-mel sejam os melhores possíveis porque são os únicos na vida e que para mais tarde os lembremos com saudades e alegrias. Disse que terminou as aulas de corte e vai aprender a costurar a fim de se completar melhor.  Eu estudei até 24:30. O tempo no Rio está chuvoso.

28/10/60 – sexta – Acordei às 07:45. Missa e comunhão. Correio. Francês. Recebi a carta 34 da R.. Diz que o dia 25 não foi dos melhores para ela. Ficou molhadíssima com um temporal e não recebeu carta. Uma chuva enjoada. Incêndio na casa da frente. Levou 15 minutos para vir do Prosdócimo (na esquina com a Praça Tiradentes)  até a casa dela. Chegou com o rosto preto de carvão. A chuva também esfriou muito o tempo.  Aqui em casa no Rio apareceram a Vera e a Violeta. Almoço. Vendedora de roupas. A Nair, a Risoleta e a Anna também vieram. Sesta. Diário. Carta 40. A mamãe e a Margarida foram até a Paróquia do Padre José Maria. Fui à igreja de Sant’ Anna. Certidão de batismo. OK. Regresso. A mamãe já havia chegado e trouxera os móveis de fórmica. Arrumamos no quarto. Fiquei muito agradecido pela mobília. Deus lhe dê a recompensa em graças do céu. Estudei até 24:00. A empregada do Luiz, chamada R. fazendo um barulho. Um empregado da obra ao lado. Guarda noturno. Luiz. Maria José toda nervosa. Delegacia. Fui dormir às 02:30.

29/10/60 – sábado – Missa das 08:30. Comunhão. Padre Pelayo. Certidão. Instrumento canônico. Tudo OK. Estudei Francês. Correio. Carta 40. Dia nublado. Sesta. Francês. Álgebra. Resfriado. Luiz defendendo Fidel Castro. Tia Arthemira. Frio. Portão caído. Diário. Carta 41. Saudades. Cansado. Deitei e dormi até 19:30. Sopa. TV. Estudo. Oração. Dormi às 01:30.

30/10/60 – domingo – Missa das 08:00. Comunhão. Pedi a Jesus para amar com generosidade. Correio. Recebi as cartas 35 e 36 dos dias  26 e 27 da R.. Diz que tem vontade de vir correndo até o Rio para matar as saudades. Pede para eu de 15 a 23 de novembro só pensar nos estudos e esqueça dela. Que ela vai pensar nela por nós dois. Todo o desejo de uma rainha deve ser satisfeito!  Não precisa escrever para ela nestes dias. Saberá  compreender. Que quem esperou tanto pode esperar mais um pouco. Quanto às minhas falhas, se Jesus  me perdoou nas confissões quem é ela para não me perdoar. Para eu me lembrar que apesar de tudo ela continua e continuará a me amar por toda a vida e a eternidade. Que errar é humano. Que se eu fosse perfeito ela teria se afastado de mim pois se acharia indigna do meu amor. Que depois de casados procuraremos nos tornar os mais perfeitos possíveis. Na carta 36 diz que o frio em Curitiba estava bárbaro. Que ontem havia sido a festa da irmã do Pedro Achilles. Ele a havia convidado mas ela respondeu que sem o noivo o que iria fazer lá. Que sem mim nada tem graça para ela. Que eu não imagino o quanto eu significo para ela.  Falou ainda sobre a lua-de-mel em Poços de Caldas ou Campos do Jordão. E terminou dizendo Boa noite, amor, um beijinho em cada lado, durma bem e sonhe comigo! Eu escrevi a carta 42 para ela. Reli o diário e fiz um novo planejamento.

31/10/60 – segunda – Missa. Comunhão. Frio. A mamãe foi a Maricá com o Padre José Maria, a Raymunda, a Maria Helena e filhos. Tudo bem. Recebi a carta 37. Muito frio em Curitiba. O Tem Duarte entregou a ela os meus vencimentos de Cr$60.310,30 sendo Cr$23.000,00 de auxílio ao fardamento. Encerro este diário até o dia 22 de novembro, se Deus quiser!

DEZEMBRO – 1960

01/12/60 – quinta – Acordei às 05:30. Dasa da R.. Quartel. Novo mês. Planejamento de colocar tudo em ordem, mas os automóveis particulares prejudicam. Enfim procuro fazer o que é possível. Ainda não sei o resultado do concurso mas tenho o pensamento positivo de que com o que eu fiz dá para passar. Tenho combinado com a R. tudo sobre o nosso próximo casamento. Sinto que a amo de verdade e que seremos muito felizes se continuarmos amando a Deus e procurando observar os seus mandamentos. Estou com bronquite asmática mas o Dr Armando já me deu diversos remédios, a Dona Lycia me aplica injeções muito bem e a minha querida noiva cuida demais de mim. Fui dormir cedo no sofá-cama dp escritório do Dr Armando.

02/12/60  - sexta -  Acordei às 05:30. Levantei-me às 05:45. Conversei coma R. e fui para o quartel. Estou acertando o material sob minha responsabilidade na Oficina de Manutenção e Transporte. Dia bonito. À tarde fui para a cidade. Catedral com a R.. Terceira de nove comunhões das primeiras sextas-feiras do mês em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus. Adoentado. Dormi cedo sempre sob os cuidados da R.. Terço.

03/12/60 – sábado – Acordei às 05:30. Quartel sem falar com a R. ainda dormindo. Acertando os toldos das viaturas. Carros particulares. Almoço. Injeção com o soldado padioleiro. Conversei com o Major Moreno que não quer que o filho seja do Exército, etc. Cidade. Sol. Fraqueza. Catedral. Comunhão. Doente. Deitei no sofá da sala de jantar. Jantar. Injeção. Dormir.

04/12/60 – domingo – Acordei às 07:30. Gemada. Salada de fruta, Tudo trazido pela R.. Missa das 11:00. Comunhão. Sermão sobre São João Batista. Fomos até a casa da Tereza Cristina, prima da R. que comemorava o seu aniversário. Parentes da R.. Impressionado com a conversa dos casados.  Conversamos bastante a R. e eu. O Ernani irmão da aniversariante (filhos do Renato e da Consuelo) mexendo nos presentes dela.  O Renato nos levou de carro até em casa: Dr Armando, Dona Lycia, Luis Armando, R. e eu. Injeção. Dormir.

07/12/60 – quarta – Fiquei estes três dias no quartel. Nesta tarde vi várias coisas com a R. na cidade. Eu a estou amando muito e ela faz tudo de bom para mim.

08/12/60 – quinta – Imaculada Conceição. Houve expediente no quartel. Hoje é o aniversário da minha primeira comunhão. Agradeci a Deus e pedi que me conserve com Ele até o fim da minha vida. Preparativos para o dia 23 de dezembro. Fui à missa com a R. e comungamos.

09/12/60 – sexta – Quartel. Tenho dormido no escritório, na casa da R.. Tirei duas chapas do pulmão. O Dr Armando tem cuidado muito de mim. A Dona Lycia aplica as injeções no braço. Desejando que chegue logo o dia do casamento.

10/12/60 – sábado – Não houve expediente. Fiz compras com a R.. Convites para o casamento. Flu 1x Vasco 0.

11/12/60 – domingo – Acordei às 07:30. Banho. Barba. Café. Conversei com a R.. Almoço. Descanso. Convites. Missa das 20:00. O pregador foi um padre que estivera na Alemanha. Falou sobre a língua latina no liturgia. Na casa da R. estavam o tio Raul e a tia Eleonora. Jantar. Despedidas. Despedidas. Tenho rezado o terço diário.

12/12/60 – segunda – Acordei às 06:00. Café feito pela R.. Gosto de conversar com ela pela manhã quando o sono não atrapalha. Quartel. Viaturas. Sala do S-3. Sargento Isaias Venson, Sgt Stocco, etc. Viatura. Carga. Ao almoço o Ten Medeiros e o Cap Félix  fizeram uma crítica aos padres que falam mal do Exército.  Retruquei dizendo que o meu irmão padre se dedica ao subúrbio de Honório Gurgel, no Rio de Janeiro. Pensando nos próximos acontecimentos: solução do concurso ao IME, festa do dia 23, inaugurações e o meu casamento.

25/12/60 – Domingo de Natal – Pedi a deus que abençoasse o meu casamento. Ontem fomos até a casa dos avós da R.. Quase todos reunidos. Um bom exemplo de vida em família. Fiquei conversando com a R., que estava muito bonita com aquele vestido azul. A Beatriz com o Pedro Achilles e a Eliane com o Pedro Celso. O Luis Armando contente com os presentes. Noite quente com uma brisa fria. Na casa da R. houve distribuição de presentes entre todos: Dr Armando, Dona Lycia, Luis Armando, R., eu, Dona Eulina, Virgínia e Elizabeth. Todos contentes  com o que receberam. Ganhei um cinto preto da R.. Dos pais um estojo de couro completo para barbear. Fiquei muito contente e comigo todos, com exceção da Elizabeth. Não fomos à missa do Galo porque no ano passado eu dormira e quase não aproveitara. Fui dormir ouvindo a irradiação da missa da catedral e dormi sem rezar. No dia 23 houve aquele dia festivo no quartel que o Comandante tanto esperava. No cinema houve entrega de medalhas. Recebi seis. Depois houve sorteio de prêmios. Coube-me pelo número 1011 a escolha do 2º maior prêmio. Escolhi um barbeador elétrico no valor de Cr$3.780,00. Muito obrigado, meu Deus! Houve também um jogo de futebol entre os cabos e soldados da 5ª Cia Leve de Manutenção e da nossa 5ª Cia Com. Vencemos por 3x1 com três gols do soldado Bídio (Kozak) no goleiro Paulista. Houve um bom churrasco em que compareceram muitos oficiais. Foi o melhor da festa para os que apreciam  um bom prato mais do que tudo. À noite houve uma demonstração de judô, jogo de basquete entre oficiais da PMP e da Cia QG, futebol de salão entre sargentos da PMP e da Cia Com e finalmente basquete entre oficiais  da Cia com e da Cia QG. Boa assistência. Tudo funcionou bem, graças a Deus! As salas ficaram prontas graças ao trabalho intensivo do Sgt Venson, Sgt Noronha, Cabos Gerson, Riozo e Milton e dois civis. Ainda não sei se passei no concurso. Aguardo com muita esperança e ansiedade pois tenho que decidir  sobre os móveis e a geladeira.

26/12/60 – segunda – Expediente à tarde. Baile no Clube Concórdia. O Dr Armando comprou-me um convite no valor de Cr$500,00. Bom o baile. Dancei bastante com a R..

31/12/60 – sábado – Já soube que não passei no concurso para o IME. Consegui saber por meio do Sgt Noronha, radioamador PY5-IG. Pelo telefone a mamãe me disse que eu não havia sido aprovado. Fiquei triste na hora mas aos poucos  com muito pensamento positivo fui transformando essa tristeza em alegria por poder continuar na 5ª Cia Com, em Curitiba e iniciar aqui mesmo a minha vida de casado com a R.. Mais tarde chegou um telegrama da mamãe confirmando: “Reprovado. Iremos em 6 chegaremos dia sete à noite. Reserve lugares. Abraços. Umbelina.” Ando com a R. procurando um apartamento para alugar. Há alguma dificuldade. À noite fomos à missa da meia-noite na igreja do Coração e Maria. Ficamos até 01:30 na casa dos avós dela. Doces. Crushes.

 

JANEIRO – 1961

01/01/61 – domingo - Novo ano. A R. me disse que estava sentindo uma grande tristeza pois fora a primeira vez que passara de um ano para o outro longe dos pais. Eu lhe disse que foi só uma diferença de 40 minutos. Temos sempre pensado no nosso próximo casamento, com grande vontade de que ele logo chegue.

06/01/61 – 4/9 primeiras sexta-feiras – Graças a deus! Domingo da Epifania – Fizemos compras. Fomos à missa das 09:30 na igreja do Rosário. Nestes dias próximos ao casamento a R. está um pouco mais preocupada. Graças a Deus as coisas têm saído a contente. Peço a Ele que tudo saia bem.

07/01/61 – sábado – Chegaram a mamãe, a Maria Helena e o Josué. Vieram de avião. Graças a Deus todos bem. Levei tudo o que era meu do quartel para o novo apartamento alugado à rua da Glória, 396/4.  Na casa do Dr Armando jantamos e conversamos bastante. Já fui dormir no novo apartamento.

08/01/61 – domingo – Fui à missa dominical às 09:30 na igreja do Rosário com o Dr Armando e o Luis Armando. É o Domingo da Sagrada Família. P padre jesuíta falou muito bem sobre a família dizendo que o mal não provém dos playboys mas das playfamilies e terminou dizendo que a família que reza unida permanece unida até o fim. Almoço. Foram até o apartamento a R., a Maria Helena, a mamãe, o Luis Armando e eu. No final a mamãe e eu dormíamos e a Maria Helena e a R. conversavam. Jantar na casa da R.. Conversei com a R.. Fui dormir no apartamento.

09/01/61 – segunda – Fiz várias coisas referentes aos preparativos para o casamento. À tarde, graças à colaboração do Dr Armando e o Dr Raul tudo saiu bem. A R. e eu casamos no civil. Fiquei meio assustado à entrada dos juízes mas logo me dominei e com os cumprimentos de muitas felicidades, tudo saiu normalmente, graças a Deus! Fui dormir no apartamento após me despedir da minha querida noivinha pensando ser pela última vez.

10/01/61 – terça – Catedral de Curitiba. A R. e eu nos casamos. Estou muito feliz. O Padre Augusto Sanzol Goni, meu padrinho, oficiou a cerimônia e disse palavras muito bonitas. Eu seria o sol e a R. a lua. Que nós deixássemos Deus e Nossa Senhora entrar entre nós. Que tivéssemos filhos. Lembrou o meu querido pai já falecido. A catedral estava muito bonita, com muitas flores, iluminada e o coro cantou muito bem. À saída  estavam lá cruzando as espadas o Tenente Luiz, o Tenente Duarte, o Tenente Dorneles, o Major Félix  e o Tenente Medeiros. Senti que o Tenente Hélio não apareceu. O meu primo Gilberto veio de São Paulo e apareceu à hora do casamento. Fomos depois para a Sede Campestre do Clube Curitibano. Fiquei muito feliz em me casar com a minha querida R.. Lembro-me que ao vê-la entrar na Catedral eu quase comecei a chorar de emoção, mas consegui me dominar. Ela parecia uma princesa. No altar eu a recebi das mãos do Dr Armando. Faltou um fotógrafo para documentar esta entrada. O tio Raul entretanto fotografou outros lances. A recepção no Clube Curitibano foi ótima, não tendo faltado nada, graças a deus! Todos os parentes gostaram muito.

Também compareceram os sargentos Calazans, Jardim, Leopoldo, Travassos e Lima e o subtenente Wasilewski. Recebemos muitos presentes dados principalmente pelos médicos colegas do Dr Armando. Dos oficiais do quartel ganhamos um liquidificador Walita. Dos sargentos um jogo para café, muito bonito. O namorado da Elyane, Pedro Celso nos levou de automóvel até em casa. Trocamos a roupa e saímos para viajar. Vôo 512 para São Paulo.  Despedidas. Encontrei o irmão do colega Dalmei casado e com 1 filho indo para a AMAN. Jogaram arroz na gente. Fizemos boa viagem, graças a Deus! A mamãe foi junto, sempre receosa. O Josué e a Maria Helena estavam calmos. Só houve uma hora quando bem próximo a São Paulo o avião teve que subir bem rapidamente e bem alto (coisa que depois achei até emocionante) por causa da falta de teto. Em São Paulo encontramos a Verinha e a filha com a esposa do Coronel Paulo, amigo do Oscar. Despedidas. Hotel. Procura com o motorista de táxi, um português. Enfim chegamos ao Hotel Alvear onde ficamos. Bonito apartamento atapetado e bem moderno. Depois demos um passeio e fomos assistir ao filme “Os Dez Mandamentos” que eu achei formidável. É um filme do Cécil B. de Mille sobre Moyses, os Hebreus no cativeiro, o Faraó Ramsés, Josué, Aarão. Enfim toda a História Sagrada. Um lance bonito é a passagem pelo Mar Vermelho quando este se abre. Voltamos para o hotel e vivemos a nossa primeira noite juntos.

11/01/61 – quarta –  Almoçamos e jantamos na cidade. Visitamos a Catedral da Sé. Encontrei um antigo colega desde a Escola Preparatória, o nº 136 – Delamare. Já comprei as passagens para Caxambu.

12/01/61 – quinta – Em cima da hora embarcamos para Caxambu. Paguei Cr$3.000,00 no hotel. Boa viagem graças a Deus! Eu queria conversar o tempo todo de viagem mas dormi algumas vezes e a R. também. Estamos satisfeitos com a nossa lua-de-mel. Perto de Caxambu (Pouso Alto) arriscamos pegar o ônibus que vai para São Lourenço. Graças a Deus deu tudo certo. Sentamos no último banco e fomos conversando até São Lourenço. Chuva. Carregador Abreu muito atencioso. Hotel Londres. Quarto nº 64. Jantar. O meu primo Arizinho também a trabalhar com os garçons. Boa comida. Não sabemos se irão cobrar os dias que vamos passar no hotel.

13/01/61 – sexta – Agradeço a Deus a esposa que me deu. Fico triste em não ter sido melhor antes do casamento. Faltou mais confiança em Deus quanto ao futuro. Espero poder inculcar nos meus filhos o valor de uma vida com um ideal antes do casamento.

14/01/61 – sábado – Já conversamos com o Ari e ontem à noite com a minha prima Arminda, filha da Tia Amélia e esposa dele. Falamos bastante ate as 22:00. Ela gostou da voz da R.. Falou sobre a família. A Maria Arminda filha dela já é mãe de um garotinho chamado Vinicius com 8 meses. O Arizinho seu outro filho já tem 27 anos e é noivo de uma moça que vai terminar o Normal e um curso de piano. Uma outra filha já casada, Dulcemar já é mãe de três crianças. Moram em Volta Redonda. A Arminda disse que nestes meses há muito serviço no hotel e ela trabalha muito. Achei-a  uma pessoa muito simples e uma avó, mãe e esposa cem por cento. Ela colocou tudo à nossa disposição e nos deu uns doces feitos por ela mesma. Hoje após o café bem reforçado saímos a passear pela cidade. Engraxei os sapatos com um menino chamado Newton. Cheguei à conclusão que os hotéis dão ocupação para muita gente. Há necessidade, portanto de alguns terem mais para dar para outros que nada têm. Almoço. Sesta. Saímos a passear e tiramos vários retratos. A R. escreveu uma carta e enviou um postal para os pais. Andamos de barco. Tempo instável. Tive que pagar Cr$600,00 por um vidro que eu quebrei por ter me apoiado sobre o balcão. Ficamos bem tristes. Enfim nada nos pertence neste mundo. Tomarei mais cuidado. Comprei uma revista Capricho para a R.. Desabafei com ela quando pensei que iria ser menos lembrado um dia por ela quando viessem os filhos e outras preocupações. Combinamos que tudo faríamos para que sempre nos amássemos e fizéssemos demonstrações recíprocas de amor.

15/01/61 – Segundo Domingo depois da Epifania – Aniversário da Arminda. Fomos ao Parque. Tiramos fotografias. Andamos no lago de Gaivota. Almoço. Tiramos fotos junto com o Ari e a Arminda. Fomos de novo ao Parque e andamos de baleeira. Encontrei o Padre Daher do meu tempo de seminário, com a mãe e uma irmã e tirava fotografias. Fomos à missa das 19:00. Benção. Conversamos na varanda do hotel.

16/01/61 – segunda – Após o café passeamos de charrete com Seu José Ferreira e sua égua Estrela e fom,,os até a fazenda do Seu Ramon. Fotos. Compramos vinho, queijo e doce. Almoço. Fomos de novo ao Parque. Novas fotos. Compras. Despedimo-nos da Arminda. Fomos visitar a Maria Arminda. O Sílvio (Leo) marido dela ia saindo para o Rio. Vimos o filho Vinicius já deitado para dormir ao som da orquestra do coaxar de sapos e rãs. Voltamos para o hotel onde paguei a conta de Cr$6.300,00. Esperava que o Ari não me cobrasse como fez para o mano Felippe, mas talvez a situação não o permitisse desta vez.

30/01/61 – segunda – Recapitulação. Tem chovido bastante aqui no Rio. Choveu quase toda a semana passada. A vinda de São Lourenço foi muito boa. Estivemos a 1.600 metros de altura, pois a BR-58 passa bem perto das Agulhas Negras. É uma bonita estrada, muito arborizada e toda asfaltada. O ônibus muito bom, Mercedez Bemz, carroceria Metropolitana. Saímos de São Lourenço às 07:30 e chegamos ao Rio às 14:00-. Em casa encontramos a minha prima Lea e depois a mamãe fazendo a limpeza da casa com a Dirce. Ela ficou surpresa com o nossa vinda inesperada, no dia 17/01/61- terça-feira. No dia seguinte fomos para a casa da Maria José, no Botafogo. O edifício é bem grande. A Maria José está numa grande expectativa pois o Edison deverá chegar de viagem no início do mês de fevereiro. A Patrícia está cantando várias músicas. O Newtinho está bem engraçadinho. A Cristiana bem gordinha e com saúde. A empregada ainda é a Neusa. A R. e eu fomos à praia de Copacabana. Muita gente. Assistimos ao filme Ben -Hur, uma história do tempo de Jesus. Saí muito satisfeito, um grande filme e uma aula de Evangelho. Visitamos também a Tia da R., Lourdes Mäder, o seu primo Cap Rubens e sua esposa Ângela cuja irmã R. é casada  com o Cap Paladino, técnico da turma do Cap Roehl. No dia 21, sábado voltamos para a Tijuca. O Padre José Maria foi nos buscar de Kombi. Antes me levou até o IME onde ia conseguir ver as provas, mas não consegui pois a comissão estava de férias. À tarde fomos até o Alto da Boa Vista e passeamos pela cidade. O Luiz e a Dinah também aproveitaram  e a Raymunda também. O Padre José Maria está para sair da Paróquia. Talvez seja Capelão Militar. No dia 22, domingo, fomos para Niterói. Chegamos bem tarde. Almoçamos. Todos bem. Maria Helena, Josué, Eliane, Ronaldo, Renatinho, Robertinho, Rosane e a empregada Dilma. Fomos à praia de Icaraí. Banho de mar. Jantar. Dormimos no quarto da Maria helena. No dia 23, segunda, Voltamos para a Tijuca. Não fomos à praia, pois mudou o tempo. No dia 24, terça, fomos a Marica com o Padre José Maria, Raymunda, mamãe e dois garotos. Boa viagem. Dirigi um pouco a Kombi. É fácil. Fizemos um piquenique em Marica. Passeio. Lagoa. Conserto na Kombi. Regresso por Magé. O José Maria arrisca muito. Ele conhece bem o Rio de Janeiro. Nos dias 25, 26, 27 e 28  muita chuva. No dia 29, domingo, ficamos na Tijuca todos esses dias devido às chuvas. Assistimos aos filmes: La Dolce Vita, Paixões Desenfreadas e Eu Pecador (Mojica). Nós nos estamos amando muito e o nosso relacionamento tende à perfeição. O tempo chuvoso nos obriga a ficar em casa. Visitamos a exposição da Indústria de Automóveis e Autopeças. Muito interessante. Também visitamos o Monumento ao Soldado Desconhecido.  No dia 30, segunda também ficamos em casa.

31/01/61 – terça – Fomos para Paquetá. Todos bem. O Francisco Antônio (Tuquinha), filho da minha prima Nair já está bem crescido. O Oscarzinho já está bem esperto. A Risoleta está a cozinhar. O Oscar aproveitando as férias. A Violeta, a Vera e a filha do Cel Paulo, Elaine  vão bem. A Margarida está gripada. O tempo continua chuvoso. Nós dormimos na casa do Dr Piedras marido da Nair. Casa muito bem construída e em estilo moderno.

FEVEREIRO – 1961

01/02/61 – quarta – Novo mês. Que Deus nos abençoe! Ainda em Paquetá. O tempo melhorou. Fomos à praia.

02/02/61 – quinta – Paquetá. Passeios de bicicleta. Fotos.

03/02/61 – sexta – Paquetá. Banhos de mar. Muito bom. Regresso ao Rio. O Edison chegou ontem com o navio aeródromo Minas Gerais. Fomos com o Luiz, a Diná e a mamãe visitá-lo. O Dt Djalma Landinho, presidente da Susan. Regresso.

04/02/61 – sábado – Apresentei-me no QG do Exército. À noite fomos a Copacabana com o Affonso. Tia Lourdes, Cap Rubens, Ângela e o Cap Machadinho. Passeio. Pizza. Discussão sobre o Lott.

05/02/61 – Domingo da Sexagésima – Fomos à missa do meio-dia. Parábola do semeador. Pão de Açúcar.

14/02/61 – terça – Dia chuvoso. Já estamos em Curitiba. Temos dormido na casa da rua do Rosário, 99. Pela manhã estudei inglês. O nosso regresso para Curitiba foi bom, graças a Deus! Saímos do Rio no dia 07, no último banco do ônibus da Viação Cometa. Em São Paulo estivemos com o Gilberto, Gilfredo, Lázaro, Maria Helena, Gildinha, Ricardo, Reinaldo e Renata. Fomos a Guarujá, onde encontramos a irmã da Suely com o sobrinho,  filho do Felippe e e da Suely, Rogério Felippe muito engraçadinho e gordinho. Depois chegou a Suely. Achei-a bonita. Fomos à praia. À noite chegou o Felippe.  Conversamos bastante. Jantamos. Ouvimos Vasco 2 x Real Madri 2. Cedeu-nos a cama do casal para dormimos. Achei muito bom morar lá, ao lado do mar. A R. também. O barulho das ondas não para. Já a Suely está enjoada e acha a casa muito grande. No dia seguinte, chuvoso, tiramos fotografias e fomos à praia. O Felippe foi para o quartel. À tarde regressamos à cidade de São Paulo, onde ficamos mais um dia (dia 9) onde fizemos compras e visitamos a tia Sara e a Elza. A tia Sara não estava. Assistimos ao cinerama, que achei interessante (Holiday). História de dois casais em lua-de-mel, um na Suíça e França e outro nos Estados Unidos. No sábado, dia 10, regressamos no avião DC-3 da Varig. Muito boa a viagem. Em Curitiba só de táxi gastamos Cr$600,00. Apartamento.

15/02/61 – quarta – Aniversário da Raymunda (49 anos). Passei um telegrama. Que ela seja muito feliz!

16/02/61 – quinta – Dormimos ainda na casa da rua do Rosário. Apresentei-me no QG. Chegaram a Dona Lycia, Luis Armando, Pedro Achilles, Beatris e Lúcia. Almoço. À tarde estudei e saí. Cortei o cabelo. Comprei um toca-discos por Cr$14.500,00. Catedral. Confessei-me. Jantar. Dormimos no nosso apartamento. Continuo amando muito a minha querida esposa.

26/02/61 – 2º Domingo da Quaresma – Acordei às 08:00. No quartel saiu o Major Félix e no lugar ficou o Tenente Mário. O nosso apartamento está muito bonito e arrumado. Dá gosto morar nele. Durante todos estes dias temos feito as refeições na casa dos pais da R. com exceção do café da manhã. Todos vão bem, graças a Deus! Recebi uma carta  do Sérgio Tavares e do Major Botto. Ainda não iniciei o estudo para um novo concurso ao IME. Espero iniciar no dia 1º de março. Hoje fomos à missa na igreja do Rosário, a missa dos universitários. No Evangelho foi narrada a Transfiguração do Senhor no monte Tabor. O Padre Doutor Gustavo falou-nos sobre a beleza da vida eterna. A R. e eu não acertamos quanto ao lugar na igreja. Ela quer sentar junto com os universitários e eu não. Almoço com a Dona Lycia, Dr Armando e Luis Armando. Depois fomos os dois para o nosso apartamento. Li Dale Carnegie e dormi. Ela leu um livro da biblioteca de Seleções. Chuva. Jantamos na casa dos pais dela. Triste por ter perdido um anel. Regressamos e continuamos a ler. Dormi às 22:00 e ela às 23:30.

27/02/61 – segunda – Acordei às 06:30. Dei um salto da cama. Exercício respiratório. Escrevi este diário. À tarde reiniciei os trabalhos no quartel.

28/02/61 – terça – Último dia de fevereiro. Mais um mês, graças a Deus!

 

 

 

 

MARÇO – 1961

01/03/61 – quarta – Novo mês. Novas esperanças. Iniciei o estudo para o concurso ao IME. À tarde fui ao quartel. À noite estudei.

02/03/61 – quinta – Pela manhã fui ao quartel. À tarde paguei as contas. À noite fui ao CMP mas não houve jogo. A R. e eu ficamos sentados ao lado da piscina. Em casa não estudei.

03/03/61 – sexta – Coloquei os plafoniers  e fiz outros serviços em casa. Não estudei. À tarde fui aao quartel. Basquete. Esqueci de ir à missa e comungar nesta primeira sexta-feira. Não temos rezado o terço.

04/03/61 – sábado – Quartel. A R. levantou-se para fazer o café para mim. Providências administrativas. À tarde fui ao CMP. Vontade de ir à piscina. Basquete. O Iacri e eu fomos juizes no jogo entre o QG e o 20RI. Depois joguei com os colegas da 5ª Cia Com contra o 20RI. Ganhamos. Muitos me perguntaram se iria continuar a jogar basquete e eu respondi que não pois tinha que estudar. Recebi uma carta do Sérgio em que me disse que eu  tirara 1,8 em Geometria, 2,8 em Álgebra e 8,6 em Línguas no último concurso. Também recebi uma carta da mamãe escrita pela Risoleta. “Está em Paquetá. O tio Adrião morreu no dia 09 de fevereiro de 1961. Deus lhe dê o céu! Sofreu muito mas teve a morte de um justo com todos os Sacramentos. A mamãe esteve no sítio e em Itacuruçá. O Padre José Maria já preparou os papéis para ser Capelão Militar, mas ainda vai ficar de dois a três meses em Manguinhos, na Paróquia de São Daniel.” Hoje o Luis Armando ficou conosco. Jantou e dormiu no apartamento. Lavamos os pratos. A R. fez um café reforçado. Ficou a ler no quarto. Atualizei este diário.

05/03/61 – 3º Domingo da Quaresma. Fomos à missa na igreja do Rosário. Desta vez conseguimos um lugar que contentou a nós dois. Antes ela queria ficar nos lugares reservados aos universitários e eu não queria. Ficávamos de lado e ela reclamava que não podia acompanhar no missal porque não via o celebrante. Em outro lugar porque não via o padre fazer o sermão. Hoje é o aniversário do Ruy.

08/03/61 – quarta- Nestes dias tenho estudado e ido ao quartel. A R. cozinha muito bem. Hoje cortei o cabelo. Ônibus cheios. Cheguei às 19:00 em casa e a R. não pôde ir mais ao cinema com os pais e ficou zangada. Preciso ser pontual mesmo não fazendo muita questão de deixar o nosso lar para ir a um cinema.

18/03/61 – sábado – Dia chuvoso. Fui ao Serviço Regional de Obras e ao 5º Regimento de Obuses 105. Vários oficiais conhecidos. Fui ao estande de tiro com o Major Delvaux passando pelo 5º Esquadrão de reconhecimento Mecanizado. Tenente Magno. São José dos Pinhais. Conversa sobre o Professor Noronha, Lúcio Costa, Brasília, Niemeyer e engenheiros. O ex-soldado Thomas era o motorista. Ontem fui ao quartel. Tudo bem. Toldos nos jipes. Deixei bilhetinhos para os auxiliares diretos. Dia chuvoso. Em casa tudo bem. A R. muito bonita e carinhosa fazendo do nosso lar um verdadeiro ninho de amor. O bebê é que parece não querer vir logo. Seja feita a vontade de Deus! Não tenho estudado direito ainda. No dia 16 passei o dia no estande de tiro trabalhando no teodolito Wild com o cabo Ozório e o Sgt Jó. No dia 15 foi o aniversário da 5ª Cia Com. Ajudei o Frei Silvestre na Santa Missa e comunguei pedindo a Deus que abençoasse o nosso Exército. Perdemos o futebol de salão para o CPOR e a Cia de QG. Fui o goleiro. À noite perdemos o basquete para o QG. O almoço foi um churrasco. Do dia 9 ao dia 15 tudo bem, cumprindo a missão de topógrafo no estande de tiro do Boqueirão. No quartel mandei fazer umas repartições para as ferramentas das viaturas. Tenho estudado pouco.

30/03/61 – Quinta-feira Santa – Li o livro Concepção Católica da Vida em que o autor acha que muito da desordem no mundo se deve à Reforma e defende a religião católica. Do dia 18 ao dia 30 continuei a minha missão no estande de tiro. Já nivelamos metade dos pontos e com mais um dia de trabalho espero terminar.  No dia 28 assumiu o comado o Capitão  Bruno Tancredo Porto que em outras palavras disse que considerará bastante o lado humano dos subordinados. O General Benjamin Rodrigues Galhardo, Comandante da 5ª Região Militar compareceu. Não tenho estudado muito pois aguardo o início das aulas particulares com o Major Botto. Com a graça de Deus todas as coisas têm saído bem. No lar estou muito feliz com a minha esposa. No quartel as missões que dou aos sargentos são bem cumpridas. Cada vez mais me ufano de ser brasileiro e católico. Sou feliz por já estar casado. Peço a Deus que me ilumine e guie durante o resto da minha vida.

ABRIL DE 1961

Neste mês iniciei definitivamente o estudo para o concurso ao IME, com a graça de Deus! No dia 8 a minha querida R. completou 19 anos de vida. Houve reunião familiar em nosso apartamento  tendo comparecido o Avô Claro, o Tio Nery, a Tioa Emy, o Pedro Celso coma Elyane, a Célia, o Dr Armando, a Dona Lycia, o Luís Armando, a Virgínia coma Betty, o Raul e as amigas da R.: Terezinha, Vânia e outras.

 

MAIO DE 1961

 No dia 13, sábado, recebi uma carta da mamãe com muitas notícias tristes: a tia Arthemira estyá doente, o meu primo Edgard está magro e cansado, o meu primo João Bosco, filho do Duca foi acidentado e a morte do Dr Serpa Lopes. A R. desabafou querendo ter logo um filho para ter uma companhia constante com ela já que eu não posso ficar mais tempo com ela. Recebemos uma notícia inesperada: Fui transferido para uma cidade de Mato Grosso chamada Aquidauana. Fomos ver no mapa onde era.

 

JUNHO de 1961

Completei 25 anos de vida, ¼ de século de vida. Graças a Deus! Sou feliz com a minha R. com a graça de Deus.

 

AGOSTO de 1961

Estamos em Aquidauana. Embarcamos no dia 2 no trem em Curitiba. Estavam na estação: a Dona Lycia, o Dr Armando, o Luis Armando, o Ruy Carlos, o Ruy e a Élia. Ficaram em casa: Dona Eulina, a Virginia e a Betty. No quartel, os colegas. Fizemos boa viagem. Ourinhos. Ônibus. Bauru. Um desconhecido prestativo. Hotel. CR. Trem. Susto na partida. Fui comprar uma crush e o trem começou a andar. Entrei no último vagão e a R. pensou que eu havia perdido o trem. Deixamos São Paulo e entramos em Mato Grosso. Campo Grande. Finalmente Aquidauana. Na estação o Tenente Lauro Dias Marques nos esperava e me deu os pêsames por ter sido transferido para lá. Foi muito prestativo conosco. O Cmt é o Tenente Marcello. O médico é o Tenente Lobato. Há um Tenente antigo chamado Marisco. Problemas. Sou o S!, S2, Ajudante, Secretário e encarregado do SFIDT por falta de oficiais.  Tenho estudado. A R. não gostou da cidade. Muito calor, muita poeira, vento, falta de coisas, custo de vida e água barrenta do rio Aquidauana que tem que ser fervida para poder ser bebida. Tudo é motivo para eu estudar!  Neste mês o russo Titov deu 25 voltas em torno da terra.  No dia 21 a mamãe completou 68 anos. No dia 25 o Presidente Jânio Quadros renunciou. Denys. Carlos Lacerda. Prontidão.

SETEMBRO de 1961

01/09/61 – sexta – Sobreaviso no quartel. A cadeia da legalidade a irradiar contra a não assunção do Jango, comandada pelo Leonel Brizola.  Machado Lopes é o General Comandante do III Exército rebelde. A R. dormiu com a Dona Rosalda esposa do Tenente Dentista Paim. Na lata de manteiga só foi por engano casca de limão. Estamos morando na casa do Comandante da 1ª Cia do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, provisoriamente. Almoçamos no Lord Hotel, do Seu Honorinho e Dona Loris.

02/09/61 – sábado – Acordei no quartel. O Tenente Lauro Dias Marques chegou ontem de Campo Grande. Eu sou o S1, S2 e Ajudante Secretário da Unidade. Tenho estudado para o concurso ao IME. Tenho gostado do quartel. Há muita coisa para se fazer. Ordem Unida. Reuniões. O Aspirante Waldir de Intendência foi promovido a 2º Tenente. A R. e eu fomos à cidade. Almoço. Compras. Nós nos amamos muito. Deus ainda não nos quis dar um filho. Seja feita a vontade Dele. O Tenente Lauro vai dormir no quartel. É um bom amigo. Agora posso dormir em casa com a minha R.. Continuamos a almoçar no Lord Hotel. A comida é muito boa e variada. Aos domingos vamos à missa na igreja Matriz às 17:30. Vamos de charrete e é um passeio. À noite tenho estudado. Tenho confiança nos céus de que passarei. No quartel tenho me saído bem nas missões. Tenho dado instruções quase todos os dias. Passaram em visita o Gen Emílio Garrastazu Médici e outro Coronéis, Tenente Coronéis e Capitães. Criticaram o quartel. A R. está sentindo umas dores esquisitas. Escrevi para a Dona Lycia achando que era o neném.

27/09/61 – quarta – Fomos ao médico. Remédios e exames.

28/09/61 – quinta – Ao chegar do quartel perguntei à R. sobre os resultados dos exames e ela me disse que no sangue não havia nada e que o outro de urina só no dia seguinte. Eu perguntei: “Mas você não me disse que não precisava mais ir ao médico?”. Então ela me confessou que estava esperando um neném! Fiquei muito contente. Graças aos céus! Vou ser papai e ela mamãe. Eu que pensei que não tinha capacidade. Falta-me confiança em Deus! Pedi a Deus para abençoar mais esta criatura!

30/09/61 – sábado – Terminou mais um mês. Comunguei pouco devido a dúvidas quanto a faltas cometidas. Continuo mirando o céu como última morada junto a Deus. O amor para coma minha R. está se tornando mais espiritual e verdadeiro. Recebi uma carta da mamãe, datada de 12/09/61, em que dizia:”Para sempre seja louvado N.Senhor Jesus Cristo! Estive em Guarujá durante 10 dias e no aniversário do Rogerinho. Gostei muito e passei 4 dias em São Paulo com o Gilberto. Estou me tratando no Hospital Central do Exército e me dando bem. Hoje a Arthemira veio para cá. Cedi o meu quarto para ela e quem vai cuidar dela é a Inês, sua nora e esposa do filho Orlando. Depois de 1 mês ela vai para a casa da filha Nair. Ela está passando bem mas não fala e nem se movimenta. O filho Edgard tem muita esperança em Deus e em Nossa Senhora de Lourdes. O Padre José Maria vez por outra aparece aqui, estando bem de saúde e trabalhando no Jardim América para transformar a Capelinha de madeira em Paróquia. Eu aluguei a nossa casa de Marica, por Cr$2.000,00 por mês. A Anna Maria espera um bebê para janeiro. O Affonso ficou noivo e a noiva é filha do Coronel Boiteux e é muito boazinha. O Edison e família mandam lembranças. A Risoleta está cansada. O Oscar está na Fábrica de Bonsucesso. O Orlando está no apartamento da Arthemira. Escreva para o Padre Augusto. Rezo para que seja feliz nos exames. Beijos e abraços de sua mãe Umbelina.”

 

OUTUBRO de 1961

A R. foi para Curitiba. Que saudades! Não posso viver sem ela. Estudei para o concurso. Escrevi e recebi cartas. Todos bem. Tia Arthemira na mesma. Consegui rezar o terço todos os dias. Ainda estou na casa do ex-Comandante.

 

NOVEMBRO de 1961

Mudei-me para outra casa. Tenho recebido cartas da R. e da mamãe. No quartel fomos visitados pelo Cmt do II Éxército, General Nelson de Mello, pelo Cmt da 9ª RM, pelo Cmt da 4º Divisão de Cavalaria e outros. Tenho estudado para o concurso. Vou transcrever uma carta que escrevi para a mamãe, no dia 29 de novembro de 1961 “Minha querida mamãe,- Para sempre seja Ele louvado! – Como me pediu, apresso-me em responder-lhe a carta de 22 deste, aproveitando uma hora em que o sono não me deixa estudar, mas me permite escrever duas cartas, uma  para a senhora e outra para a minha querida Regina. Ela está em Curitiba muito bem, graças a Deus, e com muitas saudades; pretende ir para São Paulo no dia 12 de dezembro com a D. Lycia e de lá vir até Aquidauana, onde junto com o Dr. Armando e o filho Luis Armando, que chegarão nas vésperas, passaremos o Natal, todos juntos. A senhora não quer também vir depois  até Aquidauana? Olhe, eu deverei estar em São Paulo no dia 8 de dezembro e lá nós combinaremos. A Regina em Curitiba assistiu ao filme nacional – A Primeira Missa -  que é sobre a vida de um seminarista pobre que consegue ser padre. Ela me escreveu dizendo que gostou muito e que também quer ter um filho sacerdote... Deus é quem sabe... espero saber educar tão bem como a senhora... A solução que o Josué deu para o caso do apartamento foi boa... primeiro os parentes. Continuo estudando bem para o concurso que se aproxima. Tenho confiança em Deus, nas orações de todos e um pouquinho em mim... agora depende da prova... Este ano estou melhor preparado que no ano passado: tenho tudo para passar, mas se Deus não o permitir, seja feita a vontade d’Ele, e no ano que vem, tentarei  diretamente para o 1º ano, fazendo somente em duas matérias...Por aqui, tudo muito parecido com o Rio: calor, mosquitos. Água não falta, mas vem barrenta. A comida no hotel é muito boa e os donos de mesmo, muito gentis. A novena da Imaculada Conceição, iniciou-se com grande assistência. É a Padroeira da cidade. Há um costume de ficar uma imagem de Nossa Senhora, cada dia na casa de um católico. Aliás, lá em Curitiba, também havia esse costume. Só aí no Rio é que não.  Agradeço os parabéns da Raymunda. Desejo muitas felicidades para ela, e peço as orações dela para que eu me saia bem nas provas. Envio um abraço para o Dr. Edgard, de apoio moral, nesta fase em que a querida tia Artemira está tão doente... Peço a Deus que melhore. Lembrança a todos os parentes. À Anna desejo muitas felicidades em janeiro, e à mamãe Célia, os parabéns.  Que todos estejam e permaneçam felizes, na graça de Deus! Para a senhora um beijo afetuoso do _ Trio de Amor :  Regina – netinho (a) – Felinto “

 

DEZEMBRO de 1961

Saudades da R.. Estudo para o concurso. Fui para São Paulo em avião da Cruzeiro do Sul. Boa viagem, graças a Deus! Fiquei no quartel da 7ª Cia de Guardas onde encontrei o Lopes e o Bozon. Estudo. A R., a Dona Lycia e o Luis Armando chegaram de Curitiba. Em São Paulo revi o Gilberto, a Maria Helena, a Gilda, o Ricardo, a Renata e o Reinaldo. A mamãe veio do Rio com a Eliane. Graças a Deus, todos bem. A Tia Arthemira continua na mesma.

12/12/61 – terça – Prova de Línguas. Em Inglês fui muito bem e em Francês cometi uns 7 erros (couchant em joue = apontando).

15/12/61 – sexta – Álgebra. Faltou tempo. Saí-me razoavelmente, graças a Deus. Espero uns 4,75.

O Dr. Armando teve um “amolecimento”. A Dona Lycia e o Luis armando foram de avião para Curitiba. Que Deus lhe devolva a saúde. A R. resolveu voltar comigo para Aquidauana.

19/12/61 – terça – Prova de Geometria Complementar. Prova diferente. Todos achando que saíram mal. Espero uns 3 e pouco.

Regresso a Aquidauana. Ônibus até Bauru. Hotel. Trem. Aquidauana. Calor. Na expectativa do resultado do concurso.

Natal de 1961 – A R. e eu fizemos o nosso Natal. Ela armou e enfeitou uma árvore de Natal e fez dois enfeites natalinos. Compramos uma garrafa de champagne. Dormimos cedo pois o sono veio logo.

 

ANO DE 1962

JANEIRO DE 1962

01/01/62 – segunda – Iniciamos o ano juntos, a R. e eu. Ela comprou uma champagne e nós brindamos sozinhos. Desta vez conseguimos ficar acordados até meia-noite. Estamos em Aquidauana. A R. sente o calor e a solidão. Temos ido à missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, todos os domingos. Às vezes comungamos. Sinto-me muito feliz, graças a Deus! Estou na expectativa do resultado do concurso. Acho que passei.

08/01/62 – segunda – Aniversário de noivado, 1 ano e 9 meses.

10/01/62 – quarta – 1º aniversário de casamento. Graças a Deus! Que o Senhor nos abençoe e nos dê a graça santificante. Agradeço-lhe ter-me dado tão carinhosa esposa.

18/01/62 – quinta – Soube que não havia passado no concurso. Senti uma grande decepção mas seja feita a vontade de Deus! Faz muito calor. Às vezes chove e venta. Pedi revisão da prova mas não me concederam dizendo que se basearam em casos idênticos que o Sr. Ministro despachara.. A R. ficou triste de eu não ter passado, mas se conformou. Quer que eu vá para o Rio tirar um curso. Ela está esperando neném desde agosto. Se for homem quer dar o nome de Guilherme e se for mulher, Dayse. Acho a minha esposa muito bonita. Agradeço a Deus ter-me dado esta companheira. Peço-lhe que nos abençoe por toda a vida.

FEVEREIRO DE 1962

Mais um mês que se inicia. A R. sente a solidão e o calor.

17/02/62 – Chegaram no mesmo trem: o Dr. Armando, a Dona Lycia, o Luís Armando, o Capitão Lybio King, a Dona Cleusa, a Cleusa Maria, o Ney César, o Nestor e a criada Tereza. Muita chuva. O SR. Honório Simões Pires muito nos ajudou. O Dr. Armando sente uma das pernas. Todos felizes juntos outra vez. A R. e a Dona Lycia juntas muito trabalhavam. Vi que o que faltava para a R. era uma companheira. Tiramos fotos. Fomos à missa. O Luís Armando gostou da charrete e do trem. Fomos ao cinema. Fizemos as refeições no Lord Hotel. Após uma semana foram embora a Dona Lycia e o Dr Armando. O Luís Armando ficou para ir com a R.. Parece que está gostando.

MARÇO DE 1962

Passou o Carnaval e nós em casa. Bem que uma moça amiga nossa chamada Marli brincava com o Luís Armando para ele ir ao baile com ela. Em casa dormíamos cedo. Para mim valia muito mais estar com a minha querida esposa. Infelizmente depois do Carnaval, ela e o Luís Armando foram embora de avião. Tiveram que esperar um dia na cidade de Campo Grande. Em São Paulo tiveram que desistir de ir de ônibus. Foram de avião para Curitiba.

25/03/62 – domingo – Aniversário do 9º Grupo de Canhões 75 Auto Rebocados  da vizinha cidade de Nioaque. Fomos ontem a Nioaque: Tenente Lauro, Tenente Waldyr, Tenente Dias e eu. O Capitão King chegou depois com a família. Fiquei em 9º lugar no tiro com 98 pontos. O 1º colocado fez 126 pontos. Vencemos no basquete por 33x31. Cansei no 2º tempo. Todos felizes com os resultados. A Marli foi a madrinha do time. Voltamos de jipe.Cheguei às 18:00 em Aquidauana e não pude assistir à missa.

26/03/62 – segunda – Recebi uma carta da R.. Está em Curitiba. Muitas saudades!

27/03/62 – terça – Não tem quase chovido em Curitiba. Os dias têm sido ensolarados. Continuo fazendo as refeições no Lord Hotel, indo a pé por economia. Tenho dado Educação Cívica para os alunos e alunas  do Ginásio Paroquial Imaculada Conceição. Também Educação Física às terças, quintas e sextas.  Senti dificuldade em dar educação física para as moças, mas tudo foi bem. No quartel tudo em progresso. Escrevi cartas para a R. e para o Sérgio. Não tenho estudado.

28/03/62 – quarta – Despedida do Tenente Lauro Marques. Churrasco. O Tenente Marcelo faltou. Um indivíduo foi ao quartel e contou muita coisa sobre a sociedade local. Em casa reli este diário. Tenho que reiniciar o estudo com a graça de Deus!

ABRIL DE 1962

Mais um mês que se inicia e eu longe da R..

08/04/62 – domingo – Aniversário da R.. Levantei-me às 08:00. Escrevi uma carta para o Sérgio e iniciei uma outra para a R.. Ontem no Torneio Início de Futebol de Salão, no quartel, o Vilagran foi o campeão e eu fiz dois gols. Tenho dado educação física e cívica para os alunos e alunas do Ginásio Imaculada Conceição. No quartel tenho desempenhado as funções de S1, S2, S3, Ajudante-Secretário, Oficial de Educação Física, Oficial de Tiro e deverei receber as viaturas. O Capitão Lybio King é de boa vontade e está resolvendo os problemas. O calor na cidade de Aquidauana é forte e não tem chovido. Não tenho recebido notícias da mamãe. A R. tem enviado cartas. Está com muitas saudades. Tem sentido as dores da gravidez.

22/04/62 – Domingo de Páscoa – Continuo longe da R.. Na sexta-feira santa acompanhei a Procissão do Senhor Morto. Ontem recebi uma carta da R. em que ela me pede para ir com urgência para Curitiba mas no quartel eu tenho compromissos. Tentarei ir no próximo dia 25. Ela me enviou umas fotografias dela, do Luis Armando e da Betinha. O avô Manoel Claro Alves está muito mal. Eu não tenho me dedicado ao estudo quanto desejo devido as atividades extras. Mas quando começar com vontade o estudo espero ir, não, irei até o fim sem parar! Tenho que me formar engenheiro, se Deus quiser!

25/04/62 – quarta – Partida para Curitiba. Na estação ferroviária estavam o Cap King, o sargento Marino e soldados. Na cabine do trem foi comigo a mocinha Terezinha Souza a pedido do Cap King. Passamos por Campo Grande. Dormimos.

26/04/62 – quinta - Chegamos em Araçatuba às 13:00. Almoçamos. Ãs 19:20 tomamos o ônibus FNM, carroceria Caio para São Paulo. Boa viagem.

27/04/62 – sexta – Chegamos em São Paulo às 05:30. Resolvi ir logo para Curitiba. Estrada com defeitos. Chegamos enfim a Curitiba. Frio. Táxi. Entrei pela cozinha. Uma nova empregada, Dona Maria foi chamar a R.. Enfim apareceu a minha querida esposa. Está esperando neném mas sempre a acho muito bonita. Como é  bom o reencontro com a pessoa amada! Todos bem mas o avô Claro está doente  e o pai Armando bem melhor e trabalhando.

28/04/62 – sábado – Fui me apresentar no Quartel General e depois fui ao médico com a R.. Assistimos televisão.

29/04/62 – domingo – Fomos à missa. No sermão o padre disse que devemos viver segundo a fé. Não temos necessidade de evidência que um São Tomé racionalista exigiu do Senhor. Almoço. Casa dos avós. Conversa sobre vários assuntos. Álbum da família.

30/04/62 – segunda – Acordei às 09:00. Café. Ginástica. Banho. Almoço. Fui ao Estabelecimento Regional de Subsistência com a Dona Lycia e a R.. Encontrei generais já na reserva. Encontramos a tia Anneci, o seu filho Renato com a esposa Consuelo. Coloquei cartas no correio para a Maria José e o Sérgio. Lanche na Confeitaria Iguaçu com a R.. Às 20:00 fomos assistir ao filme Spartacus no novo cine Marabá. História de um escravo que se revoltou  mas no final morreu em uma cruz na Via Appia. O Luis Armando foi conosco.

MAIO DE 1962

01/05/62 – terça – Dia do Trabalho – Mudei a fita da máquina de escrever do Dr. Armando. Dia chuvoso. Continuo  em Curitiba, junto do meu Bem, aguardando o nascimento de nosso primeiro filho. Peço a Deus que nasça com saúde e perfeito. Confessamo-nos no Catedral.

02/05/62 – quarta – Acordei às 08:00. Estudei. À tarde demos uma saída. Relógio no relojoeiro. Televisão.

03/05/62 – quinta – Acordei às 08:00. Levantamos às 09:00. Estudei Eletricidade. À tarde houve trote de calouros. Fomos ao dentista que é o Tio da R., Nery Simas Alves. Graça a Deus não tenho cáries. Comprei um livro: “Aspectos psico-biológicos do Matrimônio” de P.P. Paes de Carvalho, pela metade do preço. À noite vimos televisão. O Dr. Armando foi jantar fora. Fomos dormir como sempre no escritório dele, no sofá-cama. O frio ajuda a dormir.

04/05/62 – sexta – Acordei às 08:15. Café. A R. ficou triste quando eu disse que teria que voltar para Aquidauana no dia 22. 

05/05/62 – sábado – Tenho estudado um pouco de Eletricidade ( Intensidade do campo magnético). Tenho assistido à Televisão.

06/05/62 – domingo – Domingo do Bom Pastor – Fomos à missa na Igreja do Rosário. O Padre Doutor Gustavo Pereira falou sobre a necessidade de um catolicismo ativo e sincero. Tomamos vinho ao almoço. Dormimos um pouco. Depois fomos à casa dos avós. Lá estavam: avô Manoel Claro, avó Élia, tia Lourdes, tia Emy, tia Anneci, a Lúcia, tio Nery, Dr. Armando, Dª Lycia e o Luis Armando. O Brasil jogava com Portugal no Pacaembu e venceu por 2x1. O avô Claro ainda está com vestígios da doença. Depois chegou o tio Ernani com os remédios.  Regresso. TV. Dormir.

07/05/62 – segunda – Escrevi uma carta para o Capitão King, meu comandante em Aquidauana. A R. insistiu para que eu pedisse mais 8 dias para desconto nas férias. Ela tem comprado coisas para mim. Está esperando o bebê para esses dias. Sente-se bem, só que o andar é um pouco diferente devido ao peso. No humor nem parece que vai ser mãe: sempre alegre, jovial e bem disposta, e cada vez mais bonita. Amo-a muito! A televisão está apresentando um defeito, acho que é devido à antena. Fui na Biblioteca Pública e consultei sobre as antenas Yagi. Penso em subir no telhado para tentar melhorar. Estudei.

08/05/62 – terça – Estudei. Estou gostando da matéria: Campo elétrico produzido por um condutor e uma coroa. Subi no telhado e com a ajuda da R. e do Luis armando melhorei a recepção da TV graças a Deus! Fomos fazer compras na cidade. A R. me deu um par de sapatos como presente do próximo aniversário. À noite vimos TV. Rubens Requião x Lopes Munhoz sobre Ney Braga e Moisés Lupion, até 01:05.

09/05/62 – quarta – Estudei Lei de Gauss e linhas de força. A R. foi visitar a amiga Terezinha, esposa do Cap Camargo. À noite assisti ao filme “A Família Trapp”. História de uma moça de convento que foi designada para ser ama na casa de um capitão reformado da Marinha com sete filhos. Ela encontra um ambiente de quartel. Aos poucos transforma tudo e ensina os meninos a cantar. Casa-se com o pai dos meninos. Acaba o dinheiro. A casa vira hotel. O coral cria fama. Vem a anexação da Áustria à Alemanha e eles fogem para os Estados Unidos onde a custo conseguem entrar e obtêm sucesso. Gostei da ingenuidade e confiança em deus que a moça demonstrou. “Sempre que Deus fecha uma porta, abre uma janela”. O Brasil jogou com Portugal e venceu na 2ª etapa por 1x0, gol de Pelé mas eu não vi o jogo preferindo ficar com a R..

10/05/62 – quinta – 1 ano e 4 meses de casados. Sinto-me muito agradecido a Deus pela esposa que me deu. Que possamos comemorar sempre juntos muitos aniversários de casamento! Que a sagrada família e Santa Terezinha derramem bastante graças sobre a nossa família que em breve se tornará composta de três: ela, o nenê e eu. Estudei Eletricidade.

11/05/62 – sexta – Recebi livros, polígrafos e provas enviados pelo Sérgio. É muita boa vontade da parte dele. Deu-me um livro, um polígrafo e emprestou-me um outro livro.

12/05/62 – sábado – Saí com a R.. Comprei um livro de Termodinâmica. Visita de um Doutor lá do Norte. No futebol Brasil 3 x País de Gales 1.

13/05/63 – domingo – Dia da Mães – Demos um guarda-chuva para a Dona Lycia. O Luis Armando deu uma estola. Na missa das 11:00 o Pe. Dr. Gustavo falou sobre as belezas de uma mãe. Fomos à casa dos avós. O avô Claro estava passando mal. Fiquei conversando com a R. e o Luis Armando. Ao chegarmos em casa a Da. Lycias disse-nos que a mamãe havia telefonado dizendo que não vinha a Curitiba devido ao frio mas queria que eu fosse ao Rio pois desejava muito falar comigo.

14/05/62 – segunda – O neném ainda não nasceu. Tenho estudado Eletricidade. Potencial e energia potencial.

15/05/62 – terça – Temos acordado às 09:00. A R. já arrumou o berço tenho colocado uma boneca deitada. O carrinho ficou muito bonito que, aliás, foi o mesmo que ela usou quando criança. Ela foi visitar com a Da. Lycia a Maternidade do Hospital das Clínicas. Tenho estudado Diferença de potencial. Eu não me sinto muito bem no frio. Fico com o nariz entupido e ruim da garganta. Temos visto à noite bons programas na televisão.

16/05/62 – quarta – Estudei Potencial e Distribuição de Carga. À noite fomos ao cinema. Os pais da R. foram ver outro filme. A R., o Luis Armando e eu fomos ver “O s jovens anos de uma rainha”com a artista Romi Schneider, no Cine Arlequim. História da mocidade da Rainha Vitória, da Inglaterra.

17/05/62 – quinta – Nascimento da nossa primeira filha: Dayse! Às 06:00 a R. acordou-me. Parecia que havia rompido a bolsa. Vestimo-nos. Tomei o café meio apressado. Chamamos um táxi e fomos para o Hospital das Clínicas a Dona Lycia, a R. e eu. Maternidade nova. Apartamento 516. Chegamos às 07:30. As contrações haviam começado. Tomei nota a partir das 09:47. A R. aplicou o que aprendeu nas aulas de parto sem dor. Respiração e Rema-Rema. A última contração que anotei foi às 15:14 e durou três minutos. Depois o Dr Jaime Guelman resolveu levá-la para a sala de parto. Beijei a R. e lhe desejei felicidades. A sala de parto é bem moderna. Duas Irmãs de Caridade atendiam e uma também se chamava R.. Às 16:15 nascia uma menina pesando 3,60kg. Morena de cabelos pretos. O Dr Armando também havia chegado. Recebi os cumprimentos de papai. Agradeci a Deus e à Santa Terezinha ter tido uma filha. Peço a Maria Santíssima que cubra a Dayse com o seu manto e a proteja do mal. A Dona Lycia e eu ficamos com a R. que estava deitada. Eu fui depois para casa de onde telefonei para o Rio falando com a Eliane que me perguntou pela R. e pelo neném. Falei depois com a Maria Helena que ficou contente com o nascimento de mais uma sobrinha. A mamãe não estava, ela chegaria na terça-feira e telefonaria no domingo à noite. Toda contente ela me disse que transmitiria a todos a boa notícia. Jantei e saí com o Dr Armando. Levei as notícias aos jornais: Diário do Paraná e o Estado do Paraná. Comprei bombons para a R.. Voltei. Telefonei para ela dizendo as notícias esquecendo-me de dizer que enviara um telegrama para o Cap King. Fui dormir depois de assistir pela televisão o But Masterson.

18/05/62 – sexta – Acordei às 08:00. Fui comprar um buquê de flores para a R. e cortei o cabelo. Fui buscar o relógio de parede. Almocei e fui para a Maternidade com o Dr Armando de ônibus. Lá estavam o tio Arildo e a tia Lourdes. Conversamos. Chegou o Dr Guelmann que falou sobre o parto. O neném veio tomar leite. Fiquei para dormir. O neném tem mamado de três em três horas das 06:00 às 22:00. Dizem que tem a boca da mãe, o nariz da Dona Lycia e o resto do pai. A Dona Lycia e a R. fizeram um enxoval de princesa. Acho a nossa primeira filha muito engraçadinha.

19/05/62 – sábado – Acordei às 04:00 e às 06:00. Tenho lido o livro em inglês The Adventures of Huckleberry Finn de Mark Twain’s simplified and adapted by Robert J. Dixson. A R. vai melhorando bem. Quando a Dayse chupa o leite ela me diz que dói bastante e sente cólicas. A Dayse logo de início aprendeu a pegar o bico do seio. A R. dá um de cada vez. A Dayse parece ser bem quietinha. Não dá muito trabalho. Já obrou o mecônio e agora está saindo mais amarelo. Depois da mamada ela vai para o berçário onde fica aos cuidados de uma enfermeira. Há mais um menino e uma menina lá. O menino é o mais chorão. Hoje a Consuelo  esposa do primo Renato veio visitar e trouxe uma toquinha. Mais tarde vieram a tia Lourdes e a prima Lúcia. O Dr Armando, a Dona Lycia e o Luis Armando também apareceram. O Luis Armando, titio, deu uma medalha de ouro com o Anjo da Guarda. Assisti da janela à abertura dos XIII Jogos Universitários Paranaenses. Em um dado momento o orador falou: o Major, digo, o Coronel, digo, o General Ney Amintas de Barros dará início aos 800 metros. Hoje faltou luz devido à falta de chuvas nestes dias. Um padre de São Camilo de Lelis veio nos visitar. Cofessei-me com ele. A R. não gostou porque saiu errado no jornal a data e o nome dela. Ela me acha comodista em tudo.

20/05/62 – domingo – Às 06:30 faltou luz. Um padre trouxe a comunhão para a R.. Levantei-me, fiz ginástica e tomei banho. Fui à missa na igreja do Rosário com a Dona Lycia e o Luis Armando. O Pe. Dr. Gustavo Pereira falou sobre a greve sob o ponto de vista moral católico. Os quatro motivos que dão justificativa a uma greve são: 1) causa justa 2) as vantagens compensam os prejuízos 3) o último remédio 4) há possibilidade de êxito. Os piquetes são moralmente aceitos sem sangue nem violência. A sabotagem sempre proibida. Após a missa falei com o Padre Gustavo que me reconheceu e me disse que a missa das onze é a minha missa e ele é o meu padre. Pedi-lhe que fosse ver o avô Claro e combinamos para amanhã. Almoço. Fui ao correio. Comprei doces para a R.. Maternidade. Visitas: tio Nery, tia Emy, a Eliane, a Célia, tio Ernani, tia Nini, a Sara, a tia Anecy, o Renato, a Beatriz, a Lúcia e o Pedro. Conversei sobre os problemas sociais com o Dr Ernani, sobre a Maternidade com o tio Nery, sobre a indústria com o Renato e sobre indústria e futebol com o Pedro. Todos acharam a Dayse bonita.Voltei para casa de ônibus com o Dr Armando e o Luiz Armando. Jantamos e vimos TV. A mamãe telefonou do Rio dizendo que vem de ônibus na terça-feira com a Dinah. Todos lá vão bem com exceção da tia Arthemira. A R. ligou e lhe dei as notícias. Na TV a Miss Paraná tocou piano e cantou. Red Skelton Show. Estávamos assistindo: o Dr Armando, do Luis Armando, Dona Lina e eu. Fui dormir às 22:20.

21/05/62 – segunda – Saí com o Dr Armando. Registrei a Dayse. Talão nº 82. Pág 108. Registro Civil. Estado do Paraná. Distrito de Curitiba. 5ª Zona. Bacharel Jurandir de Azevedo e Silva. Nascimento nº 1158. Certifico que às fls 131 do livro nº 25 de Registro de Nascimentos foi lavrado hoje o assento de “DAYSE TRAMUJAS VASCONCELLOS” nascida aos dezessete de maio de 1962 (mil novecentos e sessenta e dois) às dezesseis horas e quinze minutos em A Maternidade do Hospital das Clínicas, nesta cidade, do sexo feminino, de cor branca, filha legítima de Felinto Paulo de Oliveira Vasconcellos e de sua mulher dona R. Maria Tramujas Vasconcellos, esta natural deste Estado e aquele do Estado da Guanabara, casados nesta Cidade e residentes em Aquidauana, Estado do Mato Grosso, Avós paternos: José Assis Vasconcellos e dona Umbellina de Oliveira Vasconcellos. Avós maternos: Armando da Cunha Tramujas e dona Lycia Alves Tramujas. Foi declarante: o Pai. Serviram de testemunhas Armando Tramujas e Joel da Costa penter. O referido é verdade e dou fé. Curitiba, 21 de maio de 1962. Assinado: Jurandir de Azevedo Silva, Oficial do Registro Civil. Foram tiradas mais duas cópias, Cr$580,00, pagos pelo Dr Armando. Fui depois à fábrica de malas Ika, onde me deram uma nova alça para mala só que o couro era preto. Fui à Maternidade levar um remédio para a R. para o leite sair mais (Cr$800,00). Voltei com o Dr Armando de táxi (Cr$90,00). À tarde limpei um rádio Philips muito bom, do Dr Armando. A Dona Lycia, a tia Eleonora, a Élia e a Verinha trouxeram de carro a R. com a Dayse. Chovera mas logo voltou o sol. A Dayse estava chorando. Foi para o andar de cima da casa e ficou na cama da Dona Lycia. Levei o carrinho lá para cima. Fui levar o Padre Doutor Gustavo Pereira para ver o avô da R., Manoel Claro Alves, graças a Deus! Tudo correu bem. Conversaram bastante sendo o Monsenhor Celso e a mãe dele Dona Paulina Carolina Alves o meio para iniciar a conversa. O ponto em que o avô crê piamente é na reencarnação. Em dado momento o avô declarou que deveria ser muito católico. Saímos convencidos de que a graça de Deus pode resolver este caso. O Pedro casado com a prima da R., Beatriz  que chegaram há pouco da lua-de-mel levou-nos para casa. Em casa soube que um quadro caíra da parede e quebrara vasos e copos da Dona Lycia. Disse que iria escrever para mais tarde contar para a Dayse. À noite assisti à Interpol na TV e levei uma cama para cima. Durante a noite a Dayse chorou muito tendo a Dona Lycia se levantado muitas vezes. Eu só acordava mas como não era solicitado continuava a dormir. Estou muito contente em ser pai e acho a nossa filha muito bonita. Que Deus a abençoe! A.M.D.G.

22/05/62 – terça – Era para eu ir embora hoje pelos meus cálculos anteriores, mas como a mamãe me telefonou dizendo que chegaria hoje, resolvi só chegar em Aquidauana na 2ª feira. A R. fica triste quando eu falo que está para eu ir embora. À noite fiquei desde as 21:00 na Estação Rodoviária esperando pela mamãe e a Dináh. Fui até o Diário do Paraná mas já estava fechado. Às 23:45 resolvi perguntar se o ônibus estava atrasado. Disseram-me que já havia chegado. Fui a pé para casa. Já ia dormir quando o telefone tocou: era a mamãe... o ônibus chegou logo que eu saí. Disse-lhe que pegasse um táxi. Logo depois chegaram ela e a Dináh. Cumprimentos. Dr Armando, Dona Lycia e eu. Logo fomos dormir. Sou grato a Deus por ter podido ver mais uma vez a minha querida mamãe! A Dayse chorou um pouco durante a noite. A Dona Lycia tem agido como uma verdadeira mãe. A minha R. tem aproveitado para se recuperar.

23/05/62 – quarta – A mamãe e a Dináh foram à missa na Igreja da Ordem. Conversei com a mamãe perguntando sobre todos. O Padre José Maria vai bem. Receberá uma nova Paróquia para resolver os problemas, pois certas presidentes de congregações querem mandar mais que o Pároco. Quase que ele vinha também a Curitiba. O Felippe e a Suely vão bem, compraram uma televisão. O Felippe é o primeiro aluno no Curso sobre Automóveis. Anda lidando com o carro do Luiz. Parece que quer ir para Brasília. O Rogério Felipe vai bem. O Luiz vai bem no emprego. Talvez passe a ganhar muito mais. Os filhos estão sendo criados em Itacuruçá. A Maria Helena e o Josué Esperam ter novo filho em junho. Quer vender o “estufa” e está comprando um apartamento para fins lucrativos. O Josué é sócio de um clube na Barra da Tijuca.  O Ronaldinho joga muito futebol e é muito compenetrado nos estudos. A Raymunda gosta muito dos afilhados e vai bem, sempre esperando poder ajudar o José Maria. O Frank e a Heloísa vão bem. Comprou um apartamento em Ipanema e o Frank fez uma operação. O Frankinho está alto. A R. Helena quer ser freira. O Oscar e a Risoleta vão bem e estão muito absorvidos pela netinha Cláudia. Enviaram Cr$1.000,00. Aliás a Dináh também havia dado Cr$1.000,00. O Affonso vai casar em dezembro com uma moça chamada Marisia, irmã do meu colega da AMAN, Nilmar Reis Boiteux. A Margarida já é professora e não pretende se casar. A Dada (Violeta) e a Vera já têm pretendentes mas só querem os bonitos. Estão aprendendo a dirigir. A Anna e o Hélcio vão bem. Está morando com a sogra. A filha Cláudia é muito bonita e engraçadinha e se parece com a mãe do Hélcio. Enfim, todos bem. Até a tia Arthemira ri e dá gargalhadas apesar de não poder falar e continuar doente.

24/05/62 – quinta – Batismo da Dayse. Mamãe, Dináh, R., Dayse e eu fomos à Maternidade onde a Irmã R., a enfermeira Elza e o Dr. Antunes cuidaram da Dayse. Ela vai indo bem dentro do normal, pesando 3.270 gramas. Ãs 17:00 mais ou menos a Dayse já estava batisada. Ãs 16:00 os padrinhos Pedro Achilles e Beatriz levaram-na para a Catedral. Compareceram a mamãe, a Dináh, a tia Lourdes, a tia Eleonora, o Dr Armando, a Dona Lycia e a Élia. Fui chamar o Padre Rafael Rodrigues SSCC. A Dayse estava chorando muito mas depois que foi batizada deixou de chorar. O Padre Rafael deu os parabéns a todos e desejou muitas felicidades para a Dayse. Finalmente deu-lhe uma benção, fazendo o sinal da cruz na testa dela. Em seguida a mamãe a levou no colo até o altar principal onde o Padre Rafael presidiu a Consagração a Nossa Senhora feita pela mamãe que foi portanto a sua madrinha de consagração. Disse para a mamãe que esperava que ela rezasse muito pela Dayse quando lá no céu. Convidei o Padre Rafael para ir tirar umas fotografias na casa dos avós da Dayse. Fomos todos e tiramos três fotografias. O Padre Rafael não ficou para o lanche porque ia celebrar uma missa. Houve um lanche depois. À noite dormimos cedo e a Dayse chorou menos, só acordando às 03:00.

25/05/62 – sexta – Pela manhã conversei bastante com a mamãe e a Dináh. À tarde mais um pouco. Fomos mamãe, Dináh, R. e eu à Confeitaria Iguassu onde tomamos chocolate e comemos tortas. À noite televisão e conversa. O Dr Armando disse-me que um tal de Blaschi havia pedido ao Comandante da 5ª Região Militar uma Declaração de que eu estava servindo em Aquidauana para não devolver a casa dos fundos alugada. O Dr Armando ficou bem aborrecido mas ia conseguir uma outra declaração de que a minha permanência em Aquidauana não era definitiva. Fomos dormir cedo.

26/05/62 – sábado – Acordei às 07:00. Café. Despedidas. Levei a mamãe e a Dináh à Estação Rodoviária. Visitaram a Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, pois a igreja ainda está em construção. Finalmente pela Cometa foram para São Paulo. O Dr Armando compareceu à despedida. Agora dirigirei todos os carinhos para a minha R.. Recebi um telegrama do Joélcio me felicitando pelo nascimento da Dayse: “Aceite sinceros parabéns pelo nascimento da Dayse. Alegrou-me bastante. Felicidades toda família. Joélcio.”

27/05/62 – domingo – Missa da 11:00. O Padre Gustavo repeliu a acusação de que seja comunista ou inocente útil. À tarde recebemos a visita da Nilzamira e do Raul (Negro) e da filha Arai.

28/05/62 – segunda – Recebi um telegrama da Sérgio:”Parabéns feliz evento nascimento Dayse. Henrique Tavares”.

29/05/62 – terça – Dormi mal. Gemada. À tarde saímos a R. e eu. F-r-i-o.

30/05/62 – quarta – Telefonei para a 5ª Cia Com. Atendeu o Sargento Ramos. Tudo bem. As viaturas estão do mesmo jeito. Tenho conversado com a minha querida filhinha mas ela não entende...

31/05/62 – quinta – Último dia de férias. A Dona Lycia me deu uma calça de nycron que não amarrota. A minha R. está triste porque vou embora. É a vida, o que posso fazer? Partirei também com o coração em frangalhos, mas partirei pois este é o meu dever: Deus, Pátria, Família.  Despedi-me de todos, Dona Lycia, Dr Armando, Dona Lina, Virginia, Luis Armando, da minha Dayse e do meu Amor. Fomos de táxi o Dr Armando e eu. Ônibus da Cometa, velho e ruim. Muito frio. Mais uma vez fui com o Dr Armando de tarde ao Forlanini com o Dr Betega que me fez uma radioscopia que confirmou o bom estado dos meus pulmões, graças a Deus!

JUNHO DE 1962

01/06/62 – sexta – Cheguei em São Paulo às 06:00. Fui à cidade. Tratei sobre transmissor. Comunguei. Tomei café. Sapataria Casa Gil, na Rua Santa Ifigênia. Encontrei os meus primos Gilberto e Gilfredo, o Oswaldo e o Lázaro. Almocei com o Gilfredo, D. Edna, irmã, mãe e filha. Às 15:00 embarquei no ônibus para a cidade de Bauru. Fiz boa viagem chegando às 21:30 em Bauru. Hotel.

02/06/62 – sábado – Embarquei no trem das 08:00 para Aquidauana.Fiz boa viagem de leito. Ouvi o jogo Brasil 0 x Tchecoslováquia  0. Passei pelas cidades de Araçatuba e  Três Lagoas.

03/06/62 – domingo – Às 06:00 chegamos em Campo Grande. Café com leite. Primeira classe. Frio. Ãs 10:40 cheguei em Aquidauana. Encontrei o Capitão Lybio King e família todos bem. A minha casa estava em reforma.  Fui à missa, chegando atrasado pois o horário havia mudado. Almocei e jantei com o Cap King. Fui dormir às 23:30. Hoje completei 26 anos de vida. Agradeço-vos ó meu Deus tudo o que me deste!

04/06/62 – segunda – Quartel. Recebi os vencimentos. Tudo bem. Novos conscritos. Dormi das 19:00 até 05:30 do dia seguinte.

05/06/62 – terça – Não dei ginástica. Quartel. Carta da R.. Muito serviço. Reformas na casa da Vila: vaso, caixa d’água. Voltei ontem a fazer as refeições no Lord Hotel. Todos bem por lá. Sempre perguntam pela R. e sobre o neném. Até os charreteiros, Seu Zizi e Seu Neif. Estou com grande vontade de melhorar a Primeira Companhia do 9º Batalhão de Engenharia de Combate.

06/06/63 – quarta – A casa em plena reforma. À tarde consertei o rádio Philco. Ouvi o jogo Brasil 2 x Espanha 1. Fui ao Ginásio Imaculada Conceição onde desisti de dar as aulas de ginástica. Fui ao Lord Hotel onde a comida está muito boa.

07/06/62 – quinta – Quartel. Muito serviço. À noite tenho emendado o sono. Quando chego em casa a cabeça fica pesada e o corpo cansado.

08/06/62 – sexta – Muita chuva. Saudades da R. e da Dayse. Fico a me lembrar do rostinho da Dayse com aqueles olhinhos a mexer. Que estará fazendo agora a minha R.?

09/06/62 – sábado – Ainda não pude estudar para o concurso ao IME. Muito serviço no quartel. Trabalhei à tarde. A casa continua em reformas. À tarde fui à casa do Ten Waldyr e dei 500,00 para o Vladimir. A D. Nildéa disse que ele havia caído da cama. Fomos depois até a casa do Cap King. Muita conversa. Fui dormir à 01:00.

10/06/62 – domingo – 1 ano e 5 meses de casado. Muito obrigado, meu Deus! Abençoai minha querida esposa e adorada filha! Daí-nos muita fé e muito amor para convosco. Almocei no Lord Hotel. Estreei a calça de nycron que a D. Lycia me deu. Montei o toca-discose o rádio. Ouvi músicas. Fui à missa e comunguei. Jantei na casa do Cap King. O Ten Waldyr, a D. Nildéa e o Vladimir estavam lá.

11/06/62 – segunda – Dia da Batalha do Riachuelo. Formatura. Desfile. Competições esportivas. Trabalhei à tarde. Saudades.

12/06/62 – terça – Quartel. Frio.

13/06/62 – quarta – Dia da Retomada de Corumbá – Formatura. Jogos. Na Copa do Mundo o Brasil venceu o México por 4 x 2. Recebi a 1ª carta da R.. Disse que a Dayse havia tomado o 1ª banho e havia gostado muito. Disse-me que o leite havia diminuído devido às saudades. Tinha começado a escrever no dia 1º e terminado no dia 5. Que Deus as abençoe. Com saudades aguardo o dia em que ficaremos juntos outra vez.

14/06/62 – quinta – Ontem chegou o 1º Ten Eng Edson Amaro de Oliveira com a sua esposa D. Nora e suas duas filhas Maria Isabel e Nora. Todos gaúchos de Uruguaiana. Estão morando com o Ten Waldyr. Deixei umas funções e assumi outras. Tempo frio.

15/06/62 – sexta – Quartel. Muito serviço. Saudades. Tenho levado trabalho para casa mas não faço. Ouvi todos os discos de inglês.

16/06/62 – sábado – À tarde varri a casa. Fui à lavadeira e à Casa Bom Gosto. À noite jogos: Cabos 4 x Soldados 5. Sargentos 2 x Oficiais 12. Eleição de Miss Brasil: 1ª Miss Bahia, 2ª Miss São Paulo e 3ª Miss Guanabara. A Miss Mato Grosso desfilou mal e ficou em 12º lugar. Expectativa quanto ao jogo Brasil x Tchecoslováquia. Saudades. Sonhos.

17/06/62 – domingo – Ouvi rádio. Escrevi este diário. Cartas para a R. e para a mamãe. O BRASIL É BICAMPEÃO ! 3 x 1.

18/06/62 – segunda – Faleceu o avô da R., o senhor Manoel Claro Alves. Deus lhe dê o céu como recompensa!

19/06/62 – terça – Ontem e hoje quartel e estudo.

20/06/62 – quarta – Marcha. Sapateiro. Lavadeira. Consertos em casa. À noite voleibol e futebol de salão. Chuva. Esfriou.

21/06/62 – quinta – Festa de Corpus Christi. Estudei. À tarde ia à missa mas só houve a procissão que eu acompanhei. À noite assisti a um filme: Assim Deus Mandou, sobre as Carmelitas, aceitando um convite da empresa.

22/06/62 – sexta – Quartel. Estudo.

23/06/62 – sábado – Vacina. Estudo. Reunião na casa do Cap King. Foram: 2º Ten João Nemo Marisco, senhora e filha, Ten Médico Paulo Sarmento e senhora, Ten Waldyr Ramos e Silva e D. Nildéa, Ten Edson Amaro de Oliveira, D. Nora e filhas, Ten Edson Pierre Marcelo e D. Nilda, Sr. Honório Simões Pires e D. Loris (donos do Lord Hotel). Cervejas, salgados e doces. Frio. Conversas do Marisco. HiFi do Comandante.

24/06/62 – domingo – Estudei Desenho. Carta para a R..

27/06/62 – quarta – Neste dias dei expediente integral no quartel. O Livro Carga do S3 não me deixa estudar. Saudades.

28/06/62 – quinta – Quartel. Competições de tiro. Saí-me bem.

29/06/62 – sexta – Dia de São Pedro e São Paulo. Visita do Maj Ururahi filho do General  do mesmo nome. Almoço no quartel. Missa. Comunhão. Procissão.

30/06/62 – sábado – Fui para o quartel mesmo sem expediente. À tarde adaptei um caixote para o rádio e o toca-disco. À noite jogo de futebol de salão. Os soldados perderam. A torcida vibrou com o jogo dos mirins. Um japonesinho craque.  Frio. Casa do Cap King. Famílias jogando canastra. Fui dormir. Saudades. Disco do Agostinho dos Santos. E assim terminou o mês em que completei 26 anos de vida. Graças a Deus por tudo. Que cada dia seja melhor para Ele! Preciso estudar mais para o concurso ao IME.

JULHO DE 1962

01/07/62 – domingo – Acordei às 06:00. Missa das 06:30. Comunhão. O padre ressaltou a necessidade da comunhão freqüente. Café com o Tenente Edson e Dona Nora que também foram à missa. As filhas Maria Isabel e Norinha a brincar. Testes. Almoço no Lord Hotel. Sesta. Cartão para a avó Élia e filhos. Carta para a Dona Lycia e R.. Atualizei este diário. A casa ainda está desarrumada e sem pintura. Fui convidado para jantar com o Ten Edson e D. Nora. Corrigimos os testes TSE-1. Jantar. Conversa.

05/07/62 –quinta – Dias normais no quartel. A casa em reformas, pintura e forro. Frio. Saudades da R. e da Dayse, torcendo para que cheguem logo.

06/07/62 – sexta – Primeira do mês. Fui a pé até a Matriz mas não encontrei ninguém lá e eu não pude comungar. À noite jogos de futebol de salão, cabos  x sargentos, oficiais x médicos. Frio.

07/07/62 – sábado – BCE. Arrumação da casa. Lavei roupa. Saudades. Ouvi todos os discos até 22:00. Dormir.

08/07/62 – domingo – Fui à missa das 06:30. Comunguei. O padre falou sobre a Eucaristia. Tomei café na casa do Ten Edson. Conversamos. Senti que havia falta de programa para eles. Atualizei este diário. Carta para a R.. Almoçp. Hotel. Sesta. Jantar com o Ten Edson. Capitão King e família. Testes. Saudades.

09/07/62 – segunda – Recebi cartas da R. e da mamãe. Tudo bem, graças a Deus. Só a tia Arthemira muito magra. A Dayse dando trabalho o dia todo para a R.. No Rio o mano Felippe fez uma operação. A Maria Helena está para ter um neném. A esposa do meu primo médico Edgard também está grávida. A mamãe quer vir em setembro até Aquidauana. Ela não sabe se vai até a Palestina. O mano Padre José Maria está em Olaria. Enviei a carta para a R..

10/07/62 – terça – 1 ano e 6 meses de casado. Agradeço a Deus ter-me dado a R. como esposa e abençoado o nosso lar com uma menina. Peço-lhe que a nossa família tenha como exemplo a Sagrada Família.

11/07/62 – quarta – Tenho arrumado a casa. Estão terminando de pintar os quartos. Espero que a R. fique gostando mais desta nossa casa, agora, que foi reformada.

12/07/62 – quinta – Não tenho estudado. Tenho serviço atrasado. Falta-me ter tudo em ordem para me dedicar ao estudo. Agora penso no quartel, na casa, na R., na Dayse, etc. Enfim, espero que quando estiver com a minha querida esposa a minha vida fique mais ordenada e eu estude mais.

13/07/62 – sexta – Os Estados Unidos lançaram um satélite “Tell-Star”que facilita as comunicações. Continuam as experiências com explosões atômicas. Estou sentindo grande falta da minha família. Quando me lembro dos momentos que passei junto com o meu Bem me vem uma grande saudade. Gostaria também muito que a mamãe passasse uns dias conosco. Fiquei contenet em saber que a Dona Lycia e o Luis Armando vêm com a R. e a Dayse. Penso nos momentos em que estarei com a Dayse no colo, brincando com ela.

14/07/62 – sábado – À tarde com o soldado carpinteiro Amâncio, desencaixotei e montei os móveis.

15/07/62 – domingo – Missa das 06:30. Comunguei. Que a minha vida seja toda dedicada ao amor a Deus e ao próximo. Café com a D. Nora, Ten Edson, Maria Isabel, Norinha (gringa) e a Didi (Luiza) . Consertamos o chuveiro na casa do Ten Waldyr, D. Nildéia e Wladimir. O Dr. Paulo apareceu. Almoço no Lord Hotel. Não houve um churrasco na granja do Ten Marisco devido a doença. À tarde sesta e cartas. Na sexta-feira recebi uma pistola .45 Colt. Quando vejo as filhas do Ten Edson penso na Dayse quando estiver maior. Ouvi discos. Jantei com o Cap King. Tive uma surpresa: ouvi a voz da R. pelo telofone falando com o radioamador Telange. Fiquei muito emocionado. Graças a Deus por esta dádiva. Fiquei com vontade de comprar logo um transmissor.

27/07/62 – sexta – Estamos todos juntos em casa: Dona Lycia, Luis Armando, Virgínia, Elizabeth, Regie a minha filhinha Dayse com 2 meses. Chegaram na segunda-feira, dia 23, de trem. Tinham ido de Curitiba a São Paulo de avião e de São Paulo a Bauru de ônibus. Na semana passada eu havia procurado deixar a casa do melhor modo mas não pôde ficar muito bom, apesar do meu esforço. Logo a D. Lycia e a Virginia junto comigo e a R. iniciamos os melhoramentos. Senti-me muito feliz junto com os meus entes queridos. Agora tudo me parece mais fácil graças a Deus! A Dayse está bem de saúde e muito bonita. Não tenho estudado mas não perdi a vontade de entrar para o IME. Assim que aparecer uma oportunidade reiniciarei o estudo.

31/07/62 – terça – A R. esteve ruim dos seios. Doem muito ao dar o leite para a Dayse pois esta aperta os bicos entre as gengivas. A R. me disse que desde que teve a Dayse nunca deixou de sentir dores. Noto entretanto que ela como uma boa mãe adora a sua filhinha. Falta agora uma caminha para a Dayse pois ela está dormindo no carrinho. Apesar disso a Dayse não dá incômodos. Dorme a noite toda e de manhã fica acordada no carrinho esperando, às vezes resmungando, a hora de mamar nos seios da mãe. Acho-a muito bonitinha e agradeço a Deus me ter dado tão bonita filha. Que ela no futuro seja uma santa e que nunca ofenda a Deus. Que Nossa Senhra da Luz a proteja com o seu manto.

AGOSTO DE 1962

05/08/62 – domingo – Fui à missa das 06:30. Comunguei. A D. Lycia, R. e o Luis Armando foram à das 07:30. Fiquei com a Dayse. A Virginia e a Elizabeth já estavam acordadas. Dia de sol. Fez calor durantye a semana que passou. Está muito bom com todos reunidos em casa. Ontem capinei em frente da casa.

12/08/62 – domingo – A D. Lycia foi embora para Curitiba com o Luis Armando na sexta-feira. Esqueceram os casacos. Fez calor e choveu sábado pela manhã. Faltou água na casa. A Betty tossiu. A Dayse vai bem. O Cap King tirou fotografias dela. Tenho jogado futebol de salão como goleiro da equipe dos oficiais. Iniciei o estudo mas não fui constante. Não tenho rezado o terço. Não comungamos neste domingo. Na cidade houve o 1º Torneio dos Campeões. Preparativos para o dia 15 de agosto, aniversário da cidade de Aquidauana. Completamos 1 ano em Aquidauana.

26/08/62 – domingo – Temos ido à missa na capela do Guanandy, às 07:30 aos domingos. Hoje comungamos. Que Deus nos abençoe. A Dayse continua bem. Completou 3 meses no dia 17. Tem tirado fotografias. Ela está muito engraçadinha. Já quer colocar o dedo na boca para chupar. A R. e eu temos ido à cidade fazer compras e a levamos no carrinho. Na poeira o carrinho exige força para andar. A Virginia tem ajudado em casa. A Betty tem dado um pouco de trabalho. Estão pintando a casa de verde. A Companhia desfilou no dia 15 de agosto, Comandei a tropa. Todos foram assistir ao desfile. A R. e eu, a D. Nora e o Tenente Edson, a D. Cleusa e o Cap King fomos ao baile no Clube Feminino. Paguei Cr$900,00 de táxi. O bailde foi bonzinho. Recebi uma carta de casa onde a mamãe me comunicava a morte da sua irmã mais velha, a Tia Amélia. Que Deus lhe tenha dado o céu como recompensa. Tenho estudado Pontes e não as matérias do IME.

SETEMBRO-1962

02/09/62 – DOMINGO –  Levantei-me às 08:00. Nesta Semana estudei para o concurso ao IME das 20:00 às 23:00. No aniversário do filho do Dr. Paulo Sarmento fomos até lá e depois todos nós: Tenente Edson, D. Nora, Tenente Waldyr, D. Nildéa, R., eu e a filha do Tenente Marisco fomos assistir ao filme “O Belo Antonio”que versa sobre os problemas de um homem que se tornou impotente. Na sexta à noite jogamos futebol de salão com o 9º Grupo de Canhões 75 AR de Nioaque e vencemos por 2 a 1. Chegou a caminha da Dayse, enviada pela vovó Lycia lá de Curitiba.  No dia 1º, sábado foi efetivado o 9º Batalhão de Engenharia de Combate. Vieram à solenidade: General de Exército José Machado Lopes , General Moraes e Barros. General Arnaldo Matta, General João Baptista de Mattos e o General Emílio Garrastazu Médici. Houve alvorada festiva, almoço, desfile (levei o Estandarte da Unidade), demonstração de Ordem Unida. Desfilaram o 9º GCan e um esquadrão do 10º Regimento de Cavalaria da cidade de Bela Vista. O General Machado Lopes ao falar ressaltou que devemos falar pouco e agir muito. Cumprimentou cada um dos ofociais e relembrou a sua carreira militar. À noite fomos ao baile no Clube Feminino (de jipe). Gostei. Fomos dormir às 03:00.

16/09/62 – domingo – Duas semanas se passaram. Graças a Deus todos bem. A R. anteontem teve febre mas no dia seguinte já estava boa. A Dayse está cada dia mais esperta. A Betty é um tanto chorona. Calor. Tenho estudado. Rezamos o terço durante três dias mas depois deixamos de novo. Enviei um telegrama ao primo e cunhado Oscar, extensivo aos seus irmãos  Duca, Edgard e Orlando e irmã Nair, de condolência pelo falecimento da querida Tia Artthemira no dia 25. Que Deus lhe dê o céu. A mamãe ficou de vir até Aquidauana mas não veio não sei por que. Hoje fomos à missa das 07:30 com a Betty. Comunguei. Senhor auxiliai-me a viver do melhor modo.

30/09/62 – XVI Domingo depois de Pentecostes. A R. e eu comungamos. Em casa ela me disse que está com os nervos em pilha. Chegou a chorar em dado momento. Está querendo sair de Aquidauana. A mamãe e a Dinah estiveram aqui. Chegaram numa quinta-feira e partiram na quinta-feira seguinte, dia 27 de setembro. Fiquei muito contente em revê-la. Contou-me todas as notícias do Rio. Tiramos retratos juntos. Ela foi à missa todos os dias. Ela deu Cr$10.000,00 para a Dayse. (perdoou nossas dívidas). Enviei fotografias da Dayse para as minhas irmãs. Elas enviaram presentes. (A Anna também). A mamãe e a Dináh foram de trem. Na hora da partida a mamãe chorou. Disse-lhe que no próximo ano eu iria para o Rio. Tenho estudado para o IME. Já enviei o requerimento para o concurso. A mamãe me disse que ela ia rezar muito. A Dayse completou 4 meses. Graças a Deus não ficou doente. A R. desconfia que esteja esperando outro bebê. A D. Lycia tem escrito. Todos bem.

OUTUBRO-1962 – O homem propõe e Deus dispõe! No dia 9 recebi um radiograma do TenCel Ari Pinho, Instrutor Chefe do Curso de Engenharia da AMAN, convidando-me para Auxiliar de Instrutor. Aceitei imediatamente. Em casa coloquei o disco de músicas da AMAN e fiz surpresa para a R. que nem acreditou de tanta alegria. Creio que foram as orações e desejos da minha querida mãe. Graças a Deus! Tive entretanto depois que decidir se faria ou não o concurso para o IME. Resolvi não fazer e ir para a AMAN, esperando poder fazer o concurso mais tarde. Seja feita a vontade de Deus!

21/10/62 – domingo – A Dayse está  com umas assaduras e tem feito um cocô meio diferente, às vezes esverdeado, outra vezes preto, outra vezes amarelo, outras vezes branco. Devido a isto a R. fica nervosa e preocupada. Discutimos. Faz parte da vida de um casal. Irei até o fim, aconteça o que acontecer. Tenho os meus defeitos e ela os dela. Recebi uma carta do Rio. Graças a Deus a mamãe chegou bem. Só perdeu o travesseiro que eu havia dado para ela. O Felippe foi papai novamente, de uma menina chamada Nair, no dia 19 de setembro. A mamãe disse ter sentido muitas saudades ao partir de Aquidauana.

31/10/62 – Graças a Deus a Dayse ficou boa. Terminou mais um mês. Infelizmente não consegui rezar o terço diário. Não tenho estudado. No quartel recebi novas missões: Tesoureiro, Almoxarife, Aprovisionador e S3. Na expectativa de ser transferido a qualquer momento a minha situação é sem muitas novas decisões.

NOVEMBRO-1962

Todos bem, graças a Deus. No quartel ns função de Tesoureiro e outras.

19/11/62 – Assumiu o novo Comandante do Batalhão, o TenCel Ivan de Souza Mendes.

DEZEMBRO – 1962

29/12/62 – SÁBADO – Estamos todos reunidos em Aquidauana: Dr. Armando. D. Lycia, Luis Armando. R., Dayse, Virginia, Betty e eu. Eles chegaram no dia 20. O Natal foi muito bom. Muitos presentes. Dei um broche para a R.. Ganhei uma calça e quatro camisas.. Aguardo a publicação da Portaria me classificando na AMAN. O TenCel Ivan tem vindo jantar aqui em casa aos domingos.  O meu sobrinho Affonso casou com a Marisia no dia 15 de dezembro. E mais um ano chega ao fim!

JANEIRO DE 1963

Mais um ano se inicia. Que Deus nos abençoe. Que sejamos unidos até o fim, para sua maior glória. Em 1963 espero aperfeiçoar-me na instrução de engenharia e continuar estudando para um dia me formar engenheiro. No quartel estou desempenhando as funções de intendente. No dia 26 de janeiro soube que fui nomeado Auxiliar de Instrutor do Curso de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Graças a Deus!

FEVEREIRO DE 1963

Preparativos para ir embora. Passei os encargos da Tesouraria. A minha sogra Dona Lycia levou a netinha Dayse para Curitiba. A R. e eu engradamos e encaixotamos toda a mudança. O Ten Cel Ivan tem sido muito compreensivo. Bom o ambiente no quartel. Faleceu o sogro do Tenente Marcelo.

MARÇO DE 1963

Despachei a mudança pelo Expresso Real. Viajei com a R., a Virginia e a Betty de trem até São Paulo onde nos despedimos. Elas foram de ônibus para Curitiba e eu fui para a cidade de Resende. Apresentei-me no dia 6 de março. Passei o Carnaval com a R. em Curitiba. Fomos ao Círculo Militar. Todos bem graças a Deus. Na AMAN sou Auxiliar de Instrutor de Fortificações de Campanha e Minas e Armadilhas. Comandante de Pelotão e Instrutor de Educação Física. Orientador da ABEP. Moro na Rua Monteiro de Barros, 12 no bairro de Monte Castelo. A R. chegou com Virgínia e a Betty. Estive no Rio. A minha irmã Maria José está em Natal no Rio Grande do Norte. A Maria Helena foi com todos também para lá.

ABRIL DE 1963

Tenho ido à piscina. Estou com idéia de comprar um automóvel. Feliz com a minha R.. Novas amizades: Ten Cel Ari Pinho e senhora, Ten Cel Carlos Bernardo e senhora, Maj Paranhos, Cap Ivany e senhora (ele conheceu o meu sobrinho Affonso no CPOR), Cap Ely e senhora, Cap Pastuk e senhora, Ten Tourinho e senhora e Ten Diniz e senhora, enfim muitos já conhecidos e muitos novos.

Houve no Brasil os Jogos Pan-americanos. Tenho jogado basquete com o Maj Gedeão (o meu técnico de basquete quando eu era cadete em 1957), Maj Malebranches, Maj Buzzato, Ten Vilela. A R. está querendo mudar de casa. A mamãe vendeu o apartamento no Rio.

MAIO DE 1963

Não pude assistir ao primeiro aniversário da Dayse no dia 17. A R. foi para Curitiba no início do mês  assim que nos mudamos de casa no dia 1º.  Comprei um automóvel Volkswagen ano 1960. Fiquei muito contente com o meu primeiro automóvel. Fui até Curitiba e até o Rio. Graças a Deus o carro está bom. Comprei por Cr$1.133.000,00 sendo 800.000 de entrada e 10 prestações de 30.000. Está com 47.470 km rodados. Em Curitiba passei pela 5ª Cia Com, vendo que o quartel estava necessitando ser pintado. A Dayse está muito engraçadinha. A Betty ficou com a Virgínia em Resende. Visitamos os parentes. Curitiba é uma cidade sempre atraente.  A R. e a Dayse estão com tosse.

JULHO DE 1963

A Regina recebeu uma carta da Dona Cleuza, esposa do Cap King, do dia 02 de julho: “Querida Regina. Grande foi a nossa satisfação ao receber ontem mais uma cartinha sua. Nora chegou em Aquidauana justamente no dia do recebimento da sua primeira carta, está furiosa com você por não ter recebido notícias conforme havias prometido. Sua cartas têm sido lidas por todos da Vila, pois grande é o interesse de todos pelas notícias dos caros amigos e da sobrinha caçula que não foi desbancada, apesar da distancia. Meus parabéns pela “motorização”, nós aqui continuamos na expectativa de uma oportunidade. Sofremos sábado momentos de angústia com o acidente sofrido pelo menino Carlos Jorge, filho da Maria José que se queimou com essas bombinhas de estalar. Ele estava com uma caixa no bolso, cheia e aberta, e foi acender uma que quebrou e pulou dentro da caixa que estava no bolso incendiando todas e estourando, provocando as queimaduras embaixo do braço e na mão esquerda. Ele está acamado numa posição incômoda, pois tem que ficar com o braço esticado para não encostar nas queimaduras. Tem sofrido um bocado, e Maria José mais ainda por ver o filho sofrer. A família da Vila Militar tem estado junta em torno do Carlos Jorge para aliviar a ajudar no que preciso for. O Tenente Amaro “fraturou”o pé em jogo de futebol de salão, anda de muletas com o pé engessado, mas na hora do acidente do Carlos Jorge, apanhou as muletas colocando-as embaixo do braço, e correu à casa da Maria José, sem usá-las. O King pulou o muro de nossa casa para a casa do Dr. Paulo indo assustar a Jacira, pois foi parar dentro da casa sem bater, chamando pelo Dr. Paulo. Foram momentos de angústia, mas felizmente já passaram e o menino nesta noite já dormiu melhor deixando seus pais descansar, pois não dormiam há duas noites. Bem Regina, as coisas aqui pelos nossos lados não andaram muito boas, pois foram seguidos os acidentes. O Tenente Marcelo tirou a rótula do joelho do lugar, no mesmo jogo do acidente do Tenente Amaro. E o meu filho Ney César, no dia 25 de junho foi empurrado no colégio onde abriu a cabeça levando três pontos. As notícias de hoje não foram muito boas, mas os amigos servem para isso (desabafo). E dos males, que venham os menores que têm remédio. Vamos agora mudar de assunto. O King anda como sempre atarefadíssimo com o quartel, pois no dia 15 de julho vai funcionar o Batalhão com novos recrutas. Bem que o Tenente Vasconcellos tem feito falta, pois no lugar dele não veio ninguém. O efetivo parou nos cinco Aspirantes e nos três Capitães que terminaram a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio. Ninguém mais. Os Majores que foram transferidos para cá bateram o pé, e ficou por isso mesmo.  Creio que a carta de hoje vai dar para cansar de ler. Acabo de telefonar para o Seu Chico e ele me falou que não tinha recebido nada do Tenente Vasconcellos, mas que hoje mesmo ele remete o recibo da quota de gás, e eu à tarde, telefono mais uma vez.  Com um grande e saudoso abraço, me despeço, prometendo voltar breve com boas notícias. Beijos na Dayse. CLEUZA”

 

OUTUBRO DE 1963

No dia 21 de outubro faleceu o pai da R., Dr Armando da Cunha Tramujas, com 51 anos. Que Deus lhe dê o céu Estive em Curitiba onde deixei a R. e a Dayse. A Dona Lycia  e todos nós ficamos muito tristes. Sentimos muito a perda de tão bom pai.

DEZEMBRO DE 1963

24 – terça-feira – Estou em Curitiba junto com a R. e com a Dayse. Conosco a Dona Lycia, o Luís Armando e a Dona Lina. Cheguei anteontem domingo. Vim com o Volks. Saí de São Paulo às 06:40  e cheguei em Curitiba às 13:00. Alguns buracos na estrada. Vim conversando a partir de certo trecho com um rapaz chamado Menezes, estudante de Direito e morador no Arpoador, 81. A R. está esperando neném para o final do mês de janeiro. A Dayse já está crescida e muito engraçadinha. Nota-se que tem algum gênio pois não obedece prontamente. Aguardo o resultado do concurso que fiz para o IME. Sairá no dia 30. Tenho esperanças de passar. Estive desde 1º de novembro até 12 de dezembro no Rio, no Forte São João estudando para o concurso ao IME. Juntos estávamos: o Tenentes  Osíris Fernandes, Clóvis, Ivon Borges Martins, Kiofumi Higo, Beleli e o Cap Cordeiro. A prova de Descritiva e Desenho foi adiada devido a violação do sigilo. No Rio fui à praia muitas vezes saindo um pouco da minha vida mais controlada. Foi um período de 2 meses longe da R.. No Rio visitei algumas vezes a mamãe, a Raymunda, o Luiz, a Dináh, o Felippe, a Suely, o Rogerinho, a Nairzinha. Todos bem. O Luiz trabalha nos Correios e o Felippe no 1º RO105. O Affonso e a Marísia estão em São Pedro da Aldeia. A Verinha está namorando um rapaz. O Oscar é o Diretor da Fábrica do Realengo. Estou numa fase mais fria em relação à religião tendo só ido às missas aos domingos. Ontem o Raul primo da R. esteve aqui com a noiva. Está em Volta Redonda. É Engenheiro Metalúrgico. Ando numa fase de pouco dinheiro. A Dona Lycia enviou dinheiro para cumprir a promessa do Dr Armando de custear o curso que eu fiz no Rio com o Cel Humberto, Cel Flarys e Maj Damm. O Joélcio também fez o concurso. Foi ele que organizou o Curso. Ele ainda está solteiro. Revi vários colegas no Rio. Resumindo, neste ano com instrutor na AMAN dei instruções, educação física, competi em voleibol. Enfim gostei de servir lá. Graças a Deus pude fazer o concurso para o IME. Espero poder assim melhorar as condições de vida da minha família. Se passar pretendo ir mensalmente à igreja de Sant’Ana fazer a adoração noturna em agradecimento. A Dayse está ao meu lado e já diz muitas palavras: água, neném, ah, ór, um, pipiu, ã, papai, uau-au, bumba água, ta qui, a-a-á, lá-lá-lá, maninha, bolinha, cocorocó, auau, miau, pato, um, me, glugluglu, uón, pa-pa-pá. Já mostra o nariz, a boca, a língua, a orelha, o cabelo, a bochecha, os olhos e a mão.

31-terça-feira – Termina hoje mais um ano de minha existência. À noite fui à Igreja da Ordem com a Dona Lycia. Fizemos uma Hora Santa e assistimos à missa da meia-noite celebrada pelo Padre Boaventura (o mesmo lá da Tijuca, Rio de Janeiro). Comungamos. Fiquei contente em passar o ano rezando aos pés de Deus. Espero em 1964 ser melhor do que fui em 1963. Ainda não soube o resultado do concurso. A mamãe telefonou hoje dizendo que será na 5ª ou 6ª feira. Como ela não entrou no assunto logo, pensei que eu tivesse sido reprovado... Ainda bem que ainda resta uma esperança. Vão todos bem no Rio, com exceção do Tio Manoel, marido da Tia Rita que está muito mal. A Vera ficou noiva. A mamãe ficou de me mandar um telegrama com o resultado do concurso. No Natal ganhei uma calça feita por encomenda, de nycron, cuecas, lenços e meias como presentes da Dona Lycia, R. e Luis Armando. Dei um secador elétrico para a R. e uma caixa de talco fino para a Dona Lycia. Fico devendo um presente melhor pois ela bem que merece. Ela tem um coração de ouro. Tenho lido muito nestes dias de férias: A Vida de Santo Agostinho, Fadiga Mal do Século, O General Góis depõe. Novembro, Radiografia de...). Tenho lucrado com essas leituras. Cheguei à conclusão que o melhor é viver sempre corretamente e de acordo com os princípios da Santa Igreja Católica.

JANEIRO DE 1964

01/01/64 – quarta –A Dona Lycia e eu iniciamos o Ano Novo na Igreja da Ordem. A R. não pôde vir por causa da Dayse. Ao chegar em casa comemoramos todos juntos a passagem do ano comendo castanhas, tomando champagne e comendo doces. Depois fomos todos deitar. O almoço foi para toda a família, inclusive o tio Rubens que veio do Rio, muito frango assado. A Dayse anda vomitando e sujou o vestido novo da avó (Cr$10.000,00) e o Volks.

02/01/64 – quinta –  Levamos a Dayse ao médico Dr. Irineu Antunes que disse ser problemas de estômago e fígado. Graças a Deus que não foi de maior gravidade.

03/01/64 – sexta – Acordei com os agrados da R.. Desconfiei... Afinal ela medisse que sentia contrações. Verifiquei o intervalo: 4’30”. Fui até a casa da tia Emmy com a Dayse buscar a Elyane. Ficamos todos em casa aguardando. Limpei o Volks. Almoçamos e nada. Foi apenas um alarme falso.

04/01/64 – sábado – Lavei o carro na casa do vizinho e na rua passei cera. O TenCel Pinho passou com a esposa Dona Célia.

05/01/64 – domingo – Fomos à missa na Igreja do Rosério.

06/01/64 – segunda – Dia dos Reis. Fui à missa com a R. e comunguei.

07/01/64 – terça – A mamãe me telefonou do Rio dizendo que eu havia passado para o IME!!! Realizei um ideal! Graças a Deus, ao Dr Armando, à Dª Lycia, à R., à mamãe, professores, colegas e superiores e aos meus santos Padroeiros. Nem pude acreditar. Quando me dirigi para atender o telefone senti um calafrio pensando que não havia passado pois a mamãe havia combinado que só telefonaria se eu não tivesse passado. Recebi as felicitações de todos.. A minha irmã Maria Helena está no Rio. O tio Manoel está muito mal. Deus lhe dê a saúde!

08/01/64 – quarta – Bati à máquina planos de sessão. Recebi um telegrama do Tenente Osíris nos seguintes termos: “Parabéns brilhante aprovação IME. Gráu 6,2, oitavo lugar. Abraços. Ten Osiris.”

Fui ao CPOR. Conversei com o Major Felix, Cap Meirelles, Cap Luiz Cavalcanti, TenCel Edison e Cel Barcelos. Fui depois até a 5ª Cia Com onde revi todos os conhecidos.

Regressei à AMAN com o tio Nery. Dormimos em casa. No dia seguinte fomos para o Rio onde ele comprou ouro. Almoçamos na cidade. Ele foi comigo ao Edifício Praia Vermelha onde eu conversei com a esposa do meu primo Sólon. Em seguida fomos à casa do tio Rubens. Fui dormir na minha casa no Tijuca. Soube que o tio Manoel havia falecido. Deus lhe dê o céu!

20/01/64 – segunda – Regressei à AMAN.

31/01/64 – sexta – Às 17:45 nasceu em Curitiba a nossa segunda filha Sônia. Foi no Hospital Geral de Curitiba. Infelizmente eu não pude estar presente. Que Deus abençoe esta nova futura mulher neste mundo! Mais tarde a R. comentou que a Dona Lycia teve que ajudar no parto e que esperava não ter que ter mais bebê no Hospital Militar. Mas graças a Deus que tudo correu bem!

FEVEREIRO DE 1964

Tenho arrumado a mudança ajudado pelo soldado Rodolfo que é de Três Rios.

03/02/64 – segunda – Recebi o telegrama da R. com a notícia do nascimento da Sônia: “Sônia chegou dia 31 às 17:45. Estamos bem! Beijos! R..” Fiquei muito contente. Graças a Deus por ter saído tudo bem. Saudades.

04/02/64 – terça – Saí às 05:15 com o Ten Osiris e o Ten Tourinho para o Rio a fim de escolher o apartamento. Recebi um maior, nº 211 graças ao nascimento da Sônia. Fui até em casa onde deixei a TV, a máquina de costura e o faqueiro. A mamãe está bem, sentindo um pouco de cansaço. Maria Helena, Raymunda, Ronaldo, Eliane, Roberto, Renato, Rosane, todos bem, graças a Deus!

05/02/64 – quarta – Acertei as contas na AMAN.

21/02/64 – sexta – Hoje foi a Aula Inaugural no IME. Foi proferida pelo Marechal Armando Dubois. Estou alojado provisoriamente no apartamento 517 do Edifício Praia Vermelha. A mudança ainda não chegou. Já instalei a TV à qual tenho assistido. Pega melhor o canal 2 – TV Excelsior. Os canais 9-Continental, 6 – Tupi e 13 – Rio aparecem com chuvisco. Tenho gostado das aulas de inglês. “Keep smiling” foi uma canção da Doris Day que foi apresentada. A R., Dayse e Sônia continuam em Curitiba. Tenho muitas saudades. Para matar as saudades já fui à praia, buate, cinema, teatro... É uma situação bem ruim ficar casado mas como se fosse solteiro. A R. tem escrito. A Sônia é parecida com a dayse que esteve doente. O trabalho tem sido muito. A R. diz que está muito esgotada e não sabe como seria se não tivesse a Dona Lycia junto ajudando. A mamãe está bem. Aliás todos aqui no Rio estão bem, graças a Deus! O Volks também tem funcionado bem. Ontem pela primeira vez coloquei gasolina azul. Aguardo com ansiedade os meus tesouros a fim de restabelecer o meu lar! Estou dormindo em um apartamento vazio e fazendo as refeições fora.

MARÇO DE 1964

01/03/64 – domingo – Fui a Ipanema com o Felippe. Almocei e conversei com a Maria helena. Na missa das 19:00 encontrei o Joélcio e a sua namorada Celene. Recordações. Batida no Volks dele. Jantar na Spaghetilândia. Organizei a vida. Coloquei carta para a R.. Saudades. 

08/03/64 – domingo – Na semana que passou continuei no apartamento 517. As matérias para estudar aumentaram. Recebi cartas da R.. Tudo bem graças a Deus! A Sônia e a Dayse estão com medidas acima do normal. Pretendem chegar aqui no Rio no dia 14, sábado. Chegou a minha mudança de resende, com falta de 2 caixotes. Tive problemas para arranjar quem me ajudasse a descarregar do caminhão. Os colegas me ajudaram e os soldados também. Ontem ao jogar voleibol eu torci o tornozelo. Fiquei chateado e prometi a mim mesmo nunca mais jogar. Em casa todos bem. A mamãe está passeando com o Luiz em lugares altos. Sinto problema de estar com pouco dinheiro. Tenho que me controlar bem. Tive uma boa orientação do Cap José de Ribamar Nunes Moreira que vai para Manaus. Reli este meu diário. A vida passa bem depressa e os minutos devem ser bem aproveitados. Uns morrem: tia Arthemira, tio Adrião, Avô Manoel Claro, Dr Armando, tia Amélia, tio Antônio, tio Manoel... e outros nascem: Dayse, Nair, Cláudia... É o tempo a passar. Consegui um ideal, sou aluno do Intituto Militar de Engenharia, agora vou me dedicar inteiramente ao estudo para compensar todo o esforço anterior. Estes três anos vão passar rapidamente. Tenho que aproveitá-los integralmente. E a família? Daqui a uns 5 dias estaremos reunidos: R., Dayse, Sônia e Dª Lycia. Será a alegria do lar reconstituido. Certamente haverá outras separações mas espero que demorem muito a voltar. Em vista do passado, sei que haverá dias em que talvez discutamos. Agora quero exprimir a vontade de nunca falar com a minha querida R. de modo duro. Serei amável. A mulher nasceu para ser amada. A minha família será 100% católica. Rezarei o terço em família. Serei um marido e pai para todas as horas. Serei um aluno exemplar. Os divertimentos ficarão para as férias. Notei que o meu estudo nunca foi profundo e constante. Este será um ponto que vou atacar com energia. Serei um engenheiro competente. Fui à missa na Urca. O sermão foi sobre o cristianismo autêntico. Tmei um copo de leite e comi dois pães. Estudei Perspectiva das 20:30 às 22:00. Ao me lembrar que sábado vou rever a minha adorada R. e as minhas duas filhinhas fico tão contente que chego a rir.

19/03/64 – quinta – Estamos todos reunidos: Dª Lycia, Luis Armando, R., Dayse, Sônia e eu. Graças a Deus todos estão bem. Há muita coisa para ser feita no apartamento. Tenho estudado. Elas vêm televisão. Tudo bem.

ABRIL DE 1964

Revolução no Brasil. Fiquei durante um mês sem as atividades escolares. Serviços de guarda ao prédio. O Felippe teve que se deslocar. A AMAN saiu-se bem. Não tem havido aulas. O Marechal Castelo Branco é o presidente. Cortado o avanço do comunismo no Brasil, graças a Deus! Momentos de expectativa. Carlos Lacerda no Palácio das Laranjeiras falando p[elo rádio. Tanques nas ruas. Prisões. Tenho ajudado a R. a cuidar da Dayse “du-papai”. Ela faz chichi e cocô no piniquinho mas está muito gritona. A R. tem que dar de mamá para a Sônia tarde e fica vendo televisão. Acorda tarde. Arranjamos uma empregada chamada Wilma que mora lá em Vigário Geral. Um dia fui até lá para buscá-la. Na casa da mamãe vão todos bem. O Josué já veio do Norte. Já foi a Brasília com a mamãe. O Felippe é capitão e continua do 1º RO105 na Vila Militar. O Luiz está no Departamento de Correios e Telégrafo (DCT) e se virando como pode. A Dináh está esperando nenem.  

MAIO DE 1964

Instalei a antena da TV. Fui buscar a empregada Wilma lá em Vigário Geral. Na missa do dia 07, Ascensão, na igreja da Urca o celebrante ressaltou que a felicidade é ficar satisfeito com o seu lugar na Terra. Tenho levantado às 05:00 e dormido às 22:00. Estou estudando Resistência dos Materiais, Hidráulica e Mecânica Técnica para o primeiro teste. A R., a Dayse, a Sônia e eu estamos vivendo a nossa vida em família. A Wilma ajuda bastante.  No dia 15 chegou a Dona Lycia. Veio passar uma semana conosco. No dia 16, sábado foi comemorado o aniversário da Dayse, que completou 2 anos no dia 17, graças a Deus! Vieram nos visitar: a mamãe, a Raymunda, a Dináh, o Luiz, o Décio Luiz, o Felippe, o Josué, a Maria Helena, a Anna, o Hélcio, a Cláudia, o Raul e a Vera (noivos), a Eliane, o Ronaldo, o Renato, o Roberto, o Oscarzinho, a Risoleta, a R. da Dináh, e o tio Rubens. Gostaram muito dos doces da R.. A Dayse ficou toda contente quando apagou a vela com o nº 2. Repetiu mais duas vezes e ficava toda contente com as palmas. No dia 17, domingo ela foi passear na praia com a avó Lycia. Eu aproveitei para nadar um pouco. À tarde fomos à casa do tio Rubens. A R. foi à missa na Urca e depois nos beijamos na Praça do Amor. Hoje é o Dia do Espírito Santo. Que nos ilumine e abrase no fervor de uma religião sincera.

JULHO DE 1964

31/07/64 – De maio até hoje continuamos morando no apartamento 211 que está sendo pintado. A R. reclama do pintor Seu Braulino achando-o lento no serviço. Graças a Deus todos estão ebm. A Dayse está muito teimosa para comer, grita e chora mas também gosta muito de dançar em frente da televisão. Ela gosta muito do programa da TV Excelsior, canal 2 às quintas-feiras: Tele-Rio Times Square. “Samba de branco tem conta no banco, tem cadilac, conforto e chofer. Samba de branco não é um qualquer , mas também, mas também tem mulher!”. A Sônia está gorda e forte. Tem muita fome e é muito bonita. A R. tem cozinhado devido à falta de empregadas. Hoje comprei um flash para tirar fotografias das meninas. A Dona Lycia e o Luis Armando vieram de Curitiba para passar o mês de julho. A tia Eleonora passou uns dias conosco. Já tive as provas parciais e finais. Terei exame oral de Resistência dos Materiais. O meu tempo é absorvido quase todo pelo estudo. Não sobra tempo para “hobbies”. O frio parou com a ida à praia. Minha ginástica é no banheiro. A mamãe e todos da família vão bem. A Teínha, filha da Dona Vanda, madrinha do Felippe, morreu de derrame. Quando eu era menino gostava de ver uma fotografia dela achando-a muito bonita. Que Deus lhe dê o céu! O Raul casou com a Vera lá em Volta Redonda. Visitei as obras do Governo do Estado. Estive a 64 metros abaixo da superfície da terra. Grandes obras. Grande engenharia. Vi as casas dos ex-favelados em Vila Esperança, Vila Aliança e Vila Kenedy. 

AGOSTO DE 1964

08/08/64 – sábado – Hoje a Dona Lycia e o Luis Armando foram para Curitiba no ônibus da penha das 17:00. O rio Rubens almoçou lá em casa e foi até a Estação Rodoviária. Hoje tirei fotografias da família usando o flash que comprei há poucos dias. Na semana que passou terminei as provas semestrais e aproveitei para modificar o rádio e o toca-discos. Também fui à praia. O apartamento continua sendo pintado. Ontém estive lá em casa na Tijuca. A mamãe e a Raymunda estão bem graças a Deus!

12/08/64 – quarta – Aniversário da Maria Helena (32 anos). Estivemos lá. Todos bem.

21/08/64 – sexta – Aniversário da mamãe (71 anos). Muita gente reunida. Chegamos atrasados. Tirei fotografias. Que Deus ainda lhe dê muitos anos de vida, querida mãe! Muito obrigado por tudo a senhora fez por mim!

31/08/64 – segunda – Mais um mês que termina. A vida se escoa rapidamente!

SETEMBRO DE 1964

 E a vida continua. Graças a Deus todos bem. A Vera, minha sobrinha, filha da Riosoleta e do Oscar casou-se com o Rolando. Eu tirei fotos. Graças a Deus tudo correu bem. A mamãe vai bem e toda a família. Falta-me mais constância no estudo. A Dona Lycia esteve uma semana no Rio.

OUTUBRO DE 1964

A minha vida espiritual está muito irregular. Tenho rezado o terço todos os dias e ido mensalmente fazer a adoração noturna na igreja de Sant’Anna. A R. foi passar o 1 ano da morte do pai, Dr Armando, em Curitiba. Levou a Dayse, a Sônia e a empregada Vânia. Assisti ao filme “Apartamento Clandestino”que me mostrou os problemas conjugais na Itália e no mundo. Identifiquei muitos dos meus sentimentos e da R., naquele filme. Vi que o egoismo é a causa dos problemas. O marido não quer deixar de se sentir jovem. Quer sentir novamente a sensação de um amor novo. E coitada da mulher, ou aguenta tudo em silêncio ou se separa ou paga na mesma moeda (o que não lhe é normal). Enfim, as experiências extra-matrimoniais são cercadaas de tantas complicações, mentiras, hipocrisia e fingimento, que no final é bem melhor muito melhor mesmo (o ideal) ser fiel. Guardei a frase da esposa no filme: “Tornou-se tão fácil trair o marido que se prefere ser fiel!”. Comprei uma máquina de escrever. O meu colega de turma, Capitão Cacaes está com um filho em estado de suspeita grave de um tumor na cabeça. A Sônia já está ficando sentada. É comilona e já assiste à televisão. A Dayse gosta dos filmes com desenhos animados e já fala tudo. Ela se impressiona com leão, macaquinho, mosquito, barata. Gosta muito das bonecas: Aurora, Sebastiana, Tonico, Felisbina, e principalmente a Luluzinha. Ao embarcar para Curitiba levava a Aurora toda enrolada nas toalhinhas amarela e azul. Está com um gênio muito interessante. Acorda sonhando brabinha e zangada. Zanga-se à toa. Chora e grita (deve ser uma fase da vida). A Sônia é muito boazinha e risonha. A Dayse já sabe andar no triciclo, gosta de saltar e dar cambalhotas, e dançar imitando o que vê na televisão. Para dormir às vezes apanha e à noite costuma vir para a nossa cama. A R. tem feito vestidinhos e dormido tarde. Ela gosta de assistir às novelas da TV Excelsior, canal 2, principalmente “A outra face de Anita”. Estou muito contente com a esposa que Deus me deu. Gosta de tudo limpo. Gosta de estar sempre bem vestida. É trabalhadeira e amorosa. O meu maior desejo é não cometer uma asneira de querer arriscar um prazer passageiro e perigoso com outra mulher que não terei conhecido bem, arriscando perder uma esposa que deu toda a sua vida para mim, por amor. Que Deus me ajude a não fazer tamanha ingratidão. Apesar disso tudo, às vezes me vêm pensamentos de que a gente vai ficando velho e depois não haverá mesmo alternativa. Não se vai atrair mais ninguém por impressão a não ser por dinheiro. E será que não ficarei arrependido de não ter tido aventuras fora do casamento? Mas chego à conclusão que o melhor é ser fiel e um bom marido. É difícil mas a família que reza unida permanece unida.

DEZEMBRO DE 1964

15/12/64 – Hoje soube que havia passado em Matemática. Era a última que faltava saber. Graças a Deus passei para o 4º ano por média. Tirei boas notas nos exames escritos. Vejo que o estudo sempre é recompensado e nada resiste a um bom “gagá”. Para o 4º ano desejo melhorar ainda mais os resultados e estudar melhor. A R., a Dayse e a Sônia vão bem. A Dayse muito esperta. Fala muito que quando crescer vai à escola. Já tem lápis azul, vermelho e amarelo. Que vai ganhar medalhas... Gosta de ir à biblioteca. Às vezes apanha do pai e da mãe e chora muito. Sabe ficar séria e ralhar com a gente. A Sônia anda no “voador” e já emite vários sons. Já engatinha por toda a casa. Come muito bem e é sossegada. Está bem forte. A R. tem cozinhado e lavado as fraldas, pois falta empregada. Comprou um maiô “gota d’água e tem ido à praia. Gosta de fazer compras em Copacabana. A Beatriz, o Pedro, a Dona Lycia, o Raul e a Vera estiveram aqui.

20/12/64 – domingo – Estivemos na Tijuca. Hoje é o aniversário da Anna. Todos bem. A mamãe está em dieta devido à pressão alta. O Luiz e o Felippe foram ao jogo onde o Fluminense foi o campeão carioca de 1964, vencendo o Bangu por 3x1. Nós fomos à missa em Botafogo.

21/12/64 – segunda – Viajamos para Curitiba no Volks 60. Tudo bem, só uma pane de gasolina. Em São Paulo dormimos na casa do Gilberto e da Maria Helena. Em Curitiba tudo bem.

24/12/64 – Natal. Tudo bem. À noite houve distribuição de presentes. A Sônia não entendia o que se passava.

JANEIRO DE 1965

01/01/65 - Passamos o ano na casa da Avó Élia. Depois fomos ao clube. Pulei as músicas de carnaval com a R. e sua prima Tereza Cristina. Durante o dia comecei a ensinar a Sônia a andar.

07/01/65 – Fomos comprar verdura em São Brás. Na volta eu estava a retirar as compras quando vi um Pontiac 51 marron creme desviar rapidamente e bater em uma kombi e finalmente para no escritório do Prosdócimo. Ouvi um grito da Dona Lycia e vi a Dayse estendida na rua. Ela tinha sido atropelada. A R. começou a chorar. Fui ao Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná.   Ela quebrara o femur esquerdo e machucara a cabeça. Poderia ter sido bem pior. Graças a Deus por ela não ter morrido. Ela foi muito bem atendida pelo Dr Mott e pelo Tio Ernani. Ela chorou muito. Ficou com a perna entalada e dependurada. Depois se acostumou. Dormia com a vó Lycia no escritório. O Luis Armando punha disquinho para ela ouvir. Ela via também televisão na sala.

31/01/65 – Primeiro aniversário da Sônia. Houve festinha. Tirei fotografias. Ela já ensaia os primeiros passos.

FEVEREIRO DE 1965

01/02/65 – Hoje a Dayse engessou a perna e saiu do aparelho que ela chamava de balancinho. A R. e eu, o tio Nery e a tia Emmy, o tio Arildo, a tia Lourdes e a Lúcia, o tio Ernani, a Consuelo e a Tereza Cristina estivemos juntos em Guaratuba. Foi muito bom. Boa praia e muita fome. O tio Nery e eu endireitamos as coisas na casa de madeira e pintamos. A R. dirigia o Volks até a vila para fazer as compras. A Dona Lycia ficou em Curitiba com o Luis Armando, a Dayse e a Sônia. Os dias têm sido bonitos. Voltamos depois para Curitiba.

Resolvemos ir todos de novo para Guaratuba: Dona Lycia, R., eu, Dayse e Sônia. Passamos bons dias. Pena que a Dayse não pôde tomar banho de mar. Ela gostava de ser o centro das atenções dos meninos e meninas na praia devido à sua perna engessada. Na volta para Curitiba tive um acidente numa ponte com assoalho de madeira. O Volks derrapou devido à chuva. Felizmente só quebrou o pára-choque traseiro e amassou o paralama esquerdo.

A R., a Sônia e eu regressamos ao Rio no Volks no Carnaval. A volta foi sem atrapalhos, só um pneu esvaziou. Em São Paulo dormimos na casa do Gilberto. Chegando ao Rio ainda fomos duas noites ao carnaval no Clube Militar. A minha irmã Maria Helena cuidou da Sônia.

MARÇO DE 1965

Recomeçaram as aulas no IME. Tenho estudado à noite no IME com o meu amigo e colega Tenente Ivon Borges Martins.

ABRIL DE 1965

No dia 8 foi o aniversário da R..

MAIO DE 1965

No dia 17 a Dayse completou 3 anos. Tirei fotografias. Vieram os parentes e conhecidos. Tenho ido bem nos estudos. Fui a Santana no dia 24 mas continuo sem muita devoção.

JUNHO DE 1965

No dia 3 quinta-feira completei 29 anos de vida. A mamãe e o mano padre José Maria apareceram e almoçaram conosco me felcitando pela data.

No dia 4, sexta-feira, data oficial de meu aniversário fui cumprimentado na turma. À tarde apareceram a Anna, a Margarida, a Risoleta, a Maria Helena, o Ricardinho, o Ronaldinho, a Rosane, a Cláudia e o Oscarzinho.

No dia 5, sábado fiquei em casa todo o dia. À noite na cama fiz uma meditação sobre a vida com propósitos de melhorar.

No dia 6, domingo, fiz as mamadeiras e coloquei disquinhos para as crianças ouvirem. Há dois americanos a girar no espaço. Anteontem um deles saiu da cápsula por 20 minutos.

JULHO DE 1965

Mês de estudo e provas.

AGOSTO DE 1965

Tive uma semana de férias. Desmontei o carburador do Volks. Visitas. No dia 29 houve uma choppada aos novos promovidos: TenCel Hallo, TenCel Martinez, Cap Chico Santos e Cap Vasconcellos. Os meus amores foram para Curitiba de ônibus pois a R. vai ter neném lá com o Dr Guelmann. Fiquei sozinho outra vez. Mais um teste para a minha força de vontade para o estudo e fidelidade.

SETEMBRO DE 1965

No dia 5, domingo, às 06:30 nasceu em Curitiba, no Hospital São Lucas, pelas mãos do Dr Guelmann o meu primeiro filho Guilherme. I’m very happy! Que Deus o ilumine durante toda a sua vida de modo a ser um homem útil à Pátria e à sociedade. Que tenha um caráter íntegro! As características da época são: 1) Os americanos e os russos tentando alcançar a Lua. Dois americanos ficaram 8 dias no espaço, girando em torno da Terra. 2) Há uma guerra entre a Índia e o Paquistão e no Vietnam contra o Vietcong. 3) O Brasil é o campeão sulamericano no basquetebol feminino. 4) O Brasil é o bicampeão mundial de futebol. 5) Campanha eleitoral para o Governo da Estado da Guanabara. O Governador Carlos Lacerda apoia o Flexa Ribeiro. 6) O pai do Guilherme estudando engenharia de construção do Exército, no posto de capitão no Instituto Militar de Engenharia, morando no apartamento 211 do Edifício Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. 7) Presidente do Brasil: Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. 8) Presidente dos Estados Unidos: Johnson. 9) Papa: Paulo VI. No dia 11 fui à Tijuca. O Josué está querendo comprar uma casa. Todos vão bem. Tenho recebido felicitações de todos pelo nascimento do Guilherme. Revi a mamãe, Raymunda, Suely, Felippe, Luiz, Oscar, Risoleta (com dentadura nova) e filhos. O Felippe cuidou do meu Volks enquanto eu dava uma olhada na TV GE dele. Almocei lá com a Maria helena e o Josué. À noite vi televisão: Espetáculos Tonelux e ouvi uma palestra do Governador Carlos Lacerda.

No dia 12, domingo, acordei às 08:30. Tempo chuvoso. Reli este diário. “Como passa rápida a nossa vida?!” Amo muito minha querida esposa e filhos. Que logo estejamos todos juntos. Que nossa vida seja de cintínuo amor, sem brigas nem discussões. “Nunca falar alto com a mãe de meus filhos!”Não esquecer de fazer o ramalhete com as flores disponíveis!”A vida é constituída de “presentes” bem realizados. Vale a pena amar com entrega total – é a sinceridade de pensamento. Agora com três filhos tenho que me dedicar mais ao trabalho para poder garantir a educação deles. ( Em São Paulo, no dia 17/01/1993 acrescentei a frase: Olhai os lírios do campo...)

30/09/65 – Mais um mês passou e eu longe dos meus amores. Que logo estejam de volta. A Dona Lycia e a R.  estão terminando bem cansadas o dia lá emCuritiba, pois têm que cuidar da Dayse, da Sônia e do Guiherme. No Rio nasceu o Pedro Afonso, filho do Affonso e da Marisia. Que Deus o proteja!

04/10/65 – O Papa Paulo VI está em Nova York e falou na ONU sobre a paz mundial. Ontem houve eleições para Governador. Votei no Flexa Ribeiro. Já passaram automóveis pelo Túnel Rebouças, o maior do mundo. Continuo sozinho e a estudar no 4º ano profissional de Construção no IME. Acordo às 05:00 e durmo às 22:15. Aguardo a chegada da R. com muita vontade de ser ótimo marido e pai. Como é bom ver um casal feliz  junto com os filhos refletindo essa felicidade! Ainda não sei como é o Guilherme. Espero transformá-lo em um homem de caráter e envidar todos os meus esforços para o seu aperfeiçoamento espiritual, mental, intelectual e físico. Enfim educá-lo do melhor modo e fazer com que seja um homem de caráter, se Deus quiser.

21/10/65 – quinta – Continuo só no Rio, com muitas saudades da minha querida  Rainha, das minhas adoradas filhinhas e do meu filho que ainda não conheço. A R. me escreveu dizendo que a Dayse tem ido ao Jardim da Infância e que a Sônia está impossível. Que o Guilherme dorme bem e se parece com ela. Que também está com muitas saudades de mim e que na rua “os gaviões”não a deixam em paz. Desejo muito o regresso da minha R. pois já estou chateado de só ver mulheres dos outros e parcecer como um mendigo  quando na realidade tenho a minha rainha e os meus tesouros. Farei tudo para não cair na rotina e tratar mal ou menos bem os meus entes queridos. Continuo estudando no IME as matérias de construção e também inglês. Entendo muita coisa nos filmes mas ainda tenho muito que aprender. Tenho procurado dormir às 22:30 e acordar às 05:00. Ando meio fraco de vontade. Em casa todos bem. A mamãe esteve em Paquetá. O meu carro está no quartel do Felippe. A Verinha vai ser mamãe. Que Deus a abençoe! Saí-me bem na prova de Eletrotécnica. Cheguei atrasado às aulas. A falta de ordem me prejudicou em encontrar o Título de Eleitor. Epro iniciar um estudo continuado de Estabilidade e Arquitetura até o dia 27 de novembro.

18/12/65 – Arranjei um emprego como estagiário na Companhia Construtora Nacional a partir de 03/01/66, graças a Deus!   A família está reunida. A Dayse já lê 16 palavras. A Sônia diz: paê, Daysê, mãe, aqui, não, água, naná, não-ôôô, Guierme, Maída (Margarida, a empregada), lápis... O Guilherme diz angú, grr,... No IME passei bem para o 5º ano profissional, graças a Deus e à minha querida esposa.

19/12/65 – Estamos prontos para vajar para Curitiba. Tenho cuidado d Volks-60. A mamãe e todo o pessoal foram a Minas para um casamento.

25/12/65 – Ontem passamos uma feliz Noite de Natal. A Dayse e a Sônia ficaram muito felizes com os presentes. Só faltou o vovô Armando, que Deus o tenha no céu! A Dona Lina, o Luis Armando, a Dona Lycia, a R. e eu também recebemos mutuamente presentes. O Guilherme foi dormir cedo. Ontem fomos ao baile no Clube Concórdia e hoje levamos lá a Dayse e a Sônia que brincaram basante. A Dayse dançou lá no palco com um da orquestra.

31/12/65 – Fomos ao baile no Clube Curitibano. Mais um ano termina. Que os erros cometidos em 1965 não se repitam em 1966. Que Deus nos dê saúde e paz de espírito. 1965 foi o ano do iV Centenário do Rio e o nascimento do meu filho Guilherme. Terminei bem 0 4º ano de Construção e só me falta 1 ano para me formar ENGENHEIRO, o meu antigo sonho. No casamento tenho tido fases de tentações  e pequenos atritos, mas estou certo de que tudo sairá bem.