CENTRAL DE QUADRINHOS BRASILEIROS - ENTREVISTA 5
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Entrevista com Bartolomeu Vaz (por Rod Gonzalez)
Quando recebemos o cadastro preenchido de Bartolomeu Vaz para
ingresso na CQB (Central de Quadrinhos Brasileiros) de início ficamos
relutante em aceitá-lo, por temer que suas ligações com os chamados ''Bandidos
do Quadrinho Nacional'' pudessem de alguma maneira nos prejudicar
publicamente. Porém, é inegável a divulgação e defesa do quadrinho nacional
que ele faz em seu sítio virtual e fotologue. Analisando a cartilha, vimos que
não há nenhuma atitude da parte dele que vá contra nossos princípios e
diretrizes. Que o mesmo publicamente apóia os tais ''Bandidos'' é do
conhecimento de todos, mas não ataca especificamente ninguém, inclusive
demonstrando rejeição as avacalhações que foram feitas contra Emir Ribeiro,
Rod Gonzalez, J.J. Marreiro e a própria CQB.
Decidimos fazer uma votação entre os membros da CQB, para aprovar a entrada do
Bartolomeu. Somos poucos, então só uma maioria absoluta faria a aprovação de
seu nome para se integrar a CQB, e hoje, nosso entrevistado foi aceito entre
os membros da CQB.
Aparecido Bartolomeu Vaz Pedrosa tem 65 anos, é casado há mais de 40 anos,
pai de 3 filhas, e avô de 5 netos. Apaixonado por quadrinhos desde guri, teve,
como a maioria de nós, sua fase de cultuar os personagens gringos, época do
Suplemento Juvenil, Globinho e do Gibi, Guri e Lobinho.
Já nos anos 60 começou a curtir os quadrinhos nacionais e possui coleções
originais de super-heróis brasileiros clássicos como Vigilante Rodoviário,
Raio Negro, Capitão 7, Fikon entre outros, mas o forte dele são os quadrinhos
de humor. Bartolomeu tem completas as coleções do Pererê, Fradim e até do Bidu
(raríssima coleção, pois são os primeiros gibis lançados pelo Maurício de
Souza).
''- Dizem que nem o Maurício tem a coleção completa de apenas 8 números do
Bidu,” que já foi avaliada por 2.500 reais. Bartolomeu costuma insistir na
frase: ''Não vendo, não dou e não empresto''. Porém, ele compra. É um dos
maiores e raros colecionadores de gibis nacionais.
''Já tem mercado para isso. Hoje, das duas uma, ou é muito caro ou às vezes
você tem uma baita sorte e adquire um lote barato.'' Nessas, o colecionador
possui mais de 2.000 gibis exclusivamente nacionais em sua coleção.
''- Quanto mais rara a edição, mais disputado e caro fica o gibi. Uma
revistinha do Capitão Gralha não sai por menos de 1.500 reais, sendo
raríssima, e são poucos números. E é um dos melhores heróis brasileiros.
Francisco Iwerten é insuperável. E que me desculpem aos criadores do Gralha,
que na verdade é o neto do Capitão Gralha!''.
É. O Sr. Bartô sabe muito de quadrinhos brasileiros. Acompanhe uma entrevista
com o Bartolomeu Vaz feita por mim mesmo em sua residência, localizada na zona
Oeste, próxima a Vila dos Remédios. O local correto ele prefere não dizer para
não atrair a cobiça dos ladrões de gibis antigos.
Rod: Como sabe, sou fã confesso da Velta. Vc tem
coleções dela ?
Bartolomeu Vaz: Tenho todas. A coleção da Welta, da editora 10-abafo, é muito
procurada. Uma coleção completa já está na base 2.000, 2.500 reais, a mesma
base da coleção do Bidu... Já a da outra beldade brasileira, a Mirza original,
que também tinha o Morto do Pântano, também tenho. Aliás, por falar nisso,
concordo inteiramente com sua opinião de que Colonnese foi plagiado pelos
norte-americanos, copiaram logo os dois de uma vez. Da Mirza fizeram a
Vampirella, e do Morto do Pântano fizeram o Monstro do Pântano. Essa coleção
tem 10 números e está numa boa faixa de preço, também. Acho que são as mais
caras. As outras são relativamente mais baratas.
Rod: Todo mundo especula e quer saber: Quem é Vulto
Misterioso?
Bartolomeu: Não sei. Só o conheço de minhas andanças por esse fabuloso mundo
da informática. Porém, adianto, mesmo se o soubesse jamais diria, pois ele é
uma alma nobre e grandiosa, e jamais trairia sua confiança! Converso com ele,
através de mensagens eletrônicas. É sempre muito lúcido e sensato e tem planos
ótimos para o quadrinho brasileiro. Seria importante os artistas começarem a
prestar atenção nas mensagens que se escondem por trás de suas palavras duras,
vez que se revestem de muitos ensinamentos sábios, além do facto (nota da CQB:
ele insistiu para que grafássemos faCto, que julga ser a forma gramatical mais
correta) de serem saudáveis as suas brincadeiras educativas! No meu tempo, se
entendia mais o humor. Antes, as pessoas curtiam uma galhofa ou fanfarra, mas
hoje são todos sisudos e só pensam em ganhar dinheiro, nem que para isso
tenham de abandonar a identidade nacional. E o repúdio à própria cultura é um
reflexo de um povo dominado!
Rod: Qual o seu
papel na luta pelo quadrinho brasileiro?
Bartolomeu: Não me envolvo em combates diretos com ninguém, pois não tenho
mais idade e nem saúde para isso. Faço minha parte dividindo meu bom humor, e
modéstia aparte - a sabedoria dos anos me permite dizer - meu bom gosto pelo
quadrinho nacional com todos vocês, através da informática, a qual não domino
muito, mas me interesso. E tenho a sorte de ser ajudado pela minha filha
caçula, bem mais tarimbada no assunto. Infelizmente, a tecnologia dos
estrangeiros é algo para o qual não posso sugerir o abandono, mas deveríamos
começar a produzir mais tecnologia local, também. Entrementes, nos quadrinhos,
poderíamos parar a reprodução dos gibis estrangeiros agora mesmo, e começar
uma indústria exclusiva de quadrinhos nacionais. Temos desenhistas e
argumentistas da melhor qualidade que fariam um ótimo trabalho. Por isso, fiz
questão de afiliar-me à CQB. O desejo de vocês é o mesmo meu há quase 50 anos!
Fico feliz por, mesmo bem tardio, ter encontrado pessoas com idéias análogas
às minhas.
Rod – E quanto
aos fotologues de quadrinhos nacionais? Você acha que recebem menos
comentários que os dedicados a personagens estrangeiros? O que pensa sobre
esse fato?
Bartolomeu – A comunidade de artistas brasileiros é enorme, mas, infeliz e
desgraçadamente, os próprios quadrinheiros brasileiros não tem uma guimba de
interesse nos quadrinhos nacionais, nos trabalhos dos seus companheiros, e
tampouco nos nossos personagens. Continuam completamente obcecados pelo
quadrinho norte-americano, sem falar dos mangazeiros e fummeteiros... Nesse
tocante, admiro muito sua pessoa, Rod. É um verdadeiro fenômeno alguém da sua
idade criar fotologues para apregoar quadrinhos brasileiros, e ainda ser
agraciado com muitas visitas e comentários. Grande parte dessa mocidade
tresloucada de hoje está num estágio avançado de alienação tal que esqueceu
até nossa língua pátria. Não raro é ver páginas, blogues e fotologues com
frase inteiras e títulos em inglês, numa demonstração de total descaso com a
racionalidade e com os valores e símbolos da nossa terra. Eles se venderam ao
algoz dominante, e sentem orgulho de fazerem tamanha excrescência.
Rod - Você sabe que sua
ligação com os "Bandidos do Fotolog'' criou uma antipatia contra sua pessoa...
Bartolomeu - Fiquei sorumbático ao passar por uma votação para ser aceito na
CQB, mas ao mesmo tempo, venturoso por ter sido aprovado por quase todos os
membros. É compreensível essa atitude da parte de alguns de vocês. Considero o
Vulto Misterioso um grande amigo, o qual tem posições radicais, mas sem
desistir dos quadrinhos nacionais. Tem por aí um tal Sincerovsky que vive
dizendo que não tem mais jeito e está tudo perdido, e um outro tal de
Vinghador que só aparecer para badernar. Por isso, afirmo-lhe que as
aparências enganam. O Vulto é gente boa, e muito inteligente. Quem está por
trás dele é uma pessoa íntegra que não merece deméritos! Entendo a revolta de
quem foi criticado, mas deveriam estudar melhor as palavras do Vulto,
retirando delas bons conselhos. No meu caso, sou mais da linha de vocês,
acreditando em bons argumentos e na união entre os artistas para reverter esse
quadro dantesco da atualidade.
Rod - Existem muitos
colecionadores de revistas em quadrinhos brasileiras?
Bartolomeu - Até os anos 80 havia um número relativamente bom de
colecionadores de quadrinhos brasileiros. Os anos 90 foram os melhores para se
adquirir boas coleções de quadrinhos, de qualquer gênero, brasileiro ou
estrangeiro, com a grande crise que o Brasil passou nas eras Collor e FHC,
onde os gibis ficaram extremamente baratos. Porém, aos poucos, os
colecionadores foram retornando, e hoje os preços dos gibis estão nas alturas!
Notei também de uns tempos para cá um aumento no número de colecionadores de
gibis nacionais, e acredito piamente que vocês da CQB tem algo haver com isso,
e por conseguinte, mais me orgulho de ter sido acolhido no grupo. Quem sabe,
baixem mais os preços, porque a maior movimentação já mostrou ser redundante
nesse efeito. Ou talvez anime alguma editora a republicar nossos grandes
personagens com merecidos acabamento e encadernação de luxo, e cores, a fim de
estimular uma nova geração de leitores.
Rod – Como você começou a
curtir tanto os quadrinhos nacionais?
Bartolomeu - Quando criança, cultuava personagens gringos, na época do
Suplemento Juvenil, Globinho e do Gibi, Guri e Lobinho. Mas já lia o
Tico-Tico, e os inesquecíveis Almanaques de Natal. O primeiro quadrinho
brasileiro que me fez entusiasmar pela nossa arte nacional foi o herói João
Tymbira, que viajou boa parte do Brasil, enfrentando até Lampião, em desenhos
clássicos de Aquarone. Também o Garra Cinzenta, que a princípio pensei ser
estrangeiro, devido a desconhecer desenhista brasileiro tão bom. Nos anos 60,
comecei a curtir bem mais os quadrinhos nacionais. Peguei a época do Aba
Larga, com forte inclinação regionalista e nacionalista, e o Pererê, nosso
personagem mais brasileiro! Também tenho muitos super-heróis dessa época: o
Vigilante Rodoviário, o Capitão 7, que tinham programas na TV; o Raio Negro e
o Homem-Lua do Gedeone. Como falei antes, Stan Lee é o Gedeone estadunidense,
tendo já imitado muitos super-heróis do brasileiro.
Outro herói brasileiro interessante foi Homem-Microscópico, com aventuras se
passando dentro do corpo-humano, em gibis minúsculos! O Escorpião teve duas
fases: a primeira versão, com o Escorpião azul é bastante copiada do Fantasma;
a segunda fase é a mais valorizada pelos colecionadores e conhecida no nosso
meio como ''Escorpião II'', com desenhos de Zalla e Colonesse, muito original,
onde os uniformes ganharam coloração verde-amarela (nas capas, pois os miolos
eram p&b). Todos esses eram muito melhores que os super-heróis dos Estados
Unidos do Norte.
Rod - E os de hoje ? Quais
os seus preferidos?
Bartolomeu - Gostei da revista independente Areia Hostil editada pelo Lorde
Lobo, apesar de não gostar muito de manga, li os quadrinhos de Rogério Godoy,
Jean Okada, e Érica Awano. O Anderson Quespaner que tem um fotologue, também é
talentoso, mas queria ver todos esses desenhando em outro estilo. Também li e
gostei muito de 10 Pãezinhos, dos gêmeos Fábio e Gabriel Bá, e adoro a obra de
Lourenço Mutarelli. Dos novos super-heróis gozadores, meus preferidos são o
Homem-Grilo do Cadu Simões e o Bucha do Samuel Bono. E gosto também da sua
amada Velta, é claro.
Rod – Desculpe,
Bartolomeu, mas você tem muito gibi gringo aqui, também.
Bartolomeu - É da minha antiga coleção. Eu uso para trocar por nacional, meu
filho. É só moeda de troca, e sempre levo vantagem na troca.
Rod - Pode mostrar algumas
raridades exclusivas para a CQB?
Bartolomeu - Vou separar umas aqui que ainda não coloquei no meu fotologue, e
mandarei imagens para você.
Rod - É verdade que você e
o BK já foram amigos?
Bartolomeu – Sendo bem verdadeiro, nutria admiração por algumas posições
tomadas pelo mesmo com relação a essa alienação que grassa os quadrinheiros do
nosso país. Entretanto, ele não é objetivo, coerente e nem imparcial, pois
antipatiza sem mais nem menos com alguns autores. Chegamos a conversar por
mensagens eletrônicas, mas sendo ele bastante arrogante, me convidou para
formar um grupo de “renovadores” da Hq nacional, tendo-o como “comandante”.
Queria que eu mudasse minhas opiniões, querendo impor a dele, e como não sou
títere de ninguém, me recusei. Ele ficou furioso e me enviou um vírus para
infectar meu computador numa tentativa de se vingar pela minha recusa, mas seu
ataque falhou fragorosamente. Não lhe tenho amizade ou consideração alguma,
pois o gajo não as merece.
Rod - Para finalizar, o
que você diria para os outros membros e os leitores da CQB ?
Bartolomeu – Estão trilhando o caminho acertado, e lutando pelos seus ideais.
Os quadrinhos brasileiros merecem guerreiros tão competentes quanto vocês,
pelejando pela nossa arte e cultura. A história saberá reconhecer seu
trabalho, um trabalho idealista e desinteressado de recompensas pessoais. Vejo
os membros da CQB lutando pelo coletivo, por um grupo que produz quadrinhos
brasileiros. É um grupo altruísta. Parabéns a todos vocês.
IMAGENS:
1 - O seu Bartô possui muitos gibis de terror, que eram uma febre no país e
foram os mais vendidos nos anos 50 e 70, formando uma geração de quadrinhistas,
que trabalhavam de sol a sol e ganhavam bem. Um é da editora Taika dos anos
70, e GATO PRETO era a revista de terror mais famosa do Brasil e durou
quase 20 anos!
2 - O TICO TICO, segundo Bartolomeu não foi a primeira revista do país, mas a
segunda. Segundo ele, chegou a sair um exemplar do "ZÉ CAIPORA", que seria o
primeiro gibi do mundo. Ele queria muito possuir na sua coleção, mas diz que
esse acredita ser impossível. Porém, já encontrou muita coisa garimpando nos
sebos do centro de São Paulo, e até em outras cidades. Bartolomeu contou que
costuma viajar e já conseguiu achar muita coisa no interior, e o que é
melhor, BARATO! Recomendou a cidade de Campinas/São Paulo como boa para se
encontrar preciosidades.
3 - PERERÊ, um dos orgulhos do Bartô, a coleção completa do Pererê original da
editora Cruzeiro, esse exemplar é um dos mais surrados da sua coleção, que
costuma trazer gibis impecáveis.
4 - JOÃO TYMBIRA, de 1938. Tem pessoas que possuem gibi do ano passado em
piores condições que esse mostrado nesta página. Está amarelado, mas em muito
bom estado. João Tymbira é um carioca aventureiro que viaja o Brasil com seu
amigo índio Gorgulho. Tem também um cãozinho Tupy, e no caminho conhece
Rosinha que se torna sua namorada, Gorgulho também encontra uma namorada,
Guaracy. De Acquarone, é uma edição especial do Correio Universal.
5 - Seu Bartô não quis mostrar a cara, mas aceitou retirar esses fotos acima.
Seu rosto não diferencia muito dessa máscara, quase não havendo diferença...
Brincadeira, Bartolomeu. Aliás, o seu Bartô brinca o tempo inteiro!
6 - Bartô segurando um gibi, na 2ª foto dele: "Não vendo, não empresto e muito
menos dou". Nem sempre, né, Bartô? Tudo tem sua primeira vez, e ganhei alguns
presentes do velho colecionador. Grande abraço Bartolomeu!
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