Por João Ramos Baccarat - PY2AJ
A pergunta não é nova e a resposta ao problema empolgante que ela contém não oteve, ainda, solução satisfatória. Muita gente tem discutido o assunto, muitos amadores da "guarda velha" e da "nova" tem falado dele, sem que fique, em definitivo, resolvida a questão. Dou hoje desautorizado parecer, no sentido de que se faça alguma pouca de luz no caso, em busca da verdade.
Numa palestra feita na sede da LABRE no Rio, haverá alguns anos, o grande Roquette Pinto, na comemoração que se efetivava, relembrando os primeiros tempos do rádio no Brasil, trouxe ao conhecimento dos que ouviam que fora Demócrito Seabra o primeiro radioamador brasileiro.
O QTC (nº 103) publicou por alguns anos um quadro dos veteranos do Brasil, no qual, entre outros, citava Demócrito, que teria sido o primeiro a iniciar atividades no rádio, no ano de 1922, mas, posteriormente, foi o mesmo modificado, no número 130 desse órgão, surgindo dois outros nomes, pioneiros do radioamadorismo brasileiro, em 1909, Lívio Gomes Moreirae Flávio Luz, acompanhada a retificação de referência ao número 61, página 25, da mesma revista.
Lívio Gomes Moreira, cujo nome glorioso ilustra uma das salas da sede da LABRE paulistana, era homem honesto, limpo nas ações e digno de propósitos, merecedor, portanto, de acatamento, as palavras ditas no QTC da LABRE. Pendo, pois, a adotá-las por verdadeiras, não somente por terem partido do grande e amado Lívio, mas porque, telegrafista profissional, funcionário do DCT entusiasta e moço, estaria em condições, em posição mais propícia para essas atividades, antes de 1922.
A afirmativa de Roquette Pinto não encontra apoio nos fatos. O grande autor de "Seixos Rolados", professor emérito, membro destacado da Academia Brasileira de Letras, que conheci, pessoalmente, em 1925, na sede da Rádio Sociedade, deu-me a impressão, nesse primeiro e solitário encontro, de homem habituado a mandar e a ser obedecido, cercado sempre de admiradores, do afeto e simpatia dos amigos, empolgado pelo reconhecimento do próprio valor.
Daí, ter contribuído para a história do radioamadorismo pátrio, visto ele apenas do panorama local, do Rio, dentro do pequeno círculo de relações e atividades pessoais, sem descortinar o que ocorria no resto do Brasil, pelo que não podemos receber-lhes as afirmativas como expressão da verdade, no assunto.
Demócrito, pessoa rica, riquíssima, no dizer de Álvaro Freire, tinha duas residências no Rio: uma na cidade, para uso de inverno, outra, na Tijuca, de verão, que visitei em companhia de bz-1AB e de Pedro Chermont, bz-1AD Nesta, na construção do "shack", reproduzira uma cabina do rádio de navio, lindo, mas porque o proprietário, homem de sociedade, tivesse vida intensa na "society", como se diria hoje, sobrava-lhe pouco tempo para atividades amadorísticas.
Há, aliás, em contradita a Roquette Pinto o fato de antes de Demócrito, em 1922, no alto do Corcovado, José Jonotskoff de Almeida Gomes operar a broadcasting da Westinghouse, para demonstrações no recinto da Exposição do Centenário da Independência do Brasil. As atividades amadorísticas de Jonotskoff, que teve nome inscrito, por longos anos, na lista de amadores do Brasil, foram anteriores às de Demócrito.
Destas afirmativas, nugas para a história do radioamadorismo brasileiro, concluo, que a glória de ter sido o pioneiro, o mais antigo, anticus, o primeiro entre os primeiros, cabe, somente, ao saudoso, ao grande amigo de todos os PY, o inesquecível Lívio Gomes Moreira - PY5AG.
Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail: ivanr@cpovo.net