À Minha 

Saudosa 

Mãe

 

Não eras a mãe de Deus,

mas a mãe dos filhos teus,

e santa do meu altar.

Sofreste tanto na vida,

que mereces mãe querida,

no Céu um santo lugar.

  

A fazer bolo de milho,

como recorda o teu filho,

poucas sabiam fazer.

As vizinhas pedir vinham,

quando elas visitas tinham,

p’ra melhor as receber.

Bolo macio, gostoso,

maleável, apetitoso,

tinha óptimo paladar.

Quem o provava sabia,

que melhor não se fazia,

e difícil de igualar.

  

E aquele teu arroz doce,

lembro-me como se fosse,

agora saboreado.

Eu dos muitos que provei,

aproximado encontrei,

mas nunca ao teu igualado.

Tinhas umas mãos prendadas,

que houve mulheres ousadas,

que pediam-te o favor,

de por elas amassares,

pães, rosquilhas e folares,

sem te darem o valor.

  

Como tinhas as mãos frias,

sempre que queijo fazias,

em qualidade primava.

Como recordo tão bem,

da boa coalhada que a mãe,

com tanto gosto me dava.

Pobritos mas asseados,

sempre muito bem lavados,

com remendos à mistura,

mas remendos, a preceito!

Ficava tudo bem feito,

com essas mãos... de ternura.

  

Remendo se por ti feito

não podiam pôr defeito,

como se de costureira.

Tu que nem máquina tinhas,

bastava-te agulha e linhas,

e ficava ele à “maneira”.

Foi numa noite estrelada,

que meu pai de madrugada,

chamou-te p’ra levantar.

Perguntaste se a chover,

era possível querer,

que assim fosses trabalhar.

  

Andavas muito cansada,

saías pela madrugada,

buscar o leite à pastagem.

Mas outras tarefas tinhas,

e quando p’ra casa vinhas,

o descanso era miragem.

  

Toda roupa tu lavavas,

e dos teus filhos cuidavas,

no forno massa cozias.

Também da casa tratavas,

até no campo ajudavas,

sempre de tudo fazias.

  

Dependendo da estação,

fosse de inverno ou Verão,

onde a água ias buscar.

Se estivessem bem cheiinhos

era ao tanque dos vizinhos,

ou da fonte junto ao mar.

Cardavas, fiavas, torcias,

boa roupa de lã fazias,

coletes, meias aos pares,

ceroulas e camisolas,

casacos com ricas golas,

em serões familiares.

  

Qualidades da tua vida

aqui ficam mãe querida,

escritas p’la minha mão,

expressando o sentimento,

que sinto a todo o momento,

dentro do meu coração.

© José Pereira Mancebo - SILAPI

 

Ann Marie

AE-Mailm

José Pereira Mancebo

jE-Mailt

 

Poema de:

José Pereira Mancebo

Página de:

©Ann Marie